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Nome: Miguel Pinto
Nº:18 – 6ºA
Numa fonte que corria,
       Certo dia,
  Um estólido veado
       Retratado
 No cristal puro se via.
Em segredo
  Celebrava a celsa frente
   Adornada lindamente
  Dum ramífero arvoredo.

 Mas se a frente celebrava,
        Lamentava,
A magreza assaz mesquinha
Que nas longas pernas tinha,
   Que podiam parecer
  Quatro fusos de torcer.
Eis que nisto,
  Um sabujo mui previsto
        Deu com ele.
     O levíssimo veado,
         Assustado,
  Por querer salvar a pele,
 Meteu pernas tão ligeiro,
        Que o rafeiro
  Já mui longe lhe ficava;
         E escapava,
Se entrar numa selva escura
 Não quisesse o miserando;
Que a cornífera armadura
          Encalhando
Entre os ramos da espessura,
           O prendia,
Lugar dando ao que o seguia,
        Que chegasse
   E no lombo lhe ferrasse.
Os seus chifres esgalhados,
         Tão louvados,
Que lhe ornavam tanto a frente,
  Lhe empeceram totalmente
          O proveito
 Que seus pés lhe tinham feito;
          Mal olhados
    Por esguios e delgados.
Neste aperto se desdisse
       Sem conforto
    O veado semimorto,
         E maldisse
Da armação, que viu na testa,
     A beleza sedutora,
        Que lhe fora
        Tão funesta!
Muitas vezes maldizemos
         O que é útil,
E o vistoso engrandecemos,
        Bem que fútil.
Eis o exemplo demonstrado
          No veado.
O veado e os cães

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  • 2. Numa fonte que corria, Certo dia, Um estólido veado Retratado No cristal puro se via.
  • 3. Em segredo Celebrava a celsa frente Adornada lindamente Dum ramífero arvoredo. Mas se a frente celebrava, Lamentava, A magreza assaz mesquinha Que nas longas pernas tinha, Que podiam parecer Quatro fusos de torcer.
  • 4. Eis que nisto, Um sabujo mui previsto Deu com ele. O levíssimo veado, Assustado, Por querer salvar a pele, Meteu pernas tão ligeiro, Que o rafeiro Já mui longe lhe ficava; E escapava, Se entrar numa selva escura Não quisesse o miserando;
  • 5. Que a cornífera armadura Encalhando Entre os ramos da espessura, O prendia, Lugar dando ao que o seguia, Que chegasse E no lombo lhe ferrasse.
  • 6. Os seus chifres esgalhados, Tão louvados, Que lhe ornavam tanto a frente, Lhe empeceram totalmente O proveito Que seus pés lhe tinham feito; Mal olhados Por esguios e delgados.
  • 7. Neste aperto se desdisse Sem conforto O veado semimorto, E maldisse Da armação, que viu na testa, A beleza sedutora, Que lhe fora Tão funesta!
  • 8. Muitas vezes maldizemos O que é útil, E o vistoso engrandecemos, Bem que fútil. Eis o exemplo demonstrado No veado.