As PME portuguesas devem apostar na internacionalização, especialização e inovação para ajudar Portugal a sair da crise, focando-se em mercados emergentes como Brasil e África. Devem também produzir bens transacionáveis e exportáveis para aumentar as vendas externas. Contudo, enfrentam dificuldades de acesso a crédito devido à recessão, sendo necessário o Governo criar condições para reduzir atrasos de pagamentos e apoiar a exportação de bens de valor acrescentado.
1. Uma iniciativa de:
Esta revista faz parte integrante do Diário Económico n.º 5122 de 24 de Fevereiro de 2011 e não pode ser vendida separadamente.
PME LÍDER 2011 | AS 6700 PME QUE LIDERAM EM PORTUGAL
PORTUGAL Como podem as PME contribuir para o futuro do País ENTREVISTAS Basílio Horta,
João Castello Branco, António Souto INTERNACIONALIZAR Investir no exterior para fugir à crise
PRODUZIR A competitividade começa no mercado interno INOVAR O crescimento de Portugal na inovação
VENDER Como se vende a marca Portugal TURISMO As PME que lideram ANÁLISE As líderes, sector a sector
2.
3. editorial
Negócios com valor
acrescentado
Exportar é vital, mas o que se exporta é ainda mais determinante. A chave está na inovação:
é preciso inovar para crescer mais.
HELENA CRISTINA COELHO Subdirectora
i“Inovar” tornou-se uma palavra-chave
nos discursos de políticos, nos progra-
mas de governantes e na estratégia
de muitos empresários. Dos primeiros
ouvem-se palavras bonitas, dos segun-
dos esperam-se condições para uma
conjuntura favorável, mas é aos últi-
mos, aos empresários, que se exigem
resultados e números que alimentem
o crescimento da economia. E, embo-
ra o número de empresas portuguesas
dependerá da aptidão das empresas
nacionais para vender mais dentro e,
sobretudo, fora de Portugal.
Exportar é vital, mas o que se exporta
é ainda mais determinante. É no valor
acrescentado das suas criações e pro-
duções que os portugueses marcam a
diferença. Daí a importância do inves-
timento em investigação, desenvolvi-
mento, inovação ‘made in Portugal’. Os
apoios de 275 milhões de euros anun-
que estão a marcar pontos no país e em ciados pelo Governo para apoiar as em-
vários mercados internacionais com a presas exportadoras são um precioso
criação de produtos e serviços inova- alento, sobretudo num período de cri-
dores, a verdade é que ainda são insu- se como o actual, para alavancar negó-
ficientes para acelerar a economia na- cios. Mas devem ser encarados apenas
cional. Há poucas que são muito boas como isso, um apoio, não podem ali-
– mas são precisas mais. mentar uma situação de dependência.
A chave está na inovação: é preci- “A inovação distingue os líderes dos
so inovar para crescer mais. E essa seguidores”, defendeu um dia um em-
capacidade - como vários casos de preendedor norte-americano. Esse ho-
Pequenas e Médias Empresas (PME) mem chama-se Steve Jobs, começou a
nesta edição provam -, depende mais trabalhar num negócio de futuro in-
do investimento e do esforço do que certo numa pequena garagem e hoje é
da dimensão. E agora que o país vive dono da Apple, uma das mais valiosas e
um momento especialmente críti- inovadoras companhias do planeta. Os
co, essa capacidade de inovar torna- melhores exemplos, às vezes começam
se ainda mais vital para potenciar a pequenos. Fazê-los crescer depende
criatividade, a retenção de talentos, o muito da convicção, da criatividade e
aumento de produção e o crescimen- do momento certo. E hoje a economia
to das exportações. Cada vez mais, a portuguesa precisa mais de líderes do
performance da economia portuguesa que de seguidores.
PME LÍDER 2011
4. índice
04
ABERTURA
Que futuro
para Portugal?
Especialistas explicam por que via deve Portugal caminhar
para chegar a bom porto. Entre internacionalizar, inovar, produzir
e saber vender, saiba o que propõem os gestores e conheça
13 casos de empresas de sucesso. págs. 6 a 51
FOTO BRUNO BARBOSA
ENTREVISTA
60
Luís Filipe Costa, presidente do IAPMEI: Director
António Costa
“Muitas empresas têm resistido Director-executivo
Bruno Proença
Subdirectores
bem à crise” Francisco Ferreira da Silva,
Helena Cristina Coelho,
Pedro Sousa Carvalho
pág. 60 e Vitor Costa
Editor
Irina Marcelino
Coordenação
Ana Cunha Almeida
PME LÍDER Redacção
Ana Cunha Almeida, António
Os oito passos para alcançar Freitas de Sousa, Cátia Simões,
Dírcia Lopes, Elisabete Felismino,
Elisabete Soares, Hermínia Saraiva,
a liderança Marina Conceição, Nuno Miguel
Silva, Raquel Carvalho,
66 pág. 56 Sónia Santos Pereira
Produção
Ana Marques (chefia),
Artur Camarão, Carlos Martins
João Santos e Rui Rato
ENTREVISTA Departamento Gráfico
Dário Rodrigues (editor),
Turismo de Portugal: “Estamos Ana Maria Almeida
e Inês Rodrigues
Tratamento de Imagem
optimistas em relação a 2011” Samuel Rainho (coordenação),
Paulo Garcia, Pedro Filipe
e Tiago Maia
pág. 66 Fotografia
Paulo Figueiredo (editor),
João Paulo Dias, Paula Nunes,
Paulo Alexandre Coelho
e Cristina Bernardo
INTERNACIONALIZAÇÃO Impressão e Acabamento
Sogapal
Os melhores mercados para
82 as empresas portuguesas Presidente
Nuno Vasconcellos
pág. 82 Vice-presidente
Rafael Mora
Administradores
Paulo Gomes e António Costa
Directora Administrativa
ANÁLISE e Financeira
Elisabete Seixo
Top 15 e análise de 16 sectores Director Geral Comercial
Bruno Vasconcelos
Director de Operações
págs. 204 a 235 e Controlo
Pedro Ivo de Carvalho
Redacção
As 6700 PME Líder Rua Vieira da Silva, nº45,
1350-342 Lisboa,
Tel.: 21 323 67 00/ 21 323 68 00
págs. 68 a 71 (turismo) e 96 a 203 (geral) Fax: 21 323 68 01
PME LÍDER 2011
5. O ano da consolidação
do estatuto das PME Líder
COFACE SERVIÇOS PORTUGAL
Direcção de Marketing e Qualidade
f
Foi com grande satisfação que a Coface Serviços Por-
tugal abraçou mais uma edição das empresas PME LÍ-
DER, juntamente com o Diário Económico, ao fornecer
a informação complementar sobre as entidades que
constam na listagem cedida pelo IAPMEI no âmbito do
programa de incentivo às empresas FINCRESCE, criado
em parceria protocolar com os cinco principais grupos
bancários a operar em Portugal.
O Programa PME Líder é já uma referência na classifica-
ção do tecido empresarial português, enquanto elemen-
to impulsionador de novas exigências e de modelos de
tentado e a preparação de modelos de gestão inovado-
res e adequados a cada negócio.
As PME Líder têm um Volume de Negócios superior a
27 Mil Milhões de Euros, dos quais cerca de 4 mil e qui-
nhentos milhões são relativos a exportações, uma vez
que cerca de 54% das empresas desta listagem são ex-
portadoras. É importante destacar que a soma do total
do activo de todas estas empresas representa mais de
23 Mil Milhões de Euros, um valor excepcional que é
também um bom indicador da qualidade de gestão.
Em relação aos Distritos com maior número de pre-
gestão inovadores e responsáveis, representando uma senças, destacamos o Porto (20%), Lisboa (16%), Aveiro
selecção de destaque ao nível da gestão empresarial (13%), Braga (12%) e Leiria (9%), denota-se, uma vez
portuguesa, com gestores focalizados na excelência de mais, a concentração das empresas localizadas nas
resultados, com base no investimento em capital huma- regiões centro e norte do País, provenientes dos mais
no e em critérios de qualidade rigorosos. variados sectores de actividade, entre os quais desta-
Analisando os dados das empresas que constam na camos as indústrias alimentar e têxtil, o comércio por
listagem deste ano das PME LÍDER, em termos gerais grosso e a construção. No conjunto, estas empresas e
verificamos que nesta edição de 2011 o conjunto das empresários empregam 231.058 mil funcionários, um
empresas e empresários reconhecidos com este esta- número que denota a sua importância no seio das co-
tuto são cerca de 6.562. Ou seja, mais 1.344 entidades munidades, bem como, a sua responsabilidade social
que na edição anterior de 2010, o que demonstra um enquanto facilitadoras do equilíbrio socioeconómico
claro interesse do tecido empresarial por esta iniciati- das famílias da sua região, directa e indirectamente
va, associada não só ao reconhecimento das valias de consigo relacionadas.
cada empresa, por um conjunto de entidades priva- A adesão ao programa, bem como, os números que
das e organismos públicos, mas principalmente pelos apresentamos, levantam o véu do que poderá ser o ce-
benefícios que traz com vista ao reconhecimento dos nário do próximo ano, quando não devemos falar de
seus pares, ao nível da visibilidade e notoriedade as- uma alteração de mentalidades na gestão portuguesa,
sociadas, que se traduzem no reforço da sua imagem mas sim na consolidação de novos modelos de gestão e
e vantagens competitivas face ao mercado. Tais como, atitudes, criadas a partir da inovação e da excelência e
o acesso privilegiado a linhas de financiamento exclu- que, no seu todo, representam apenas um grande ob-
sivas, com o propósito de fomentar o crescimento sus- jectivo global: o progresso.
PME LÍDER 2011
6. PME Líder
06 futuro
?
Qual STÉPHANE GARELLI
Centro para a Competitividade
BASILIO
HORTA
o futuro “ Mundial
As pequenas e médias empresas
“
AICEP
Neste momento é inegável que
para desempenham um papel funda-
mental na evolução económica.
Dão algo de fundamental à
economia: diversidade. Quando
já nos distinguimos em muitos
mercados internacionais exigen-
tes como bons fornecedores de
bens e serviços em áreas, como
as PME
só existem grandes empresas, por exemplo as das energias re-
é-se vítima da crise. As PME dão nováveis, das novas tecnologias
estabilidade e emprego para as de informação e comunicação,
classes médias , e a estabilidade, da saúde, da biotecnologia, do
é um factor-chave para a compe- automóvel, da aeronáutica, da
e para a titividade de um país. A Suíça, a
Suécia e Alemanha são casos de
sucesso no que respeita a PME
exportadoras. Mas não se deve
defesa e das nano-tecnologias.
Houve também uma resposta
inovadora à forte concorrência
internacional nos sectores ditos
Economia apenas exportar. Deve-se tam-
bém ter em conta o mercado in-
terno. As exportações portugue-
sas - baseadas em produtos de
tradicionais, que reconquista-
ram notoriedade e prestígio pela
qualidade, inovação, design e
marketing.
valor - devem estar viradas para Há que persistir na via da ino-
os mercados emergentes, como o vação, do conhecimento e da
Brasil, Angola e o resto de África, qualidade dos nossos produtos
que prefere, em geral, fazer ne- e serviços, para que se consolide
gócios com pequenas empresas e reforce a imagem positiva que
Portugal já entrou ou não em recessão? Carlos Costa,
e países. As PME portuguesas as nossas empresas têm vindo a
governador do Banco de Portugal, diz que sim. Basílio Horta
afirma que não. Mas enquanto se discutem números,
devem apostar na produção de granjear no exterior.
as empresas lutam pela sua própria vida e pela vida alimentos, na especialização e
do País. Alguns especialistas disseram ao Diário Económico na tecnologia.
o que pensam que podem as pequenas e médias empresas
portuguesas fazer para ajudar o País a sair da crise
e o que pode o País fazer por elas.
POR IRINA MARCELINO
PME LÍDER 2011
7. JORGE ROCHA DE JOÃO CASTELLO JOÃO JOÃO
MATOS BRANCO CONFRARIA RODRIGUES
AIP McKinsey Economista Economista
“
Duas áreas em que devem haver
mudanças:
Na campanha nacional contra os
“
É fundamental para a nossas
PME desenvolverem uma voca-
ção de exportação e internacio-
“
Parece-me importante centrar
os apoios a empresas que pro-
duzam bens transaccionáveis.
“
As dificuldades no acesso ao crédi-
to e a recessão induzida por polí-
ticas de austeridade contraprodu-
atrasos de pagamentos, cabendo nalização. O seu sucesso e o do Como exemplos: centes e com escala europeia que
ao Governo criar as condições em País estão intimamente ligados a) Criar condições para reduzir comprimem a procura interna são
termos de execução efectiva no à abertura de novos mercados os custos unitários do trabalho, a maior ameaça às PME e à eco-
que respeita ao funcionamento além-fronteiras. Para que este designadamente através de nomia nacional. Neste contexto, o
da justiça económica. Refira-se reforço da internacionalização uma redução das contribuições Governo nacional, em articulação
que a próxima transposição da seja possível, é necessária uma sociais a cargo da entidade pa- com os outros governos das pe-
nova directiva comunitária re- aposta na diferenciação e na tronal. riferias, deveria fazer pressão no
lacionada com o ‘late payment’ inovação através do investimen- b) Reduzir os prazos de paga- próximo conselho europeu para
torna esta medida ainda mais to interno em I&D, em recursos mentos, designadamente dos que o fundo europeu se transfor-
oportuna. Justificação: redução humanos de qualidade, em par- pagamentos devidos pelo Esta- masse num fundo de verdadeiro
da necessidade de recursos fi- cerias estratégicas com outras do e pelas administrações locais. apoio à economia, prescindido de
nanceiros e consequentes custos instituições líderes e universida- c) Reforçar articulação com cen- receitas recessivas e atenuando
para o funcionamento normal des. Dados os nossos problemas tros de tecnologia e de investi- as dificuldades de financiamento
da economia. de dimensão também creio que gação. nacionais. Este fundo deveria dar
Na revisão da tributação na es- as empresas portuguesas te- d) Simplificar leis e procedimen- ao país mais tempo para efectu-
fera pessoal (IRS) dos rendimen- rão que aprender a associar-se tos, reduzindo custos legais en- ar uma consolidação orçamental
tos auferidos pelos empresários e inclusivamente consolidar-se frentados pelas empresas. apoiada no crescimento econó-
de micro e pequenas empresas muito mais. mico e abrir caminho à emissão
(por um período de cinco anos) de dívida pública europeia. Por
no sentido de promover a sua re- outro lado, dadas as assimetrias
dução significativa. Justificação: de competitividade na União,
aumentar os recursos financei- países como Portugal deveriam
ros das empresas sem recurso a recuperar margem de manobra
dívida e fomento do empreen- para definir políticas industriais
dedorismo. assertivas de apoio aos sectores
industriais nacionais mais inova-
dores, ajudando assim a debelar
os seus desequilíbrios com o ex-
terior.
PME LÍDER 2011
8. que futuro poderá Portugal seguir
08 internacionalizar
Investir no exterior para
fugir à crise
Internacionalizar parece ser fundamental para os representantes associativos e para O consumo interno está a baixar, os in-
alguns empresários. Mas para ir para fora não é preciso apenas coragem. É preciso vestimentos não param de decrescer e
conhecer os mercados para onde se vai, ir com um projecto definido e... ter sorte. o abrandamento económico teima em
ensombrar as contas do País. Este é o ce-
POR DÍRCIA LOPES nário com que as empresas portuguesas
se deparam no dia-a-dia e para o qual
procuram uma solução. Para o Governo
e agentes económicos a resposta para
reverter ou minimizar este cenário só
pode ser uma: internacionalizar.
ANTÓNIO SARAIVA
Presidente da CIP
“ O mercado nacional é muito
limitado para a esmagadora
maioria das empresas
FOTO BOBBY YIP/REUTERS
portuguesas.
PME LÍDER 2011
9. A aposta no investimento no exterior Assim, para estas empresas, a inter- Por isso, sugere que “há que persistir
não podia estar mais na ordem do dia, nacionalização é um imperativo, uma na via da inovação, do conhecimento
sobretudo neste mês de Fevereiro que necessidade premente”. De acordo e da qualidade dos nossos produtos e
ficou marcado pela realização do Con- com o presidente da CIP, preparar as serviços, para que se consolide e re-
gresso das Exportações, onde o Gover- empresas, em particular as Pequenas force a imagem positiva que as nossas
no anunciou novos apoios às empresas e Médias Empresas, para um novo ci- empresas têm vindo a granjear no ex-
exportadoras de mais de 275 milhões clo de crescimento coloca como con- terior”. A fasquia no que se refere às
de euros. Durante este Congresso, o dição um forte incremento da pro- exportações é ambiciosa: aumentar, a
Primeiro-ministro José Sócrates lem- dutividade e da competitividade. Por médio prazo, o peso no PIB para 40%,
brou que as exportações devem “ser isso a aposta das estratégias empre- sendo que no final do terceiro trimes-
uma prioridade indiscutível na econo- sariais e das políticas públicas “deve tre de 2010 situava-se nos 33%.
mia portuguesa para o ano de 2011” e se centrar no sector das actividades Francisco Van Zeller, presidente do
garantiu que “o Estado e as empresas transaccionáveis, ou seja, com uma Conselho para a Promoção da Inter-
estão determinados a fazer uma agen- orientação para a exportação e in- nacionalização, afirmou que “as em-
da comum” neste domínio. ternacionalização. Nestas condições, presas têm de investir no estrangeiro
António Saraiva, presidente da Con- diria que a internacionalização é o ca- para se tornarem competitivas. Todos
federação da Indústria Portuguesa minho certo para o futuro”. os esforços têm de ser no sentido das
(CIP), em declarações ao Diário Eco- Neste âmbito, Basílio Horta, presiden- exportações e de redução das impor-
nómico, não tem dúvidas que “o mer- te da AICEP – Portugal Global, salientou tações”. O presidente do CPI lamenta
cado nacional é muito limitado que “é inegável que já nos que ainda haja poucas PME exporta-
para a esmagadora maioria distinguimos em muitos doras, já que de um total de 370 mil
das empresas portuguesas. mercados internacionais empresas em Portugal cerca de 94%
exigentes como bons for- do total das exportações têm origem
necedores de bens e serviços em apenas três mil entidades. Van
em áreas como por exemplo as Zeller defende que o País deve diver-
das energias renováveis, das novas sificar mais os países alvos para se
tecnologias de informação e comuni- conseguir ser independente das crises
cação, da saúde, da biotecnologia, do da Europa. Assim, deve-se olhar para
automóvel, da aeronáutica, da defesa o Atlântico Sul, América Latina, Líba-
e das nano-tecnologias”. O presidente no, Síria, Jordânia, Egipto, Iraque, su-
da AICEP referiu que houve também doeste asiático (sobretudo Singapura)
uma resposta inovadora à forte con- como destinos alternativos.
corrência internacional nos sectores Exemplo de inovação e de protagonis-
ditos tradicionais, que reconquista- ta no panorama internacional desde
ram notoriedade e prestígio pela qua- 1992 é a Logoplaste. Presente em 17
lidade, inovação, design e marketing. países com 54 fábricas e 1400 cola- >
FRANCISCO VAN VELLER FILIPE DE BOTTON
Presidente do Conselho para a Presidente da Logoplaste
Promoção da Internacionalização
“ As empresas têm de investir
no estrangeiro para se
tornarem competitivas. “ As empresas têm que
pensar que o seu mercado,
no mínimo, é a Europa.
PME LÍDER 2011
10. que futuro poderá Portugal seguir
10 internacionalizar
> boradores assume-se como uma em-
presa portuguesa com forte cariz in-
ternacional. O objectivo era simples:
encontrar espaço para continuar a
crescer, já que o mercado português
começava a ser muito limitado. Fili-
pe de Botton, presidente da empresa
que facturou 350 milhões de euros
em 2010, coloca a internacionaliza-
ção como ponto fundamental da es-
tratégia empresarial. “As empresas
têm que pensar que o seu mercado,
no mínimo, é a Europa. Hoje não há o
conceito de mercado local, é preciso
pensar que o mercado é internacio-
nal”, explicou. Com base nesta estra-
tégia, a Logoplaste está a crescer em
todas as geografias onde está presen-
te, sendo que cerca de 50% da factu-
ração da empresa é conseguida em
Portugal, Brasil e Reino Unido. Se-
gundo Filipe de Botton, as vendas no
mercado português têm um peso de
15% na facturação, o que é justificado
não por um decréscimo dos negócios
no mercado português, mas porque
os mercados internacionais e novos
estão a crescer. No mercado brasilei-
ro lidera e assume que detém a maior
empresa produtora de plásticos.
Para o empresário o trunfo para
conquistar novos mercados e con-
tratos assenta na inovação isto por-
que apresentam soluções diferentes
face aos principais concorrentes.
Questionado sobre se a crise não li-
mitou o investimento em inovação,
Filipe de Botton é peremptório em
afirmar que “nestas alturas é que
mais se deve apostar em inovação.
Continuamos a crescer e a cimentar
a posição de liderança porque man-
tivemos o investimento em pesquisa
e desenvolvimento, que por sua vez
leva à inovação”. No ano passado a
empresa investiu 11 milhões de eu-
ros em I&D.
O presidente da Logoplaste escusou-
se a sugerir os melhores mercados
e estratégias a adoptar isto porque
“quem deve escolher a sua geografia
de eleição é cada uma das empresas.
São elas que terão de saber onde es-
tão as suas vantagens competitivas”.
PME LÍDER 2011
11. ENTREVISTA A BASÍLIO HORTA,
PRESIDENTE DA AICEP PORTUGAL GLOBAL
“As nossas exportações cresceram
o ano passado cerca de 15%”
Basílio Horta, A internacionalização é a alternativa Quais os apoios previstos
presidente da AICEP, viável para as empresas continuarem para as PME que pretendam
alerta que num a crescer? internacionalizar?
contexto de crise a Um País cujo mercado interno é de apenas Desde logo, apoios de índole financeira e
internacionalização de 10 milhões de consumidores e que se in- de facilitação do acesso ao financiamento.
torna-se ainda tegra no processo de globalização tem de Os sistemas de incentivo do QREN estão
mais imperiosa. encarar a exportação como uma via de sen- quase exclusivamente focalizados na te-
Para as PME que tido obrigatório indispensável ao cresci- mática da internacionalização, em espe-
pretendam avançar mento económico. Num contexto de crise, cial no reforço das capacidades produti-
para o exterior a internacionalização apresenta-se como vas e de inovação das empresas que sejam
estão previstos uma necessidade ainda mais imperiosa. orientadas para os bens transaccionáveis
apoios, por Felizmente as nossas empresas têm dado e para os mercados internacionais, bem
exemplo, ao nível do uma resposta à altura. Contrariando todas como no reforço da actuação directa das
financiamento. as previsões nacionais e internacionais, as empresas nos mercados externos. No úl-
nossas exportações cresceram o ano passa- timo Concurso para a Internacionalização
POR DÍRCIA LOPES do cerca de 15%, em pleno ciclo dominado de PME a AICEP recebeu 320 novas candi-
pela crise internacional. Estou confiante daturas de PME, que traduzem intenções
em que a resposta este corrente há-de con- de investimento da ordem dos 120 milhões
tinuar a ser determinantemente positiva. de euros na área da promoção internacio-
nal, da prospecção de novos mercados de
As PME estão a triunfar no exterior? exportação e do incremento do esforço
Sem dúvida. Há cada vez mais PME a ex- de marketing cada vez mais necessário à
portar para mais e diversificados merca- presença das empresas portuguesas num
dos e a competir em segmentos muito exi- mercado globalizado e extremamente
gentes e de vanguarda. A par do esforço competitivo.
no sentido da diversificação de mercados
e da melhoria do padrão das exportações, E quais os apoios para vencer a crise?
um dos nossos objectivos estratégicos é o Nos últimos dois anos, no contexto das
alargamento da base exportadora, objecti- Medidas Anti-Crise, foi dada particular
vo que tem vindo a ser realizado com uma atenção ao acesso ao financiamento,
crescente integração de PME no arco ex- tendo sido criadas e reforçadas as li-
portador nacional. O País pode orgulhar-se nhas de crédito PME Investe, que visam
dos feitos das suas empresas nos mercados o acesso ao crédito em condições prefe-
internacionais, em nichos onde a criativi- renciais, através da bonificação das ta-
dade e a inovação se apresentam como xas de juro associadas ao financiamento
factores determinantes de êxito. Poderia e da minimização do risco das operações
citar muitos outros além dos sectores das bancárias. As seis linhas PME Investe
TIC, da nano tecnologia, biomédicas, mol- permitiram já enquadrar mais de 81 mil
FOTO PAULA NUNES
des, engenharias e arquitectura, energias operações, correspondendo a 53 mil em-
e ambiente, onde muitas PME nacionais se presas apoiadas por este instrumento,
têm destacado como empresas de prestí- num montante de crédito superior a 7,3
gio em mercados de grande exigência. mil milhões de euros.
PME LÍDER 2011
12. case-study
12 Frulact
Fruta da Frulact
faz as delícias
do mundo
a As fábricas de preparado de fruta
da portuguesa Frulact são as for-
necedoras de matéria-prima dos
iogurtes de marcas tão conheci-
das como a Danone ou a Nestlé.
Esta empresa familiar nasceu na
Maia em 1987, mas cedo perce-
beu “que o mercado doméstico
não tinha escala capaz de nos
permitir atingir os níveis de
competitividade exigidos, bem
como permitir a libertação de
recursos capazes, de efectuar
a aposta que sempre esteve no
As fábricas da
Frulact são
responsáveis
pela matéria-
prima de
iogurtes de
várias marcas
internacionais.
POR DÍRCIA
LOPES
Hoje, a componente externa
representa 96% do volume de
negócios da empresa que se si-
tua nos 70 milhões de euros. O
mercado ibérico e francês, bem
como o Norte de África e Médio
Oriente são os mais representa-
tivos da actividade. Questionado
sobre se equaciona entrar nou-
tros países, João Miranda admi-
tiu que a “Frulact continua aten-
ta a novas geografias”.
Hoje, as fábricas da Covilhã (con-
sideradas uma das melhores da
DNA dos seus mentores”, salien- Europa no sector) e a de Apt, em
ta João Miranda, presidente do França, têm localizações geoes-
grupo Frulact. Com esta ideia
em mente, a empresa iniciou o
processo de internacionaliza-
ção em 1992, quando terminou
o primeiro grande investimento
de três milhões de euros numa
nova fábrica na Maia, com tec-
nologia de ponta e capacidade
instalada suficiente para abor-
dar os mercados externos.
João Miranda recorda que “nessa
altura tínhamos duas certezas: só
facturávamos dois milhões de eu-
ros, e tínhamos consciência que
a aposta efectuada não permitia
erros nem falhas”. Mas o primeiro
cliente só surgiria dois anos depois
de terem efectuado o investimen-
to fruto de muita persistência.
PME LÍDER 2011
13. DADOS
DA EMPRESA
• Volume de negócios
70 milhões de euros
• Peso do exterior
96%
• Início da internacionalização
1992
• Número de fábricas
6
tratégicas, baseadas na lógica
da proximidade aos mercados
de maior consumo da Europa do
sul e central e do próprio apro-
visionamento. O mesmo acon-
tece com a fábrica de Larache
em Marrocos, de onde a Frulact
exporta para o Norte de África e
Médio Oriente. A fábrica de Ak-
bou na Argélia, é a única que re-
FOTO BRUNO BARBOSA
sulta de uma partilha de capital,
em que a Frulact é maioritária, e
que pretende responder ao mer-
cado argelino e adaptada à reali-
dade sociopolítica.
Na foto: O presidente do grupo explicou
João Miranda, que a abordagem ao mercado é
presidente da feita de forma faseada e diferen-
Frulact, uma ciada, privilegiando sempre a
empresa familiar proximidade ao cliente e numa
que dá cartas lógica de criação de uma man-
no mercado cha geográfica de influência. O
internacional. “conhecimento das expectativas
Recentemente e apetências do consumidor em
apostou na nova cada país, bem como o “acultu-
marca Fru dedicada ramento” da nossa organização,
a produtos sempre foi para nós a chave para
‘gourmet’ (ao lado) um maior sucesso”, afirmou João
Miranda. O presidente da Frulact
aconselha às PME que pretendam
FOTO CEDIDA POR FRULACT
avançar para o mercado externo
a “avaliar o risco e investir no
essencial, ou seja, conhecimento
e capital humano. Persistência,
persistência, persistência…”
PME LÍDER 2011
14. case-study
14 Diviminho
Diviminho prepara DADOS
DA EMPRESA
• Facturação do grupo
entrada no Brasil, Diviminho em 2010
60 milhões de euros
• Número de colaboradores
da Diviminho S.A.
Argélia e Líbia 140
• Estimativa de facturação
da Diviminho S.A. em 2011
34 milhões de euros
a A Diviminho, empresa do nor-
te especializada em tectos fal-
sos, divisórias e revestimen-
tos deu os primeiros passos na
área internacional no biénio
2005/2006. Na altura, Angola e
Espanha foram os dois países es-
colhidos para o arranque da ex-
pansão além-fronteiras. Depois
de a empresa ter estado envolvi-
da na maioria das grandes obras
de construção civil que surgi-
ram na última década em Por-
tugal (como os estádios do Euro
Perante
a incapacidade
de continuar
a crescer
no mercado
interno,
a Diviminho
investiu
num plano de
internacionalização
em 2005.
POR DÍRCIA
LOPES
2004), foi “confrontada com a
necessidade de crescer para po- presente em Espanha, França, as duas componentes internas e
der corresponder aos desafios e Angola, Tunísia e Cabo Verde. externa.
cumprir com os compromissos O presidente da empresa afir- António Sá destacou que nalguns
assumidos”, explicou António mou que todos estes países são mercados como Angola, França
Sá, presidente e administrador igualmente importantes para ou Tunísia, a Diviminho tem opta-
da Diviminho. O abrandamento Portugal mas, “neste momento, do por ter presença física, com es-
da economia e em especial da Angola e França assumem espe- critórios próprios que dão apoio
actividade imobiliária em Por- cial importância pelo dinamis- às equipas e pessoal que aí se en-
tugal e Espanha, levou também mo que têm evidenciado”. Mas a contram, sendo que estão dotados
à necessidade de “procura de expansão para o exterior não se de grande autonomia financeira e
mercados alternativos no exte- fica por aqui. Isto porque “estão gestão. Noutros mercados, como
rior, onde a capacidade e ‘know- a ser dados passos muito firmes os de Espanha e Cabo Verde op-
how’ da empresa pudessem ser para entrar, em breve e com tou-se pela gestão dos projectos
aproveitados. Em simultâneo, a grande intensidade, nos merca- com as mesmas equipas a serem
internacionalização é, desde há dos brasileiro e também no mer- deslocadas de Portugal, como em
alguns anos, considerada como cado argelino e líbio”, adiantou qualquer outra obra em território
uma vertente importante da es- António Sá. A componente ex- nacional, uma vez que o volume
tratégia de crescimento e conso- terna atingiu, em 2010, cerca de actual de negócios não justifica,
lidação da empresa e do grupo”, 30% do volume total de negócios para já, a instalação de escritórios
salientou António Sá. Hoje, além da empresa. O objectivo para o nesses mesmos países.
de Portugal, a Diviminho está corrente ano será o de equiparar Questionado sobre o conselho
PME LÍDER 2011
15. OBRAS INTERNACIONAIS
Angola: Edificio Escon
Espanha: Villa Magna
FOTOS CEDIDAS POR DIVIMINHO
França: Auditório de Poitiers
Na foto:
António Sá,
presidente da
Diviminho,
que daria a uma PME que pre- afirmou que
tenda avançar para o merca- neste momento
do externo, António Sá sugere Angola e França
que, antes de mais, defina uma assumem especial
estratégia clara sobre o que pre- importância no
tende atingir a médio e a lon- que se refere ao
go prazo, bem como garantir a investimento
disponibilidade dos recursos e externo.
competências necessários para
S. Tomé: Hotel Pestana
a prossecução do mesmo. Deve
procurar “conhecer bem o mer-
cado e as realidades do país, de-
vendo atender especialmente à
estabilidade política, ao quadro
administrativo-legal, às normas
fiscais, às diferenças culturais
e a toda a uma panóplia de ele-
mentos, tais como a concorrên-
cia existente, a disponibilidade
de infra-estruturas, de trabalha-
dores qualificados, etc.”.
PME LÍDER 2011
16. case-study
16 Cenor
Cenor obtém 20% DADOS
DA EMPRESA
• Peso da área internacional
da facturação no 17%
• Número de colaboradores
Cerca de 250
• Facturação
mercado externo Cerca de 20 milhões de euros
o O mercado externo “é complexo,
exigente e requer capacidade de
financiamento próprio. Às PME
aconselharia a associarem-se
para ganhar dimensão e poderem
concorrer nesses mercados”. Esta
é a estratégia que Pedro Tavares,
presidente do conselho de admi-
nistração do grupo Cenor, espe-
cialista em consultoria de enge-
nharia, que sugere às empresas
que pretendam avançar com um
plano de internacionalização. No
entanto, não tem dúvidas que a
Os PALOP têm
sido o principal
destino de
internacionalização
da empresa
especialista
em consultoria
de engenharia.
Para 2011
a estimativa é
que a componente
externa atinja
20% do volume
de negócios.
2010, o peso da área interna-
cional atingiu cerca de 17 % do
volume de negócios do grupo
Cenor, prevendo-se que cresça
para 20 % em 2011.
O primeiro destino de expansão
foi os PALOP, sendo que hoje o
principal mercado de exporta-
ção é Angola. Onde começou por
constituir uma sucursal em 2006
e neste momento já opera com
uma empresa local, a Cenor Con-
sultores (Angola).
Segundo o presidente da Cenor,
internacionalização é “a única a empresa está a iniciar em Cabo
solução que permitirá manter o POR DÍRCIA Verde os primeiros projectos na
nível do emprego e ultrapassar LOPES área das barragens associadas a
o aviltamento dos preços que se sistemas de rega. Ainda no âm-
verifica, actualmente, no merca- bito dos PALOP, “iniciámos, em
do nacional”. 2010, os primeiros contactos com
Em 2005, perante a evidência Moçambique, estando previsto
que “a capacidade da consulto- para 2011 o estabelecimento de
ria portuguesa de engenharia só uma participação numa empresa
seria sustentável com o recurso local”, avançou Pedro Tavares.
à internacionalização, o grupo De acordo com o presidente da
avançou para o exterior para Cenor, a empresa está presente
ganhar dimensão. Pedro Tava- em Timor, em participação com
res lembra que nessa altura para mais duas portuguesas, na DALAN,
o grupo Cenor, já com cerca de Engenharia, Estudos e Projectos
160 colaboradores, “tornava- Lda., empresa de consultoria de
se imperioso investir em novos arquitectura e engenharia que tem
mercados, dado que o ciclo das vindo a consolidar a sua posição
grandes obras de infraestrutu- naquele território, desde 2005.
ras em Portugal tinha entrado O investimento em novos mer-
na sua curva descendente”. Em cados já levou a companhia para
PME LÍDER 2011
17. Na foto: a Roménia, onde está presente
Pedro Tavares, através da Cenorvia Proiect SRL,
presidente empresa detida em partes iguais
da Cenor. Angola pela Cenor e pela Norvia.
é hoje o principal Já em 2011 “obtivemos o nos-
mercado so primeiro contrato no Brasil,
de exportação estando neste momento em
da empresa. análise a forma de nos estabele-
cermos naquele território. Com
efeito, o volume de projectos de
infraestruturas previsto para o
Brasil na próxima década obriga
a uma reflexão aprofundada do
tipo de intervenção e das par-
cerias a estabelecer”, adiantou
Pedro Tavares.
No Magreb (Marrocos e Argélia)
a empresa já está a trabalhar
através do apoio de projecto de
empreiteiros portugueses, estan-
do em análise o estabelecimento
de uma empresa na Argélia que
permita um apoio mais próximo
naquela zona. Mas a instabilida-
de que se abateu sobre aquela
região “recomenda ponderação
na tomada de decisão dos inves-
timentos a efectuar”, salientou
Pedro Tavares. Quanto à possi-
bilidade de alargar a presença
internacional afirmou que, neste
momento, a estratégia passa por
consolidar o mercado do Brasil e
desenvolver o de Moçambique.
No entanto, “estaremos atentos
FOTOS PAULA NUNES
a outras geografias onde surjam
oportunidades interessantes
para a nossa área de negócios ou
parceiros com idêntica filosofia”.
PME LÍDER 2011
18. que futuro poderá Portugal seguir
18 inovar
Portugal no grupo
dos inovadores
“moderados”
As energias
i
renováveis são
outra das áreas
onde Portugal tem
dado nas vistas
nos últimos anos.
Inovação. Invenção. Ideia. Pa- Num universo tudo, sobretudo das políticas do
lavras que se relacionam entre de 27 estados conhecimento. Portugal obteve
si mas que falam de coisas dife- membros da estes resultados pela aposta no
rentes. O que é a inovação? É o União Europeia, conhecimento científico e pela
concretizar de uma nova ideia Portugal surge aposta na educação”, como co-
que crie valor para a economia. em 15ª posição mentou o primeiro-ministro,
Independentemente de falar- no último José Sócrates.
mos de um produto específico ranking europeu Portugal foi o país da União
ou de uma solução tecnológica, dos países mais Europeia que mais cresceu no
a inovação surge apenas quan- inovadores. Ranking Europeu da Inovação.
do se cria algo melhor do que já Um motivo de Nos últimos cinco anos conse-
existe, quando se verifica a sua orgulho para guiu crescer mais de 10% face
aplicabilidade na vida real. empresas, à média da União Europeia. Na
E por muitos projectos, por mui- universidades, terminologia da União Europeia,
tas invenções que se tenham no empreendedores Portugal já está inserido no gru-
mercado português, nem todas que trabalham po designado por “inovadores
se transformam – como seria diariamente com moderados”, juntamente como
desejado – em inovação. Mas de a missão pela Espanha, por exemplo.
ano para ano vão sendo dados inovação. Para Daniel Bessa, director-geral
passos gigantes. Universidades, da COTEC Portugal, esta entida-
empresas, inventores. Sozinhos POR ANA CUNHA de “continua convencida de que
ou em parceria, são cada vez ALMEIDA estamos a fazer melhor no que
mais os casos que demonstram se refere aos recursos afectos à
que este é um País em ascensão inovação (seja em investimento
na rota da inovação. E a prová- em I&D) em percentagem do PIB,
lo está o facto de Portugal ter seja nos recursos humanos qua-
subido um degrau no ranking lificados) do que no que se refere
europeu dos países mais ino- aos resultados económicos con-
vadores, tendo conquistado a seguidos com estes recursos.” É
15ª posição no universo dos 27 por isso que esta é uma “frente
estados membros da União Eu- em que nos propomos trabalhar
ropeia. Um ranking que “fala de mais intensamente: melhorar >
PME LÍDER 2011
19. NÚMEROS
1,71%
Do PIB, despesa total em I&D atingiu,
em Portugal, em 2009, 1,71% do PIB,
valor ligeiramente inferior à média
da UE.
8,2
investigadores
Número de investigadores por milhar
de trabalhadores, valor que excede
a média da OCDE.
FOTO ADRIANO MACHADO/BLOOMBERG
PME LÍDER 2011
20. que futuro poderá Portugal seguir
20 inovar
> a qualidade e a eficiência dos
nossos processos de inovação,
traduzindo-se, se possível mais
depressa, em maior emprego
qualificado, maior valor acres-
centado e salários médios mais
elevados”, acrescenta o mesmo
responsável.
Áreas de actividade
onde Portugal inova
Mas inovação não se resume
apenas a tudo o que tenha a ver
directamente com tecnologia.
Daniel Bessa não considere ser
“legítimo” falar nas áreas de ac-
tividade em que Portugal que b
têm tido posições de destaque
no mercado internacional por-
que todas elas têm dado passos
importantes. Claro que não se
pode negar a evolução em áre-
as como as TIC – Tecnologias de
Informação e Comunicação, e na
Biotecnologia, mas também aqui
os outros países têm feito pro-
gressos. As energias renováveis
FOTO PAULO FIGUEIREDO
são outra das áreas onde Portu-
gal tem dado nas vistas nos úl-
timos anos. Mas “para que não
se pense em inovação se reduz
a actividades de grande inten-
sidade tecnológica, a evolução
extremamente favorável, em
Portugal, de um sector tão tradi- rência não possa replicar essa
cional como o calçado”, salienta invenção.
Daniel Bessa. A perspectiva de internacional
As grandes áreas de futuro em o negócio também surge asso-
termos de investimento em Ino- ciada à Inovação, demonstran-
vação são precisamente estas do ambição, persistência para
das TIC, Biotecnologia, Energia, criar, mais uma vez, mais valor
mas também Tecnologias da económico.
Saúde, Floresta, novos materiais Portugal tem cada vez mais recur-
e as tecnologias da produção. sos humanos. Joaquim Goes, admi-
“Não sendo certo que venhamos nistrador executivo do BES lembra
a dar cartas em todas estas áre- que em 2008 havia um índice de es-
as, estamos, em todas elas, a re- tudantes de Doutoramento por ha-
alizar um esforço considerável”, bitante superior à média europeia
acrescentou o director-geral da em 40% e tínhamos igualmente
COTEC Portugal. um total de 75 mil investigadores
Algo que seja inovador deve ser (quase o dobro desde 2005). Esta-
protegido, através de um pedi- mos a par da Alemanha e acima de
do de patente, por exemplo. E países como a Holanda e a Espa-
assim assegurar que a concor- nha, por exemplo.”
PME LÍDER 2011
21. FOTO ARQUIVO ECONÓMICO
Nas fotos:
As grandes áreas O mesmo gestor lembra que
de futuro em hoje 33% dos novos licenciados
termos de em Portugal são licenciados em
investimento em Ciências e Engenharia (somos lí-
Inovação são as deres na Europa).”
TIC, Biotecnologia, A questão do capital humano
Energia, mas qualificado é determinante para
também a evolução pela inovação mas
Tecnologias da é também necessário reforçar
Saúde, Floresta, práticas em três dimensões, se-
Calçado, novos gundo Joaquim Goes. São elas:
materiais e as “o financiamento à inovação, a
tecnologias da articulação entre as Universida-
produção. des e a Indústria e um aspecto
mais complexo que tem a ver
coma reduzida valorização que
FOTO JOÃO PAULO DIAS
culturalmente atribuímos à ini-
ciativa pessoal e ao empreende-
dorismo”, defende o administra-
dor executivo do BES.
PME LÍDER 2011
22. case-study
22 M.A.R. Kayaks
De Vila do Conde
para o mundo
a A M.A.R. Kayaks nasceu em 1978
numas instalações que não ti-
nham mais de 50 metros quadra-
dos. E se tudo começou pela mão
de Manuel Ramos, com a produ-
ção de barcos para uso próprio,
aquele que viria a ser empresá-
rio da conceituada marca “Nelo”
foi deixando seguir a ordem na-
tural das coisas e à medida que o
desporto foi crescendo em Por-
tugal, também ele foi produzin-
do mais barcos e aumentando a
A empresa
que se dedica
à produção de
barcos para
canoagem sob
a marca “Nelo”
recebeu da
AEP o galardão
“Produtividade
pela Inovação
2010” .
POR ANA CUNHA
ma João Costa, director finan-
ceiro da empresa.
Como se inova num negócio de
barcos para a prática da canoa-
gem? Em primeiro lugar, pelas
pessoas. Cerca de um terço dos
funcionários são praticantes ou
ex-praticantes de canoagem. “É
importante para a motivação,
para o alinhamento com os ob-
jectivos da empresa, ajuda a
criar um sentimento de perten-
ça à organização. E isso é crucial
dimensão da fábrica. ALMEIDA pois potencia uma cultura de
A empresa que rapidamente inovação ímpar”, avança João
expandiu o seu negócio para Costa.
Espanha e hoje está espalhada Depois investe-se em inovação.
em todo o mundo por intermé- Se em 2009 a empresa investiu
dio de agentes revendedores,
assume que “é uma das maio-
res empresas do mundo e sem
dúvida uma das melhores”. Um DADOS
verdadeiro caso de inovação DA EMPRESA
‘made in’ Portugal. “Somos lí-
deres mundiais neste mercado: • Número de trabalhadores
a representatividade da nossa 91
marca nos principais eventos • Facturação 2010
da canoagem (i.e., campeonatos 3,6 milhões de euros
• Investimento em I&D 2010
FOTOS BRUNO BARBOSA
do mundo e jogos olímpicos) é
250 mil euros
maior que os nossos concorren-
• Produção anual
tes juntos. Isto mede-se em me- 3000 barcos
dalhas conquistadas e número
de barcos em competição”, afir-
PME LÍDER 2011
23. Nas fotos:
Todos os barcos,
quer de turismo,
quer de competição
são desenhados
pela equipa de 91
pessoas da M.A.R.
E todos são uma
peça fundamental
quando a palavra
de ordem é inovar.
Em baixo, Manuel
Ramos, o fundador
da empresa, que
começou em 1978
a produzir barcos
para uso próprio.
182 mil euros, em 2010 a fasquia
foi bem alta, nos 250 mil euros.
E esta aposta em I&D é um tra-
balho de todos, já que “desde a
administração até aos operado-
res” todos estão envolvidos no
departamento.
Com uma estrutura de 91 pesso-
as – dos quais 11 têm licenciatu-
ra ou grau superior – a M.A.R.
Kayaks tem hoje 8.000 metros
quadrados de fábrica, onde pro-
duz 3000 barcos/ano entre os
mais variados modelos de bar-
cos de turismo ou de competi-
ção. Mas todos são desenhados
e concebidos pela empresa, re-
correndo a técnicas avançadas e
suportados no investimento em
I&D que envolve maquinaria e
prototipagem rápida.
O ano de 2011 não podia ter co-
meçado da melhor maneira para
a M.A.R. Kayaks, já que recebeu
da AEP o galardão “Produtivida-
de pela Inovação 2010”.
Nos últimos três anos, a em-
presa que facturou cerca de 3,6
milhões de euros em 2010 tem
vendido para 63 países, não ha-
vendo um mais importante que
o outro, como salienta o director
financeiro.
PME LÍDER 2011
24. case-study
24 BERD
Descomplicar a engenharia de
à À equipa de 22 trabalhadores
da BERD são pedidas três coi-
sas: que pensem no processo
construtivo de uma ponte de
forma racional, ou seja, que
este seja seguro, económico e
rápido; que disponibilizem os
grandes equipamentos cons-
trutivos necessários e que
dêem formação e apoio técni-
co na construção das pontes. A
explicação é de Rodrigo Graça
Moura, vice-presidente e CFO
da BERD – Bridge Engineering
A empresa
que tem como
accionistas
institucionais
a AICEP Capital,
FEUP – Faculdade
de Engenharia
da Universidade
do Porto e Mota-
-Engil não pára
de dar cartas no
mercado mundial.
POR ANA CUNHA
A empresa, criada em 2006, ain-
da “não facturou um euro em
Portugal”, o que significa que
nasceu já com uma enorme ver-
tente de exportação. “E isto é
o que é mais exigente, a BERD
teve 100% de exportação”,
afirma o vice-presidente. Três
meses depois do arranque, os
responsáveis da empresa per-
ceberam que a sobrevivência,
de início, e o sucesso, a médio
prazo, “passavam incontor-
navelmente pela exportação”.
quanto aos resultados e à ori-
gem dos mesmos.
Em 2010 a BERD esteve envol-
vida em quatro/cinco projec-
tos em quatro países, mas onde
tem uma presença mais forte é
na República Checa. A ponte de
Hostovsky Creek Valley, na Es-
lováquia foi o maior desafio do
ano passado.
Research & Design. ALMEIDA Não houve, portanto, surpresas
PME LÍDER 2011
25. Na foto:
O dia-a-dia nos
escritórios da BERD,
em Matosinhos,
trabalhando num
dos projectos
de clientes
DADOS internacionais.
DA EMPRESA Pedro Pacheco,
presidente da
• Número de trabalhadores empresa, e um
22 dos projectos que
• Facturação 2010 constituiu um dos
FOTOS HERNÂNI PEREIRA
4 milhões de euros maiores desafios
• Budget em I&D 2011
de 2010: a ponte
350 mil euros
de Hostovsky
Creek Valley, na
Eslováquia.
pontes
O sistema OPS – Sistema de Pré- Este ano “muito pode aconte- incontornável”, garante o vice-
Esforço Orgânico, a base do tra- cer”. Será um ano de “enorme presidente.
balho de engenharia em pontes, investimento e de aumento A BERD avança também que
tem sido alvo de vários prémios, de carteira de clientes, onde 2012/2013 será um ano de forte
como um prémio na área da Ciên- Portugal fará parte do desen- aumento de facturação, tendo
cia (da Federation Internacional volvimento do negócio a curto neste momento “a facturação
du Beton) e dois na área da Ino- prazo, embora a grande voca- assegurada para esse período.”
vação (Prémio BES, Prémio Five e ção da BERD continua a ser a O orçamento deste ano ao nível
Prémio Infante D. Henrique). Com vertente de exportação. “Será de I&D aponta para os 350 mil
orgulho de serem portugueses, sempre preponderante – isso é euros. A empresa está concen-
a equipa é “profundamente res- trada em consolidar os negócios
peitada e admirada pelos círculos âncora mas já admite que entrar
mais prestigiados de engenharia em novos negócios é um cená-
de Pontes, a nível mundial”, asse- rio muito provável. Mas sempre
gura Rodrigo Graça Moura. com muita disciplina.
PME LÍDER 2011
26. case-study
26 Vortal
Ajudar os clientes
a comprar melhor
e a vender mais
c Com 10 anos de actividade, a
Vortal tem o desafio constante
de inovar num mercado que não
podia ser mais competitivo, o das
Tecnologias de Informação, mais
concretamente no segmento de
internet ‘business’. “O esforço
para estar sempre à frente exige
um investimento ainda maior”,
afirma Rui Dias Ferreira, CEO da
Vortal. “Todos os dias somos con-
frontados com inovações disrup-
tivas, com gigantes a aparecerem
e a desaparecerem, onde operam
Com escritórios
no Porto, Lisboa,
Madrid e também
em Inglaterra,
a empresa
portuguesa
especializada em
internet business
continua a
crescer, sempre
com uma forte
política de
investimento em
I&D.
actividade. Parar é morrer nesta
área de actividade.
A empresa tem uma equipa de
mais de 120 colaboradores que
se encontram distribuídos não
só em Portugal, nos escritórios
do Porto e Lisboa, mas também
em Espanha, Madrid, e Ingla-
terra. A Vortal desenvolve a
soluções sempre adaptadas às
necessidades dos clientes. E
nesta perspectiva, a empresa
faz periodicamente inquéritos e
workshops para perceber quais
DADOS
DA EMPRESA
• Número de trabalhadores
120 colaboradores
• Facturação 2010
11 milhões de euros
• Investimento em I&D 2010
Mais de um milhão de euros
• Número de clientes
25 mil
nomes como a Google, LinkedIn, as áreas onde é preciso melho-
Alibaba, GroupOn, etc”, acres- POR ANA CUNHA rar alguma coisa sempre “com
centou o CEO. ALMEIDA o objectivo de continuar a ter
Com mais de 25 mil empresas uma oferta válida para os mer-
clientes e um crescimento mé- cados onde actuamos”, salienta
dio anual de 20% - em 2010 a Rui Dias Ferreira.
empresa facturou 11 milhões de A ideia do negócio da Vortal é
euros – a Vortal direcciona mais ajudar os clientes a comprar
de um milhão de euros para I&D, melhor e a vender mais. Como?
tendo uma equipa de 30 pessoas “Disponibilizando soluções na
exclusivamente afectas a esta rede que lhes permitam encon-
PME LÍDER 2011
27. FOTOS PAULA NUNES
Na foto:
O Laboratório trar os melhores parceiros de
de Inovação e negócio. (…) Hoje passam pelas
Desenvolvimento, nossas plataformas 2,5% do PIB
Vortal Innovation Nacional”, admite o CEO.
Lab, em Lisboa, E se o ano correu bem em 2010,
recebe anualmente com a consolidação de liderança
estudantes e em Portugal, a nível internacio-
recém-licenciados nal a empresa assume ter obtido
para integrarem a importantes reconhecimentos.
empresa em regime A Gartner Group, consultora na
de estágio ou de área das TI, fala da Vortal nos
primeiro emprego. seus relatórios “Cool vendors
È aqui que in Procurment Applications”
trabalham mais de e Strategies dor Public Sector
30 engenheiros e ao Investment in Procurement
qual corresponde Applications” como uma das
um investimento quatro maiores ‘players’ mun-
superior a sete diais em soluções de contrata-
milhões de euros. ção electrónica. E atribuem-lhe
Rui Dias Ferreira, CEO da VORTAL, para uma quota de mercado de 7%
quem a dedicação, o empenho e enfoque na Europa.
no cliente são os grandes conselhos que Até final deste ano, a Vortal es-
recomenda a todos os que se iniciam tima investir mais de dois mi-
agora no meio empresarial. lhões de euros em projectos de
cursos.
PME LÍDER 2011