A humanidade que somos e a que poderemos ser
Fazer com que invisuais vejam, paraplégicos andem e pessoas com
senilidade recuperem a memória serão algumas das conquistas
científicas possíveis nos próximos anos e envolvem campos como a
genética, a neurociência e a engenharia. Por enquanto, o objetivo é a
terapia: permitir que pessoas com deficiências ou doenças
degenerativas possam ter uma vida semelhante à de pessoas sem esses
problemas, ou seja, recuperar as suas funcionalidades.
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano
A humanidade que somos e a que poderemos ser
«Mas o que acontecerá quando essas tecnologias forem usadas
para aperfeiçoamento: ampliar o “padrão” humano, fazendo-nos mais
fortes, rápidos e inteligentes? Que desafios éticos esperam a
humanidade quando for possível programar filhos aptos a se tornarem
superatletas ou génios? O futuro trans-humano será bom ou mau?»
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano
A humanidade que somos e a que poderemos ser
Mais fortes e velozes
Os atletas tentam superar-se todos os dias e, quando um milésimo
de segundo pode fazer a diferença, alguns recorrem ao doping com o
objetivo de melhorar o seu desempenho. É tanto assim que, desde
1999, existe uma organização, a Agência Mundial Antidoping, que tenta
controlar o uso dessa substância.
Com o aperfeiçoamento genético, o uso de drogas pode não ser o
único desafio/problema desta agência. Se houver uma alteração no ADN
para que o atleta seja mais rápido e/ou musculado, os testes de doping
não a detetarão. Começariam, assim, a «desenhar-se» atletas com as
caraterísticas apropriadas a cada modalidade. Mas a criação desse ser
modificado poderia trazer problemas, como o desenvolvimento de
cancro, por exemplo.
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano
«Para combater essa nova forma de doping, a AMA aposta no
passaporte genético. Este seria similar ao passaporte bioquímico que
está a ser implementado atualmente – um perfil específico para o
desportista, com vários marcadores bioquímicos, como o nível de
enzimas e hormonas. O passaporte permite identificar o uso de doping
de maneira indireta, pelo seu efeito nesses marcadores, mesmo que a
substância em si não seja detetada. “No caso da versão genética, poder-
se-iam detetar mutações ou sequências de ADN que não constavam do
passaporte do atleta”, explica o médico.»
Que perspetivas temos então para o futuro? Serão estes
«superatletas» banidos de competições oficiais? Haverá um evento em
que só eles participarão, uma espécie de Jogos Superolímpicos?
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A humanidade que somos e a que poderemos ser
Mais fortes e velozes
A humanidade que somos e a que poderemos ser
Mais inteligentes e concentrados
Quem não usou já algum tipo de substância com o objetivo de
melhorar as capacidades cognitivas? O café, por exemplo, para se
manter acordado! No entanto, nos últimos anos, novas modalidades de
melhoramento cognitivo surgiram, como o consumo de drogas que não
foram desenvolvidas com esse objetivo.
«O modafinil é usado para tratar narcolepsia, mas parece ter efeitos
positivos na memória e no estado de alerta. Por sua vez, o
metilfenidato, criado para o tratamento do transtorno do défice de
atenção e da hiperatividade, parece aumentar a concentração em
indivíduos que não sofrem desse mal.»
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano
«Um dos principais problemas éticos associados a esse tipo de
aperfeiçoamento é que ele ampliaria a desigualdade social, criando
uma elite superinteligente, rica e poderosa, além de polarizar a
sociedade entre os mais e menos aptos.»
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano
A humanidade que somos e a que poderemos ser
Mais inteligentes e concentrados
A humanidade que somos e a que poderemos ser
Mais inteligentes e concentrados
O filósofo sueco Nick Bostrom, diretor do Instituto do Futuro da
Humanidade da Universidade de Oxford, emInglaterra, e a filósofa
inglesa Rebecca Roache, do mesmo instituto, apresentam argumentos
contra essa visão:
Na sua perspetiva, a tendência é que as formas de aperfeiçoamento
fiquem mais baratas com o tempo, tornando-se acessíveis a todos. Os
autores sublinham que já vivemos numa sociedade polarizada em
diversos grupos, altos e baixos, homens e mulheres, doentes e sadios,
escolarizados e analfabetos, mas que não costumam entrar em conflito.
Segundo Bostrom, famílias ricas concedem mais oportunidades aos seus
filhos, que se traduzem em maior riqueza material mais tarde. «Caso
considere essas desigualdades inadmissíveis, a sociedade, em vez de
banir a inovação tecnológica, pode lançar mão de outros recursos, como
taxar mediante impostos determinados melhoramentos ou a sua
subvenção pelo sistema público de saúde», sugere.
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Trans-humanistas ou eugenistas?
Os trans-humanistas defendem que o ser humano, tal como é hoje
em dia, não é o fim do seu desenvolvimento, mas uma fase ainda
precoce. Acreditam no melhoramento físico e cognitivo dos humanos.
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A humanidade que somos e a que poderemos ser
Trans-humanistas ou eugenistas?
Por outro lado, os bioconservadores continuam a alertar para os
perigos que as novas tecnologias trarão para a sociedade.
«Uma das principais críticas é que o trans-humanismo, na
verdade, defende uma nova versão da eugenia, movimento da primeira
metade do século XX que procurava a melhoria da espécie humana
mediante a promoção da procriação de indivíduos considerados “aptos”
e dificultando a de pessoas não dotadas de qualidades “positivas”, como
portadores de deficiências físicas e mentais, homossexuais e certas
etnias, entre outros.»
«Os métodos de prevenção da reprodução incluíam esterilização
obrigatória, abortos forçados, segregação racial, eutanásia e extermínio
em massa, o que culminou com o genocídio de milhões de judeus e
ciganos na Alemanha nazi.»
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Os trans-humanistas não aceitam esta crítica. Afirmam que o
trans-humanismo defende os princípios da autonomia do corpo e da
liberdade procriativa. Ou seja, ninguém deve ser forçado a usar
qualquer tipo de tecnologia. Defendem que o deverão fazer para, por
exemplo evitar que se nasça com doenças como, por exemplo, a fibrose
cística. Assim, as crianças poderiam ter uma vida mais saudável e feliz.
Ou até ir mais longe e sentir-se na obrigação moral de «tomar
precauções» para garantir essa vida mais saudável e feliz da criança,
manipulando, se for preciso, os genes dos embriões.
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Trans-humanistas ou eugenistas?
A humanidade que somos e a que poderemos ser
Tipos de humanidade
Bostrom, um dos fundadores da Associação Trans-humanista,
pensa que «Preservar a “humanidade” em vez de cultivar a
“humanitariedade” significa idolatrar tanto o que temos de mau quanto
o que temos de bom.»
O neurocientista sueco Anders Sandberg pensa que a mudança da
humanidade e a sua evolução em direção a um ser pós-humano não é
um problema, assim como não foi a dos nossos ancestrais símios que
passaram a humanos. «Tornaram-se pós-símios e puderam
experimentar e realizar coisas como a linguagem, a música e a filosofia.
Mas os pós-humanos compartilharão muitas caraterísticas connosco,
assim como temos com os símios. Se nos aperfeiçoarmos de maneira
cuidadosa, manteremos as boas partes humanas e ganharemos novas
habilidades», defende.
O aperfeiçoamento humano
FILOSOFIA 11.º ano