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Análise	de	pesquisas	qualitativas
MARY JANE P.	SPINK
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
VERSÃO REVISADA DA APRESENTAÇÃO FEITA NO I CONGRESSO BRASILEIRO DA ABECIPSI:	
DESAFIOS DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA EM PSICOLOGIA EM 23	DE MARÇO DE 2017-SÃO PAULO
Programa	da	aula
1. Situando	a	tradição	qualitativa	em	pesquisa	no	tempo	longo	da	história
2. De	onde	eu	falo:	os	métodos	como	linguagem	social
3. Ressignificando	a	noção	de	rigor	na	perspectiva	construcionista
4. As	múltiplas	opções	de	pesquisa	qualitativa
5. A	vertente	discursiva
6. Dois	exemplos	de	uso	de	mapas	dialógicos	como	ferramenta	de	pesquisa
1. SITUANDO	A	TRADIÇÃO	QUALITATIVA	EM	PESQUISA	NO	TEMPO	LONGO	DA	HISTÓRIA
G.	H.	Von	Wright:	Duas Tradições.1	Em,	J.	Bynner e	K.	M.	Stribley (orgs),	Social	Research:	Principles	and	
Procedures.	UK:	Longman/The	Open	University Press,	1978
Duas tradições principais podem ser distinguidas na história das ideias, diferindo entre si quanto às condições que
uma explicação tem que satisfazer para ser considerada cientificamente respeitável. Uma tradição é, por vezes,
chamada aristotélica e a outra, galiléica.
Os nomes sugerem que a primeira tem raízes muito antigas na história intelectual da humanidade, enquanto a
outra tem origem relativamente mais recente. Há um pouco de verdade nisso, mas devemos tomá-la com alguma
reserva:
• o que Von Wright está chamando de tradição galiléica tem ancestralidade anterior a Aristóteles, podendo
ser traçada a partir de Platão.
Tendo em vista que, no século XIX, a ciência da natureza já estava estabelecida no palco intelectual e os estudos
humanistas com reivindicações científicas eram recém chegados, era natural que um dos principais pontos de
debate da Metodologia e da Filosofia da Ciência fosse a relação entre esses dois ramos principais da investigação
empírica. As principais posições nessa questão podem ser vinculadas às duas tradições de pensamento
metodológico.
A.		Uma	posição	é	a	da	Filosofia	da	Ciência,	tipicamente	representada	por	Auguste	Comte	e	John	Stuart	Mill.	Esta	é	
usualmente	chamada	de	positivismo que	tem	como	pressupostos:	
• Monismo	metodológico:	a	unidade	do	método	científico	aplicada	à	diversidade	de	temas	da	investigação	científica.	
• A	visão	de	que	as	ciências	naturais	exatas,	e	em	particular	a	Física	Matemática,	definem	o	ideal	metodológico,	ou	o	
standard,	que	mede	o	grau	de	desenvolvimento	e	de	perfeição	das	demais	ciências,	incluindo	as	humanas.
• Que	a	explicação	é,	num	sentido	geral,	“causal”.	Consiste,	mais	especificamente,	em	subsumir	casos	individuais	sob	leis	
gerais	da	natureza,	hipoteticamente	assumidas,	incluindo	aí	a	“natureza	humana”.
B.		A	outra	posição	se	constitui	como	reação	ao	positivismo	e	é	uma	tendência	muito	mais	diversificada	e	heterogênea	que	o	
positivismo.	Poderíamos	denomina-la	de	hermenêutica,	tendência	que	inclui	entre	seus	representantes	alguns	eminentes	
filósofos,	historiadores	e	cientistas	sociais	alemães,	como	Dilthey,	Simmel e	Max	Weber.
Todos	eles	rejeitam	o	monismo	metodológico	do	positivismo	e	se	recusam	a	tomar	o	padrão	das	ciências	naturais	exatas	como	
o	único	e	supremo	ideal	para	a	compreensão	racional	da	realidade.
Os	antipositivistas	também	atacaram	a	visão	positivista	de	explicação.	Para	eles,	
Ø o	objetivo	das	ciências	naturais	era	explicar;	
Ø o	objetivo	da	história	(e	das	ciências	humanas)		era	entender	os	fenômenos	em	seu	domínio	de	ação.	
Essas	ideias	foram	sistematizadas	por	Wilhelm	Dilthey que,		para	denominar	o	conjunto	de	métodos	compreensivos,	usou	o	
termo	Geisteswissenschaften.
Se	aceitarmos	a	clivagem	metodológica	de	base	entre	as	ciências	naturais	e	as	Geisteswissenschaften,	a	questão	que	
imediatamente	emerge	é	como	posicionar	as	ciências	sociais	e	comportamentais.	Essas	ciências	nasceram	em	grande	
medida	sob	a	pressão	cruzada	das	tendências	positivistas	e	antipositivistas	do	século	XIX.	Não	surpreende,	portanto,	que	
tenham	se	tornado	um	campo	de	batalha	para	as	duas	tendências	da	filosofia	do	método	científico.	
Von	Wright	define	três	características	principais	da	postura	hermenêutica:
a)	A	rejeição	do	monismo	e	da	adoção	das	ciências	da	natureza	como	padrão;
b)	A	distinção	entre	ciências	nomotéticas – que	buscam	leis	gerais	– e	ciências	ideográficas	– que	enfatizam	as	
características	singulares;
c)	A	rejeição	do	conceito	tradicional	de	explicação,	introduzindo-se	aqui	a	clássica	distinção	entre	explicação	e	
compreensão.
2.	OS	MÉTODOS	DE	PESQUISA	COMO	LINGUAGEM	SOCIAL	(SPINK,	M.J.,	2002)
Em	algumas	disciplinas,	os	métodos	qualitativos	têm	longa	tradição.	
Ø É o caso da Antropologia, fundada a partir do método etnográfico que se apoia em grande parte na observação
participante e em entrevistas, embora possibilite a convivência com procedimentos quantitativos.
Ø Em outras, como na área de pesquisa em Educação, pelo menos no Brasil, o movimento de mudança de
concepções metodológicas chega mais tardiamente.
Na Psicologia, o estatuto dos métodos qualitativos está fortemente associado à emergência de uma vertente teórica
crítica pautada em questionamentos de cunho epistemológico e político. Essa virada qualitativa na Psicologia vem
sendo amplamente documentada no âmbito da disciplina: em discussões sobre métodos específicos, em coletâneas
recentes sobre o acervo atual de métodos e em compêndios sobre técnicas computacionais especificamente
relacionadas às análises qualitativas.
Vários fatores convergem para a atual ressignificação dos métodos qualitativos nas ciências humanas em geral e na
Psicologia em particular com destaque para:
Ø a	sociologia	da	ciência,	
Ø a	pesquisa	feminista,
Ø a	epistemologia	construcionista.
Porém, mesmo nessa virada qualitativa a tensão entre as duas tradições -- de explicação causal e de
compreensão -- se faz presente na querela entre métodos qualitativos e quantitativos.
Venho perguntando: se nossas habilidades, capacidades e poderes trazem a marca da cultura e se expressam
como linguagem situada em práticas sociais, o que aconteceria se, em vez de sermos seduzidos pela
contraposição de posicionamentos no debate metodológico, realocássemos a questão na esfera da pragmática
da linguagem?
Tomando os diferentes métodos que usamos como linguagens sociais, a atenção se volta aos usos a que
servem esses discursos no contexto de interações complexas que demarcam o jogo da ciência.
Propomos que se pergunte:
1. Que usos são feitos dos métodos e dos resultados que eles legitimam?
2.O que acontece quando tomamos os discursos sobre métodos na psicologia (social) como formas de
falar que são próprias de um grupo específico de psicólogos – os psicólogos sociais, por exemplo – que
fazem parte de um campo concorrencial (a psicologia) que por sua vez está inserida em outro campo
concorrencial mais amplo que denominamos “ciência”?
Em relação aos usos que são feitos dos métodos, podemos tomar como exemplo a interessante relação entre
classificação - uma atividade essencialmente qualitativa - e sua transposição para a linguagem dos números.
Boa parte de nossa atividade em pesquisa está presa a processos de categorização que têm sido o foco da
psicologia cognitiva, seja na perspectiva do processamento de informação ou no enquadre psicossocial do
estudo das relações interpessoais. Entretanto, ao passar do foco da teorização sobre processos psicológicos para
as estratégias de análise de informações, muitas vezes nos esquecemos das bases psicossociais de nossas
“categorizações”. Assim, é edificante lembrar que grande parte do esforço analítico, quando lidamos com
fenômenos psicossociais – até mesmo quando os estamos supostamente “medindo” –, tem como base um
processo de classificação de caráter notoriamente discursivo.
As categorias funcionam como repertórios interpretativos. Têm o mesmo estatuto dos demais termos,
inscrições, lugares-comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de possibilidades da construção de
sentidos que denominamos de repertórios interpretativos .
Nessa	perspectiva,	os	métodos	são	linguagens	sociais:	
o São discursos peculiares a um estrato específico de uma sociedade, em um determinado sistema e em uma
determinada época.
o Essas linguagens, veiculadas por meio de processos de socialização, definem as possibilidades de comunicação e de
produção coletiva de sentidos.
o Como toda linguagem social, “a linguagem dos métodos” tem funções identitárias que geram jogos de
posicionamentos e processos de defesa identitária.
o E, como todo processo de defesa identitária, também os métodos, vistos como linguagens sociais, têm funções
estratégicas no jogo concorrencial entre as diversas correntes da psicologia e desta com o campo científico.
Para entender a diversidade de métodos – e o debate que geram – nessa perspectiva linguística, proponho que é preciso
que seja adotada uma postura reflexiva e crítica sobre nossas formas de falar sobre o mundo, incluindo aí aquilo que
chamamos metodologia.
Esta	proposta	tem	duas	implicações:
1. A	exemplo	das	novas	correntes	da	sociologia	da	ciência	– que	se	busque	entender	como	os	psicólogos	
constroem	seus	textos	de	modo	a	pleitear	legitimidade.	
a) Isso implica analisar as justificativas metodológicas e as discussões de resultados como práticas
discursivas que estão situadas em seus contextos de produção.
b) Esses contextos incluem: os processos de socialização em pesquisa, os autores que são
chamados para legitimar as decisões metodológicas e as regras e culturas específicas dos
veículos de divulgação.
2. Que se comece a analisar quais os usos a que se prestam os debates metodológicos, especialmente as
funções que servem para:
a) incluir/excluir pessoas das instâncias que concedem verbas;
b) defender hegemonias e,
c) parafraseando Richard Rorty (1994), fazer com que a conversação deixe de fluir e a disciplina
entre em processo de estagnação.
3.	Ressignificando	a	noção	de	rigor	na	perspectiva	construcionista
o É comum pensar que dar sentido é uma atividade que diz respeito apenas ao cotidiano interpretado como os fazeres
assistemáticos do senso comum. Deparamo-nos, assim, com um grande divisor de águas que coloca, de um lado, as
práticas científicas – aquilo que obedece a determinados princípios, regras e métodos definidos pela comunidade
científica, passível, portanto, de produzir o conhecimento legítimo – e, de outro, em contraposição (quando não em franca
oposição), o senso comum – o conhecimento pouco sistemático e com fins práticos.
o Entretanto, a discussão epistemológica contemporânea, principalmente aquela proveniente da moderna Sociologia do
Conhecimento, vem contribuindo para desfazer essa dicotomização rígida. Dessa forma, tanto fazer ciência como
desempenhar as atividades rotineiras (ou não) de nosso cotidiano passam a ser ressignificados como formas de produzir
sentido sobre os eventos do mundo.
o Essa aproximação paulatina, entretanto, não reduz uma atividade à outra; há regras, gêneros de fala e linguagens sociais
distintas que demarcam a produção de sentido em diferentes domínios de nossas atividades, incluindo aí os diferentes
domínios de pesquisa.
o Assim, a pesquisa científica, vista como discurso institucionalizado, está inserida num sistema de regras pautadas por
estratégias de validação há muito consagradas pela tradição. Trabalhar essas estratégias como práticas sociais, tendo como
pressuposto o fato de que a pesquisa também é uma prática social, requer um esforço continuado de ressignificação de
aspectos implicados no desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa.
Objetividade	e	rigor	na	pesquisa	qualitativa
A pesquisa, na perspectiva realista, é regida por condutas regradas que visam superar o abismo entre nossas
representações e a realidade. Esse abismo se faz presente de três formas, denominadas por Woolgar (1988) de “horrores
metodológicos”: indexicalidade, inconclusividade e reflexividade.
Indexicalidade
v A indexicalidade refere-se à situacionalidade, ou vinculação com o contexto: o sentido muda à medida que a
situação muda. Na perspectiva realista, o controle da indexicalidade dá-se a partir dos critérios de validade e
fidedignidade. A validade refere-se ao grau de correspondência entre a medida e o que está sendo medido; a
fidedignidade, por sua vez, é definida pela replicabilidade dessas medidas.
v Na perspectiva construcionista – sendo a realidade entendida como um fenômeno histórico, cultural e dinâmico
–, esses critérios precisam ser reconceituados, pois o objetivo da pesquisa qualitativa não é a replicabilidade e
sim a especificidade. A indexicalidade deixa assim de ser um horror metodológico, passando a ser um elemento
intrínseco dos procedimentos de pesquisa, tornando-se responsabilidade do pesquisador a descrição e
exploração plena do contexto de pesquisa.
Inconclusividade
A inconclusividade refere-se à complexidade dos fenômenos sociais e à impossibilidade de controlar todas as
variáveis intervenientes.
v Na perspectiva da epistemologia realista, o horror que essa complexidade gera prende-se à
impossibilidade de generalização dos resultados. As soluções buscadas variam do ideal da pesquisa
em laboratório, na qual a complexidade é domada pela seleção das variáveis às agruras da pesquisa
de campo em que a complexidade é domada pela sofisticação das técnicas de amostragem.
v Na pesquisa qualitativa há uma aceitação plena da processualidade dos fenômenos sociais e isso é,
para muitos, um fator positivo que indica possibilidade de transformação social. A generalização fica
obviamente comprometida. Mas, se a pesquisa for vista na perspectiva dos processos de produção de
sentidos, poderá ser reinterpretada como ilustração das inúmeras possibilidades de sentidos ou como
versões coexistentes (Mol, 1999).
Reflexividade
A	reflexividade	refere-se	à	espiral	da	interpretação	e	aos	efeitos	da	presença	do	pesquisador	nos	resultados	da	pesquisa.	
Na	pesquisa	direcionada	pelas	epistemologias	realistas,	o	horror	metodológico	levou	a	inúmeras	considerações	sobre	a	
neutralidade	do	pesquisador.	O	controle	da	subjetividade	latente	levou	ao	desenvolvimento	de	desenhos	consagrados	–
como	o	duplo	cego,	amplamente	utilizado	em	pesquisas	biomédicas.
Na	pesquisa	informada	por	epistemologias	construcionistas a	subjetividade	passa	a	ser	um	recurso	a	mais.	Procura-se	
chegar	o	mais	próximo	possível	do	fenômeno	em	questão,	explorando	as	maneiras	pelas	quais	a	subjetividade	do	
pesquisador	estruturou	a	forma	em	que	o	fenômeno	foi	definido.	Nesta	dimensão,	o	rigor	na	pesquisa	qualitativa	passa	
a	ser	a	explicitação	da	posição	do	pesquisador	por	meio	de:	
o reflexividade	pessoal	implica	a	reflexão	sobre	quem	sou	eu-pesquisador,	e	como	meus	interesses	e	valores	
incidem	sobre	o	delineamento	da	pesquisa	e	sobre	minhas	interpretações.	
o reflexividade	funcional	volta-se	para	a	comunidade	e	para	a	maneira	como	“quem	somos”	influi	no	processo	de	
pesquisa	e	em	seus	resultados.
o A reflexividade, afinal, está também colada à espiral da interpretação que extrapola a seara das
observações empíricas e insere-se no contexto mais amplo dos procedimentos da comunidade
científica.
o Como afirma Morin (1985:16): “a objetividade, elemento primeiro e fundador da verdade e da
validade das teorias científicas, pode ser considerada como o último produto de um consenso
sociocultural e histórico da comunidade/sociedade científica”.
o O rigor e a avaliação são, assim, fenômenos da ordem da intersubjetividade e prendem-se à
possibilidade de socializar o processo interpretativo. Isso implica colocar à disposição da
comunidade – científica ou não – as informações produzidas pela pesquisa, assim como as demais
informações provenientes da postura reflexiva acima descrita. Na medida em que esse aspecto
público da atividade científica do novo paradigma é explicitamente assumido, a ressignificação da
objetividade abre espaço para o debate em torno da ética.
4.	AS	MÚLTIPLAS	OPÇÕES	DE	PESQUISA	QUALITATIVA	
• Observação	(observação	participante)
• Abordagens	etnográficas
• Pesquisa	ação
• Estudo	de	caso
• Entrevistas	individuais/conversas	do	cotidiano
• Entrevistas	grupais/grupos	focais/rodas	de	conversa
• Análise	documental	(mídia,	imagens	em	vídeo/filmes,	legislação;	documentos	técnicos)
Decisões	dependem	de	considerações	ontológicas	(estatuto	do	real);	epistemológicas	(teorias	sobre	
conhecimento)	e	éticas	(respeito	ao	outro)
Exemplos	de	manuais	sobre	abordagens	qualitativas	
Ø Ludke,	Menga	e	Sandré,	Marli	(1986).	Pesquisa	em	Educação:	Abordagens	Qualitativas.	São	Paulo:	EPU,	1986
Ø Bannister,	Peter	et	al	(1994):	Qualitative Methods in	Psychology:	A	Reserach Guide.	UK:	Open	University
Ø Bauer,	Martin	e	Gaskell,	George.	(2002).	Pesquisa	qualitativa	com	texto,	imagem	e	som.	Petrópolis:	Vozes.		
Ø Spink,	M.J.P.;	Brigagão,	J.I.;	Nascimento,	V.	e	Cordeiro,	M.	(Orgs),	(2014).	A	produção	de	informação	na	pesquisa	
social:	compartilhando	ferramentas.	Centro	Eldestein de	Pesquisas	Sociais,	Rio	de	Janeiro:	Centro	Edelstein de	
Pesquisas	Sociais,	2014,	p.	247-272.	(publicação	virtual).
SPINK,	Mary	Jane	et	al,	2014
5. Pesquisa sobre práticas discursivas
A concepção de linguagem que adotamos está centrada na linguagem em uso. Mais precisamente,
entendemos a linguagem como prática social e buscamos trabalhar a interface entre:
o Os aspectos performáticos da linguagem (quando, em que condições, de que modo, com que efeitos)
o As	condições	de	produção	(entendidas	tanto	como	contexto	social	e	interacional,	quanto	no	sentido	
foucaultiano de	construções	históricas).	
v Essa	concepção	de	linguagem	está	aliada	ao	chamado	“giro	linguístico”,	o	longo	percurso	da	filosofia	
da	linguagem	que	leva	da	preocupação	com	a	representação	do	mundo	ao	poder	da	linguagem	de	
construção	de	mundos	possíveis.
Fundamentos das atuais análises de discurso:
• A Teoria dos Atos de Fala de John Austin (1962)
• A Etnomedologia de Garfinkel (1967)
• As concepções discursivas de Michel Foucault (1969)
• A Pragmática de Levinson (1983) e Grice (1975)
A expressão “analise de discurso” designava, inicialmente, uma área de estudos e pesquisa da linguística, mas
tornou-se prática corrente em muitas disciplinas: antropologia, sociologia, psicologia, comunicação, entre
outras, por pelo menos três razões:
1. a influência exercida pelo debate epistemológico proporcionado pelo giro linguístico;
2. o deslocamento do interesse para o uso da linguagem em diferentes contextos de interação
3. a crescente relevância dos meios de comunicação e das tecnologias de comunicação
Lupicinio Iñiguez, no livro Manual de Analise de Discurso em Ciências Sociais (2004) sintetiza a
diversidade de enfoques a partir de quatro vertentes:
1. sociolinguística interacional, fortemente influenciada pela microssociologia de Goffman
2. etnografia da comunicação (Hymes, 1974; Duranti, 1997)
3. análise da conversação (Garfinhek, 1967)
4. análise crítica de discurso de cunho marxista (Pécheu, 1969; Maingueneau, 1987)
5. psicologia	discursiva	inglesa	(Potter	e	Wetherell,	1987;	Parker,	1992)
Diante da diversidade de oferta de modelos é importante destacar o que anima as teorizações e o programa de
pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Práticas Discursivas no Cotidiano: direitos, riscos e saúde
(NUPRAD) da PUCSP
ü A produção de sentidos como processo dialógico, que leva à análise de práticas discursivas.
A influência teórica principal, nessa vertente, é de Mikail Bakhtin e Rom Harré
ü Os efeitos de governamentalidade dos discursos contextualizados, que nos levou à análise da linguagem em
documentos de domínio público.
A influência teórica, neste caso, é de Michel Foucault. Mas fazem-se presentes, também, os teóricos da
mídia (Thompson, Fairclough, Van Leewen etc.)
Conceitos	básicos
ü Gêneros	de	discurso:	
Nossos	enunciados	usam	formas	relativamente	típicas	e	estáveis	de	fala	que	formam	o	substrato	compartilhado	
que	possibilita	a	comunicação.	Predizemos,	desde	as	primeiras	palavras,	como	se	desenvolverá	o	enunciado.
ü Endereçamento
Todo enunciado é resposta ao enunciado que o precedeu. Está portanto atravessado por dialogicidade.
É o que chamamos de interanimação dialógica.
ü Repertórios	interpretativos
Repertórios	linguísticos	são	as	unidades	de	construção	das	práticas	discursivas:	os	termos,	descrições	lugares	
comuns	e	figuras	de	linguagem	que	demarcam		o	rol	de	possibilidades	da	construção	de	sentidos.
ü Posicionamento
O	posicionamento,	como	é	por	nós	utilizado,	é	o	processo	discursivo	através	do	qual	os	selves são	situados	nas	
conversações	como	participantes	observáveis	e	subjetivamente	coerentes	em	linhas	de	história	conjuntamente	
produzidas.
Contextos de uso: os três tempos
Tempo Longo:
Domínio da construção social dos conteúdos culturais que formam os discursos de uma dada época. Constitui o
espaço dos conhecimentos produzidos e reinterpretados por diferentes domínios do saber: religião, ciência,
conhecimentos e tradições do senso comum.
Tempo vivido:
Tempo de ressignificação desses conteúdos históricos, a partir dos processos de socialização. Tempo de vida de
cada um de nós. Tempo da memória, traduzida em afetos, no qual enraizamos nossas narrativas pessoais e
identitárias.
Tempo curto:
Tempo da interanimação dialógica e da dinâmica da produção de sentidos. É nesse tempo que se presentificam as
diferentes vozes, ativadas pela memória cultural de tempo longo ou pela memória afetiva do tempo vivido.
Ferramentas de análise: os mapas dialógicos
Os mapas constituem uma primeira aproximação analítica e têm por objetivo sistematizar o processo de análise
do discurso em busca:
o Dos aspectos formais da construção linguística
o Dos repertórios utilizados nessa construção
o Dos processos de interanimação dialógica
Constituem instrumentos de visualização que tem duplo objetivo
o Dar subsídios para o processo de interpretação
o Facilitar a comunicação dos passos subjacentes ao processo interpretativo.
São, portanto, resultantes da ressignificação da noção de rigor que decorre da revalorização dos métodos
qualitativos como formas legítimas de fazer ciência.
o Como é comum em pesquisas que buscam entender o sentido dos fenômenos sociais, a análise inicia-se
com uma imersão no conjunto de informações, procurando deixar aflorar os sentidos, sem encapsular as
informações em categorias, classificações ou tematizações definidas a priori.
o Não que essas categorias, classificações e tematizações apriorísticas não façam parte do processo de
análise; contudo, na perspectiva conversacional de análise, tais processos de categorização não são
impositivos.
o Há um confronto possível entre sentidos construídos no processo de pesquisa e de interpretação e
aqueles decorrentes da familiarização prévia com nosso campo de estudo (nossa revisão bibliográfica) e
de nossas teorias de base.
o É desse confronto inicial que emergem nossas categorias temáticas. Buscamos, então, analisar o material
que temos ao nosso dispor (entrevistas, discussões de grupos, textos etc.) a partir dessas temáticas.
o Mas não são apenas os conteúdos que nos interessam. Para fazer aflorar os sentidos, precisamos
entender, também, o uso feito desses conteúdos. É com essa finalidade que desenvolvemos os mapas
dialógicos.
PASSOS	NA	ANÁLISE	DE	MATERIAL	DISCURSIVO
o As	entrevistas	são	transcritas	na	íntegra.	No	caso	de	documentos	de	domínio	público,	incluindo	
a	mídia,	os	textos	são	salvos	como	arquivos	digitais.	
o O	primeiro	passo	compreende	a	leitura	das	transcrições	ou	a	escuta	do	áudio	da	entrevista		
para	uma	compreensão	inicial	do	material	e	identificação	dos	temas	presentes	nos	diálogos.	
o O	passo	seguinte	é	a	construção	de	quadros	temáticos.	Usamos	tabelas	de	dupla	entrada:	a	da	
esquerda	para	os	textos	e	a	da	direita	para	os	temas.	Usamos	tantas	linhas	quantas	forem	
necessárias	para	identificação	dos	temas.
Exemplo	de	análise	temática.	Entrevista	com	A.P.	realizada	em	21/01/2015
E:	entrevistadora;	A:	entrevistado
Entrevista temas
Exemplo de trecho analisado
E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso.
A: 1991.
E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos.
A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá.
E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego?
A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido.
Essa questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego
com dois, três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três,
quatro, até mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da
encosta.
Moradias no córrego
E: Embora a gente vê muitas casas com as paredes, a parte de baixo caída, né?
A: Isso, com a parte de baixo caída. Às vezes, como vimos também tem essas vigas aprofundadas no córrego, mas não consigo te informar que profundidade tem essas vigas,
né, não dá pra te informar. Porque, por exemplo, quando vem uma enchente muito forte não tem como saber se isso vai aguentar, se tem a estrutura pra aguentar essas
chuvas fortes, ou, por exemplo, a inundação do córrego.
Moradias/construção
E: Você me contou de um episódio de inundação, aliás dois né, que levou a ponte né.
A: É, esse que levou a ponte, levou as duas pontes do mesmo dia né. Tava até lembrando, foi as duas pontes no mesmo dia. Porque foi num dia que choveu quase 12 horas, ou
6 horas mais ou menos de chuva que ocorreu, e ficou que subiu muitíssimo mesmo o nível do córrego e acabou levando as pontes.
E: Você me mostrou até onde a água subiu… deve ter subido…
A: Acho que na senhora dava até a altura do pescoço. (RISOS)
E: (RISOS)
A: Mas acho que numa pessoa mais alta, dava na altura do peito. Bem alta, no nosso caso daria até a altura do pescoço.
inundação
E: Teve gente… muita gente que morreu durante essa inundação?
A: Gente que morreu não, mas gente que parou no hospital já teve bastante. Por causa de doenças, ou a água que invadiu a casa, teve que atravessar para fugir da chuva,
coisas desse tipo, mas agora que morreu não, não ouvi falar de vítima por causa da chuva.
vítimas
Uma vez definidas as categorias temáticas, a construção dos mapas é simples
•Utiliza-se um processador, tipo Word for Windows, e digita-se toda a entrevista.
•Constrói-se, então uma tabela com o mínimo possível de colunas referentes às categorias temáticas;
• usando “cortar” e “colar”, transfere-se o conteúdo para as colunas respeitando a sequência do diálogo,
criando assim um efeito “escada”.
•Tendo em vista o foco teórico nos processos de interanimação dialógica, o diálogo entre entrevistador e
participantes é mantido intacto - sem fragmentar - apenas deslocando-o para as colunas previamente
definidas em função dos objetivos da pesquisa.
Dependendo	dos	objetivos,	os	mapas	podem	ser	construídos	com	todos	os	temas	identificados	ou,	quando	os	temas	se	desdobram	
em	subtemas,	construímos	um	mapa	para	cada	tema
Na	entrevista	de	A.,	identificamos	os	seguintes	temas:	
(1) descrições	do	córrego	antes	(na	infância	do	entrevistado)	e	agora;	
(2) moradias	à	beira	do	córrego;	
(3) eventos	de	inundação;	
(4) minas	de	água	na	região;	
(5) outras	informações.	
Poderíamos	construir	um	mapa	único	com	uma	coluna	para	cada	um	dos	cinco	temas.	
Ou	poderíamos	optar	por	uma	análise	temática	mais	detalhada,	com	mapas	para	cada	um	dos	4	temas	que	dialogam	com	nossos	
objetivos	(que,	nesse	caso,	era	de	entender	a	dinâmica	da	ocupação	das	margens	desse	córrego).		
Nesse	caso,	desdobraríamos	o	tema	em	seus	componentes.	Por	exemplo,	no	caso	das	moradias	à	beira	do	córrego,	na	entrevista	
foram	abordados:	
(a) caracterização	das	moradias;	
(b) motivos	para	permanecer	nessas	áreas	de	risco;	
(c) riscos.	
Entretanto,	mantemos	a	ordem	em	que	apareceram	as	falas,	apenas	sintetizando	os	conteúdos	das	demais	temáticas	que	foram	
abordadas.
Exemplo	de	análise	do	tema	”moradia”	da	entrevista	com	A.
Moradia à beira do córrego Razões para morar “em risco” riscos Outros
Introduzindo a conversa
E: Então, pelo que eu entendi você mora no bairro desde pequenininho.
A: Desde pequeno.
E: E você me disse que primeiro morava numa casa que ficava à beira do córrego.
A: Ficava à beira do córrego.
E: E aí você mudou… você sabe por quê?
A: Eu acho que… na verdade… também por conta
disso, enchentes… acredito que também a área não
é uma área boa, meu pai já tinha consciência disso e
acabou migrando, né. Hoje moramos na
proximidade da Rua Abílio César, na esquina da
Campos Borges, então talvez seja por isso, pelo fato
de estar bem localizado em cima, na encosta do
córrego, ele acabou mudando a casa, né.
Infância
Córrego (como era antes)
Lixo (córrego antes)
Esgoto (córrego antes)
E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso.
A: 1991.
E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos.
A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá.
E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego?
A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao
longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido. Essa
questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma
área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego com dois,
três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas
continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três, quatro, até
mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a
senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da encosta.
Seguem	dois	exemplos,	um	com	análise	de	entrevistas	e	o	segundo	com	análise	de	matérias	de	jornal
A	responsabilidade	do	Estado	na	perspectiva	da	legislação	da	Defesa	Civil	e	de	lideranças	comunitárias
Relatório	Final	– PIBIC/PUCSP,	2016
Henrique	Mota	Manesco
RESUMO
Considerando a problemática da gestão de riscos de desastres ambientais, o objetivo desta pesquisa foi compreender a responsabilidade do
Estado neste âmbito sob duas perspectivas: a da legislação da Defesa Civil e a das lideranças comunitárias do M’Boi Mirim. O município de
São Paulo possui 407 áreas de risco, sendo 50 destas localizadas na Subprefeitura de M’Boi Mirim, território que está entre os piores índices
da cidade no mais recente Mapa da Exclusão/Inclusão Social. Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), compete
às prefeituras gerenciar áreas de risco, porém a população continua vivendo em situação de grande vulnerabilidade. Assim, verifica-se a
importância de compreender e discutir a responsabilidade do Estado neste contexto, a falta de estabelecimento do nexo causal que une
desastres e poder público e como isso mantém a população em situação de vulnerabilidade. Para cumprir o objetivo desta pesquisa, foi feita a
análise das entrevistas de três lideranças comunitárias da região, por meio da abordagem da psicologia discursiva em uma perspectiva
pautada no construcionismo social. Para isto, foram utilizados os mapas dialógicos, instrumentos que permitem uma análise da dialogia
presente nos discursos analisados. Como resultado, identificou-se diversos elementos que contribuem para a situação atual da região
estudada, sendo estes a inércia do poder público, as dificuldades de diálogo entre população e autoridades governamentais e a diversidade
de atores que interferem na solução e/ou na negligência das questões encontradas, como secretarias municipais que não conversam entre si,
políticos que atuam de acordo com seus próprios interesses e a onipresença do tráfico na região. Verificou-se, ainda, que as lideranças tinham
uma perspectiva crítica tanto com relação às ações ou inércia do governo na gestão de risco de desastres como também com relação à
responsabilidade da população neste contexto.
As entrevistas selecionadas para este trabalho são relacionadas a três contextos da região do M'Boi Mirim:
1. a ocupação em margens de córregos, mais especificamente o caso do Córrego dos Brancos;
2. as casas em área de risco, com o exemplo da Favela Erundina
3. a ocupação das áreas de mananciais no Jardim Capela.
o Foram entrevistadas três mulheres: Marta, Margarida e Joice (nomes fictícios), que na época das entrevistas
eram lideranças comunitárias nesse território e contribuíram ativamente para os casos citados, respectivamente.
o Para cada uma das entrevistas foi construído um mapa dialógico. Eles contêm apenas os temas relacionados à
responsabilidade do Estado na gestão de riscos de desastres. Os trechos das transcrições sequenciais de cada
entrevista que se desviaram desse foco foram suprimidos dos mapas.
o É importante destacar que cada um deles possui temas diferentes tendo em vista que esta pesquisa não visava
comparar as entrevistas e, embora as entrevistadas se refiram a assuntos parecidos, cada qual fala de um
contexto específico e se posiciona a partir de um lugar específico.
MAPA	3	– JOICE	(EXEMPLO)
AÇÃO	DO	PDA																																						 AÇÃO	DO	PODER	PÚBLICO																									 INÉRCIA	DO	PODER	PÚBLICO																												 PAPEL	DA	POPULAÇÃO
TRECHO	SUPRIMIDO
JOICE:	Então,	eu	tava fazendo	monitoramento,	
foi	até	o	dia	em	que	eu	passei	na	casa	do	
Eduardo.	Daí	eu	to vendo	fogo,	fogo,	daí	eu	
falei,	(nome	suprimido)…	eu	sou	muito	
curiosa…	
Mary	Jane:	(risos)
JOICE:	Porque	eu	sou	coordenadora	do	ponto	
da	divisão,	eu	tenho	que	ficar	ali	no	
computador,	respondendo	e-mail,	fazendo	
relatório	né.	E	nesse	dia	eu	fui	pra	rua	e	eu	
falei:	“Fogo,	(nome	suprimido)!”	Aí	ele	cortou	
pela	Tijuá,	que	foi	por	uma	travessa	ali	e	
saímos	onde	tava acontecendo.	Aí	a	gente	foi	
tirar	foto.	
Aí	falaram	por	que	a	gente	tava	tirando	foto	ao	
invés	de	ajudar.	
Mas	ajudar	como?	Aí	quando	eu	cheguei	aqui,	
comecei	a	ouvir	
o	barulho	dos	tiros,	
aí	voltei	de	novo	pra	lá	aí	eu	já	entrei	na	
comunidade.	
Perguntei,	aí	falaram	que	tinha	alagado,	que	
tinha	subido	a	água,	e	que	eles	tinham	tirado	as	
coisas	que	se	perderam	na	enchente	e	
colocado	na	rua	para	chamar	a	atenção	das	
autoridades.	Já	que	já	tinham	ligado	para	a	UBS	
do	Paranapanema
e	ninguém	fez	nada,	
ligava	para	um	monte	de	gente	
que	não	fazia	contexto	daqui,	mas	podia	
orientar	né.	Acho	que	a	comunicação	não	
precisa	ser	a	pessoa	especializada,	mas	poderia	
ter	orientado	e	não	teria	acontecido	o	que	
aconteceu.
MAPA	3	– JOICE	(EXEMPLO)
AÇÃO	DO	PDA																																						 AÇÃO	DO	PODER	PÚBLICO																									 INÉRCIA	DO	PODER	PÚBLICO																												 PAPEL	DA	POPULAÇÃO
Aí	ali	eu	já	encontrei	a	(nome	suprimido),	a	
(nome	suprimido),	as	duas	nervosas,	falando,	
falando,	aí	como	eu	já	tinha	o	telefone	do	
subprefeito,	do	(nome	suprimido),	liguei	pra	
ele:	“(nome	suprimido),	tá	acontecendo	isso,	
isso	aqui…”	Daí	já	liguei	para	o	(nome	
suprimido):	“Olha,	tá	acontecendo	isso	aqui,	o	
pessoal	quer	subir,	quer	juntar	o	pessoal	da	
Palestina,	não	vai	dar	certo	isso	aqui,	é	
perigoso	ter	vítimas.”	
Aí	chegou	o	subprefeito,	o	(nome	suprimido)	na	
época,	daí	a	gente	correu	lá	pra	a	comunidade	e	
mesmo	assim	os	policiais	jogando	bomba,	com	
arma	em	punho,	né,	sem	saber	quem	é	o	
subprefeito,	que	o	(nome	suprimido)	era	da	
habitação,	eu	também,	tava	de	chinelo,	
sandália,	bermuda,	tava	muito	sol	e	eu	lá	
dentro…
MARY	JANE:	Foi	janeiro,	né?
JOICE:	Dia	23	de	janeiro.	Aí	nós	lá	dentro	e	a	
polícia,	aí	comecei	a	articular	as	coisas.	
Aí	foi	chegando	a	Defesa	Civil,	aí	foi	chegando	o	
pessoal,	daí	10	e	meia	da	noite	chegou	o	CAPE	
(Coordenadoria	de	Atendimento	Permanente	e	
de	Emergência),	que	não	chegava	nunca,	mas	
parece	que	não	teve	comunicação,	
aí	pegou	o	megafone	meia	noite	e	meia	
gritando	pro	povo	lá,	
aí	chega	a	polícia,	os	policiais	já	querendo	dar	
tiro,	
daí	eu	parei	na	frente	dele	
e	ele	continuou	com	a	arma	apontada.	
E	eu	falei	não.
VIVER	EM	ÁREAS	DE	RISCO	– UM	ESTUDO	SOBRE	GESTÃO	DE	RISCOS	AMBIENTAIS	NA	ÓTICA	DA	MÍDIA
Helena	de	Souza	Oliveira	Gonçalves
Relatório	Final,	Iniciação	Científica,	PUCSP,	2016
RESUMO
O presente estudo teve como finalidade compreender como é apresentada a noção de responsabilização acerca de desastres de origem
hídrica na cidade de São Paulo em dois jornais de larga escala que circulam na região (Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo). Tendo em
vista que os desastre por excesso de chuva são comuns neste território, é de grande importância analisar como a mídia participa no
processo de sensibilização da população sobre esse tema. Para isso foi necessário compreender que responsabilidades são atribuídas a
quais atores a partir da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), como os desastres são definidos e averiguar de que
maneira isso chega à população paulistana pelos jornais escolhidos. O levantamento das notícias publicadas nestes dois jornais foi feito no
período de fevereiro de 2015 a março de 2016. Foram localizadas 105 notícias (60 na Folha e 45 no Estadão) analisadas como práticas
discursivas utilizando, como ferramenta, os mapas dialógicos. Para a construção dos mapas, a partir da leitura de cada notícia, foram
definidos cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais) e quatro grupos de atores (instâncias
governamentais, órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro, população e "natureza"). De modo a contrastar as
notícias dos dois jornais, foi selecionada uma matéria de cada tema publicada em cada jornal no mesmo dia, tratando, portanto, de um
mesmo evento. Para as matérias escolhidas, foram construídos mapas dialógicos para análise dos repertórios interpretativos utilizados
para falar sobre responsabilização. Os resultados indicam que a chuva e a natureza, em 8 das 10 notícias analisadas, foram
responsabilizadas pelos eventos. As instâncias governamentais foram pouco responsabilizadas, emergindo como fonte de informação para
os jornais ou como responsáveis pela prestação de socorro às vitimas.
Procedimentos
A análise incluiu os seguintes procedimentos:
1) análise quantitativa das matérias localizadas nos dois jornais;
2) leitura de todas as matérias em busca dos principais temas que foram foco da notícia;
3) análise comparativa dos textos de cada tema nos dois jornais.
o A análise comparativa foi efetuada a partir das teorizações sobre práticas discursivas desenvolvidas no Núcleo de
Pesquisa coordenado pela orientadora (SPINK, 1999; SPINK, BRIGAGÃO, NASCIMENTO, CORDEIRO, 2014). Foram
construídos mapas dialógicos para identificação dos atores mencionados nas matérias selecionadas a partir dos
quais foram analisados os repertórios utilizados para posicioná-los no evento (como autoridades, vítimas, etc.). A
partir destes repertórios foi analisado o discurso sobre responsabilização por danos e pela própria ocorrência.
o Os mapas dialógicos são uma forma de reorganização do corpo de um texto, por meio de colunas e linhas que
permitem uma melhor visualização do assuntos tratados no texto selecionado. Neste estudo as colunas eram
referentes aos atores presentes e as linhas ao texto escrito pelo jornal. Essa organização propicia uma melhor
compreensão de como a noção da responsabilidade é estruturada na notícia publicada.
Temas e atores
• cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais)
• Atores mais	mencionados	nas	matérias:	as	instâncias	governamentais,	a	natureza	(exemplo:	chuva),	os	
órgãos	governamentais	responsáveis	pela	prestação	de	socorro	e	a	população.	
Resultados: temas
No Estadão, o tema mais presente foi desastres, seguido de mobilidade urbana. Em contraste, desastres foi o
tema menos abordado nas matérias da Folha, onde os dois principais temas foram danos materiais e obras. As
matérias do Estadão tiveram, na maioria das vezes, mais de um tema presente, o que indica uma maior
diversidade de fatores presentes na mesma notícia.
Além dos cinco temas apresentados na pesquisa, haviam outras matérias que fugiam do tema desastres
hídricos e, por isso, não entraram na nossa classificação para análise. Notícias eventuais que falavam, por
exemplo, sobre o aedes aegypti e ao serem classificadas no tema "outros" não estavam dentro das opções de
escolha para análise.
Resultados: responsabilização
Todas as regiões da cidade são afetadas por eventos que provocam algum tipo de dano, desde a
interdição de rua e perda de bens até a morte de pessoas. Os jornais, ao tratarem deste assunto, pouco
abordam as instâncias governamentais e as suas responsabilidades previstas a partir do Politica Nacional
de Proteção e Defesa Civil. Nas poucas notícias em que os jornais apresentaram um caráter de
responsabilização governamental para os eventos ocorridos, não foram pontuadas as obrigações
governamentais de prevenção ou reparação pós-dano necessárias. Também não foi feita em nenhum
momento uma análise sobre a interlocução da Defesa Civil com os outros direitos da população, como a
moradia, saneamento básico, saúde, entre outros, que também são de responsabilidade da União, dos
Estados ou Municípios. Afinal, desastres são fenômenos sociais decorrentes de uma vulnerabilidade
sócio-ambiental.
Há uma responsabilização predominante da natureza em relação aos eventos ocorridos e não se aponta
os direitos e deveres em relação a estas politicas públicas. Por conta disso, as responsabilidades
governamentais não chegam à população que, por sua vez, não utiliza esse repertório interpretativo
Mapa	dialógico	da	matéria	publicada	no	jornal	Folha	de	S.	Paulo	em	12	de	janeiro	de	2016	intitulada	Dois	morrem	após	fortes	
chuvas	na	zona	leste	no	fim	de	semana
Tema-foco:	morte
OBS:	As	cores	destacam	os	atores	e	as	ações	realizadas.	
Descrição do evento Instâncias governamentais Órgãos governamentais
responsáveis pela prestação de
socorro
População “ Natureza”
Dois homens morreram
durante as fortes chuvas que
atingiram o extremo leste de
São Paulo neste fim de semana,
segundo a prefeitura.
Uma das vítimas é um homem
de 46 anos, que foi carregado
pela enxurrada ao ajudar uma
idosa no Jardim Lapenna, em
São Miguel Paulist vizinho ao
Jardim Pantanal — região
situada na várzea do rio Tietê e
que sofre constantes
alagamentos.
O outro homem foi carregado
pela correnteza no córrego
Itaim, no bairro Itaim Paulista
Os dois corpos foram
localizados. Bombeiros ainda	
procuram um jovem que
desapareceu após cair no
córrego Aricanduva, também na
zona leste.
Descrição do evento Instâncias governamentais Órgãos governamentais
responsáveis pela prestação de
socorro
População “ Natureza”
De	acordo com o CGE(Centro
de Gerenciamento de
Emergências), da prefeitura,
as	 chuvas de sábado (9)
totalizaram	 148	 milímetros em
apenas três horas na zona leste.
O volume equivale a 57% do
previsto para todo o mês de
janeiro —268 milímetros.
No sábado, moradores
protestaram contra a enchente.
Eles chegaram a queimar um
ônibus ao lado do córrego
Lajeado, no Itaim Paulista.
Nesta segunda (11),o cenário
na região era de limpeza e
reconstrução, ainda sob chuva.
Moradores colocaram para fora
colchões, sofás, camas e outros
objetos destruídos pelos
alagamentos
O material era recolhido por
caminhões da prefeitura.
7.	Publicando	os	resultados	de	pesquisa
v Familiarização	com	a	missão	dos	periódicos;
v Leitura	de	alguns	artigos	publicados	nas	revistas	que	parecem	
acolher	o	tipo	de	pesquisa	realizada;
v Fazer	um	bom	arrazoado	sobre	o	rigor	de	sua	pesquisa:	
levantamento	e	análise	das	informações.
Referências
Bakhtin, M. (1994). The problem of speech genres. In C. Emerson & M. Holquist (Orgs.), Speech genres and other late essays (pp. 60-102). Austin, Texas:
University of Texas Press.
Davies, Bronwin; Harré, Rom (1990). Posicionando - a produção discursivas de "selves“. Journal for the Theory of Social Behaviour, 20(1): 43-63.
Iñiguez, L. (2004). A análise de discurso nas ciências sociais: variedades, tradições e práticas. In. L. Iñiguez. (Org.). Manual de Análise do Discurso em Ciências
Sociais. (pp. 50-104). Petrópolis, RJ: Vozes.
Mol, A. (1999) Ontological politics: a word and some questions. In. J. Law & J. Hassard (Orgs.). Actor Network Theory and After. (pp. 74-89). Balckwell Publisher.
Oxford.
Morin, E. (1985). O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Publicações Europa-América.
Rorty, R. (1994). A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.
SPINK, M.J.P.. (2002). Os métodos de pesquisa como linguagem social. Estudos e Pesquisas em Psicologia (Revista do Instituto de Psicologia da UERJ), 2(2): 9-
21. ISSN: 1676-3041.
Spink, M. J. P. (Org.). (1999/2003). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teórico e metodológicas. São Paulo: Cortez. (2002).
Spink,	M.J.P.;	Brigagão,	J.I.;	Nascimento,	V.	e	Cordeiro,	M.	(Orgs),	(2014).	A	produção	de	informação	na	pesquisa	social:	compartilhando	ferramentas.	Centro	
Eldestein de	Pesquisas	Sociais,	Disponível	em:	<http://www.bvce.org/LivrosBrasileirosDetalhes.asp?IdRegistro=262>.	Acesso	em:	20	fev.	2017.
Woolgar, S. (1988). Science: the very idea. Chichester: Ellis Horwood; London Tavistock.
Von Wright, G.H. (1978). Duas Tradições.1 Em, J. Bynner e K. M. Stribley (orgs), Social Research: Principles and Procedures. UK: Longman/The Open University
Press.

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Analise em pesquisas qualitativas

  • 1. Análise de pesquisas qualitativas MARY JANE P. SPINK PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO VERSÃO REVISADA DA APRESENTAÇÃO FEITA NO I CONGRESSO BRASILEIRO DA ABECIPSI: DESAFIOS DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA EM PSICOLOGIA EM 23 DE MARÇO DE 2017-SÃO PAULO
  • 2. Programa da aula 1. Situando a tradição qualitativa em pesquisa no tempo longo da história 2. De onde eu falo: os métodos como linguagem social 3. Ressignificando a noção de rigor na perspectiva construcionista 4. As múltiplas opções de pesquisa qualitativa 5. A vertente discursiva 6. Dois exemplos de uso de mapas dialógicos como ferramenta de pesquisa
  • 3. 1. SITUANDO A TRADIÇÃO QUALITATIVA EM PESQUISA NO TEMPO LONGO DA HISTÓRIA G. H. Von Wright: Duas Tradições.1 Em, J. Bynner e K. M. Stribley (orgs), Social Research: Principles and Procedures. UK: Longman/The Open University Press, 1978 Duas tradições principais podem ser distinguidas na história das ideias, diferindo entre si quanto às condições que uma explicação tem que satisfazer para ser considerada cientificamente respeitável. Uma tradição é, por vezes, chamada aristotélica e a outra, galiléica. Os nomes sugerem que a primeira tem raízes muito antigas na história intelectual da humanidade, enquanto a outra tem origem relativamente mais recente. Há um pouco de verdade nisso, mas devemos tomá-la com alguma reserva: • o que Von Wright está chamando de tradição galiléica tem ancestralidade anterior a Aristóteles, podendo ser traçada a partir de Platão. Tendo em vista que, no século XIX, a ciência da natureza já estava estabelecida no palco intelectual e os estudos humanistas com reivindicações científicas eram recém chegados, era natural que um dos principais pontos de debate da Metodologia e da Filosofia da Ciência fosse a relação entre esses dois ramos principais da investigação empírica. As principais posições nessa questão podem ser vinculadas às duas tradições de pensamento metodológico.
  • 4. A. Uma posição é a da Filosofia da Ciência, tipicamente representada por Auguste Comte e John Stuart Mill. Esta é usualmente chamada de positivismo que tem como pressupostos: • Monismo metodológico: a unidade do método científico aplicada à diversidade de temas da investigação científica. • A visão de que as ciências naturais exatas, e em particular a Física Matemática, definem o ideal metodológico, ou o standard, que mede o grau de desenvolvimento e de perfeição das demais ciências, incluindo as humanas. • Que a explicação é, num sentido geral, “causal”. Consiste, mais especificamente, em subsumir casos individuais sob leis gerais da natureza, hipoteticamente assumidas, incluindo aí a “natureza humana”. B. A outra posição se constitui como reação ao positivismo e é uma tendência muito mais diversificada e heterogênea que o positivismo. Poderíamos denomina-la de hermenêutica, tendência que inclui entre seus representantes alguns eminentes filósofos, historiadores e cientistas sociais alemães, como Dilthey, Simmel e Max Weber. Todos eles rejeitam o monismo metodológico do positivismo e se recusam a tomar o padrão das ciências naturais exatas como o único e supremo ideal para a compreensão racional da realidade.
  • 5. Os antipositivistas também atacaram a visão positivista de explicação. Para eles, Ø o objetivo das ciências naturais era explicar; Ø o objetivo da história (e das ciências humanas) era entender os fenômenos em seu domínio de ação. Essas ideias foram sistematizadas por Wilhelm Dilthey que, para denominar o conjunto de métodos compreensivos, usou o termo Geisteswissenschaften. Se aceitarmos a clivagem metodológica de base entre as ciências naturais e as Geisteswissenschaften, a questão que imediatamente emerge é como posicionar as ciências sociais e comportamentais. Essas ciências nasceram em grande medida sob a pressão cruzada das tendências positivistas e antipositivistas do século XIX. Não surpreende, portanto, que tenham se tornado um campo de batalha para as duas tendências da filosofia do método científico. Von Wright define três características principais da postura hermenêutica: a) A rejeição do monismo e da adoção das ciências da natureza como padrão; b) A distinção entre ciências nomotéticas – que buscam leis gerais – e ciências ideográficas – que enfatizam as características singulares; c) A rejeição do conceito tradicional de explicação, introduzindo-se aqui a clássica distinção entre explicação e compreensão.
  • 6. 2. OS MÉTODOS DE PESQUISA COMO LINGUAGEM SOCIAL (SPINK, M.J., 2002) Em algumas disciplinas, os métodos qualitativos têm longa tradição. Ø É o caso da Antropologia, fundada a partir do método etnográfico que se apoia em grande parte na observação participante e em entrevistas, embora possibilite a convivência com procedimentos quantitativos. Ø Em outras, como na área de pesquisa em Educação, pelo menos no Brasil, o movimento de mudança de concepções metodológicas chega mais tardiamente. Na Psicologia, o estatuto dos métodos qualitativos está fortemente associado à emergência de uma vertente teórica crítica pautada em questionamentos de cunho epistemológico e político. Essa virada qualitativa na Psicologia vem sendo amplamente documentada no âmbito da disciplina: em discussões sobre métodos específicos, em coletâneas recentes sobre o acervo atual de métodos e em compêndios sobre técnicas computacionais especificamente relacionadas às análises qualitativas. Vários fatores convergem para a atual ressignificação dos métodos qualitativos nas ciências humanas em geral e na Psicologia em particular com destaque para: Ø a sociologia da ciência, Ø a pesquisa feminista, Ø a epistemologia construcionista.
  • 7. Porém, mesmo nessa virada qualitativa a tensão entre as duas tradições -- de explicação causal e de compreensão -- se faz presente na querela entre métodos qualitativos e quantitativos. Venho perguntando: se nossas habilidades, capacidades e poderes trazem a marca da cultura e se expressam como linguagem situada em práticas sociais, o que aconteceria se, em vez de sermos seduzidos pela contraposição de posicionamentos no debate metodológico, realocássemos a questão na esfera da pragmática da linguagem? Tomando os diferentes métodos que usamos como linguagens sociais, a atenção se volta aos usos a que servem esses discursos no contexto de interações complexas que demarcam o jogo da ciência. Propomos que se pergunte: 1. Que usos são feitos dos métodos e dos resultados que eles legitimam? 2.O que acontece quando tomamos os discursos sobre métodos na psicologia (social) como formas de falar que são próprias de um grupo específico de psicólogos – os psicólogos sociais, por exemplo – que fazem parte de um campo concorrencial (a psicologia) que por sua vez está inserida em outro campo concorrencial mais amplo que denominamos “ciência”?
  • 8. Em relação aos usos que são feitos dos métodos, podemos tomar como exemplo a interessante relação entre classificação - uma atividade essencialmente qualitativa - e sua transposição para a linguagem dos números. Boa parte de nossa atividade em pesquisa está presa a processos de categorização que têm sido o foco da psicologia cognitiva, seja na perspectiva do processamento de informação ou no enquadre psicossocial do estudo das relações interpessoais. Entretanto, ao passar do foco da teorização sobre processos psicológicos para as estratégias de análise de informações, muitas vezes nos esquecemos das bases psicossociais de nossas “categorizações”. Assim, é edificante lembrar que grande parte do esforço analítico, quando lidamos com fenômenos psicossociais – até mesmo quando os estamos supostamente “medindo” –, tem como base um processo de classificação de caráter notoriamente discursivo. As categorias funcionam como repertórios interpretativos. Têm o mesmo estatuto dos demais termos, inscrições, lugares-comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de possibilidades da construção de sentidos que denominamos de repertórios interpretativos .
  • 9. Nessa perspectiva, os métodos são linguagens sociais: o São discursos peculiares a um estrato específico de uma sociedade, em um determinado sistema e em uma determinada época. o Essas linguagens, veiculadas por meio de processos de socialização, definem as possibilidades de comunicação e de produção coletiva de sentidos. o Como toda linguagem social, “a linguagem dos métodos” tem funções identitárias que geram jogos de posicionamentos e processos de defesa identitária. o E, como todo processo de defesa identitária, também os métodos, vistos como linguagens sociais, têm funções estratégicas no jogo concorrencial entre as diversas correntes da psicologia e desta com o campo científico. Para entender a diversidade de métodos – e o debate que geram – nessa perspectiva linguística, proponho que é preciso que seja adotada uma postura reflexiva e crítica sobre nossas formas de falar sobre o mundo, incluindo aí aquilo que chamamos metodologia.
  • 10. Esta proposta tem duas implicações: 1. A exemplo das novas correntes da sociologia da ciência – que se busque entender como os psicólogos constroem seus textos de modo a pleitear legitimidade. a) Isso implica analisar as justificativas metodológicas e as discussões de resultados como práticas discursivas que estão situadas em seus contextos de produção. b) Esses contextos incluem: os processos de socialização em pesquisa, os autores que são chamados para legitimar as decisões metodológicas e as regras e culturas específicas dos veículos de divulgação. 2. Que se comece a analisar quais os usos a que se prestam os debates metodológicos, especialmente as funções que servem para: a) incluir/excluir pessoas das instâncias que concedem verbas; b) defender hegemonias e, c) parafraseando Richard Rorty (1994), fazer com que a conversação deixe de fluir e a disciplina entre em processo de estagnação.
  • 11. 3. Ressignificando a noção de rigor na perspectiva construcionista o É comum pensar que dar sentido é uma atividade que diz respeito apenas ao cotidiano interpretado como os fazeres assistemáticos do senso comum. Deparamo-nos, assim, com um grande divisor de águas que coloca, de um lado, as práticas científicas – aquilo que obedece a determinados princípios, regras e métodos definidos pela comunidade científica, passível, portanto, de produzir o conhecimento legítimo – e, de outro, em contraposição (quando não em franca oposição), o senso comum – o conhecimento pouco sistemático e com fins práticos. o Entretanto, a discussão epistemológica contemporânea, principalmente aquela proveniente da moderna Sociologia do Conhecimento, vem contribuindo para desfazer essa dicotomização rígida. Dessa forma, tanto fazer ciência como desempenhar as atividades rotineiras (ou não) de nosso cotidiano passam a ser ressignificados como formas de produzir sentido sobre os eventos do mundo. o Essa aproximação paulatina, entretanto, não reduz uma atividade à outra; há regras, gêneros de fala e linguagens sociais distintas que demarcam a produção de sentido em diferentes domínios de nossas atividades, incluindo aí os diferentes domínios de pesquisa. o Assim, a pesquisa científica, vista como discurso institucionalizado, está inserida num sistema de regras pautadas por estratégias de validação há muito consagradas pela tradição. Trabalhar essas estratégias como práticas sociais, tendo como pressuposto o fato de que a pesquisa também é uma prática social, requer um esforço continuado de ressignificação de aspectos implicados no desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa.
  • 12. Objetividade e rigor na pesquisa qualitativa A pesquisa, na perspectiva realista, é regida por condutas regradas que visam superar o abismo entre nossas representações e a realidade. Esse abismo se faz presente de três formas, denominadas por Woolgar (1988) de “horrores metodológicos”: indexicalidade, inconclusividade e reflexividade. Indexicalidade v A indexicalidade refere-se à situacionalidade, ou vinculação com o contexto: o sentido muda à medida que a situação muda. Na perspectiva realista, o controle da indexicalidade dá-se a partir dos critérios de validade e fidedignidade. A validade refere-se ao grau de correspondência entre a medida e o que está sendo medido; a fidedignidade, por sua vez, é definida pela replicabilidade dessas medidas. v Na perspectiva construcionista – sendo a realidade entendida como um fenômeno histórico, cultural e dinâmico –, esses critérios precisam ser reconceituados, pois o objetivo da pesquisa qualitativa não é a replicabilidade e sim a especificidade. A indexicalidade deixa assim de ser um horror metodológico, passando a ser um elemento intrínseco dos procedimentos de pesquisa, tornando-se responsabilidade do pesquisador a descrição e exploração plena do contexto de pesquisa.
  • 13. Inconclusividade A inconclusividade refere-se à complexidade dos fenômenos sociais e à impossibilidade de controlar todas as variáveis intervenientes. v Na perspectiva da epistemologia realista, o horror que essa complexidade gera prende-se à impossibilidade de generalização dos resultados. As soluções buscadas variam do ideal da pesquisa em laboratório, na qual a complexidade é domada pela seleção das variáveis às agruras da pesquisa de campo em que a complexidade é domada pela sofisticação das técnicas de amostragem. v Na pesquisa qualitativa há uma aceitação plena da processualidade dos fenômenos sociais e isso é, para muitos, um fator positivo que indica possibilidade de transformação social. A generalização fica obviamente comprometida. Mas, se a pesquisa for vista na perspectiva dos processos de produção de sentidos, poderá ser reinterpretada como ilustração das inúmeras possibilidades de sentidos ou como versões coexistentes (Mol, 1999).
  • 14. Reflexividade A reflexividade refere-se à espiral da interpretação e aos efeitos da presença do pesquisador nos resultados da pesquisa. Na pesquisa direcionada pelas epistemologias realistas, o horror metodológico levou a inúmeras considerações sobre a neutralidade do pesquisador. O controle da subjetividade latente levou ao desenvolvimento de desenhos consagrados – como o duplo cego, amplamente utilizado em pesquisas biomédicas. Na pesquisa informada por epistemologias construcionistas a subjetividade passa a ser um recurso a mais. Procura-se chegar o mais próximo possível do fenômeno em questão, explorando as maneiras pelas quais a subjetividade do pesquisador estruturou a forma em que o fenômeno foi definido. Nesta dimensão, o rigor na pesquisa qualitativa passa a ser a explicitação da posição do pesquisador por meio de: o reflexividade pessoal implica a reflexão sobre quem sou eu-pesquisador, e como meus interesses e valores incidem sobre o delineamento da pesquisa e sobre minhas interpretações. o reflexividade funcional volta-se para a comunidade e para a maneira como “quem somos” influi no processo de pesquisa e em seus resultados.
  • 15. o A reflexividade, afinal, está também colada à espiral da interpretação que extrapola a seara das observações empíricas e insere-se no contexto mais amplo dos procedimentos da comunidade científica. o Como afirma Morin (1985:16): “a objetividade, elemento primeiro e fundador da verdade e da validade das teorias científicas, pode ser considerada como o último produto de um consenso sociocultural e histórico da comunidade/sociedade científica”. o O rigor e a avaliação são, assim, fenômenos da ordem da intersubjetividade e prendem-se à possibilidade de socializar o processo interpretativo. Isso implica colocar à disposição da comunidade – científica ou não – as informações produzidas pela pesquisa, assim como as demais informações provenientes da postura reflexiva acima descrita. Na medida em que esse aspecto público da atividade científica do novo paradigma é explicitamente assumido, a ressignificação da objetividade abre espaço para o debate em torno da ética.
  • 16. 4. AS MÚLTIPLAS OPÇÕES DE PESQUISA QUALITATIVA • Observação (observação participante) • Abordagens etnográficas • Pesquisa ação • Estudo de caso • Entrevistas individuais/conversas do cotidiano • Entrevistas grupais/grupos focais/rodas de conversa • Análise documental (mídia, imagens em vídeo/filmes, legislação; documentos técnicos) Decisões dependem de considerações ontológicas (estatuto do real); epistemológicas (teorias sobre conhecimento) e éticas (respeito ao outro) Exemplos de manuais sobre abordagens qualitativas Ø Ludke, Menga e Sandré, Marli (1986). Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986 Ø Bannister, Peter et al (1994): Qualitative Methods in Psychology: A Reserach Guide. UK: Open University Ø Bauer, Martin e Gaskell, George. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes. Ø Spink, M.J.P.; Brigagão, J.I.; Nascimento, V. e Cordeiro, M. (Orgs), (2014). A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Centro Eldestein de Pesquisas Sociais, Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2014, p. 247-272. (publicação virtual).
  • 18. 5. Pesquisa sobre práticas discursivas A concepção de linguagem que adotamos está centrada na linguagem em uso. Mais precisamente, entendemos a linguagem como prática social e buscamos trabalhar a interface entre: o Os aspectos performáticos da linguagem (quando, em que condições, de que modo, com que efeitos) o As condições de produção (entendidas tanto como contexto social e interacional, quanto no sentido foucaultiano de construções históricas). v Essa concepção de linguagem está aliada ao chamado “giro linguístico”, o longo percurso da filosofia da linguagem que leva da preocupação com a representação do mundo ao poder da linguagem de construção de mundos possíveis.
  • 19. Fundamentos das atuais análises de discurso: • A Teoria dos Atos de Fala de John Austin (1962) • A Etnomedologia de Garfinkel (1967) • As concepções discursivas de Michel Foucault (1969) • A Pragmática de Levinson (1983) e Grice (1975) A expressão “analise de discurso” designava, inicialmente, uma área de estudos e pesquisa da linguística, mas tornou-se prática corrente em muitas disciplinas: antropologia, sociologia, psicologia, comunicação, entre outras, por pelo menos três razões: 1. a influência exercida pelo debate epistemológico proporcionado pelo giro linguístico; 2. o deslocamento do interesse para o uso da linguagem em diferentes contextos de interação 3. a crescente relevância dos meios de comunicação e das tecnologias de comunicação
  • 20. Lupicinio Iñiguez, no livro Manual de Analise de Discurso em Ciências Sociais (2004) sintetiza a diversidade de enfoques a partir de quatro vertentes: 1. sociolinguística interacional, fortemente influenciada pela microssociologia de Goffman 2. etnografia da comunicação (Hymes, 1974; Duranti, 1997) 3. análise da conversação (Garfinhek, 1967) 4. análise crítica de discurso de cunho marxista (Pécheu, 1969; Maingueneau, 1987) 5. psicologia discursiva inglesa (Potter e Wetherell, 1987; Parker, 1992)
  • 21. Diante da diversidade de oferta de modelos é importante destacar o que anima as teorizações e o programa de pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Práticas Discursivas no Cotidiano: direitos, riscos e saúde (NUPRAD) da PUCSP ü A produção de sentidos como processo dialógico, que leva à análise de práticas discursivas. A influência teórica principal, nessa vertente, é de Mikail Bakhtin e Rom Harré ü Os efeitos de governamentalidade dos discursos contextualizados, que nos levou à análise da linguagem em documentos de domínio público. A influência teórica, neste caso, é de Michel Foucault. Mas fazem-se presentes, também, os teóricos da mídia (Thompson, Fairclough, Van Leewen etc.)
  • 22. Conceitos básicos ü Gêneros de discurso: Nossos enunciados usam formas relativamente típicas e estáveis de fala que formam o substrato compartilhado que possibilita a comunicação. Predizemos, desde as primeiras palavras, como se desenvolverá o enunciado. ü Endereçamento Todo enunciado é resposta ao enunciado que o precedeu. Está portanto atravessado por dialogicidade. É o que chamamos de interanimação dialógica. ü Repertórios interpretativos Repertórios linguísticos são as unidades de construção das práticas discursivas: os termos, descrições lugares comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de possibilidades da construção de sentidos. ü Posicionamento O posicionamento, como é por nós utilizado, é o processo discursivo através do qual os selves são situados nas conversações como participantes observáveis e subjetivamente coerentes em linhas de história conjuntamente produzidas.
  • 23. Contextos de uso: os três tempos Tempo Longo: Domínio da construção social dos conteúdos culturais que formam os discursos de uma dada época. Constitui o espaço dos conhecimentos produzidos e reinterpretados por diferentes domínios do saber: religião, ciência, conhecimentos e tradições do senso comum. Tempo vivido: Tempo de ressignificação desses conteúdos históricos, a partir dos processos de socialização. Tempo de vida de cada um de nós. Tempo da memória, traduzida em afetos, no qual enraizamos nossas narrativas pessoais e identitárias. Tempo curto: Tempo da interanimação dialógica e da dinâmica da produção de sentidos. É nesse tempo que se presentificam as diferentes vozes, ativadas pela memória cultural de tempo longo ou pela memória afetiva do tempo vivido.
  • 24. Ferramentas de análise: os mapas dialógicos Os mapas constituem uma primeira aproximação analítica e têm por objetivo sistematizar o processo de análise do discurso em busca: o Dos aspectos formais da construção linguística o Dos repertórios utilizados nessa construção o Dos processos de interanimação dialógica Constituem instrumentos de visualização que tem duplo objetivo o Dar subsídios para o processo de interpretação o Facilitar a comunicação dos passos subjacentes ao processo interpretativo. São, portanto, resultantes da ressignificação da noção de rigor que decorre da revalorização dos métodos qualitativos como formas legítimas de fazer ciência.
  • 25. o Como é comum em pesquisas que buscam entender o sentido dos fenômenos sociais, a análise inicia-se com uma imersão no conjunto de informações, procurando deixar aflorar os sentidos, sem encapsular as informações em categorias, classificações ou tematizações definidas a priori. o Não que essas categorias, classificações e tematizações apriorísticas não façam parte do processo de análise; contudo, na perspectiva conversacional de análise, tais processos de categorização não são impositivos. o Há um confronto possível entre sentidos construídos no processo de pesquisa e de interpretação e aqueles decorrentes da familiarização prévia com nosso campo de estudo (nossa revisão bibliográfica) e de nossas teorias de base. o É desse confronto inicial que emergem nossas categorias temáticas. Buscamos, então, analisar o material que temos ao nosso dispor (entrevistas, discussões de grupos, textos etc.) a partir dessas temáticas. o Mas não são apenas os conteúdos que nos interessam. Para fazer aflorar os sentidos, precisamos entender, também, o uso feito desses conteúdos. É com essa finalidade que desenvolvemos os mapas dialógicos.
  • 27. Exemplo de análise temática. Entrevista com A.P. realizada em 21/01/2015 E: entrevistadora; A: entrevistado Entrevista temas Exemplo de trecho analisado E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso. A: 1991. E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos. A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá. E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego? A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido. Essa questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego com dois, três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três, quatro, até mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da encosta. Moradias no córrego E: Embora a gente vê muitas casas com as paredes, a parte de baixo caída, né? A: Isso, com a parte de baixo caída. Às vezes, como vimos também tem essas vigas aprofundadas no córrego, mas não consigo te informar que profundidade tem essas vigas, né, não dá pra te informar. Porque, por exemplo, quando vem uma enchente muito forte não tem como saber se isso vai aguentar, se tem a estrutura pra aguentar essas chuvas fortes, ou, por exemplo, a inundação do córrego. Moradias/construção E: Você me contou de um episódio de inundação, aliás dois né, que levou a ponte né. A: É, esse que levou a ponte, levou as duas pontes do mesmo dia né. Tava até lembrando, foi as duas pontes no mesmo dia. Porque foi num dia que choveu quase 12 horas, ou 6 horas mais ou menos de chuva que ocorreu, e ficou que subiu muitíssimo mesmo o nível do córrego e acabou levando as pontes. E: Você me mostrou até onde a água subiu… deve ter subido… A: Acho que na senhora dava até a altura do pescoço. (RISOS) E: (RISOS) A: Mas acho que numa pessoa mais alta, dava na altura do peito. Bem alta, no nosso caso daria até a altura do pescoço. inundação E: Teve gente… muita gente que morreu durante essa inundação? A: Gente que morreu não, mas gente que parou no hospital já teve bastante. Por causa de doenças, ou a água que invadiu a casa, teve que atravessar para fugir da chuva, coisas desse tipo, mas agora que morreu não, não ouvi falar de vítima por causa da chuva. vítimas
  • 28. Uma vez definidas as categorias temáticas, a construção dos mapas é simples •Utiliza-se um processador, tipo Word for Windows, e digita-se toda a entrevista. •Constrói-se, então uma tabela com o mínimo possível de colunas referentes às categorias temáticas; • usando “cortar” e “colar”, transfere-se o conteúdo para as colunas respeitando a sequência do diálogo, criando assim um efeito “escada”. •Tendo em vista o foco teórico nos processos de interanimação dialógica, o diálogo entre entrevistador e participantes é mantido intacto - sem fragmentar - apenas deslocando-o para as colunas previamente definidas em função dos objetivos da pesquisa.
  • 29. Dependendo dos objetivos, os mapas podem ser construídos com todos os temas identificados ou, quando os temas se desdobram em subtemas, construímos um mapa para cada tema Na entrevista de A., identificamos os seguintes temas: (1) descrições do córrego antes (na infância do entrevistado) e agora; (2) moradias à beira do córrego; (3) eventos de inundação; (4) minas de água na região; (5) outras informações. Poderíamos construir um mapa único com uma coluna para cada um dos cinco temas. Ou poderíamos optar por uma análise temática mais detalhada, com mapas para cada um dos 4 temas que dialogam com nossos objetivos (que, nesse caso, era de entender a dinâmica da ocupação das margens desse córrego). Nesse caso, desdobraríamos o tema em seus componentes. Por exemplo, no caso das moradias à beira do córrego, na entrevista foram abordados: (a) caracterização das moradias; (b) motivos para permanecer nessas áreas de risco; (c) riscos. Entretanto, mantemos a ordem em que apareceram as falas, apenas sintetizando os conteúdos das demais temáticas que foram abordadas.
  • 30. Exemplo de análise do tema ”moradia” da entrevista com A. Moradia à beira do córrego Razões para morar “em risco” riscos Outros Introduzindo a conversa E: Então, pelo que eu entendi você mora no bairro desde pequenininho. A: Desde pequeno. E: E você me disse que primeiro morava numa casa que ficava à beira do córrego. A: Ficava à beira do córrego. E: E aí você mudou… você sabe por quê? A: Eu acho que… na verdade… também por conta disso, enchentes… acredito que também a área não é uma área boa, meu pai já tinha consciência disso e acabou migrando, né. Hoje moramos na proximidade da Rua Abílio César, na esquina da Campos Borges, então talvez seja por isso, pelo fato de estar bem localizado em cima, na encosta do córrego, ele acabou mudando a casa, né. Infância Córrego (como era antes) Lixo (córrego antes) Esgoto (córrego antes) E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso. A: 1991. E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos. A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá. E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego? A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido. Essa questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego com dois, três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três, quatro, até mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da encosta.
  • 32. A responsabilidade do Estado na perspectiva da legislação da Defesa Civil e de lideranças comunitárias Relatório Final – PIBIC/PUCSP, 2016 Henrique Mota Manesco RESUMO Considerando a problemática da gestão de riscos de desastres ambientais, o objetivo desta pesquisa foi compreender a responsabilidade do Estado neste âmbito sob duas perspectivas: a da legislação da Defesa Civil e a das lideranças comunitárias do M’Boi Mirim. O município de São Paulo possui 407 áreas de risco, sendo 50 destas localizadas na Subprefeitura de M’Boi Mirim, território que está entre os piores índices da cidade no mais recente Mapa da Exclusão/Inclusão Social. Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), compete às prefeituras gerenciar áreas de risco, porém a população continua vivendo em situação de grande vulnerabilidade. Assim, verifica-se a importância de compreender e discutir a responsabilidade do Estado neste contexto, a falta de estabelecimento do nexo causal que une desastres e poder público e como isso mantém a população em situação de vulnerabilidade. Para cumprir o objetivo desta pesquisa, foi feita a análise das entrevistas de três lideranças comunitárias da região, por meio da abordagem da psicologia discursiva em uma perspectiva pautada no construcionismo social. Para isto, foram utilizados os mapas dialógicos, instrumentos que permitem uma análise da dialogia presente nos discursos analisados. Como resultado, identificou-se diversos elementos que contribuem para a situação atual da região estudada, sendo estes a inércia do poder público, as dificuldades de diálogo entre população e autoridades governamentais e a diversidade de atores que interferem na solução e/ou na negligência das questões encontradas, como secretarias municipais que não conversam entre si, políticos que atuam de acordo com seus próprios interesses e a onipresença do tráfico na região. Verificou-se, ainda, que as lideranças tinham uma perspectiva crítica tanto com relação às ações ou inércia do governo na gestão de risco de desastres como também com relação à responsabilidade da população neste contexto.
  • 33. As entrevistas selecionadas para este trabalho são relacionadas a três contextos da região do M'Boi Mirim: 1. a ocupação em margens de córregos, mais especificamente o caso do Córrego dos Brancos; 2. as casas em área de risco, com o exemplo da Favela Erundina 3. a ocupação das áreas de mananciais no Jardim Capela. o Foram entrevistadas três mulheres: Marta, Margarida e Joice (nomes fictícios), que na época das entrevistas eram lideranças comunitárias nesse território e contribuíram ativamente para os casos citados, respectivamente. o Para cada uma das entrevistas foi construído um mapa dialógico. Eles contêm apenas os temas relacionados à responsabilidade do Estado na gestão de riscos de desastres. Os trechos das transcrições sequenciais de cada entrevista que se desviaram desse foco foram suprimidos dos mapas. o É importante destacar que cada um deles possui temas diferentes tendo em vista que esta pesquisa não visava comparar as entrevistas e, embora as entrevistadas se refiram a assuntos parecidos, cada qual fala de um contexto específico e se posiciona a partir de um lugar específico.
  • 34. MAPA 3 – JOICE (EXEMPLO) AÇÃO DO PDA AÇÃO DO PODER PÚBLICO INÉRCIA DO PODER PÚBLICO PAPEL DA POPULAÇÃO TRECHO SUPRIMIDO JOICE: Então, eu tava fazendo monitoramento, foi até o dia em que eu passei na casa do Eduardo. Daí eu to vendo fogo, fogo, daí eu falei, (nome suprimido)… eu sou muito curiosa… Mary Jane: (risos) JOICE: Porque eu sou coordenadora do ponto da divisão, eu tenho que ficar ali no computador, respondendo e-mail, fazendo relatório né. E nesse dia eu fui pra rua e eu falei: “Fogo, (nome suprimido)!” Aí ele cortou pela Tijuá, que foi por uma travessa ali e saímos onde tava acontecendo. Aí a gente foi tirar foto. Aí falaram por que a gente tava tirando foto ao invés de ajudar. Mas ajudar como? Aí quando eu cheguei aqui, comecei a ouvir o barulho dos tiros, aí voltei de novo pra lá aí eu já entrei na comunidade. Perguntei, aí falaram que tinha alagado, que tinha subido a água, e que eles tinham tirado as coisas que se perderam na enchente e colocado na rua para chamar a atenção das autoridades. Já que já tinham ligado para a UBS do Paranapanema e ninguém fez nada, ligava para um monte de gente que não fazia contexto daqui, mas podia orientar né. Acho que a comunicação não precisa ser a pessoa especializada, mas poderia ter orientado e não teria acontecido o que aconteceu.
  • 35. MAPA 3 – JOICE (EXEMPLO) AÇÃO DO PDA AÇÃO DO PODER PÚBLICO INÉRCIA DO PODER PÚBLICO PAPEL DA POPULAÇÃO Aí ali eu já encontrei a (nome suprimido), a (nome suprimido), as duas nervosas, falando, falando, aí como eu já tinha o telefone do subprefeito, do (nome suprimido), liguei pra ele: “(nome suprimido), tá acontecendo isso, isso aqui…” Daí já liguei para o (nome suprimido): “Olha, tá acontecendo isso aqui, o pessoal quer subir, quer juntar o pessoal da Palestina, não vai dar certo isso aqui, é perigoso ter vítimas.” Aí chegou o subprefeito, o (nome suprimido) na época, daí a gente correu lá pra a comunidade e mesmo assim os policiais jogando bomba, com arma em punho, né, sem saber quem é o subprefeito, que o (nome suprimido) era da habitação, eu também, tava de chinelo, sandália, bermuda, tava muito sol e eu lá dentro… MARY JANE: Foi janeiro, né? JOICE: Dia 23 de janeiro. Aí nós lá dentro e a polícia, aí comecei a articular as coisas. Aí foi chegando a Defesa Civil, aí foi chegando o pessoal, daí 10 e meia da noite chegou o CAPE (Coordenadoria de Atendimento Permanente e de Emergência), que não chegava nunca, mas parece que não teve comunicação, aí pegou o megafone meia noite e meia gritando pro povo lá, aí chega a polícia, os policiais já querendo dar tiro, daí eu parei na frente dele e ele continuou com a arma apontada. E eu falei não.
  • 36. VIVER EM ÁREAS DE RISCO – UM ESTUDO SOBRE GESTÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA ÓTICA DA MÍDIA Helena de Souza Oliveira Gonçalves Relatório Final, Iniciação Científica, PUCSP, 2016 RESUMO O presente estudo teve como finalidade compreender como é apresentada a noção de responsabilização acerca de desastres de origem hídrica na cidade de São Paulo em dois jornais de larga escala que circulam na região (Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo). Tendo em vista que os desastre por excesso de chuva são comuns neste território, é de grande importância analisar como a mídia participa no processo de sensibilização da população sobre esse tema. Para isso foi necessário compreender que responsabilidades são atribuídas a quais atores a partir da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), como os desastres são definidos e averiguar de que maneira isso chega à população paulistana pelos jornais escolhidos. O levantamento das notícias publicadas nestes dois jornais foi feito no período de fevereiro de 2015 a março de 2016. Foram localizadas 105 notícias (60 na Folha e 45 no Estadão) analisadas como práticas discursivas utilizando, como ferramenta, os mapas dialógicos. Para a construção dos mapas, a partir da leitura de cada notícia, foram definidos cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais) e quatro grupos de atores (instâncias governamentais, órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro, população e "natureza"). De modo a contrastar as notícias dos dois jornais, foi selecionada uma matéria de cada tema publicada em cada jornal no mesmo dia, tratando, portanto, de um mesmo evento. Para as matérias escolhidas, foram construídos mapas dialógicos para análise dos repertórios interpretativos utilizados para falar sobre responsabilização. Os resultados indicam que a chuva e a natureza, em 8 das 10 notícias analisadas, foram responsabilizadas pelos eventos. As instâncias governamentais foram pouco responsabilizadas, emergindo como fonte de informação para os jornais ou como responsáveis pela prestação de socorro às vitimas.
  • 37. Procedimentos A análise incluiu os seguintes procedimentos: 1) análise quantitativa das matérias localizadas nos dois jornais; 2) leitura de todas as matérias em busca dos principais temas que foram foco da notícia; 3) análise comparativa dos textos de cada tema nos dois jornais. o A análise comparativa foi efetuada a partir das teorizações sobre práticas discursivas desenvolvidas no Núcleo de Pesquisa coordenado pela orientadora (SPINK, 1999; SPINK, BRIGAGÃO, NASCIMENTO, CORDEIRO, 2014). Foram construídos mapas dialógicos para identificação dos atores mencionados nas matérias selecionadas a partir dos quais foram analisados os repertórios utilizados para posicioná-los no evento (como autoridades, vítimas, etc.). A partir destes repertórios foi analisado o discurso sobre responsabilização por danos e pela própria ocorrência. o Os mapas dialógicos são uma forma de reorganização do corpo de um texto, por meio de colunas e linhas que permitem uma melhor visualização do assuntos tratados no texto selecionado. Neste estudo as colunas eram referentes aos atores presentes e as linhas ao texto escrito pelo jornal. Essa organização propicia uma melhor compreensão de como a noção da responsabilidade é estruturada na notícia publicada.
  • 38. Temas e atores • cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais) • Atores mais mencionados nas matérias: as instâncias governamentais, a natureza (exemplo: chuva), os órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro e a população. Resultados: temas No Estadão, o tema mais presente foi desastres, seguido de mobilidade urbana. Em contraste, desastres foi o tema menos abordado nas matérias da Folha, onde os dois principais temas foram danos materiais e obras. As matérias do Estadão tiveram, na maioria das vezes, mais de um tema presente, o que indica uma maior diversidade de fatores presentes na mesma notícia. Além dos cinco temas apresentados na pesquisa, haviam outras matérias que fugiam do tema desastres hídricos e, por isso, não entraram na nossa classificação para análise. Notícias eventuais que falavam, por exemplo, sobre o aedes aegypti e ao serem classificadas no tema "outros" não estavam dentro das opções de escolha para análise.
  • 39. Resultados: responsabilização Todas as regiões da cidade são afetadas por eventos que provocam algum tipo de dano, desde a interdição de rua e perda de bens até a morte de pessoas. Os jornais, ao tratarem deste assunto, pouco abordam as instâncias governamentais e as suas responsabilidades previstas a partir do Politica Nacional de Proteção e Defesa Civil. Nas poucas notícias em que os jornais apresentaram um caráter de responsabilização governamental para os eventos ocorridos, não foram pontuadas as obrigações governamentais de prevenção ou reparação pós-dano necessárias. Também não foi feita em nenhum momento uma análise sobre a interlocução da Defesa Civil com os outros direitos da população, como a moradia, saneamento básico, saúde, entre outros, que também são de responsabilidade da União, dos Estados ou Municípios. Afinal, desastres são fenômenos sociais decorrentes de uma vulnerabilidade sócio-ambiental. Há uma responsabilização predominante da natureza em relação aos eventos ocorridos e não se aponta os direitos e deveres em relação a estas politicas públicas. Por conta disso, as responsabilidades governamentais não chegam à população que, por sua vez, não utiliza esse repertório interpretativo
  • 40. Mapa dialógico da matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo em 12 de janeiro de 2016 intitulada Dois morrem após fortes chuvas na zona leste no fim de semana Tema-foco: morte OBS: As cores destacam os atores e as ações realizadas. Descrição do evento Instâncias governamentais Órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro População “ Natureza” Dois homens morreram durante as fortes chuvas que atingiram o extremo leste de São Paulo neste fim de semana, segundo a prefeitura. Uma das vítimas é um homem de 46 anos, que foi carregado pela enxurrada ao ajudar uma idosa no Jardim Lapenna, em São Miguel Paulist vizinho ao Jardim Pantanal — região situada na várzea do rio Tietê e que sofre constantes alagamentos. O outro homem foi carregado pela correnteza no córrego Itaim, no bairro Itaim Paulista Os dois corpos foram localizados. Bombeiros ainda procuram um jovem que desapareceu após cair no córrego Aricanduva, também na zona leste.
  • 41. Descrição do evento Instâncias governamentais Órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro População “ Natureza” De acordo com o CGE(Centro de Gerenciamento de Emergências), da prefeitura, as chuvas de sábado (9) totalizaram 148 milímetros em apenas três horas na zona leste. O volume equivale a 57% do previsto para todo o mês de janeiro —268 milímetros. No sábado, moradores protestaram contra a enchente. Eles chegaram a queimar um ônibus ao lado do córrego Lajeado, no Itaim Paulista. Nesta segunda (11),o cenário na região era de limpeza e reconstrução, ainda sob chuva. Moradores colocaram para fora colchões, sofás, camas e outros objetos destruídos pelos alagamentos O material era recolhido por caminhões da prefeitura.
  • 43. Referências Bakhtin, M. (1994). The problem of speech genres. In C. Emerson & M. Holquist (Orgs.), Speech genres and other late essays (pp. 60-102). Austin, Texas: University of Texas Press. Davies, Bronwin; Harré, Rom (1990). Posicionando - a produção discursivas de "selves“. Journal for the Theory of Social Behaviour, 20(1): 43-63. Iñiguez, L. (2004). A análise de discurso nas ciências sociais: variedades, tradições e práticas. In. L. Iñiguez. (Org.). Manual de Análise do Discurso em Ciências Sociais. (pp. 50-104). Petrópolis, RJ: Vozes. Mol, A. (1999) Ontological politics: a word and some questions. In. J. Law & J. Hassard (Orgs.). Actor Network Theory and After. (pp. 74-89). Balckwell Publisher. Oxford. Morin, E. (1985). O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Publicações Europa-América. Rorty, R. (1994). A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará. SPINK, M.J.P.. (2002). Os métodos de pesquisa como linguagem social. Estudos e Pesquisas em Psicologia (Revista do Instituto de Psicologia da UERJ), 2(2): 9- 21. ISSN: 1676-3041. Spink, M. J. P. (Org.). (1999/2003). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teórico e metodológicas. São Paulo: Cortez. (2002). Spink, M.J.P.; Brigagão, J.I.; Nascimento, V. e Cordeiro, M. (Orgs), (2014). A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Centro Eldestein de Pesquisas Sociais, Disponível em: <http://www.bvce.org/LivrosBrasileirosDetalhes.asp?IdRegistro=262>. Acesso em: 20 fev. 2017. Woolgar, S. (1988). Science: the very idea. Chichester: Ellis Horwood; London Tavistock. Von Wright, G.H. (1978). Duas Tradições.1 Em, J. Bynner e K. M. Stribley (orgs), Social Research: Principles and Procedures. UK: Longman/The Open University Press.