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APARELHO ESTOMATOGNÁTICO
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006
Sabedor de que é um ser bio psico
social, boa parte das ações do homem na
sociedade objetiva fazer a vida melhor para
a humanidade, ou despertá-la para as
medidas ou precauções necessárias.
Um importante elemento neste caso é
o nível de saúde do indivíduo, de um grupo
ou de uma sociedade.
Saúde não significa apenas a ausência
de doença, mas também bem estar somático,
psico, social e harmonia no meio em que
vive.
É importante que os profissionais que
trabalham com pacientes que apresentam e
sofrem com as conseqüências das desordens
do Aparelho Estomatognático e estruturas
relacionadas, tenham consciência de que
também os fatores somáticos, psíquicos e
sociais podem estar alterados e compro-
meter o senso normal de bem estar.
Estes pacientes podem apresentar
persistente desconforto na face, cabeça,
articulações temporomandibulares – ATMs
e pescoço, além de contrações, fadiga
muscular e limitação dos movimentos
mandibulares.
Estalidos nas ATMs ocorrem com
freqüência e geralmente são tolerados pelos
pacientes, até que atraiam a atenção de
outros, originando um incômodo e um
problema social ao paciente. A dor de
cabeça pode ser tolerada uma única vez,
mas a repetição diária altera o comporta-
mento do paciente, irrita familiares e
colegas de trabalho.
Os sintomas mencionados se forem
discretos e esporádicos podem ser ignorados
por alguns pacientes, porém para outros
podem ser sérios a ponto de causar redução
da capacidade de trabalho, complicações
emocionais, sociais e econômicas.
Mesmo com o conhecimento que os
profissionais da Odontologia tem sobre as
desordens do Aparelho Estomatognático,
um grande número de pacientes continua
sem um diagnóstico definitivo, seguido de
uma falta de interesse em tratá-los. Isto
constitui um importante estímulo aos
profissionais em aprofundar os conheci-
mentos nesta área.
Pesquisas epidemiológicas têm dado
importantes informações da freqüência
destas desordens em pacientes de ambos os
sexos, e de diferentes faixas etárias e classes
sociais.
Considerando que todas as condutas
terapêuticas se sustentam no respeito à
natureza, e objetivam a remoção dos fatores
etiológicos e o resgate da biologia dos
tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog-
nático, não se pode pensar em promoção de
saúde sem um profundo conhecimento deste
aparelho, o que justifica uma breve revisão
sobre esse assunto.
O Aparelho Estomatognático - AE, é
uma entidade fisiológica, funcional,
perfeitamente definida e integrada por um
conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos,
cuja biologia e fisiopatologia são absoluta-
mente interdependentes, envolvidos nos
atos funcionais como: fala, mastigação e
deglutição dos alimentos, e nos atos para-
funcionais como: apertamento dentário e
bruxismo.
Esse aparelho tem como funções
mastigação, deglutição, fonação, expressão
e estética facial e postura da mandíbula, da
língua e do osso hióide. Dentre elas a
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 2
mastigação é que gera o maior esforço
oclusal.
Seus componentes anatômicos são:
todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula,
o hióide, as clavículas e o esterno, os
músculos da mastigação, deglutição, expres-
são facial e posteriores do pescoço, as
articulações dento-alveolar (periodonto) e
temporomandibular (ATM) e seus ligamen-
tos, os sistemas vasculares e nervoso, os
dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as
glândulas salivarias.
O sistema neuromuscular, as articula-
ções temporomandibulares - ATMs, a oclu-
são dentária e o periodonto são as quatro
unidades fisiológicas básicas que integram
uma unidade biológica funcional do AE,
que por sua vez pertence à outra unidade
biológica fundamental, o indivíduo, do qual
não pode ser separada ao se fazer conside-
rações diagnósticas, prognosticas e terapêu-
ticas em se tratando de promoção de saúde.
Sistema Neuromuscular
O sistema neuromuscular é conside-
rado fator preponderante nas funções do
Aparelho Estomatognático, pois os múscu-
los excitados pelo sistema nervoso,
constituem-se no elemento ativo, que
origina as forças necessárias às funções a
que se destinam (fig. 01). As demais
unidades representam os elementos passivos
encarregados de receber e transmitir a ação
das forças.
Fig. 01 – Sistema neuromuscular
Para o entendimento da interação do
sistema neuromuscular com a morfologia
oclusal, faz-se necessário o conhecimento
das relações anatômicas das ATMs e de
seus ligamentos com os músculos que o
constituem. Este conhecimento inclui a
função, a inervação e a vascularização
destes músculos.
SISTEMA NERVOSO
O sistema nervoso tem como funções
básicas:
Manutenção da constância do meio
interno (homeostase), por meio de
funções vegetativas que asseguram sua
organização.
Emissão de comportamentos que são
funções globais do organismo no meio
em que vive.
Para o melhor entendimento do
mecanismo de ação do sistema nervoso,
deve-se recordar que este se constitui de
sistema nervoso central (SNC) e sistema
nervoso periférico (SNP).
O SNC constitui-se do encéfalo e da
medula espinhal.
O encéfalo abrange o cérebro, o
cerebelo e o tronco encefálico.
No cérebro distinguem-se: o córtex
motor que se relaciona com os movimentos
voluntários dos músculos estriados, o córtex
sensorial que se relaciona com a sensibi-
lidade profunda e cutânea e o tálamo que é
o centro de passagem de todas as sensações,
com exceção do olfato.
O cerebelo tem como função principal
a coordenação e refinamento dos movimen-
tos musculares, sendo também importante
na postura e tônus muscular.
No tronco encefálico distinguem-se o
mesencéfalo, a ponte e o bulbo.
A principal estrutura do sistema
nervoso periférico é o neurônio (célula
nervosa), que é composto de um corpo
celular e seu processo (axônio) que conduz
impulsos para e do corpo celular. Um
neurônio aferente conduz impulsos nervosos
em direção ao SNC, enquanto um neurônio
eferente conduz impulsos para a periferia
por meio de axônios.
A detecção e subseqüente transmissão
de um evento nocivo é chamada de
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 3
nocicepção. Nervos aferentes primários com
terminais periféricos (receptores) são
conhecidos como nociceptores.
Os principais nervos do Aparelho
Estomatognático são o facial (fig. 02), o
trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso.
Fig. 02 - Nervo facial
• Neurofisiologia
A neurofisiologia bucal é a parte da
biologia que explica os mecanismos a serem
explorados como recursos terapêuticos.
É fundamental aprofundar o conhe-
cimento nesta área, para estabelecer um elo
entre o estímulo e a resposta nas abordagens
clínicas, visto que os diversos caminhos
percorridos pelos estímulos, elucidam por
meio da participação do sistema nervoso,
onde e como agir.
A neurofisiologia se desenvolve em
três etapas definidas:
1. Percepção do estímulo sensorial.
2. Integração no SNC.
3. Reação motora (na forma de contração
muscular e/ou função glandular).
A percepção do estímulo sensorial é o
mecanismo pelo qual o SNC se mantém
informado das condições internas e externas
existentes no organismo, e se constitui de
duas fases: a recepção do estímulo por meio
dos receptores nervosos e a condução do
estímulo até o SNC por meio das vias
condutoras aferentes (sensorial).
Os receptores nervosos são termina-
ções nervosas sensoriais, especializadas e
sensíveis a determinados estímulos. Em
geral, cada tipo de receptor só responde a
um determinado tipo de estímulo, e pouco
ou quase nada a outros.
Os receptores são classificados em
grandes grupos:
• Exteroceptores que são estimulados por
mudanças externas, como dor (termi-
nações nervosas livres), temperatura
(corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo
terminal de Krause ao frio), tato
(corpúsculo de Meissner), pressão
(corpúsculo de Paccini), audição, visão,
e outros. Estão localizados nas mucosas,
pele e estruturas especializadas dos
órgãos dos sentidos.
• Interoceptores que são estimulados pelas
mudanças das condições internas do
indivíduo, como pressão (corpúsculos
de Vater-Paccini localizados no tecido
gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo,
ligamentos e cápsulas articulares),
mudanças químicas, posição relativa, e
outros.
Os interoceptores incluem:
a) os visceroceptores, localizados nas
vísceras e vasos sangüíneos, que percebem
a fome, a sede e a dor visceral.
b) os proprioceptores, localizados nas
articulações, músculos, ligamentos e mem-
brana periodontal que estão relacionados
com a sensação de posição e pressão,
sentido de movimentos, etc.
Todos os interoceptores, especialmen-
te os proprioceptores, são mais sensíveis
que os exteroceptores, e informa ao SNC
sobre possíveis condições adversas na
intimidade dos tecidos do organismo. Como
exemplo, na membrana periodontal há
proprioceptores capazes de perceber uma
folha de papel de um centésimo de
milímetro de espessura entre os dentes
ocluídos, assim ocorre com restaurações
ligeiramente altas que são percebidas por
estes.
Um outro tipo especial de receptor é o
fuso neuromuscular, localizado nos múscu-
los, na região de transição entre as fibras
musculares e as fibras tendíneas. São sensí-
veis às mudanças de tensão muscular e aos
impulsos provenientes do SNC, com inerva-
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 4
ção sensorial e motora própria, permite
produzir os estímulos no próprio músculo.
A integração no SNC ocorre a partir
da produção de um estímulo no SNP
captado por um receptor específico, a partir
do qual, se inicia uma via ascendente (pelos
nervos sensoriais aferentes) até o SNC
especificamente até o córtex sensorial, por
meio dos diferentes constituintes do sistema
nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando
o estímulo é então identificado, tornando-se
consciente.
Cada estímulo específico é individua-
lizado e determina uma reação específica
correspondente.
A reação motora, do córtex motor,
inicia-se após a integração de um estímulo
ao córtex sensorial do cérebro. O impulso
motor gerado inicia uma via descendente,
por meio dos vários constituintes do sistema
nervoso até o executor correspondente. Ex.:
córtex motor, cerebelo, tronco encefálico,
mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen-
tes e músculos.
Em todo o trajeto seguido pelos
impulsos, existem vários controles de regis-
tro, regulação, modificação e coordenação
em diversos níveis (tálamo, formações
reticulares), para dar uma resposta motora
adequada. Porém a função reguladora
principal dos impulsos sensoriais e motores
estão no cerebelo, cumprindo uma impor-
tante função de coordenação e refinamento
da reação motora.
Existe outro tipo de mecanismo
neuromuscular inconsciente, cuja ação
motora se produz sem intervenção do córtex
cerebral, de forma automática que são os
arcos reflexos.
Os componentes fundamentais de um
arco reflexo são:
1- Estímulo específico, um receptor perifé-
rico, sensível a um determinado estímulo
ambiental;
2- Integração (cérebro), uma ou mais célu-
las intercalares ou interneurônios, que
competem a elaboração das informações
transmitidas pelos receptores e sua
posterior transmissão;
3- Reação motora (específica), um neurônio
motor eferente que transmite a infor-
mação ao órgão executor.
Os arcos reflexos se classificam como
incondicionados e condicionados.
Os incondicionados (inatos – congêni-
tos) são aqueles que não intervêm previa-
mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.:
respiração, sucção, deglutição, movimentos
mandibulares.
Os condicionados (adquiridos ou
aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro
atua nas primeiras ocorrências da percep-
ção, da integração e da resposta motora.
Com a sucessiva repetição do estímulo e sua
correspondente integração e reação motora,
estabelece-se uma sinapse entre os neurô-
nios aferentes (sensitivos) e os eferentes
(motores) ao nível do talo encefálico, sem a
intervenção do córtex cerebral, tornando-se
automático ou inconsciente.
Ex. Presente nas crianças antes da
erupção dos dentes, os movimentos reflexos
simples de abertura e fechamento mandibu-
lar fazem parte dos reflexos inatos de
sucção e amamentação. Com a erupção e
oclusão dos dentes, os contatos interoclusais
excitam os proprioceptores da membrana
periodontal, cujos estímulos sensoriais
chegam ao SNC pelo cérebro onde são
integrados, produzindo a resposta motora
indicada. Posteriormente, ante a situação de
reforço constante do mesmo estímulo, cria-
se um arco reflexo adquirido, produzindo-se
a sinapse dos neurônios aferentes e eferen-
tes, tornando-se desnecessária a intervenção
do córtex cerebral para que ocorra a
mastigação, reflexo semelhante ocorre no
ato de andar e outros.
Os reflexos mais importantes que se
apresentam no Aparelho Estomatognático
são:
- Reflexo de estiramento (miotático):
atua no sentido de evitar o estiramento
passivo dos músculos. Apresenta-se mais
sensível nos músculos que se opõem à força
de gravidade. Ex. masseter, temporal e
pterigóideo lateral (que evitam queda da
mandíbula).
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 5
- Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo):
existente na membrana periodontal e nos
músculos, a partir de receptores nervosos
sensitivos permitem ao SNC reconhecer o
movimento mandibular a ser realizado e a
intensidade da força que deverá aplicar.
- Reflexo flexor (nociceptivo): tem
função protetora de todas as estruturas do
Aparelho Estomatognático, pois afasta a
parte excitada do agente injuriante. É
responsável pela alteração da posição
mandibular para evitar o trauma periodontal
em um dente com distúrbio oclusal.
- A coordenação dos reflexos se deve
em razão dos reflexos de estiramento e
flexor serem antagônicos, logo a atividade
de um deve necessariamente inibir a do
outro. Se ambos os reflexos forem ativados
simultaneamente, o padrão flexor é o domi-
nante, o que é muito favorável ao
organismo, pois o mesmo é fundamental-
mente protetor.
- A inervação recíproca atua quando
um músculo é ativado simultaneamente,
inibindo ou relaxando os músculos de ação
antagônica. O fracasso dessa inervação
recíproca desempenha um papel importante
na patogenia de diversas disfunções do
Aparelho Estomatognático.
Sistema Muscular
O sistema muscular humano compõe-
se: de músculos esqueléticos, também
chamados músculos estriados, que atuam
sob controle voluntário e estão envolvidos
com os movimentos, postura e equilíbrio, e
de músculos lisos que atuam sob controle
involuntário e encontram-se nas paredes dos
vasos sangüíneos e em estruturas como
bexiga urinária, intestinos, estômago e
músculo cardíaco.
Muitos invertebrados e todos os
vertebrados dependem deste tecido contrátil
para locomoverem-se, e tais tecidos são
agrupados em sistemas coordenados para
maior eficiência.
• Tipos funcionais dos músculos
Os músculos são divididos pelos
fisiologistas em dois grandes grupos:
fásicos e tônicos.
Os músculos fásicos são compostos de
fibras capazes de rápida ativação e
relaxamento. Eles são bem adaptados para
movimentos rápidos de curta duração. As
fibras dos músculos tônicos contraem-se e
relaxam mais lentamente, induzem movi-
mentos lentos e sustentam as estruturas
anexas por um longo período de tempo.
Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos
músculos como fásicos ou tônicos é difícil
caracterizá-los claramente como tal, pois os
períodos de contração e relaxamento variam
intensamente nos diferentes músculos, além
disso, alguns deles podem contrair fasica-
mente num determinado momento e
tonicamente em outro.
A extremidade de um músculo ligada
a um elemento móvel é chamada de
inserção e a extremidade oposta, unida a um
elemento fixo, é chamada de origem.
A inserção e a origem são termos
descritivos convenientes, mas deve-se
enfatizar que a tensão nos dois extremos é a
mesma.
Não se pode atribuir uma função
específica a cada músculo, pois estudos
recentes mostram uma integração extrema-
mente complexa em cada um dos movi-
mentos mandibulares. As descrições a
seguir se limitam às funções principais de
cada músculo para o entendimento dos
movimentos e posições mandibulares.
Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático
Durante a função fisiológica dos
músculos do AE na oclusão dos dentes em
uma posição mandibular estável, um
distúrbio oclusal poderá se tornar
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 6
intolerável ao paciente e gerar desconforto
muscular, podendo precipitar uma pato-
logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista
devem ser capazes de palpar a musculatura
do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer
possível patologia e seus fatores etiológicos.
Consideram-se músculos da mastigação:
O músculo Temporal.
• Tem origem na linha temporal superior
e soalho da fossa temporal.
• Insere-se no processo coronóide e
borda anterior do ramo mandibular, por
meio dos tendões: superficial e longo
profundo (fig. 04).
• É inervado pelos nervos temporais
profundos (ramos do trigêmeo).
• É vascularizado pelas artérias tempo-
rais profunda anterior, média e
posterior.
• Tem as funções de elevar, retrair e
posicionar a mandíbula e ocluir os
dentes (fig. 05).
Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão
superficial: B – tendão longo profundo
Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação,
retração e posicionamento da mandíbula.
O músculo Masseter.
• Sua porção superficial tem origem nos
2/3 anteriores do arco zigomático e sua
porção profunda na superfície média do
arco zigomático.
• Insere-se na superfície lateral externa do
ramo e ângulo da mandíbula.
• É inervado pelo nervo masseterino
(ramo do trigêmeo).
• É vascularizado pela artéria masseterina
(ramo da artéria maxilar).
• Têm as funções de elevar a mandíbula e
ocluir os dentes (fig. 06).
Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a
mandíbula e ocluir os dentes.
A força dos músculos (masseteres)
tem sua maior concentração sobre a cúspide
mésio-palatina dos primeiros molares (fig.
07).
Fig. 07 – Localização do ponto de maior
concentração das forças dos músculos masseteres.
O músculo Pterigóideo Lateral.
• Sua porção superior tem origem na
superfície infratemporal da asa maior do
osso esfenóide, e a porção inferior na
A
A
B
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 7
superfície do processo pterigóide do
osso esfenóide.
• Insere-se ao feixe superior no disco
articular (menisco) e cápsula da ATM, e
o feixe inferior na fossa pterigóidea
(colo do côndilo).
• É inervado pelo nervo pterigóideo
lateral (ramo do trigêmeo),
• Vascularizado pela artéria pterigóidea
lateral (ramo da artéria maxilar).
• Tem as funções de protruir a mandíbula
e tracionar o disco articular para frente,
assistindo aos movimentos protrusivos
da mandíbula (fig. 08).
Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função:
protrusão mandibular.
O músculo Pterigóideo Medial
• Tem sua origem na face medial da
lâmina lateral da fossa pterigóidea na
base do crânio.
• Insere-se nas porções posterior e inferior
da superfície medial do ramo ascendente
e ângulo da mandíbula.
• É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo
do trigêmeo).
• É vascularizado pela artéria pterigóidea
medial (ramo da artéria maxilar).
• Tem as funções de elevar e estabilizar
lateralmente a mandíbula (fig. 09).
PFO-UFU
PFO-UFU
Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e
estabilizar lateralmente a mandíbula.
Consideram-se músculos supra-hióideos:
O músculo gênio-hióideo.
• Tem sua origem nos tubérculos genia-
nos inferiores na superfície interna da
sínfise mandibular (fig. 10).
• Insere-se na superfície anterior do corpo
do osso hióide.
• É inervado pelo nervo genio-hióideo
(ramo do nervo hipoglosso).
• É vascularizado pelas artérias lingual e
sublingual.
• Tem a função de movimentar o osso
hióide para frente.
Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo
O Músculo milo-hióideo.
• Tem sua origem na linha milo-hióidea
da mandíbula (da raiz do último molar à
sínfise mandibular), (fig. 11).
• Insere-se no corpo do osso hióide e rafe
milo-hióidea.
• É inervado pelo nervo milo-hióideo
(ramo do nervo mandíbula).
• É vascularizado pela artéria submento-
niana (ramo da artéria facial).
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 8
• Tem as funções de elevar o soalho da
boca e com ele a língua, e se os dentes
estão ocluídos, auxiliar na deglutição.
Fig. 11 – Músculo milo-hióideo
O músculo Digástrico.
• Tem a origem do ventre posterior: na
incisura mastóidea do temporal e do
ventre anterior na fossa digástrica da
mandíbula (fig. 12).
• Insere-se no tendão intermediário,
aderindo ao osso hióide por uma alça
fibrosa.
• É inervado pelos nervos milo-hióideo
(ramo do trigêmeo) e facial.
• É vascularizado pelas artérias submento-
niana, occipital e auricular posterior.
• Tem a função de puxar o mento para
trás e para baixo na abertura da boca,
auxiliando assim o pterigóideo lateral na
protrusão da mandíbula.
Fig. 12 – Músculo digástrico
O Músculo estilo-hióideo.
• Tem sua origem na borda posterior do
processo estilóide, (fig. 13).
• Insere-se no corpo do osso hióide, na
junção com o corno maior.
• É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do
nervo facial).
• É vascularizado pela artéria auricular
posterior.
• Tem com função tracionar o osso hióide
para cima e para trás.
Fig. 13 – Músculo digástrico
Consideram-se músculos infra-hióideos:
O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o
esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),.
Agindo em grupo estão envolvidos
nas funções mandibulares de abaixar e
estabilizar o osso hióide, o que permite a
ação auxiliar dos músculos supra-hióideos
no abaixamento da mandíbula. São
inervados pelo nervo hipoglosso, tem
origem na clavícula e inserção no osso
hióide.
Fig. 14 – Músculos infra-hióideos
Músculos posteriores do pescoço
Músculo esternocleidomastóideo
• Tem sua origem no manúbrio do esterno
e na porção medial da clavícula (fig.15
A).
• Insere-se no processo mastóide do osso
temporal.
• É inervado pelo nervo acessório.
• É vascularizado pelas artérias supra
escapular e occiptal
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 9
• Tem as funções de flexionar a coluna
vertebral e girar a cabeça para o lado
oposto.
Músculo trapézio
• Tem sua origem na protuberância
occipital externa (fig. 15 B).
• Insere-se na borda posterior do terço
lateral da clavícula.
• É inervado pelo nervo acessório
espinhal.
• É vascularizado pela artéria trapezoidal.
• Tem a função de girar a escápula.
Músculos intrínsecos do pescoço
• Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C).
Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A –
esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos
Músculo bucinador
• Tem sua origem nos processos álveo-
lares das maxilas e mandíbula na região
molar e no ligamento pterigomandibular
(fig. 16).
• Insere suas fibras que se misturam com
as fibras do músculo orbicular da boca,
no ângulo da boca.
• É inervado pelo nervo facial.
• É vascularizado pela artéria bucal.
• Tem a função de auxiliar na mastigação,
distende a bochecha e a comprime de
encontro aos dentes, e retrai o ângulo da
boca.
Fig. 16 – Músculo bucinador
Músculo Orbicular da Boca
• Tem sua origem nas fibras do bucinador
e outros músculos vizinhos (fig.17).
• Insere suas fibras de um lado com as
fibras do lado oposto na linha mediana
dos lábios.
• É inervado pelo nervo facial.
• É vascularizado pelas artérias labial
superior e inferior.
• Tem as funções de comprimir os lábios
sobre os dentes, fechar a boca e protruir
os lábios.
Fig. 17 – Músculo orbicular da boca
Músculo Platisma
• Tem sua origem na fáscia dos músculos
peitoral maior e deltóide (fig. 18).
• Insere-se na borda inferior da mandi-
bula, pele do mento e bochecha.
• É inervado pelo nervo facial
• Tem a função de abaixar a mandíbula, o
lábio inferior e os ângulos da boca e
repuxar a pele do pescoço.
A
B
C
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 10
Fig. 18 – Músculo platisma
Músculos da língua
São dezessete, um ímpar o lingual
superior e mais oito pares que executam os
diferentes movimentos da língua.
A pressão da língua para fora versus a
pressão do músculo bucinador para dentro
da cavidade bucal, determinam o
posicionamento do corredor da pressão
neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os
dentes erupcionam, essas forças oponentes
os conduzem horizontalmente para sua
posição.
O tamanho da língua e o comprimento
dos músculos peribucais influenciam na
posição da zona neutra, assim como o faz
qualquer hábito parafuncional que altere a
pressão da língua ou dos lábios.
Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da
língua e do músculo bucinador, delimitando a zona
neutra (região dentada)
• Funções musculares
Ocorrem por meio de contrações
sempre em direção à sua origem, podendo
ser:
• ISOTÔNICA: quando o músculo ao se
contrair tem somente um de seus
extremos de inserção fixo, e se encurta
sem aumentar a tensão de suas fibras
(ex.: abrir e fechar a boca).
• ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se
contrair tem os dois extremos de
inserção fixos, não podendo se encurtar,
o que gera um aumento da tensão de
suas fibras (ex.: hábito de apertamento
dentário ou bruxismo).
Com base na ação integrada em
relação às funções primárias, os músculos
da mastigação podem ser divididos em:
1. Motores Primários: também chamados
de iniciadores.
2. Sinergistas: que atuam auxiliando os
motores primários.
3. Antagonistas: que se opõem à ação dos
primários.
4. Estabilizadores (ou de fixação): que
mantêm firmes os ossos ou articulações,
permitindo uma ação efetiva do grupo
muscular ativo.
No movimento de fechamento fisioló-
gico da mandíbula atuam:
-como músculos primários os masséteres;
-como sinergistas, os pterigoídeos mediais,
temporais anteriores e médios;
-como antagonistas os pterigoídeos laterais
e o digástrico e
- como estabilizadores os temporais
posteriores (figs 20 A e B).
Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A –
fase inicial, B – fase intermediária.
• Vascularização
A principal artéria do aparelho
estomatognático é a carótida externa com
seus ramos maxilar e facial (fig. 21).
A B
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 11
VASCULARIZAÇÃO
Artérias:
- facial
- maxilar
- carótida externa
Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento
arterial do Aparelho Estomatognático
Articulação Temporomandibular - ATM
A articulação temporomandibular
pode ser tecnicamente considerada uma
articulação ginglemoartroidal, por realizar
movimentos de rotação (ginglemoidal) e
translação (artroidal).
O homem é portador das articulações
temporomandibulares desde o seu nasci-
mento, quando ainda inexistem os dentes
nas arcadas dentárias. Durante o seu
desenvolvimento, os côndilos e as fossas
vão se remodelando continuamente por
meio da transição da dentição temporária
para a permanente e mesmo quando da
perda desta última (fig. 23).
As ATMs se projetarão ligeiramente
para anterior quando da ausência de todos
os dentes e são, juntamente com o sistema
neuromuscular, as referências que se
mantêm durante toda a vida do homem.
PFO/UFU
Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios
das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da
mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de
um adulto e de um idoso.
As articulações temporomandibulares
possuem todos os elementos de uma
articulação sinovial, incluindo um disco
articular (fig. 24). O côndilo é revestido de
uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se
ânterosuperiormente na fossa mandibular e,
apoia-se anteriormente contra a eminência
articular, que é protegida por uma camada
fibrocartilaginosa em toda a superfície de
relacionamento funcional. O disco articular
(menisco) com forma bicôncava está colo-
cado entre ambas as superfícies articulares,
e apresenta a inserção do feixe superior do
músculo pterigóideo lateral (no disco arti-
cular), e do feixe inferior na fossa pterigói-
dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao
côndilo, encontra-se a zona bilaminar com
vascularização e inervação própria, que não
é apropriada para suportar o côndilo.
C
J
A
L
M B
D E
Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A-
superfície articular do osso temporal, B- disco
articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido
retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J-
superfície articular do côndilo, L- feixe superior do
pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo
lateral.
A irrigação dos elementos que consti-
tuem as ATMs é conduzida por ramos das
artérias temporal superficial, timpânica an-
terior, meníngea média e auricular posterior.
A inervação se dá a partir dos
receptores localizados em:
• Regiões posteriores e laterais da cápsula
e ligamento lateral externo – inervados
pelo nervo aurículo-temporal.
• Região anterior da cápsula – inervada
pelos nervos temporais profundos
posteriores e massetérico.
• Região anterior (articular) do menisco e
membrana sinovial contendo poucos
receptores.
São descritos quatro tipos de receptores
nas ATMs:
• Os receptores de Ruffini que determi-
nam o ângulo de abertura da boca e
variam dependendo do grau de abertura.
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 12
• Os receptores de Pacini que são ativados
juntos ou transitoriamente com os de
Ruffini e assinalam o início e o fim do
movimento, e suas respostas não
dependem da direção nem da posição
inicial do movimento.
• Os receptores de Golgi que respondem
à pressões fortes nos tecidos articulares
e são protetores.
• As Terminações Nervosas Livres que
são nociceptivas e respondem pela dor.
São ligamentos da ATM:
Temporomandibular com origem na
superfície lateral da eminência articular
do osso temporal e inserção no colo da
mandíbula (fig. 25).
ligamento
temporomandibular
disco articular
Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento
temporomandibular.
Estilomandibular com origem no
processo estilóide e inserção no ângulo
da mandíbula, (fig. 26A).
Esfenomandibular com origem na
espinha do osso esfenóide e inserção na
língula mandibular, (fig. 25B).
BA
Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B:
ligamento esfenomandibular.
Capsular com origem no osso temporal,
ao longo da fossa mandibular e
eminência articular, e inserção na face
lateral do côndilo.
Oclusão
Oclusão se refere ao estudo das
relações estáticas (intercuspidação dentária)
e dinâmicas (movimentos mandibulares)
entre as superfícies oclusais, e entre estas e
todos os demais componentes do AE.
Uma oclusão é fisiológica quando
apresenta harmonia entre os determinantes
anatômicos e as unidades fisiológicas do
AE, não gerando patologias aos tecidos.
Entretanto na presença de desarmonia a
oclusão será patológica, podendo gerar
patologias aos tecidos.
É considerado maloclusão os contatos
oclusais antagônicos ou adjacentes dos
dentes em desarmonia, com os componentes
anatômicos e unidades fisiológicas do AE.
O termo maloclusão não significa doença ou
saúde, e sim dentes mal posicionados ou
desalinhados. Muitas pessoas apresentam
uma maloclusão, mas se adaptam à ela não
apresentando sinais patológicos.
No Aparelho Estomatognático, os
dentes posteriores têm como funções: masti-
gação, ponto de apoio da mandíbula durante
a deglutição, manutenção da dimensão
vertical de oclusão, transmissão e dissipação
das forças axiais, e proteção aos dentes
anteriores e às ATMs na posição de oclusão
em relação cêntrica - ORC.
Os dentes anteriores têm como fun-
ções: estética, fonética, apreensão e corte
dos alimentos, e proteção aos dentes
posteriores e às ATMs nos movimentos
excêntricos da mandíbula.
Periodonto
As forças que incidem sobre os dentes
são transmitidas aos ossos por meio das
fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio
entre as forças de ação que incidem sobre os
dentes e a reação biológica adequada dos
tecidos do periodonto de sustentação,
cemento, fibras periodontais e osso alveolar,
mantêm a integridade das estruturas e
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 13
representa o principal componente da
homeostasia desse periodonto.
Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso
por meio das fibras periodontais.
Na mandíbula as forças seguem a
trajetória das trabéculas ósseas em direção
aos côndilos, de onde são transmitidas e
neutralizadas nas regiões temporal, parietal
e occipital.
Nas maxilas a trajetória trabecular
forma três pilares ósseos: anterior, médio e
posterior, por meio dos quais as forças se
direcionam para as áreas frontal, orbital,
nasal e zigomática, onde são neutralizadas.
Essas disposições trabeculares asseguram o
máximo de resistência óssea ao estresse.
A manutenção ou reabilitação do Aparelho
Estomatognático
A manutenção ou reabilitação do
Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião-
Dentista tem como objetivo preservar ou
restabelecer a:
• Dimensão vertical – DV.
• Relação cêntrica – RC.
• Estabilidade oclusal – EO.
• Guia anterior – GA.
Para isto se fazem necessários os
conhecimentos de:
• Biologia dos tecidos.
• Fisiologia do Aparelho Estomatogná-
tico.
• Propriedade dos materiais odontológi-
cos.
• Técnicas de execução dos procedimen-
tos clínicos e laboratoriais.
• Fundamentos de estética odontológica.
E os procedimentos:
• Anamnésia, exames: clínico, radiográ-
fico e dos modelos de estudo montados
em articulador semi-ajustável em RC.
• Diagnóstico.
• Planejamento e execução de procedi-
mentos educativos, preventivos e restau-
radores.
O que são e a que se destinam os
objetivos:
Dimensão vertical (DV) é a medida
vertical da face, entre dois pontos quaisquer,
arbitrariamente selecionados e conveniente-
mente localizados um acima, e outro abaixo
da boca, normalmente na linha mediana da
face, variando entre a dimensão vertical de
repouso e dimensão vertical de oclusão.
Fundamental na preservação da saúde da
unidade fisiológica neuromuscular do AE.
A dimensão vertical de repouso
(DVR) é a dimensão vertical da face,
quando a mandíbula se encontra sustentada
pela posição postural, ou de repouso
fisiológico dos músculos do AE e com os
lábios se contatando levemente. Independe
da presença ou não dos dentes.
A dimensão vertical de oclusão
(DVO) é a dimensão vertical da face,
quando os dentes estão em máxima
intercuspidação e os músculos contraídos
em seu ciclo de potência máxima. Depende
da presença dos dentes em oclusão (fig. 27).
Músculos da
Mastigação
Supra-hióideos
Infra-hióideos
Músculos anteriores
e
posteriores cervicais
Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão
vertical
O paciente pode apresentar diferentes
perfis faciais em detrimento de alterações na
DV (fig. 28).
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14
Correta Excessiva Reduzida
Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B-
DV excessiva, C- DV reduzida.
A distância existente entre as
superfícies oclusais e incisais dos dentes
antagonistas, quando a mandíbula se
encontra sustentada pela posição postural ou
de repouso muscular fisiológico, é
denominada espaço funcional livre (EFL) o
que representa a diferença entre a DVO e a
DVR, sendo de aproximadamente 3 mm.
A relação cêntrica (RC) trata do
relacionamento temporomandibular, funda-
mental na preservação da saúde das
unidades fisiológicas, neuromuscular e
ATMs, do AE. Existem na literatura
odontológica várias conceituações de
diferentes autores, entre as quais se
destacam algumas citadas abaixo.
- Neff (1975), é a posição inicial dos
movimentos mandibulares, estável e fácil de
ser reproduzida.
- Celenza (1978), é a posição
fisiológica mais anterior e superior dos
côndilos contra a inclinação da eminência
articular, permitida pelas estruturas limi-
tantes da ATM, a uma DV dada. É uma
posição que comumente não coincide com a
máxima intercuspidação e é uma referência
aceitável para o tratamento.
- Moffett (1978), é uma relação
crânio-mandibular, na qual a mandíbula se
encontra numa posição mais retruída em
relação à máxima intercuspidação quando
os dentes fazem os seus contato oclusal
inicial. É uma posição bordejante e fácil-
mente reproduzível.
- Ramfjord (1983), é uma posição
ligamentosa mais retruída da mandíbula, a
partir da qual os movimentos de abertura e
lateralidade podem ser executados conforta-
velmente.
- Thomas (1979), diz ser o relacio-
namento espacial entre o crânio e os
côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico,
numa posição posterior, superior e media-na
na fossa condilar.
- Okeson (1989), é a posição mais
anterior e superior dos côndilos nas suas
fossas com os discos adequadamente inter-
postos.
- Dawson (1995), é a posição mais
superior que as estruturas côndilo-disco
propriamente alinhados, podem alcançar
contra a eminência.
- Jiménez (1995), é a posição fisioló-
gica do côndilo, na qual ele se encontra
centrado na fossa, em seu posicionamento
mais superior e correta-mente relacionado
com o disco articular, contra a vertente
posterior da eminência articular.
- Fernandes Neto (2002), é a relação
do côndilo com a fossa mandibular do osso
temporal em completa harmonia com o
disco articular (fig. 29). É uma posição
estável e reproduzível pelo equilíbrio
fisiológico dos músculos de sustentação
mandibular, e independe do relacionamento
dentário.
Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa.
Estabilidade oclusal – EO é a
estabilidade dada à mandíbula em relação às
maxilas pela intercuspidação simultânea das
cúspides funcionais, nas respectivas fossas
antagonistas em ambos os lados da arcada
dentária. Fundamental na preservação da
saúde das unidades fisiológicas, neuro-
muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30)
e periodonto(fig. 31), do AE.
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 15
Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade
oclusal
Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das
forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente
saúde periodontal
Para manter ou restabelecer a estabi-
lidade maxilo-mandibular do aparelho
estomatognático, são indispensáveis a
oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares
antagônicos.
Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular
Denomina-se oclusão em relação
cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima
intercuspidação cêntrica) quando há coinci-
dência da posição de máxima intercuspi-
dação dentária com a posição de RC das
ATMs (fig. 33).
Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B –
intercuspidação dentária.
Como máxima intercuspidação habi-
tual - MIH, é considerada a posição maxilo-
mandibular com o maior número de conta-
tos entre os dentes antagonistas. É uma
posição dentária que independe da posição
dos côndilos, logo não deve ser impro-
priamente chamada de oclusão cêntrica,
pois nesta posição a mandíbula estará
sempre desviada da RC.
Estudos têm mostrado que, na maioria
dos casos, a neuromusculatura posiciona a
mandíbula para alcançar a máxima inter-
cuspidação independente da posição dos
côndilos na fossa. Quando interferências
oclusais estão presentes o “feedback”
proprioceptivo das fibras periodontais ao
redor do dente envolvido programa a função
muscular para evitar as interferências. A
função muscular resultante pode ser tão
dominante que a posição mandibular
adquirida será freqüentemente considerada
erroneamente pelos clínicos como a
verdadeira RC.
Para melhor entendimento de toda
esta nomenclatura é importante observar
que o termo relação cêntrica se refere
sempre a uma posição de estabilidade entre
o côndilo e a fossa mandibular, indepen-
dente dos dentes. Os termos intercuspidação
e oclusão referem-se a uma relação de
estabilidade dentária entre as maxilas e a
mandíbula (maxilo-mandibular), indepen-
dente dos côndilos. No entanto, uma
oclusão fisiológica requer estabilidade e
reprodutibilidade no relacionamento da
mandíbula com os ossos temporais e
maxilas. Para que isto ocorra, é necessário
preservar ou restabelecer simultaneamente,
A
B
A
B
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 16
a relação temporomandibular por meio das
ATMs direita e esquerda em RC como
apoio posterior, e a relação maxiloman-
dibular por meio da intercuspidação dos
dentes posteriores simultaneamente de
ambos os lados da arcada dentária, como
apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma
oclusão em relação cêntrica ou uma máxima
intercuspidação cêntrica, de tal maneira que,
quando unidos os extremos destes pontos de
apoio, forme uma figura geométrica
(quadrilátero de estabilidade).
Como Guia Anterior GA, descreve-se
o relacionamento das bordas incisais dos
dentes anteriores inferiores, com a face
lingual dos dentes anteriores superiores,
durante os movimentos protrusivo e
retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem
contato dental posterior, formando-se com
as ATMs direita e esquerda um tripé de
estabilidade (fig. 35). Fundamental na
preservação da saúde das unidades
fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão
dentária e periodonto do AE
Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior
Fig. 35 – Guia anterior – plano
sagital
O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos
tecidos e a fisiologia do AE.
Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos
resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01)
Objetivos permanentes a serem alcançados: Unidades fisiológicas – preservadas:
Dimensão vertical Neuromuscular
Relação cêntrica
Neuromuscular
ATMs
Estabilidade oclusal
Neuromuscular
ATMs
Dentes
Periodonto.
Guia anterior
Neuromuscular
ATMs
Dentes
Periodonto
Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas
do aparelho estomatognático.
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 17
Bibliografia consultada
CELENZA, F., NASEDKIN, J. N.
Occlusion The state of the art. Chicago:
Quintessence, 1978.
DAWSON, P. E. New definition for relating
occlusion to varying conditions of the
temporomandibular joint, JPD. V. 74(6), p.
619-629, dec., 1995.
EYZAGUIRRE, C., FIDONE, S. J.
Fisiologia do sistema nervoso Traduzido
por Aglai Penna Barbosa de Sousa. 2ª ed.
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 398 p.
1977.
FIELDS, HL. Pain. New York: Mcgraw-
Hill, 1987: 1-78.
GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,
California: Denar Corp., 117 p. 1977.
JIMÉNEZ-LOPEZ, V. Próteses sobre
implantes: Oclusão, casos clínicos e
laboratório. 2ª ed. Tradução por Zulema
Eugênia G. Batista. São Paulo:
Quintessence, 264p. 1996.
MADEIRA,M.C. Anatomia da face. Bases
anátomofuncionais par a prática odontoló-
gica. 2ª ed. São Paulo, Sarvier Editora,
1997.
NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function.
Washington: Georgetown University -
School of Dentistry, Seventh printed,
Washington, D.C. 60 p. 1993.
OKESON, J. P. Management of tem-
poromandibular disorders and occlusion.
St.' Louis: Mosby; 108. 1989.
RAMFJORD, S. ASH, M.M. Occlusion. 3rd
ed. Philadelphia: Saunders; 1983.
SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre
neurofisiologia de la oclusion. Bogota,
Pontificia Universidad Javeriana, 66 p.
1975.
PAIVA, H. J. et. al. Oclusão. Noções e
Conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv.
Editora. 336 p. 1997.
PERTES, R. A., GROSS, G. S. – Functional
Anatomy and Biomechanics of the joint. In:
PERTES, R. A., GROSS, S. G. Clinical
management of temporo-mandibular
disorders and orofacial pain. Illinois:
Quintessence, Cap. 1. 368p. 1995.
POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles
of Occlusion. Detroit: University of Detroit,
56 p., s.d.
THE ACADEMY OF PROSTHO-
DONTICS. The glossary of pros-thodontics
terms., 6th ed. Journal of Prosthetic.
Dentistry St. Louis, 112 p., 1994.

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Saúde do Aparelho Estomatognático

  • 1. APARELHO ESTOMATOGNÁTICO Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 Sabedor de que é um ser bio psico social, boa parte das ações do homem na sociedade objetiva fazer a vida melhor para a humanidade, ou despertá-la para as medidas ou precauções necessárias. Um importante elemento neste caso é o nível de saúde do indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade. Saúde não significa apenas a ausência de doença, mas também bem estar somático, psico, social e harmonia no meio em que vive. É importante que os profissionais que trabalham com pacientes que apresentam e sofrem com as conseqüências das desordens do Aparelho Estomatognático e estruturas relacionadas, tenham consciência de que também os fatores somáticos, psíquicos e sociais podem estar alterados e compro- meter o senso normal de bem estar. Estes pacientes podem apresentar persistente desconforto na face, cabeça, articulações temporomandibulares – ATMs e pescoço, além de contrações, fadiga muscular e limitação dos movimentos mandibulares. Estalidos nas ATMs ocorrem com freqüência e geralmente são tolerados pelos pacientes, até que atraiam a atenção de outros, originando um incômodo e um problema social ao paciente. A dor de cabeça pode ser tolerada uma única vez, mas a repetição diária altera o comporta- mento do paciente, irrita familiares e colegas de trabalho. Os sintomas mencionados se forem discretos e esporádicos podem ser ignorados por alguns pacientes, porém para outros podem ser sérios a ponto de causar redução da capacidade de trabalho, complicações emocionais, sociais e econômicas. Mesmo com o conhecimento que os profissionais da Odontologia tem sobre as desordens do Aparelho Estomatognático, um grande número de pacientes continua sem um diagnóstico definitivo, seguido de uma falta de interesse em tratá-los. Isto constitui um importante estímulo aos profissionais em aprofundar os conheci- mentos nesta área. Pesquisas epidemiológicas têm dado importantes informações da freqüência destas desordens em pacientes de ambos os sexos, e de diferentes faixas etárias e classes sociais. Considerando que todas as condutas terapêuticas se sustentam no respeito à natureza, e objetivam a remoção dos fatores etiológicos e o resgate da biologia dos tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog- nático, não se pode pensar em promoção de saúde sem um profundo conhecimento deste aparelho, o que justifica uma breve revisão sobre esse assunto. O Aparelho Estomatognático - AE, é uma entidade fisiológica, funcional, perfeitamente definida e integrada por um conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, cuja biologia e fisiopatologia são absoluta- mente interdependentes, envolvidos nos atos funcionais como: fala, mastigação e deglutição dos alimentos, e nos atos para- funcionais como: apertamento dentário e bruxismo. Esse aparelho tem como funções mastigação, deglutição, fonação, expressão e estética facial e postura da mandíbula, da língua e do osso hióide. Dentre elas a
  • 2. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 2 mastigação é que gera o maior esforço oclusal. Seus componentes anatômicos são: todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, o hióide, as clavículas e o esterno, os músculos da mastigação, deglutição, expres- são facial e posteriores do pescoço, as articulações dento-alveolar (periodonto) e temporomandibular (ATM) e seus ligamen- tos, os sistemas vasculares e nervoso, os dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as glândulas salivarias. O sistema neuromuscular, as articula- ções temporomandibulares - ATMs, a oclu- são dentária e o periodonto são as quatro unidades fisiológicas básicas que integram uma unidade biológica funcional do AE, que por sua vez pertence à outra unidade biológica fundamental, o indivíduo, do qual não pode ser separada ao se fazer conside- rações diagnósticas, prognosticas e terapêu- ticas em se tratando de promoção de saúde. Sistema Neuromuscular O sistema neuromuscular é conside- rado fator preponderante nas funções do Aparelho Estomatognático, pois os múscu- los excitados pelo sistema nervoso, constituem-se no elemento ativo, que origina as forças necessárias às funções a que se destinam (fig. 01). As demais unidades representam os elementos passivos encarregados de receber e transmitir a ação das forças. Fig. 01 – Sistema neuromuscular Para o entendimento da interação do sistema neuromuscular com a morfologia oclusal, faz-se necessário o conhecimento das relações anatômicas das ATMs e de seus ligamentos com os músculos que o constituem. Este conhecimento inclui a função, a inervação e a vascularização destes músculos. SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso tem como funções básicas: Manutenção da constância do meio interno (homeostase), por meio de funções vegetativas que asseguram sua organização. Emissão de comportamentos que são funções globais do organismo no meio em que vive. Para o melhor entendimento do mecanismo de ação do sistema nervoso, deve-se recordar que este se constitui de sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC constitui-se do encéfalo e da medula espinhal. O encéfalo abrange o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico. No cérebro distinguem-se: o córtex motor que se relaciona com os movimentos voluntários dos músculos estriados, o córtex sensorial que se relaciona com a sensibi- lidade profunda e cutânea e o tálamo que é o centro de passagem de todas as sensações, com exceção do olfato. O cerebelo tem como função principal a coordenação e refinamento dos movimen- tos musculares, sendo também importante na postura e tônus muscular. No tronco encefálico distinguem-se o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. A principal estrutura do sistema nervoso periférico é o neurônio (célula nervosa), que é composto de um corpo celular e seu processo (axônio) que conduz impulsos para e do corpo celular. Um neurônio aferente conduz impulsos nervosos em direção ao SNC, enquanto um neurônio eferente conduz impulsos para a periferia por meio de axônios. A detecção e subseqüente transmissão de um evento nocivo é chamada de
  • 3. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 3 nocicepção. Nervos aferentes primários com terminais periféricos (receptores) são conhecidos como nociceptores. Os principais nervos do Aparelho Estomatognático são o facial (fig. 02), o trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso. Fig. 02 - Nervo facial • Neurofisiologia A neurofisiologia bucal é a parte da biologia que explica os mecanismos a serem explorados como recursos terapêuticos. É fundamental aprofundar o conhe- cimento nesta área, para estabelecer um elo entre o estímulo e a resposta nas abordagens clínicas, visto que os diversos caminhos percorridos pelos estímulos, elucidam por meio da participação do sistema nervoso, onde e como agir. A neurofisiologia se desenvolve em três etapas definidas: 1. Percepção do estímulo sensorial. 2. Integração no SNC. 3. Reação motora (na forma de contração muscular e/ou função glandular). A percepção do estímulo sensorial é o mecanismo pelo qual o SNC se mantém informado das condições internas e externas existentes no organismo, e se constitui de duas fases: a recepção do estímulo por meio dos receptores nervosos e a condução do estímulo até o SNC por meio das vias condutoras aferentes (sensorial). Os receptores nervosos são termina- ções nervosas sensoriais, especializadas e sensíveis a determinados estímulos. Em geral, cada tipo de receptor só responde a um determinado tipo de estímulo, e pouco ou quase nada a outros. Os receptores são classificados em grandes grupos: • Exteroceptores que são estimulados por mudanças externas, como dor (termi- nações nervosas livres), temperatura (corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo terminal de Krause ao frio), tato (corpúsculo de Meissner), pressão (corpúsculo de Paccini), audição, visão, e outros. Estão localizados nas mucosas, pele e estruturas especializadas dos órgãos dos sentidos. • Interoceptores que são estimulados pelas mudanças das condições internas do indivíduo, como pressão (corpúsculos de Vater-Paccini localizados no tecido gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo, ligamentos e cápsulas articulares), mudanças químicas, posição relativa, e outros. Os interoceptores incluem: a) os visceroceptores, localizados nas vísceras e vasos sangüíneos, que percebem a fome, a sede e a dor visceral. b) os proprioceptores, localizados nas articulações, músculos, ligamentos e mem- brana periodontal que estão relacionados com a sensação de posição e pressão, sentido de movimentos, etc. Todos os interoceptores, especialmen- te os proprioceptores, são mais sensíveis que os exteroceptores, e informa ao SNC sobre possíveis condições adversas na intimidade dos tecidos do organismo. Como exemplo, na membrana periodontal há proprioceptores capazes de perceber uma folha de papel de um centésimo de milímetro de espessura entre os dentes ocluídos, assim ocorre com restaurações ligeiramente altas que são percebidas por estes. Um outro tipo especial de receptor é o fuso neuromuscular, localizado nos múscu- los, na região de transição entre as fibras musculares e as fibras tendíneas. São sensí- veis às mudanças de tensão muscular e aos impulsos provenientes do SNC, com inerva-
  • 4. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 4 ção sensorial e motora própria, permite produzir os estímulos no próprio músculo. A integração no SNC ocorre a partir da produção de um estímulo no SNP captado por um receptor específico, a partir do qual, se inicia uma via ascendente (pelos nervos sensoriais aferentes) até o SNC especificamente até o córtex sensorial, por meio dos diferentes constituintes do sistema nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando o estímulo é então identificado, tornando-se consciente. Cada estímulo específico é individua- lizado e determina uma reação específica correspondente. A reação motora, do córtex motor, inicia-se após a integração de um estímulo ao córtex sensorial do cérebro. O impulso motor gerado inicia uma via descendente, por meio dos vários constituintes do sistema nervoso até o executor correspondente. Ex.: córtex motor, cerebelo, tronco encefálico, mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen- tes e músculos. Em todo o trajeto seguido pelos impulsos, existem vários controles de regis- tro, regulação, modificação e coordenação em diversos níveis (tálamo, formações reticulares), para dar uma resposta motora adequada. Porém a função reguladora principal dos impulsos sensoriais e motores estão no cerebelo, cumprindo uma impor- tante função de coordenação e refinamento da reação motora. Existe outro tipo de mecanismo neuromuscular inconsciente, cuja ação motora se produz sem intervenção do córtex cerebral, de forma automática que são os arcos reflexos. Os componentes fundamentais de um arco reflexo são: 1- Estímulo específico, um receptor perifé- rico, sensível a um determinado estímulo ambiental; 2- Integração (cérebro), uma ou mais célu- las intercalares ou interneurônios, que competem a elaboração das informações transmitidas pelos receptores e sua posterior transmissão; 3- Reação motora (específica), um neurônio motor eferente que transmite a infor- mação ao órgão executor. Os arcos reflexos se classificam como incondicionados e condicionados. Os incondicionados (inatos – congêni- tos) são aqueles que não intervêm previa- mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.: respiração, sucção, deglutição, movimentos mandibulares. Os condicionados (adquiridos ou aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro atua nas primeiras ocorrências da percep- ção, da integração e da resposta motora. Com a sucessiva repetição do estímulo e sua correspondente integração e reação motora, estabelece-se uma sinapse entre os neurô- nios aferentes (sensitivos) e os eferentes (motores) ao nível do talo encefálico, sem a intervenção do córtex cerebral, tornando-se automático ou inconsciente. Ex. Presente nas crianças antes da erupção dos dentes, os movimentos reflexos simples de abertura e fechamento mandibu- lar fazem parte dos reflexos inatos de sucção e amamentação. Com a erupção e oclusão dos dentes, os contatos interoclusais excitam os proprioceptores da membrana periodontal, cujos estímulos sensoriais chegam ao SNC pelo cérebro onde são integrados, produzindo a resposta motora indicada. Posteriormente, ante a situação de reforço constante do mesmo estímulo, cria- se um arco reflexo adquirido, produzindo-se a sinapse dos neurônios aferentes e eferen- tes, tornando-se desnecessária a intervenção do córtex cerebral para que ocorra a mastigação, reflexo semelhante ocorre no ato de andar e outros. Os reflexos mais importantes que se apresentam no Aparelho Estomatognático são: - Reflexo de estiramento (miotático): atua no sentido de evitar o estiramento passivo dos músculos. Apresenta-se mais sensível nos músculos que se opõem à força de gravidade. Ex. masseter, temporal e pterigóideo lateral (que evitam queda da mandíbula).
  • 5. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 5 - Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo): existente na membrana periodontal e nos músculos, a partir de receptores nervosos sensitivos permitem ao SNC reconhecer o movimento mandibular a ser realizado e a intensidade da força que deverá aplicar. - Reflexo flexor (nociceptivo): tem função protetora de todas as estruturas do Aparelho Estomatognático, pois afasta a parte excitada do agente injuriante. É responsável pela alteração da posição mandibular para evitar o trauma periodontal em um dente com distúrbio oclusal. - A coordenação dos reflexos se deve em razão dos reflexos de estiramento e flexor serem antagônicos, logo a atividade de um deve necessariamente inibir a do outro. Se ambos os reflexos forem ativados simultaneamente, o padrão flexor é o domi- nante, o que é muito favorável ao organismo, pois o mesmo é fundamental- mente protetor. - A inervação recíproca atua quando um músculo é ativado simultaneamente, inibindo ou relaxando os músculos de ação antagônica. O fracasso dessa inervação recíproca desempenha um papel importante na patogenia de diversas disfunções do Aparelho Estomatognático. Sistema Muscular O sistema muscular humano compõe- se: de músculos esqueléticos, também chamados músculos estriados, que atuam sob controle voluntário e estão envolvidos com os movimentos, postura e equilíbrio, e de músculos lisos que atuam sob controle involuntário e encontram-se nas paredes dos vasos sangüíneos e em estruturas como bexiga urinária, intestinos, estômago e músculo cardíaco. Muitos invertebrados e todos os vertebrados dependem deste tecido contrátil para locomoverem-se, e tais tecidos são agrupados em sistemas coordenados para maior eficiência. • Tipos funcionais dos músculos Os músculos são divididos pelos fisiologistas em dois grandes grupos: fásicos e tônicos. Os músculos fásicos são compostos de fibras capazes de rápida ativação e relaxamento. Eles são bem adaptados para movimentos rápidos de curta duração. As fibras dos músculos tônicos contraem-se e relaxam mais lentamente, induzem movi- mentos lentos e sustentam as estruturas anexas por um longo período de tempo. Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos músculos como fásicos ou tônicos é difícil caracterizá-los claramente como tal, pois os períodos de contração e relaxamento variam intensamente nos diferentes músculos, além disso, alguns deles podem contrair fasica- mente num determinado momento e tonicamente em outro. A extremidade de um músculo ligada a um elemento móvel é chamada de inserção e a extremidade oposta, unida a um elemento fixo, é chamada de origem. A inserção e a origem são termos descritivos convenientes, mas deve-se enfatizar que a tensão nos dois extremos é a mesma. Não se pode atribuir uma função específica a cada músculo, pois estudos recentes mostram uma integração extrema- mente complexa em cada um dos movi- mentos mandibulares. As descrições a seguir se limitam às funções principais de cada músculo para o entendimento dos movimentos e posições mandibulares. Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático Durante a função fisiológica dos músculos do AE na oclusão dos dentes em uma posição mandibular estável, um distúrbio oclusal poderá se tornar
  • 6. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 6 intolerável ao paciente e gerar desconforto muscular, podendo precipitar uma pato- logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista devem ser capazes de palpar a musculatura do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer possível patologia e seus fatores etiológicos. Consideram-se músculos da mastigação: O músculo Temporal. • Tem origem na linha temporal superior e soalho da fossa temporal. • Insere-se no processo coronóide e borda anterior do ramo mandibular, por meio dos tendões: superficial e longo profundo (fig. 04). • É inervado pelos nervos temporais profundos (ramos do trigêmeo). • É vascularizado pelas artérias tempo- rais profunda anterior, média e posterior. • Tem as funções de elevar, retrair e posicionar a mandíbula e ocluir os dentes (fig. 05). Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão superficial: B – tendão longo profundo Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação, retração e posicionamento da mandíbula. O músculo Masseter. • Sua porção superficial tem origem nos 2/3 anteriores do arco zigomático e sua porção profunda na superfície média do arco zigomático. • Insere-se na superfície lateral externa do ramo e ângulo da mandíbula. • É inervado pelo nervo masseterino (ramo do trigêmeo). • É vascularizado pela artéria masseterina (ramo da artéria maxilar). • Têm as funções de elevar a mandíbula e ocluir os dentes (fig. 06). Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a mandíbula e ocluir os dentes. A força dos músculos (masseteres) tem sua maior concentração sobre a cúspide mésio-palatina dos primeiros molares (fig. 07). Fig. 07 – Localização do ponto de maior concentração das forças dos músculos masseteres. O músculo Pterigóideo Lateral. • Sua porção superior tem origem na superfície infratemporal da asa maior do osso esfenóide, e a porção inferior na A A B
  • 7. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 7 superfície do processo pterigóide do osso esfenóide. • Insere-se ao feixe superior no disco articular (menisco) e cápsula da ATM, e o feixe inferior na fossa pterigóidea (colo do côndilo). • É inervado pelo nervo pterigóideo lateral (ramo do trigêmeo), • Vascularizado pela artéria pterigóidea lateral (ramo da artéria maxilar). • Tem as funções de protruir a mandíbula e tracionar o disco articular para frente, assistindo aos movimentos protrusivos da mandíbula (fig. 08). Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função: protrusão mandibular. O músculo Pterigóideo Medial • Tem sua origem na face medial da lâmina lateral da fossa pterigóidea na base do crânio. • Insere-se nas porções posterior e inferior da superfície medial do ramo ascendente e ângulo da mandíbula. • É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo do trigêmeo). • É vascularizado pela artéria pterigóidea medial (ramo da artéria maxilar). • Tem as funções de elevar e estabilizar lateralmente a mandíbula (fig. 09). PFO-UFU PFO-UFU Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e estabilizar lateralmente a mandíbula. Consideram-se músculos supra-hióideos: O músculo gênio-hióideo. • Tem sua origem nos tubérculos genia- nos inferiores na superfície interna da sínfise mandibular (fig. 10). • Insere-se na superfície anterior do corpo do osso hióide. • É inervado pelo nervo genio-hióideo (ramo do nervo hipoglosso). • É vascularizado pelas artérias lingual e sublingual. • Tem a função de movimentar o osso hióide para frente. Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo O Músculo milo-hióideo. • Tem sua origem na linha milo-hióidea da mandíbula (da raiz do último molar à sínfise mandibular), (fig. 11). • Insere-se no corpo do osso hióide e rafe milo-hióidea. • É inervado pelo nervo milo-hióideo (ramo do nervo mandíbula). • É vascularizado pela artéria submento- niana (ramo da artéria facial).
  • 8. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 8 • Tem as funções de elevar o soalho da boca e com ele a língua, e se os dentes estão ocluídos, auxiliar na deglutição. Fig. 11 – Músculo milo-hióideo O músculo Digástrico. • Tem a origem do ventre posterior: na incisura mastóidea do temporal e do ventre anterior na fossa digástrica da mandíbula (fig. 12). • Insere-se no tendão intermediário, aderindo ao osso hióide por uma alça fibrosa. • É inervado pelos nervos milo-hióideo (ramo do trigêmeo) e facial. • É vascularizado pelas artérias submento- niana, occipital e auricular posterior. • Tem a função de puxar o mento para trás e para baixo na abertura da boca, auxiliando assim o pterigóideo lateral na protrusão da mandíbula. Fig. 12 – Músculo digástrico O Músculo estilo-hióideo. • Tem sua origem na borda posterior do processo estilóide, (fig. 13). • Insere-se no corpo do osso hióide, na junção com o corno maior. • É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do nervo facial). • É vascularizado pela artéria auricular posterior. • Tem com função tracionar o osso hióide para cima e para trás. Fig. 13 – Músculo digástrico Consideram-se músculos infra-hióideos: O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),. Agindo em grupo estão envolvidos nas funções mandibulares de abaixar e estabilizar o osso hióide, o que permite a ação auxiliar dos músculos supra-hióideos no abaixamento da mandíbula. São inervados pelo nervo hipoglosso, tem origem na clavícula e inserção no osso hióide. Fig. 14 – Músculos infra-hióideos Músculos posteriores do pescoço Músculo esternocleidomastóideo • Tem sua origem no manúbrio do esterno e na porção medial da clavícula (fig.15 A). • Insere-se no processo mastóide do osso temporal. • É inervado pelo nervo acessório. • É vascularizado pelas artérias supra escapular e occiptal
  • 9. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 9 • Tem as funções de flexionar a coluna vertebral e girar a cabeça para o lado oposto. Músculo trapézio • Tem sua origem na protuberância occipital externa (fig. 15 B). • Insere-se na borda posterior do terço lateral da clavícula. • É inervado pelo nervo acessório espinhal. • É vascularizado pela artéria trapezoidal. • Tem a função de girar a escápula. Músculos intrínsecos do pescoço • Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C). Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A – esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos Músculo bucinador • Tem sua origem nos processos álveo- lares das maxilas e mandíbula na região molar e no ligamento pterigomandibular (fig. 16). • Insere suas fibras que se misturam com as fibras do músculo orbicular da boca, no ângulo da boca. • É inervado pelo nervo facial. • É vascularizado pela artéria bucal. • Tem a função de auxiliar na mastigação, distende a bochecha e a comprime de encontro aos dentes, e retrai o ângulo da boca. Fig. 16 – Músculo bucinador Músculo Orbicular da Boca • Tem sua origem nas fibras do bucinador e outros músculos vizinhos (fig.17). • Insere suas fibras de um lado com as fibras do lado oposto na linha mediana dos lábios. • É inervado pelo nervo facial. • É vascularizado pelas artérias labial superior e inferior. • Tem as funções de comprimir os lábios sobre os dentes, fechar a boca e protruir os lábios. Fig. 17 – Músculo orbicular da boca Músculo Platisma • Tem sua origem na fáscia dos músculos peitoral maior e deltóide (fig. 18). • Insere-se na borda inferior da mandi- bula, pele do mento e bochecha. • É inervado pelo nervo facial • Tem a função de abaixar a mandíbula, o lábio inferior e os ângulos da boca e repuxar a pele do pescoço. A B C
  • 10. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 10 Fig. 18 – Músculo platisma Músculos da língua São dezessete, um ímpar o lingual superior e mais oito pares que executam os diferentes movimentos da língua. A pressão da língua para fora versus a pressão do músculo bucinador para dentro da cavidade bucal, determinam o posicionamento do corredor da pressão neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os dentes erupcionam, essas forças oponentes os conduzem horizontalmente para sua posição. O tamanho da língua e o comprimento dos músculos peribucais influenciam na posição da zona neutra, assim como o faz qualquer hábito parafuncional que altere a pressão da língua ou dos lábios. Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da língua e do músculo bucinador, delimitando a zona neutra (região dentada) • Funções musculares Ocorrem por meio de contrações sempre em direção à sua origem, podendo ser: • ISOTÔNICA: quando o músculo ao se contrair tem somente um de seus extremos de inserção fixo, e se encurta sem aumentar a tensão de suas fibras (ex.: abrir e fechar a boca). • ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se contrair tem os dois extremos de inserção fixos, não podendo se encurtar, o que gera um aumento da tensão de suas fibras (ex.: hábito de apertamento dentário ou bruxismo). Com base na ação integrada em relação às funções primárias, os músculos da mastigação podem ser divididos em: 1. Motores Primários: também chamados de iniciadores. 2. Sinergistas: que atuam auxiliando os motores primários. 3. Antagonistas: que se opõem à ação dos primários. 4. Estabilizadores (ou de fixação): que mantêm firmes os ossos ou articulações, permitindo uma ação efetiva do grupo muscular ativo. No movimento de fechamento fisioló- gico da mandíbula atuam: -como músculos primários os masséteres; -como sinergistas, os pterigoídeos mediais, temporais anteriores e médios; -como antagonistas os pterigoídeos laterais e o digástrico e - como estabilizadores os temporais posteriores (figs 20 A e B). Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A – fase inicial, B – fase intermediária. • Vascularização A principal artéria do aparelho estomatognático é a carótida externa com seus ramos maxilar e facial (fig. 21). A B
  • 11. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 11 VASCULARIZAÇÃO Artérias: - facial - maxilar - carótida externa Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento arterial do Aparelho Estomatognático Articulação Temporomandibular - ATM A articulação temporomandibular pode ser tecnicamente considerada uma articulação ginglemoartroidal, por realizar movimentos de rotação (ginglemoidal) e translação (artroidal). O homem é portador das articulações temporomandibulares desde o seu nasci- mento, quando ainda inexistem os dentes nas arcadas dentárias. Durante o seu desenvolvimento, os côndilos e as fossas vão se remodelando continuamente por meio da transição da dentição temporária para a permanente e mesmo quando da perda desta última (fig. 23). As ATMs se projetarão ligeiramente para anterior quando da ausência de todos os dentes e são, juntamente com o sistema neuromuscular, as referências que se mantêm durante toda a vida do homem. PFO/UFU Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de um adulto e de um idoso. As articulações temporomandibulares possuem todos os elementos de uma articulação sinovial, incluindo um disco articular (fig. 24). O côndilo é revestido de uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se ânterosuperiormente na fossa mandibular e, apoia-se anteriormente contra a eminência articular, que é protegida por uma camada fibrocartilaginosa em toda a superfície de relacionamento funcional. O disco articular (menisco) com forma bicôncava está colo- cado entre ambas as superfícies articulares, e apresenta a inserção do feixe superior do músculo pterigóideo lateral (no disco arti- cular), e do feixe inferior na fossa pterigói- dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao côndilo, encontra-se a zona bilaminar com vascularização e inervação própria, que não é apropriada para suportar o côndilo. C J A L M B D E Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A- superfície articular do osso temporal, B- disco articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J- superfície articular do côndilo, L- feixe superior do pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo lateral. A irrigação dos elementos que consti- tuem as ATMs é conduzida por ramos das artérias temporal superficial, timpânica an- terior, meníngea média e auricular posterior. A inervação se dá a partir dos receptores localizados em: • Regiões posteriores e laterais da cápsula e ligamento lateral externo – inervados pelo nervo aurículo-temporal. • Região anterior da cápsula – inervada pelos nervos temporais profundos posteriores e massetérico. • Região anterior (articular) do menisco e membrana sinovial contendo poucos receptores. São descritos quatro tipos de receptores nas ATMs: • Os receptores de Ruffini que determi- nam o ângulo de abertura da boca e variam dependendo do grau de abertura.
  • 12. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 12 • Os receptores de Pacini que são ativados juntos ou transitoriamente com os de Ruffini e assinalam o início e o fim do movimento, e suas respostas não dependem da direção nem da posição inicial do movimento. • Os receptores de Golgi que respondem à pressões fortes nos tecidos articulares e são protetores. • As Terminações Nervosas Livres que são nociceptivas e respondem pela dor. São ligamentos da ATM: Temporomandibular com origem na superfície lateral da eminência articular do osso temporal e inserção no colo da mandíbula (fig. 25). ligamento temporomandibular disco articular Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento temporomandibular. Estilomandibular com origem no processo estilóide e inserção no ângulo da mandíbula, (fig. 26A). Esfenomandibular com origem na espinha do osso esfenóide e inserção na língula mandibular, (fig. 25B). BA Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B: ligamento esfenomandibular. Capsular com origem no osso temporal, ao longo da fossa mandibular e eminência articular, e inserção na face lateral do côndilo. Oclusão Oclusão se refere ao estudo das relações estáticas (intercuspidação dentária) e dinâmicas (movimentos mandibulares) entre as superfícies oclusais, e entre estas e todos os demais componentes do AE. Uma oclusão é fisiológica quando apresenta harmonia entre os determinantes anatômicos e as unidades fisiológicas do AE, não gerando patologias aos tecidos. Entretanto na presença de desarmonia a oclusão será patológica, podendo gerar patologias aos tecidos. É considerado maloclusão os contatos oclusais antagônicos ou adjacentes dos dentes em desarmonia, com os componentes anatômicos e unidades fisiológicas do AE. O termo maloclusão não significa doença ou saúde, e sim dentes mal posicionados ou desalinhados. Muitas pessoas apresentam uma maloclusão, mas se adaptam à ela não apresentando sinais patológicos. No Aparelho Estomatognático, os dentes posteriores têm como funções: masti- gação, ponto de apoio da mandíbula durante a deglutição, manutenção da dimensão vertical de oclusão, transmissão e dissipação das forças axiais, e proteção aos dentes anteriores e às ATMs na posição de oclusão em relação cêntrica - ORC. Os dentes anteriores têm como fun- ções: estética, fonética, apreensão e corte dos alimentos, e proteção aos dentes posteriores e às ATMs nos movimentos excêntricos da mandíbula. Periodonto As forças que incidem sobre os dentes são transmitidas aos ossos por meio das fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio entre as forças de ação que incidem sobre os dentes e a reação biológica adequada dos tecidos do periodonto de sustentação, cemento, fibras periodontais e osso alveolar, mantêm a integridade das estruturas e
  • 13. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 13 representa o principal componente da homeostasia desse periodonto. Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso por meio das fibras periodontais. Na mandíbula as forças seguem a trajetória das trabéculas ósseas em direção aos côndilos, de onde são transmitidas e neutralizadas nas regiões temporal, parietal e occipital. Nas maxilas a trajetória trabecular forma três pilares ósseos: anterior, médio e posterior, por meio dos quais as forças se direcionam para as áreas frontal, orbital, nasal e zigomática, onde são neutralizadas. Essas disposições trabeculares asseguram o máximo de resistência óssea ao estresse. A manutenção ou reabilitação do Aparelho Estomatognático A manutenção ou reabilitação do Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião- Dentista tem como objetivo preservar ou restabelecer a: • Dimensão vertical – DV. • Relação cêntrica – RC. • Estabilidade oclusal – EO. • Guia anterior – GA. Para isto se fazem necessários os conhecimentos de: • Biologia dos tecidos. • Fisiologia do Aparelho Estomatogná- tico. • Propriedade dos materiais odontológi- cos. • Técnicas de execução dos procedimen- tos clínicos e laboratoriais. • Fundamentos de estética odontológica. E os procedimentos: • Anamnésia, exames: clínico, radiográ- fico e dos modelos de estudo montados em articulador semi-ajustável em RC. • Diagnóstico. • Planejamento e execução de procedi- mentos educativos, preventivos e restau- radores. O que são e a que se destinam os objetivos: Dimensão vertical (DV) é a medida vertical da face, entre dois pontos quaisquer, arbitrariamente selecionados e conveniente- mente localizados um acima, e outro abaixo da boca, normalmente na linha mediana da face, variando entre a dimensão vertical de repouso e dimensão vertical de oclusão. Fundamental na preservação da saúde da unidade fisiológica neuromuscular do AE. A dimensão vertical de repouso (DVR) é a dimensão vertical da face, quando a mandíbula se encontra sustentada pela posição postural, ou de repouso fisiológico dos músculos do AE e com os lábios se contatando levemente. Independe da presença ou não dos dentes. A dimensão vertical de oclusão (DVO) é a dimensão vertical da face, quando os dentes estão em máxima intercuspidação e os músculos contraídos em seu ciclo de potência máxima. Depende da presença dos dentes em oclusão (fig. 27). Músculos da Mastigação Supra-hióideos Infra-hióideos Músculos anteriores e posteriores cervicais Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão vertical O paciente pode apresentar diferentes perfis faciais em detrimento de alterações na DV (fig. 28).
  • 14. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14 Correta Excessiva Reduzida Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B- DV excessiva, C- DV reduzida. A distância existente entre as superfícies oclusais e incisais dos dentes antagonistas, quando a mandíbula se encontra sustentada pela posição postural ou de repouso muscular fisiológico, é denominada espaço funcional livre (EFL) o que representa a diferença entre a DVO e a DVR, sendo de aproximadamente 3 mm. A relação cêntrica (RC) trata do relacionamento temporomandibular, funda- mental na preservação da saúde das unidades fisiológicas, neuromuscular e ATMs, do AE. Existem na literatura odontológica várias conceituações de diferentes autores, entre as quais se destacam algumas citadas abaixo. - Neff (1975), é a posição inicial dos movimentos mandibulares, estável e fácil de ser reproduzida. - Celenza (1978), é a posição fisiológica mais anterior e superior dos côndilos contra a inclinação da eminência articular, permitida pelas estruturas limi- tantes da ATM, a uma DV dada. É uma posição que comumente não coincide com a máxima intercuspidação e é uma referência aceitável para o tratamento. - Moffett (1978), é uma relação crânio-mandibular, na qual a mandíbula se encontra numa posição mais retruída em relação à máxima intercuspidação quando os dentes fazem os seus contato oclusal inicial. É uma posição bordejante e fácil- mente reproduzível. - Ramfjord (1983), é uma posição ligamentosa mais retruída da mandíbula, a partir da qual os movimentos de abertura e lateralidade podem ser executados conforta- velmente. - Thomas (1979), diz ser o relacio- namento espacial entre o crânio e os côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico, numa posição posterior, superior e media-na na fossa condilar. - Okeson (1989), é a posição mais anterior e superior dos côndilos nas suas fossas com os discos adequadamente inter- postos. - Dawson (1995), é a posição mais superior que as estruturas côndilo-disco propriamente alinhados, podem alcançar contra a eminência. - Jiménez (1995), é a posição fisioló- gica do côndilo, na qual ele se encontra centrado na fossa, em seu posicionamento mais superior e correta-mente relacionado com o disco articular, contra a vertente posterior da eminência articular. - Fernandes Neto (2002), é a relação do côndilo com a fossa mandibular do osso temporal em completa harmonia com o disco articular (fig. 29). É uma posição estável e reproduzível pelo equilíbrio fisiológico dos músculos de sustentação mandibular, e independe do relacionamento dentário. Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa. Estabilidade oclusal – EO é a estabilidade dada à mandíbula em relação às maxilas pela intercuspidação simultânea das cúspides funcionais, nas respectivas fossas antagonistas em ambos os lados da arcada dentária. Fundamental na preservação da saúde das unidades fisiológicas, neuro- muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30) e periodonto(fig. 31), do AE.
  • 15. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 15 Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade oclusal Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente saúde periodontal Para manter ou restabelecer a estabi- lidade maxilo-mandibular do aparelho estomatognático, são indispensáveis a oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares antagônicos. Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular Denomina-se oclusão em relação cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima intercuspidação cêntrica) quando há coinci- dência da posição de máxima intercuspi- dação dentária com a posição de RC das ATMs (fig. 33). Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B – intercuspidação dentária. Como máxima intercuspidação habi- tual - MIH, é considerada a posição maxilo- mandibular com o maior número de conta- tos entre os dentes antagonistas. É uma posição dentária que independe da posição dos côndilos, logo não deve ser impro- priamente chamada de oclusão cêntrica, pois nesta posição a mandíbula estará sempre desviada da RC. Estudos têm mostrado que, na maioria dos casos, a neuromusculatura posiciona a mandíbula para alcançar a máxima inter- cuspidação independente da posição dos côndilos na fossa. Quando interferências oclusais estão presentes o “feedback” proprioceptivo das fibras periodontais ao redor do dente envolvido programa a função muscular para evitar as interferências. A função muscular resultante pode ser tão dominante que a posição mandibular adquirida será freqüentemente considerada erroneamente pelos clínicos como a verdadeira RC. Para melhor entendimento de toda esta nomenclatura é importante observar que o termo relação cêntrica se refere sempre a uma posição de estabilidade entre o côndilo e a fossa mandibular, indepen- dente dos dentes. Os termos intercuspidação e oclusão referem-se a uma relação de estabilidade dentária entre as maxilas e a mandíbula (maxilo-mandibular), indepen- dente dos côndilos. No entanto, uma oclusão fisiológica requer estabilidade e reprodutibilidade no relacionamento da mandíbula com os ossos temporais e maxilas. Para que isto ocorra, é necessário preservar ou restabelecer simultaneamente, A B A B
  • 16. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 16 a relação temporomandibular por meio das ATMs direita e esquerda em RC como apoio posterior, e a relação maxiloman- dibular por meio da intercuspidação dos dentes posteriores simultaneamente de ambos os lados da arcada dentária, como apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma oclusão em relação cêntrica ou uma máxima intercuspidação cêntrica, de tal maneira que, quando unidos os extremos destes pontos de apoio, forme uma figura geométrica (quadrilátero de estabilidade). Como Guia Anterior GA, descreve-se o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores, com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem contato dental posterior, formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade (fig. 35). Fundamental na preservação da saúde das unidades fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão dentária e periodonto do AE Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior Fig. 35 – Guia anterior – plano sagital O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos tecidos e a fisiologia do AE. Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01) Objetivos permanentes a serem alcançados: Unidades fisiológicas – preservadas: Dimensão vertical Neuromuscular Relação cêntrica Neuromuscular ATMs Estabilidade oclusal Neuromuscular ATMs Dentes Periodonto. Guia anterior Neuromuscular ATMs Dentes Periodonto Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas do aparelho estomatognático.
  • 17. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 17 Bibliografia consultada CELENZA, F., NASEDKIN, J. N. Occlusion The state of the art. Chicago: Quintessence, 1978. DAWSON, P. E. New definition for relating occlusion to varying conditions of the temporomandibular joint, JPD. V. 74(6), p. 619-629, dec., 1995. EYZAGUIRRE, C., FIDONE, S. J. Fisiologia do sistema nervoso Traduzido por Aglai Penna Barbosa de Sousa. 2ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 398 p. 1977. FIELDS, HL. Pain. New York: Mcgraw- Hill, 1987: 1-78. GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim, California: Denar Corp., 117 p. 1977. JIMÉNEZ-LOPEZ, V. Próteses sobre implantes: Oclusão, casos clínicos e laboratório. 2ª ed. Tradução por Zulema Eugênia G. Batista. São Paulo: Quintessence, 264p. 1996. MADEIRA,M.C. Anatomia da face. Bases anátomofuncionais par a prática odontoló- gica. 2ª ed. São Paulo, Sarvier Editora, 1997. NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function. Washington: Georgetown University - School of Dentistry, Seventh printed, Washington, D.C. 60 p. 1993. OKESON, J. P. Management of tem- poromandibular disorders and occlusion. St.' Louis: Mosby; 108. 1989. RAMFJORD, S. ASH, M.M. Occlusion. 3rd ed. Philadelphia: Saunders; 1983. SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre neurofisiologia de la oclusion. Bogota, Pontificia Universidad Javeriana, 66 p. 1975. PAIVA, H. J. et. al. Oclusão. Noções e Conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv. Editora. 336 p. 1997. PERTES, R. A., GROSS, G. S. – Functional Anatomy and Biomechanics of the joint. In: PERTES, R. A., GROSS, S. G. Clinical management of temporo-mandibular disorders and orofacial pain. Illinois: Quintessence, Cap. 1. 368p. 1995. POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles of Occlusion. Detroit: University of Detroit, 56 p., s.d. THE ACADEMY OF PROSTHO- DONTICS. The glossary of pros-thodontics terms., 6th ed. Journal of Prosthetic. Dentistry St. Louis, 112 p., 1994.