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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Raquel Coneglian Franchito
MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO:
da passividade do espectador à emancipação do
homem pela criação
Taubaté – SP
2009
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Raquel Coneglian Franchito
MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO:
da passividade do espectador à emancipação do
homem pela criação
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
para obtenção do Grau acadêmico pelo Curso
de Psicologia do Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté. Área de concentração:
Psicologia Social. Orientadora: Profª Drª Maria
Regina Namura
Taubaté – SP
2009
RAQUEL CONEGLIAN FRANCHITO
MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO:
da passividade do espectador à emancipação do homem pela criação
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para
obtenção do Grau acadêmico pelo Curso de
Psicologia do Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté. Área de concentração:
Psicologia Social. Orientadora: Profª Drª Maria Regina
Namura
DATA:_____/_____/_____
RESULTADO:__________
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª Maria Regina Namura - Universidade de Taubaté
Assinatura:__________________________________________
Profª Drª Cecília Pescatore Alves - Universidade de Taubaté
Assinatura:__________________________________________
Prof. Dr. Régis de Toledo Souza - Universidade de Taubaté
Assinatura:__________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os envolvidos direta e indiretamente na elaboração
deste trabalho.
Aos meus familiares e amigos pela paciência e perseverança que me
transmitiram.
Aos meus pais pelo apoio e investimento sem os quais a realização deste
trabalho seria impossível.
Ao meu irmão Vitor, pelo incentivo e entusiasmo.
Ao Lincoln, meu querido companheiro que colaborou e me acolheu ao
longo desta trajetória.
Aos professores do Departamento de Psicologia, em particular a Profª Drª
Maria Regina Namura por compartilhar comigo seu conhecimento, possibilitando
novas perspectivas em minha vida pessoal e acadêmica.
RESUMO
O presente trabalho focaliza a discussão sobre a produção de sentidos do homem
na atualidade, assumindo os pressupostos ontológicos e epistemológicos da
tradição marxiana, que postula a necessidade do homem em dar um sentido à sua
vida. Para realizar esse debate buscou-se a compreensão do contexto histórico-
social em que este sentido está sendo construído, o que trouxe o questionamento
sobre o papel da mídia e sua implicação na produção de sentido do indivíduo
moderno. Partindo do estudo da categoria sentido segundo Vygotsky e a Psicologia
da Arte, este trabalho teve como objetivo instaurar um diálogo entre os processos
midiáticos presentes na sociedade contemporânea que participam da produção de
sentidos do homem e a importância da arte como possibilidade de emancipação
frente à fragmentação da vida nesse contexto. Utilizando o método bibliográfico em
um estudo exploratório, apresentou-se a teoria vygotskiana com o intuito de
recuperar uma concepção de produção de sentido por um sujeito singular, criativo,
estético, ético-político, que na atualidade está sendo excluído e substituído pelo
sujeito virtual, através do sentido midiático. Autores modernos e pós-modernos
foram pesquisados para discutir o sentido midiático, entre eles Berger & Luckmann,
que dissertam sobre a crise de sentido na modernidade, e Guy Debord, autor que
concebe a mídia como principal fator para a alienação do sentido.
Palavras-chave: Produção de sentido, Mídia, Psicologia da Arte.
ABSTRACT
This research focuses the discussion on humans’ sense production today,
considering the ontological and epistemological foundations of the marxian tradition
that support the humans’ need of giving life a meaning. To accomplish this debate,
one searched the plain understanding of the historical and social context in which this
sense is being built, what brought about the questioning on the media's role and its
influence in the production of the modern individuals sense. Based on the study of
the sense category, according to Vygotsky and the Psychology of Art, the objective
of this work was to establish a dialogue between the media processes present in
contemporary society that participate in producing humans’ senses, and the
importance of art as a front for emancipation in view of the fragmentation of life in this
context. Using the bibliographic method in an exploratory study, the vygotskian theory
was introduced aiming to recover a sense production concept by a singular, creative,
aesthetic, ethical-political individual who is currently being replaced by a virtual one
through the media sense. Modern and postmodern authors have been asked to
discuss the media sense, including Berger & Luckmann, who speak about the crisis
of sense in the modernity, and Guy Debord, an author who conceives media as the
main factor for alienation of sense.
Key-words: Production of sense, Media, Psychology of Art
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
CAPÍTULO 1 – A CATEGORIA SENTIDO NA PSICOLOGIA SÓCIO- HISTÓRICA...6
CAPÍTULO 2 – CRISE DE SENTIDO E MÍDIA .........................................................26
DISCUSSÃO FINAL..................................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................46
1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho focaliza a discussão sobre a produção de sentidos do
homem na atualidade, assumindo os pressupostos ontológicos e epistemológicos da
tradição marxiana, que postula a necessidade do homem em dar um sentido à sua
vida. Desde as primeiras criações artísticas e dos relatos míticos, o homem se
questiona sobre o sentido da vida. Questões como: “O que é a vida? O que é a
morte? De onde viemos? O que é o universo? O que é o tempo?” são recorrentes
tanto nas comunidades civilizadas quanto nas primitivas e apontam a necessidade
de dar sentido e significado para o mundo, como visto em Brenman (2005, p. 21).
Namura (2003), sustentada na tradição lukácsiana, afirma que a busca do
sentido da vida é inerente à condição humana e essa busca transforma-se ao longo
do processo de desenvolvimento do homem, ou seja, os sentidos atribuídos pelo
homem mudam de acordo com seu processo histórico-social. As idéias, as
estruturas sociais e as concepções ideológicas que dão sentido à vida podem se
transformar, e essas mudanças nas relações sociais interferem nas concepções
vigentes de sentido.
Constituição e produção de sentido são processos relacionados às
funções psicológicas superiores do homem, postula Vygotsky. O sentido é uma
categoria ou uma função psicológica superior que faz a mediação do homem com a
realidade, com o mundo, com a vida e por isso a busca de sentido em tudo que nos
rodeia. Conhecer a categoria sentido buscando a compreensão do contexto
histórico-social em que esse sentido está sendo construído trouxe-me o
2
questionamento sobre o papel da mídia e sua implicação na produção de sentido do
indivíduo contemporâneo: até que ponto o sentido da vida está sendo produzido pela
mídia ou até que ponto é imposto ao indivíduo pela mídia?
O termo mídia – meios de comunicação em massa – refere-se aos objetos
tecnológicos capazes de transmitir a mesma informação para um vasto público ou
para a massa (Chauí, 2006). São eles o rádio, o cinema, a imprensa, a publicidade
ou propaganda, a fotografia, a televisão e a internet. Considerando a mídia a
principal manifestação dos meios de produção e consumo, qual seu papel no que se
refere à atual banalização da vida, da expressão artística e intelectual, da
sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica? Estaria a
mídia impondo sua lógica de lazer e entretenimento, diversão e distração, no lugar
da cultura?
Vygotsky, interessado em construir uma ciência do homem, apresenta a
arte e a estética como constitutivas do sujeito. Este autor busca compreender a
criatividade do homem e escreve a obra Psicologia da Arte para compreender o
papel da arte na constituição do sujeito e na subjetividade humana. Nesta obra,
Vygotsky discute a categoria sentido apresentando a produção de sentido no caldo
cultural da arte como uma forma de emancipação humana. Este autor é estudado
neste trabalho com o intuito de recuperar uma concepção de produção de sentido
por um sujeito singular, criativo, estético, ético-político que na atualidade está sendo
excluído e substituído pelo sujeito virtual, através do sentido midiático.
O interesse pelo tema dos processos psicológicos relacionados com a
atividade criadora e a arte surgiu ao longo de minha formação. O contato que tive
com o estudo da música favoreceu o envolvimento e o interesse pelas formas de
3
expressão artística, e ao ingressar na graduação em Psicologia, surge a idéia de
estabelecer um diálogo entre a ciência e a arte.
Em 2007 busquei o aprofundamento com a Arteterapia, em um curso de
extensão. No mesmo ano iniciei as atividades para a elaboração do projeto de
pesquisa para o trabalho de conclusão de curso. Entre os temas propostos pelos
professores-orientadores do Departamento de Psicologia constava “Psicologia da
Arte”. A minha inserção neste tema permitiu conhecer a obra de Vygotsky, que
compreende a criação humana e a arte em uma concepção materialista histórica
dialética, possibilitando uma compreensão da importância dos processos de reação
estética e catarse para a produção de novos sentidos para o homem.
Durante a elaboração da monografia, os estudos foram direcionados para
a categoria sentido, e outros autores foram pesquisados para cumprir as condições
metodológicas do processo de pesquisa, alterando o primeiro propósito. Se
anteriormente o questionamento era, exclusivamente, sobre a formação do sentido
pela recepção da arte, surge no decorrer das leituras outro aspecto instigante: a
pergunta pelo sentido da vida e a atual crise de sentido discutida por autores
modernos e pós-modernos. Essa questão foi instigada particularmente pelo livro
Modernidade, Pluralismo e Crise de Sentido, de Berger & Luckmann, em que os
autores explicam a relação entre a atual estrutura da sociedade contemporânea e a
crise de sentido.
O que mais chamou a atenção foi a introdução dos meios de
comunicação em massa (mídia) como principais comunicadores do sentido na
modernidade. Como seria o processamento e a transmissão do sentido pela mídia e
qual seu papel na “desorientação” do homem moderno? Essa questão também foi
4
assinalada nas leituras de Guy Debord, autor que discorre sobre a alienação do
sentido na “sociedade do espetáculo”.
Utilizando Vygotsky como autor central para a compreensão dos
processos de produção de sentido, o objetivo deste trabalho não é “demonizar” a
mídia, mas sim instaurar um diálogo entre os processos midiáticos presentes na
sociedade contemporânea que participam da produção de sentidos do homem e a
importância da arte como possibilidade de emancipação frente à fragmentação da
vida nesse contexto. Como a mídia e a arte participam da formação do sentido e da
significação da realidade e da vida pelo indivíduo?
Definido o problema, para buscar respostas a essas perguntas decidiu-se
realizar um estudo exploratório que, segundo Gil (1991), visa proporcionar maior
familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses.
Foi utilizado o método bibliográfico, visto que nessa metodologia utilizam-se
categorias teóricas já trabalhadas por outros autores e seus textos tornam-se fontes
dos temas a serem pesquisados (Severino, 2007). A principal vantagem da pesquisa
bibliográfica é o fato de permitir ao pesquisador uma cobertura muito mais ampla de
inúmeros fenômenos do que aquela que ele poderia pesquisar diretamente (Gil,
1999).
Para desenvolver o tema, no capítulo 1 apresentamos a concepção da
psicologia social crítica de Vygotsky sobre a constituição e a produção de sentido,
introduzindo a obra Psicologia da Arte e sua importância para o estudo psicológico
do sentido.
5
O capítulo 2 aborda a atual crise de sentido e sua relação com os meios
de produção/consumo e a mídia, buscando compreender as ideologias e os
processos midiáticos presentes na sociedade contemporânea que participam da
produção de sentido do homem.
6
CAPÍTULO 1 – A CATEGORIA SENTIDO NA PSICOLOGIA SÓCIO-
HISTÓRICA
O percurso de Vygotsky das artes à Psicologia
Iniciar a apresentação da categoria sentido pela obra Psicologia da Arte
tem por objetivo destacar a mediação dos afetos e das emoções na constituição da
categoria sentido. Esta obra pode ser considerada o protótipo da teoria vygotskiana,
especialmente o pressuposto de que os afetos são o motor do desenvolvimento do
pensamento e da cognição.
Alguns autores acreditam que a entrada de Vygotsky na Psicologia se deu
pela busca da resolução de problemas da arte e da cultura - como mostra Blanck
(1996) – continuando, durante toda a sua vida, a direcionar o tema da arte em uma
perspectiva psicológica. Por meio dessa busca Vygotsky traz à psicologia do início
do século XX a questão da consciência como uma totalidade complexa, formada por
cognição, motivações e sentimentos emocionais (Blanck, 1996). Trata-se de uma
questão pouco explorada na época e de onde emerge a proposição dos processos
psicológicos superiores, dentre eles o processo de criação da arte e da vida e a
produção e constituição do sentido, objeto de interesse neste trabalho. Conhecendo
um pouco de sua vida pessoal, é possível compreender o interesse do autor por
essas questões.
Lev S. Vygotsky nasceu em Orsha (Bielo-Rússia), em 1896, filho de um
casal da comunidade judaica de Gomel (Japiassu, 1999), cidade com uma vida
7
cultural intensa, onde ele passou sua infância e juventude. Sua família era uma das
mais cultas da cidade. Assim, Vygotsky cresceu em um ambiente propício às suas
reflexões: as conversas na sala de jantar, a organização de uma biblioteca pública
pela família, a educação primária que Vygotsky recebeu em sua própria casa
(Blanck, 1996) demonstram o incentivo dado a Vygotsky no desenvolvimento de
suas idéias.
Quando adolescente, mostrou grande interesse pelos estudos sobre
Hamlet, de Shakespeare – o que veio a ser sua monografia de Direito e Literatura
em Moscou e posteriormente reestruturado e incorporado à Psicologia da Arte
(Japiassu, 1999). Apreciava a poesia, a literatura e durante toda a sua vida
expressou um grande amor pelo teatro. Segundo Blanck (1996), a relação de
Vygotsky com o teatro tem dois aspectos: seu trabalho com a dramaturgia - elaborou
críticas teatrais e a psicologia dos atores - e seu comportamento romântico e teatral,
tendo interesse principalmente pelas grandes tragédias.
Após a revolução russa, passou a lecionar em escolas estaduais em
Gomel, onde ocupou posições de destaque na vida cultural da cidade e coordenou
um círculo de estudos literários em que se discutia a produção teatral de
Shakespeare, Goethe, Tchekov e outros. Em Moscou, em 1925, Vygotsky publicou
seu livro intitulado Psicologia da Arte, alterando a elaboração de 1915 sobre a
estética da tragédia.
Para Freitas (1994, apud Britto, 2007), a pergunta chave desse trabalho é
“o que faz uma obra de arte ser artística?”. Vygotsky responde esta pergunta
apresentando-se contra a redução da arte como mera expressão de vivências
emocionais. O intelecto e o emocional (pensamento e sentimento) são os dois
8
fatores movedores da criação humana. Portanto, a arte na visão de Vygotsky é um
produto da atividade humana, como trabalho, ou seja, um ato de criação do homem
que envolve aspectos da cognição e da linguagem usadas para exprimir a arte.
A produção vygotskiana surge no contexto de um dos mais importantes
movimentos intelectuais do século XX (Blanck, 1996). Japiassu (1999) esclarece que
nas primeiras décadas do século XX, assim como a Psicologia, as artes
necessitavam adequar-se à concepção materialista histórica da realidade e do
mundo. Na Rússia pós-revolucionária os artistas e a intelectualidade estavam
empenhados em discutir as bases ideológicas e estéticas sobre os quais deveriam
se assentar as ciências e as artes da nova sociedade socialista soviética. As artes,
principalmente o cinema e o teatro, deveriam assumir-se como espaço de luta onde
seriam travadas batalhas de idéias, pensamentos e concepções da organização
sociopolítica e econômico-cultural do país.
Segundo René Van Der Veer e Jaan Valsinei (1996, apud Japiassu,
1999), Vygotsky encontrava-se regularmente com cenógrafos e diretores, como
Berthold Brecht e principalmente Eiseinsten, para discutir como as idéias abstratas
do materialismo histórico poderiam ser representadas em imagens de cinema (Cole,
1979, apud Namura, 2003). O teatro fundado dramática e cenicamente pela
vanguarda russo-soviética era um veículo para a propaganda explícita dos valores
estéticos e dos pressupostos marxistas.
Vygotsky investiga a problemática psicológica da produção artístico-
cultural e desenvolve, de acordo com os princípios do materialismo histórico, uma
análise da criação artística em seu caráter da ação psicofísica da obra de arte sobre
o funcionamento mental dos seres humanos que a produzem e a consomem em
9
determinado contexto sócio-histórico (Japiassu, 1999). Ele destacava a importância
dos vetores histórico-culturais na organização do funcionamento psicológico humano
e idealiza a construção de uma psicologia que se adequasse ao pensamento de
Marx.
Segundo Freitas (1994, apud Britto, 2007), o interesse de Vygotsky era
chegar à síntese psicológica pela análise da arte. Sua inspiração era compreender a
função da arte na vida da sociedade e na vida do homem como ente sócio-histórico.
Para Vygotsky (1972, apud Japiassu, 1999), os sentimentos disputados pela obra de
arte eram sentimentos socialmente determinados. A criação estética era um
construto simbólico elaborado consciente e deliberadamente pelo artista. São como
estímulos organizados no intuito de provocar um tipo específico de reação no
público: a reação estética.
Sentido e Psicologia da Arte
O sentido é uma função psicológica superior que se manifesta ao longo
do desenvolvimento humano e diferencia os homens dos animais, permitindo ao
homem pensar, refletir e criar. Em sua obra intitulada Psicologia da Arte, Vygotsky
se apropria de seu conhecimento sobre a arte e a estética para pensar a categoria
sentido. Essa obra, conforme Namura (2003), é essencial para se compreender a
gênese estética da categoria sentido em Vygotsky. A gênese estética do sentido
contribui para a compreensão da constituição do sentido conforme os aportes do
livro A Construção do Pensamento e da Linguagem, revelando os antecedentes
teóricos e o contexto histórico em que a teoria foi construída.
10
Falar de arte é falar de criação humana, daquilo que diferencia os homens
dos animais: “a arte não é uma complementação da vida mas decorre daquilo que
no homem é superior à vida.” (Vygotsky, 2001, p. 340). Segundo Vygotsky (1990), a
atividade criadora do homem é uma função vitalmente necessária. Também
chamada de imaginação ou fantasia, é através dela que se manifestam todos os
aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica. A
arte, na abordagem vygotskiana, é vista como uma dimensão essencial para a
constituição do sujeito e da subjetividade, ou seja, para a produção de sentido.
A Teoria da Reação Estética e o conceito vygotskiano de Catarse
consistem no ponto de partida para o desenvolvimento do pensamento psicológico
deste autor (Japiassu, 1999). Segundo Vygotsky (1999), a Reação Estética e a
Catarse são processos psicológicos de nível superior e participam da constituição
dos sentidos humanos. A fruição da arte, a reação estética propriamente dita
implicam emoções, afetos e significados que se processam continuamente, entram
em oposição, contradição e são submetidos a certa descarga: a catarse. As
emoções, os afetos e os significados que participam desse processo são destruídos
e transformados, promovendo uma síntese psicológica na consciência do
sujeito/fruidor, isto é, um novo sentido.
Para formular os conceitos de reação estética e catarse, Vygotsky inspira-
se no pensamento hegeliano que concebe a estética não apenas como um
ornamento da vida, mas como criadora de formas nas quais experimentamos o
sentido profundo da vida (Namura, 2003). Para Vygotsky (apud Sawaia, 2006), a
arte demonstra que o homem é mais rico que sua vida cotidiana. Os sentimentos do
homem em relação à arte são diferenciados dos outros sentimentos. Vygotsky (apud
11
Japiassu, 1999, p. 53) denomina-os “sentimentos inteligentes”, característicos do ser
humano. “As emoções das artes são emoções inteligentes”
As concepções idealistas da contemplação do belo e as hedonistas do
puro prazer estético configuram a Psicologia da Arte tradicional. Vygotsky critica
essas concepções porque são marcadas ou atravessadas por tendências do
subjetivismo e do objetivismo. A primeira pretende atingir a percepção estética
interpretando a personalidade do autor e seu processo de criação como se revela na
obra. A segunda propõe que a soma de pequenos prazeres estéticos podem atingir
a complexidade da emoção estética do espectador/leitor. Como mostra Namura
(2003), ambas tomam a arte como produto e não como processo, ignorando a idéia
central, o próprio mecanismo de ação da obra de arte que possui leis próprias e
permite elucidar o sentido do efeito e do encanto da obra de arte no receptor,
isolando assim o fenômeno psicológico do seu contexto, da totalidade, da relação
obra/leitor.
A partir dessa crítica, Vygotsky demonstra a necessidade de
fundamentos psicológicos na arte e de a psicologia explicar o comportamento
humano para analisar os problemas da reação estética e da criação artística.
Segundo Vygotsky (apud Namura, 2003), o objetivo de sua Psicologia da Arte é
rever a Psicologia tradicional da arte e indicar um novo campo de pesquisa,
levantando o problema, oferecendo o método e o princípio psicológico básico de
explicação. A Psicologia da Arte de Vygotsky diferencia-se de outras abordagens,
pois seu foco é a pesquisa do efeito que a obra tem sobre o fruidor, ou seja, a
síntese psicológica que os mecanismos da obra de arte provocam na construção do
12
sentido (Namura, 2003). Seu objetivo, portanto, é buscar a autoimplicação entre os
mecanismos da arte e o funcionamento do psiquismo social.
“O psiquismo, como tal, não está na obra de arte, isto é, não nos é dado
diretamente, mas por vias indiretas. O sentido só se evidencia quando ao
analisar “a estrutura dos estímulos” [a obra de arte e seus mecanismos]
pode-se recriar “a estrutura das respostas” [os mecanismos psicológicos
correspondentes]” (Namura, 2003, p. 73)
Assim, Vygotsky elabora o método objetivo analítico. Esse método
proporciona a análise da ação psicofísica exercida pelos mecanismos da obra de
arte sobre o funcionamento mental do indivíduo em um determinado contexto sócio-
histórico.
A emoção estética, segundo Vygotsky (2001), pressupõe
necessariamente a existência de três momentos: uma estimulação, uma elaboração
e uma resposta. Apesar de ser um modelo de reação comum, trata-se de uma
atividade construtiva sumamente complexa, em que o próprio receptor constrói e cria
o objeto estético para o qual se voltam as suas posteriores reações. “Se uma
melodia diz alguma coisa a nossa alma é porque nós mesmos sabemos arranjar os
sons que nos chegam de fora.” (Vygotsky, 2001, p. 334). Para Vygotsky, é
necessário compreender a diferença entre a reação estética e as outras reações
biológicas do organismo. Conforme Japiassu (1999) esclarece, o simples esquema
estímulo-resposta não é suficiente. A resposta ao público ao estímulo da obra de
arte é baseada em mecanismos complexos de percepção da totalidade da obra de
arte.
13
Segundo Namura, (2003), o sentido decorrente da obra de arte é
propiciado pela Reação Estética, que é uma reação especificamente humana em
que a contradição suscita sentimentos opostos uns aos outros e provoca um “curto
circuito” que aniquila esses sentimentos. Trata-se de uma complexificação do
pensamento e da vida afetiva. Ao dissertar sobre a reação estética, Vygotsky (2001)
mostra que seu objetivo não é repetir alguma reação, mas superá-la a vencê-la.
A catarse, palavra tomada da poética de Aristóteles para designar a
expressão sensível e afetiva produzida pela recepção da obra, e que não se limita à
expressão das emoções ou à resolução de tensões afetivas, trata-se, basicamente,
da reorganização das funções psicológicas superiores, mediadas pelo sentimento e
pela fantasia, impacto cognitivo e afetivo que se produz no sujeito (Sawaia, 2006).
Como define Vygotsky (2001, p. 340), catarse é a “libertação do espírito diante das
paixões que o atormentam”.
Vygotsky (2001) afirma que a percepção de uma obra de arte é uma
atividade interior sumamente complexa. Ele denomina essa atividade de ato
estético, um trabalho difícil e cansativo do psiquismo. Este autor considera uma
premissa psicológica fundamental a identidade entre os atos da criação e a
percepção da arte. “A criação é a necessidade mais profunda do nosso psiquismo
em termos de sublimação de algumas espécies inferiores de energia” (2001, p. 337).
Para Vygotsky, os processos de percepção são tidos como processos de repetição e
recriação do ato criador.
14
Influências e antecedentes teóricos: contextualizando a obra de
Vygotsky
O materialismo histórico dialético é a corrente filosófica que permeia o
olhar vygotskiano da realidade. Marx apresenta uma concepção de homem ativo,
que não tem sua vida determinada pela própria consciência, mas, ao contrário, sua
consciência é determinada por sua vida. Conforme Engels (apud Triviños, 1987), a
dialética é a ciência das leis gerais do movimento, tanto do mundo externo quanto
do pensamento humano. Marx e Engels partem da dialética de Hegel; no entanto,
são materialistas. O materialismo dialético reconhece como essência do mundo a
matéria, que, de acordo com as leis do movimento, se transforma. A matéria é
anterior à consciência e a realidade objetiva e suas leis são cognoscíveis. É através
da consciência que o homem conhece o mundo, pois esta é produto da matéria.
Outro corolário da dialética materialista é que a realidade existe independente da
consciência.
Vygotsky adota o conceito marxista de consciência e o incorpora ao seu
pensamento ao teorizar sobre a constituição do sujeito como uma forma de
apropriação da significação da realidade, e não diretamente da realidade em si
mesma, como mostra Namura (1996). Evitando uma visão de homem que considera
o ser humano como reflexo imediato do meio social, como um ser passivo,
desprovido de criatividade, Aguiar (2000) disserta sobre a categoria consciência
conforme a abordagem sócio-histórica, compartilhando uma visão de homem como
ser histórico: “para a psicologia sócio-histórica, o homem é um ser ativo, social e
15
histórico. Essa é a sua condição humana, a qual lhe permite constituir suas formas
de pensar, sentir e agir, ou seja, constituir sua consciência.” (p.128)
Para Marx as relações sociais, interações e mediações são vistas como
produtoras e transformadoras de comportamento, condutas e formas de pensar
humano no decorrer da história. É importante captar os significados dessas relações
em uma sociedade capitalista. O social de Vygotsky é voltado para a revolução e a
construção do projeto coletivo socialista, portanto existem distinções entre as
condições atuais da sociedade capitalista, cujo projeto é o neoliberalismo (Tuleski,
2000). No entanto, as interpretações contemporâneas da obra de Vygotsky acabam
por reduzir o social às interações individuais ou em pequenos grupos, o que distorce
o conteúdo histórico da obra deste autor.
Como mostra Namura (1996), Vygotsky procura na Psicologia uma
concepção de homem para a reconstrução de uma sociedade, portanto é necessário
entender o processo de criação humana e o homem como construtor de sua cultura,
ou seja, é necessário compreender os processos de transformação e mudança do
homem. Conhecendo as grandes questões que a sociedade russa tinha que
resolver, as críticas e retaliações sofridas por esse autor no governo de Stalin, é
possível perceber o quão imprescindível é abordar a influência marxista em sua obra
(Tuleski, 2000).
Além de Marx, uma grande influência para Vygotsky foi Espinosa.
Segundo Sawaia (2006), a concepção monista deste autor ajudou Vygotsky a
superar as dicotomias clássicas da Psicologia no início do século XX e introduziu a
questão da afetividade. Para Espinosa (apud Sawaia, 2006), a afetividade é a
capacidade do homem de afetar e ser afetado: o homem é o resultado corpóreo e
16
mental dessas afecções. Este autor concebe o sujeito como um grau de potência de
expansão a qual corresponde certo poder de ser afetado. Isso significa que o sujeito
é uma potencialidade em ato, cuja realização se dá exclusivamente nos encontros
(experiências). Espinosa critica Darwin afirmando que sobreviver é mais que se
conservar vivo e reproduzir, é expandir-se.
A força de expandir a vida é potência. A potência de vida é aumentada ou
diminuída nos encontros com outros corpos e outras mentes, sofrendo a ação de
idéias, superstições e ações dos outros. É o afeto que faz essa transição, a
passagem de um estado de potência para o outro (Sawaia, 2006). Nessa
perspectiva, o afeto promove a passagem da heteronomia passiva à autonomia
corporal e intelectual.
Filogênese e Ontogênese do sentido: A mediação semiótica e a
internalização das funções psicológicas superiores
Vygotsky ressalta a mediação entre o método materialista histórico
dialético e os fenômenos psíquicos. Conforme essa concepção, o homem apreende
o mundo a sua volta através da consciência. Esse processo ocorre pela mediação
de signos (mediação semiótica), que capacitam o homem a interpretar, significar a
realidade e dar sentido a ela. Segundo Sousa & Sousa (2009), a mediação semiótica
da realidade acontece por meio de signos que são construídos pelo homem em sua
relação com seus semelhantes a partir de suas emoções e ações, no contexto de
sua cultura. A realidade passa a ser conceituada e reconhecida a partir de
17
significações, e tanto os significados quanto os sentidos se modificam e se
enriquecem a partir dos contextos em que constituem.
Para compreender a categoria sentido é necessário entendê-la a partir de
sua filogênese (história da espécie) e da ontogênese (história do grupo cultural).
Segundo Pino (2006, p. 54), Vygotsky pretende mostrar a relação dialética que “une
e separa ao mesmo tempo a ordem biológica e a ordem cultural/simbólica do ser
humano”. Para isso, o autor russo utiliza o conceito de medição semiótica, conceito
central em sua obra, inspirado na teoria marxiana.
O termo mediação, como define Pino (1991), refere-se a toda intervenção
de um terceiro elemento que possibilita a interação entre os termos de uma relação.
Na psicologia sócio-histórica, o termo é utilizado para designar a função dos
sistemas de signos na comunicação entre os homens e na construção de um
universo sociocultural. Essa mediação dos sistemas de signos é chamada mediação
semiótica. Seu uso por parte dos homens permite transformar e conhecer o mundo,
comunicar suas experiências e desenvolver novas funções psicológicas.
Signos são “instrumentos psicológicos” que controlam as ações
psicológicas do indivíduo ou de outras pessoas. São interpretáveis como
representações da realidade e podem referir-se a elementos ausentes do espaço e
do tempo presentes, representando ou expressando outros objetos, eventos,
situações (Oliveira, 1995).
Como explica Oliveira (1995), o que torna o homem diferente das outras
espécies animais é o trabalho – que propicia o desenvolvimento da atividade
coletiva, possibilitando a emergência das relações sociais, da cultura, da história
18
humana e também da criação e utilização de instrumentos. Existem no mundo
animal “sistemas sinalíticos” pelos quais são transmitidos informações. Entretanto,
com o início da caça pelos ancestrais do homem, entra-se no estado da cultura. Isso
acontece por causa das novas habilidades que a caça requer do homem
(instrumentos, cooperação social, organização, sistema de comunicação). As pistas
de caça são os precursores dos signos (Pino, 1991).
Vygotsky compreende que a ação transformadora entre o homem e a
natureza realizada por meio do trabalho se sofistica a partir do momento em que o
homem passa a utilizar instrumentos e signos como formas de mediação. A
invenção e o uso de signos para solucionar um problema (lembrar, comparar,
relatar, escolher) são análogos à invenção do uso de instrumentos de trabalho, só
que no campo psicológico. Tanto o signo quanto o instrumento têm uma função
mediadora (Vygotsky, 2007).
Para demonstrar isso, Pino (2006) fala sobre o fenômeno da imagem, que
permite ao homem captar a realidade externa tornando-a experiência interna. O que
é captado são os sinais físicos e químicos que a realidade emite/reflete, que são
processados pelo cérebro e dão origem à imagem sensorial. A imagem não tem
apenas a esfera biológica, mas também é um processo simbólico em que a
significação permite recriar uma nova realidade externa semelhante à física. E é
esse processo que nos interessa, já que ele proporciona ao ser humano, como
mostra Pino (2006), o processo de criação.
Toda produção cultural tem uma idéia ou significação, o que faz dela um
objeto de conhecimento: o saber não está no objeto, mas no que o caracteriza.
Essas características tornam-se presentes ao sujeito pela imagem que nele se faz
19
do objeto. O que define uma criação como cultural é a significação que ela tem para
seu autor e que pode ser captada por outros humanos (Pino, 2006). Saber e fazer
são atividades semióticas. As características do objeto (forma, figura, design,
discursos, textos escritos, etc.) são componentes semióticos que permitem captar e
interpretar a significação da obra – o que o autor quis fazer ou dizer (Pino, 2006).
Este processo de transformação permite ao homem passar do biológico
ao cultural e social, ou seja, dos processos psicológicos inferiores aos superiores.
(Namura, 1996). A função psicológica superior ou o comportamento superior é a
combinação entre o instrumento e o signo na atividade psicológica. A operação com
o uso de signos depende inicialmente dos signos externos. Ao desenvolver-se, a
operação da atividade mediada (como a memorização) passa a ser um processo
totalmente interno (Vygotsky, 2007). A internalização, segundo Vygotsky, é uma
transformação da atividade que utiliza os signos para o desenvolvimento da
inteligência prática, da atenção voluntária e da memória.
A Psicologia sócio-histórica concebe o psiquismo humano como uma
construção social decorrente do processo de interiorização das funções psíquicas
desenvolvidas ao longo da história social dos homens (Pino, 1991). O ser humano,
em seu processo de hominização, tem que reconstituir quando criança aquilo que já
é aquisição da espécie. Como esclarece Oliveira (1995), o uso de signos como
marcas externas vão se transformar em processos internos de mediação, o que
Vygotsky chama de internalização. Por meio desses processos, são desenvolvidos
sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e
articuladas, o que é essencial para o desenvolvimento dos processos mentais
20
superiores e evidencia a importância das relações sociais entre indivíduos na
construção dos processos psicológicos.
Esses princípios sustentam o desenvolvimento psíquico do sujeito por meio
das interações sociais, portanto as funções psíquicas humanas têm sua origem nos
processos sociais. São decorrentes dos processos de interiorização, das
significações e da objetivação – comportamento verbal ou uma ação que expressa
os significados das coisas e produz novas significações porque ocorre na interação
social -, formas de mediação especificamente humanas. É pela mediação dos
signos que a criança incorpora-se progressivamente à comunidade humana,
internalizando sua cultura e tornando-se um indivíduo social, humanizado (Pino,
1991).
Internalização, como explica Namura (1996), é a reconstrução interna de
uma operação externa, utilizando o exemplo de Vygotsky sobre o gesto de apontar
da criança – um processo interpessoal transformado em intrapessoal. Pino descreve
o processo de internalização como um processo de significação da ação e dos
objetos, portanto um processo de natureza semiótica.
Pensamento e Linguagem, Significação e Sentido
A linguagem é o centro das investigações de Vygotsky. Como mostra
Namura (1996), a linguagem é constituidora do sujeito. Pensamento e linguagem se
inter-relacionam em um processo dinâmico de conexão através do significado da
palavra. A linguagem é uma mediação semiótica entre os signos das palavras. E é
21
através da linguagem que pode existir a relação com os outros – produzindo
significados.
O desenvolvimento da significação e do sentido pelo homem ocorre com
a aquisição da linguagem. Vygotsky (2005) apresenta o significado das palavras
como um fenômeno do pensamento verbal ou da fala significativa – uma união da
palavra e do pensamento. Para Vygotsky (2005, p. 152), “Não é simplesmente o
conteúdo de uma palavra que se altera, mas o modo pelo qual a realidade é
generalizada e refletida em uma palavra”. Ou seja, a própria estrutura do significado
e a sua natureza psicológica também mudam ao longo da evolução histórica da
linguagem.
Para Vygotsky, todo pensamento é uma generalização e passa a existir
por meio das palavras. “O pensamento passa por muitas transformações até
transformar-se em fala. Não é só expressão que encontra na fala, encontra a
realidade e a sua forma.” (2005, p 158).
Entendemos que o pensamento expresso na palavra é uma generalização
da realidade. Vygotsky (2005) ainda afirma que o significado das palavras evolui.
Portanto, Namura (1996) esclarece que a alteração do significado das palavras se
processa para além do seu conteúdo porque traduz e reflete a realidade em
constante movimento, lembrando que a realidade se altera conforme as condições
de produção da realidade social, na história do homem e suas práticas sociais.
Da mesma forma, Sousa & Sousa (2009) explicam que o homem e sua
cultura são resultado do desenvolvimento da capacidade de significar. Vimos
anteriormente que, por meio da mediação semiótica, o sujeito se apropria não da
22
realidade em si mesma, mas da significação da realidade e que a significação não é
algo pronto a ser captado e internalizado através dos signos, mas sim objeto de re-
elaboração em função das condições históricas próprias a cada pessoa ou grupo. A
significação é o fio condutor de todas as funções psíquicas com a função de
interligar as funções psicológicas, sempre produzindo mudanças e transformações
dos processos psíquicos (Namura, 1996).
A constituição do sujeito acontece nas e pelas relações com os sujeitos
que compartilham dos significados socialmente estabelecidos e, por uma série de
experiências e vivências, o sujeito é também capaz de interpretar e significar suas
próprias ações, seus sentimentos e seus pensamentos – daí a relação entre
significado e sentido:
O sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a
palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e
dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é
apenas umas das zonas de sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra
adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes,
altera o seu sentido. (Vygotsky, 2005, p.181).
Segundo Vygotsky (2005), tanto os significados quanto os sentidos são
dinâmicos, pois ambos se modificam e se enriquecem a partir dos contextos em que
se constituem. Entretanto, os significados diferenciam-se dos sentidos por serem
coletivizados. Esses estão presentes nas diversas formas na subjetividade e nas
relações sociais, por exemplo nas ideologias compartilhadas por um grupo ou uma
comunidade. Os significados têm dimensões universais como representações,
crenças e ideologias e têm também sentidos singulares. (Sousa & Sousa, 2009)
23
Conclui Namura (1996) que as significações se concretizam nas relações
entre os sujeitos e transitam nas diferentes dimensões desses sujeitos, perpassando
o pensar, o agir, o criar, o falar, o sentir, o realizar, o desejar, impulsionando novas
conexões na estrutura da consciência.
Os sentimentos, as vivências e as experiências humanas se interpõem
aos significados, constituindo os sentidos, processo que se constitui na consciência
humana. Em síntese, os significados das palavras são reconstruídos nas relações
sociais com as variações da experiência pessoal do sujeito nas interações sociais,
isto é, possibilita a emergência do sentido nas relações dinâmicas entre significado e
sentido e da consciência, mediada semioticamente (Sousa & Sousa, 2009).
Conforme Aguiar & Ozella (2006), Vygotsky concebe o homem como
constituído na e pela atividade, revelando em sua existência e em todas as suas
expressões a sua singularidade: o novo que é capaz de produzir, os significados
sociais e os sentidos subjetivos. Ao apreender as mediações sociais constitutivas do
sujeito é possível sair da aparência (imediato) e ir à busca do processo (sentido).
Segundo esses autores, significado e sentido são constituídos pela
unidade contraditória do simbólico e do emocional. Os significados contêm mais do
que aparentam, e por meio de um trabalho de análise e interpretação caminha-se
para as zonas de sentido, nas quais ocorre a articulação dos eventos psicológicos
que o sujeito produz frente a uma realidade. A categoria sentido exprime a
singularidade historicamente construída e é um ato do homem mediado socialmente.
Berger & Luckmann (2005), também influenciados pela teoria marxista,
concebem o sentido e a significância como motivadores do agir humano e afirmam
24
que por meio dessas categorias é possível compreender a suposta crise da
modernidade. Esses autores, ao fazerem algumas considerações antropológicas
sobre a significância da vida humana, explicam que “o sentido se constitui na
consciência humana”. No entanto, a consciência tomada em si não é nada: a
consciência existe somente quando há um objeto intencional, que é constituído pela
síntese na consciência das percepções, memórias ou imaginações.
Essas afirmações nos remetem a Vygotsky, que nos explica a base
afetivo-volitiva do pensamento. Ou seja, para entender o pensamento de uma
pessoa é necessário entender sua base afetivo-volitiva:
O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por
nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. (...) Uma
compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível
quando entendemos sua base afetivo-volitiva (Vygotsky, 2005, p.187).
Conclui-se que, para apreender os sentidos do sujeito, é preciso
apreender suas necessidades, seus motivos, seus afetos e suas emoções, que são
configuradas a partir das relações sociais como um processo único, singular,
subjetivo e histórico. Ou seja, o sentido se configura na consciência humana, e
são os motivos, as necessidades e os interesses (base afetivo-volitiva) que
orientam o pensamento do homem. E essa base afetivo-volitiva é constituída a
partir das relações sociais, das ações dos homens no seu cotidiano.
Berger & Luckmann (2005) apresentam uma posição semelhante à
vygotskiana. Para esses autores, por meio das vivências do sujeito pode surgir o
sentido, depois que essas vivências se tornam experiências delineadas. “Sentido é a
25
consciência de que existe uma relação entre as experiências.” (p.15). Dessa
afirmação podemos apreender que sentido é a relação da experiência atual com as
experiências passadas, que são armazenadas no conhecimento subjetivo.
Entretanto, se é nas vivências puramente subjetivas de uma pessoa que se constitui
o sentido, Berger & Luckmann (2005) mostram que para haver uma estrutura mais
complexa do sentido subjetivo é necessária uma objetivação do sentido subjetivo no
agir social.
É nas diferentes dimensões de sentido que se constrói a significância
complexa do agir social e das relações sociais. A constituição do sentido na
consciência do indivíduo não trata de um sujeito isolado. A identidade pessoal do
indivíduo se forma nas múltiplas sucessões do agir social da vida cotidiana (Berger
& Luckmann, 2005).
Há também um acervo social de conhecimentos (elementos de sentido
modelados historicamente nas vertentes mais antigas do agir social – tradições) de
onde são tomados componentes para o acervo subjetivo de conhecimento. Os
problemas de um indivíduo podem ser objetivados e tornados acessíveis a outros de
diversas formas, sobretudo na linguagem (Berger & Luckmann, 2005).
26
CAPÍTULO 2 – CRISE DE SENTIDO E MÍDIA
Como vimos anteriormente, a produção de sentido é um processo
decorrente da internalização das funções psicológicas superiores do homem, cuja
função principal é fazer a mediação do homem com a realidade. Sendo a produção
de sentido uma forma de mediação semiótica com a realidade, questionamos neste
capítulo a atuação da mídia perante a significação da realidade pelo homem.
Para compreender a questão do sentido no contexto contemporâneo, é
preciso considerar que as relações sociais em um movimento direcionado pelo
individualismo exacerbado inerente ao pensamento liberal recriam as necessidades
humanas e trazem uma concepção de indivíduo como resultado de sua própria
vontade e de suas competências pessoais (Namura, 2003). Esse processo pode
gerar uma crise de sentido, pois este se torna descolado da realidade e o que ocorre
é a sua instrumentalização: por meio da tecno-ciência midiática, o sentido torna-se
também midiático, “promovendo a idéia de que as relações reais e a realidade
concreta e objetiva não têm sentido e, portanto, buscar o sentido da vida é
simplesmente encontrar a interpretação que convém a cada um”, dissimulando que
o sentido é explorado e depende dos meios de produção e de consumo (Namura,
2003, p. 16).
A instituição dos órgãos de imprensa e da mídia aparece como principal
manifestação dos meios de produção/consumo na atualidade, que passam a
transmitir a idéia contraditória de que o sentido da vida deve ser alcançado no plano
27
individual. Podemos considerar os meios de comunicação em massa e os órgãos de
imprensa instituições controladoras do sentido na contemporaneidade. Entretanto,
não se trata de uma criação da mídia, como apontam Berger e Luckmann (2005). A
crise de sentido está na estrutura da sociedade.
As instituições sociais (econômicas, políticas e religiosas) que têm por
tarefa o reprocessamento social do sentido e como função principal o controle da
produção e transmissão de sentido existiram em quase todas as sociedades. Essas
instituições realizam o reprocessamento social do sentido no qual o sentido objetivo
é transmitido pelos acervos sociais do conhecimento que são colocados à
disposição e comunicados pelas instituições. Esse processo tem como função
principal o controle da produção e transmissão de sentido e acaba por moldar o agir
do indivíduo, por meio da pressão das instituições para o acatamento do sentido
transmitido. Assim, o sentido do agir e da vida é imposto como regra óbvia de
conduta de vida, que a todos obriga, definindo as formas de relação social nas quais
os desvios são tidos como desvios da norma (Berger & Luckmann, 2005).
As instituições dos meios de comunicação de massa, desde a atividade
editorial até a televisão, desempenham um papel chave na comunicação de sentido,
conforme afirmam Berger & Luckmann (2005). A mídia atua como intermediária
entre a experiência coletiva e a individual, “oferecendo interpretações típicas para
problemas definidos como típicos” (p.68). Nas palavras de Berger & Luckmann:
Tudo o que as outras instituições produzem em matéria de interpretações
da realidade e de valores, os meios de comunicação selecionam, organizam
(empacotam), transformam, na maioria das vezes no curso desse processo,
e decidem sobre a forma de sua difusão (2005, p. 68).
28
Os meios de comunicação de massa obviamente são utilizados
explicitamente por empresários de diferentes categorias para seus próprios fins,
afirmam Berger & Luckmann (2005), esclarecendo que os conteúdos da
comunicação de massa têm quase sempre uma carga moral, às vezes implícita, às
vezes mais clara. Às vezes, são tematizados conscientemente aspectos morais da
vida individual e da sociedade.
Berger & Luckmann (2005) apontam a pluralização moderna como
importante fator para a crise de sentido. O que caracteriza a pluralização moderna é
o choque de diferentes ordens de valores e concepções de mundo em uma
sociedade onde convivem diferentes formas de vida sem referência a uma ordem de
valor comum. Isso acontece num contexto em que o crescimento populacional e a
migração resultam no aumento das cidades, e a economia de mercado e a
industrialização misturam pessoas dos mais diferentes tipos, forçando-as a chegar a
um entendimento pacífico por meio do estado de direito e da democracia.
A perda da autoevidência com a pluralização moderna traz
questionamentos ao indivíduo no que se refere à orientação de sua vida. Berger &
Luckmann (2005) mostram que se nas sociedades pré-modernas a vida social e a
existência do indivíduo fluíam de acordo com as expectativas da sociedade, sem
maiores questionamentos, graças à autoevidência do sentido; com o fenômeno do
pluralismo moderno, o homem encontra-se desorientado. Mundo, sociedade, vida e
identidade podem ser submetidos a várias interpretações, nenhuma delas
inquestionavelmente corretas. A perda de autoevidência é um fenômeno global.
29
Quando a autoevidência é perdida, interpretações firmes da realidade
tornam-se hipóteses. Ocorrem diversas mudanças na consciência, que criam a
impressão de superficialidade. Nesse contexto, as instituições foram criadas
para aliviar o indivíduo da necessidade de reinventar o mundo a cada dia e ter
de se orientar dentro dele, fornecendo padrões para as pessoas orientarem
seu comportamento (grifo meu). Com isso a pessoa aprende a cumprir as
expectativas ligadas a certos papéis, como “casado”, “pai”, “consumidor”, etc. Dessa
forma, o indivíduo cumpre os papéis atribuídos a ele pela sociedade na forma de
esquemas institucionalizados de ação e conduz sua vida de forma pré-moldada
socialmente e com alto grau de autoevidência.
Então, podemos observar que as instituições tentam conservar a
autoevidência, controlando os indivíduos. Entretanto, o pluralismo moderno dificulta
isso, colocando sempre alternativas que obrigam à reflexão, abalando a
autoevidência e obrigando o indivíduo a escolher a cada instante.
Os meios de comunicação de massa exibem constantemente e com
insistência uma pluralidade de modos de pensar e viver, já que desempenham um
papel chave na comunicação do sentido. Berger & Luckmann (2005) apontam a
passagem na sociedade moderna do destino para as possibilidades de escolha e
para a compulsão de escolher:
O pluralismo não só permite que escolhamos (profissão, esposo ou esposa,
religião, partido), mas obriga a isto, assim como a oferta moderna de
consumo obriga a decisões (sabão Minerva ou Omo, carro Volkswagen ou
Renault). Já não é possível não escolher, pois é impossível fechar os olhos
diante do fato de que uma decisão tomada poderia ter sido diferente. (2005,
p.59).
30
Alguns autores pós-modernos, como Lipovetsky (2000), consideram a
atual sociedade do consumo libertadora, inclusive a mídia, com suas capacidades
emancipadoras. Esse autor considera que a comunicação e o consumo acentuam o
individualismo. Entretanto, acredita que a sensação de solidão não resulta da mídia
nem da tecnologia, mas sim da própria dimensão das cidades. Lipovetsky (2000)
afirma que “o individualismo equivale ao desenvolvimento da emancipação” (p. 10),
já que implica em tolerância, liberdade de escolha e comprometimento sem
imposição, isto é, de menor regulamentação moral.
Certamente, existem aqueles que suportam essas condições e seguem
seu caminho. Entretanto, o que ocorre é uma moralização às avessas, ou seja, esta
liberdade pode ser sentida como um peso para alguns indivíduos. Como esclarecem
Berger & Luckmann (2005) ao dissertarem sobre o fenômeno do pluralismo, ao
mesmo tempo que esse processo é sentido como libertação, como uma abertura de
novas possibilidades de vida, é também sentido como um peso: uma exigência ao
indivíduo para que abra sempre maior espaço para o novo e o desconhecido em sua
realidade (Berger & Luckmann, 2005).
Conforme Belloni (2003), a obra A sociedade do espetáculo de Guy
Debord prenuncia o século XXI, sendo relevante para a compreensão das questões
propostas por Berger & Luckmann (2005) no que se refere à implicação do
fenômeno do pluralismo moderno na difusão de sentido através da mídia. Utilizando-
se das categorias do marxismo hegeliano como alienação, falsa consciência,
reificação, fetichismo da mercadoria, etc. para trazer idéias sobre a sociedade
contemporânea, Debord (1997) esclarece que o que acontece na sociedade do
espetáculo é o afastamento do mundo vivido em imagens que o representam. Isto é,
31
na sociedade contemporânea, a criação de um mundo de imagens automizadas
escapa ao controle do homem, daí o conceito de espetáculo, uma inversão da vida
assistida passivamente pelo sujeito moderno. O que acontece é a cisão entre
imagem e realidade: a vida na sociedade do espetáculo torna-se fragmentada já que
imagens foram destacadas de cada aspecto da vida, fundindo-se num fluxo comum,
no qual a unidade dessa mesma vida já não pode ser restabelecida. A realidade
considerada parcialmente vira objeto de mera contemplação.
Debord (1997), ao apresentar seu conceito da sociedade do espetáculo,
compreende as mídias como as ferramentas mais importantes da alienação do
sentido. O espetáculo é um fenômeno total, compreendido pela categoria da
totalidade da dialética hegeliana. Nas palavras de Andrade (1999, p.16): “espetáculo
é uma forma de relacionamento humano com os objetos exteriores em que ocorre
uma contemplação, uma exposição de significados sem uma condição de
experiência correspondente por parte dos espectadores”.
Os meios de comunicação de massa são, conforme Debord (1997), “a
manifestação superficial mais esmagadora do espetáculo” (p. 20). Não se trata
apenas de uma simples e neutra instrumentação da sociedade. Como esclarece
Belloni (2003), essa manifestação faz parte da totalidade do espetáculo sendo a
forma mais espetacular da sociedade. Para Debord “a administração desta
sociedade e todo o contato entre os homens já não se podem exercer senão por
intermédio deste poder de comunicação instantâneo” (1997, p. 21).
Compreendendo a mídia como a instituição social mais importante na
difusão do sentido, o homem moderno passa a se identificar com as imagens
transmitidas pelos meios de comunicação em massa. E dentre uma pluralidade de
32
imagens transmitidas, distante da realidade real e concreta, este homem sente-se
desorientado. Debord (1997) esclarece que o espetáculo aparece nas mídias como
um modelo socialmente dominante pela lógica da produção industrial e do consumo
de massa ao afirmar que “o espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupou
totalmente a vida social” (p. 30). Enfatiza Debord (1997) que o princípio do
fetichismo da mercadoria se realiza no espetáculo, no qual o mundo sensível é
substituído por uma seleção de imagens que existe acima dele. No espetáculo, o
mundo da mercadoria domina tudo o que é vivido e resulta no afastamento dos
homens entre si e em relação a tudo que produzem. O consumo alienado torna-se
para as massas um dever suplementar à produção alienada. O consumidor real
torna-se consumidor de ilusões. A pseudonecessidade imposta pelo consumo
moderno não pode ser contrastada a nenhuma necessidade ou desejo autêntico que
não seja, ele mesmo, produzido pela sociedade e sua história.
Como afirma Belloni (2003), Debord destacava a evolução histórica do
conceito marxista de alienação: ao longo da história ocorre uma degradação do “ser”
pré-moderno ao “ter” capitalista, da modernidade, para chegar ao “parecer” do
espetáculo. No espetáculo o que ocorre é o empobrecimento da vida cotidiana:
“Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação” (Debord, 1997, p.
13). Para esse autor, a base da sociedade existente é a alienação recíproca entre
espetáculo e realidade. A realidade surge no espetáculo e o espetáculo é real. O
espetáculo é uma afirmação da aparência e de toda vida social como simples
aparência. Conforme Debord (1997), quando o mundo real se transforma em
simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes
de um comportamento hipnótico.
33
É importante salientar, como esclarece Chauí (2006), que a dimensão do
espetáculo não foi criada pela comunicação de massa e o espetáculo não é um
malefício para a cultura, pois é próprio da obra de pensamento e da obra de arte
oferecerem-se e exporem-se ao pensamento, à sensibilidade e à imaginação de
outrem para que lhes confira sentido e as prossiga. Para a autora, a questão não se
coloca diretamente sobre os espetáculos, mas sobre o que sucede ao espetáculo
quando capturado, produzido e enviado pelos meios de comunicação de massa.
Afinal, Debord (1997) afirma que a cisão entre imagem e realidade faz o
espetáculo aparecer como finalidade do modo de produção reinante, quando na
verdade o espetáculo é muito mais que seu modo de funcionamento: o espetáculo é
uma relação social mediatizada por imagens. Essa afirmação nos remete a Berger &
Luckmann (2005), que consideram a crise de sentido na atualidade como resultante
da estrutura da sociedade. Isto é, as interações sociais e a maneira como a
sociedade contemporânea se organiza, com as instituições econômicas, políticas e
religiosas transmitindo e difundindo o sentido por meio da mídia, mantêm o homem
aprisionado quando obtém uma significação da realidade que não é a sua. Através
dos meios de comunicação de massa, o espetáculo representa todos os aspectos
importantes da vida dos quais os indivíduos estão separados e incapacitados de
viver diretamente. “Sob todas as suas formas particulares – informação ou
propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos -, o espetáculo
constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade.” (Debord, 1997, p. 14).
Abramo (2003) explica que a manipulação da informação pela mídia
transforma-se em manipulação da realidade. A sociedade é cotidiana e
sistematicamente colocada diante de uma realidade artificialmente criada pela
34
imprensa e que se contradiz dominando a realidade real que o sujeito vive e
conhece. Fragmentado no leitor ou telespectador individual, o público só percebe a
contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é
protagonista e que, portanto, conhece. A realidade é assim captada por meio da
imagem artificial e irreal da realidade criada pela imprensa e esta é a parte da
realidade que o sujeito não percebe diretamente mas aprende por conhecimento. “A
maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi
artificialmente criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo
irreal.” (Abramo, 2003, p. 24).
Nas sociedades existe uma estrutura histórica respectiva do reservatório
social do sentido. Berger & Luckmann (2005) mostram que, no decorrer da história,
a subjetividade de problemas experiência e ação que resultam nas objetivações do
sentido tornaram-se intersubjetivamente recordáveis através da comunicação com
os outros. Esses processos, quando controlados por instituições, fazem com que
uma parte das objetivações consideradas significativas sejam destacadas enquanto
outras são consideradas insignificantes e outras descartadas como inadequadas ou
perigosas. Sistemas significativos são transmitidos para gerações futuras. Observa-
se esse processo, visto que, nas sociedades, peritos especialmente escolados para
isso exerceram a censura, a canonização, a sistematização e a pedagogização.
Esses meios de reprocessamento do sentido podem ser observados
também nas seleções que os órgãos de imprensa executam para direcionar as
informações para o público espectador. É importante observar, como coloca Abramo
(2003), que não é todo material que toda imprensa manipula sempre. Entretanto,
observa-se a manipulação da informação exercida pelos órgãos de imprensa em
35
alguns padrões pelos quais se realiza a produção jornalística. Discutindo os padrões
de manipulação na grande imprensa, Abramo (2003) explica que os órgãos de
imprensa, ao manipular a informação, manipulam a realidade. O material oferecido
ao público não reflete a realidade, mas tem relação indireta com a realidade,
distorcendo-a. Esse fato é observado diariamente na imprensa, pois alguns
assuntos quase nunca são tratados, enquanto outros aparecem quase todos os dias.
Alguns segmentos sociais são vistos pela imprensa apenas sob alguns poucos
ângulos, enquanto permanece na obscuridade toda a complexa riqueza de suas
vidas e atividades. A realidade é assim dividida pela imprensa em realidade do
campo do Bem e realidade do campo do Mal, e o público é induzido a acreditar que
será assim eternamente, sem possibilidade de mudança.
Na também chamada “sociedade do descarte”, a publicidade comercial
propagada pela mídia passou a vender imagens e signos e não as próprias
mercadorias. Segundo Chauí (2006), com a passagem da sociedade industrial para
a pós-industrial, o poder da propaganda dependia da capacidade de manipular
desejos do consumidor e até mesmo criar desejos nele. A propaganda passou a
vender não o produto propriamente dito, mas os desejos que ele realizaria. Como
escreve Chauí (2006), na televisão, imagens são produzidas e transmitidas para
repetir sempre a mesma mensagem: “eu sou você”. No contexto midiático, “a
imagem não é uma mediação, um signo que nos remete a uma realidade distinta de
nós, mas instaura uma relação imediata conosco, e essa relação só pode ser
imediata se é uma relação de identificação” (Chauí, 2006, p. 53). A televisão
também é um bem selecionado para o reforço constante das condições de
isolamento das “multidões solitárias”, como afirma Debord (1997).
36
Isto é, a mídia atua como um estímulo ao narcisismo, pois imagens são
produzidas e transmitidas pela programação e pela propaganda para que ocorra
identificação com os atores, âncoras de jornal, entrevistadores, etc. (Chauí, 2006).
Ao dissertar sobre a atual “sociedade do espetáculo”, afirma Jappe (1997) que os
indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de
tudo o que lhes falta em sua existência real. Têm de olhar para outros (estrelas,
homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. O que acontece é uma alienação do
sentido, como explica Debord (1997): quanto mais o espectador contempla, menos
vive, e quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade,
menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. A realidade torna-se
uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida,
recupera-se no plano da imagem. (Jappe, 1997)
Veiculando informações através de novelas, notícias, músicas, romances,
jogos, etc., a mídia, assegura Chauí (2006, p. 49), transmite pelo rádio e pela
televisão “o mundo inteiro em um instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo
real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade
desprovida de raíz no espaço e no tempo.” A desinformação, continua Chauí (2006),
é o resultado da maioria dos noticiários de rádio e televisão porque de modo geral,
as notícias são apresentadas de maneira a impedir que o ouvinte e o espectador
possam localizá-los no espaço e no tempo.
Chauí (2006) exemplifica com as notícias sobre crimes, que os órgãos
dos meios de comunicação de massa o fazem sem estabelecer qualquer relação
entre a criminalidade e suas causas possíveis, como os problemas do crime
organizado, os problemas postos pela economia e suas conseqüências sociais. Só é
37
transmitida a idéia de que criaturas más, saídas de parte nenhuma, estão postas a
ameaçar a vida e os bens de cidadãos honestos e desprotegidos. O espectador se
encontra em uma posição em que é incapaz de compreender o verdadeiro
significado dos fatos noticiados, pois o que ocorre é uma saturação de informação
que traz a ilusão de que fomos informados sobre tudo.
38
DISCUSSÃO FINAL
Após um breve percurso na revisão de literatura pela trajetória intelectual
de Vygotsky, foi possível compreender a visão de homem deste autor, cujo
embasamento no materialismo histórico dialético de Marx e Engels e o interesse em
decifrar o processo de criação do homem permitiram que Vygotsky trouxesse sua
contribuição à Psicologia com o estudo da categoria sentido, tema deste trabalho.
Para Vygotsky, o homem é um ser ativo e histórico, o que lhe permite
constituir sua consciência (Aguiar, 2009). De acordo com a visão materialista
histórica dialética da realidade, esta existe independentemente da existência da
consciência. Entretanto, o sujeito se constitui não a partir da apropriação da
realidade em si mesma, mas a partir da apropriação da significação da realidade
(Namura, 1996), Esse processo implica a mediação semiótica da realidade. Dentro
de seu contexto cultural, a mediação semiótica da realidade acontece por meio de
signos que são construídos pelo homem na relação com seus semelhantes a partir
de suas ações e emoções. A realidade passa a ser representada e reconhecida a
partir de significações, e tanto os significados quanto os sentidos se modificam e se
enriquecem a partir dos contextos em que se constituem (Sousa & Sousa, 2009).
Isso implica que os significados são reconstruídos nas relações sociais
com as variações da experiência pessoal do sujeito (seus sentimentos e suas
vivências) nas interações sociais, possibilitando a emergência do sentido. As
39
relações dinâmicas entre significado e sentido, formadas a partir da apreensão da
realidade, permitem a emergência da consciência. Portanto, o processo de produção
de sentido transpõe o imediatismo e a aparência dos fenômenos sociais. O
significado é compartilhado socialmente, já o sentido articula outros eventos
psicológicos que o sujeito vive ou experimenta frente a uma realidade. As vivências
dos sujeitos nas relações sociais promovem experiências, sentimentos e emoções
que motivam o pensamento. Essa é a inserção da base afetivo-volitiva - as
necessidades, os motivos, os afetos e as emoções do sujeito, que orientam o sujeito
e constituem o sentido.
Compreendida a questão da significação da realidade, podemos indagar a
atuação da mídia nesse processo no contexto e no sujeito da modernidade
contemporânea, já que, segundo Berger & Luckmann (2005), os meios de
comunicação em massa são os principais difusores do reprocessamento, do
controle, da produção e da transmissão de sentido que as instituições sociais
imprimem no indivíduo contemporâneo. Vimos com Berger & Luckmann (2005) que
a crise de sentido está na estrutura da sociedade e conforme Namura (2003) que as
idéias, as estruturas sociais e as concepções ideológicas que dão sentido à vida
podem se transformar, e essas mudanças nas relações sociais se inscrevem nas
concepções vigentes de sentido. Portanto, é preciso identificar quais mudanças nas
relações sociais contemporâneas se interpõem na produção de sentido, já que, a
crise de sentido acomete o indivíduo na medida em que “as estruturas da sociedade
tornam-se estruturas da consciência” por meio dos processos de socialização
(Berger & Luckmann, 2005, p. 56).
40
O presente trabalho focaliza as relações midiáticas na
contemporaneidade, coincidindo com a afirmação de Abramo (2003) de que a
grande mídia oferece um material ao público que não reflete a realidade, mas tem
relação indireta com ela, distorcendo-a. Esse fato acaba por direcionar o público a
aceitar passivamente as informações, sem perspectiva de mudança.
A distorção e a interferência da mídia na significação da realidade do
homem moderno fazem dos meios de comunicação de massa o principal fator para
alienação do sentido, como afirma Debord (1997). Ao retomar a visão vygotskyana
que concebe a gênese e o desenvolvimento psíquico do homem através das
interações sociais, é possível um olhar crítico no que se refere à produção de
sentido no contexto midiático.
O pressuposto de que o afeto decorrente dos encontros e das
experiências nas interações sociais proporcionam a expansão da vida (Sawaia,
2006), possibilita a observação de que na atualidade as experiências que ocorrem
nas relações sociais, promovendo a emergência de sentidos e o enriquecimento
humano, são substituídas pelas relações midiáticas, que esvaziam o contato do
sujeito com sua própria existência. O contexto midiático dificulta a expansão da vida,
na medida em que o fenômeno da alienação do sentido esvazia a compreensão da
própria existência do sujeito, que passa a contemplar e reconhecer-se nas imagens
midiáticas.
No contexto midiático, o sentido é transmitido e difundido pelos meios de
comunicação em massa, incidindo no processo de significação da realidade, e esta
é apresentada de maneira distorcida, de acordo com os interesses econômicos das
instituições sociais, bombardeando o sujeito com informações sem que exista uma
41
experiência correspondente àquela difundida nas imagens midiáticas. Isso implica
em uma produção de sentido que dificulta o processo emancipatório. Sabemos que
a realidade existe independentemente da consciência. A consciência se forma a
partir das significações da realidade, da práxis e dos signos processados pelo
sujeito, produzindo sentido. O contato do sujeito com a realidade que a mídia
transmite, uma realidade midiática e distorcida, resulta em um distanciamento do
contato do sujeito com sua própria existência.
No decorrer da pesquisa deparamo-nos com o pensamento de
Lipovetsky. Sem o intuito de investigar a fundo sua obra, apresentamos brevemente
no capítulo dois sua visão sobre a mídia em contraposição aos autores modernos
até então estudados. Para Lipovetsky (2000) a mídia acentua o consumo e o
individualismo e o autor considera esses aspectos emancipadores na medida em
que implicam na tolerância e na liberdade de escolha com menor regulamentação
moral.
No livro A tela global, Lipovetsky & Serroy (2009) tratam especificamente
do cinema e sua implicação em diversos tipos de mídia, particularmente das “telas”:
do computador, dos videogames, da internet, do celular e das máquinas fotográficas.
O que acontece segundo os autores é uma cinematografização do mundo feita da
combinação do grande espetáculo, das celebridades e do divertimento. Essa
afirmação evidencia nossa indagação inicial sobre a atuação da mídia e seu papel
na banalização da vida, onde a lógica do lazer e do entretenimento substitui a
cultura.
Contudo, Lipovetsky & Serroy (2009) ao abordarem a questão do cinema
afirmam que em todas as épocas de sua história não faltaram filmes convencionais e
42
de péssima qualidade, ao lado de produções autênticas, mas sempre menos
numerosas obras-primas. A colocação desses autores é de que a produção de
filmes medíocres, hiperespetaculares, com personagens uniformes não é novidade e
não deve ocultar o desenvolvimento de um cinema inovador, personalizado, menos
previsível. Em uma sociedade mais fragmentada, o cinema atual leva em conta
problemas e temas outrora descartados ou tratados segundo estereótipos
convencionais. Agora, estilos de vida mais heterogêneos como casais divorciados,
idosos, solteiros, homossexuais, negros, deficientes, desviantes, etc., são tratados
por eles mesmos.
Em uma sociedade marcada pelo pluralismo, a mídia reproduz aquilo que
está na estrutura da sociedade, exibindo constantemente e com insistência uma
pluralidade de modos de pensar e viver. Na maioria das vezes os processos
midiáticos afastam o sujeito na busca de uma interpretação para sua própria vida e
não apontam possibilidades de transformação. Porém, Lipovetsky adverte para que
não se reduza o contato do sujeito com a mídia à total passividade. Vimos com
Andrade (1999) que no espetáculo o homem se relaciona com os objetos exteriores
contemplando-os, mas sem existir uma condição de experiência correspondente por
parte dos espectadores. Lipovetsky & Serroy (2009) não negam a existência de
filmes hiperespetaculares difundidos pela mídia, mas apontam a existência de
algumas obras que aproximam o sujeito de realidades antes não exploradas pela
mídia. Nas palavras dos autores: “O que se anuncia é um cinema global
fragmentado, pluri-identitário, multiculturalista. Afirmar que o cinema caiu em um
conformismo padronizado é enunciar um clichê em que ele mesmo é conformista”
(Lipovetsky & Serroy, 2009, p. 17).
43
Sem o intuito de “demonizar” a mídia ou repetir clichês, buscamos neste
trabalho inicialmente compreender a categoria sentido. No contexto contemporâneo
é impossível ignorar a implicação da mídia na produção de sentidos do homem.
Como visto anteriormente, o sentido é uma categoria ou uma função psicológica
superior que faz a mediação do homem com a realidade, com o mundo, com a vida
e por isso a busca de sentido em tudo que nos rodeia. Não podemos ignorar o fato
de que a mídia rodeia o homem por toda a parte na vida contemporânea, implicando
assim na sua produção de sentido. Seja pela principal ferramenta da “sociedade do
espetáculo” anunciada Debord (1997) ou pela “telas globais” que anuncia Lipovetsky
(2009), buscamos nesse trabalho uma reflexão sobre a produção de sentidos do
homem contemporâneo que se distancia do sentido de sua própria existência,
emergido no contexto midiático.
Se a teoria vygotskiana concebe a arte como um dos fenômenos
constituintes do sujeito, afirmando que por meio dela o sujeito pode experimentar o
sentido profundo da vida (Namura, 2003), apresentamos a proposta de Vygotsky
com a Psicologia da Arte como uma retomada do homem no contexto da
transformação. Vygotsky, sustentado no pensamento marxista, busca entender o
homem como ser criativo e como construtor de sua cultura. Interessado
principalmente na dramaturgia e na literatura, afirma que a arte enriquece a vida do
indivíduo; a atividade criadora do homem é uma função vitalmente necessária, pela
qual se manifestam todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação
artística, científica e técnica. Esse autor procura, com a Psicologia da Arte, estudar a
síntese psicológica que os mecanismos da obra de arte provocam na construção do
44
sentido. Para ele, a reação estética e a catarse são processos psicológicos
superiores que participam da constituição dos sentidos humanos.
Ao estudar os processos de recepção da arte e suas implicações na
produção de novos sentidos para o sujeito, Vygotsky definiu a Catarse como uma
reorganização das funções psicológicas superiores, mediadas pelo sentimento e
pela fantasia, impacto cognitivo e afetivo que se produz no sujeito (Sawaia, 2006). E
a Reação Estética como uma reação especificamente humana em que a contradição
suscita sentimentos opostos uns aos outros, provocando um “curto circuito” que
aniquila esses sentimentos (Namura, 2003).
Vygotsky afirma que “as nossas possibilidades superam a nossa atividade
[...] e a criação cobre inteiramente o resíduo que fica entre as possibilidades e a
realização, o potencial e o real em nossa vida” (2001, p. 337), por isso a importância
de se estudar os processos de recepção da arte, que são vistos por esse autor como
processos de repetição e recriação do ato criador. Para Vygotsky (2001), a arte
constitui um “mecanismo biológico permanente e necessário de superação de
excitações não realizadas na vida e é um acompanhante absolutamente inevitável
da existência humana” (p. 338)
Por isso a concepção de que a recepção da arte é uma atividade
complexa do psiquismo humano, uma criação, produtora de novos sentidos. Ao
compreender o processo de criação como “a necessidade mais profunda do nosso
psiquismo em termos de sublimação de algumas espécies inferiores de energia”
(Vygotsky, 2001, p. 337) é possível afirmar o potencial de expansão que a arte traz à
vida do homem.
45
A arte atua diretamente na base afetivo-volitiva (necessidades, desejos,
emoções e afetos do sujeito), proporcionando a produção de novos sentidos e
enriquecendo a consciência do sujeito, ou seja, o sujeito caminha rumo à sua própria
representação da realidade, enriquecendo a capacidade de refletir sobre sua
existência ao se deparar com o estranhamento que a arte proporciona. Essa
experiência implica em ressignificações do outro e de si próprio, suas necessidades
e desejos, amplia o repertório de conhecimento sobre a realidade, revela
intencionalidades, pois seja qual for o estado da arte, as mutações de forma e
conteúdo que ela sofreu com o tempo, as leis da estética vygotskiana continuam
produzindo o “curto circuito” que aniquila sentimentos opostos e instaura novos
sentidos.
Neste trabalho apresentamos questionamentos que apontam a
necessidade da realização de estudos mais aprofundados sobre a produção de
sentidos do homem contemporâneo. Por isso, destacamos a obra Psicologia da Arte
como imprescindível para a compreensão da categoria sentido segundo o
pensamento de Vygotsky. A partir do questionamento sobre a implicação da mídia
na produção de sentidos do homem, frente à fragmentação da realidade em uma
sociedade multiculturalista, destacamos também a importância do estudo da
categoria sentido para a compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos.
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Mídia e arte na produção de sentido

  • 1. UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Raquel Coneglian Franchito MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO: da passividade do espectador à emancipação do homem pela criação Taubaté – SP 2009
  • 2. UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Raquel Coneglian Franchito MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO: da passividade do espectador à emancipação do homem pela criação Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do Grau acadêmico pelo Curso de Psicologia do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté. Área de concentração: Psicologia Social. Orientadora: Profª Drª Maria Regina Namura Taubaté – SP 2009
  • 3. RAQUEL CONEGLIAN FRANCHITO MÍDIA E ARTE NA PRODUÇÃO DO SENTIDO: da passividade do espectador à emancipação do homem pela criação Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do Grau acadêmico pelo Curso de Psicologia do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté. Área de concentração: Psicologia Social. Orientadora: Profª Drª Maria Regina Namura DATA:_____/_____/_____ RESULTADO:__________ BANCA EXAMINADORA Profª Drª Maria Regina Namura - Universidade de Taubaté Assinatura:__________________________________________ Profª Drª Cecília Pescatore Alves - Universidade de Taubaté Assinatura:__________________________________________ Prof. Dr. Régis de Toledo Souza - Universidade de Taubaté Assinatura:__________________________________________
  • 4. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os envolvidos direta e indiretamente na elaboração deste trabalho. Aos meus familiares e amigos pela paciência e perseverança que me transmitiram. Aos meus pais pelo apoio e investimento sem os quais a realização deste trabalho seria impossível. Ao meu irmão Vitor, pelo incentivo e entusiasmo. Ao Lincoln, meu querido companheiro que colaborou e me acolheu ao longo desta trajetória. Aos professores do Departamento de Psicologia, em particular a Profª Drª Maria Regina Namura por compartilhar comigo seu conhecimento, possibilitando novas perspectivas em minha vida pessoal e acadêmica.
  • 5. RESUMO O presente trabalho focaliza a discussão sobre a produção de sentidos do homem na atualidade, assumindo os pressupostos ontológicos e epistemológicos da tradição marxiana, que postula a necessidade do homem em dar um sentido à sua vida. Para realizar esse debate buscou-se a compreensão do contexto histórico- social em que este sentido está sendo construído, o que trouxe o questionamento sobre o papel da mídia e sua implicação na produção de sentido do indivíduo moderno. Partindo do estudo da categoria sentido segundo Vygotsky e a Psicologia da Arte, este trabalho teve como objetivo instaurar um diálogo entre os processos midiáticos presentes na sociedade contemporânea que participam da produção de sentidos do homem e a importância da arte como possibilidade de emancipação frente à fragmentação da vida nesse contexto. Utilizando o método bibliográfico em um estudo exploratório, apresentou-se a teoria vygotskiana com o intuito de recuperar uma concepção de produção de sentido por um sujeito singular, criativo, estético, ético-político, que na atualidade está sendo excluído e substituído pelo sujeito virtual, através do sentido midiático. Autores modernos e pós-modernos foram pesquisados para discutir o sentido midiático, entre eles Berger & Luckmann, que dissertam sobre a crise de sentido na modernidade, e Guy Debord, autor que concebe a mídia como principal fator para a alienação do sentido. Palavras-chave: Produção de sentido, Mídia, Psicologia da Arte.
  • 6. ABSTRACT This research focuses the discussion on humans’ sense production today, considering the ontological and epistemological foundations of the marxian tradition that support the humans’ need of giving life a meaning. To accomplish this debate, one searched the plain understanding of the historical and social context in which this sense is being built, what brought about the questioning on the media's role and its influence in the production of the modern individuals sense. Based on the study of the sense category, according to Vygotsky and the Psychology of Art, the objective of this work was to establish a dialogue between the media processes present in contemporary society that participate in producing humans’ senses, and the importance of art as a front for emancipation in view of the fragmentation of life in this context. Using the bibliographic method in an exploratory study, the vygotskian theory was introduced aiming to recover a sense production concept by a singular, creative, aesthetic, ethical-political individual who is currently being replaced by a virtual one through the media sense. Modern and postmodern authors have been asked to discuss the media sense, including Berger & Luckmann, who speak about the crisis of sense in the modernity, and Guy Debord, an author who conceives media as the main factor for alienation of sense. Key-words: Production of sense, Media, Psychology of Art
  • 7. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................1 CAPÍTULO 1 – A CATEGORIA SENTIDO NA PSICOLOGIA SÓCIO- HISTÓRICA...6 CAPÍTULO 2 – CRISE DE SENTIDO E MÍDIA .........................................................26 DISCUSSÃO FINAL..................................................................................................38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................46
  • 8. 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho focaliza a discussão sobre a produção de sentidos do homem na atualidade, assumindo os pressupostos ontológicos e epistemológicos da tradição marxiana, que postula a necessidade do homem em dar um sentido à sua vida. Desde as primeiras criações artísticas e dos relatos míticos, o homem se questiona sobre o sentido da vida. Questões como: “O que é a vida? O que é a morte? De onde viemos? O que é o universo? O que é o tempo?” são recorrentes tanto nas comunidades civilizadas quanto nas primitivas e apontam a necessidade de dar sentido e significado para o mundo, como visto em Brenman (2005, p. 21). Namura (2003), sustentada na tradição lukácsiana, afirma que a busca do sentido da vida é inerente à condição humana e essa busca transforma-se ao longo do processo de desenvolvimento do homem, ou seja, os sentidos atribuídos pelo homem mudam de acordo com seu processo histórico-social. As idéias, as estruturas sociais e as concepções ideológicas que dão sentido à vida podem se transformar, e essas mudanças nas relações sociais interferem nas concepções vigentes de sentido. Constituição e produção de sentido são processos relacionados às funções psicológicas superiores do homem, postula Vygotsky. O sentido é uma categoria ou uma função psicológica superior que faz a mediação do homem com a realidade, com o mundo, com a vida e por isso a busca de sentido em tudo que nos rodeia. Conhecer a categoria sentido buscando a compreensão do contexto histórico-social em que esse sentido está sendo construído trouxe-me o
  • 9. 2 questionamento sobre o papel da mídia e sua implicação na produção de sentido do indivíduo contemporâneo: até que ponto o sentido da vida está sendo produzido pela mídia ou até que ponto é imposto ao indivíduo pela mídia? O termo mídia – meios de comunicação em massa – refere-se aos objetos tecnológicos capazes de transmitir a mesma informação para um vasto público ou para a massa (Chauí, 2006). São eles o rádio, o cinema, a imprensa, a publicidade ou propaganda, a fotografia, a televisão e a internet. Considerando a mídia a principal manifestação dos meios de produção e consumo, qual seu papel no que se refere à atual banalização da vida, da expressão artística e intelectual, da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica? Estaria a mídia impondo sua lógica de lazer e entretenimento, diversão e distração, no lugar da cultura? Vygotsky, interessado em construir uma ciência do homem, apresenta a arte e a estética como constitutivas do sujeito. Este autor busca compreender a criatividade do homem e escreve a obra Psicologia da Arte para compreender o papel da arte na constituição do sujeito e na subjetividade humana. Nesta obra, Vygotsky discute a categoria sentido apresentando a produção de sentido no caldo cultural da arte como uma forma de emancipação humana. Este autor é estudado neste trabalho com o intuito de recuperar uma concepção de produção de sentido por um sujeito singular, criativo, estético, ético-político que na atualidade está sendo excluído e substituído pelo sujeito virtual, através do sentido midiático. O interesse pelo tema dos processos psicológicos relacionados com a atividade criadora e a arte surgiu ao longo de minha formação. O contato que tive com o estudo da música favoreceu o envolvimento e o interesse pelas formas de
  • 10. 3 expressão artística, e ao ingressar na graduação em Psicologia, surge a idéia de estabelecer um diálogo entre a ciência e a arte. Em 2007 busquei o aprofundamento com a Arteterapia, em um curso de extensão. No mesmo ano iniciei as atividades para a elaboração do projeto de pesquisa para o trabalho de conclusão de curso. Entre os temas propostos pelos professores-orientadores do Departamento de Psicologia constava “Psicologia da Arte”. A minha inserção neste tema permitiu conhecer a obra de Vygotsky, que compreende a criação humana e a arte em uma concepção materialista histórica dialética, possibilitando uma compreensão da importância dos processos de reação estética e catarse para a produção de novos sentidos para o homem. Durante a elaboração da monografia, os estudos foram direcionados para a categoria sentido, e outros autores foram pesquisados para cumprir as condições metodológicas do processo de pesquisa, alterando o primeiro propósito. Se anteriormente o questionamento era, exclusivamente, sobre a formação do sentido pela recepção da arte, surge no decorrer das leituras outro aspecto instigante: a pergunta pelo sentido da vida e a atual crise de sentido discutida por autores modernos e pós-modernos. Essa questão foi instigada particularmente pelo livro Modernidade, Pluralismo e Crise de Sentido, de Berger & Luckmann, em que os autores explicam a relação entre a atual estrutura da sociedade contemporânea e a crise de sentido. O que mais chamou a atenção foi a introdução dos meios de comunicação em massa (mídia) como principais comunicadores do sentido na modernidade. Como seria o processamento e a transmissão do sentido pela mídia e qual seu papel na “desorientação” do homem moderno? Essa questão também foi
  • 11. 4 assinalada nas leituras de Guy Debord, autor que discorre sobre a alienação do sentido na “sociedade do espetáculo”. Utilizando Vygotsky como autor central para a compreensão dos processos de produção de sentido, o objetivo deste trabalho não é “demonizar” a mídia, mas sim instaurar um diálogo entre os processos midiáticos presentes na sociedade contemporânea que participam da produção de sentidos do homem e a importância da arte como possibilidade de emancipação frente à fragmentação da vida nesse contexto. Como a mídia e a arte participam da formação do sentido e da significação da realidade e da vida pelo indivíduo? Definido o problema, para buscar respostas a essas perguntas decidiu-se realizar um estudo exploratório que, segundo Gil (1991), visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Foi utilizado o método bibliográfico, visto que nessa metodologia utilizam-se categorias teóricas já trabalhadas por outros autores e seus textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados (Severino, 2007). A principal vantagem da pesquisa bibliográfica é o fato de permitir ao pesquisador uma cobertura muito mais ampla de inúmeros fenômenos do que aquela que ele poderia pesquisar diretamente (Gil, 1999). Para desenvolver o tema, no capítulo 1 apresentamos a concepção da psicologia social crítica de Vygotsky sobre a constituição e a produção de sentido, introduzindo a obra Psicologia da Arte e sua importância para o estudo psicológico do sentido.
  • 12. 5 O capítulo 2 aborda a atual crise de sentido e sua relação com os meios de produção/consumo e a mídia, buscando compreender as ideologias e os processos midiáticos presentes na sociedade contemporânea que participam da produção de sentido do homem.
  • 13. 6 CAPÍTULO 1 – A CATEGORIA SENTIDO NA PSICOLOGIA SÓCIO- HISTÓRICA O percurso de Vygotsky das artes à Psicologia Iniciar a apresentação da categoria sentido pela obra Psicologia da Arte tem por objetivo destacar a mediação dos afetos e das emoções na constituição da categoria sentido. Esta obra pode ser considerada o protótipo da teoria vygotskiana, especialmente o pressuposto de que os afetos são o motor do desenvolvimento do pensamento e da cognição. Alguns autores acreditam que a entrada de Vygotsky na Psicologia se deu pela busca da resolução de problemas da arte e da cultura - como mostra Blanck (1996) – continuando, durante toda a sua vida, a direcionar o tema da arte em uma perspectiva psicológica. Por meio dessa busca Vygotsky traz à psicologia do início do século XX a questão da consciência como uma totalidade complexa, formada por cognição, motivações e sentimentos emocionais (Blanck, 1996). Trata-se de uma questão pouco explorada na época e de onde emerge a proposição dos processos psicológicos superiores, dentre eles o processo de criação da arte e da vida e a produção e constituição do sentido, objeto de interesse neste trabalho. Conhecendo um pouco de sua vida pessoal, é possível compreender o interesse do autor por essas questões. Lev S. Vygotsky nasceu em Orsha (Bielo-Rússia), em 1896, filho de um casal da comunidade judaica de Gomel (Japiassu, 1999), cidade com uma vida
  • 14. 7 cultural intensa, onde ele passou sua infância e juventude. Sua família era uma das mais cultas da cidade. Assim, Vygotsky cresceu em um ambiente propício às suas reflexões: as conversas na sala de jantar, a organização de uma biblioteca pública pela família, a educação primária que Vygotsky recebeu em sua própria casa (Blanck, 1996) demonstram o incentivo dado a Vygotsky no desenvolvimento de suas idéias. Quando adolescente, mostrou grande interesse pelos estudos sobre Hamlet, de Shakespeare – o que veio a ser sua monografia de Direito e Literatura em Moscou e posteriormente reestruturado e incorporado à Psicologia da Arte (Japiassu, 1999). Apreciava a poesia, a literatura e durante toda a sua vida expressou um grande amor pelo teatro. Segundo Blanck (1996), a relação de Vygotsky com o teatro tem dois aspectos: seu trabalho com a dramaturgia - elaborou críticas teatrais e a psicologia dos atores - e seu comportamento romântico e teatral, tendo interesse principalmente pelas grandes tragédias. Após a revolução russa, passou a lecionar em escolas estaduais em Gomel, onde ocupou posições de destaque na vida cultural da cidade e coordenou um círculo de estudos literários em que se discutia a produção teatral de Shakespeare, Goethe, Tchekov e outros. Em Moscou, em 1925, Vygotsky publicou seu livro intitulado Psicologia da Arte, alterando a elaboração de 1915 sobre a estética da tragédia. Para Freitas (1994, apud Britto, 2007), a pergunta chave desse trabalho é “o que faz uma obra de arte ser artística?”. Vygotsky responde esta pergunta apresentando-se contra a redução da arte como mera expressão de vivências emocionais. O intelecto e o emocional (pensamento e sentimento) são os dois
  • 15. 8 fatores movedores da criação humana. Portanto, a arte na visão de Vygotsky é um produto da atividade humana, como trabalho, ou seja, um ato de criação do homem que envolve aspectos da cognição e da linguagem usadas para exprimir a arte. A produção vygotskiana surge no contexto de um dos mais importantes movimentos intelectuais do século XX (Blanck, 1996). Japiassu (1999) esclarece que nas primeiras décadas do século XX, assim como a Psicologia, as artes necessitavam adequar-se à concepção materialista histórica da realidade e do mundo. Na Rússia pós-revolucionária os artistas e a intelectualidade estavam empenhados em discutir as bases ideológicas e estéticas sobre os quais deveriam se assentar as ciências e as artes da nova sociedade socialista soviética. As artes, principalmente o cinema e o teatro, deveriam assumir-se como espaço de luta onde seriam travadas batalhas de idéias, pensamentos e concepções da organização sociopolítica e econômico-cultural do país. Segundo René Van Der Veer e Jaan Valsinei (1996, apud Japiassu, 1999), Vygotsky encontrava-se regularmente com cenógrafos e diretores, como Berthold Brecht e principalmente Eiseinsten, para discutir como as idéias abstratas do materialismo histórico poderiam ser representadas em imagens de cinema (Cole, 1979, apud Namura, 2003). O teatro fundado dramática e cenicamente pela vanguarda russo-soviética era um veículo para a propaganda explícita dos valores estéticos e dos pressupostos marxistas. Vygotsky investiga a problemática psicológica da produção artístico- cultural e desenvolve, de acordo com os princípios do materialismo histórico, uma análise da criação artística em seu caráter da ação psicofísica da obra de arte sobre o funcionamento mental dos seres humanos que a produzem e a consomem em
  • 16. 9 determinado contexto sócio-histórico (Japiassu, 1999). Ele destacava a importância dos vetores histórico-culturais na organização do funcionamento psicológico humano e idealiza a construção de uma psicologia que se adequasse ao pensamento de Marx. Segundo Freitas (1994, apud Britto, 2007), o interesse de Vygotsky era chegar à síntese psicológica pela análise da arte. Sua inspiração era compreender a função da arte na vida da sociedade e na vida do homem como ente sócio-histórico. Para Vygotsky (1972, apud Japiassu, 1999), os sentimentos disputados pela obra de arte eram sentimentos socialmente determinados. A criação estética era um construto simbólico elaborado consciente e deliberadamente pelo artista. São como estímulos organizados no intuito de provocar um tipo específico de reação no público: a reação estética. Sentido e Psicologia da Arte O sentido é uma função psicológica superior que se manifesta ao longo do desenvolvimento humano e diferencia os homens dos animais, permitindo ao homem pensar, refletir e criar. Em sua obra intitulada Psicologia da Arte, Vygotsky se apropria de seu conhecimento sobre a arte e a estética para pensar a categoria sentido. Essa obra, conforme Namura (2003), é essencial para se compreender a gênese estética da categoria sentido em Vygotsky. A gênese estética do sentido contribui para a compreensão da constituição do sentido conforme os aportes do livro A Construção do Pensamento e da Linguagem, revelando os antecedentes teóricos e o contexto histórico em que a teoria foi construída.
  • 17. 10 Falar de arte é falar de criação humana, daquilo que diferencia os homens dos animais: “a arte não é uma complementação da vida mas decorre daquilo que no homem é superior à vida.” (Vygotsky, 2001, p. 340). Segundo Vygotsky (1990), a atividade criadora do homem é uma função vitalmente necessária. Também chamada de imaginação ou fantasia, é através dela que se manifestam todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica. A arte, na abordagem vygotskiana, é vista como uma dimensão essencial para a constituição do sujeito e da subjetividade, ou seja, para a produção de sentido. A Teoria da Reação Estética e o conceito vygotskiano de Catarse consistem no ponto de partida para o desenvolvimento do pensamento psicológico deste autor (Japiassu, 1999). Segundo Vygotsky (1999), a Reação Estética e a Catarse são processos psicológicos de nível superior e participam da constituição dos sentidos humanos. A fruição da arte, a reação estética propriamente dita implicam emoções, afetos e significados que se processam continuamente, entram em oposição, contradição e são submetidos a certa descarga: a catarse. As emoções, os afetos e os significados que participam desse processo são destruídos e transformados, promovendo uma síntese psicológica na consciência do sujeito/fruidor, isto é, um novo sentido. Para formular os conceitos de reação estética e catarse, Vygotsky inspira- se no pensamento hegeliano que concebe a estética não apenas como um ornamento da vida, mas como criadora de formas nas quais experimentamos o sentido profundo da vida (Namura, 2003). Para Vygotsky (apud Sawaia, 2006), a arte demonstra que o homem é mais rico que sua vida cotidiana. Os sentimentos do homem em relação à arte são diferenciados dos outros sentimentos. Vygotsky (apud
  • 18. 11 Japiassu, 1999, p. 53) denomina-os “sentimentos inteligentes”, característicos do ser humano. “As emoções das artes são emoções inteligentes” As concepções idealistas da contemplação do belo e as hedonistas do puro prazer estético configuram a Psicologia da Arte tradicional. Vygotsky critica essas concepções porque são marcadas ou atravessadas por tendências do subjetivismo e do objetivismo. A primeira pretende atingir a percepção estética interpretando a personalidade do autor e seu processo de criação como se revela na obra. A segunda propõe que a soma de pequenos prazeres estéticos podem atingir a complexidade da emoção estética do espectador/leitor. Como mostra Namura (2003), ambas tomam a arte como produto e não como processo, ignorando a idéia central, o próprio mecanismo de ação da obra de arte que possui leis próprias e permite elucidar o sentido do efeito e do encanto da obra de arte no receptor, isolando assim o fenômeno psicológico do seu contexto, da totalidade, da relação obra/leitor. A partir dessa crítica, Vygotsky demonstra a necessidade de fundamentos psicológicos na arte e de a psicologia explicar o comportamento humano para analisar os problemas da reação estética e da criação artística. Segundo Vygotsky (apud Namura, 2003), o objetivo de sua Psicologia da Arte é rever a Psicologia tradicional da arte e indicar um novo campo de pesquisa, levantando o problema, oferecendo o método e o princípio psicológico básico de explicação. A Psicologia da Arte de Vygotsky diferencia-se de outras abordagens, pois seu foco é a pesquisa do efeito que a obra tem sobre o fruidor, ou seja, a síntese psicológica que os mecanismos da obra de arte provocam na construção do
  • 19. 12 sentido (Namura, 2003). Seu objetivo, portanto, é buscar a autoimplicação entre os mecanismos da arte e o funcionamento do psiquismo social. “O psiquismo, como tal, não está na obra de arte, isto é, não nos é dado diretamente, mas por vias indiretas. O sentido só se evidencia quando ao analisar “a estrutura dos estímulos” [a obra de arte e seus mecanismos] pode-se recriar “a estrutura das respostas” [os mecanismos psicológicos correspondentes]” (Namura, 2003, p. 73) Assim, Vygotsky elabora o método objetivo analítico. Esse método proporciona a análise da ação psicofísica exercida pelos mecanismos da obra de arte sobre o funcionamento mental do indivíduo em um determinado contexto sócio- histórico. A emoção estética, segundo Vygotsky (2001), pressupõe necessariamente a existência de três momentos: uma estimulação, uma elaboração e uma resposta. Apesar de ser um modelo de reação comum, trata-se de uma atividade construtiva sumamente complexa, em que o próprio receptor constrói e cria o objeto estético para o qual se voltam as suas posteriores reações. “Se uma melodia diz alguma coisa a nossa alma é porque nós mesmos sabemos arranjar os sons que nos chegam de fora.” (Vygotsky, 2001, p. 334). Para Vygotsky, é necessário compreender a diferença entre a reação estética e as outras reações biológicas do organismo. Conforme Japiassu (1999) esclarece, o simples esquema estímulo-resposta não é suficiente. A resposta ao público ao estímulo da obra de arte é baseada em mecanismos complexos de percepção da totalidade da obra de arte.
  • 20. 13 Segundo Namura, (2003), o sentido decorrente da obra de arte é propiciado pela Reação Estética, que é uma reação especificamente humana em que a contradição suscita sentimentos opostos uns aos outros e provoca um “curto circuito” que aniquila esses sentimentos. Trata-se de uma complexificação do pensamento e da vida afetiva. Ao dissertar sobre a reação estética, Vygotsky (2001) mostra que seu objetivo não é repetir alguma reação, mas superá-la a vencê-la. A catarse, palavra tomada da poética de Aristóteles para designar a expressão sensível e afetiva produzida pela recepção da obra, e que não se limita à expressão das emoções ou à resolução de tensões afetivas, trata-se, basicamente, da reorganização das funções psicológicas superiores, mediadas pelo sentimento e pela fantasia, impacto cognitivo e afetivo que se produz no sujeito (Sawaia, 2006). Como define Vygotsky (2001, p. 340), catarse é a “libertação do espírito diante das paixões que o atormentam”. Vygotsky (2001) afirma que a percepção de uma obra de arte é uma atividade interior sumamente complexa. Ele denomina essa atividade de ato estético, um trabalho difícil e cansativo do psiquismo. Este autor considera uma premissa psicológica fundamental a identidade entre os atos da criação e a percepção da arte. “A criação é a necessidade mais profunda do nosso psiquismo em termos de sublimação de algumas espécies inferiores de energia” (2001, p. 337). Para Vygotsky, os processos de percepção são tidos como processos de repetição e recriação do ato criador.
  • 21. 14 Influências e antecedentes teóricos: contextualizando a obra de Vygotsky O materialismo histórico dialético é a corrente filosófica que permeia o olhar vygotskiano da realidade. Marx apresenta uma concepção de homem ativo, que não tem sua vida determinada pela própria consciência, mas, ao contrário, sua consciência é determinada por sua vida. Conforme Engels (apud Triviños, 1987), a dialética é a ciência das leis gerais do movimento, tanto do mundo externo quanto do pensamento humano. Marx e Engels partem da dialética de Hegel; no entanto, são materialistas. O materialismo dialético reconhece como essência do mundo a matéria, que, de acordo com as leis do movimento, se transforma. A matéria é anterior à consciência e a realidade objetiva e suas leis são cognoscíveis. É através da consciência que o homem conhece o mundo, pois esta é produto da matéria. Outro corolário da dialética materialista é que a realidade existe independente da consciência. Vygotsky adota o conceito marxista de consciência e o incorpora ao seu pensamento ao teorizar sobre a constituição do sujeito como uma forma de apropriação da significação da realidade, e não diretamente da realidade em si mesma, como mostra Namura (1996). Evitando uma visão de homem que considera o ser humano como reflexo imediato do meio social, como um ser passivo, desprovido de criatividade, Aguiar (2000) disserta sobre a categoria consciência conforme a abordagem sócio-histórica, compartilhando uma visão de homem como ser histórico: “para a psicologia sócio-histórica, o homem é um ser ativo, social e
  • 22. 15 histórico. Essa é a sua condição humana, a qual lhe permite constituir suas formas de pensar, sentir e agir, ou seja, constituir sua consciência.” (p.128) Para Marx as relações sociais, interações e mediações são vistas como produtoras e transformadoras de comportamento, condutas e formas de pensar humano no decorrer da história. É importante captar os significados dessas relações em uma sociedade capitalista. O social de Vygotsky é voltado para a revolução e a construção do projeto coletivo socialista, portanto existem distinções entre as condições atuais da sociedade capitalista, cujo projeto é o neoliberalismo (Tuleski, 2000). No entanto, as interpretações contemporâneas da obra de Vygotsky acabam por reduzir o social às interações individuais ou em pequenos grupos, o que distorce o conteúdo histórico da obra deste autor. Como mostra Namura (1996), Vygotsky procura na Psicologia uma concepção de homem para a reconstrução de uma sociedade, portanto é necessário entender o processo de criação humana e o homem como construtor de sua cultura, ou seja, é necessário compreender os processos de transformação e mudança do homem. Conhecendo as grandes questões que a sociedade russa tinha que resolver, as críticas e retaliações sofridas por esse autor no governo de Stalin, é possível perceber o quão imprescindível é abordar a influência marxista em sua obra (Tuleski, 2000). Além de Marx, uma grande influência para Vygotsky foi Espinosa. Segundo Sawaia (2006), a concepção monista deste autor ajudou Vygotsky a superar as dicotomias clássicas da Psicologia no início do século XX e introduziu a questão da afetividade. Para Espinosa (apud Sawaia, 2006), a afetividade é a capacidade do homem de afetar e ser afetado: o homem é o resultado corpóreo e
  • 23. 16 mental dessas afecções. Este autor concebe o sujeito como um grau de potência de expansão a qual corresponde certo poder de ser afetado. Isso significa que o sujeito é uma potencialidade em ato, cuja realização se dá exclusivamente nos encontros (experiências). Espinosa critica Darwin afirmando que sobreviver é mais que se conservar vivo e reproduzir, é expandir-se. A força de expandir a vida é potência. A potência de vida é aumentada ou diminuída nos encontros com outros corpos e outras mentes, sofrendo a ação de idéias, superstições e ações dos outros. É o afeto que faz essa transição, a passagem de um estado de potência para o outro (Sawaia, 2006). Nessa perspectiva, o afeto promove a passagem da heteronomia passiva à autonomia corporal e intelectual. Filogênese e Ontogênese do sentido: A mediação semiótica e a internalização das funções psicológicas superiores Vygotsky ressalta a mediação entre o método materialista histórico dialético e os fenômenos psíquicos. Conforme essa concepção, o homem apreende o mundo a sua volta através da consciência. Esse processo ocorre pela mediação de signos (mediação semiótica), que capacitam o homem a interpretar, significar a realidade e dar sentido a ela. Segundo Sousa & Sousa (2009), a mediação semiótica da realidade acontece por meio de signos que são construídos pelo homem em sua relação com seus semelhantes a partir de suas emoções e ações, no contexto de sua cultura. A realidade passa a ser conceituada e reconhecida a partir de
  • 24. 17 significações, e tanto os significados quanto os sentidos se modificam e se enriquecem a partir dos contextos em que constituem. Para compreender a categoria sentido é necessário entendê-la a partir de sua filogênese (história da espécie) e da ontogênese (história do grupo cultural). Segundo Pino (2006, p. 54), Vygotsky pretende mostrar a relação dialética que “une e separa ao mesmo tempo a ordem biológica e a ordem cultural/simbólica do ser humano”. Para isso, o autor russo utiliza o conceito de medição semiótica, conceito central em sua obra, inspirado na teoria marxiana. O termo mediação, como define Pino (1991), refere-se a toda intervenção de um terceiro elemento que possibilita a interação entre os termos de uma relação. Na psicologia sócio-histórica, o termo é utilizado para designar a função dos sistemas de signos na comunicação entre os homens e na construção de um universo sociocultural. Essa mediação dos sistemas de signos é chamada mediação semiótica. Seu uso por parte dos homens permite transformar e conhecer o mundo, comunicar suas experiências e desenvolver novas funções psicológicas. Signos são “instrumentos psicológicos” que controlam as ações psicológicas do indivíduo ou de outras pessoas. São interpretáveis como representações da realidade e podem referir-se a elementos ausentes do espaço e do tempo presentes, representando ou expressando outros objetos, eventos, situações (Oliveira, 1995). Como explica Oliveira (1995), o que torna o homem diferente das outras espécies animais é o trabalho – que propicia o desenvolvimento da atividade coletiva, possibilitando a emergência das relações sociais, da cultura, da história
  • 25. 18 humana e também da criação e utilização de instrumentos. Existem no mundo animal “sistemas sinalíticos” pelos quais são transmitidos informações. Entretanto, com o início da caça pelos ancestrais do homem, entra-se no estado da cultura. Isso acontece por causa das novas habilidades que a caça requer do homem (instrumentos, cooperação social, organização, sistema de comunicação). As pistas de caça são os precursores dos signos (Pino, 1991). Vygotsky compreende que a ação transformadora entre o homem e a natureza realizada por meio do trabalho se sofistica a partir do momento em que o homem passa a utilizar instrumentos e signos como formas de mediação. A invenção e o uso de signos para solucionar um problema (lembrar, comparar, relatar, escolher) são análogos à invenção do uso de instrumentos de trabalho, só que no campo psicológico. Tanto o signo quanto o instrumento têm uma função mediadora (Vygotsky, 2007). Para demonstrar isso, Pino (2006) fala sobre o fenômeno da imagem, que permite ao homem captar a realidade externa tornando-a experiência interna. O que é captado são os sinais físicos e químicos que a realidade emite/reflete, que são processados pelo cérebro e dão origem à imagem sensorial. A imagem não tem apenas a esfera biológica, mas também é um processo simbólico em que a significação permite recriar uma nova realidade externa semelhante à física. E é esse processo que nos interessa, já que ele proporciona ao ser humano, como mostra Pino (2006), o processo de criação. Toda produção cultural tem uma idéia ou significação, o que faz dela um objeto de conhecimento: o saber não está no objeto, mas no que o caracteriza. Essas características tornam-se presentes ao sujeito pela imagem que nele se faz
  • 26. 19 do objeto. O que define uma criação como cultural é a significação que ela tem para seu autor e que pode ser captada por outros humanos (Pino, 2006). Saber e fazer são atividades semióticas. As características do objeto (forma, figura, design, discursos, textos escritos, etc.) são componentes semióticos que permitem captar e interpretar a significação da obra – o que o autor quis fazer ou dizer (Pino, 2006). Este processo de transformação permite ao homem passar do biológico ao cultural e social, ou seja, dos processos psicológicos inferiores aos superiores. (Namura, 1996). A função psicológica superior ou o comportamento superior é a combinação entre o instrumento e o signo na atividade psicológica. A operação com o uso de signos depende inicialmente dos signos externos. Ao desenvolver-se, a operação da atividade mediada (como a memorização) passa a ser um processo totalmente interno (Vygotsky, 2007). A internalização, segundo Vygotsky, é uma transformação da atividade que utiliza os signos para o desenvolvimento da inteligência prática, da atenção voluntária e da memória. A Psicologia sócio-histórica concebe o psiquismo humano como uma construção social decorrente do processo de interiorização das funções psíquicas desenvolvidas ao longo da história social dos homens (Pino, 1991). O ser humano, em seu processo de hominização, tem que reconstituir quando criança aquilo que já é aquisição da espécie. Como esclarece Oliveira (1995), o uso de signos como marcas externas vão se transformar em processos internos de mediação, o que Vygotsky chama de internalização. Por meio desses processos, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas, o que é essencial para o desenvolvimento dos processos mentais
  • 27. 20 superiores e evidencia a importância das relações sociais entre indivíduos na construção dos processos psicológicos. Esses princípios sustentam o desenvolvimento psíquico do sujeito por meio das interações sociais, portanto as funções psíquicas humanas têm sua origem nos processos sociais. São decorrentes dos processos de interiorização, das significações e da objetivação – comportamento verbal ou uma ação que expressa os significados das coisas e produz novas significações porque ocorre na interação social -, formas de mediação especificamente humanas. É pela mediação dos signos que a criança incorpora-se progressivamente à comunidade humana, internalizando sua cultura e tornando-se um indivíduo social, humanizado (Pino, 1991). Internalização, como explica Namura (1996), é a reconstrução interna de uma operação externa, utilizando o exemplo de Vygotsky sobre o gesto de apontar da criança – um processo interpessoal transformado em intrapessoal. Pino descreve o processo de internalização como um processo de significação da ação e dos objetos, portanto um processo de natureza semiótica. Pensamento e Linguagem, Significação e Sentido A linguagem é o centro das investigações de Vygotsky. Como mostra Namura (1996), a linguagem é constituidora do sujeito. Pensamento e linguagem se inter-relacionam em um processo dinâmico de conexão através do significado da palavra. A linguagem é uma mediação semiótica entre os signos das palavras. E é
  • 28. 21 através da linguagem que pode existir a relação com os outros – produzindo significados. O desenvolvimento da significação e do sentido pelo homem ocorre com a aquisição da linguagem. Vygotsky (2005) apresenta o significado das palavras como um fenômeno do pensamento verbal ou da fala significativa – uma união da palavra e do pensamento. Para Vygotsky (2005, p. 152), “Não é simplesmente o conteúdo de uma palavra que se altera, mas o modo pelo qual a realidade é generalizada e refletida em uma palavra”. Ou seja, a própria estrutura do significado e a sua natureza psicológica também mudam ao longo da evolução histórica da linguagem. Para Vygotsky, todo pensamento é uma generalização e passa a existir por meio das palavras. “O pensamento passa por muitas transformações até transformar-se em fala. Não é só expressão que encontra na fala, encontra a realidade e a sua forma.” (2005, p 158). Entendemos que o pensamento expresso na palavra é uma generalização da realidade. Vygotsky (2005) ainda afirma que o significado das palavras evolui. Portanto, Namura (1996) esclarece que a alteração do significado das palavras se processa para além do seu conteúdo porque traduz e reflete a realidade em constante movimento, lembrando que a realidade se altera conforme as condições de produção da realidade social, na história do homem e suas práticas sociais. Da mesma forma, Sousa & Sousa (2009) explicam que o homem e sua cultura são resultado do desenvolvimento da capacidade de significar. Vimos anteriormente que, por meio da mediação semiótica, o sujeito se apropria não da
  • 29. 22 realidade em si mesma, mas da significação da realidade e que a significação não é algo pronto a ser captado e internalizado através dos signos, mas sim objeto de re- elaboração em função das condições históricas próprias a cada pessoa ou grupo. A significação é o fio condutor de todas as funções psíquicas com a função de interligar as funções psicológicas, sempre produzindo mudanças e transformações dos processos psíquicos (Namura, 1996). A constituição do sujeito acontece nas e pelas relações com os sujeitos que compartilham dos significados socialmente estabelecidos e, por uma série de experiências e vivências, o sujeito é também capaz de interpretar e significar suas próprias ações, seus sentimentos e seus pensamentos – daí a relação entre significado e sentido: O sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é apenas umas das zonas de sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes, altera o seu sentido. (Vygotsky, 2005, p.181). Segundo Vygotsky (2005), tanto os significados quanto os sentidos são dinâmicos, pois ambos se modificam e se enriquecem a partir dos contextos em que se constituem. Entretanto, os significados diferenciam-se dos sentidos por serem coletivizados. Esses estão presentes nas diversas formas na subjetividade e nas relações sociais, por exemplo nas ideologias compartilhadas por um grupo ou uma comunidade. Os significados têm dimensões universais como representações, crenças e ideologias e têm também sentidos singulares. (Sousa & Sousa, 2009)
  • 30. 23 Conclui Namura (1996) que as significações se concretizam nas relações entre os sujeitos e transitam nas diferentes dimensões desses sujeitos, perpassando o pensar, o agir, o criar, o falar, o sentir, o realizar, o desejar, impulsionando novas conexões na estrutura da consciência. Os sentimentos, as vivências e as experiências humanas se interpõem aos significados, constituindo os sentidos, processo que se constitui na consciência humana. Em síntese, os significados das palavras são reconstruídos nas relações sociais com as variações da experiência pessoal do sujeito nas interações sociais, isto é, possibilita a emergência do sentido nas relações dinâmicas entre significado e sentido e da consciência, mediada semioticamente (Sousa & Sousa, 2009). Conforme Aguiar & Ozella (2006), Vygotsky concebe o homem como constituído na e pela atividade, revelando em sua existência e em todas as suas expressões a sua singularidade: o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos. Ao apreender as mediações sociais constitutivas do sujeito é possível sair da aparência (imediato) e ir à busca do processo (sentido). Segundo esses autores, significado e sentido são constituídos pela unidade contraditória do simbólico e do emocional. Os significados contêm mais do que aparentam, e por meio de um trabalho de análise e interpretação caminha-se para as zonas de sentido, nas quais ocorre a articulação dos eventos psicológicos que o sujeito produz frente a uma realidade. A categoria sentido exprime a singularidade historicamente construída e é um ato do homem mediado socialmente. Berger & Luckmann (2005), também influenciados pela teoria marxista, concebem o sentido e a significância como motivadores do agir humano e afirmam
  • 31. 24 que por meio dessas categorias é possível compreender a suposta crise da modernidade. Esses autores, ao fazerem algumas considerações antropológicas sobre a significância da vida humana, explicam que “o sentido se constitui na consciência humana”. No entanto, a consciência tomada em si não é nada: a consciência existe somente quando há um objeto intencional, que é constituído pela síntese na consciência das percepções, memórias ou imaginações. Essas afirmações nos remetem a Vygotsky, que nos explica a base afetivo-volitiva do pensamento. Ou seja, para entender o pensamento de uma pessoa é necessário entender sua base afetivo-volitiva: O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. (...) Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva (Vygotsky, 2005, p.187). Conclui-se que, para apreender os sentidos do sujeito, é preciso apreender suas necessidades, seus motivos, seus afetos e suas emoções, que são configuradas a partir das relações sociais como um processo único, singular, subjetivo e histórico. Ou seja, o sentido se configura na consciência humana, e são os motivos, as necessidades e os interesses (base afetivo-volitiva) que orientam o pensamento do homem. E essa base afetivo-volitiva é constituída a partir das relações sociais, das ações dos homens no seu cotidiano. Berger & Luckmann (2005) apresentam uma posição semelhante à vygotskiana. Para esses autores, por meio das vivências do sujeito pode surgir o sentido, depois que essas vivências se tornam experiências delineadas. “Sentido é a
  • 32. 25 consciência de que existe uma relação entre as experiências.” (p.15). Dessa afirmação podemos apreender que sentido é a relação da experiência atual com as experiências passadas, que são armazenadas no conhecimento subjetivo. Entretanto, se é nas vivências puramente subjetivas de uma pessoa que se constitui o sentido, Berger & Luckmann (2005) mostram que para haver uma estrutura mais complexa do sentido subjetivo é necessária uma objetivação do sentido subjetivo no agir social. É nas diferentes dimensões de sentido que se constrói a significância complexa do agir social e das relações sociais. A constituição do sentido na consciência do indivíduo não trata de um sujeito isolado. A identidade pessoal do indivíduo se forma nas múltiplas sucessões do agir social da vida cotidiana (Berger & Luckmann, 2005). Há também um acervo social de conhecimentos (elementos de sentido modelados historicamente nas vertentes mais antigas do agir social – tradições) de onde são tomados componentes para o acervo subjetivo de conhecimento. Os problemas de um indivíduo podem ser objetivados e tornados acessíveis a outros de diversas formas, sobretudo na linguagem (Berger & Luckmann, 2005).
  • 33. 26 CAPÍTULO 2 – CRISE DE SENTIDO E MÍDIA Como vimos anteriormente, a produção de sentido é um processo decorrente da internalização das funções psicológicas superiores do homem, cuja função principal é fazer a mediação do homem com a realidade. Sendo a produção de sentido uma forma de mediação semiótica com a realidade, questionamos neste capítulo a atuação da mídia perante a significação da realidade pelo homem. Para compreender a questão do sentido no contexto contemporâneo, é preciso considerar que as relações sociais em um movimento direcionado pelo individualismo exacerbado inerente ao pensamento liberal recriam as necessidades humanas e trazem uma concepção de indivíduo como resultado de sua própria vontade e de suas competências pessoais (Namura, 2003). Esse processo pode gerar uma crise de sentido, pois este se torna descolado da realidade e o que ocorre é a sua instrumentalização: por meio da tecno-ciência midiática, o sentido torna-se também midiático, “promovendo a idéia de que as relações reais e a realidade concreta e objetiva não têm sentido e, portanto, buscar o sentido da vida é simplesmente encontrar a interpretação que convém a cada um”, dissimulando que o sentido é explorado e depende dos meios de produção e de consumo (Namura, 2003, p. 16). A instituição dos órgãos de imprensa e da mídia aparece como principal manifestação dos meios de produção/consumo na atualidade, que passam a transmitir a idéia contraditória de que o sentido da vida deve ser alcançado no plano
  • 34. 27 individual. Podemos considerar os meios de comunicação em massa e os órgãos de imprensa instituições controladoras do sentido na contemporaneidade. Entretanto, não se trata de uma criação da mídia, como apontam Berger e Luckmann (2005). A crise de sentido está na estrutura da sociedade. As instituições sociais (econômicas, políticas e religiosas) que têm por tarefa o reprocessamento social do sentido e como função principal o controle da produção e transmissão de sentido existiram em quase todas as sociedades. Essas instituições realizam o reprocessamento social do sentido no qual o sentido objetivo é transmitido pelos acervos sociais do conhecimento que são colocados à disposição e comunicados pelas instituições. Esse processo tem como função principal o controle da produção e transmissão de sentido e acaba por moldar o agir do indivíduo, por meio da pressão das instituições para o acatamento do sentido transmitido. Assim, o sentido do agir e da vida é imposto como regra óbvia de conduta de vida, que a todos obriga, definindo as formas de relação social nas quais os desvios são tidos como desvios da norma (Berger & Luckmann, 2005). As instituições dos meios de comunicação de massa, desde a atividade editorial até a televisão, desempenham um papel chave na comunicação de sentido, conforme afirmam Berger & Luckmann (2005). A mídia atua como intermediária entre a experiência coletiva e a individual, “oferecendo interpretações típicas para problemas definidos como típicos” (p.68). Nas palavras de Berger & Luckmann: Tudo o que as outras instituições produzem em matéria de interpretações da realidade e de valores, os meios de comunicação selecionam, organizam (empacotam), transformam, na maioria das vezes no curso desse processo, e decidem sobre a forma de sua difusão (2005, p. 68).
  • 35. 28 Os meios de comunicação de massa obviamente são utilizados explicitamente por empresários de diferentes categorias para seus próprios fins, afirmam Berger & Luckmann (2005), esclarecendo que os conteúdos da comunicação de massa têm quase sempre uma carga moral, às vezes implícita, às vezes mais clara. Às vezes, são tematizados conscientemente aspectos morais da vida individual e da sociedade. Berger & Luckmann (2005) apontam a pluralização moderna como importante fator para a crise de sentido. O que caracteriza a pluralização moderna é o choque de diferentes ordens de valores e concepções de mundo em uma sociedade onde convivem diferentes formas de vida sem referência a uma ordem de valor comum. Isso acontece num contexto em que o crescimento populacional e a migração resultam no aumento das cidades, e a economia de mercado e a industrialização misturam pessoas dos mais diferentes tipos, forçando-as a chegar a um entendimento pacífico por meio do estado de direito e da democracia. A perda da autoevidência com a pluralização moderna traz questionamentos ao indivíduo no que se refere à orientação de sua vida. Berger & Luckmann (2005) mostram que se nas sociedades pré-modernas a vida social e a existência do indivíduo fluíam de acordo com as expectativas da sociedade, sem maiores questionamentos, graças à autoevidência do sentido; com o fenômeno do pluralismo moderno, o homem encontra-se desorientado. Mundo, sociedade, vida e identidade podem ser submetidos a várias interpretações, nenhuma delas inquestionavelmente corretas. A perda de autoevidência é um fenômeno global.
  • 36. 29 Quando a autoevidência é perdida, interpretações firmes da realidade tornam-se hipóteses. Ocorrem diversas mudanças na consciência, que criam a impressão de superficialidade. Nesse contexto, as instituições foram criadas para aliviar o indivíduo da necessidade de reinventar o mundo a cada dia e ter de se orientar dentro dele, fornecendo padrões para as pessoas orientarem seu comportamento (grifo meu). Com isso a pessoa aprende a cumprir as expectativas ligadas a certos papéis, como “casado”, “pai”, “consumidor”, etc. Dessa forma, o indivíduo cumpre os papéis atribuídos a ele pela sociedade na forma de esquemas institucionalizados de ação e conduz sua vida de forma pré-moldada socialmente e com alto grau de autoevidência. Então, podemos observar que as instituições tentam conservar a autoevidência, controlando os indivíduos. Entretanto, o pluralismo moderno dificulta isso, colocando sempre alternativas que obrigam à reflexão, abalando a autoevidência e obrigando o indivíduo a escolher a cada instante. Os meios de comunicação de massa exibem constantemente e com insistência uma pluralidade de modos de pensar e viver, já que desempenham um papel chave na comunicação do sentido. Berger & Luckmann (2005) apontam a passagem na sociedade moderna do destino para as possibilidades de escolha e para a compulsão de escolher: O pluralismo não só permite que escolhamos (profissão, esposo ou esposa, religião, partido), mas obriga a isto, assim como a oferta moderna de consumo obriga a decisões (sabão Minerva ou Omo, carro Volkswagen ou Renault). Já não é possível não escolher, pois é impossível fechar os olhos diante do fato de que uma decisão tomada poderia ter sido diferente. (2005, p.59).
  • 37. 30 Alguns autores pós-modernos, como Lipovetsky (2000), consideram a atual sociedade do consumo libertadora, inclusive a mídia, com suas capacidades emancipadoras. Esse autor considera que a comunicação e o consumo acentuam o individualismo. Entretanto, acredita que a sensação de solidão não resulta da mídia nem da tecnologia, mas sim da própria dimensão das cidades. Lipovetsky (2000) afirma que “o individualismo equivale ao desenvolvimento da emancipação” (p. 10), já que implica em tolerância, liberdade de escolha e comprometimento sem imposição, isto é, de menor regulamentação moral. Certamente, existem aqueles que suportam essas condições e seguem seu caminho. Entretanto, o que ocorre é uma moralização às avessas, ou seja, esta liberdade pode ser sentida como um peso para alguns indivíduos. Como esclarecem Berger & Luckmann (2005) ao dissertarem sobre o fenômeno do pluralismo, ao mesmo tempo que esse processo é sentido como libertação, como uma abertura de novas possibilidades de vida, é também sentido como um peso: uma exigência ao indivíduo para que abra sempre maior espaço para o novo e o desconhecido em sua realidade (Berger & Luckmann, 2005). Conforme Belloni (2003), a obra A sociedade do espetáculo de Guy Debord prenuncia o século XXI, sendo relevante para a compreensão das questões propostas por Berger & Luckmann (2005) no que se refere à implicação do fenômeno do pluralismo moderno na difusão de sentido através da mídia. Utilizando- se das categorias do marxismo hegeliano como alienação, falsa consciência, reificação, fetichismo da mercadoria, etc. para trazer idéias sobre a sociedade contemporânea, Debord (1997) esclarece que o que acontece na sociedade do espetáculo é o afastamento do mundo vivido em imagens que o representam. Isto é,
  • 38. 31 na sociedade contemporânea, a criação de um mundo de imagens automizadas escapa ao controle do homem, daí o conceito de espetáculo, uma inversão da vida assistida passivamente pelo sujeito moderno. O que acontece é a cisão entre imagem e realidade: a vida na sociedade do espetáculo torna-se fragmentada já que imagens foram destacadas de cada aspecto da vida, fundindo-se num fluxo comum, no qual a unidade dessa mesma vida já não pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente vira objeto de mera contemplação. Debord (1997), ao apresentar seu conceito da sociedade do espetáculo, compreende as mídias como as ferramentas mais importantes da alienação do sentido. O espetáculo é um fenômeno total, compreendido pela categoria da totalidade da dialética hegeliana. Nas palavras de Andrade (1999, p.16): “espetáculo é uma forma de relacionamento humano com os objetos exteriores em que ocorre uma contemplação, uma exposição de significados sem uma condição de experiência correspondente por parte dos espectadores”. Os meios de comunicação de massa são, conforme Debord (1997), “a manifestação superficial mais esmagadora do espetáculo” (p. 20). Não se trata apenas de uma simples e neutra instrumentação da sociedade. Como esclarece Belloni (2003), essa manifestação faz parte da totalidade do espetáculo sendo a forma mais espetacular da sociedade. Para Debord “a administração desta sociedade e todo o contato entre os homens já não se podem exercer senão por intermédio deste poder de comunicação instantâneo” (1997, p. 21). Compreendendo a mídia como a instituição social mais importante na difusão do sentido, o homem moderno passa a se identificar com as imagens transmitidas pelos meios de comunicação em massa. E dentre uma pluralidade de
  • 39. 32 imagens transmitidas, distante da realidade real e concreta, este homem sente-se desorientado. Debord (1997) esclarece que o espetáculo aparece nas mídias como um modelo socialmente dominante pela lógica da produção industrial e do consumo de massa ao afirmar que “o espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupou totalmente a vida social” (p. 30). Enfatiza Debord (1997) que o princípio do fetichismo da mercadoria se realiza no espetáculo, no qual o mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens que existe acima dele. No espetáculo, o mundo da mercadoria domina tudo o que é vivido e resulta no afastamento dos homens entre si e em relação a tudo que produzem. O consumo alienado torna-se para as massas um dever suplementar à produção alienada. O consumidor real torna-se consumidor de ilusões. A pseudonecessidade imposta pelo consumo moderno não pode ser contrastada a nenhuma necessidade ou desejo autêntico que não seja, ele mesmo, produzido pela sociedade e sua história. Como afirma Belloni (2003), Debord destacava a evolução histórica do conceito marxista de alienação: ao longo da história ocorre uma degradação do “ser” pré-moderno ao “ter” capitalista, da modernidade, para chegar ao “parecer” do espetáculo. No espetáculo o que ocorre é o empobrecimento da vida cotidiana: “Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação” (Debord, 1997, p. 13). Para esse autor, a base da sociedade existente é a alienação recíproca entre espetáculo e realidade. A realidade surge no espetáculo e o espetáculo é real. O espetáculo é uma afirmação da aparência e de toda vida social como simples aparência. Conforme Debord (1997), quando o mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico.
  • 40. 33 É importante salientar, como esclarece Chauí (2006), que a dimensão do espetáculo não foi criada pela comunicação de massa e o espetáculo não é um malefício para a cultura, pois é próprio da obra de pensamento e da obra de arte oferecerem-se e exporem-se ao pensamento, à sensibilidade e à imaginação de outrem para que lhes confira sentido e as prossiga. Para a autora, a questão não se coloca diretamente sobre os espetáculos, mas sobre o que sucede ao espetáculo quando capturado, produzido e enviado pelos meios de comunicação de massa. Afinal, Debord (1997) afirma que a cisão entre imagem e realidade faz o espetáculo aparecer como finalidade do modo de produção reinante, quando na verdade o espetáculo é muito mais que seu modo de funcionamento: o espetáculo é uma relação social mediatizada por imagens. Essa afirmação nos remete a Berger & Luckmann (2005), que consideram a crise de sentido na atualidade como resultante da estrutura da sociedade. Isto é, as interações sociais e a maneira como a sociedade contemporânea se organiza, com as instituições econômicas, políticas e religiosas transmitindo e difundindo o sentido por meio da mídia, mantêm o homem aprisionado quando obtém uma significação da realidade que não é a sua. Através dos meios de comunicação de massa, o espetáculo representa todos os aspectos importantes da vida dos quais os indivíduos estão separados e incapacitados de viver diretamente. “Sob todas as suas formas particulares – informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos -, o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade.” (Debord, 1997, p. 14). Abramo (2003) explica que a manipulação da informação pela mídia transforma-se em manipulação da realidade. A sociedade é cotidiana e sistematicamente colocada diante de uma realidade artificialmente criada pela
  • 41. 34 imprensa e que se contradiz dominando a realidade real que o sujeito vive e conhece. Fragmentado no leitor ou telespectador individual, o público só percebe a contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é protagonista e que, portanto, conhece. A realidade é assim captada por meio da imagem artificial e irreal da realidade criada pela imprensa e esta é a parte da realidade que o sujeito não percebe diretamente mas aprende por conhecimento. “A maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal.” (Abramo, 2003, p. 24). Nas sociedades existe uma estrutura histórica respectiva do reservatório social do sentido. Berger & Luckmann (2005) mostram que, no decorrer da história, a subjetividade de problemas experiência e ação que resultam nas objetivações do sentido tornaram-se intersubjetivamente recordáveis através da comunicação com os outros. Esses processos, quando controlados por instituições, fazem com que uma parte das objetivações consideradas significativas sejam destacadas enquanto outras são consideradas insignificantes e outras descartadas como inadequadas ou perigosas. Sistemas significativos são transmitidos para gerações futuras. Observa- se esse processo, visto que, nas sociedades, peritos especialmente escolados para isso exerceram a censura, a canonização, a sistematização e a pedagogização. Esses meios de reprocessamento do sentido podem ser observados também nas seleções que os órgãos de imprensa executam para direcionar as informações para o público espectador. É importante observar, como coloca Abramo (2003), que não é todo material que toda imprensa manipula sempre. Entretanto, observa-se a manipulação da informação exercida pelos órgãos de imprensa em
  • 42. 35 alguns padrões pelos quais se realiza a produção jornalística. Discutindo os padrões de manipulação na grande imprensa, Abramo (2003) explica que os órgãos de imprensa, ao manipular a informação, manipulam a realidade. O material oferecido ao público não reflete a realidade, mas tem relação indireta com a realidade, distorcendo-a. Esse fato é observado diariamente na imprensa, pois alguns assuntos quase nunca são tratados, enquanto outros aparecem quase todos os dias. Alguns segmentos sociais são vistos pela imprensa apenas sob alguns poucos ângulos, enquanto permanece na obscuridade toda a complexa riqueza de suas vidas e atividades. A realidade é assim dividida pela imprensa em realidade do campo do Bem e realidade do campo do Mal, e o público é induzido a acreditar que será assim eternamente, sem possibilidade de mudança. Na também chamada “sociedade do descarte”, a publicidade comercial propagada pela mídia passou a vender imagens e signos e não as próprias mercadorias. Segundo Chauí (2006), com a passagem da sociedade industrial para a pós-industrial, o poder da propaganda dependia da capacidade de manipular desejos do consumidor e até mesmo criar desejos nele. A propaganda passou a vender não o produto propriamente dito, mas os desejos que ele realizaria. Como escreve Chauí (2006), na televisão, imagens são produzidas e transmitidas para repetir sempre a mesma mensagem: “eu sou você”. No contexto midiático, “a imagem não é uma mediação, um signo que nos remete a uma realidade distinta de nós, mas instaura uma relação imediata conosco, e essa relação só pode ser imediata se é uma relação de identificação” (Chauí, 2006, p. 53). A televisão também é um bem selecionado para o reforço constante das condições de isolamento das “multidões solitárias”, como afirma Debord (1997).
  • 43. 36 Isto é, a mídia atua como um estímulo ao narcisismo, pois imagens são produzidas e transmitidas pela programação e pela propaganda para que ocorra identificação com os atores, âncoras de jornal, entrevistadores, etc. (Chauí, 2006). Ao dissertar sobre a atual “sociedade do espetáculo”, afirma Jappe (1997) que os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real. Têm de olhar para outros (estrelas, homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. O que acontece é uma alienação do sentido, como explica Debord (1997): quanto mais o espectador contempla, menos vive, e quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida, recupera-se no plano da imagem. (Jappe, 1997) Veiculando informações através de novelas, notícias, músicas, romances, jogos, etc., a mídia, assegura Chauí (2006, p. 49), transmite pelo rádio e pela televisão “o mundo inteiro em um instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade desprovida de raíz no espaço e no tempo.” A desinformação, continua Chauí (2006), é o resultado da maioria dos noticiários de rádio e televisão porque de modo geral, as notícias são apresentadas de maneira a impedir que o ouvinte e o espectador possam localizá-los no espaço e no tempo. Chauí (2006) exemplifica com as notícias sobre crimes, que os órgãos dos meios de comunicação de massa o fazem sem estabelecer qualquer relação entre a criminalidade e suas causas possíveis, como os problemas do crime organizado, os problemas postos pela economia e suas conseqüências sociais. Só é
  • 44. 37 transmitida a idéia de que criaturas más, saídas de parte nenhuma, estão postas a ameaçar a vida e os bens de cidadãos honestos e desprotegidos. O espectador se encontra em uma posição em que é incapaz de compreender o verdadeiro significado dos fatos noticiados, pois o que ocorre é uma saturação de informação que traz a ilusão de que fomos informados sobre tudo.
  • 45. 38 DISCUSSÃO FINAL Após um breve percurso na revisão de literatura pela trajetória intelectual de Vygotsky, foi possível compreender a visão de homem deste autor, cujo embasamento no materialismo histórico dialético de Marx e Engels e o interesse em decifrar o processo de criação do homem permitiram que Vygotsky trouxesse sua contribuição à Psicologia com o estudo da categoria sentido, tema deste trabalho. Para Vygotsky, o homem é um ser ativo e histórico, o que lhe permite constituir sua consciência (Aguiar, 2009). De acordo com a visão materialista histórica dialética da realidade, esta existe independentemente da existência da consciência. Entretanto, o sujeito se constitui não a partir da apropriação da realidade em si mesma, mas a partir da apropriação da significação da realidade (Namura, 1996), Esse processo implica a mediação semiótica da realidade. Dentro de seu contexto cultural, a mediação semiótica da realidade acontece por meio de signos que são construídos pelo homem na relação com seus semelhantes a partir de suas ações e emoções. A realidade passa a ser representada e reconhecida a partir de significações, e tanto os significados quanto os sentidos se modificam e se enriquecem a partir dos contextos em que se constituem (Sousa & Sousa, 2009). Isso implica que os significados são reconstruídos nas relações sociais com as variações da experiência pessoal do sujeito (seus sentimentos e suas vivências) nas interações sociais, possibilitando a emergência do sentido. As
  • 46. 39 relações dinâmicas entre significado e sentido, formadas a partir da apreensão da realidade, permitem a emergência da consciência. Portanto, o processo de produção de sentido transpõe o imediatismo e a aparência dos fenômenos sociais. O significado é compartilhado socialmente, já o sentido articula outros eventos psicológicos que o sujeito vive ou experimenta frente a uma realidade. As vivências dos sujeitos nas relações sociais promovem experiências, sentimentos e emoções que motivam o pensamento. Essa é a inserção da base afetivo-volitiva - as necessidades, os motivos, os afetos e as emoções do sujeito, que orientam o sujeito e constituem o sentido. Compreendida a questão da significação da realidade, podemos indagar a atuação da mídia nesse processo no contexto e no sujeito da modernidade contemporânea, já que, segundo Berger & Luckmann (2005), os meios de comunicação em massa são os principais difusores do reprocessamento, do controle, da produção e da transmissão de sentido que as instituições sociais imprimem no indivíduo contemporâneo. Vimos com Berger & Luckmann (2005) que a crise de sentido está na estrutura da sociedade e conforme Namura (2003) que as idéias, as estruturas sociais e as concepções ideológicas que dão sentido à vida podem se transformar, e essas mudanças nas relações sociais se inscrevem nas concepções vigentes de sentido. Portanto, é preciso identificar quais mudanças nas relações sociais contemporâneas se interpõem na produção de sentido, já que, a crise de sentido acomete o indivíduo na medida em que “as estruturas da sociedade tornam-se estruturas da consciência” por meio dos processos de socialização (Berger & Luckmann, 2005, p. 56).
  • 47. 40 O presente trabalho focaliza as relações midiáticas na contemporaneidade, coincidindo com a afirmação de Abramo (2003) de que a grande mídia oferece um material ao público que não reflete a realidade, mas tem relação indireta com ela, distorcendo-a. Esse fato acaba por direcionar o público a aceitar passivamente as informações, sem perspectiva de mudança. A distorção e a interferência da mídia na significação da realidade do homem moderno fazem dos meios de comunicação de massa o principal fator para alienação do sentido, como afirma Debord (1997). Ao retomar a visão vygotskyana que concebe a gênese e o desenvolvimento psíquico do homem através das interações sociais, é possível um olhar crítico no que se refere à produção de sentido no contexto midiático. O pressuposto de que o afeto decorrente dos encontros e das experiências nas interações sociais proporcionam a expansão da vida (Sawaia, 2006), possibilita a observação de que na atualidade as experiências que ocorrem nas relações sociais, promovendo a emergência de sentidos e o enriquecimento humano, são substituídas pelas relações midiáticas, que esvaziam o contato do sujeito com sua própria existência. O contexto midiático dificulta a expansão da vida, na medida em que o fenômeno da alienação do sentido esvazia a compreensão da própria existência do sujeito, que passa a contemplar e reconhecer-se nas imagens midiáticas. No contexto midiático, o sentido é transmitido e difundido pelos meios de comunicação em massa, incidindo no processo de significação da realidade, e esta é apresentada de maneira distorcida, de acordo com os interesses econômicos das instituições sociais, bombardeando o sujeito com informações sem que exista uma
  • 48. 41 experiência correspondente àquela difundida nas imagens midiáticas. Isso implica em uma produção de sentido que dificulta o processo emancipatório. Sabemos que a realidade existe independentemente da consciência. A consciência se forma a partir das significações da realidade, da práxis e dos signos processados pelo sujeito, produzindo sentido. O contato do sujeito com a realidade que a mídia transmite, uma realidade midiática e distorcida, resulta em um distanciamento do contato do sujeito com sua própria existência. No decorrer da pesquisa deparamo-nos com o pensamento de Lipovetsky. Sem o intuito de investigar a fundo sua obra, apresentamos brevemente no capítulo dois sua visão sobre a mídia em contraposição aos autores modernos até então estudados. Para Lipovetsky (2000) a mídia acentua o consumo e o individualismo e o autor considera esses aspectos emancipadores na medida em que implicam na tolerância e na liberdade de escolha com menor regulamentação moral. No livro A tela global, Lipovetsky & Serroy (2009) tratam especificamente do cinema e sua implicação em diversos tipos de mídia, particularmente das “telas”: do computador, dos videogames, da internet, do celular e das máquinas fotográficas. O que acontece segundo os autores é uma cinematografização do mundo feita da combinação do grande espetáculo, das celebridades e do divertimento. Essa afirmação evidencia nossa indagação inicial sobre a atuação da mídia e seu papel na banalização da vida, onde a lógica do lazer e do entretenimento substitui a cultura. Contudo, Lipovetsky & Serroy (2009) ao abordarem a questão do cinema afirmam que em todas as épocas de sua história não faltaram filmes convencionais e
  • 49. 42 de péssima qualidade, ao lado de produções autênticas, mas sempre menos numerosas obras-primas. A colocação desses autores é de que a produção de filmes medíocres, hiperespetaculares, com personagens uniformes não é novidade e não deve ocultar o desenvolvimento de um cinema inovador, personalizado, menos previsível. Em uma sociedade mais fragmentada, o cinema atual leva em conta problemas e temas outrora descartados ou tratados segundo estereótipos convencionais. Agora, estilos de vida mais heterogêneos como casais divorciados, idosos, solteiros, homossexuais, negros, deficientes, desviantes, etc., são tratados por eles mesmos. Em uma sociedade marcada pelo pluralismo, a mídia reproduz aquilo que está na estrutura da sociedade, exibindo constantemente e com insistência uma pluralidade de modos de pensar e viver. Na maioria das vezes os processos midiáticos afastam o sujeito na busca de uma interpretação para sua própria vida e não apontam possibilidades de transformação. Porém, Lipovetsky adverte para que não se reduza o contato do sujeito com a mídia à total passividade. Vimos com Andrade (1999) que no espetáculo o homem se relaciona com os objetos exteriores contemplando-os, mas sem existir uma condição de experiência correspondente por parte dos espectadores. Lipovetsky & Serroy (2009) não negam a existência de filmes hiperespetaculares difundidos pela mídia, mas apontam a existência de algumas obras que aproximam o sujeito de realidades antes não exploradas pela mídia. Nas palavras dos autores: “O que se anuncia é um cinema global fragmentado, pluri-identitário, multiculturalista. Afirmar que o cinema caiu em um conformismo padronizado é enunciar um clichê em que ele mesmo é conformista” (Lipovetsky & Serroy, 2009, p. 17).
  • 50. 43 Sem o intuito de “demonizar” a mídia ou repetir clichês, buscamos neste trabalho inicialmente compreender a categoria sentido. No contexto contemporâneo é impossível ignorar a implicação da mídia na produção de sentidos do homem. Como visto anteriormente, o sentido é uma categoria ou uma função psicológica superior que faz a mediação do homem com a realidade, com o mundo, com a vida e por isso a busca de sentido em tudo que nos rodeia. Não podemos ignorar o fato de que a mídia rodeia o homem por toda a parte na vida contemporânea, implicando assim na sua produção de sentido. Seja pela principal ferramenta da “sociedade do espetáculo” anunciada Debord (1997) ou pela “telas globais” que anuncia Lipovetsky (2009), buscamos nesse trabalho uma reflexão sobre a produção de sentidos do homem contemporâneo que se distancia do sentido de sua própria existência, emergido no contexto midiático. Se a teoria vygotskiana concebe a arte como um dos fenômenos constituintes do sujeito, afirmando que por meio dela o sujeito pode experimentar o sentido profundo da vida (Namura, 2003), apresentamos a proposta de Vygotsky com a Psicologia da Arte como uma retomada do homem no contexto da transformação. Vygotsky, sustentado no pensamento marxista, busca entender o homem como ser criativo e como construtor de sua cultura. Interessado principalmente na dramaturgia e na literatura, afirma que a arte enriquece a vida do indivíduo; a atividade criadora do homem é uma função vitalmente necessária, pela qual se manifestam todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica. Esse autor procura, com a Psicologia da Arte, estudar a síntese psicológica que os mecanismos da obra de arte provocam na construção do
  • 51. 44 sentido. Para ele, a reação estética e a catarse são processos psicológicos superiores que participam da constituição dos sentidos humanos. Ao estudar os processos de recepção da arte e suas implicações na produção de novos sentidos para o sujeito, Vygotsky definiu a Catarse como uma reorganização das funções psicológicas superiores, mediadas pelo sentimento e pela fantasia, impacto cognitivo e afetivo que se produz no sujeito (Sawaia, 2006). E a Reação Estética como uma reação especificamente humana em que a contradição suscita sentimentos opostos uns aos outros, provocando um “curto circuito” que aniquila esses sentimentos (Namura, 2003). Vygotsky afirma que “as nossas possibilidades superam a nossa atividade [...] e a criação cobre inteiramente o resíduo que fica entre as possibilidades e a realização, o potencial e o real em nossa vida” (2001, p. 337), por isso a importância de se estudar os processos de recepção da arte, que são vistos por esse autor como processos de repetição e recriação do ato criador. Para Vygotsky (2001), a arte constitui um “mecanismo biológico permanente e necessário de superação de excitações não realizadas na vida e é um acompanhante absolutamente inevitável da existência humana” (p. 338) Por isso a concepção de que a recepção da arte é uma atividade complexa do psiquismo humano, uma criação, produtora de novos sentidos. Ao compreender o processo de criação como “a necessidade mais profunda do nosso psiquismo em termos de sublimação de algumas espécies inferiores de energia” (Vygotsky, 2001, p. 337) é possível afirmar o potencial de expansão que a arte traz à vida do homem.
  • 52. 45 A arte atua diretamente na base afetivo-volitiva (necessidades, desejos, emoções e afetos do sujeito), proporcionando a produção de novos sentidos e enriquecendo a consciência do sujeito, ou seja, o sujeito caminha rumo à sua própria representação da realidade, enriquecendo a capacidade de refletir sobre sua existência ao se deparar com o estranhamento que a arte proporciona. Essa experiência implica em ressignificações do outro e de si próprio, suas necessidades e desejos, amplia o repertório de conhecimento sobre a realidade, revela intencionalidades, pois seja qual for o estado da arte, as mutações de forma e conteúdo que ela sofreu com o tempo, as leis da estética vygotskiana continuam produzindo o “curto circuito” que aniquila sentimentos opostos e instaura novos sentidos. Neste trabalho apresentamos questionamentos que apontam a necessidade da realização de estudos mais aprofundados sobre a produção de sentidos do homem contemporâneo. Por isso, destacamos a obra Psicologia da Arte como imprescindível para a compreensão da categoria sentido segundo o pensamento de Vygotsky. A partir do questionamento sobre a implicação da mídia na produção de sentidos do homem, frente à fragmentação da realidade em uma sociedade multiculturalista, destacamos também a importância do estudo da categoria sentido para a compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos.
  • 53. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, P. Padrões de manipulação na grande imprensa. 1ª Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. AGUIAR, W. M. J. Reflexões a partir da psicologia sócio-histórica sobre a categoria “consciência”. Cad. Pesquisa., São Paulo, n. 110, jul. 2000 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 15742000000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 5 Julho 2009 AGUIAR, W. M. J. & OZELLA, S. Núcleos de significação como instrumento para a apreensão da constituição dos sentidos. Psicol. cienc. prof. jun. 2006, vol.26, no.2, p.222-245. Disponível em: <http://pepsic.bvs- psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98932006000200006&lng=es&nrm=iso> Acesso em: 23 Setembro 2008 ANDRADE, T. Estética e Ética: Perspectivas de análise sobre fenômenos culturais contemporâneos. Humanitas, Campinas, v. 2, n. 1, p. 13-23, março 1999.
  • 54. 47 BELLONI, Maria Luiza. A formação na sociedade do espetáculo: gênese e atualidade do conceito. Rev. Bras. Educ. [online]. 2003, n.22, pp. 121-136. ISSN 1413-2478. BERGER, P. L. & LUCKMANN, T. Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do homem moderno. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BLANCK, G. “Vygotsky: O homem e sua causa”. In: MOLL, Luis C. Vygotsky e a educação. Porto Alegre: Artes Médicas,1996, pp. 31-55 BRENMAN, I. Através da vidraça da escola: formando novos leitores. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. BRITTO, R. M. A Prática da Linguagem Plástica em Sala de Aula: um Prisma da Abordagem Vygotskyana em Breve Análise. Disponível em: <http://www.arte.unb.br/anpap/britto.htm> Acesso em: 15 novembro 2007 CHAUÍ, M. Simulacro e Poder: uma análise da mídia. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.
  • 55. 48 DEBORD, G. A sociedade do espetáculo; comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto. Tradução de Estela dos Santos Abreu, 1997. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. JAPIASSU, R. O. V. Ensino do Teatro nas Séries iniciais da educação básica: A formação de conceitos sociais no jogo teatral. 1999. Dissertação (Mestrado em Artes) - Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. JAPIASSU, R. O. V. As artes e o desenvolvimento cultural do ser humano. Educação e Sociedade, ano XX, nº 69, Dezembro: 1999. JAPPE, A. A Sociedade do Espetáculo: Um dos principais libelos contra o capitalismo. Disponível em: <http://br.geocities.com/mcrost12/a_sociedade_do_espetaculo_0.htm> Acesso em: 02 agosto 2009.
  • 56. 49 LIPOVETSKY, G. Sedução, publicidade e pós-modernidade. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 12 jun. 2000 LIPOVETSKY, G. & SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Sulina: Porto Alegre, 2009. NAMURA, M. R. A interiorização do discurso da mudança e a constituição do sujeito gerente - uma análise psicossocial. 1996. Mestrado em Psicologia Social. PUC/SP. São Paulo, 1996. NAMURA, M. R. O Sentido do Sentido em Vygotsky: uma aproximação com a estética e a ontologia do ser social de Lukács. 2003. Doutorado em Psicologia Social PUC/SP, São Paulo, 2003. NAMURA, M. R. O aporte da estética na categoria sentido do pensamento de Vigotski. In: II Colóquio de Psicologia da Arte, 2007, São Paulo. Anais do II colóquio de psicologia da arte, 2007. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio- histórico. Scipione: São Paulo, 1995.
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