[1] O documento discute as perspectivas sociológicas clássicas de Durkheim, Marx e Weber. [2] Durkheim via a sociedade como maior que a soma de seus indivíduos e focou no papel da "consciência coletiva" na integração social. [3] Marx argumentou que as relações econômicas de produção determinam a estrutura social e que a luta de classes é inerente ao capitalismo levando a conflitos e mudanças sociais.
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Teóricos da sociologia. as perspectívas sociológicas clássicas
1. AS PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS CLÁSSICAS
A concepção do objeto da Sociologia decorre da resposta que se dê à questão sobre o
que torna possível a organização social das relações entre os homens, o que corresponde
ao problema da delimitação do campo de investigação e explicação da Sociologia. Para
responder a esta questão a tradição da teoria sociológica leva em consideração os
trabalhos de três estudiosos: Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920) e
Karl Marx (1818-1883). Isto não quer dizer que existam três sociologias, porém que
esta ciência compreende diferentes interpretações teóricas em relação ao fenômeno
estudado.
Émile Durkheim
Principais Obras
1893 – De la division du travail social
1895 – Les régles de la méthode sociologique
1897 – Le Suicide
1912 – Les formes élementaires de la vie religiuse
A Sociologia como ciência
O que une as ciências humanas é exatamente seu objeto de estudo comum que é o ser
humano em suas diversas dimensões
Comte = deve ser analisada à luz das leis e métodos naturais. Assim como existe uma
física da natureza deve haver uma física social que explique o comportamento dos
indivíduos na sociedade = Sociologia
Durkheim = a sociedade deve ser estudada a partir dos fatos sociais como eles se
apresentam na prática o que também possibilita a utilização dos métodos das ciência
naturais para a análise dos fenômenos sociais.
2. O que marca a contribuição de Durkheim à sociologia é o reconhecimento de que os
sistemas de símbolos culturais – ou seja, valores, crenças, dogmas religiosos,
ideologias, etc. – são uma base importante para a integração da sociedade. À medida
que as sociedades se tornam complexas e heterogêneas, a natureza de símbolos culturais
(consciência coletiva) muda.
De acordo com a sua concepção: “A sociedade não é uma simples soma de indivíduos,
e sim sistema formado pela associação, que representa uma realidade
especifica com seus caracteres próprios. Sem dúvida, nada se pode
produzir de coletivo se consciências particulares não existirem; mas esta
condição necessária não é suficiente. É preciso ainda que as consciências
estejam associadas, combinadas; e é desta combinação que resulta a vida
social e, por conseguinte, é esta combinação que a explica. Agregando-se,
penetrando-se, fundindo-se, as almas individuais dão nascimento a um
ser, psíquico se quisermos, mas que constitui individualidade psíquica de
novo gênero.”
Esta “individualidade psíquica”, resultante da combinação das consciências individuais,
corresponde, no pensamento de Durkheim, à “consciência coletiva”, diferente das
consciências individuais. A organização social, pois, para ele, somente é possível graças
a esta consciência.
Na tentativa de delimitar o campo de estudo especifico da Sociologia Durkheim
determina que: a sociedade deve ser estudada a partir dos fatos sociais como eles se
apresentam na prática o que também possibilita a utilização dos métodos das ciências
naturais para a análise dos fenômenos sociais. Assim, a Sociologia obviamente, não se
ocupa de todos os fenômenos verificáveis na sociedade, mas, apenas, daqueles que
apresentam as características que determinam o seu caráter especifico, neste caso:
É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre
o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na
extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria,
independente de suas manifestações individuais.
O fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda, aquilo que
interessa e afeta o grupo de alguma forma.
Dando relevo à objetividade dos fatos sociais, ele estabelece como um dos princípios
metodológicos básicos da investigação sociológica considerá-los com coisas: “os fatos
sociais são coisas”, isto é, uma realidade objetiva e passível de ser observada.
Noções fundamentais para compreender o pensamento de Durkheim
Os fatos sociais devem ser tratados como coisas:
A análise dos fatos sociais exige reflexão prévia e fuga de idéias pré-
concebidas;
3. O conjunto de crenças e sentimentos coletivos são a base da coesão da
sociedade;
Destaca o estudo da moral dos indivíduos – O grupo (e a consciência do
grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo
A própria sociedade cria mecanismos de repressão interna, que fazem com
que os indivíduos aceitem de uma forma ou de outra as regras estabelecidas
(a explicação dos fatos sociais deve ser buscada na sociedade e não nos
indivíduos – os estados psíquicos, na verdade são conseqüências e não
causas dos fenômenos sociais).
Exterioridade – Generalidade – Coercitividade
Karl Marx
Principais Obras
1844 - Sobre a crítica da Filosofia do direito de Hegel
1844 - Manuscritos Econômico-Filosóficos
1847 - O Manifesto Comunista (obra comum de Marx e Engels)
1867 - Primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital
1885 e 1894 - Os volumes II e III de O Capital foram editados por Engels
Para ele, a organização de uma sociedade num momento histórico específico é
determinada pelas relações de produção, ou a natureza da produção e a organização do
trabalho. Assim, a organização da economia é o material-base, ou em seus termos, a
infra-estrutura, que descreve e dirige a superestrutura, que consiste de cultura,
política e outros aspectos da sociedade. O funcionamento da sociedade humana deve ser
entendido por sua base econômica.
Enfim, as normas, os valores, os sentimentos, os modos de pensar e de agir em
sociedade são um reflexo das relações entre os homens para conseguir os meios
necessários à sobrevivência.
Marx tem como base da contradição nas sociedades humanas as relações entre aqueles
que controlam os meios de produção e aqueles que não. Argumentando dessa forma, ele
se torna a inspiração para a linha de estudo da sociologia conhecida como “teoria do
4. conflito” ou a “sociologia do conflito”. Desse ponto de vista, todas as estruturas da
organização social revelam desigualdades que levam ao conflito, em que aqueles que
detêm ou controlam os meios de produção podem consolidar o poder e desenvolver
ideologias para manter seus privilégios, enquanto aqueles sem os meios de produção
eventualmente entram em conflito com os méis privilegiados. No mínimo, há sempre
uma contradição ardente entre as relações de produção nos sistemas sociais, e essa “luta
de classes”, ou seja, conforme a percepção de Marx quanto a essa questão,
periodicamente explode esse conflito aberto e uma mudança social.
A análise sociológica deve, portanto, concentrar-se nas estruturas de desigualdade e nas
combinações entre aqueles com poder, privilégio e bem-estar material, por um lado, e
os menos poderosos, privilegiados e materialmente abastados, por outro. Para Marx e as
gerações subseqüentes de estudiosos do conflito, “a ação está” dentro da organização
social humana.
Luta de Classes
• Pretendendo caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas
também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura
explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo
do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente
dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história
da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como
deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo d’O Manifesto
Comunista: A história de toda sociedade passado é a história da luta de
classes.
Materialismo Dialético
• Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as
contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.
• O materialismo dialético é uma constante no pensamento do marxismo-
leninismo
Materialismo Histórico
• Na teoria marxista, o materialismo histórico pretende a explicação da história
das sociedades humanas, em todas as épocas, através dos fatos materiais,
essencialmente econômicos e técnicos. A sociedade é comparada a um edifício
no qual as fundações, a infra-estrutura, seriam representadas pelas forças
econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as idéias,
costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc).
6. Alienação do Trabalho
A Revolução Industrial foi responsável por um processo denominado alienação do
trabalho, pois com a utilização das linhas de montagem, o operário perde a noção de todo,
ou seja, do produto final; deixando este sem o domínio de todas as etapas de produção, e
obrigando-o a vender a sua mão-de-obra como forma de sobrevivência.
O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção
(suas terras, ferramentas, máquinas, etc). Estes passaram a pertencer à classe dominante, a
burguesia. Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a alugar sua
força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por esse aluguel. Como há
mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar,
pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso negue, achando
que é pouco, uma exploração, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em
busca do emprego. Portanto é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao
trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além de serem excluídos das
decisões gerenciais.
Mais Valia
Suponha que o operário leve 2h para fabricar um par de sapatos. Nesse período produz o
suficiente para pagar o seu trabalho. Porém, ele permanece mais tempo na fábrica,
produzindo mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção de apenas
um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são produzidos 4 pares. O custo de cada par
continua o mesmo, assim como o salário do proletário. Com isso ele trabalha 6h de graça,
reduzindo o custo e aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo
capitalista e constitui o que Marx chama de Mais-Valia Absoluta. Além de o operário
permanecer mais tempo na fábrica o patrão pode aumentar a produtividade com a
aplicação de tecnologia. Com isso o operário produz mais, porém seu salário não
aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa.
Uma outra importante faceta do trabalho de Marx é defesa da função militante do
sociólogo. O objetivo da análise é expor a desigualdade e a exploração em situações
sociais e, assim fazendo, desempenhar papel militante para superar essas condições. Com
7. esse estudo ele propõe a superação do modo de produção capitalista e uma nova forma de
produção com base no coletivismo. Esse programa permanece ainda como fonte de
inspiração para muitos sociólogos que participam como militantes no mundo social.
Max Weber
Principais Obras
1889 – Tese sobre as companhias de comércio medievais
1891 – Professor universitário – Tese sobre a história agrária e jurídica de Roma
1894 – Professor de Economia Política em Freiberg
1897 – Professor de Economia em Heidelberg (colapso nervoso)
1899/1904 – Viagens Europa e América do Norte
1903 – Honorarprofessor (regime de semi-aposentadoria)
1904/1905 – Publica “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”
1918 – Professor de Socióloga em Viena
1919 – Professor de Sociologia em Munique
1920 – morre aos 56 anos
As implicações do conceito de ação social, formulado por Weber em Economia e
Sociedade, conduzem inevitavelmente à conclusão de que as características da ação
social por ele enunciadas são o fundamento da organização das relações sociais. A ação
social ...
“é uma ação cujo significado subjetivamente atribuido pelo sujeito ou
sujeitos tem como referencia a conduta dos outros, orientando-se por esta
em seu desenvolvimento”.
Só há, desse modo, a ação social quando ela possui um significado atribuído pelos
indivíduos e é orientada pelas ações alheias. Por isso, nem toda ação humana é
necessariamente social, embora a grande maioria o seja.
AÇÃO SOCIAL
• Forma de conduta que leva os indivíduos a orientar suas ações de acordo e/ou
em razão dos outros
• É um comportamento humano, ou seja, uma atitude interior ou exterior voltada
para aça ou abstenção. Esse comportamento só é ação social quando o ator
8. atribui a sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se
relaciona com o comportamento de outras pessoas.
• Para Weber a Sociologia é uma ciência que procura compreender a ação social.
Por isso, considerava o indivíduo e suas ações como ponto chave da
investigação o que, para ele, era o ponto de partida para a Sociologia: a
compreensão e a percepção do sentido que o ator atribui à sua conduta.
Formas características de ação social
Ação em relação a fins – É praticada quando alguém age com o propósito de observar
uma expectativa futura ao interagir com outro(s). É uma ação concreta que tem um fim
específico.
Ex.: o engenheiro que constrói uma ponte
Ação em relação a valores – É aquela definida pela crença consciente no valor –
interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer outra forma – absoluto de
determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter
um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença
consciente no valor. Esse tipo de ação preocupa-se essencialmente com os meios
empregados, não importando, muitas vezes, o próprio fim originaria da ação.
Ex.: um capitão que afunda com seu navio
Ação Afetiva – É praticada, principalmente, quando alguém direciona suas ações em
relação ao próximo, sendo que essas ações são motivadas pelas tensões emocionais
subjetivas, tais como vingança, amor, desprezo, gratidão, etc. Neste tipo de ação, tanto
os meios como os fins são relevantes para quem a pratica.
Ex. São infinitos. Afinal, quem nunca agiu motivado por algum sentimento de amor ou
ódio em relação ao próximo?
Ação Tradicional – É aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas
numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator não precisa conceber um
objetivo, um valor, nem ser impelido por uma emoção, obedece a reflexos adquiridos
pela prática.
Ex. Os serviços domésticos, os deveres rotineiros, etc.
Enfim, embora Max Weber considere que a “Sociologia de modo algum tem a ver
apenas com a ação social”, é evidente o peso dessa noção na delimitação do campo de
estudo da Sociologia. Para ele, a Sociologia é:
“uma ciência que pretende compreender, interpretando-a, a ação social,
para, desse modo, chegar à explicação causal do seu desenvolvimento e
dos seus efeitos”.
TIPO IDEAL
• Weber também se preocupou muito com a criação de certos instrumentos
metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenômenos
particulares sem que ele se perca na infinidade disforme de seus aspectos
concretos, sendo que o principal instrumento é o tipo ideal, o qual cumpriria
9. duas funções principais: primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do
objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimensão de
uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas.
• Os tipos ideais correspondem a um processo de conceituação que abstrai o que
existe de particular dos fenômenos concretos. Essa característica opõe a
conceituação típico ideal à conceituação generalizadora.
Conceituação típico-ideal:
1. meio de conhecimento científico
2. utopia
3. exageração
4. significação
5. unilateralidade
Exemplo: “pânico na bolsa” – permite compreender o curso real da ação, classificar e
compreender o peso dos elementos não-econômicos.
• Aplica à Economia e Sociedade, conceitos como os de lei, democracia,
burocracia, capitalismo, feudalismo e sociedade.
PODER E BUROCRACIA
“O poder significa toda oportunidade de fazer triunfar no seio de uma relação social a
própria vontade, mesmo contra resistências, pouco importando aquilo que a
fundamenta”.
Tipos de Poder (Legitimidade)
Tradicional – baseia-se na crença do caráter sagrado das tradições, sendo legítimo o
poder e os que a ele são convocados em razão do costume.
Carismático – baseia-se no valor pessoal do indivíduo que se distingue por virtudes
pessoais (heroísmo, santidade...)
Burocrático ou Legal – possui caráter racional e impessoal, baseando-se na validade
das normas estabelecidas racionalmente, sendo legítimo o poder e os que a ele são
convocados nos termos da lei.
Características da burocracia/Vantagens
• Legal
• Formal
• Racional e divisão do trabalho
10. • Impessoalidade nas relações
• Rotinas e procedimentos padronizados
• Competência técnica
• Profissionalização da administração e dos participantes
Previsibilidade do funcionamento
Univocidade de interpretação
Padronização
Redução de conflitos
Subordinação natural
Confiabilidade nas regras
Hierarquia formalizada
Precisão
Referências Bibliográficas
BOTTOMORE,T.&OUTHWAITE,W.Dicionário do Pensamento Social do Séc.XX.
Rio de Janeiro Jorge Zahar, 1996.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 ed.-Porto Alegre:Artmed, 2005.
TURNER H., Jonathan. Sociologia- conceitos e aplicações/ tradução Márcia Marques
Gomes Navas; revisão técnica João Clemente de Souza Neto- São Paulo: Pearson
Education do Brasil,2000.
VILA NOVA, Sebastião. Introdução à Sociologia. 6ª edição São Paulo: Editora Altas,
2004.