1) O documento discute os perigos ambientais enfrentados pelo planeta, incluindo a poluição, desmatamento e aquecimento global;
2) Vários desastres ambientais na década de 1950-1970 ajudaram a despertar a consciência ecológica e levaram à Conferência de Estocolmo de 1972;
3) No entanto, as ideologias neoliberais desde a década de 1980 têm dificultado a mudança para um modelo de desenvolvimento sustentável.
1. REFLEXÃO CRÍTICA: O
PLANETA EM PERIGO
Universidade do Algarve - Escola Superior de
Educação e Comunicação (ESEC)
Curso Superior de Educação Social
Ano letivo de 2014/2015
3.º Ano – 1º Semestre
Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação
Docente: António Fragoso
Discente: Cláudia Brito
Número: 47027
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“Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas
mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há
reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá
raça humana”.
Albert Einstein
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Conscientes de que o planeta se encontra em perigo, os países membros da ONU
(Organização das Nações Unidas), acordaram, recentemente, em declarar a década de
2005/2014 como “ A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”.
Espera-se que, através da promoção de uma educação socio ambiental emancipatória e
transformadora, indivíduos, organizações e governos, conscientizados, possam, através
das suas ações/decisões, estabelecer um paradigma de vida sustentável.
Como se sabe através da história, a preocupação com a proteção da natureza, fez-se sentir,
por parte de pequenos grupos com tradições aborígenes e religiosas, na antiguidade
ocidental e noutras partes do mundo. Mas, é a partir do século XVIII, com Revolução
Industrial (que surge inicialmente na Inglaterra), com a substituição de métodos de
produção artesanais para a produção com máquinas, com o uso crescente da energia a
vapor, com o aumento de fábricas, etc., que os efeitos deletérios da ação humana, pouco
visíveis, começam a afetar a natureza. Seria, no entanto, preciso esperar pela terceira
Revolução Industrial, (século XX), pela expansão do sistema Capitalista americano, que
substituiu o tipo de energia utilizada (a máquina a vapor e o carvão foram trocados por
automóveis, petróleo e seus derivados) e o tipo de indústria (produção de mercadorias em
larga escala), para que esses efeitos fossem correntemente observáveis. A poluição do ar,
da água e dos solos devido ao crescimento da indústria, a acumulação de lixos e o
congestionamento de tráfego devido à crescente urbanização, o uso indiscriminado dos
recursos naturais, são algumas das causas e efeitos deste novo modelo industrial.
Ainda que fossem observáveis, não houve, ao princípio, a preocupação em minimizar os
danos ambientais causados pela indústria, pois o que se valorizava era a produção de bens,
os empregos e o progresso. Na verdade, o lixo e a fumaça eram encarados como
subprodutos do progresso e da prosperidade.
Porém, o primeiro sinal de alerta surgiria, no final da década de 50, altura em que o Japão
tentava a todo o custo acompanhar o crescimento industrial da Europa Ocidental e do
norte da América, com uma catástrofe que ficou conhecida como a” Doença de
Minamata”. Percebeu-se que o consumo de peixe envenenado da Baía de Minamata (os
peixes incorporavam o mercúrio dos efluentes que a fábrica de produtos químicos “
Chisso“ libertava na baía), estava a provocar estranhos sintomas, (ataques,
descoordenação dos membros, tremores, etc.), e às vezes a morte dos gatos e das pessoas
que o consumiam. Apesar disto, a Chisso Corporation, não deu ouvidos às queixas das
vítimas (não existiam leis que penalizassem a empresa) e continuou com a sua atividade
poluente, mas lucrativa, por mais uma década, “engordando” o número de vítimas.
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Apesar deste alerta, que foi considerado um problema à escala local e não global, o mundo
só despertaria para uma consciência ecológica na década de 70, mais especificamente em
1972 com a Conferência de Estocolmo.
Obviamente que houve uma série de acontecimentos, além da doença de Minamata, que
contribuíram para que a consciência ecológica (movimento ecológico) nascesse na década
de 70. Dentro destes destacarei apenas alguns, porque bem explorados, seriam centenas
com certeza e não caberiam nesta reflexão. Convém referir as manifestações, em defesa
do ambiente, após a II Grande Guerra, contra o uso da energia nuclear, depois de
conhecidos os efeitos desastrosos, tanto para humanos (mortes em grande escala devido
à radiação, ferimentos graves decorrentes das explosões, cancros, etc.) como para o
ambiente, do lançamento das duas bombas atómicas, em 1945, pelos E.U.A, nas cidades
japoneses de Hiroshima e Nagasaki.
Outro acontecimento que foi fundamental para despertar a consciência ecológica de
milhares de pessoas e para o surgimento do ambientalismo moderno foi o livro “ Silent
Spring”, editado nos anos 60, pela bióloga Rachel Carson, que advertia para a
perigosidade do uso indiscriminado dos pesticidas. Ainda que duramente criticado por
cientistas, serviu como ponto de partida, para a criação de políticas governamentais nos
anos 70 e de organizações defensoras do ambiente, como é o caso da “ Environmental
Protection Agency”.
Ainda hoje, passadas cinco décadas sobre o surgimento do livro de Rachel Carson, ele
continua a suscitar debates polémicos, uma vez que, na nossa sociedade globalizada, as
práticas denunciadas pela autora por empresas químicas continuam a ocorrer a um nível
superior às registadas nos anos 60. Segundo a Colisão Nacional Contra o Abuso de
Pesticidas, produz-se, atualmente, pesticidas a um ritmo três mil vezes mais rápido do
que nessa altura.
Aos anteriores desastres, podemos adicionar outra catástrofe - a maré negra causada pelo
petroleiro Torrey Canyon – que colidindo com um recife, derramou, em 1967, cerca de
119 mil toneladas de óleo na costa sudoeste do Reino Unido, afetando gravemente a fauna
e a flora. Se o petroleiro Torrey Canyon permanecerá para sempre na história das marés
negras como um símbolo de devastação, muitos outros petroleiros (Atlantic Empress,
1979; M.T.Haven, 1991; Prestige, 2002, etc.), uns com mais, outros com menos impacto,
provocariam gravíssimas consequências ambientais. Obviamente que as consequências
destes, como de outros desastres, nunca poderão ser concretamente mensuráveis.
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Quer isto dizer que das consequências das catástrofes ambientais, algumas só se
manifestarão a longo prazo (ex. Love Canal). Seguindo este raciocínio, e sabendo que nas
últimas décadas o uso de pesticidas sofreu um considerável aumento, podemos ter uma
vaga ideia de como isso afetou o ar, os solos e a água do nosso planeta.
Os desastres anteriormente mencionados foram condição sine qua non para que o
movimento ecológico eclodisse na década de 70. No que a ele se refere, dois factos são
curiosos: o primeiro, é o facto de ter surgido nos E.U.A (país capitalista por excelência),
e, o segundo, o facto de se tratar de uma iniciativa das populações. Quer isto dizer que,
percebendo os perigos que o planeta enfrentava, foram as populações, primeiro na
América e depois um pouco por todo o mundo, que se organizaram na defesa do ambiente,
e pressionaram governos para que se adotassem politicas de proteção ambiental e para
que se colocassem os problemas ambientais na agenda internacional.
Este movimento fez, como se sabe, que cientistas, organizações, pensadores e ativistas
começassem a multiplicar-se a um ritmo alucinante, na defesa do ambiente.
Em 1972, é realizada, a primeira Conferência sobre o meio Ambiente Humano (também
conhecida como Conferência de Estocolmo), pelas Nações Unidas, com os objetivos de
alertar nações para a degradação ambiental e para a necessidade de se implementarem
eco- políticas para preservar o meio ambiente, à escala global.
Na América, por exemplo, o presidente Nixon, devido à situação em que o país se
encontrava (altos níveis de poluição) e às pressões do movimento ambientalista, viu-se
forçado a criar a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e leis que protegessem o meio
ambiente. Entre essas leis, destaco: a Lei do Ar Puro (que controlava a poluição
atmosférica), a Lei das Espécies Ameaçadas, a Lei da Água Potável e a Lei de Controle
Ambiental Federal de Pesticidas. Apesar disso, nos anos 80, devido à crise petrolífera de
1973 que potenciou as ideias neoliberais (fomentando a liberdade e a competitividade de
mercados), assiste-se a um retrocesso na defesa do ambiente. Regan considerou que a
preocupação com o ambientalismo era excessiva e defendeu a expansão do
neoliberalismo, para evitar o desemprego e a desigualdade.
Nem mesmo a explosão nuclear de Chernobil (Ucrânia), em 1986, que produziu uma
nuvem de radioatividade que atingiu vários países (União Soviética, Europa Central,
Escandinávia e Reino Unido) e afetou desastrosamente o ambiente e um número
incalculável de pessoas, nos fez mudar de paradigma.
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Além dos desastres ambientais já mencionados, muito outros, que afetaram gravemente
o planeta, ficaram registados na história: a destruição de florestas tropicais, a caça às
baleias, etc. Perante estas e outras catástrofes ambientais, que deixaram o nosso planeta
em perigo, é legítimo perguntarmos se cinco décadas (desde a tomada de consciência nos
anos 70), não terão sido suficientes para mudar de paradigma?
Para compreendermos a resposta a esta pergunta, temos de recuar no tempo e perceber
que, a partir da década de 80, duas ideologias – Novo Liberalismo e Ambientalismo –
completamente antagónicas, lutam por interesses distintos.
Apesar da Conferencia de Estocolmo (1972); do Relatório Brundtland (1987); da Eco 92
no Rio de Janeiro, onde foram elaborados importantes documentos: a Carta da Terra e as
convenções de biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas; do Protocolo de
Kyoto (1997) no Japão; dos milhares de protestos e alertas de ativistas, ONG`S e
cientistas; das políticas ambientais adotadas e respeitadas por diversos países, estamos
muito longe de alcançar os objetivos da ideologia ecologista. Quer isto dizer que, se o
movimento ambientalista conseguiu, durante um curto período de tempo, que houvesse
uma verdadeira preocupação com planeta, o neoliberalismo, vem, desde a década de 80
até aos nossos dias, travando esse percurso que nos levaria a uma mudança de paradigma.
O êxito do capitalismo, no período do neoliberalismo hegemónico, como sabemos, tem
dependido da intensa exploração/degradação dos recursos naturais (matérias primas) do
planeta, ainda que se esconda sob terminologias (obscuras), como desenvolvimento
sustentável. Outro fenómeno bastante perigoso, que começámos a assistir, a partir do
século XXI, é a privatização de sectores da natureza (mercados de água, por exemplo).
Um outro exemplo de privatização, é a indústria da semente, que se encontra nas mãos de
meia dúzia de empresas (ex. Monsanto), que, com os direitos de propriedade sobre
sementes hibridas e transgénicas, comercializa e acumula capital. Logicamente, ninguém
deveria de pagar para ter sementes, água, etc., porque não se trata de produtos fabricados
pelo homem mas de recursos naturais.
Apesar de sermos constantemente alertados para os gravíssimos problemas ambientais
que ocorrem no nosso planeta: aquecimento global, para o perigo das desflorestações (a
redução do oxigénio provoca um aumento do CO2), do buraco do ozono, da poluição dos
solos, das águas (perda de fauna e flora) e do ar (da combustão de petróleo, gás e carvão
nos países industrializados), etc., que têm repercussões na saúde pública das populações,
a humanidade parece estar adormecida e hipnotizada por um capitalismo voraz (sem
regulamentação Estatal), quase hegemónico.
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Por outras palavras, a consciência ecológica precisa de sair do seu estado de latência e ser
verdadeiramente (re) despertada para que, globalmente, se trace urgentemente um
“caminho” que evite ameaças para o equilíbrio biodinâmico dos grandes sistemas do
planeta e para a humanidade.
Quando se fala em capitalismo quase hegemónico, estamos a falar de um paradigma de
desenvolvimento dos países industrializados (ex. América, Europa e Japão), que servindo
de modelo a alguns países (BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), para
alcançarem o progresso e a prosperidade, que não pára de se expandir.
Podemos facilmente perceber que, se na atualidade o planeta já se encontra em perigo,
com estes “novos” mercados emergentes, a situação daqui por diante tende a agravar-se
com a disputa internacional pelos recursos naturais e com a geração de efluentes e
resíduos em quantidades tão descomunais que os ecossistemas da terra não conseguirão
mais processá-los.
Quer isto dizer que é inevitável que se assuma globalmente um novo paradigma de
desenvolvimento, (diferente do atual que ameaça toda a humanidade com uma busca
insana pelo lucro), outras formas de produção, com novas políticas. Pois como sabemos
se não houver globalmente uma alteração dos comportamentos/ações/decisões, os solos
continuarão a ser castigados com produtos químicos (têm repercussões na alimentação e
saúde das populações), a poluição atmosférica será tão densa que trará inúmeras doenças
(ex.China), os recursos hídricos além de comprometidos poderão esgotar-se, etc. É por
isso inevitável que organizações internacionais de defesa pelo ambiente lutem para que
todos os países, sem exceção, obtenham uma verdadeira consciência ambiental, se
comprometam e respeitem um acordo global para que o planeta continue a ser habitável.
Como diz Edgar Morin, “o desenvolvimento local favorece a melhoria global e a melhoria
global favorece o desenvolvimento local”, é por isso fundamental que, onde nos
encontramos, façamos “a mudança”.