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Obras
Literárias
1881 – Nasce no Rio de Janeiro
1897 – Ingresso na Escola Politécnica do Rio de Janeiro
1903 – Loucura do pai e abandono da escola politécnica
1909 – Recordações do escrivão Isaias Caminha
1911 – Triste Fim de Policarpo Quaresma
1914 – Primeira internação no hospício
1915 – Numa e Ninfa
1918 – Segunda internação no hospício
1919 – Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá
1923 – Os Bruzundangas
1948 – Clara dos Anjos
1956 – Cemitério dos vivos
1922 – Morre no Rio de Janeiro
LIMA
BARRETO
Apresentação de personagens
JOAQUIM DOS ANJOS – Pai de Clara. Negro mestiço, carteiro, flautista,
compositor de polcas e valsas, amante de violão e modinhas. Homem simples e
ingênuo
DONA ENGRÁCIA – Mãe de Clara. Mulher negra mestiça, religiosa, caseira e
muito ciosa com a filha
CLARA DOS ANJOS – 17 anos, moça negra mestiça, ingênua, sonhadora e
bonita.
MARRAMAQUE – Padrinho de Clara, contínuo de repartição, semiparalítico,
literato e com gosto pela política
LAFÕES – Guarda das obras públicas, português de nascimento, submisso e
alcoólatra
Anúncio da festa de aniversário de Clara. Lafões sugere convidar Cassi Jones
para tocar violão e divertir os convidados. Marramaque é contra. Clara fica curiosa
sobre quem seria esse Cassi Jones
CAPÍTULO I
Apresentação de personagens
CASSI JONES – Homem branco, violeiro, cantor de modinhas, cerca de trinta
anos, sem profissão e sem emprego. Ganha dinheiro com galos de briga e jogo
de cartas. Afamado por deflorar donzelas e abandoná-las e por seduzir mulheres
casadas. Sem caráter e sem escrúpulos.
DONA SALUSTIANA – Mãe de Cassi. Mulher vaidosa e petulante que defende e
protege o filho.
MANUEL AZEVEDO – Pai de Cassi. Homem sério e correto, funcionário público.
Condena o comportamento do filho e chega a expulsá-lo de casa.
ATALIBA DO TIMBÓ – Discípulo de Cassi, agente do jogo do bicho
ZEZÉ MATEUS – Ignorante, bêbado e valentão
FRANCO SOUSA – Malandro que se passa por advogado para enganar
inocentes
ARNALDO – Batedor de carteiras e outros objetos
Apresentação de Cassi Jones e sua “gangue”. O narrador destila uma crítica
pesada e explícita ao caráter e ações da personagem.
CAPÍTULO II
Síntese da história de Marramaque e seu conhecimento de como o mundo
funciona.
Explicação de como Lafões conheceu Cassi Jones
Considerações sobre a educação de Clara, muito vigiada pela mãe. Clara não
conhece nada do mundo. Seu único contato com o mundo é através de D.
Margarida, uma vizinha que lhe ensina a bordar e costurar e por vezes a
acompanha em saídas rápidas.
Lafões insiste em convidar Cassi para a festa de Clara. Contrariando
Marramaque, Joaquim autoriza que o violeiro seja convidado
Cassi Jones aceita o convite após ouvir comentários dos companheiros sobre a
beleza de Clara.
CAPÍTULO III
viúva, íntegra e
Apresentação de personagens
DONA MARGARIDA – Vizinha de Clara, origem europeia,
corajosa
Dr. PRAXEDES – Negro, corcunda, cabeça enorme, advogado com pretensões a
grande intelectual.
Dia da festa de aniversário de Clara. Expectativa pela chegada de Cassi Jones. O
violeiro malandro logo se interessa sexualmente por Clara (“olhar guloso de
grosseiro sibarita sexual que deitou para os seios empinados de Clara”)
Cassi canta uma modinha para Clara com olhar e trejeitos sensuais.
Implicância e desfeita de Marramaque para Cassi Jones que promete vingança.
Depois da festa, Joaquim e Dona Engrácia conversam. Não gostaram de Cassi
Jones e não o querem mais em sua casa. Clara escuta a conversa dos pais e
chora em silêncio no seu quarto.
CAPÍTULO IV
Considerações do narrador a respeito da educação de Clara e seu caráter.
“Essa reclusão e, mais do que isso, a constante vigilância com que sua mãe seguia os
seus passos, longe de fazê-la fugir aos perigos a que estava exposta a sua honestidade de
donzela, já pela sua condição, já pela sua cor, fustigava-lhe a curiosidade em descobrir a
razão do procedimento de sua mãe.
Clara via todas as moças saírem com seus pais, com suas mães, com suas amigas,
passearem e divertirem-se, por que seria então que ela não o podia fazer? (...)
Enganava-se com a eficiência dela; porque, reclusa, sem convivência, sem relações, a
filha não podia adquirir uma pequena experiência da vida e notícia das abjeções de que está
cheia, como também a sua pequenina alma de mulher, por demais comprimida, havia de se
extravasar em sonhos, em sonhos de amor, de um amor extra-real, com estranhas reações
físicas e psíquicas.
Acresce, ainda, que era geral em sua casa o gosto de modinhas. Sua mãe gostava, seu
pai e seu padrinho também. Quase sempre havia sessões de modinhas e violão na sua
residência. Esse gosto é contagioso e encontrava, no estado sentimental e moral de Clara,
terreno propício para propagar-se. As modinhas falam muito de amor, algumas delas são
lúbricas até; e ela, aos poucos, foi organizando uma teoria do amor, com os descantes do
pai e de seus amigos”
Cassi Jones faz uma visita à família de Clara e é recebido friamente por
Joaquim, ficando explícito que ele não é bem vindo.
CAPÍTULO V
Apresentação de personagens
Dr. MENESES – Dentista sem formação, velho, muito pobre, honesto e viciado.
NASCIMENTO – Dono da venda do bairro
ALÍPIO – Rapaz pobre, honesto, revoltado com injustiças sociais
LEONARDO FLORES – Poeta de talento, com obras publicadas, que se perdeu
para o vício da bebida e apresenta surtos de loucura.
“...quando o delírio alcoólico o tornava forte, despia-se todo e gritava heroicamente numa
doentia e vaidosa manifestação de personalidade:
- Eu sou Leonardo Flores.
O povo sabia vagamente que ele tinha celebridade. Chamava-o - o poeta. No começo,
caçoava com ele, mas ao saber de sua reputação, deram em cercá-lo de uma piedosa
curiosidade.
- Um homem desses acabar assim - que castigo! - dizia um.
-É "cosa" feita! Foi inveja da "inteligença" dele! - dizia uma preta velha -. Gentes da nossa
"cô" não pode "tê inteligença"! Chega logo os "marvado" e lá vai reza e "fêtiço", "pa perdê" o
homem - rematava a preta velha.
Aparecia um circunstante mais prático na sua piedade, vestia novamente o poeta e levava-o
para a casa.”
CAPÍTULO V
O narrador apresenta os planos de Cassi Jones para seduzir Clara
Cassi percebe que tem pessoas impedindo que ele se aproxime de Clara. Conclui
que são Marramaque e Dona Margarida. Vai até a casa de Lafões para confirmar
suas suspeitas.
O violeiro pede a Arnaldo que vá até a venda do seu Nascimento para investigar o
que dizem sobre ele.
Cassi Jones descobre que existe um “dossiê” contra ele sendo distribuído pelos
correios. Começa a temer a prisão e pensa em vender os galos de briga para
fugir, mas não sem antes concluir sua conquista de Clara.
CAPÍTULO VI
Descrição e comentários do narrador sobre o subúrbio.
“Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população
da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos,
empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. (...)
O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que
faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação normal vão se aninhar
lá; e todos os dias, bem cedo, lá descem à procura de amigos fiéis que os amparem, que
lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos.”
Cassi Jones pensa em uma maneira de se aproximar de Clara. Procura o
Meneses e lhe paga para encomendar versos de amor ao poeta Leonardo Flores.
Meneses aceita o dinheiro, mas avisa que Leonardo é orgulhoso e se ofenderá se
quiserem pagar pelos seus versos, o que deveras acontece. Como gastou o
dinheiro, Meneses decide ele mesmo escrever os versos encomendados por
Cassi.
CAPÍTULO VII
Características de Joaquim, Engrácia e Clara que os fragilizam.
Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança que
depositava nos outros, e a boa-fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia no coração.
O seu amor à Clara era um sentimento doentio, absorvente e mudo. Queria a filha sempre
junto a si, mas quase não conversava com ela, não a elucidava sobre as coisas da vida,
sobre os seus deveres de mulher e de moça.
Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e
fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido,
para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava
a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas
e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da
morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de
queixumes de viola, a suspirar amor.
Clara, na ingenuidade de sua idade e com as pretensões que a sua falta de contacto com
o mundo e capacidade mental de observar e comparar justificavam, concluía que Cassi era
um rapaz digno e podia bem amá-la sinceramente.
O padrinho, Marramaque, parecia-lhe seu inimigo. Sempre que podia, contava mais uma
proeza, mais uma falcatrua de Cassi. Não lhe cansava o assunto.
CAPÍTULO VIII
Clara teve uma crise de dor de dente e Joaquim chamou o doutor Meneses para
um tratamento. O velho vai todos os dias a casa de Clara, almoça e faz o
tratamento dentário.
Cassi Jones se aproveita da fragilidade do velho Meneses e consegue que ele
sirva de intermediário na troca de cartas com Clara. Durante mais de um mês,
Cassi Jones seduz Clara com cartas apaixonadas, prometendo casamento. O
Comportamento de Clara muda. Dona Margarida descobre a causa e denuncia
aos pais.
Joaquim resolve consultar Marramaque sobre o que fazer. O padrinho de Clara
diz que se Cassi Jones for admitido naquela casa ele nunca mais pisará ali e
ameaça entregar o dossiê contra Cassi aos jornais e à polícia.
Clara escreve uma carta ao “namorado” denunciando as ameaças de
Marramaque. Cassi Jones decide dar um fim ao padrinho de clara. Junto com
Arnado fazem uma emboscada e batem em Marramaque com pedaços de paus
até mata- lo
CAPÍTULO VIII
O assassinato brutal de Marramaque choca os moradores do subúrbio. Arnaldo
começa a beber muito, com medo de ser preso. Cassi Jones fica receoso e
resolve preparar sua fuga.
Tomou a extrema resolução de vender os galos de briga. O dinheiro que apurasse,
depositaria na Caixa Econômica, para tê-lo sempre à mão, quando fosse necessário fugir.
Cassi Jones vai até o centro da cidade depositar o dinheiro e é reconhecido
por uma
prostituta que fora a sua primeira vítima.
A negra, bamboleando, pôs as mãos nas cadeiras e fez com olhar de desafio:
- Então, você não me conhece mais, “seu canaia”? Então você não “si” lembra da Inês,
aquela crioulinha que sua mãe criou e você... (...)
-"Tu" é "mao", mas tua mãe é pior. Quando ela descobriu "qui" eu "tava" com "fio" na
barriga, "mi pois" pela porta afora, sem pena, sem dó "di" eu não "tê pronde í". E o "fio" era
neto dela e ela "mi" tinha criado... Vim da roça... Ah! Meu Deus! Se não fosse uma amiga,
tinha posto o "fio" fora, na rua, que era serviço... Deus perdoe a "tua" mãe o que "mi" fez "i"
a meu "fio", "fio“ deste "qui tá i", também, Deus lhe perdoe! (...)
-Acontece cada uma! Para que havia de dar esta negra... Felizmente, foi em lugar que
ninguém me conhece; se fosse em outro qualquer - que escândalo! Os jornais noticiariam
e... Não passo mais por ali e ela que fosse para o diabo!... Fico com o dinheiro em casa.
Nenhum pensamento lhe atravessou a cabeça, considerando que um seu filho, o primeiro,
já conhecia a detenção...
CAPÍTULO IX
Salto temporal. Clara está na janela, à noite, esperando por Cassi Jones. A moça
está angustiada, pois está grávida e o “namorado” não aparece há dez dias. Pelos
pensamentos de Clara o narrador revela que Clara dos Anjos caiu na lábia do
violeiro e começou a recebê-lo em seu quarto à noite, escondida de todos e
acreditando nas promessas de que ele casaria com ela quando arranjasse um
emprego. Quando Clara recebe a notícia de que Cassi Jones fugiu para São
Paulo, resolve fazer um aborto e vai pedir dinheiro para Dona Margarida,
alegando que é para comprar um presente para a mãe.
Dona Margarida não acredita em Clara e consegue faze-la confessar que está
grávida. Após contar para a mãe, Dona Margarida pega Clara e vai até a casa dos
pais de Cassi para exigir reparo do dano moral. Lá são recebidos pela mãe de
Cassi que insulta Clara com postura racista.
- Que é que a senhora quer que eu faça?
Ao ouvir a pergunta de Dona Salustiana, não se pôde conter e respondeu como fora de si:
- Que se case comigo.
Dona Salustiana ficou lívida; a intervenção da mulatinha a exasperou. Olhou-a cheia de
malvadez e indignação, demorando o olhar propositadamente. Por fim, expectorou:
- Que é que você diz, sua negra? (...)
- Casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lord Jones, que foi cônsul da
Inglaterra em Santa Catarina - que diria ele, se visse tal vergonha? Qual!
CAPÍTULO X
Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que tinha
presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção exata da sua
situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus
melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer
de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de
todos. Bem fazia adivinhar isso, seu padrinho! Coitado!...
(...)
Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou
muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:
- Mamãe! Mamãe!
- Que é minha filha?
- Nós não somos nada nesta vida.
CAPÍTULO X
ESTRUTURA DO LIVRO
ESPAÇO
A narrativa se desenvolve nos subúrbios do Rio de Janeiro, com descrições e
considerações críticas sobre a realidades deste ambiente social.
TEMPO
As ações narradas acontecem no início do século XX, época da conclusão do
livro, e duram em torno de três meses.
LINGUAGEM
utilizada na obra é marcada pela
de oralidade. Esse estilo na época era chamado
coloquialidade, com
de
A linguagem
incorporações
jornalístico.
ESTRUTURA DO LIVRO
NARRADOR
A narrativa é feita por um narrador externo onisciente que se posiciona
criticamente frente ao fatos narrados. Em alguns momentos é possível
perceber a postura panfletária característica do autor, como nos exemplos
abaixo.
A mórbida ternura da mãe (...) junto à indiferença desdenhosa do pai, com o tempo,
fizeram de Cassi o tipo mais completo de vagabundo doméstico que se pode imaginar.
É um tipo bem brasileiro.
Zezé Mateus era um verdadeiro imbecil. Não ligava duas idéias; não guardava coisa
alguma dos acontecimentos que assistia. (...) O último dos asseclas do modinheiro era
um tal Arnaldo. Nele, talvez houvesse tipo mais nojento do que mesmo em Cassi. A
sua profissão consistia em furtar, no trem, chapéus-de-sol, bengalas, embrulhos dos
passageiros que estivessem a dormitar ou distraídos.
O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que
faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação normal vão se
aninhar lá; e todos os dias, bem cedo, lá descem à procura de amigos fiéis que os
amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos.
ESTRUTURA DO LIVRO
DESCRITIVISMO
A livro é marcado por longos períodos descritivos.
O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou São
Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central.
Para os lados, não se aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que
tenham a sua expansão; mas, assim mesmo, o subúrbio continua invadindo, com as suas
azinhagas e trilhos, charnecas e morrotes. Passa-se por um lugar que supomos deserto, e olhamos,
por acaso, o fundo de uma grota, donde brotam ainda árvores de capoeira, lá damos com um
casebre tosco, que, para ser alcançado, se torna preciso descer uma ladeirota quase a prumo;
andamos mais e levantamos o olhar para um canto do horizonte e lá vemos, em cima de uma
elevação, um ou mais barracões, para os quais não topamos logo da primeira vista com a ladeira de
acesso.
Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro
estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são
latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de
taipa, o bambu, que não é barato.
Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as árvores e os
bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para todos os
habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob a ameaça
constante da varíola e, quando ela dá para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo.
ESTRUTURA DO LIVRO
DETERMINISMO
Também como herança do período realista naturalista, observamos a
presença da teoria determinista, onde as personagens tem seu
comportamento e ações determinadas por fatores raciais, culturais e sociais.
As emolientes modinhas e as suas adequadas reações mentais ao áspero proceder da
mãe tiraram-lhe muito da firmeza de caráter e de vontade que podia ter, tornando-a
uma alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso.
A inocência dela, a sua simplicidade de vida, a sua boa-fé, e o seu ardor juvenil tinham-
na completamente cegado.
...a indiferença de todos pela sorte de uma pobre rapariga como ela. Devia ser assim,
era a regra.
Estava ali, no fim da vida, obrigado a prestar-se a papéis que, aos dezesseis anos,
talvez não se sujeitasse, para disfarçadamente esmolar o que comer com os seus
parentes.
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  • 2. 1881 – Nasce no Rio de Janeiro 1897 – Ingresso na Escola Politécnica do Rio de Janeiro 1903 – Loucura do pai e abandono da escola politécnica 1909 – Recordações do escrivão Isaias Caminha 1911 – Triste Fim de Policarpo Quaresma 1914 – Primeira internação no hospício 1915 – Numa e Ninfa 1918 – Segunda internação no hospício 1919 – Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá 1923 – Os Bruzundangas 1948 – Clara dos Anjos 1956 – Cemitério dos vivos 1922 – Morre no Rio de Janeiro LIMA BARRETO
  • 3. Apresentação de personagens JOAQUIM DOS ANJOS – Pai de Clara. Negro mestiço, carteiro, flautista, compositor de polcas e valsas, amante de violão e modinhas. Homem simples e ingênuo DONA ENGRÁCIA – Mãe de Clara. Mulher negra mestiça, religiosa, caseira e muito ciosa com a filha CLARA DOS ANJOS – 17 anos, moça negra mestiça, ingênua, sonhadora e bonita. MARRAMAQUE – Padrinho de Clara, contínuo de repartição, semiparalítico, literato e com gosto pela política LAFÕES – Guarda das obras públicas, português de nascimento, submisso e alcoólatra Anúncio da festa de aniversário de Clara. Lafões sugere convidar Cassi Jones para tocar violão e divertir os convidados. Marramaque é contra. Clara fica curiosa sobre quem seria esse Cassi Jones CAPÍTULO I
  • 4. Apresentação de personagens CASSI JONES – Homem branco, violeiro, cantor de modinhas, cerca de trinta anos, sem profissão e sem emprego. Ganha dinheiro com galos de briga e jogo de cartas. Afamado por deflorar donzelas e abandoná-las e por seduzir mulheres casadas. Sem caráter e sem escrúpulos. DONA SALUSTIANA – Mãe de Cassi. Mulher vaidosa e petulante que defende e protege o filho. MANUEL AZEVEDO – Pai de Cassi. Homem sério e correto, funcionário público. Condena o comportamento do filho e chega a expulsá-lo de casa. ATALIBA DO TIMBÓ – Discípulo de Cassi, agente do jogo do bicho ZEZÉ MATEUS – Ignorante, bêbado e valentão FRANCO SOUSA – Malandro que se passa por advogado para enganar inocentes ARNALDO – Batedor de carteiras e outros objetos Apresentação de Cassi Jones e sua “gangue”. O narrador destila uma crítica pesada e explícita ao caráter e ações da personagem. CAPÍTULO II
  • 5. Síntese da história de Marramaque e seu conhecimento de como o mundo funciona. Explicação de como Lafões conheceu Cassi Jones Considerações sobre a educação de Clara, muito vigiada pela mãe. Clara não conhece nada do mundo. Seu único contato com o mundo é através de D. Margarida, uma vizinha que lhe ensina a bordar e costurar e por vezes a acompanha em saídas rápidas. Lafões insiste em convidar Cassi para a festa de Clara. Contrariando Marramaque, Joaquim autoriza que o violeiro seja convidado Cassi Jones aceita o convite após ouvir comentários dos companheiros sobre a beleza de Clara. CAPÍTULO III
  • 6. viúva, íntegra e Apresentação de personagens DONA MARGARIDA – Vizinha de Clara, origem europeia, corajosa Dr. PRAXEDES – Negro, corcunda, cabeça enorme, advogado com pretensões a grande intelectual. Dia da festa de aniversário de Clara. Expectativa pela chegada de Cassi Jones. O violeiro malandro logo se interessa sexualmente por Clara (“olhar guloso de grosseiro sibarita sexual que deitou para os seios empinados de Clara”) Cassi canta uma modinha para Clara com olhar e trejeitos sensuais. Implicância e desfeita de Marramaque para Cassi Jones que promete vingança. Depois da festa, Joaquim e Dona Engrácia conversam. Não gostaram de Cassi Jones e não o querem mais em sua casa. Clara escuta a conversa dos pais e chora em silêncio no seu quarto. CAPÍTULO IV
  • 7. Considerações do narrador a respeito da educação de Clara e seu caráter. “Essa reclusão e, mais do que isso, a constante vigilância com que sua mãe seguia os seus passos, longe de fazê-la fugir aos perigos a que estava exposta a sua honestidade de donzela, já pela sua condição, já pela sua cor, fustigava-lhe a curiosidade em descobrir a razão do procedimento de sua mãe. Clara via todas as moças saírem com seus pais, com suas mães, com suas amigas, passearem e divertirem-se, por que seria então que ela não o podia fazer? (...) Enganava-se com a eficiência dela; porque, reclusa, sem convivência, sem relações, a filha não podia adquirir uma pequena experiência da vida e notícia das abjeções de que está cheia, como também a sua pequenina alma de mulher, por demais comprimida, havia de se extravasar em sonhos, em sonhos de amor, de um amor extra-real, com estranhas reações físicas e psíquicas. Acresce, ainda, que era geral em sua casa o gosto de modinhas. Sua mãe gostava, seu pai e seu padrinho também. Quase sempre havia sessões de modinhas e violão na sua residência. Esse gosto é contagioso e encontrava, no estado sentimental e moral de Clara, terreno propício para propagar-se. As modinhas falam muito de amor, algumas delas são lúbricas até; e ela, aos poucos, foi organizando uma teoria do amor, com os descantes do pai e de seus amigos” Cassi Jones faz uma visita à família de Clara e é recebido friamente por Joaquim, ficando explícito que ele não é bem vindo. CAPÍTULO V
  • 8. Apresentação de personagens Dr. MENESES – Dentista sem formação, velho, muito pobre, honesto e viciado. NASCIMENTO – Dono da venda do bairro ALÍPIO – Rapaz pobre, honesto, revoltado com injustiças sociais LEONARDO FLORES – Poeta de talento, com obras publicadas, que se perdeu para o vício da bebida e apresenta surtos de loucura. “...quando o delírio alcoólico o tornava forte, despia-se todo e gritava heroicamente numa doentia e vaidosa manifestação de personalidade: - Eu sou Leonardo Flores. O povo sabia vagamente que ele tinha celebridade. Chamava-o - o poeta. No começo, caçoava com ele, mas ao saber de sua reputação, deram em cercá-lo de uma piedosa curiosidade. - Um homem desses acabar assim - que castigo! - dizia um. -É "cosa" feita! Foi inveja da "inteligença" dele! - dizia uma preta velha -. Gentes da nossa "cô" não pode "tê inteligença"! Chega logo os "marvado" e lá vai reza e "fêtiço", "pa perdê" o homem - rematava a preta velha. Aparecia um circunstante mais prático na sua piedade, vestia novamente o poeta e levava-o para a casa.” CAPÍTULO V
  • 9. O narrador apresenta os planos de Cassi Jones para seduzir Clara Cassi percebe que tem pessoas impedindo que ele se aproxime de Clara. Conclui que são Marramaque e Dona Margarida. Vai até a casa de Lafões para confirmar suas suspeitas. O violeiro pede a Arnaldo que vá até a venda do seu Nascimento para investigar o que dizem sobre ele. Cassi Jones descobre que existe um “dossiê” contra ele sendo distribuído pelos correios. Começa a temer a prisão e pensa em vender os galos de briga para fugir, mas não sem antes concluir sua conquista de Clara. CAPÍTULO VI
  • 10. Descrição e comentários do narrador sobre o subúrbio. “Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. (...) O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação normal vão se aninhar lá; e todos os dias, bem cedo, lá descem à procura de amigos fiéis que os amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos.” Cassi Jones pensa em uma maneira de se aproximar de Clara. Procura o Meneses e lhe paga para encomendar versos de amor ao poeta Leonardo Flores. Meneses aceita o dinheiro, mas avisa que Leonardo é orgulhoso e se ofenderá se quiserem pagar pelos seus versos, o que deveras acontece. Como gastou o dinheiro, Meneses decide ele mesmo escrever os versos encomendados por Cassi. CAPÍTULO VII
  • 11. Características de Joaquim, Engrácia e Clara que os fragilizam. Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança que depositava nos outros, e a boa-fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia no coração. O seu amor à Clara era um sentimento doentio, absorvente e mudo. Queria a filha sempre junto a si, mas quase não conversava com ela, não a elucidava sobre as coisas da vida, sobre os seus deveres de mulher e de moça. Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor. Clara, na ingenuidade de sua idade e com as pretensões que a sua falta de contacto com o mundo e capacidade mental de observar e comparar justificavam, concluía que Cassi era um rapaz digno e podia bem amá-la sinceramente. O padrinho, Marramaque, parecia-lhe seu inimigo. Sempre que podia, contava mais uma proeza, mais uma falcatrua de Cassi. Não lhe cansava o assunto. CAPÍTULO VIII
  • 12. Clara teve uma crise de dor de dente e Joaquim chamou o doutor Meneses para um tratamento. O velho vai todos os dias a casa de Clara, almoça e faz o tratamento dentário. Cassi Jones se aproveita da fragilidade do velho Meneses e consegue que ele sirva de intermediário na troca de cartas com Clara. Durante mais de um mês, Cassi Jones seduz Clara com cartas apaixonadas, prometendo casamento. O Comportamento de Clara muda. Dona Margarida descobre a causa e denuncia aos pais. Joaquim resolve consultar Marramaque sobre o que fazer. O padrinho de Clara diz que se Cassi Jones for admitido naquela casa ele nunca mais pisará ali e ameaça entregar o dossiê contra Cassi aos jornais e à polícia. Clara escreve uma carta ao “namorado” denunciando as ameaças de Marramaque. Cassi Jones decide dar um fim ao padrinho de clara. Junto com Arnado fazem uma emboscada e batem em Marramaque com pedaços de paus até mata- lo CAPÍTULO VIII
  • 13. O assassinato brutal de Marramaque choca os moradores do subúrbio. Arnaldo começa a beber muito, com medo de ser preso. Cassi Jones fica receoso e resolve preparar sua fuga. Tomou a extrema resolução de vender os galos de briga. O dinheiro que apurasse, depositaria na Caixa Econômica, para tê-lo sempre à mão, quando fosse necessário fugir. Cassi Jones vai até o centro da cidade depositar o dinheiro e é reconhecido por uma prostituta que fora a sua primeira vítima. A negra, bamboleando, pôs as mãos nas cadeiras e fez com olhar de desafio: - Então, você não me conhece mais, “seu canaia”? Então você não “si” lembra da Inês, aquela crioulinha que sua mãe criou e você... (...) -"Tu" é "mao", mas tua mãe é pior. Quando ela descobriu "qui" eu "tava" com "fio" na barriga, "mi pois" pela porta afora, sem pena, sem dó "di" eu não "tê pronde í". E o "fio" era neto dela e ela "mi" tinha criado... Vim da roça... Ah! Meu Deus! Se não fosse uma amiga, tinha posto o "fio" fora, na rua, que era serviço... Deus perdoe a "tua" mãe o que "mi" fez "i" a meu "fio", "fio“ deste "qui tá i", também, Deus lhe perdoe! (...) -Acontece cada uma! Para que havia de dar esta negra... Felizmente, foi em lugar que ninguém me conhece; se fosse em outro qualquer - que escândalo! Os jornais noticiariam e... Não passo mais por ali e ela que fosse para o diabo!... Fico com o dinheiro em casa. Nenhum pensamento lhe atravessou a cabeça, considerando que um seu filho, o primeiro, já conhecia a detenção... CAPÍTULO IX
  • 14. Salto temporal. Clara está na janela, à noite, esperando por Cassi Jones. A moça está angustiada, pois está grávida e o “namorado” não aparece há dez dias. Pelos pensamentos de Clara o narrador revela que Clara dos Anjos caiu na lábia do violeiro e começou a recebê-lo em seu quarto à noite, escondida de todos e acreditando nas promessas de que ele casaria com ela quando arranjasse um emprego. Quando Clara recebe a notícia de que Cassi Jones fugiu para São Paulo, resolve fazer um aborto e vai pedir dinheiro para Dona Margarida, alegando que é para comprar um presente para a mãe. Dona Margarida não acredita em Clara e consegue faze-la confessar que está grávida. Após contar para a mãe, Dona Margarida pega Clara e vai até a casa dos pais de Cassi para exigir reparo do dano moral. Lá são recebidos pela mãe de Cassi que insulta Clara com postura racista. - Que é que a senhora quer que eu faça? Ao ouvir a pergunta de Dona Salustiana, não se pôde conter e respondeu como fora de si: - Que se case comigo. Dona Salustiana ficou lívida; a intervenção da mulatinha a exasperou. Olhou-a cheia de malvadez e indignação, demorando o olhar propositadamente. Por fim, expectorou: - Que é que você diz, sua negra? (...) - Casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lord Jones, que foi cônsul da Inglaterra em Santa Catarina - que diria ele, se visse tal vergonha? Qual! CAPÍTULO X
  • 15. Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que tinha presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos. Bem fazia adivinhar isso, seu padrinho! Coitado!... (...) Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero: - Mamãe! Mamãe! - Que é minha filha? - Nós não somos nada nesta vida. CAPÍTULO X
  • 16. ESTRUTURA DO LIVRO ESPAÇO A narrativa se desenvolve nos subúrbios do Rio de Janeiro, com descrições e considerações críticas sobre a realidades deste ambiente social. TEMPO As ações narradas acontecem no início do século XX, época da conclusão do livro, e duram em torno de três meses. LINGUAGEM utilizada na obra é marcada pela de oralidade. Esse estilo na época era chamado coloquialidade, com de A linguagem incorporações jornalístico.
  • 17. ESTRUTURA DO LIVRO NARRADOR A narrativa é feita por um narrador externo onisciente que se posiciona criticamente frente ao fatos narrados. Em alguns momentos é possível perceber a postura panfletária característica do autor, como nos exemplos abaixo. A mórbida ternura da mãe (...) junto à indiferença desdenhosa do pai, com o tempo, fizeram de Cassi o tipo mais completo de vagabundo doméstico que se pode imaginar. É um tipo bem brasileiro. Zezé Mateus era um verdadeiro imbecil. Não ligava duas idéias; não guardava coisa alguma dos acontecimentos que assistia. (...) O último dos asseclas do modinheiro era um tal Arnaldo. Nele, talvez houvesse tipo mais nojento do que mesmo em Cassi. A sua profissão consistia em furtar, no trem, chapéus-de-sol, bengalas, embrulhos dos passageiros que estivessem a dormitar ou distraídos. O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação normal vão se aninhar lá; e todos os dias, bem cedo, lá descem à procura de amigos fiéis que os amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos.
  • 18. ESTRUTURA DO LIVRO DESCRITIVISMO A livro é marcado por longos períodos descritivos. O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou São Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central. Para os lados, não se aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que tenham a sua expansão; mas, assim mesmo, o subúrbio continua invadindo, com as suas azinhagas e trilhos, charnecas e morrotes. Passa-se por um lugar que supomos deserto, e olhamos, por acaso, o fundo de uma grota, donde brotam ainda árvores de capoeira, lá damos com um casebre tosco, que, para ser alcançado, se torna preciso descer uma ladeirota quase a prumo; andamos mais e levantamos o olhar para um canto do horizonte e lá vemos, em cima de uma elevação, um ou mais barracões, para os quais não topamos logo da primeira vista com a ladeira de acesso. Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o bambu, que não é barato. Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as árvores e os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob a ameaça constante da varíola e, quando ela dá para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo.
  • 19. ESTRUTURA DO LIVRO DETERMINISMO Também como herança do período realista naturalista, observamos a presença da teoria determinista, onde as personagens tem seu comportamento e ações determinadas por fatores raciais, culturais e sociais. As emolientes modinhas e as suas adequadas reações mentais ao áspero proceder da mãe tiraram-lhe muito da firmeza de caráter e de vontade que podia ter, tornando-a uma alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso. A inocência dela, a sua simplicidade de vida, a sua boa-fé, e o seu ardor juvenil tinham- na completamente cegado. ...a indiferença de todos pela sorte de uma pobre rapariga como ela. Devia ser assim, era a regra. Estava ali, no fim da vida, obrigado a prestar-se a papéis que, aos dezesseis anos, talvez não se sujeitasse, para disfarçadamente esmolar o que comer com os seus parentes.