2. GLOBALIZAÇÃO: Uma palavra em
voga
A “globalização” está na ordem do dia; uma palavra
da moda que se transforma rapidamente em um
lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de
abrir as portas de todos os mistérios presentes e
futuros. Para alguns, “globalização” é o que
devemos fazer se quisermos ser felizes; para
outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos,
porém, “globalização” é o destino irremediável do
mundo, um processo irreversível; é também um
processo que nos afeta a todos na mesma medida e
da mesma maneira. Estamos todos sendo
“globalizados” – e isso significa basicamente o
mesmo para todos. (p. 7)
3. COMPRESSÃO TEMPO/ESPAÇO
A globalização tanto divide quanto une; divide
enquanto une.
“Junto com as dimensões planetárias dos negócios,
das finanças, do comércio e do fluxo de
informação, é colocado em movimento um
processo localizador, de fixação no espaço” p. 8
Mobilidade: um valor cobiçado
Liberdade X “localidade”
Movimento: contragosto, desígnio ou revelia =
GLOBAL X LOCAL
4. Tempo e classe
“A companhia pertence às pessoas que nela investem – não aos
empregados, fornecedores ou à localidade em que se situa”
(Albert J. Dunlap). P. 13
O poder absoluto dos acionistas
Último quarto século XX: “Grande guerra de independência em
relação ao espaço”
Papel da empresa: pagar seus impostos devidos ao sistema
negligenciando os direitos dos trabalhadores = o refugo humano
descartável.
Quando inviável a empresa muda de local deixando aos locais a
tarefa de lamber as feridas, consertar o dano e se livrar do lixo. P.
15
5. Tempo e classe (cont.)
Proprietários ausentes, marco II
“A nova liberdade do capital é reminiscente da
liberdade que tinham outrora os proprietários
ausentes, notórios por sua negligência, muito
sentida, face às necessidades das populações que
os alimentavam” p. 17
Extrair o produto excedente. Ficavam presos ao
seu investimento. Esgotamento das terras,
fortunas precárias. Limites territoriais, reduzir a
diferença pela força.
Capitalismo pós-moderno: Não há limitações
territoriais. Se o embate com a alteridade exigir
esforços dispendiosos MUDA-SE DE LOCAL.
6. Tempo e classe (cont.)
Liber dade de movimento e auto-
constituição das sociedades
Paul Virílio: “Fim da geografia” = As distâncias já
não importam, ao passo que a idéia de uma
fronteira geográfica é cada vez mais difícil de
sustentar no mundo real. P. 19
Realidade das fronteiras: No passado, como hoje,
as elites sempre foram mais cosmopolitas. Ao
contrário, as classes inferiores eram confinadas
em fronteiras bem definidas.
Insignificância do “instante”: espaços e
delimitadores de espaço perdem sua importância.
7. Continuação...
Sobre o espaço planejado, territorial-urbanístico-
arquitetônico, impôs-se um terceiro espaço
cibernético do mundo humano com o advento da
rede mundial de informática. P. 24
“Aqui” e “lá” perderam o sentido.
As classes subalternas, apesar de utilizar a
velocidade da internet, continuam “separadas por
obstáculos físicos e distâncias temporais”. P. 25
“Separação que agora é mais impiedosa e tem
efeitos psicológicos mais profundos do que nunca.
P. 25.
8. Tempo e classe (cont.)
Nova velocidade, nova polarização
CIBERESPAÇO:
A) Para a elite móvel significa libertação em relação ao
“físico”
B) Combinação do etéreo com a onipotência
C) Imunidade à interferência local (política da não-
vizinhança): as elites se isolam em casas superprotegidas,
como os fossos dos castelos medievais. A
desterritorialização do poder anda de mãos dadas com a
estruturação estrita do território. P. 27
D) Elites supra-locais se isolam materialmente em suas
localidades. Locais somente acessíveis por senhas.
E) O espaço público é lentamente substituido pelo privado.
Fim do modo de vida comunitário.
F) Os excluidos são literalmente empurrados para fora das
“cercas elétricas”.
9. Globalização: progressiva segregação
espacial = separação e exclusão
“Os centros de produção de
significado e valor são hoje
extraterritoriais e emancipados de
restrições locais – o que não se
aplica, porém, à condição humana, à
qual esses valores e significados
devem informar e dar sentido” p. 9
10. CONTINUAÇÃO...
GUERRAS ESPACIAIS nos territórios urbanos:
“Os habitantes desprezados e despojados de poder
das áreas pressionadas e implacavelmente
usurpadas respondem com ações agressivas
próprias; tentam instalar nas fronteiras de seus
guetos seus próprios avisos de – não ultrapasse –
Usam para isso qualquer material que lhes caia
nas mãos – rituais, roupas estranhas, atitudes
bizarras, ruptura de regras, quebrando garrafas,
janelas ou cabeças, lançando retóricos desafios à
lei” p. 29.
* A lei aplicada escamoteia o significado real do
movimento: tentativas de tornar audíveis e legíveis
as reivindicações territoriais. Só o que querem os
excluídos é sua inclusão no jogo territorial.
11. Continuação...
FIM DO ESPAÇO PÚBLICO DE DEBATE:
Lazarsfeld: Líderes de opiniões locais
Nils Christie: Alegoria
a) Moisés – Jesus – Maomé (Justiça piramidal)
b) Mulheres reunidas na fonte (justiça igualitária)
c) O poço é abolido: Lavanderias automáticas, sobrava algum
tempinho para conversas.
d) Shoppings: espaço de (in)sociabilidades
“Os locais de encontro eram também aqueles em que se
criavam as normas – de modo que se pudesse fazer justiça e
distribuí-la horizontalmente, assim re-unindo os
interlocutores numa comunidade.”p. 33
= Não há mais espaço para a opinião local.
12. 2. GUERRAS ESPACIAIS:
informe de carreira
Desde os primórdios o “corpo humano era a
medida de todas as coisas” (Witold Kula, hist.).
Burguesia cria a uniformidade das medidas
ESTADO MODERNO:
“ Unificação do espaço submetido agora à sua
autoridade direta; ela consistia em separar as
categorias e distinções espaciais das práticas
humanas que os poderes do Estado não
controlavam”
= MAPAS: Territórios domesticados pelo Estado
moderno. X caos dos aldeamentos/paróquias
13. A construção dos espaços: cidades
Modêlo panóptico de Michel Foucault: espaço
artifical = uma relação de poder
Visões utópicas modernas da cidade perfeita:
Planejamento prévio, construção à partir do
nada, homogeneização dos elementos
espaciais.
Cidade chamada liberdade: Ano V da
Revolução Francesa = sonhos de uma cidade
perfeita.
Visão da cidade perfeita (Jürgen Habermas):
Rejeição total da história.
“ La ville radieuse” de Le Corbusier: evangelho
do modernismo urbano = morte das cidades
existentes (refugo da história) = Brasília - DF
14. Agorafobia e o renascimento da localidade
Devastação das pálidas sombras da Ágora: “as
tentativas de homogeneizar o espaço urbano, de torná-lo
lógico, funcional ou legível redundaram na desintegração
das redes protetoras tecidas pelos laços humanos, na
experiência fisicamente devastadora do abandono e da
solidão” p. 53.
Condição urbana ideal: aceitar a alteridade
Realidade cidades nos EUA: Intolerância à diferença,
ressentimento com os estranhos, necessidade de isolá-
los ou bani-los, histeria paranóica com a Lei e a ordem =
segregação racial, étnica e de classe.
“ A uniformidade alimenta a conformidade e a outra face
da conformidade é a intolerância”. P. 55.
Mundo pós-moderno: Superação do panóptico (poucos
observam muitos); Internet e Web não são para todos
(potencial consumidor); TV = muitos observam poucos:
os locais observam os globais.
15. 3 – Depois da Nação-estado, o que?
NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL: O Estado-nação
definha em detrimento ao poder das empresas
transnacionais = mobilidade (procura por novos
mercados e áreas que permitem maiores lucros).
FIM DA GUERRA FRIA: “não há mais uma localidade
com arrogância bastante para falar em nome da
humanidade como um todo ou para ser ouvida e
obedecida pela humanidade ao se pronunciar” p. 66
GLOBALIZAÇÃO: ausência de um centro, de um
painel de controle, de uma comissão diretora, de um
gabinete administrativo. É a “nova desordem
mundial”.
16. Continuação...
A expropriação do Estado:
Após os anos 1960 o Estado Keynesiano cedeu lugar à política
neo-liberal. Conseqüência: tripé da soberania estatal foi
abalado = os mercados financeiros globais impõem suas leis e
preceitos ao planeta.
Hoje a “nação-estado torna-se um mero serviço de segurança
para as mega-empresas” p. 74.
GLOCALIZAÇÃO: “A criação de riqueza está a caminho de
finalmente emancipar-se das suas perpétuas conexões com a
produção de coisas, o processamento de materiais, a criação
de empregos e a direção de pessoas” p. 80
Os antigos ricos precisavam dos pobres para fazê-los e mantê-
los ricos.
Os novos ricos não precisam mais dos pobres.
As riquezas são globais, a miséria é local.
17. 4. Turistas e vagabundos
Hoje em dia estamos todos em movimento.
Nossa sociedade é uma sociedade de consumo.
A sociedade antecedente (industrial) era uma
“sociedade de produtores”.
A cultura da sociedade de consumo prega o
esquecimento, não o aprendizado: consumidor
impaciente, impetuoso, indócil, instigável e de
fácil desinteresse. É PRECISO ALIMENTAR O
CÍRCULO VICIOSO DO CONSUMO
DESENFREADO.
18. CONTINUAÇÃO...
“os consumidores são acima de tudo
colecionadores de sensações”. O desejo não
deseja satisfação, deseja apenas o desejo. P. 91
Primeiro mundo: globalmente móveis, o espaço
não é restritivo. Controle do tempo. Seus
habitantes vivem no tempo. O espaço não
importa.
Segundo mundo: localidade amarrada, sujeitos
às mudanças que afetam o seu local, o espaço
real se fecha. Controlado pelo tempo.
19. Continuação...
ABISMO SOCIAL: entre “uma rica elite enfurnada em
condomínios vigiados” e “uma maioria sem trabalho e
empobrecida”. P. 98
CULTURA DO PRESENTE ABSOLUTO: A mobilidade total
de uma elite privilegiada transforma o mundo numa aldeia
global.
TURISTA: Ficam ou se vão a seu bel-prazer. Se movem
porque acham o mundo ao seu alcance (global)
irresistivelmente atraente.
VAGABUNDO: se movem porque acham o mundo a seu
alcance (local) insuportavelmente inóspito.
20. Continuação...
“o capital não precisa mais da mão-de-obra itinerante (enquanto
sua mais avançada e emancipada vanguarda high-tech sequer
precisa de mão-de-obra alguma, móvel ou fixa).
MURALHAS CONTRA O VAGABUNDO: Leis de imigração ou de
nacionalidade. = sinal verde para os turistas, sinal vermelho para
os vagabundos.
“Um mundo sem vagabundos: utopia da sociedade dos turistas =
no entanto os turistas não existiriam sem os vagabundos.
Sob a película dos “Globais” ferve um caldeirão do
desconhecido: A feiúra das favelas, dos excluídos.
PARADOXO: A era da “compressão espaço-temporal”, da
ilimitada transferência de informação e da comunicação
instantânea, é também a era de uma quase total quebra de
comunicação entre as elites instruídas e o populus”
21. 5. LEI GLOBAL, ORDENS LOCAIS
• Nos EUA, segundo Pierre Bourdieu: “o Estado
Beneficente, fundado no conceito moralizante de
pobreza, tende a bifurcar-se num Estado Social que
provê garantias mínimas de segurança para as
classes médias e num Estado cada vez mais
repressivo que contra-ataca os efeitos violentos da
condição cada vez mais precária da grande massa
da população, principalmente os negros”. P. 111
• Para uns poucos: uma existência ordeira e segura.
• Para “os outros”: toda a espantosa e ameaçadora
força da lei.
22. Continuação...
• O império dos interesses dos “investidores”:
• Controle mais estritos dos gastos públicos
• Redução dos impostos
• Reforma do sistema de proteção social
• Desmantelamento das normas das relações de trabalho.
Flexibilidade à favor dos acionistas.
• CONSEQÜÊNCIAS:
• A) liberdade de ir aonde os pastos são mais verdes
• B) Aos “locais” a incumbência de limpar o lixo.
• C) Extrema fragilização da posição do empregado: trabalhos
temporários, relação vertical de poder.
• POLARIZAÇÃO PÓS-MODERNA DAS CONDIÇÕES SOCIAIS: “o
topo da nova hierarquia é extraterritorial; suas camadas
inferiores são marcadas por graus variados de restrições
espaciais e as da base são, para todos os efeitos práticos,
glebae adscripti”. P. 113
23. FÁBRICAS DE IMOBILIDADE
• AS PRISÕES MODERNAS:
• Casas de correição século XVIII: produção de
homens saudáveis, moderados no comer,
acostumados ao trabalho, com vontade de ter um
bom emprego, capazes do próprio sustento e
tementes à Deus.
• Controle Panóptico de Bentham: tirar os internos do
caminho da perdição moral, desenvolver hábitos que
permitam o seu retorno ao convívio social, combater
a preguiça. (era a época da ética do trabalho).
• PRISÃO DE PELICAN BAY: Uma fábrica de
imobilidade. “laboratório da sociedade globalizada
no qual são testadas as técnicas de confinamento
espacial do lixo e do refugo da globalização.
24. PRISÕES NA IDADE DA PÓS-CORREÇÃO
• Presos para cada grupo de 100.000 habitantes:
• E U A: 649 presos
• NORUEGA: 64 presos
• HOLANDA: 86 presos
• INGLATERRA E GALES: 114 presos
“Segundo Zigmunt Baumam: as causas do aumento acelerado de
prisões no mundo se relacionam às transformações
conhecidas pelo nome de globalização.
“Os governos não podem seriamente prometer nada exceto
‘flexibilidade de mão-de-obra’ – isto é, em última análise, mais
insegurança e cada vez mais penosa e incapacitante”. P. 126
25. SEGURANÇA: meio palpável, fim ilusório
• Impossibilitados de resolver os problemas cruciais
das sociedades modernas, os governos investem no
espetáculo televisivo da segurança pública:
• Autopropulsão do medo
• Preocupação com a segurança pessoal
• Incerteza psicológica
“A espetaculosidade das operações punitivas importa
mais que sua eficácia, que de qualquer forma, dada
a indiferença geral e a curta duração da memória
pública, raramente é testada”. P. 128
“o caminho mais curto para a prosperidade econômica
da nação e, supõe-se, para a sensação de bem-estar
dos eleitores, é a da pública exibição de
competência policial e destreza do Estado”.
26. O FORA DE ORDEM
• O SISTEMA ATACA A BASE E NÃO O TOPO DA
SOCIEDADE:
• Roubar os recursos de nações inteiras é chamado
de “promoção do livre comércio”.
• Roubar famílias e comunidades inteiras de seu meio
de subsistência é chamado “enxugamento” ou
simplesmente “racionalização”
• (Nenhum desses feitos jamais foi incluído entre os
atos criminosos passíveis de punição). P. 131
• “A exclusão das liberdades globais tende a redundar
no fortalecimento das localidades”
• “A fragmentação e o isolamento ‘na base’ continuam
sendo os irmãos gêmeos da globalização no topo”
27. Bibliografia
• As análises constantes desta
apresentação tiveram por fio condutor a
obra:
• Bauman, Zigmunt. Globalização: as
conseqüências humanas, tradução
Marcus Penchel.- Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1999.