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Revista centenario

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  1. 1. C entenário de Ventura Antônio Custódio Filho Um Guerreiro – Nosso herói um lutador, um homem de bem. OS PRIMEIROS ANOS DE CASADO na localidade rural Pombal, distrito de Missioná- rio, município de Alto Rio Doce. Na proprieda- P ouco sabemos dos primeiros anos de vida de de seus pais viveu a sua infância e juventu- de Antônio Custódio Filho, filho de An- de e os primeiros anos de casado, até o ano de tônio Francisco Custódio e Idalina Maria 1939, quando se mudou para a localidade rural de Jesus. Nasceu no dia 23 de junho de 1911, Aquenta-Sol, no município de Calambau, hoje 1
  2. 2. nos açougues a sua mercadoria. Descansava um para adquirir nos municípios vizinhos. E assim, modações noturnas para o pernoite. Chegou-se pouco, dormindo sem nenhum conforto, deitado em 1939, por indicação de um amigo, Sr. Geral- à propriedade de Aquenta-Sol ao entardecer do sobre os couros, que cobriam as “bandas” dos do Cigano, adquiriu uma pequena gleba de ter- terceiro dia. Além de Antônio Custódio, o com- suínos abatidos. Voltava para a sua propriedade ra na localidade rural, Aquenta-Sol, no distrito boio era tocado por Geraldo Pimenta, Geraldino em Pombal, chegando às altas horas da noite, de Calambau, hoje Presidente Bernardes, Minas Lopes e seu concunhado Francisco Rodrigues e trazendo mercadorias encomendadas de Ressa- Gerais, situado a 9 quilômetros da sede do distri- três rapazes, que candiavam as juntas de boi. quinha: sal, farinha de trigo, querosene, tecidos, to, a 70 da propriedade A propriedade possuía ferraduras, cravos para as ferraduras, machados, de Pombal. Esta pe- apenas uma pequena foices e outros materiais de uso rural. Quando quena propriedade casa de pau a pique, a mercadoria não era encomendada, vendia-as foi adquirida do Sr. coberta de sapé, sem para quem precisasse e o procurasse. Esta rotina Manoel Costa, que reboco, sem instalações cidade de Presidente Bernardes. Faleceu perto era, praticamente, quinzenal. O único descanso possuía outras pe- sanitárias e sem ener- de completar seus 89 anos, no dia 19 de janei- era aos domingos, quando ficava em casa, com quenas propriedades, gia elétrica. Era a casa ro de 2000. Se em 2011 estivesse vivo, estaria uma atenção muito especial para os filhos pe- fazendeiro residente comum das pequenas completando um centenário. Teve, entretanto, quenos ou visitava alguns amigos ou fazia al- em Venda Nova, loca- propriedades rurais, uma grande alegria: querer ver a passagem do gum negócio. Tinha um carinho muito especial lidade rural distante 8 sem o mínimo confor- milênio, e conseguiu. Viu o alvorecer do novo com seus pais, que moravam muito próximo e quilômetros da Fazen- to. Todos, entretanto, século, o século XXI. Casou-se muito novo, aos quase diariamente lá passava para tomar um da Aquenta-Sol. se sentiam muito feli- 22 anos, no dia 4 de outubro de 1933, com uma café, falar sobre os negócios e saber como anda- Corria o mês de ju- zes, por ter chegado ao linda menina de 16 anos, Guilhermina Evange- va a família e seus irmãos. Ao seu lado, sempre lho de 1939. Adquirida destino, sem nenhum lista de Souza, nascida no dia 25 de junho de apoiando, cozinhando para os trabalhadores da a pequena propriedade, transtorno. Toda a co- 1917, filha de Benjamim Pereira de Souza e Ma- roça e para os peões, estava a sua jovem espo- paga a vista, graças a mitiva se acomodou ria Margarida dos Santos, residente na localida- sa Guilhermina. Era um casal feliz, trabalhando um pequeno emprés- na pequena casa. Fa- de rural muito próximo do Pombal, Fazenda Boa para uma melhoria futura. timo de seu pai, partiu zia frio. Acendeu-se, Vista, mesmo distrito de Missionário, onde foi a família para o desco- no meio da cozinha, realizada a cerimônia do casamento. nhecido. À época não uma pequena foguei- Foi um lutador incansável. Morando nas ter- MUDANÇA PARA AQUENTA- SOL existia a mínima possi- ra, para espantar o ras de propriedade de seu pai, construiu uma bilidade de um veículo frio. No dia seguin- pequena casa e ali começou a sua luta rural. Tra- Vendo que as possibilidades de um progres- motor, um caminhão, te, de manhã cedo, balhava de sol a sol, cuidando da plantação de so maior eram quase impossíveis onde estava, fazer a mudança. Esta fora acocorado à beira da fogueira, o Sr. Geraldo Pi- milho, arroz e feijão e cuidando de uma pequena sem vislumbrar oportunidades para aquisição de feita em um comboio de três carros de boi, quatro menta apresentou aos presentes um habitante, quantidade de vacas e garrotes, além de algumas terras cultiváveis, saiu procurando algum sítio mulas de carga, quatro cavalos, umas seis vacas existente na região, muito perigoso e que se es- mulas e cavalos, utilizados na faina da pequena de leite e cerca de dez garrotes. Esta viagem levou condia nas frestas do pau a pique: um besouro, propriedade. Uma atividade que lhe deu um ren- três dias, pernoitando-se em fazendas ao longo denominado “barbeiro”, transmissor da Doença dimento maior foi a criação de suínos. Cuidava do caminho. Seus quatro filhos, José Boaventu- de Chagas, quando dá uma picada em um ser deles com esmero e, quando estava no ponto de ra, hoje José Ventura, por erro de escrivão, com humano. Disse para os presentes: “Quase que fui abate, ele mesmo cuidava deste mister. Abatia-os cinco anos, João Balbino, com menos de quatro picado por este inseto e se isto tivesse aconteci- a partir do meio-dia e à noite, com as mulas car- Geraldo Tomaz com menos de dois e Mª Mada- do, em breve, minha vida estaria correndo um regadas com as “bandas” dos suínos abatidos, ia lena de Souza com 2 meses de idade viajavam sério perigo”. As crianças presentes não deram ele, às vezes acompanhado e outras não, com o em um dos carros de boi, juntamente com sua nenhuma importância a este fato. Os adultos, en- comboio de mulas até a cidade de Ressaquinha, dileta esposa Guilhermina, que cuidava da ali- tretanto, principalmente o dono da casa e a mãe viajando a noite inteira, para de manhã entregar mentação, do bem-estar dos meninos e das aco- das crianças, ficaram simplesmente apavorados. 2 3
  3. 3. Orlando Antônio Custódio, Oswaldo de Souza era quando se adquiria mais alguns alqueires de Custódio (falecido com poucos meses de vida), terra, uma nova junta de bois ou uma boa mula Idalina Teodoro Custódio, Moacir Iria Custódio, ou cavalo. Todos compartilhavam do progresso Terezinha do Perpétuo Socorro Custódio, Jú- financeiro da família. lia Paulina Custódio, Izabel de Souza Custódio Nem tudo na vida, entretanto, são flores e (também falecida em tenra idade), Francisco de alegria. Antônio Custódio e toda sua família ti- Assis Custódio, Mauro Roberto Custódio e Maria veram momentos muito tristes no Aquenta-Sol. de Fátima Custódio. O nascimento de mais um Podemos destacar alguns: o primeiro, logo após filho era um grande júbilo para toda a comuni- a chegada a Aquenta-Sol, foi a doença do Ge- dade familiar. Outro motivo de grande regozijo raldo Thomaz, com menos de dois anos. An- era quando se terminava a capina das roças de tônio Custódio não dispunha de dinheiro para Dona Guilhermina solicitou a Antônio Custódio de. Compravam-se, apenas, tecidos para fazer as milho, com muitos trabalhadores, chegando, às comprar os medicamentos necessários e não que providenciasse, imediatamente, a reforma vestimentas da família, confeccionadas pela pró- vezes, a mais de quinze. Neste dia, realizava-se conhecia ninguém que pudesse emprestar-lhe o da casa, rebocando-a e não deixando nenhuma pria Dona Guilhermina, sal, querosene e outras uma grande festa de confraternização. No final numerário suficiente, em torno de $100.000,00 fresta para alojar os besouros. Este fora o primei- iguarias não produzidas na propriedade. Toda a da tarde, um dos capinadores escolhido colhia (cem mil reis). Isto hoje equivaleria a pouco ro trabalho feito na pequena propriedade, dando produção era vendida na sede do distrito e em o maior pé de milho existente e trazia para a mais de R$100,00 (cem reais). Procurou, então, novo visual a pequena casa. Bem em frente à re- Piranga e para vizinhos. É incrível que aquela sede, cantando diversas canções. O escolhido, o Sr. Manoel Costa, de quem havia comprado sidência, morava a família de Antônio Roberto. pequena propriedade pôde gerar recursos para na maioria das vezes, foi o Sr. José Lourenço, a propriedade. Este, não se sabe se verdadeiro “ Família numerosa e muito gentil, que veio visitar, reformar primeiramente a antiga casa, fazer ou- excelente trabalhador rural, vizinho, compadre ou não, disse que não tinha nenhuma importân- imediatamente, os novos moradores. tra anos depois e comprar outras pequenas pro- e amigo de todos. Chegando à sede, todos can- cia que pudesse emprestar. Desesperado voltou priedades vizinhas e mesmo algumas mais dis- tavam: para casa e arrumou o dinheiro com Tio João tantes, nas localidades denominadas “Ribeiro”, que neste dia veio nos visitar, imediatamente fo- A VIDA EM AQUENTA-SOL Em Aquenta-Sol Antônio Custódio iniciou uma nova fase na sua vida. Como sempre, um batalhador incansável, trabalhando de sol a sol, economizando o que podia, visando a um futu- “Mata Onça” e “Bahia”. Antônio Custódio desde cedo se preocupou com o bem-estar da famí- lia e, visando um maior conforto para assistir à missa e outras festividades em Calambau, sem necessidade de ir e vir no mesmo dia, adquiriu Senhora dona de casa, Sai pra fora, por favor. Venha ver a bandeira “ ram para o médico em Piranga e com a ajuda de Deus, salvaram a vida do menino. O falecimento de seus dois filhos recém-nascidos trouxera-lhe muita angústia. A doença de sua esposa Dona Guilhermina, acometida de profunda depressão após o nascimento do Benjamin em maio de Que a sua roça mandou. uma casa na já cidade de Calambau, no final da ro melhor para sua família. Fez, imediatamente, rua nova, próxima ao cemitério. Esta casa foi, 1944, foi outro período de muito sofrimento e amizade com todos seus vizinhos e com as fa- anos depois, vendida e adquirida outra, do outro angústia. Foi necessário ficar internada na casa mílias simples e importantes do distrito de Ca- lado do Rio Piranga, com uma gleba de terra. Dona Guilhermina, com seu melhor vestido, de repouso do Dr. Geraldo Couto, em Barbacena, lambau. Todos viam naquele jovem casal, Gui- Posteriormente esta também foi vendida e com- rodeada dos filhos, descia a escada da frente da por um período de cinco meses. Foi um perío- lhermina e Antônio, pessoas de bem, amigas, prada uma excelente na Praça Cônego Lopes, a casa e recebia, de José Lourenço e de Antônio do de muito sacrifício para Antônio Custódio e participativas, alegres e receptivas. Na pequena principal da cidade. Custódio, o valioso troféu, sob muitas palmas toda a família. Ele, entretanto, não esmoreceu. propriedade plantava-se milho, arroz, feijão, Em Aquenta-Sol teve suas maiores alegrias e gritos de alegria. Neste dia era servido o me- Esforçou-se, ao máximo, durante todo o perío- mandioca, cana e café. Cultivava-se, também, e também muitas tristezas. Ali cresceu sua fa- lhor jantar, regado com uma boa cachaça, e o do da enfermidade. Cuidava, com esmero, dos um pequeno pomar, com diversas frutas e uma mília, com o nascimento dos seus mais quinze Feliciano Correia, sanfoneiro de renome na co- filhos e, quinzenalmente, visitava sua esposa excelente horta, com tudo de que uma cozinha filhos, sendo que dois faleceram com poucos munidade, com sua sanfona de oito baixos, ale- em Barbacena, viajando a cavalo até Alto Rio precisava. Criava-se galinhas, porcos e havia um meses de vida. Nasceram em Aquenta-Sol, por grava o ambiente até altas horas da noite e to- Doce, quando pegava o ônibus. Muitas vezes, pequeno número de vacas leiteiras, das quais se ordem de nascimento: Maurílio Antônio Francis- dos dançavam, com júbilo, entusiasmo e paz. retornando de Barbacena para Alto Rio Doce, ordenhava o leite, fazendo excelentes queijos. co, Maria Aparecida de Souza, Maria da Con- Quanto mais alegre era a festa, mais prenúncio viajava a noite inteira para Aquenta-Sol, chegan- O sustento da família vinha todo da proprieda- ceição de Souza, Benjamin Vitorino de Souza, de uma excelente colheita. Outro motivo de festa do ao amanhecer, para mais um dia de trabalho 4 5
  4. 4. foram os que não honraram o seus filhos formassem uma família unida, traba- ro. Viuvara-se aos 55 anos. Não faltaram pessoas, compromisso. lhadora, ética e, acima de tudo, amigos, como inclusive seu filho mais velho, sugerindo o enla- Ocorreu, entretanto, um poucos, entre si. Antônio Custódio viu-se só. ce dos dois, como uma boa solução para ambos. terrível fato, em 6 de outubro Era o fim de uma vida de 26 anos de dedicação, Inicialmente, Antônio Custódio não manifestou de 1959. Guilhermina Evan- amor e trabalho. Com fé nos desígnios de Deus, nenhum entusiasmo com estas “brincadeiras”, gelista de Souza, a querida e não se desesperou. Assumiu, com resignação, como ele classificava esta insinuação. Sentindo dedicada esposa de Antônio as funções de pai e mãe e procurou manter da a solidão bater as suas portas e a necessidade Custódio, dava a luz, aos 42 melhor maneira possível a união da família. Seu de uma pessoa para cuidar da casa, apesar do anos de idade, a Maria de Fá- filho mais velho, na missa de sétimo dia de sua amor filial e o desvelo no cuidado dos irmãos tima de Souza Custódio, déci- mãe, disse-lhe, com imensa dor no coração: menores de sua filha Maria Aparecida de Souza, mo oitavo parto, e falecia em “Pai, o lugar de mamãe em nosso íntimo ja- que assumira a imensa responsabilidade de gerir seguida com uma hemorragia, mais será ocupado, mas a vida continua, o Se- a casa, na flor da sua juventude, aos 16 anos, causada por uma placenta re- nhor ainda é muito novo (estava com 48 anos) resolveu “acatar” a indicação e, assim, em 29 de tida. Um verdadeiro desastre. e não tem condições de cuidar sozinho de todos setembro de 1960, na Fazenda Aquenta-Sol, o Não era possível que uma os seus filhos, julgo, portanto, que deve se casar pároco do Município, Pe. José Nicomedes Gros- mãe extremamente dedicada novamente, apenas peço-lhe que seja com uma si, futuro Bispo de Bom Jesus da Lapa, Bahia, intenso. Quando Dona Guilhermina voltou para aos filhos e ao esposo pudesse partir tão cedo, pessoa de bom coração e que possa receber to- grande amigo da família, celebrara o casamento casa, totalmente curada, foi um novo ciclo de deixando dezesseis filhos órfãos, sendo oito me- dos os seus filhos, abdicando-se de ter os seus de Júlia Maria Barbosa e Antônio Custódio Fi- júbilo, entusiasmo, progresso e muito trabalho. nores de dez anos. Seu filho mais velho, José próprios. O Senhor não deve contribuir para lho. Neste momento casava-se também sua filha Era um homem que fazia de tudo na proprie- Ventura, que se encontrava em Juiz de Fora, tra- que tenhamos duas famílias: os filhos de Gui- Maria Madalena de Souza. Todos sabiam que dade: tirava leite e fazia queijos; cuidava dos balhando e se preparando para os exames ves- lhermina e os de outra esposa”. não era um casamento por amor, mas por con- pastos, roçando-os e fazendo as cercas necessá- tibulares, quando foi informado do fato através Naquele momento Antônio Custódio refutou, veniência, para a melhoria e bem-estar de seus rias; castrava os bois e os suínos, ele mesmo, de um amigo, exclamou: “Não é verdade! Isto é veementemente, a ideia, reafirmando o seu pro- filhos, principalmente os menores. sem ajuda de ninguém, com as técnicas primiti- mentira! Deus, que é amor e compreensão, não pósito de dar tudo de si, sacrificando o seu bem Dona Júlia recebera, inesperadamente, de- vas, com muito sacrifício para os animais; sacri- tira do mundo uma mãe de dezesseis filhos!”. estar, para a tranquilidade e bem-estar da famí- zesseis filhos, tratando-os com carinho e frater- ficava os porcos para a venda, sangrando-os com Lamentavelmente, era verdade. Dona Guilher- lia. Cumpriu o seu compromisso feito à beira do nidade. O grande mérito desta mulher foi, sem uma precisão milimétrica, acertando o coração mina partira para a eternidade, sem completar a túmulo de zelar por todos os filhos e exercitou dúvida alguma, permitir a união da família de e diminuindo o sofrimento dos animais; mane- plenitude da vida, na plena idade produtiva, 42 o seu amor paternal com tenacidade e desvelo. Antônio Custódio e Guilhermina Evangelista. java, como poucos, o lanço e lançava um boi, anos de vida. O féretro saíra de Aquenta-Sol Antônio Custódio dedicou-lhe toda atenção ma- um garrote ou uma vaca, com precisão incrível. às 15 horas e por determinação de José Ventu- Gostava de andar em uma mula bem arriada e ra, fora levado carregado pelas alças e não na A VIDA COM JÚLIA MARIA BARBOSA cuidava muito bem de sua tropa. No engenho padiola, nos ombros, como costume na região. fazia açúcar mascavo e rapadura. Na capina da Os moradores vizinhos, na sua quase totalidade, “Deus escreve certo por linhas tortas”, diz roça, ia sempre à frente. acompanharam o féretro, chegando a Calambau um ditado popular. Muitas vezes nós, os huma- Era um homem extremamente justo e cortês. às 17 horas. O comércio fechou e imenso cortejo nos, não entendemos esta afirmação, como no Talvez pelo sofrimento que teve quando precisou se formou da Igreja matriz até o antigo cemité- caso do falecimento de Guilhermina Evangelista de um empréstimo para a doença do Geraldo, rio. Às 18 horas o corpo inerte de Dona Guilher- de Souza. Acontece que meses antes deste trá- nunca negou qualquer empréstimo. Tinha, por mina baixou à sepultura. Sua boníssima alma gico acontecimento, faleceu o Sr. Vicente Faria, assim dizer, uma “carteira” de clientes, anotan- já estava na plenitude eterna, de onde velou e vizinho de Antônio Custódio, deixando viúva a do os empréstimos e os juros, muitas vezes em vela por todos os seus filhos. Não viu, na sua Sra. Júlia Maria Barbosa, sem filhos e totalmente pequena folha de papel, sem nenhum avalista. vida terrena, o sucesso dos mesmos, mas de lá, sozinha, uma vez que suas irmãs moravam em Mesmo sem nenhuma garantia, pouquíssimos no céu, contribuiu imensamente para que todos Volta Redonda e Maricá, Estado do Rio de Janei- 6 7
  5. 5. trimonial, estando sempre ao seu lado, principal- E assim se fez. Geraldo Tomaz, o terceiro filho, mente na sua enfermidade final. E assim, após tendo se casado, passou a residir na fazenda, na 28 anos de convivência, no dia 26 de agosto de condição de arrendatário dos dois proprietários: em Piranga, o terceiro casamento de Antônio 1988, deixava este mundo a segunda esposa de Júlia Barbosa e Antônio Custódio. Custódio. Sua terceira esposa contava com 49 Antônio Custódio, aos 84 anos de idade. Seus anos de idade. Foi uma convivência muito cur- filhos adotivos sempre lhe devotaram respeito, ta, de pouco mais de três anos, tendo-se sepa- pai, Antônio Francisco Custódio, mudou para a carinho e muita amizade. O TERCEIRO CASAMENTO rado, amigavelmente, em 1992. Esta separação Fazenda Boa Sorte, no município de Diogo de Um fato curioso aconteceu logo após o casa- foi motivada principalmente porque os filhos, Vasconcelos, MG, distante 36 km de Aquenta- mento. Antônio Custódio verificou que o Sr. Vi- Quando Dona Júlia faleceu, certa vez, An- em número de seis, de Dona Rita começaram a -Sol, ia, com muita frequência visitar seus pais cente Faria fizera doação de toda a sua proprie- tônio Custódio conversando com José Ventura, exigir mais a sua presença diariamente na sua e seus irmãos, quase todos já casados. Sempre dade, Fazenda Barra Alegre, à Paróquia de Santo disse-lhe: “A vida é muito boa, mas às vezes in- fazenda e não apenas um dia da semana. Apesar levava um filho na garupa e durante o caminho Antônio de Calambau, uma vez que não deixa- grata. De que adiantou eu ter dezesseis filhos e de amigável a separação, Antônio Custódio ficou sempre contava uma história, um fato e canta- va descendentes, com uso fruto de sua esposa, estar agora sozinho”. José Ventura afirmou-lhe bastante triste com o fato. Para não deixá-lo vi- rolava marchinhas de carnaval, sendo a prefe- Dona Júlia, sem o conhecimento e assentimento que não haveria nenhum problema se ele en- ver sozinho, sua filha Maria de Fátima de Souza rida, a “Jardineira”. Era, no mínimo, sete horas dela. Isto não era possível legalmente, uma vez contrasse uma nova companheira. Na mesma Custódio foi morar com ele, juntamente com seu de viagem. Levou seu filho mais velho para o que ela era meeira dele, com direito a 50% da época do falecimento de Dona Júlia, falecera, esposo e filhos. Seminário de Miguel Burnier, numa viagem de propriedade. Tratou, então, Antônio Custódio também, em 9 de março de 1988, o Sr. Pedro Mi- três dias: o primeiro até a Fazenda de seu Pai, de fazer, em juízo, a anulação parcial da doa- lagres, fazendeiro residente próximo de Piranga, Boa Sorte; o segundo até Passagem, próxima de ção, ficando a paróquia com apenas a metade esposo de Rita Ângela Xavier Milagres. Por parte SUA DEDICAÇÃO AOS FILHOS Ouro Preto, sede de uma mina de ouro, onde da fazenda. Como o pároco, Pe. José Nicomedes de alguns amigos houve a aproximação dos dois. se pernoitou na casa de um amigo. Permaneceu Grossi, necessitava de numerário para a refor- Aconteceu o esperado. Em 21 de janeiro de 1989, Tinha verdadeira veneração e orgulho dos fi- um dia na casa deste amigo, para visitar a mina ma da Igreja, Antônio Custódio propôs adquirir sete meses após sua viuvez, o Pe. Gabriel Cor- lhos. Quando menores, sempre que podia carre- e, finalmente, no quarto dia chegou de trem a a parte da fazenda pertencente à paróquia, por ral Galache, jesuíta, Diretor da Editora Loyola, gava seus filhos na garupa de suas mulas para vi- Miguel Burnier. Durante todo o tempo que José um preço justo, devido a tratar-se de uso fruto. São Paulo, dedicado amigo da família, celebrou, sitar os parentes: pais, tios e irmãos. Quando seu Ventura esteve em Miguel Burnier, recebeu, no 8 9
  6. 6. mínimo, três visitas anuais, feitas todas com o Congonhas-MG e de Bacalhau, distrito de Piran- apenas 70 anos destes fatos, graças ao progresso sacrifício da viagem a cavalo até Mariana ou ga. Na festa de Santo Antônio de Calambau, 13 vertiginoso do mundo contemporâneo, parecem Furquim. Quando João Balbino era Irmão jesuí- de junho, sempre ofertava um bezerro ou carro histórias de muitos séculos passados. ta no Seminário de Nova Friburgo, lá ele esteve de boi para o leilão. Na procissão do Santo era várias vezes visitando o filho e uma em compa- um dos “Antônios” designado pelo pároco para nhia de José Ventura, que já estava no Seminá- carregar o andor. Vestia o seu melhor terno, co- FRATURA DE SUA PERNA DIREITA rio de Paraíba do Sul. Seus filhos que mudaram locava gravata e desfilava carregando o andor, para São Paulo receberam suas constantes visi- orgulhoso e garboso. Se vivo estivesse quando o No dia 8 de setembro de 1995, dia do casa- tas, sempre trazendo sua alegria e suas notícias. Deputado Pedro Vidigal escreveu um livro sobre mento de seu neto Wanderley de Souza Almei- Os que moravam em Piranga, Calambau e Porto a história de Calambau e lá colocou sua foto- da, filho de Cícero Venâncio de Almeida e Maria Firme eram mais privilegiados, estando em sua grafia, carregando o andor, sentiria um imenso Aparecida de Souza Almeida, quando se prepa- constante companhia. Tinha orgulho imenso de júbilo. Outra devoção era a de São Sebastião, rava para o almoço, caiu e fraturou o fêmur de todos e não poupava elogios aos seus filhos. Em festa celebrada em 20 de janeiro. Também nesta sua perna direita. Foi levado para Conselheiro Juiz de Fora, onde passou a residir José Ventura, ocasião não deixava de doar um bezerro, uma Lafaiete, onde a perna foi engessada. Devido a desde 1955, quando deixara a vida religiosa, ele leitoa ou um carro de milho para o leilão. Dizia sua idade e a uma prática médica indevida, o esteve dezenas de vezes e aproveitava a viagem sempre que fazia isto em retribuição aos benefí- engessamento não deu resultado. Um mês de- sa. No dia 19, sua filha Maria Aparecida telefonou para comprar tecidos para toda a família, direta- cios que São Sebastião trazia para ele, protegen- pois estava ele no Hospital de Viçosa sendo sub- para José Ventura em Juiz de Fora solicitando o mente da Fábrica Ferreira Guimarães. do suas lavouras, seus animais e seus negócios. metido a uma cirurgia para colocação de uma envio de uma ambulância UTI para levá-lo para A devoção a Bom Jesus de Matosinhos é outro “gaiola” de metal inoxidável. Permaneceu com Juiz de Fora, uma vez que os médicos de Viçosa capítulo na sua vida. No jubileu, em Congonhas, esta “gaiola”, por dez meses. Nunca reclamou. julgaram que em Juiz de Fora haveria melhores SUA VIDA RELIGIOSA viajava três dias, em comitiva, com família, para Andava com imensa dificuldade, com muletas e recursos, em face do seu estado crítico. Foi provi- participar das festividades, na primeira quin- só lamentava não poder mais andar a cavalo. denciada uma ambulância UTI da Santa Casa de Era devoto fervoroso de Santo Antônio, de zena de setembro de cada ano, hospedando- No dia que retirou a “gaiola” deu mais uma de- Misericórdia, com um enfermeiro e um médico, São Sebastião e de Bom Jesus de Matosinho de -se nas casas dos romeiros, existentes naquela monstração de coragem. Ao ser preparado para para buscá-lo. Ficou acertado que, quando esti- época. Entre a saída de Aquenta-Sol e a anestesia, disse ao médico que não queria ser vesse próximo de Juiz de Fora, José Ventura fosse seu retorno decorria no mínimo oito anestesiado e que poderia tirar “os ferros” de avisado para recebê-lo no hospital. Ao passar por dias. Não deixava, também, de estar sua perna sem os recursos da anestesia. Sentiria Grama, Aparecida solicitou que a ambulância pa- presente, pelo menos de dois em dois imensamente feliz ao ver-se livre daquela próte- rasse para o comunicado da chegada. O médico anos, no Jubileu do Senhor Bom Jesus se e poder andar livremente. Assim se fez. Para não permitiu isso, uma vez que seu estado de saú- de Bacalhau. Esta caminhada era mui- espanto de todos, foram retirados os “tuchos”, e de havia piorado. Naquela época o uso do celular to menor, apenas um dia de viagem, ele, muito feliz, voltou a andar sem as muletas, era muito restrito e Juiz de Fora não dispunha des- percorrendo os quarenta quilômetros. e não acatando as recomendações médicas, um te recurso. Chegando ao hospital, foi encaminhado Também naquela localidade a hospe- mês depois, estava cavalgando. Nesta sua en- imediatamente para o centro cirúrgico, onde uma dagem era nas casinhas dos romeiros, fermidade, seu amparo e sua companhia muito equipe médica já o esperava. Suas últimas pala- até que seu pai, Antônio Francisco frequente foi aquela que sempre esteve presente vras para a filha foram: “Vou sozinho, você não Custódio, adquiriu uma própria, fa- em todas as ocasiões, sua filha Maria Aparecida. vem comigo?”. No centro cirúrgico colocaram-lhe cilitando a hospedagem. Nestas ro- imediatamente um marca-passo para tentar dar marias a família estava toda reunida sustentáculo ao seu coração, que teimava em pa- e portava, nos lombos dos burros, SEU FALECIMENTO rar de trabalhar. Tudo em vão, às 23h15min, partia tudo para a hospedagem: vasilhame Antônio Custódio Filho para a outra vida. Faleceu, para a cozinha, mantimentos, roupas No dia 18 de janeiro de 2000 sofreu um infarto como viveu, sem dar trabalho a ninguém. O guer- de vestir e de cama. Hoje, decorridos em Piranga. Foi levado, imediatamente, para Viço- reiro dava adeus a este mundo, deixando saudosos, 10 11
  7. 7. mas ao mesmo tempo, orgulhosos seus dezesseis mas agradeciam a oportunidade de tê-lo conheci- filhos. Só deixou amizade e exemplo. Nenhum ini- do e participado de sua amizade e convivência. migo. No seu velório, em Piranga, uma multidão Apresentou-se à vida eterna na antevéspera da fes- de pessoas louvava o seu trabalho, sua trajetória ta de São Sebastião, 20 de janeiro, e certamente de sucesso financeiro, seu amor à família, sua ho- o Santo da sua devoção muito especial o recebeu nestidade e ética. Todos lamentavam a sua partida, com muito carinho, dando-lhe as boas-vindas. José Ventura, O Primogênito José Ventura – 14/7/34 Zeil Sperandio Ventura – 11/2/42 Guilherme Sperandio Ventura – 17/9/65 Carla Ferreira Corrêa Ventura – 16/10/65 Felipe Corrêa Ventura – 30/7/94 Pedro Corrêa Ventura – 02/12/95 Adriana Sperandio Ventura Pereira De Castro – 25/9/66 Eduardo Breviglieri Pereira De Castro – 15/1/64 Jéssica Ventura Pereira De Castro – 16/3/94 Yuri Ventura Pereira De Castro – 07/7/97 Ricardo Ventura Pereira De Castro – 06/4/05 Andrea Sperandio Ventura Braga – 26/4/70 Marcus Vinicius Braga De Oliveira – 16/11/71 Vinicius Sperandio Ventura Braga – 12/4/96 Henrique Sperandio Ventura Braga – 30/5/03 Juliana Sperandio Ventura Pyun – 30/9/78 Jonas Pyo Pyun – 11/12/77 12 13
  8. 8. João A ntônio Custódio foi um homem extra- ordinário. Seus pais eram agricultores. Com eles aprendeu desde cedo a traba- lhar duro na lavoura. Nacimento: 23/06/1911, Remédios – MG Casamento: 4/10/1933, com Guilhermina Evangelista de Souza Fazia-se muita economia, passando por pri- vações, para ir melhorando de vida e ir adquirin- do pequenas propriedades ao longo de sua vida. Antônio Custódio aprendeu apenas as pri- meiras letras e números, mas era inteligente e de boa memória. Fazia, com facilidade, cálculos matemáticos de cabeça. João Balbino de Souza Custódio (31/3) Irene de Castro Custódio (29/8) Alexandre de Castro Custódio (31/8) Suely Ito Custódio (8/11) Pedro Kendi Ito Custódio (9/5) Thiago Kenzo Ito Custódio (9/5) Nascimento do 1º filho, José Ventura, Foi um pai extremamente rigoroso para com 14/7/1934 os filhos. Entretanto, todos o respeitavam e ama- Fernando de Castro Custódio (15/9) Nascimento do 18º filho, Maria de Fátima, vam. Tinha orgulho do sucesso dos filhos e aju- Laura Silva Dias (23/11) 5/10/1959 dava os que necessitavam. Falecimento: 19/1/2000, em Juiz de Fora Com a morte prematura de nossa querida mãe, Márcia de Castro Custódio (29/5) Casou-se aos 22 anos com a jovem Guilher- ocorrida em 6/10/1959, papai contraiu segundas David de Freitas Neto (20/4) mina Evangelista de Souza, de apenas 16 anos núpcias com Júlia, mulher santa, que foi para to- de idade. dos nós, não madrasta, mas verdadeira mãe. Após o casamento foi morar na zona rural do Papai recebia com cordialidade as pessoas em distrito de Missionário, município de Alto Rio sua casa, oferecendo sempre um café para as vi- Doce – MG. sitas. Não negava um pedaço de pão ao indigen- Em 1939 mudou para a zona rural do distrito te que batia em sua porta. de Calambau, município de Piranga, na localida- Trabalhou até os seus últimos dias de vida. de Aquenta-Sol. Não podendo mais ir ao campo, moía milho no Da sua união matrimonial nasceram 18 filhos: porão de sua casa, recebendo em troca uma dé- José Ventura - 1934, João Balbino - 1936, Ge- cima parte do fubá, utilizada no consumo do- raldo Tomaz -1937, méstico. Maria Madalena -1939, Maurílio Antônio - Faleceu repentinamente em 19/1/2000, aos 1940, Maria Aparecida - 1942, Maria da Concei- 88 anos e 6 meses de idade, na cidade de Juiz de ção - 1944, Benjamim Vitorino - 1945, Orlando Fora, assistido pelos filhos Ventura e Aparecida, Antônio - 1946, Osvaldo -1949 (falecido), Idalina que o transferira de Viçosa, buscando socorro Teodoro - 1949, Moacir Iria -1950, Terezinha do médico, na tentativa desesperada de prolongar Perpétuo Socorro -1952, Júlia Paulino -1954, Iza- sua preciosa vida. bel -1955 (falecida), Francisco de Assis -1956, Em seu sepultamento em Piranga, estavam Mauro Roberto -1958, Maria de Fátima -1959. presentes seus 16 filhos vivos que lhe deram o Como chefe da família, trabalhava intensa- último adeus. mente para a criação dos inúmeros filhos. De- Com saudades lembro-me dele sentado na pois que mudou para Aquenta-Sol, comprava sala de sua casa, ovos, galinha e frangos nas casas da roça e ia dando sábios conse- revendê-los na cidade de Ressaquinha, distante lhos, relembrando, muitas léguas, em tropa de burros. A viagem de com precisão, fatos ida e volta durava quatro dias. de sua vida e fazen- Na propriedade rural cultivava milho, arroz, do o seu cigarro de feijão, cana-de-açúcar, criava porcos e gado, tira- palha de milho. va leite, fazia queijo, creme de leite e rapadura. João Balbino 14 15
  9. 9. geraldo A o relatar fatos da minha infância, as lembranças do papai e da mamãe me fizeram chorar. Que saudades daqueles tempos! Papai, um homem de gênio forte, nos ensinou muito, a honestidade, a responsabilida- de, um exemplo de pai. A mamãe, de uma bon- dade sem tamanho, trabalhadeira, companhei- ra, uma grande guerreira. O tempo passa, mas não esquecemos os acon- tecimentos e principalmente os mais marcantes. 5 mil reis e fomos para Piranga. Chegando lá, Dr. Sólon disse que eu estava “aguado” e com “vento caído”, que era para me levar numa benzedeira. Receitou-me apenas um xarope e que eu tomasse leite desnatado. Na época papai não tinha vaca, o leite vinha do Manoel Costa e o Ventura é que buscava o leite todos os dias. Tomei o xarope, fui à benzedeira (Maria José), tomei o leite desna- tado por um bom tempo e assim fiquei curado. Passados uns quatro dias tio João chegou de Boa Andreza (20/5/00) Andriely (5/10/04) Geraldo Tomaz (29/12/37) José Geraldo Tomaz (8/3/63) Arlete Aparecida (13/08/40) Maria Aparecida Tomaz (16/11/64) Júlio Betina (16/11/06) Irene Tomaz (18/4/69) Sidney César (7/7/88) Mateus (21/8/91) Lucas (3/4/93) Margarete Tomaz (5/7/70) Ronaldo Tamires (24/7/91) Vinícius (19/5/93) Na minha infância por volta dos 3 anos de Sorte e ficou feliz, pois eu já estava bem. Papai Marcus (14/12/98) idade, assim que fomos morar no Aquenta-Sol, disse a ele que gastou apenas 1 mil reis e foi de- Carlos Roberto Tomaz (7/6/66) passados uns 15 dias tive uma dor de barriga (di- volver os 4 mil reis que sobraram, mas tio João Mauro Lúcio Tomaz (27/7/75) Milton Cornélio Tomaz (16/9/67) senteria) que quase morri. A mamãe já tinha me não aceitou. Disse: “na próxima vez que voltar Gabriela Vânia dado vários tipos de chá, mas nada adiantava. você me paga”. Com os 4 mil reis papai comprou Eduarda (1/5/08) Elisa (15/6/09) Talita (16/6/92) Então ela muito preocupada pediu ao papai para galinhas e revendeu, teve um ótimo lucro: o que Caíque(16/9/93) Marcelo Tomaz (15/6/81) me levar ao médico (Dr. Sólon) em Piranga. Só era 4 virou 8 mil reis. Após 60 dias, tio João vol- que papai não tinha dinheiro, então foi na casa tou. Mamãe mais uma vez o agradeceu por ter do Manoel Costa pedir dinheiro emprestado. In- salvado a minha vida. Papai queria dar 1 mil reis felizmente o Manoel Costa não emprestou. Papai a mais para ele, mas ele não aceitou. muito triste voltou para casa. Mamãe só chorava. Aos 14 anos comecei a namorar a Aparecida Ao anoitecer, por graça de Deus, tio João veio (prima), aos 24 anos nos casamos e temos oito nos visitar. Assustado ao me ver tão doente, já foi filhos. logo falando que tinham que me levar ao médico Agradeço a Deus por tantas bênçãos: os pais o mais rápido possível. Assim que o dia amanhe- que tive, a esposa e os filhos que tanto amo. ceu, papai arreou o cavalo, o tio João emprestou Geraldo Tomaz 16 17
  10. 10. Maria Madalena B om, falar do meu pai chega a ser difícil de tantas qualidades que ele tinha. Claro que às vezes ele era bem durão, mas um excelente pai. Ficou viúvo muito cedo e criou soas de bens como são todos os meus irmãos. Eu continuei aqui no lugar que fui criada seguindo o exemplo do meu pai e também criei os meus onze filhos com muito amor e carinho. A nossa os 16 filhos e muito bem criados. Apesar das mãe nos deixou muito cedo, mas a lembrança dificuldade que existiam ele fez o que pôde até dela continua viva em nosso coração. cada um tomar rumo de sua vida e formar pes- Maria Madalena Maria Madalena – 29/5/39 Arlindo – 20/8/31 José Geraldo (9/10/61) Maurilio Arlindo (13/9/70) Marlene: Elaine Suelaine, Danilo, Denis e Simony Wenydion, Wellen e Wesley José Geraldo Moacir (25/7/72) Léia Elessandra Letícia, Larissa e Laís Mateus Antônio Carlos (18/5/63) Cormaria (17/12/74) Maria Geralda: Valdo Gabrielly, Danielly e Igor Carine e Cátia João (22/8/65) Ana Lúcia (15/12/76) Matilde: Carlos Deivid e Derick Vitório, Lidiane e Camila Maria do Perpetuo Socorro - Corrinha (12/9/66) Maurício (15/5/78) Tadeu Ilda William, Tiago, Daniel e Fernando Aquilis e Andriely Francisco (9/8/68) Maria Aparecida (11/6/80) Maria da Consolação Naim Luís Felipe, Luana e Luísa Talis e Yalis 18 19
  11. 11. Maurílio S ou o quinto filho, o primeiro a nascer no Aquenta-Sol. Não tenho muito o que falar de meu gran- de pai. Foi uma época difícil, muito trabalho e pouco diálogo e sai muito jovem da roça para a cidade. O que sei que foi um grande exemplo, a luta como ele. Conseguiu todos seguiram seu exemplo. Sinto-me feliz e orgulhoso de pertencer esta família maravilhosa, família Custódio. Peço a Deus todos os dias a Eterna Luz Divina para meu pai e onde você estiver olhe por seus fi- lhos. grande educador, ensinou seus 16 filhos irem Maurílio Antônio Francisco Maurílio Antônio Francisco – 9/8/40 Isabel Cristina de Melo Francisco – 30/3/52 Murilo 30/6/1970 Miriam 14/5/74 Carolina Cassin 11/5/80 Marcio Reato 15/5/72 Vitor 22/10/04 Mauricio 5/3/72 Beatriz 22/11/07 Edilene Santos 27/2/68 20 21
  12. 12. Aparecida A ntônio Custódio Filho, este grande ho- mem, é meu pai, meu ídolo, meu herói. “Ser pai é ser herói, protegendo o es- paço sagrado de seu templo-família, cultivando no coração dos filhos o germe da harmonia.” Um fato marcante em minha vida, mamãe fi- car. Mamãe ficou internada por uns 6 meses, e ele cuidava de todos nós. Quando a tarde che- gava, sentava na varanda e nós o rodeávamos. Ele me colocava no colo, ficava dançando e can- tarolando: “Eu sou pequetita, da perna grossa, vestido curto, papai não gosta”. Maria Aparecida de Souza Almeida – 6/5/42 Cícero Venâncio de Almeida – 18/5/37 Maria do Carmo de Almeida (Eida) – 19/12/62 Julio Sanseverino – 14/8/69 Wanderley de Souza Almeida – 25/2/67 Ilma de Jesus Teixeira Almeida 24/11/70 Julia - 29/1/99 / Lívia - 14/12/03 Lucas – 31/08/96, Caio – 16/10/99, cou doente e precisou ser internada em um hos- Por essas lembranças digo ele foi meu ídolo, Aline – 18/06/2003 pital psiquiátrico, em Barbacena, 1945. Eu tinha 3 meu herói. Walter de Souza Almeida – 15/8/64 anos e estava na varanda olhando o tio Joãozinho Passou por muitos momentos difíceis, tristes, Maria Madalena Sanseverino – 22/10/66 Wanderson de Souza Almeida – 12/9/68 e o Tio Zezé que a levaram e vi o papai chorando. mas não reclamava. Tinha muita Fé em Deus. Thiago – 5/2/2000 Solange Fernandes 26/06/70 No dia seguinte ele arreou dois cavalos, colo- Depois que mamãe morreu, em 1959, ele foi pai Wagner de Souza Almeida – 27/9/65 Rafael – 13/11/95, cou uma toalha no pescoço e colocou o Bejo que e mãe e soube educar e ensinar trabalho para os Edleuza Fernandes 02/01/71 Carolina – 28/3/99 tinha seis meses e a Lena na garupa; o Zé Lou- seus 16 filhos, que ele tinha orgulho de falar. Nathalia - 21/08/95, Thayane – 07/11/98, renço no outro cavalo colocou um travesseiro na Aprendi muito com ele. Quando Deus o le- Beathriz – 06/03/06 Guilhermina – 14/5/71 cabeça do arreio e sentou-me ali. Fomos para vou, foi como se me tirassem o chão, como se Rio Espera ficar com as tias, foram dois dias de eu estivesse na sombra de uma árvore e alguém viagem. Dormimos na casa do Zé do Bem, onde viesse e cortasse e o sol se pusesse a queimar- tomamos banho. Durante a viagem quando ti- -me. Meu consolo é a fé que tenho que ele está nha árvore com uma boa sombra ele parava, ti- junto de Deus, pois é o que merece. rava o coxenil, estendia e nos deitava. Dava a Hoje estamos reunidos comemorando o seu mamadeira para o Bejo e lanche e água para nós. centenário, ele gostava muito de festas, de reu- Papai nos deixou na casa das tias e foi visitar a nir a família e por isso aqui estamos. mamãe no hospital. Levou o João e a Ceção para Pai, quanta saudade e quanta falta o senhor casa da madrinha Idalina, nossa avó, mãe dele. nos faz! Toda semana ele ia ver a mamãe e os filhos, Maria Aparecida de Souza Almeida isso foi durante dois meses, quando foi nos bus- 22 23
  13. 13. Conceição E u, Maria da Conceição de Souza, nascida em 6/3/44, tenho imenso prazer de falar um pouco do papai, que foi a referência para todos os filhos, principalmente para mim, um homem sem estudo, mas de muita coragem, um pai exemplar, na verdade um grande herói, que nunca se deixou abalar, nunca reclamava da vida, só agradecia. O que mais me emocionava no papai era quando eu passava muito tempo sem ir lá, de- pois que me casei, e ele me recebia com lágri- mas de tanta saudade, era quando eu percebia um nome honrado, trabalhador, ser filha dele é o quanto ele gostava de mim. Eu ficava radian- um grande orgulho. te de alegria, porque ele sempre foi um homem Era um homem de pouca conversa, todos os muito reservado, não demonstrava com facilida- filhos lhe tinham muito respeito, era rígido, cada de suas emoções. Ele conversava muito comigo, um tinha as suas tarefas para fazer, e ai de quem perguntava por toda a família, me mostrava as não as fizesse: ele dava uma bronca! Mas embo- promissórias dos negócios que fazia, era só ale- ra aparentasse ser um homem muito rigoroso, gria. Eu voltava para casa muito feliz, porque no fundo era uma pessoa de coração mole, que sabia que tinha um pai que me amava da mesma só queria ensinar os filhos a trabalhar e aprender forma que amava os outros, mesmo eu estando a enfrentar as dificuldades da vida. um pouco mais distante do seu dia a dia. Ensinou-nos, a trabalhar, a rezar, a sermos Não poderia deixar de falar também da ma- honestos, e apesar das dificuldades enfrenta- mãe, uma mulher pura, dedicada, humilde, de das, sempre se preocupou com a nossa educa- coração puro, mãe amiga sem nenhum defeito, ção, colocou todos na escola, querendo sempre que só tinha bondade no coração, um presente o melhor para nós. Os 16 filhos eram tratados da de Deus, mas que tão cedo a levou, deixando a mesma forma, alguns prosperaram mais do que mais triste saudade. O pouco tempo que ficou outros, uns quiseram estudar, outros seguiram nos deu muito exemplo de como é a vida. Todos outros caminhos, mas para ele não havia dife- que tiveram a oportunidade de conhecê-la sa- rença, sabia compartilhar o mesmo amor com bem a pessoa maravilhosa que partiu para junto todos. de Deus, deixando 16 filhos, o mais velho com Eu fui à única das moças que teve o privilé- 24 anos, todos solteiros, na companhia de papai, gio de ficar em sua companhia até casar, não saí que cuidou de todos com muita competência e para trabalhar fora e nem para continuar a estu- dedicação, sem desanimar, sempre passando dar, nos dávamos muito bem, eu o ajudava mui- força para nós. to no engenho, ele falava que eu era seu braço Papai e mamãe, que saudades, que falta vo- direito, aprendi muito com ele, e se às vezes nas cês me fazem... Aqui fica minha mensagem para dificuldades que a vida coloca em meu caminho meus pais que tanto amo! eu dou a volta por cima é me espelhando nele, Maria da Conceição de Souza 24 25
  14. 14. Maria da Conceição de Souza Waldomiro Rodrigues de Souza Geraldo Antônio de Souza Marilda Lídia de Souza Benjamim M eu pai Antônio Custódio Filho, sin- to orgulho em falar dele e ao mesmo tempo é difícil, pois fico emocionado. Papai foi uma pessoa batalhadora, um grande homem, vitorioso, muito especial que dedicou sua lado, sempre o apoiando e aprendi muitas coisas boas da vida com ele. Pai, sei que você está junto de Deus. Sinto a sua falta, mas sei que este é o destino de to- dos. Agradeço sempre o que sou que é graças Geovonete Aguiar José Adelmo Moreira vida a seus filhos, estará sempre em meu coração. a você. Jeferson de Souza Aguiar Raul Ramon Rodrigues Moreira Com honestidade, amor e carinho criou 16 fi- Benjamim Rafael Rodrigues Moreira lhos. Tive a oportunidade de estar sempre ao seu Maria Célia de Souza Vinicíus Rodrigues Moreira Gessemi Miranda de Souza Benjamim Leonardo da Silva Souza Arlindo Edson de Souza Noemia (in memoriam) Josimar da Silva Souza Regina de Souza Adriana Rodrigues da Silva Renata de Souza Carlos Cláudio Adrià Januário de Souza (bisneto) Edna de Souza Sandra Patrícia Alice Januário de Souza (bisneta) Renata / Marina Valdomiro Rodrigues de Souza Filho Cristina João Clemente de Souza Rosana Barbosa de Souza Cormaria Marcílio (in memoriam) Rosária Correia de Souza Aline Rodrigues de Souza Humberto Ana Clara / Carolina Gilson dos Reis Souza Leandro Rodrigues de Souza Mateus / Izabela Julio correia de Souza Carmem Silva Ana Luiza de Souza (bisneta) Neide Rodrigues de Souza Celso Eduardo Luís Fontes Cleuza Conceição Amarante de Souza Maria Eduarda Rodrigues Fontes Francisco Roberto Lopes 2 Matrimônio Benjamim Telma Crispina de Souza Ângela Gabriel Saraiva Edimilson / Beatriz / Adriano Lineker Rodrigues de Souza 26 27
  15. 15. Orlando E u nasci em 14 de dezembro de 1946 e fui o 9º filho de Antonio Custódio. Meu pai sempre foi um homem de pouca conver- sa, muito rígido e muito trabalhador, todos nós o respeitávamos muito. Cedo perdi minha mãe e meu pai ficou com a incumbência de criar 16 cima Aquenta-sol e pousamos em Piranga. Ele havia comunicado Papai que queríamos voltar, meu pai então mandou o Beijo pegar um cavalo para buscar eu e o Moacir em Piranga, quando chegamos em casa meu pai nos abraçou e disse: – Vocês não quiseram ficar para estudar? En- filhos sozinho. Esta foi uma ocasião que me tão não vão mais para a escola. marcou muito eu ainda era muito novo, mas me Eu respondi: - meu pai eu não quero estudar, lembro quando ela estava para partir, ela nos eu não vou sair da roça, não preciso de estudo. chamou a todos e disse que iria virar um pas- Na roça então fiquei trabalhando, me espe- sarinho e iria voa para o céu, não entedemos lhando no papai que se levantava às 6 horas muito o que aquilo que queria dizer, mas no fun- da manhã, fazia café, nos levava no engenho. do sabíamos que não era coisa Quando terminávamos a pri- boa, até hoje quando me lembro Uma passagem engraçada meira moída de cana, íamos ti- deste dia ainda sinto muita emo- que eu lembro do meu pai rar leite, quando terminávamos ção. Acredito que isto marcou a comigo: estas obrigações determinadas minha vida e a de meus irmãos Eu nunca tinha visto um tou- pelo papai, ele nos passava ou- ro de cabresto então um dia para sempre, somos todos muito tras tarefas. fui no Zé Carneiro e vi seis carentes, o que mais me lembro bois de giro amarrados no Cresci trabalhando duro na da minha mãe é que ela passava toco com cabresto, daí sai roça, a medida que ia crescendo os seus dias cantando. Quanta contando para todo mundo eu não entendia muitas vezes saudade... Não tem como falar que no Zé Carneiro haviam meu pai, por que eu trabalhava da vida de meu pai sem falar seis “touros” amarrados no tanto e ele não me dava um tos- da minha querida mãe. Além é cabresto. Todos me tiravam tão, mais ou menos com uns 17 o sarro e eu jurava: claro da grande perda que sofre- anos eu chegava em Calambau - Lá no Zé Carneiro tem mos com a morte da mamãe, a seis “touros” amarrados no para ir à missa, obrigado (agra- falta dela fez com que meu pai cabresto. Meu pai ria da mi- deço ao meu pai por ter me obri- ao se ver diante de 16 crianças nha história de menino e é gado a ir a igreja, porque se hoje tivesse de fazer alguma coisa. claro não acreditava e me tenho uma crença, uma religião Embora um homem de pouca tirava o sarro como todo e sou uma pessoa com moral eu cultura, meu pai sabia da im- mundo. devo isto a ele), eu chegava na portância dos estudos para a venda do padrinho Leonídio eu formação, então logo que minha mãe faleceu preocupado com o nosso destino agora sem a nossa mãe, meu pai mandou eu e o Moacir para um orfanato Belo Horizonte para estudar na Pampulha, ficamos lá por trinta dias, eu perdi 12 kilos de tanta tristeza e saudade da minha família, fugi duas vezes, liguei para o Ventura para me buscar, Ventura então pegou um avião (ainda devo o dinheiro da passagem do avião até hoje para o ventura [rs...]), deu uma volta por 28 29
  16. 16. Orlando Antônio Custódio 14/12/46 Maria das Graças dos Santos Custódio (6/6/48) Rogério dos Santos Custódio 14/10/70 Simone Sousa Oliveira 10/6/73 Matheus Oliveira Custódio 30/4/2002 e Maria Fernanda Oliveira Custódio 7/7/2005 Andréia Aparecida Custódio 5/12/72 Rogerio Pereira da Silva 2/4/74 Telma dos Santos Custódio 21/4/73 tomava meia garrafa de pinga para ver se meu sentia um grande orgulho do homem que ele Sérgio Sousa Oliveira 28/12/71 pai me expulsava de casa, mas ele nunca falou era, um vencedor, um trabalhador, ele me ensi- Gabriel Custódio Oliveira 4/1/2000 e Laura Custódio Oliveira 22/12/2006 nada. O fato de eu trabalhar e ele não me dar nou a ser assim e eu tinha que vencer, para no nenhum dinheiro me revoltava, nesta época eu já mínimo ser digno de um homem como ele, por Reginaldo Dos Santos Custódio 10/9/75 namorava a Maria e não tinha dinheiro nem para isto não voltei. Sarita Sueza Cruz 11/11/84 comprar uma bala para dar para ela. Então quan- O tempo passou, eu consegui me estabelecer do completei 18 anos, decidi que viria para São em São Paulo e todos os anos eu o visitava e Paulo, o Maurílio já estava aqui, decidi, mas não ele me recebia de braços abertos, ele me dizia tinha coragem de pedir ao meu pai, porque quan- com orgulho meu filho que não teve estudo e do comentei com cumpade Arlindo que eu viria foi para São Paulo e conseguiu vencer. Hoje o para São Paulo, ele falou para o papai que disse que eu tenho a dizer é que se venci é porque me para cumpade que se eu pedisse para vir para são espelhei no meu pai que foi um herói para mim: Paulo que ele me daria uma pisa que eu nunca sem cultura, criou 16 filhos, viveu uma vida sem mais esqueceria. Nesta mesma época o Murilo foi conforto, com muitas privações, preocupado em nos visitar e então aproveitei e pedi para Sá Julia deixar para os filhos um patrimônio que pudesse (nossa segunda mãe, que sempre nos tratou com dar segurança a eles, mas o que ele não sabe é carinho e amor), que falasse ao meu pai que eu que ele não precisa nos deixar dinheiro, por que viria passear com o Murilo. Então ele autorizou ele nos deu mais... ele nos ensinou a pescar a que eu viesse, mas daí nunca mais voltei. andar com nossos pés, a não ter medo do traba- Quando vim para São Paulo, dei valor ao meu lho a ser honestos e isto é o maior legado que pai, ele não me dava dinheiro, mas na casa dele um homem pode deixar para os seus filhos é o eu tinha tudo. E aqui em São Paulo eu conti- que tento passar para os meus filhos também e nuava não tendo dinheiro e muitas vezes não é esta homenagem que eu quero prestar ao meu tinham nem o que comer, muitas vezes a noite, pai através deste relato. eu chorava sozinho com muita vontade de voltar Pai você foi meu herói, minha fortaleza, nos para casa e para mostrar que um pai nunca se ensinou a trabalhar e a ser honestos, foi o alicerce ressente com o filho, ele foi em São Paulo para das minhas estruturas, fez de mim o homem que me buscar duas vezes, ele me dizia: hoje sou. E eu tenho muito orgulho do homem - Volta estou precisando de tu. que me tornei e se eu me orgulho de mim mesmo Mas eu orgulhoso dizia não. Queria que meu eu devo isso a você papai. Muito obrigado! pai tivesse orgulho de mim, porque no fundo Orlando 30 31
  17. 17. Idalina M eu pai, o homem de quem me orgu- lho a vida toda. Quando era peque- na, observava meu pai. Sempre o vi na lida, um homem sério, mas firme nas suas decisões. Um homem a quem todos respeita- Todos eram iguais. Pelos netos tinha muito cari- nho, sabia o nome de todos. O seu maior prazer era ver os filhos reunidos. Pois a esta altura da vida já não tinha mais a preocupação de criá- -los, encaminhá-los na vida, já havia feito, en- Idalina Teodoro Custódio Kruger - 3/5/1949 Carlos Daniel Kruger – 14/02/54 Karina Custódio Kruger - 16/9/82 Marcos Antônio Gualberto Dias – 11/7/74 vam e admiravam. Dizer este é filho de Antô- tão sentava conosco, brincava, imagine, aquele nio Custódio já era uma referência. Em casa o homem sério de quem todos nós morríamos de Leandro Custodio Kruger - 16/11/83 via sempre com seu cigarro de palha e olhando medo, quando ouvíamos os seus passos firmes, a natureza da varanda. Um dia lhe perguntei: hoje jogando baralho, contando piadas, ríamos “Pai o que o Senhor está olhando”. Ele me disse: juntos. Gostava de ouvir meu pai contando as “estou dando pasto as vistas”. Não entendi, mas aventuras de sua vida, quantas dificuldades que não perguntei mais, e só hoje eu entendo aon- ele passou para criar todos os filhos. Gostava de de ia os seus pensamentos, com certeza para o abraçar o meu pai, segurar o seu braço. Parecia destino de seus filhos. Na minha vida vi meu pai uma rocha de tão firme que era. Ele era o meu chorar duas vezes, uma quando caiu do carro porto seguro, me ensinou tantas coisas na vida, de boi e fraturou a mão e a outra quando minha sempre que falava para ele de algum problema mãe faleceu. Eu o ouvi gritando de dor. Hoje en- ele tinha uma resposta positiva. Dizia já já isso tendo que doía muito. Ele ia da casa até a bica resolve. Ele vai conseguir, tem paciência. Ele nos uns duzentos metros de distância e eu andava ensinou o caminho certo, a sermos mais justos, atrás dele, e ele chorava muito. Meu pai, que honestos e seus ensinamentos ficaram em cada orgulho eu tenho do Senhor! Um homem dig- um de nós, tenho certeza de que onde ele está no, correto, tinha uma postura de um homem ainda vela por nós. Pai, onde quer que o Senhor culto. Meu pai ensinou a cada um de seus filhos esteja, peço a sua bênção e o Senhor sabe quan- a pescar, nunca deu o peixe, mas ensinou a ir to o amo. buscá-lo. Criou José Ventura, o primeiro filho, Idalina com a Maria de Fátima, a última filha, da mes- ma forma, nunca fez diferença entre seus filhos. 32 33
  18. 18. Moacir Terezinha D E a união de Antônio Custódio e Guilher- mina nasceram 18 filhos, sendo que dois faleceram ainda crianças. Eu, Moa- cir Iria Custódio fui o 9º a vir ao mundo. Tenho uma satisfação enorme de ser fruto desse enlace, pois tive o privilégio de ter como pai um herói como Antônio Custódio. Perdi minha mãe ainda rio, só que nosso campo não era estudar. Duran- te esse tempo, papai casou-se novamente com Sá Julia, que foi minha segunda mãe e que me criou com todo carinho e amor. Se hoje sou o homem que sou,que construí uma família como Antônio Custódio,agradeço a Deus em primeiro lugar e ao meu pai, exemplo de u, Terezinha do Perpétuo Socorro Custó- dio, nascida em 22/6/1952, tenho o maior orgulho de ser filha de Antônio Custódio Filho, homem simples, rude, enérgico e inteli- gente. Criou seus 16 filhos e a todos ensinou o valor do trabalho e o respeito pelo ser humano. Se tivesse de nascer de novo, gostaria de ser fi- marcou muito. Quando Fatinha, com 5 para 6 anos, ficou doente. Ele saiu a galope para bus- car Gecelmino. Ele não queria vir e mandou os remédios. O meu pai não dormiu a noite inteiri- nha, ficou sempre ao lado dela. A Aparecida do Geraldo queria que ele descansasse um pouco. E ele disse: “Enquanto minha filha não melhorar, criança e papai nos criou com toda dedicação. vida que sempre seguirei. Exemplo de homem. lha dele novamente. Antes eu tinha muito medo não arredo pé daqui”. Quando o dia amanheceu, Mesmo com as dificuldades do dia a dia e com Descanse em paz, PAI. dele, depois foi se transformando em respeito e mandou o Bejo a Calambau buscar o farmacêu- seu gênio rigoroso e enérgico, ele me fez o ho- Moacir admiração. Muitas vezes pensava: “Meu pai não tico. Neste interim, a Fatinha falou alguma coisa mem que hoje sou. gosta de mim, nem dos meus irmãos”. Fui cres- e ele suspirou aliviado. Papai sempre foi um homem que prezava Moacir Iria Custódio – 20/10/50 cendo e vendo como ele sofria quando acontecia Depois que vim para São Paulo e tinha a mi- o trabalho e a formação do caráter dos filhos. Neuza Teixeira Custódio – 31/3/56 qualquer coisa desagradável com qualquer um nha casa, tive a graça de recebê-lo algumas ve- Nunca nos deu mordomia, ensinou seus filhos a dos filhos. Eu amo Antônio Custodio Filho, até zes, pois com todas as dificuldades ele sempre Débora – 01/10/80 andarem com as próprias pernas, dando exem- hoje ele é ponto de referência em qualquer ad- nos visitava. Viajava sempre com uma garrafi- plo de força e perseverança. Moacir (Junior) – 14/3/83 versidade. nha de café e linguiça defumada no pão para o Não foi um homem de muito carinho e diálo- Denise – 16/1/87 Meu pai tinha o maior amor pelos filhos, só lanche. Trazia para os filhos queijo e linguiça. go com os filhos, a não ser na sua velhice. Um que as vezes não demonstrava, mas acontece- Ele gostava de conversar com as vizinhas Fran- homem um pouco rude, que mesmo com seu ram muitos fatos, que eu presencie, que dei- cisca e Dona Noêmia. gênio difícil foi um PAI de verdade me ensinou xaram claro este amor. Vou citar um que me Terezinha o que há de mais importante: “que um homem tem que zelar pelo seu caráter”. Terezinha do Perpétuo Socorro Custódio 22/6/52 Não dava moleza pra gente. Acordávamos José Manoel da Silva -10/11/62 cedo para trabalhar duro na roça, sempre com Alessandra Custódio Silva - 6/3/96 um respeito enorme por ele, respeito esse que até refletia em medo. Quando perdi minha mãe, o Ventura, meu ir- mão mais velho, tentou me ajudar e me levar para estudar. Mas dos 16 irmãos, ele escolheu logo a mim e o Orlando para ir para o seminá- 34 35

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