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FAMÍLIAS
CONTRA
a violência O RELÓGIO
que
ataca a família

Maiores jornadas de trabalho
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Como as igrejas encaram os crescentes tempode convívio familiar
o casos do
agressão contra mulheres, crianças e idosos?
OlharCristão • nov/dez/2013

1
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OlharCristão • nov/dez/2013
FAMÍLIA

Quando a violência
está dentro de casa
cRESCIMENTODOSCASOSDEAGRESSÕESFÍSICASEPSICOLÓGICASNOAMBIENTEDOMÉSTICOPREOCUPA
IGREJASEOESTADO.SEQUELASEMOCIONAISDA
VIOLÊNCIANOLARcomprometemorelacionamento
emsociedadedasvítimasepromovemcicatrizesparaassuasfuturasfamílias.

RAFAEL DANTAS

As agressões que acontecem dentro
do lar estão entre os casos de violência que mais marcam o ser humano e
destroem o núcleo familiar. Longe dos
olhares da sociedade e dentro do ambiente que deveria ser de proteção e
aconchego, os casos de ofensas, abusos e opressões são comuns e de difícil
tratamento. E as feridas geradas por
essa realidade – que também acontece
no meio de famílias cristãs – tem uma
grande possibilidade de se perpetuarem por gerações.

A

cada ano casos extremos de
violência doméstica comovem
o país. A exposição do assassinato do casal Richthofen
pela própria filha ou a morte de Isabela
Nardoni são marcas difíceis de sair da
memória. Em Pernambuco, um dos fatos que ganhou notoriedade dentro do
meio evangélico foi o assassinato do bispo Robinson Cavalcanti e de sua esposa
Miriam Cavalcanti , no ano passado, pelo
filho adotivo. Mas se essas são situações

extremas de afronta a vida, milhares de
casos silenciosos martirizam inúmeras
pessoas diariamente - em sua maioria
mulheres, crianças e idosos.
“A violência existe desde sempre. O
caso relatado na bíblia de Caim e Abel é
violência doméstica. Isso é o resultado da
condição caída do homem que se afastou de Deus. Em segundo lugar, é fruto
de uma cultura pós-moderna repleta de
conflitos de papéis e valores”, declara o
professor do departamento de psicologia da Unicap e padre da Igreja Ortodoxa
Sérvia, Alex Peña-Afaro. No cenário familiar ele ressalta o conflito entre gerações
e o de direção do lar, entre os esposos,
como os mais recorrentes.
Além de muito destrutivos, os casos
de violência são bastante numerosos. O
Recife, por exemplo, ocupa a sexta posição
no ranking das capitais que mais matam
mulheres, com uma taxa de homicídios de
7,6 a cada 100 mil por ano. Entre os idosos
que vivem em Pernambuco, até setembro
deste ano já foram registrados mais de 1,8
mil casos de violência, 25% a mais que no

mesmo período do ano passado.
Entre as tensões não resolvidas dos
relacionamentos familiares, além da
agressão física, brotam a violência emocional, psicológica, social, sexual, entre
outros tipos que em geral não deixam
marcas na pele e são bem pouco registrados. “São violências camufladas. Vemos apenas a ponta do iceberg”, diz o
psicólogo Francisco Dias, que é pastor da
Igreja Batista em Campo Grande e vice-presidente da Convenção Batista de Pernambuco.
Independente do seu formato, na
opinião dos especialistas, há um caráter
hereditário nas vítimas de violência doméstica. São potenciais agressores de
suas futuras famílias. Sendo assim, a violência ultrapassa o agredido, destruindo
todos os integrantes do núcleo familiar,
extrapolando a geração da vítima inicial.
“Funciona como uma maldição hereditária. O que não foi resolvido na infância
ou adolescência, desencadeia em algum
momento na família. A ferida que foi
aberta fica no inconsciente como uma
OlharCristão • nov/dez/2013

9
{

VÓS maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo
amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.

Efésios 5:25

bomba relógio. O ciclo não acaba até que
se busque uma cura para o problema”,
afirma Francisco Dias. O pastor lembra
que o ser humano é corpo, alma e espírito, sendo necessário em vários casos o
tratamento multidisciplinar.
Moradora de Olinda, Karina de Souza,
26, foi vítima de agressões físicas quando
criança. As suas memórias da violência
sofrida pelas mãos da mãe remontam
aos sete anos de idade. “Minha mãe batia
em mim e nos outros filhos antes e depois de beber. Ela dizia que nos odiava.
Batia em todos, quebrava as janelas e
jogava as crianças em cima dos vidros.
Minha infância foi muito difícil”, lembra.
Além de apanhar, ela se recorda das
ordens da mãe para que ela vendesse o
leite que ganhavam de pessoas caridosas para pagar a bebida. O drama de Karina foi amenizado quando a avó a adotou, por volta dos 9 anos. Ainda assim, já
morando na casa da avó, ouviu ameaças
de morte da sua genitora.
Na adolescência, ela apostou todas

as fichas num relacionamento com um
rapaz, que resultou numa gravidez, mas
não em um casamento. Hoje, como mãe,
ela procura oferecer à filha, Sophia, 4
anos, o contrário do que recebeu. “Acho
que amadureci com a vida e principalmente com a experiência materna. Evito
de todas as formas bater ou xingá-la, que
foi o que eu vivi quando tinha a idade
dela. Tento dar o carinho que não recebi”,
afirma Karina, que em seus momentos
de entristecimento com as dores do passado se refugiou em igrejas de pessoas
amigas para obter algum conforto.

FAMÍLIAS CRISTÃS
E as feridas feitas pela violência doméstica também são abertas no seio das famílias cristãs. Em estudo realizado pela
mestra em ciência das religiões Valéria
Cristina Vilhena, as agressões contra as
mulheres evangélicas merecem uma
atenção especial da Igreja. “Mulheres
evangélicas sofrem violência doméstica,
inclusive de esposos que estão nas igre-

Karina Souza sofreu
agressões na infância
e hoje educa Sophia
com outros princípios
10

OlharCristão • nov/dez/2013

jas. E sem dúvida os cultos falam pouco
sobre esse fenômeno social mundial. As
mulheres não estão isentas da violência
doméstica por sua fé. Isso precisa ser
dito. Assim como a Igreja não está isenta da sociedade por ser Igreja”, afirma a
pesquisadora.
Para Vilhena, a cultura da sociedade brasileira, reprodutora do machismo
e responsável pela violência contra as
mulheres, infelizmente também perpassa pelos conceitos e valores das famílias
cristãs. “Somos igreja ao mesmo tempo
em que somos ou deveríamos ser cidadãos em direitos e deveres. Logo também as mazelas sociais não estão fora de
nós. Somos cristãos, evangélicos, cidadãos brasileiros, educados sob uma mesma cultura patriarcal”, afirma a pesquisadora, que também é autora dos livros
Uma igreja sem Voz e Pentecostalismos e
Transformações Sociais.
Carolina (nome fictício), 28, já sofreu bastante com agressões do marido.
Dona de casa e mãe de duas crianças,
não enxergava muitas alternativas para
acabar com o sofrimento. O drama da
violência começou a mudar quando o
cônjuge se converteu a uma Igreja protestante da periferia do Recife e abandonou a bebida. “Foi um alívio. Fiquei muito
feliz e também o segui na sua caminhada
na Igreja e nos cultos”, diz.
Apesar do novo começo da família,
ela afirma que mesmo após a conversão,
a violência moral e psicológica não acabou por inteiro. Mas, já convertida e mais
decidida a dar um basta no dilema familiar, ela passou a ser mais firme. “Quando
as agressões voltaram a acontecer eu
falei sério com ele. Não admito que os
meus filhos presenciem mais isso e disse
a ele que é preciso viver uma nova vida.
Sei que nem tudo muda do dia para a
noite, mas é preciso enterrar o velho homem”, diz a jovem mãe que se mantém
em oração pela saúde do relacionamento familiar.
Para Alex Peña-Afaro, é necessário
compreender a conversão como o início
de uma caminhada de transformação do
comportamento do ser humano, que precisa ser modificado diariamente. "Temos
que aceitar nossas cruzes, entender que a
E vós pais, não provoqueis a ira aos vossos filhos, mas criai-os
na disciplina e instrução do Senhor.

efésios 6:4

}

Família Oliveira
mudou hábitos da
casa para garantir
mais tempo junta.

conversão a Jesus é um ponto de partida,
não de chegada. Ninguém é cristão instantaneamente. Ser cristão é olhar para os
nossos pecados e ter humildade para reconhecer que não somos perfeitos", declara.
Na análise da assistente social Camila
Rebeca, conveniada ao Instituto Solidare,
as famílias cristãs têm uma grande dificuldade de enfrentar os casos de violência
doméstica, principalmente se for necessária a denúncia do agressor. “As famílias
cristãs enfrentam um conflito quando
vivem uma situação de violência doméstica. Afinal o que Deus quer? Consentir,
se calar? A busca pelo perdão dos agressores. A Igreja deve abraçar mais essas vítimas, Deus certamente não é conivente
quando essas coisas acontecem”, declara.

TRATANDO O PROBLEMA
Se por um lado os pesquisadores concordam que os conceitos sociais que fundamentam a violência doméstica estão
presentes nas famílias cristãs, por outro,
também acreditam que a Igreja tem um
papel relevante para o combate a esse mal
social. “As Igrejas têm um papel fundamen-

A casa é mais
permeável à igreja
do que ao estado.
REALIDADE QUE
desafia a igreja
a ser mais ATIVA
NO COMBATE à
violência.

tal no combate à violência doméstica. A
casa é mais permeável à Igreja do que ao
Estado. É mais fácil um pastor ou pastora
saber que existe uma situação de violência
dentro de uma casa do que um delegado,
pois de certa forma a Igreja é extensão da
casa. As pessoas que vivem a violência se
sentem menos constrangidas de falar sobre isso para os líderes de sua comunidade
religiosa, pois esta se apresenta como uma
grande família da fé. Isso por si só desafia
a Igreja a ser mais ativa na luta contra esse
tipo de violência”, declara Sandra Duarte,
professora e coordenadora da área de Religião, Sociedade e Cultura do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Religião da
Faculdade Metodista de São Paulo.
Para Sandra Duarte, o primeiro passo para que as Igrejas tenham um papel
relevante no combate à violência doméstica é admitir que sua membresia não
está imune a esse tipo de ocorrência. “Há
mulheres, crianças e idosos de suas Igrejas que estão vivendo sob risco em suas
próprias casas, e o cuidado da Igreja pode
fazer a diferença entre a vida e a morte”,
diz Sandra Duarte.
OlharCristão • nov/dez/2013 11

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  • 3. FAMÍLIA Quando a violência está dentro de casa cRESCIMENTODOSCASOSDEAGRESSÕESFÍSICASEPSICOLÓGICASNOAMBIENTEDOMÉSTICOPREOCUPA IGREJASEOESTADO.SEQUELASEMOCIONAISDA VIOLÊNCIANOLARcomprometemorelacionamento emsociedadedasvítimasepromovemcicatrizesparaassuasfuturasfamílias. RAFAEL DANTAS As agressões que acontecem dentro do lar estão entre os casos de violência que mais marcam o ser humano e destroem o núcleo familiar. Longe dos olhares da sociedade e dentro do ambiente que deveria ser de proteção e aconchego, os casos de ofensas, abusos e opressões são comuns e de difícil tratamento. E as feridas geradas por essa realidade – que também acontece no meio de famílias cristãs – tem uma grande possibilidade de se perpetuarem por gerações. A cada ano casos extremos de violência doméstica comovem o país. A exposição do assassinato do casal Richthofen pela própria filha ou a morte de Isabela Nardoni são marcas difíceis de sair da memória. Em Pernambuco, um dos fatos que ganhou notoriedade dentro do meio evangélico foi o assassinato do bispo Robinson Cavalcanti e de sua esposa Miriam Cavalcanti , no ano passado, pelo filho adotivo. Mas se essas são situações extremas de afronta a vida, milhares de casos silenciosos martirizam inúmeras pessoas diariamente - em sua maioria mulheres, crianças e idosos. “A violência existe desde sempre. O caso relatado na bíblia de Caim e Abel é violência doméstica. Isso é o resultado da condição caída do homem que se afastou de Deus. Em segundo lugar, é fruto de uma cultura pós-moderna repleta de conflitos de papéis e valores”, declara o professor do departamento de psicologia da Unicap e padre da Igreja Ortodoxa Sérvia, Alex Peña-Afaro. No cenário familiar ele ressalta o conflito entre gerações e o de direção do lar, entre os esposos, como os mais recorrentes. Além de muito destrutivos, os casos de violência são bastante numerosos. O Recife, por exemplo, ocupa a sexta posição no ranking das capitais que mais matam mulheres, com uma taxa de homicídios de 7,6 a cada 100 mil por ano. Entre os idosos que vivem em Pernambuco, até setembro deste ano já foram registrados mais de 1,8 mil casos de violência, 25% a mais que no mesmo período do ano passado. Entre as tensões não resolvidas dos relacionamentos familiares, além da agressão física, brotam a violência emocional, psicológica, social, sexual, entre outros tipos que em geral não deixam marcas na pele e são bem pouco registrados. “São violências camufladas. Vemos apenas a ponta do iceberg”, diz o psicólogo Francisco Dias, que é pastor da Igreja Batista em Campo Grande e vice-presidente da Convenção Batista de Pernambuco. Independente do seu formato, na opinião dos especialistas, há um caráter hereditário nas vítimas de violência doméstica. São potenciais agressores de suas futuras famílias. Sendo assim, a violência ultrapassa o agredido, destruindo todos os integrantes do núcleo familiar, extrapolando a geração da vítima inicial. “Funciona como uma maldição hereditária. O que não foi resolvido na infância ou adolescência, desencadeia em algum momento na família. A ferida que foi aberta fica no inconsciente como uma OlharCristão • nov/dez/2013 9
  • 4. { VÓS maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela. Efésios 5:25 bomba relógio. O ciclo não acaba até que se busque uma cura para o problema”, afirma Francisco Dias. O pastor lembra que o ser humano é corpo, alma e espírito, sendo necessário em vários casos o tratamento multidisciplinar. Moradora de Olinda, Karina de Souza, 26, foi vítima de agressões físicas quando criança. As suas memórias da violência sofrida pelas mãos da mãe remontam aos sete anos de idade. “Minha mãe batia em mim e nos outros filhos antes e depois de beber. Ela dizia que nos odiava. Batia em todos, quebrava as janelas e jogava as crianças em cima dos vidros. Minha infância foi muito difícil”, lembra. Além de apanhar, ela se recorda das ordens da mãe para que ela vendesse o leite que ganhavam de pessoas caridosas para pagar a bebida. O drama de Karina foi amenizado quando a avó a adotou, por volta dos 9 anos. Ainda assim, já morando na casa da avó, ouviu ameaças de morte da sua genitora. Na adolescência, ela apostou todas as fichas num relacionamento com um rapaz, que resultou numa gravidez, mas não em um casamento. Hoje, como mãe, ela procura oferecer à filha, Sophia, 4 anos, o contrário do que recebeu. “Acho que amadureci com a vida e principalmente com a experiência materna. Evito de todas as formas bater ou xingá-la, que foi o que eu vivi quando tinha a idade dela. Tento dar o carinho que não recebi”, afirma Karina, que em seus momentos de entristecimento com as dores do passado se refugiou em igrejas de pessoas amigas para obter algum conforto. FAMÍLIAS CRISTÃS E as feridas feitas pela violência doméstica também são abertas no seio das famílias cristãs. Em estudo realizado pela mestra em ciência das religiões Valéria Cristina Vilhena, as agressões contra as mulheres evangélicas merecem uma atenção especial da Igreja. “Mulheres evangélicas sofrem violência doméstica, inclusive de esposos que estão nas igre- Karina Souza sofreu agressões na infância e hoje educa Sophia com outros princípios 10 OlharCristão • nov/dez/2013 jas. E sem dúvida os cultos falam pouco sobre esse fenômeno social mundial. As mulheres não estão isentas da violência doméstica por sua fé. Isso precisa ser dito. Assim como a Igreja não está isenta da sociedade por ser Igreja”, afirma a pesquisadora. Para Vilhena, a cultura da sociedade brasileira, reprodutora do machismo e responsável pela violência contra as mulheres, infelizmente também perpassa pelos conceitos e valores das famílias cristãs. “Somos igreja ao mesmo tempo em que somos ou deveríamos ser cidadãos em direitos e deveres. Logo também as mazelas sociais não estão fora de nós. Somos cristãos, evangélicos, cidadãos brasileiros, educados sob uma mesma cultura patriarcal”, afirma a pesquisadora, que também é autora dos livros Uma igreja sem Voz e Pentecostalismos e Transformações Sociais. Carolina (nome fictício), 28, já sofreu bastante com agressões do marido. Dona de casa e mãe de duas crianças, não enxergava muitas alternativas para acabar com o sofrimento. O drama da violência começou a mudar quando o cônjuge se converteu a uma Igreja protestante da periferia do Recife e abandonou a bebida. “Foi um alívio. Fiquei muito feliz e também o segui na sua caminhada na Igreja e nos cultos”, diz. Apesar do novo começo da família, ela afirma que mesmo após a conversão, a violência moral e psicológica não acabou por inteiro. Mas, já convertida e mais decidida a dar um basta no dilema familiar, ela passou a ser mais firme. “Quando as agressões voltaram a acontecer eu falei sério com ele. Não admito que os meus filhos presenciem mais isso e disse a ele que é preciso viver uma nova vida. Sei que nem tudo muda do dia para a noite, mas é preciso enterrar o velho homem”, diz a jovem mãe que se mantém em oração pela saúde do relacionamento familiar. Para Alex Peña-Afaro, é necessário compreender a conversão como o início de uma caminhada de transformação do comportamento do ser humano, que precisa ser modificado diariamente. "Temos que aceitar nossas cruzes, entender que a
  • 5. E vós pais, não provoqueis a ira aos vossos filhos, mas criai-os na disciplina e instrução do Senhor. efésios 6:4 } Família Oliveira mudou hábitos da casa para garantir mais tempo junta. conversão a Jesus é um ponto de partida, não de chegada. Ninguém é cristão instantaneamente. Ser cristão é olhar para os nossos pecados e ter humildade para reconhecer que não somos perfeitos", declara. Na análise da assistente social Camila Rebeca, conveniada ao Instituto Solidare, as famílias cristãs têm uma grande dificuldade de enfrentar os casos de violência doméstica, principalmente se for necessária a denúncia do agressor. “As famílias cristãs enfrentam um conflito quando vivem uma situação de violência doméstica. Afinal o que Deus quer? Consentir, se calar? A busca pelo perdão dos agressores. A Igreja deve abraçar mais essas vítimas, Deus certamente não é conivente quando essas coisas acontecem”, declara. TRATANDO O PROBLEMA Se por um lado os pesquisadores concordam que os conceitos sociais que fundamentam a violência doméstica estão presentes nas famílias cristãs, por outro, também acreditam que a Igreja tem um papel relevante para o combate a esse mal social. “As Igrejas têm um papel fundamen- A casa é mais permeável à igreja do que ao estado. REALIDADE QUE desafia a igreja a ser mais ATIVA NO COMBATE à violência. tal no combate à violência doméstica. A casa é mais permeável à Igreja do que ao Estado. É mais fácil um pastor ou pastora saber que existe uma situação de violência dentro de uma casa do que um delegado, pois de certa forma a Igreja é extensão da casa. As pessoas que vivem a violência se sentem menos constrangidas de falar sobre isso para os líderes de sua comunidade religiosa, pois esta se apresenta como uma grande família da fé. Isso por si só desafia a Igreja a ser mais ativa na luta contra esse tipo de violência”, declara Sandra Duarte, professora e coordenadora da área de Religião, Sociedade e Cultura do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Faculdade Metodista de São Paulo. Para Sandra Duarte, o primeiro passo para que as Igrejas tenham um papel relevante no combate à violência doméstica é admitir que sua membresia não está imune a esse tipo de ocorrência. “Há mulheres, crianças e idosos de suas Igrejas que estão vivendo sob risco em suas próprias casas, e o cuidado da Igreja pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, diz Sandra Duarte. OlharCristão • nov/dez/2013 11