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Artigo
MicrobiotaIntestinalesuaPossível
Relação com a Obesidade
Alessandra Rodrigues – Nutricionista, especialista em nutrição clínica pelo GANEP; Mestre em ciências
da saúde pela FMUSP e nutricionista colaboradora do grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do
HC/FMUSP.
Introdução
N
ão é novidade que a inci-
dência da obesidade tem
aumentado em todo mun-
do nos últimos anos e, para tanto,
diversos tratamentos têm sido pro-
postos.
Chama a atenção o fato de que
em uma população de indivíduos
com características similares, alguns
parecem ser mais suscetíveis ao ga-
nho de peso e à hiperglicemia in-
duzida pela dieta que outros. Com
isso, sugere-se que outros mecanis-
mos que não relacionados ao genoma
humano estejam envolvidos na fisio-
patologia da obesidade.1
Estudos recentes têm associado a
microbiota intestinal ao estado in-
flamatório que ocorre na obesidade.2
A microbiota intestinal atualmen-
te é considerada um “órgão microbi-
ótico”, uma vez que o corpo humano
abriga de 10 a 100 trilhões de micro-
organismos, o que soma pelo menos
10x o número de células do corpo
humano e um genoma 100 a 150x
maior que o genoma humano.3
A maior parte dessas bactérias en-
contra-se no cólon, onde sua concen-
tração é de aproximadamente 1010
a
1012
UFC/ml. As cepas mais comu-
mente encontradas são Bacteroide-
tes, Eubacterium, Bifidobacterium,
Fusobacterium, Peptostreptocous .4,5
A evidência de que a composição
da microbiota pode ser diferente em
humanos magros e obesos reforçou a
hipótese da influência da microbiota
na fisiopatologia da obesidade. 1
1 – Composição da Microbiota
Intestinal e Obesidade
Em 2005 Ley e colaboradores mos-
traram em seu estudo que camun-
dongos ob/ob tinham em sua mi-
crobiota 50% menos bacterioide-
tes e maior proporção de firmicutes
quando comparados a camundongos
magros. Quando estes eram subme-
tidos a dieta para perda de peso, a
sua microbiota se tornava muito si-
milar à dos camundongos magros.6
Em um estudo posterior se observou
comportamento semelhante em hu-
manos.7
Backhed e colaboradores de-
monstraram que camundongos con-
vencionais têm maior quantidade de
gordura que camundongos “germ-
-free” (sem microbiota), apesar de
terem uma ingestão calórica 30%
menor e um metabolismo de repou-
so maior, o que evidencia um papel
importante da microbiota no meta-
bolismo energético desses animais.8
Posteriormente, foi demonstrado
que a colonização desses camundon-
gos “germ-free” com microbiota de
camundongos obesos resultava em
um aumento significativo da massa
gorda, em comparação a uma colo-
nização feita com microbiota de ca-
mundongos magros.9
Camundongos diabéticos pare-
cem também ter uma composição
diferente das bactérias intestinais
em comparação a não diabéticos, que
possuem menos bacterioides.4
Ainda são necessários mais estu-
dos para se definir se bacterioidetes
seriam realmente bactérias benéficas
ou bactérias ruins; o que se sabe ape-
nas é que existem diferenças entre a
composição da microbiota de ma-
gros, obesos, diabéticos e não dia-
béticos.
2 – Influência da Microbiota
Intestinal no Metabolismo
Energético
Descreveu-se, recentemente, que
ácidos graxos de cadeia curta
(AGCC) seriam ligantes fisiológicos
dos receptores GPR43 e 41, expres-
sos em diversas células (imune, en-
dócrinas e adiposas). Com isso, os
AGCC – considerados, até então,
nutrientes indiretos, que apenas for-
neciam energia para as bactérias in-
testinais e enterócitos - passaram a
ser considerados reguladores do me-
tabolismo energético, da imunida-
de e da expansão do tecido adiposo,
uma vez que estes são capazes de ati-
var tais receptores que, por sua vez,
contribuem para inibição da lipólise
e diferenciação dos adipócitos com
consequente aumento do tecido adi-
poso em animais.10
Camundongos obesos possuem
mais genes codificadores de enzimas
que quebram polissacarídeos não di-
geríveis da dieta, além de terem mais
produtos de fermentação (AGCC) e
menor número de calorias em suas
fezes, sugerindo que nestes animais
a microbiota contribuiria com ex-
tração de calorias adicionais da die-
ta.9
Resultados de outros estudos evi-
denciaram ainda que camundongos
“germ-free”, ao serem colonizados, ti-
nham não apenas um aumento da
gordura corporal total, apesar de um
ingesta calórica menor, mas também
passavam a apresentar resistência à
insulina.10
Este aumento de peso e resistên-
cia à insulina parece ocorrer em con-
outubro 2011 – ABESO 53 – 5
sequência da extração mais eficiente
de energia pela microbiota a partir de
fibras não digeríveis, o que gera no
hospedeiro um aumento da absorção
intestinal de glicose, aumento da gli-
cemia e insulinemia. Esta hipótese é
sustentada pelo aumento das enzimas
acetil-CoA carboxilase (ACC) e áci-
do graxo sintase (FAS) e de suas pro-
teínas mediadoras: ChREBP (carbo-
hydrate responsive element binding pro-
tein) e da SREBP-1 (sterol responsive
element binding protein), observado
nos camundongos “germ free” após a
sua colonização.11
Tais enzimas reali-
zam de novo lipogênese hepática e são
responsáveis pelo aumento de trigli-
cérides hepáticos.
Em resumo, estes estudos trazem
evidências de que a microbiota intes-
tinal participaria da digestão de poli-
sacarídeos, aumentando a quantida-
de de glicose no fígado e, portanto,
a lipogênese. 11
Mas vale ressaltar que nem todos
os tipos de fibras têm a capacidade de
gerar aumento da massa gorda, pois a
suplementação de carboidratos com
propriedades prebióticas, como inu-
lina, mostrou não aumentar, mas re-
duzir a massa gorda tanto em animais
como em humanos.11
3- Influência da Microbiota
Intestinal nas Inflamações de
Baixo Grau
Além de maior quantidade de gor-
dura corporal, camundongos colo-
nizados parecem também ter mais
marcadores inflamatórios (IL-1,
TNF-α, MCP-1, IL-6), maior into-
lerância à glicose e resistência à in-
sulina, em comparação aos camun-
dongos “germ free”.8
O mesmo pa-
rece ocorrer em animais com dietas
ricas em gorduras e pobres em fibras
(“western diets”).
Para ligar esse tipo de dieta às in-
flamações de baixo grau, se propôs
que esse tipo de alimentação gera
uma alteração negativa da micro-
biota intestinal, com um aumento
das bactérias gram negativas, que
possuem como componente de sua
membrana uma substância chama-
da LPS (lipopolisacarideos bacte-
rianos) e redução de bactérias boas
(Biffidubacterias), o que acarreta al-
teração da permeabilidade intesti-
nal. Com isso ocorre maior absor-
ção da LPS, o que caracteriza um
quadro de endotoxemia metabóli-
ca, e esta, ao se ligar ao complexo
CD14 e TLR4 (toll like receptor 4)
das células imunes inatas, funciona-
ria como um gatilho para estimular
a secreção de citocinas pró-inflama-
tórias que contribuem para desor-
dens metabólicas. 11,12
A favor dessa teoria, contam es-
tudos que encontraram níveis au-
mentados de LPS em camundongos
alimentados com dietas tipo “wes-
tern”, e de outros onde a infusão
crônica de LPS em pequenas quan-
tidades gera aumento do tecido adi-
poso, acompanhado por aumento
da resistência da insulina, da glice-
mia e de fatores inflamatórios.11,13
Em humanos existem também
boas evidências, pois indivíduos
que possuem dietas “western” apre-
sentam endotoxexemia e também
aumento de fatores inflamatórios
como TNFα. Em pacientes diabé-
ticos se observa também maior grau
de endotoxexemia em comparação
a indivíduos normais com mesmo
sexo, idade, IMC. 11
4 - Microbiota Intestinal Pode
Induzir a Regulação de Genes
do Hospedeiro que Modulam
como a Energia É Gasta e
Armazenada
A presença da microbiota parece ser
capaz de inibir a produção de Fas-
ting-Induced Adipose Factor (FIAF)
no intestino, que por sua vez é quem
controla a atividade da lípase lipo-
protéica (LPL). 11
Um estudo com animais mostrou
que 14 dias após a colonização de
camundongos GF, estes passavam a
apresentar um aumento em torno de
2/3 das concentrações de triglicéri-
des hepáticos, acompanhado por um
aumento da expressão de enzimas,
como ACC e FAZ, e de suas proteí-
nas mediadoras, que seriam respon-
sáveis pelo aumento de peso e tecido
adiposo nesses animais. Além disso,
se observou um aumento da expres-
são de LPL em diversos tecidos des-
ses animais e uma redução de FIAF
apenas no intestino. 11
Um estudo posterior mostrou, ao
comparar animais sem microbiota e
animais com microbiota, que os ní-
veis de FIAF eram menores nos ani-
mais com microbiota, e que essa al-
teração novamente ocorria apenas
no intestino e era acompanhada por
aumento de peso, aumento da glice-
mia e resistência à insulina e redução
dos níveis de triglicérides séricos, o
que indica maior atividade da LPL.14
Logo, a microbiota pode afetar
os dois lados do balanço energético:
como fator que influencia a aquisi-
ção de energia dos componentes da
dieta e como fator que afeta genes
do hospedeiro, que regulam como a
energia é gasta e estocada.
5 – Tratamento e Perspectivas
O uso de antibióticos em camun-
dongos parece alterar, significativa-
mente, a microbiota intestinal destes
e está associado à grande melhora da
endotoxexemia metabólica, redução
da infiltração de macrófagos, marca-
dores inflamatórios e estresse oxida-
tivo, melhora da esteatose hepática e
6 – ABESO 53 – Outubro 2011
resistência à insulina.1,11
Probióticos são definidos como
microorganismos que, em quantida-
des equilibradas, trazem benefícios à
saúde do hospedeiro.5
Estudos têm mostrado efeitos
positivos do uso de probióticos para
desordens metabólicas e regulação
do peso corpóreo. Exemplo disso foi
o uso da cepa Lactobacillus gasseri
SBT 2055 (LG2055), que como re-
sultado mostrou efeito positivo na
redução de gordura abdominal, su-
gerindo portanto um efeito benéfi-
co no tratamento de desordens me-
tabólicas.15
O uso de uma mistura de probi-
óticos VSLno.3 trouxe bons resulta-
dos na redução da obesidade indu-
zida por dieta e melhorou esteatose
hepática e resistência à insulina, au-
mentando células “natural killer” e
reduzindo sinalização inflamatória.
A suplementação de Lactobacillus
plantarum strain N.14 (LP14) foi
acompanhada por uma redução no
tamanho dos adipócitos em ratos.16
A suplementação de prebióticos,
definidos como compostos não di-
geríveis, mas fermentáveis, que atu-
am beneficamente sobre o hospe-
deiro por estimular seletivamente o
crescimento de determinada espécie
ou de um número limitado de es-
pécies de bactérias no cólon, parece
também ser positiva.17
A suplementação de FOS (fru-
toligossacarídeos) gerou melhora na
tolerância à glicose, secreção à insu-
lina e normalizou o grau de inflama-
ção, através da redução da endoto-
xexemia, produção de citocinas pró-
-inflamatórias plasmáticas e no teci-
do adiposo, provavelmente devido
a um aumento das Bifidobacterium
SSP, que têm efeito protetor sobre a
barreira intestinal.3
A suplementação de 16g/dia de
inulina parece promover saciedade e
reduzir apetite e ingestão calórica em
torno de 10%; já a suplementação
de 20g deste mesmo prebiótico foi
associada, em outro estudo, ao au-
mento das concentrações de GLP1/
PYY e à mudanças no apetite. 3,18
Vale ressaltar que a suplementa-
ção de fibras dietéticas não fermen-
táveis não é eficaz para os efeitos des-
critos, sendo estes efeitos atribuidos
exclusivamente a fibras prebióticas.3
A relação entre microbiota e obe-
sidade esta cada vez mais clara, mas
ainda existem muitos mecanismos a
serem esclarecidos e estudos são ne-
cessários para comprovação do efei-
to dos pró/prebióticos e, até mesmo,
de antibióticos como coadjuvantes
no tratamento da obesidade/DM/
SM. O principal desafio, atualmen-
te, está em identificar bactérias be-
néficas que ajudem no controle da
obesidade e desordens metabólicas
relacionadas. c
Referências Bibliográficas
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MK, Chabo C, Waget A, Delme´e E, Cousin
B, Sulpice T, Chamontin B, Ferrie`res J, Tanti
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ck AM, Delzenne NM, Burcelin R. Changes in
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mia-induced inflammation in high-fat diet–in-
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tes. 2008;57: 1470-81.
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posity by probiotics (Lactobacillusgasseri
SBT2055) in adults with obese tendencies in
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nal of Clinical Nutrition.2010 ; 64: 636–643.
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perimental Biology and Medicine 2010;
235:849–856.
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ney AL, Rastall R, Rowland I, Wolvers D, Watzl
B, Szajewska H, Stahl B, Guarner F, Respondek
F, Whelan K, Coxam V, Davicco MJ, Léotoing
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bolic and health benefits. Br J Nutr. 2010;104
Suppl 2:S1-63.
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the defence and metabolic balance of theor-
ganism: Gut microbiota in obesity and meta-
bolic disorders. Proceedings of the Nutrition
Society. 2010; 69: 434–441.
outubro 2011 – ABESO 53 – 7

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Como a Microbiota Intestinal Pode Influenciar a Obesidade

  • 1. Artigo MicrobiotaIntestinalesuaPossível Relação com a Obesidade Alessandra Rodrigues – Nutricionista, especialista em nutrição clínica pelo GANEP; Mestre em ciências da saúde pela FMUSP e nutricionista colaboradora do grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do HC/FMUSP. Introdução N ão é novidade que a inci- dência da obesidade tem aumentado em todo mun- do nos últimos anos e, para tanto, diversos tratamentos têm sido pro- postos. Chama a atenção o fato de que em uma população de indivíduos com características similares, alguns parecem ser mais suscetíveis ao ga- nho de peso e à hiperglicemia in- duzida pela dieta que outros. Com isso, sugere-se que outros mecanis- mos que não relacionados ao genoma humano estejam envolvidos na fisio- patologia da obesidade.1 Estudos recentes têm associado a microbiota intestinal ao estado in- flamatório que ocorre na obesidade.2 A microbiota intestinal atualmen- te é considerada um “órgão microbi- ótico”, uma vez que o corpo humano abriga de 10 a 100 trilhões de micro- organismos, o que soma pelo menos 10x o número de células do corpo humano e um genoma 100 a 150x maior que o genoma humano.3 A maior parte dessas bactérias en- contra-se no cólon, onde sua concen- tração é de aproximadamente 1010 a 1012 UFC/ml. As cepas mais comu- mente encontradas são Bacteroide- tes, Eubacterium, Bifidobacterium, Fusobacterium, Peptostreptocous .4,5 A evidência de que a composição da microbiota pode ser diferente em humanos magros e obesos reforçou a hipótese da influência da microbiota na fisiopatologia da obesidade. 1 1 – Composição da Microbiota Intestinal e Obesidade Em 2005 Ley e colaboradores mos- traram em seu estudo que camun- dongos ob/ob tinham em sua mi- crobiota 50% menos bacterioide- tes e maior proporção de firmicutes quando comparados a camundongos magros. Quando estes eram subme- tidos a dieta para perda de peso, a sua microbiota se tornava muito si- milar à dos camundongos magros.6 Em um estudo posterior se observou comportamento semelhante em hu- manos.7 Backhed e colaboradores de- monstraram que camundongos con- vencionais têm maior quantidade de gordura que camundongos “germ- -free” (sem microbiota), apesar de terem uma ingestão calórica 30% menor e um metabolismo de repou- so maior, o que evidencia um papel importante da microbiota no meta- bolismo energético desses animais.8 Posteriormente, foi demonstrado que a colonização desses camundon- gos “germ-free” com microbiota de camundongos obesos resultava em um aumento significativo da massa gorda, em comparação a uma colo- nização feita com microbiota de ca- mundongos magros.9 Camundongos diabéticos pare- cem também ter uma composição diferente das bactérias intestinais em comparação a não diabéticos, que possuem menos bacterioides.4 Ainda são necessários mais estu- dos para se definir se bacterioidetes seriam realmente bactérias benéficas ou bactérias ruins; o que se sabe ape- nas é que existem diferenças entre a composição da microbiota de ma- gros, obesos, diabéticos e não dia- béticos. 2 – Influência da Microbiota Intestinal no Metabolismo Energético Descreveu-se, recentemente, que ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) seriam ligantes fisiológicos dos receptores GPR43 e 41, expres- sos em diversas células (imune, en- dócrinas e adiposas). Com isso, os AGCC – considerados, até então, nutrientes indiretos, que apenas for- neciam energia para as bactérias in- testinais e enterócitos - passaram a ser considerados reguladores do me- tabolismo energético, da imunida- de e da expansão do tecido adiposo, uma vez que estes são capazes de ati- var tais receptores que, por sua vez, contribuem para inibição da lipólise e diferenciação dos adipócitos com consequente aumento do tecido adi- poso em animais.10 Camundongos obesos possuem mais genes codificadores de enzimas que quebram polissacarídeos não di- geríveis da dieta, além de terem mais produtos de fermentação (AGCC) e menor número de calorias em suas fezes, sugerindo que nestes animais a microbiota contribuiria com ex- tração de calorias adicionais da die- ta.9 Resultados de outros estudos evi- denciaram ainda que camundongos “germ-free”, ao serem colonizados, ti- nham não apenas um aumento da gordura corporal total, apesar de um ingesta calórica menor, mas também passavam a apresentar resistência à insulina.10 Este aumento de peso e resistên- cia à insulina parece ocorrer em con- outubro 2011 – ABESO 53 – 5
  • 2. sequência da extração mais eficiente de energia pela microbiota a partir de fibras não digeríveis, o que gera no hospedeiro um aumento da absorção intestinal de glicose, aumento da gli- cemia e insulinemia. Esta hipótese é sustentada pelo aumento das enzimas acetil-CoA carboxilase (ACC) e áci- do graxo sintase (FAS) e de suas pro- teínas mediadoras: ChREBP (carbo- hydrate responsive element binding pro- tein) e da SREBP-1 (sterol responsive element binding protein), observado nos camundongos “germ free” após a sua colonização.11 Tais enzimas reali- zam de novo lipogênese hepática e são responsáveis pelo aumento de trigli- cérides hepáticos. Em resumo, estes estudos trazem evidências de que a microbiota intes- tinal participaria da digestão de poli- sacarídeos, aumentando a quantida- de de glicose no fígado e, portanto, a lipogênese. 11 Mas vale ressaltar que nem todos os tipos de fibras têm a capacidade de gerar aumento da massa gorda, pois a suplementação de carboidratos com propriedades prebióticas, como inu- lina, mostrou não aumentar, mas re- duzir a massa gorda tanto em animais como em humanos.11 3- Influência da Microbiota Intestinal nas Inflamações de Baixo Grau Além de maior quantidade de gor- dura corporal, camundongos colo- nizados parecem também ter mais marcadores inflamatórios (IL-1, TNF-α, MCP-1, IL-6), maior into- lerância à glicose e resistência à in- sulina, em comparação aos camun- dongos “germ free”.8 O mesmo pa- rece ocorrer em animais com dietas ricas em gorduras e pobres em fibras (“western diets”). Para ligar esse tipo de dieta às in- flamações de baixo grau, se propôs que esse tipo de alimentação gera uma alteração negativa da micro- biota intestinal, com um aumento das bactérias gram negativas, que possuem como componente de sua membrana uma substância chama- da LPS (lipopolisacarideos bacte- rianos) e redução de bactérias boas (Biffidubacterias), o que acarreta al- teração da permeabilidade intesti- nal. Com isso ocorre maior absor- ção da LPS, o que caracteriza um quadro de endotoxemia metabóli- ca, e esta, ao se ligar ao complexo CD14 e TLR4 (toll like receptor 4) das células imunes inatas, funciona- ria como um gatilho para estimular a secreção de citocinas pró-inflama- tórias que contribuem para desor- dens metabólicas. 11,12 A favor dessa teoria, contam es- tudos que encontraram níveis au- mentados de LPS em camundongos alimentados com dietas tipo “wes- tern”, e de outros onde a infusão crônica de LPS em pequenas quan- tidades gera aumento do tecido adi- poso, acompanhado por aumento da resistência da insulina, da glice- mia e de fatores inflamatórios.11,13 Em humanos existem também boas evidências, pois indivíduos que possuem dietas “western” apre- sentam endotoxexemia e também aumento de fatores inflamatórios como TNFα. Em pacientes diabé- ticos se observa também maior grau de endotoxexemia em comparação a indivíduos normais com mesmo sexo, idade, IMC. 11 4 - Microbiota Intestinal Pode Induzir a Regulação de Genes do Hospedeiro que Modulam como a Energia É Gasta e Armazenada A presença da microbiota parece ser capaz de inibir a produção de Fas- ting-Induced Adipose Factor (FIAF) no intestino, que por sua vez é quem controla a atividade da lípase lipo- protéica (LPL). 11 Um estudo com animais mostrou que 14 dias após a colonização de camundongos GF, estes passavam a apresentar um aumento em torno de 2/3 das concentrações de triglicéri- des hepáticos, acompanhado por um aumento da expressão de enzimas, como ACC e FAZ, e de suas proteí- nas mediadoras, que seriam respon- sáveis pelo aumento de peso e tecido adiposo nesses animais. Além disso, se observou um aumento da expres- são de LPL em diversos tecidos des- ses animais e uma redução de FIAF apenas no intestino. 11 Um estudo posterior mostrou, ao comparar animais sem microbiota e animais com microbiota, que os ní- veis de FIAF eram menores nos ani- mais com microbiota, e que essa al- teração novamente ocorria apenas no intestino e era acompanhada por aumento de peso, aumento da glice- mia e resistência à insulina e redução dos níveis de triglicérides séricos, o que indica maior atividade da LPL.14 Logo, a microbiota pode afetar os dois lados do balanço energético: como fator que influencia a aquisi- ção de energia dos componentes da dieta e como fator que afeta genes do hospedeiro, que regulam como a energia é gasta e estocada. 5 – Tratamento e Perspectivas O uso de antibióticos em camun- dongos parece alterar, significativa- mente, a microbiota intestinal destes e está associado à grande melhora da endotoxexemia metabólica, redução da infiltração de macrófagos, marca- dores inflamatórios e estresse oxida- tivo, melhora da esteatose hepática e 6 – ABESO 53 – Outubro 2011
  • 3. resistência à insulina.1,11 Probióticos são definidos como microorganismos que, em quantida- des equilibradas, trazem benefícios à saúde do hospedeiro.5 Estudos têm mostrado efeitos positivos do uso de probióticos para desordens metabólicas e regulação do peso corpóreo. Exemplo disso foi o uso da cepa Lactobacillus gasseri SBT 2055 (LG2055), que como re- sultado mostrou efeito positivo na redução de gordura abdominal, su- gerindo portanto um efeito benéfi- co no tratamento de desordens me- tabólicas.15 O uso de uma mistura de probi- óticos VSLno.3 trouxe bons resulta- dos na redução da obesidade indu- zida por dieta e melhorou esteatose hepática e resistência à insulina, au- mentando células “natural killer” e reduzindo sinalização inflamatória. A suplementação de Lactobacillus plantarum strain N.14 (LP14) foi acompanhada por uma redução no tamanho dos adipócitos em ratos.16 A suplementação de prebióticos, definidos como compostos não di- geríveis, mas fermentáveis, que atu- am beneficamente sobre o hospe- deiro por estimular seletivamente o crescimento de determinada espécie ou de um número limitado de es- pécies de bactérias no cólon, parece também ser positiva.17 A suplementação de FOS (fru- toligossacarídeos) gerou melhora na tolerância à glicose, secreção à insu- lina e normalizou o grau de inflama- ção, através da redução da endoto- xexemia, produção de citocinas pró- -inflamatórias plasmáticas e no teci- do adiposo, provavelmente devido a um aumento das Bifidobacterium SSP, que têm efeito protetor sobre a barreira intestinal.3 A suplementação de 16g/dia de inulina parece promover saciedade e reduzir apetite e ingestão calórica em torno de 10%; já a suplementação de 20g deste mesmo prebiótico foi associada, em outro estudo, ao au- mento das concentrações de GLP1/ PYY e à mudanças no apetite. 3,18 Vale ressaltar que a suplementa- ção de fibras dietéticas não fermen- táveis não é eficaz para os efeitos des- critos, sendo estes efeitos atribuidos exclusivamente a fibras prebióticas.3 A relação entre microbiota e obe- sidade esta cada vez mais clara, mas ainda existem muitos mecanismos a serem esclarecidos e estudos são ne- cessários para comprovação do efei- to dos pró/prebióticos e, até mesmo, de antibióticos como coadjuvantes no tratamento da obesidade/DM/ SM. O principal desafio, atualmen- te, está em identificar bactérias be- néficas que ajudem no controle da obesidade e desordens metabólicas relacionadas. c Referências Bibliográficas 1. Tsukumo MD, Carvalho MB, Carvalho-Filho MA, Saad MJA. Translational research into gut microbiota: new horizons in obesity treat- ment. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/2. 2. Cani PD, Delzonne NM. Gut microflora as a target for energy and metabolic home- ostasis. Curr Opin Nutr Metab Care, 2007; 10(6):729-34. 3. Cani PD , Delzenne NM. The gut microbiome as therapeutic target. Pharmacology & Thera- peutics. 2011; 130: 202–212. 4. DiBaise JK,Zhang H, Crowell MD, Krajmalnik- Brown R, Decker A, Rittmann B. Gut Microbio- ta and Its Possible Relationship with Obesity. Mayo Clin Proc. 2008;83(4):460-469. 5. Salminen S, Bouley C, Boutron-Ruault MC, Cummings JH, Franck A, Gibson GR, Isolau- ri E, Moreau MC, Roberfroid M, Rowland I. Functional food science and gastrointestinal physiology and function. Br J Nutr. 1998;80 Suppl 1:S147-71. 6. Ley RE, Backhed F, Turnbaugh P, Lozupone CA, Knight RD, Gordon JI. Obesity alters gut microbial ecology. Proc Natl Acad Sci USA. 2005;102(31):1100070-5. 7. Ley RE, Turnbaugh PJ, Klein s, Gordon JI. Hu- man gut microbes associated with obesity. Nature. 2006; 444:21/28. 8. Backhed F, Ding H, Wang T, Hooper LV, Koh GY, Nagy A, et al. The gut microbiota as an en- vironmental factor that regulates fat storage. Proc Natl Acad Sci USA.2004;101(44):1571- 8. 9. Turnbaugh PJ, ley RE, Mahowald MA, Ma- grini V, Mardis ER, Gordon JI. An obesity- -associated gut microbiome with incre- ase capacity for energy harvest. Natu- re.2006;444(7122):1027-31. 10. Delzenne NM, Cani PD. Interaction betwe- en obesity and the gut microbiota: relevance in nutrition. Annu. Rev. Nutr. 2011.31:15-31. 11. Cani P D, Delzenne NM. The role of the gut microbiota in energy metabolism and meta- bolic disease. Current Pharmaceutical Design. 2009;15:1546-1558. 12. Cani PD, Amar J, Iglesias MA, Poggi M, Knauf C, Bastelica D, Neyrinck AM, Fava F, Tuohy MK, Chabo C, Waget A, Delme´e E, Cousin B, Sulpice T, Chamontin B, Ferrie`res J, Tanti J, Gibson G, Casteilla L, Delzenne NM, Alessi MC, Burcelin R. Metabolic endotoxemia ini- tiates obesity and insulin resistance. Diabetes. 2007; 56:1761-1772. 13. Cani PD, Bibiloni R, Knauf C,Waget A, Neyrin- ck AM, Delzenne NM, Burcelin R. Changes in gut microbiota control metabolic endotoxe- mia-induced inflammation in high-fat diet–in- duced obesity and diabetes in mice. Diabe- tes. 2008;57: 1470-81. 14. Backhed F, Manchester JK, Semenkovich CF, Gordon JI. Mechanisms underlying the resis- tance to diet-induced obesity in germ-free mice. PNAS. 2007; 104( 3): 979–984. 15. Y Kadooka, M Sato, K Imaizumi, A Ogawa, K Ikuyama, et al. Regulation of abdominal adi- posity by probiotics (Lactobacillusgasseri SBT2055) in adults with obese tendencies in a randomized controlled trial. European Jour- nal of Clinical Nutrition.2010 ; 64: 636–643. 16. Takemura N, Okubo T, Sonoyama K. Lac- tobacillus plantarum strain No.14 reduces adipocyte size in mice fed high-fat diet. Ex- perimental Biology and Medicine 2010; 235:849–856. 17. Roberfroid M, Gibson GR, Hoyles L, McCart- ney AL, Rastall R, Rowland I, Wolvers D, Watzl B, Szajewska H, Stahl B, Guarner F, Respondek F, Whelan K, Coxam V, Davicco MJ, Léotoing L, Wittrant Y, Delzenne NM, Cani PD, Neyrin- ck AM, Meheust A. Prebiotic effects: meta- bolic and health benefits. Br J Nutr. 2010;104 Suppl 2:S1-63. 18. Sanz Y, Santacruz A, Gauffin P. Probiotics in the defence and metabolic balance of theor- ganism: Gut microbiota in obesity and meta- bolic disorders. Proceedings of the Nutrition Society. 2010; 69: 434–441. outubro 2011 – ABESO 53 – 7