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OUTUBRO
2013
O BandeirantePublicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo
A Moça de Cinza
“Não me lembro do nome da jovem. Aliás, pensando bem, eu
nunca soube. Sempre a tratávamos como a louca da rua de baixo
que saía pela manhã e à tarde para comprar pão cantando ‘Santa
Lucia’. E só. O restante do tempo
era como se ela não existisse.”
O conto premiado de MÁRCIA ETELLI COELHO está na p. 3
“Conhecer alguns segredos desse caminho seria
interessante. Nossa! Isso seria imprescindível! Teria
algo a mais que só seria adquirido na própria
prática. Tudo isso era muito intrigante. Será que
conseguiria enfrentar todos os medos? ”
A crônica de SUZANA GRUNSPUN você lê na p. 6
Bastidores
Bodas de Diamante
“É preciso cultivar a alegria, em lugar de revolver a tristeza.
Sessenta anos de união, conquistada dia a dia com respeito,
cuidado, atenção, carinho. Diálogo sempre presente e o calor dos
filhos, noras, netas e bisnetos. O progresso dos filhos e netas é
orgulho sadio que os alimenta de renovada confiança em direção
ao futuro vivido pelo presente no dia a dia.”
O relato de LIGIA TEREZINHA PEZZUTO na p. 5
6 4
COMEÇAR DE NOVO
Márcia Etelli Coelho
COMPANHIA
Carlos Augusto F. Galvão
PESCADOR
Sônia Regina A. de Castro
4
O registro de nossa festa literária em Botucatu está na p. 7
2. 2 O Bandeirante - Outubro 2013
Jornal O Bandeirante
ANO XXIII - nº. 251 -
Outubro 2013
Publicação mensal da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores -
Regional do Estado de São Paulo
SOBRAMES-SP. Sede: Av.
Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 7º Andar - Sala 1 (Prédio da
Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP
Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes
Salun (MTb 20.405-SP)
Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto
(MTb 17.671-SP).
Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira
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Colaboradores desta edição (textos literários): Carlos
Augusto Ferreira Galvão, Ligia Terezinha Pezzuto,
Márcia Etelli Coelho, Sônia Regina Andruskevicius de
Castro e Suzana Grunspun.
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.
Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto Ferreira
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Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-
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Efetivos:Hélio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e Marcos
Gimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,
Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.
.
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Editores de O Bandeirante
Flerts Nebó - novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994
Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009
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Josyanne R.A.Franco e CarlosAugusto F.Galvão - 2011-2012
Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - janeiro 2013
Presidentes da Sobrames SP
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
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12º. Helio Begliomini (2009-2010)
13º.Josyanne Rita deArruda Franco (2011-2012)
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Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo Editorial
Produções e Edições Ltda.
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica Editora
Expediente Editorial
Josyanne Rita deArruda Franco
Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP
NESTADATAQUERIDA,
NOSSOSPARABÉNS!
No mês de aniversário de 25 anos da Sobrames-SP, a
Jornada de Botucatu transcorreu embalada pelo aprazível clima
fraterno de amizade e doce enlevo literário. Entre o
encantamento da boa literatura e os risos francos da estreita
amizade, confrades e confreiras de vários Estados usufruíram
da temperatura fria na cidade com o aconchego do calor humano.
Esta edição mostrará em textos e imagens um pouco da beleza
dos três dias de alegre convívio para sempre guardados no
coração. Aos participantes do evento, nossos agradecimentos
por terem ilustrado o feliz encontro com seu talento,
criatividade, especial apoio e simpatia. Nas próximas páginas,
teremos a oportunidade de recordar com deleite nossos bons
momentos. Boa leitura! Feliz retorno às lembranças amáveis de
Botucatu!
15/10 – RobertoAntonioAniche
23/10 – WalterWhitton Harris
As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecem
na terceira quinta-feira de cada mês, a partir
das 19h00 na PIZZARIA BONDE PAULISTA
Rua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo
Jubileu de Prata da Sobrames-SP
Comemorado na Pizza
Literária de 19 de setembro, o
aniversário dos 25 anos da
Sobrames-SP contou com a
presença de muitos confrades
e foi repleta de belos textos
em prosa e verso.
A presidente Josyanne, Helio
Begliomini, Carlos Galvão, Luiz
Jorge e Paulo Leierer
representaram todos os
membros da Regional Paulista
na hora de apagar as velinhas
do bolo dos 25 anos.
No final do encontro, a
tradicional foto do grupo
marcando o momento
festivo e histórico.
3. O Bandeirante - Outubro 2013 3
Márcia Etelli Coelho
A Moça de Cinza
Pelas ruas tranquilas da Lapa nos anos 60, uma moça vivia
cantarolando a música italiana “Santa Lucia”. De cabelos louros lisos
e compridos, pele branca e pálida, quase sempre trajava um vestido
cinza cobrindo os joelhos.
– Ela é louca – dizia minha mãe. Fiquem longe dela. Pode ser
perigoso.
A jovem praticamente não saía de casa, mas ia comprar pão
pela manhã bem cedo e ao findar da tarde. E, de vez em quando,
rondava o quarteirão.
Tão grande era o medo que minha mãe só deixava que eu
fosse para a escola depois que a jovem regressasse da padaria. Com frequência eu ficava pronta com o uniforme azul
marinho impecável, lancheira a tiracolo, sapatos lustrosos e permanecia sentada no banco do jardim da frente, aguardando
a liberação da rua. Tudo para evitar que nos cruzássemos pelo caminho.
Acontece que aos nove anos de idade eu ainda não entendia o perigo que ela pudesse representar. Seria contagioso?
Ninguém me explicava. Apenas sabia que ela era assim devido a uma complicação do sarampo. Mas, assim como? Não
exatamente louca como tantos casos psiquiátricos que muitos anos depois presenciei na Faculdade de Medicina com
delírios, exageradas desinibições e gritos agressivos. Na verdade ela era simplesmente esquisita e solitária em sua ininterrupta
cantoria napolitana.
Decerto deveria provocar irritabilidade para quem ouvisse o tempo todo a mesma música. Porém, como ela se isolava
em sua casa, quem mais sofria provavelmente era sua mãe que, por sinal, também pouco aparecia. Apesar de ser simpática
e educada, a matriarca não conversava muito e limitava suas saídas para compras de sobrevivência. Ambas não trabalhavam
e... O que será que elas faziam o dia inteiro sozinhas dentro de casa?
Não me lembro do nome da jovem. Aliás, pensando bem, eu nunca soube. Sempre a tratávamos como a louca da rua
de baixo que saía pela manhã e à tarde para comprar pão cantando “Santa Lucia”. E só. O restante do tempo era como se ela
não existisse.
Vez ou outra os meninos zombavam dela, se bem que às escondidas.
Acho que ela é uma bruxa, supôs um dos garotos. E essa leve hipótese fez com que todos se afastassem com receio
de que seus olhos lançassem algum feitiço.
Da minha parte, na época, eu só desejava brincar e estudar. Mesmo porque tinha um incentivo extra para ir bem na
escola. Todo início de mês, ao ver notas altas no boletim, minha mãe, satisfeita com o meu empenho, me recompensava
dando algumas moedas para que eu comprasse doces na padaria, dinheiro suficiente para escolher três guloseimas. Como
era agradável ver a vitrine repleta de doce de abóbora em forma de coração, pirulito puxa-puxa, caramelo de leite,
cigarrinho de chocolate, maria-mole, doces em borracha, dadinho, além, é claro, dos atraentes potes rotativos de vidros com
diversificadas balas. A dúvida para escolher tornava o prêmio mais atraente.
Eis que em uma tarde, na indecisão costumeira, meu coração acelerou ao ouvir uma voz cantando “Santa Lucia”.
Sim, era a louca que se aproximava, antecipando seu horário de compra, talvez para fugir de uma chuva que prenunciava
desabar a qualquer instante.
Pela primeira vez não tive como fugir do encontro. O curioso foi que ela entrou na padaria exalando um perfume
suave de jasmim. Ora, na minha concepção, eu sinceramente a imaginava fedida... Se ela usava quase sempre o mesmo
vestido cinza, deveria não tomar banho, não é mesmo? Qual o quê. Seu cabelo estava limpo, bem penteado, usava um
discreto batom rosa e pela aparência eu julguei que ela devia ter menos que 30 anos de idade.
Com calma ela entregou para o seu Teixeira, o dono da padaria, um caderninho em que se anotavam as compras
para pagar tudo no final do mês. Não disse uma palavra, preferindo continuar com sua canção. Num relance olhou para mim
e eu pude perceber seus grandes olhos verdes que pareciam bolas de gude...
Bem que eu tentei puxar alguma conversa para satisfazer minha curiosidade infantil. Mas minha voz travou e não foi
por hipnotismo ou maldição e, sim, por pura timidez. Apenas consegui sorrir, mas ela permaneceu alheia e saiu com uma
bengala de pão debaixo do braço.
Raios e trovões alertavam sobre a chuva, e eu resolvi não esperar e também fui para casa. Fiquei atrás da moça que
andava devagar, arrastando os pés pela rua deserta, marcando o ritmo da velha canção.
Assim que se iniciaram as férias de julho eu e minha família viajamos para o litoral e ao retornar soubemos que a
jovem havia se mudado com a mãe. Depois de um ano de vizinhança saíram sem despedidas e sem ter conquistado nenhuma
amizade. Nunca mais tivemos notícias. Até hoje quando lá em casa colocamos um CD e ouvimos Pavarotti ou Andrea Bocelli
cantar Santa Lucia, minha mãe se inquieta:
– Não gosto dessa música. Ela me lembra da louca.
Interessante como passados quase cinquenta anos, grande parte morando em outro bairro e com tantos
acontecimentos já vivenciados, não conseguimos nos esquecer dela. Uma moça que se isolou da vida e o mundo reforçou
esse isolamento. Ao contrário da minha mãe, eu gosto de ouvir aquela canção. Sem dúvida, pela beleza da melodia.
No fundo, talvez por querer acreditar que aquela jovem tenha conseguido, a sua maneira, encontrar um jeito de
ser feliz.
(Primeiro lugar no concurso de prosas da
XII Jornada Médico-Literária Paulista)
4. 4 O Bandeirante - Outubro 2013
Sônia ReginaAndruskevicius de Castro
Pescador
Com os olhos do corpo eu vi
Vindo do mar o pescador
Num barco antigo, incolor.
E na areia a mulher que ri
Com os pés descalços no chão
Agitando, em aceno, a mão.
(Terceiro lugar no concurso de poesias da XII Jornada Médico-Literária Paulista)
Com os olhos do espírito eu vi
Humildade no corpo sem jeito
A fé na medalha do peito.
No riso redondo alegria
A saudade no abraço apertado
E um amor descabelado.
Preparo uma andança e nessa travessia
recolho os sonhos, retalhos de cetim.
No chão de estrelas, apenas eu e a brisa,
coração leviano, caçador de mim.
Corsário de Sampa, guerreiro menino
que na roda viva aprendi a chorar.
Saudade chegando, fiquei tão sozinho
na ingênua certeza de sempre te amar.
Mas olhos nos olhos, as rosas se calam,
o tempo separa, fugaz é o amor.
Detalhes, deslizes, nas brigas se exaltam,
qual fera ferida ponteando o rancor.
Dos bailes da vida restou acalanto.
Dos anos dourados, fascinação.
No conto de areia rolou esse pranto.
Das velas içadas, porto solidão.
A banda passou em total disparada.
E eu, carinhosa não fiz parte do show.
Castigo? Ilusão? Fim de caso? Que nada!
Risquei a tristeza... E o mar serenou.
Ao ver pastorinhas voltando com flores
quis logo enfeitar a noite do meu bem.
Brindar primavera que no trem das cores,
bem antes das onze, emociona o viver.
A minha aquarela dourou asa branca.
No baila comigo são só dois pra cá.
Que festa de arromba, feitio, força estranha:
o mel do aconchego sem mais carcará.
A chuva de prata das águas de março
seduz a minha alma, só quer um xodó.
Tu estavas tão lindo naquele abraço
que o meu rancho fundo virou luxo só.
Trocando em miúdos: Há séculos te amo!
Eu não aprendi a dizer-te adeus.
E como eterna onda que ronda o oceano,
por ti, começaria tudo outra vez.
Márcia Etelli Coelho
Começar de Novo
(Primeiro lugar no concurso de prosas da XII Jornada Médico-Literária Paulista)
5. O Bandeirante - Outubro 2013 5
PRIMAVERA
Ela, 11 anos de idade. Ele, 15 e já não se
interessava mais em só brincar com o irmão dela. Passou
a notar aquela loirinha graciosa e a tentar uma
aproximação. Deu certo, era recíproco.Ambos começaram
um inocente namorinho, daqueles de só pegar na mão.
Tinha dias em que ela ficava observando pela
janela de sua casa os meninos voltarem da escola e, no
meio deles, o seu menino passar. Trocavam acenos e iam
embora, levando cada qual, um pouco de carinho um do
outro.
Entre sorrisos, olhares e certezas, os dois, um
pouco mais crescidos, iam amadurecendo seu
relacionamento e conhecimento mútuo. As conversas no
portão, as idas ao cinema, os passeios pela cidade. Muito
proseavam entre si, interessados em seus gostos, sonhos,
desejos.
No tom róseo e clima ameno do alvorecer naquela
estação, o início de duas vidas que se encontraram, plenas
de esperança e encantamento.
VERÃO
Após quatro anos de namoro responsável, a decisão
pelo noivado. Ele, de terno, na casa dos pais dela. Ela,
em outro cômodo com as primas, a esperar. Por fim, a
resposta positiva. Festa, alegria, comemoração.
Casamento à vista. Preparativos, convites, cerimônia
civil e religiosa, vestido de noiva, terno e gravata.
Início de uma vida a dois, repleta de alegrias, mas
também dificuldades. Ele a trabalhar o dia todo e estudar
à noite. Ela a cuidar da casa e mais tarde, do primeiro
filho. Dureza, sacrifícios, mas amenizados pelo amor que
ia se aprofundando cada vez mais.
Mudança de emprego, mais um filho, as
responsabilidades aumentando, mas ambos apoiando-se
um no outro, com dedicação e diálogo crescentes.
Bodas de Diamante - uma história real
Ligia Terezinha Pezzuto
Terceiro filho, uma menina. E, após
cinco anos, o quarto filho. Mudança para
um apartamento, bem maior que a casa
onde moravam. Novas oportunidades no
trabalho. Dificuldades, sim, mas muita
fé também, aliada ao cultivo de
atenções e cuidados de um para com o
outro.
Bodas de Prata. Vinte e cinco anos
comemorados com grande entusiasmo,
em cerimônia religiosa e festa. Alegria,
todos juntos, música e detalhes
organizados com desvelo.
O calor às vezes forte, outras vezes
cálido daqueles dias servira para forjar
o relacionamento e amalgamar dois
corações em um só, cada um respeitando
a individualidade do outro, mistério
insondável de bênção celestial.
OUTONO
Ele e ela envolvidos em atividades voluntárias,
doando seu tempo para quem mais precisava, além do
cuidado dos quatro filhos, dos negócios, dividindo
atenções e multiplicando o amor, até completarem Bodas
de Ouro. Cinquenta anos de uma convivência madura e
firme. As refeições feitas com toda a família, os diálogos
constantes, o cuidado mútuo, a renúncia, a doação foram
elementos importantes para chegarem até ali.
Quando as folhas começam a amarelar e as árvores
se preparam para a grande renovação da natureza, o
alimento da fé vem em boa hora solidificar o que já era
firme porque construído no terreno sólido da verdade e
da abertura ao transcendente.
INVERNO
Dias difíceis. Perda de um filho querido. A morte,
entretanto, é vencida pela esperança. É preciso cultivar
a alegria, em lugar de revolver a tristeza. Sessenta anos
de união, conquistada dia a dia com respeito, cuidado,
atenção, carinho. Diálogo sempre presente e o calor dos
filhos, noras, netas e bisnetos. O progresso dos filhos e
netas é orgulho sadio que os alimenta de renovada
confiança em direção ao futuro vivido pelo presente no
dia a dia. As decisões com base em discernimento reto e
pleno dão a consistência que uma vida inteira construída
juntos possibilitou realizar.
Ao chegar a estação do frio, em que tudo pareceria
cinzento, obscurecido pelas chuvas e neblinas dos dias
úmidos, o que fora plantado com esmero trouxe o calor
do afeto que muda toda a paisagem graças à fé, ao
diálogo, amor, dedicação, renúncia, doação, cuidado,
carinho, respeito; ingredientes que, utilizados com
sabedoria, fizeram de duas vidas uma só, plena de frutos,
sonhos realizados, superação e luz a iluminar outras vidas.
Sonho de muitos, sonho possível...
6. 6 O Bandeirante - Outubro 2013
Como nos sonhos, podia andar naquele vasto
corredor largo. Cada porta guardava uma história; ela sabia.
Ao abri-las os personagens se iluminariam e subindo no palco
iriam representar suas vidas. Perguntava-se: cada porta
poderia ser acionada inúmeras vezes?
Iniciar essa visita seria um trajeto instigante; levada
pela curiosidade sentia-se estimulada ao abrir uma a uma,
cada porta, e se entregar de corpo e alma a cada visita.
Não era muito claro o procedimento dos personagens se
instalarem lá dentro. Realmente havia uma grande porta
central, no fundo, com certeza era por lá onde tudo
começava.
Outra inquietação: como esses personagens eram
aceitos? Quais seriam as condições; talvez sofrimentos,
alegrias, ou até mesmo algum particular problema que teria
influenciado suas vidas e até mudado o curso natural delas.
Apesar de certo receio poder impedir sua
investigação, esse era logo dissipado. Além do forte
interesse, alguma coisa a movia; ao mesmo tempo ela
participava de um modo diferente de quem só assistisse a
um espetáculo. A sensação de sonhar se criava e se
evanescia.
Por detrás de tudo isso havia uma tradição que
alimentava seu desassossego a ponto de vencer os medos.
O que havia de tão interessante? Uma atividade humana
tão antiga e recente, simultaneamente, quase um paradoxo.
Perdia-se em reflexões de como alguém poderia
escolher tal ocupação. Providenciar para aqueles
personagens adentrarem as portas mediante um
conhecimento prévio de suas histórias e depois se dedicar
a cada um especificamente.
Quantas promessas de quem vem se ocupando de
tal tarefa! Seriam essas suficientes para a incitar prosseguir
e enfrentar todos os seus receios?
Comprometer-se com essa atividade seria uma
experiência única, humana, gratificante e consagrada. Assim
plantou a semente da coragem; prosseguir jornadas novas
quando abrisse cada porta.
Dividiria seu tempo compartilhando cada vida que os
personagens reviveriam. Poderiam até renascer no encontro
humano e verdadeiro que se daria ao iluminar o palco acionado
pelo toque de cada maçaneta. Estavam batizadas a da
mitologia, a dos contos de fadas, a das alegorias. Do tempo,
dos bebês; da inconstância, eram consagradas; mas a porta
denominada outrora, por ser considerada um tabu, era muito
interessante.
Algumas passariam despercebidas, se não fosse a
insistência de seus habitantes que faziam questão de marcar
sua presença, nem que fosse por causa de um pequeno
grito ou barulhinho mínimo. Outras, anônimas, ainda
esperavam seus personagens adentrarem.
O que era inusitado? As histórias só seriam entrelaçadas
se ela soubesse tecer um fio que desse um sentido particular
a todas. Isso dependeria de suas capacidades pessoais e
também de seu interesse em cada personagem. Haveria um
amadurecimento e preparos a serem providenciados. Como
se daria tudo isso?
Conhecer alguns segredos desse caminho seria
interessante. Nossa! Isso seria imprescindível! Teria algo a
mais que só seria adquirido na própria prática. Tudo isso era
muito intrigante. Será que conseguiria enfrentar todos os
medos?
Nas profundezas de cada personagem, haveria uma
aprendizagem. Essas histórias já teriam sido vividas e
permaneciam fechadas ou até trancadas; só voltando à ação,
como se dizia, quando os enredos fossem retomados. Cada
imagem voltaria novamente toda vez que se reabrisse a porta?
Seria uma questão de memória? Ou estaríamos simplesmente
diante da vida?
No âmbito da memória estaria ela e os seus personagens
somente relembrando; ou o diferencial dessa atividade é vê-
-los brilhar no palco onde a vida se reconstrói em seu mais alto
quesito do desenvolvimento humano.
Companhia
CarlosAugusto Ferreira Galvão
Sigo minha vida bem acompanhado
Às vezes tento trocar, saio, me revolto
Procuro outro alguém, um outro lado,
Mas sempre muito me arrependo e volto.
Ela é assim, em nada me atormenta,
Fica ao meu lado silente e quieta;
Monotonia ninguém quer nem aguenta.
Mas o que fazer se não há mais meta?
Ela sempre inspira o pensamento,
Agonia que estimula meu coração;
Tão forte que repito todo momento:
Não vivo sem ti, minha amada solidão.
Bastidores
Suzana Grunspun
7. O Bandeirante - Outubro 2013 7
Nossa Festa Literária em Botucatu
Confraternização e bem-querência foram a tônica da XII Jornada Médico-Literária Paulista
realizada em Botucatu de 26 a 29 de setembro, com sessões literárias agradabilíssimas
na variedade de estilos, mas uníssonas em talento e harmonia.
Sem dúvida os sobramistas das diversas regionais comprovaram a tradicional acolhida paulista
e acrescentaram em sua bagagem novas amizades e inspiração criativa.
Coube à Academia Botucatuense de Letras selecionar
os textos e eleger os premiados para receberem o Troféu
“O Bandeirante” (veja foto no box) para os vencedores de
cada categoria e os certificados para segunda e terceira
colocações. Foi uma difícil tarefa devido à excelência dos
escritos, a respeito dos quais a opinião unânime de
participantes e julgadores era de que todos eram merecedores
dos maiores elogios e poderiam ser os ganhadores.
MÁRCIA ETELLI COELHO de São Paulo foi a grande
vencedora do evento, ficando com 1º. lugar nas duas
categorias. Ela levou para casa o Troféu Bandeirante de Prosa
(A Moça de Cinza) e de Poesia (Começar de Novo). Os textos
estão publicados no suplemento literário nesta edição nas
páginas 3 e 4 respectivamente.
Eis nossos campeões de prosa e verso:
Márcia - SP Arquimedes - MA José Arlindo - PE Sônia - SP Hélio - GO
ARQUIMEDES VIEGAS VALLE, do Maranhão ficou com
o 2º. lugar no concurso de Prosa. Seu texto A Vingança dos
Inocentes está publicado no BLOG da Sobrames-SP (veja
detalhes no box).
O segundo lugar da categoria Poesia ficou com o
pernambucano JOSÉ ARLINDO GOMES DE SÁ, com seu poema
Inventário Sertanejo, publicado no BLOG da Sobrames-SP.
SÔNIA REGINA ANDRUSKEVICIUS DE CASTRO, da
regional São Paulo, ficou com a terceira colocação no
concurso de poesias com Pescador, texto que está na página
4 desta edição.
Na categoria prosa, a terceira colocação coube a HÉLIO
MOREIRA, da regional goiana, pela crônica Caminhar pelas
Ruas de Paris, que também pode ser lido no BLOG.
Troféu “O Bandeirante”
http://
www.recantodasletras.com.br/e-
livros/4517755
ANAIS DA JORNADA
(baixe PDF completo neste link)
http://
sobramespaulista.blogspot.com.br/
BLOG SOBRAMES-SP
(Todos os textos vencedores)
8. FATOS & OLHARES
Pizza Literária de Natal
A reunião festiva de Natal já
tem data confirmada para
19 de dezembro. Não perca!
2014
IX Congresso da UMEAL
De 12 a 15 de março de
2014, será realizado na
cidade de Maputo
(Moçambique) o IX Congresso
da UMEAL. Presença
confirmada de Paulina
Chiziane e do premiadíssimo
Mia Couto. Em breve maiores
informações!
“QUEM é QUEM”
Resposta na próxima edição.
Participe desta seção enviando uma
foto sua bem antiga para a redação.
DESAFIO DO MÊS
Você sabe quem é esta menina?
A foto antiga pode precisar de
algum retoque, mas sua poesia é
bela e irrepreensível!
JUBILEU DE PRATA
O suplemento cultural da revista da APM (Associação Paulista de Medicina), edição 250,
setembro de 2013, em sua matéria de capa, publicou um depoimento da presidente da
Sobrames-SP, Josyanne Rita de Arruda Franco, sensível, realista, pontuando o caminho
encontrado pela Sobrames a fim de conciliar a atribulada vida médica com o universo
criativo literário. O texto na íntegra pode ser lido através do Blog
sobramespaulista.blogspot.com, ou baixado de em PDF do site
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/4486836
A comemoração dos 25 anos da Sobrames São Paulo durante a Pizza Literária de 19
de setembro não poderia ser diferente: fraterna, animada, com textos criativos,
muitos deles manifestando sinceras homenagens... Reaproximação de confrades
distantes como Wladimir do Carmo Porto e Alitta Guimarães Costa Reis...
Reencontro de sobramistas que há tempo não víamos: Mércia Lúcia de Melo Chade
(e seu marido Sérgio), Paulo Adolpho Leierer (ex-presidente da Sobrames-SP
1996-1998) e sua esposa Sandra... Escritores que pela primeira vez nos visitaram
como Pierre Joseph Chamoun, Eliana Batista Reis e Sérgio Siqueira da Cruz (do
Sindicato dos Escritores)... E a presença, é claro, dos sobramistas assíduos que
alicerçam e impulsionam nossa Sociedade.
SUPLEMENTO CULTURAL DA APM
BALADA LITERÁRIA
A Sobrames-SP realizará no dia 08 de novembro de
2013, sexta-feira, às 20 horas, no Espaço Maracá, na
APM (Av.Brigadeiro Luis Antonio, 278) uma “Balada
Literária”, com muita literatura e música ao vivo
ilustrando seu fim de semana! Participe e traga seus
amigos para viver esse momento de amizade e
emoção.Confirme presença pelos e-mails:
josyannerita@gmail.com / marciaetelli@ig.com.br
ENTRADA FRANCA
ACADEMIA TUPÃENSE
DE LETRAS
Alcione Alcântara Gonçalves é o mentor
e criador da Academia Tupãense de
Letras, que já tem data marcada
para sua fundação:
14 de novembro de 2013.
Contando com o apoio total da
Prefeitura e da Secretaria Municipal de
Cultura, os escritores da cidade de
TUPÃ passarão a contar com esse
sodalício que terá Alcione como seu
primeiro presidente.
Nosso decano FLERTS
NEBÓ era o menino com o
seu cãozinho Chuquel da
edição de SETEMBRO