1. O documento discute a análise de pesquisas qualitativas, ressaltando a tradição qualitativa no contexto histórico e as múltiplas opções de pesquisa qualitativa, incluindo a vertente discursiva.
2. Dois exemplos são apresentados sobre o uso de mapas dialógicos como ferramenta de pesquisa qualitativa.
3. A noção de rigor é ressignificada na perspectiva construcionista, questionando a dicotomia entre ciência e senso comum e enfatizando que ambos
NORMAS PARA PRODUCAO E PUBLICACAO UNIROVUMA - CAPACITACAO DOCENTE II SEMESTRE...
Analise em pesquisas qualitativas
1. Análise de pesquisas qualitativas
MARY JANE P. SPINK
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
VERSÃO REVISADA DA APRESENTAÇÃO FEITA NO I CONGRESSO BRASILEIRO DA ABECIPSI:
DESAFIOS DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA EM PSICOLOGIA EM 23 DE MARÇO DE 2017-SÃO PAULO
3. 1. SITUANDO A TRADIÇÃO QUALITATIVA EM PESQUISA NO TEMPO LONGO DA HISTÓRIA
G. H. Von Wright: Duas Tradições.1 Em, J. Bynner e K. M. Stribley (orgs), Social Research: Principles and
Procedures. UK: Longman/The Open University Press, 1978
Duas tradições principais podem ser distinguidas na história das ideias, diferindo entre si quanto às condições que
uma explicação tem que satisfazer para ser considerada cientificamente respeitável. Uma tradição é, por vezes,
chamada aristotélica e a outra, galiléica.
Os nomes sugerem que a primeira tem raízes muito antigas na história intelectual da humanidade, enquanto a
outra tem origem relativamente mais recente. Há um pouco de verdade nisso, mas devemos tomá-la com alguma
reserva:
• o que Von Wright está chamando de tradição galiléica tem ancestralidade anterior a Aristóteles, podendo
ser traçada a partir de Platão.
Tendo em vista que, no século XIX, a ciência da natureza já estava estabelecida no palco intelectual e os estudos
humanistas com reivindicações científicas eram recém chegados, era natural que um dos principais pontos de
debate da Metodologia e da Filosofia da Ciência fosse a relação entre esses dois ramos principais da investigação
empírica. As principais posições nessa questão podem ser vinculadas às duas tradições de pensamento
metodológico.
4. A. Uma posição é a da Filosofia da Ciência, tipicamente representada por Auguste Comte e John Stuart Mill. Esta é
usualmente chamada de positivismo que tem como pressupostos:
• Monismo metodológico: a unidade do método científico aplicada à diversidade de temas da investigação científica.
• A visão de que as ciências naturais exatas, e em particular a Física Matemática, definem o ideal metodológico, ou o
standard, que mede o grau de desenvolvimento e de perfeição das demais ciências, incluindo as humanas.
• Que a explicação é, num sentido geral, “causal”. Consiste, mais especificamente, em subsumir casos individuais sob leis
gerais da natureza, hipoteticamente assumidas, incluindo aí a “natureza humana”.
B. A outra posição se constitui como reação ao positivismo e é uma tendência muito mais diversificada e heterogênea que o
positivismo. Poderíamos denomina-la de hermenêutica, tendência que inclui entre seus representantes alguns eminentes
filósofos, historiadores e cientistas sociais alemães, como Dilthey, Simmel e Max Weber.
Todos eles rejeitam o monismo metodológico do positivismo e se recusam a tomar o padrão das ciências naturais exatas como
o único e supremo ideal para a compreensão racional da realidade.
5. Os antipositivistas também atacaram a visão positivista de explicação. Para eles,
Ø o objetivo das ciências naturais era explicar;
Ø o objetivo da história (e das ciências humanas) era entender os fenômenos em seu domínio de ação.
Essas ideias foram sistematizadas por Wilhelm Dilthey que, para denominar o conjunto de métodos compreensivos, usou o
termo Geisteswissenschaften.
Se aceitarmos a clivagem metodológica de base entre as ciências naturais e as Geisteswissenschaften, a questão que
imediatamente emerge é como posicionar as ciências sociais e comportamentais. Essas ciências nasceram em grande
medida sob a pressão cruzada das tendências positivistas e antipositivistas do século XIX. Não surpreende, portanto, que
tenham se tornado um campo de batalha para as duas tendências da filosofia do método científico.
Von Wright define três características principais da postura hermenêutica:
a) A rejeição do monismo e da adoção das ciências da natureza como padrão;
b) A distinção entre ciências nomotéticas – que buscam leis gerais – e ciências ideográficas – que enfatizam as
características singulares;
c) A rejeição do conceito tradicional de explicação, introduzindo-se aqui a clássica distinção entre explicação e
compreensão.
6. 2. OS MÉTODOS DE PESQUISA COMO LINGUAGEM SOCIAL (SPINK, M.J., 2002)
Em algumas disciplinas, os métodos qualitativos têm longa tradição.
Ø É o caso da Antropologia, fundada a partir do método etnográfico que se apoia em grande parte na observação
participante e em entrevistas, embora possibilite a convivência com procedimentos quantitativos.
Ø Em outras, como na área de pesquisa em Educação, pelo menos no Brasil, o movimento de mudança de
concepções metodológicas chega mais tardiamente.
Na Psicologia, o estatuto dos métodos qualitativos está fortemente associado à emergência de uma vertente teórica
crítica pautada em questionamentos de cunho epistemológico e político. Essa virada qualitativa na Psicologia vem
sendo amplamente documentada no âmbito da disciplina: em discussões sobre métodos específicos, em coletâneas
recentes sobre o acervo atual de métodos e em compêndios sobre técnicas computacionais especificamente
relacionadas às análises qualitativas.
Vários fatores convergem para a atual ressignificação dos métodos qualitativos nas ciências humanas em geral e na
Psicologia em particular com destaque para:
Ø a sociologia da ciência,
Ø a pesquisa feminista,
Ø a epistemologia construcionista.
7. Porém, mesmo nessa virada qualitativa a tensão entre as duas tradições -- de explicação causal e de
compreensão -- se faz presente na querela entre métodos qualitativos e quantitativos.
Venho perguntando: se nossas habilidades, capacidades e poderes trazem a marca da cultura e se expressam
como linguagem situada em práticas sociais, o que aconteceria se, em vez de sermos seduzidos pela
contraposição de posicionamentos no debate metodológico, realocássemos a questão na esfera da pragmática
da linguagem?
Tomando os diferentes métodos que usamos como linguagens sociais, a atenção se volta aos usos a que
servem esses discursos no contexto de interações complexas que demarcam o jogo da ciência.
Propomos que se pergunte:
1. Que usos são feitos dos métodos e dos resultados que eles legitimam?
2.O que acontece quando tomamos os discursos sobre métodos na psicologia (social) como formas de
falar que são próprias de um grupo específico de psicólogos – os psicólogos sociais, por exemplo – que
fazem parte de um campo concorrencial (a psicologia) que por sua vez está inserida em outro campo
concorrencial mais amplo que denominamos “ciência”?
8. Em relação aos usos que são feitos dos métodos, podemos tomar como exemplo a interessante relação entre
classificação - uma atividade essencialmente qualitativa - e sua transposição para a linguagem dos números.
Boa parte de nossa atividade em pesquisa está presa a processos de categorização que têm sido o foco da
psicologia cognitiva, seja na perspectiva do processamento de informação ou no enquadre psicossocial do
estudo das relações interpessoais. Entretanto, ao passar do foco da teorização sobre processos psicológicos para
as estratégias de análise de informações, muitas vezes nos esquecemos das bases psicossociais de nossas
“categorizações”. Assim, é edificante lembrar que grande parte do esforço analítico, quando lidamos com
fenômenos psicossociais – até mesmo quando os estamos supostamente “medindo” –, tem como base um
processo de classificação de caráter notoriamente discursivo.
As categorias funcionam como repertórios interpretativos. Têm o mesmo estatuto dos demais termos,
inscrições, lugares-comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de possibilidades da construção de
sentidos que denominamos de repertórios interpretativos .
9. Nessa perspectiva, os métodos são linguagens sociais:
o São discursos peculiares a um estrato específico de uma sociedade, em um determinado sistema e em uma
determinada época.
o Essas linguagens, veiculadas por meio de processos de socialização, definem as possibilidades de comunicação e de
produção coletiva de sentidos.
o Como toda linguagem social, “a linguagem dos métodos” tem funções identitárias que geram jogos de
posicionamentos e processos de defesa identitária.
o E, como todo processo de defesa identitária, também os métodos, vistos como linguagens sociais, têm funções
estratégicas no jogo concorrencial entre as diversas correntes da psicologia e desta com o campo científico.
Para entender a diversidade de métodos – e o debate que geram – nessa perspectiva linguística, proponho que é preciso
que seja adotada uma postura reflexiva e crítica sobre nossas formas de falar sobre o mundo, incluindo aí aquilo que
chamamos metodologia.
10. Esta proposta tem duas implicações:
1. A exemplo das novas correntes da sociologia da ciência – que se busque entender como os psicólogos
constroem seus textos de modo a pleitear legitimidade.
a) Isso implica analisar as justificativas metodológicas e as discussões de resultados como práticas
discursivas que estão situadas em seus contextos de produção.
b) Esses contextos incluem: os processos de socialização em pesquisa, os autores que são
chamados para legitimar as decisões metodológicas e as regras e culturas específicas dos
veículos de divulgação.
2. Que se comece a analisar quais os usos a que se prestam os debates metodológicos, especialmente as
funções que servem para:
a) incluir/excluir pessoas das instâncias que concedem verbas;
b) defender hegemonias e,
c) parafraseando Richard Rorty (1994), fazer com que a conversação deixe de fluir e a disciplina
entre em processo de estagnação.
11. 3. Ressignificando a noção de rigor na perspectiva construcionista
o É comum pensar que dar sentido é uma atividade que diz respeito apenas ao cotidiano interpretado como os fazeres
assistemáticos do senso comum. Deparamo-nos, assim, com um grande divisor de águas que coloca, de um lado, as
práticas científicas – aquilo que obedece a determinados princípios, regras e métodos definidos pela comunidade
científica, passível, portanto, de produzir o conhecimento legítimo – e, de outro, em contraposição (quando não em franca
oposição), o senso comum – o conhecimento pouco sistemático e com fins práticos.
o Entretanto, a discussão epistemológica contemporânea, principalmente aquela proveniente da moderna Sociologia do
Conhecimento, vem contribuindo para desfazer essa dicotomização rígida. Dessa forma, tanto fazer ciência como
desempenhar as atividades rotineiras (ou não) de nosso cotidiano passam a ser ressignificados como formas de produzir
sentido sobre os eventos do mundo.
o Essa aproximação paulatina, entretanto, não reduz uma atividade à outra; há regras, gêneros de fala e linguagens sociais
distintas que demarcam a produção de sentido em diferentes domínios de nossas atividades, incluindo aí os diferentes
domínios de pesquisa.
o Assim, a pesquisa científica, vista como discurso institucionalizado, está inserida num sistema de regras pautadas por
estratégias de validação há muito consagradas pela tradição. Trabalhar essas estratégias como práticas sociais, tendo como
pressuposto o fato de que a pesquisa também é uma prática social, requer um esforço continuado de ressignificação de
aspectos implicados no desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa.
12. Objetividade e rigor na pesquisa qualitativa
A pesquisa, na perspectiva realista, é regida por condutas regradas que visam superar o abismo entre nossas
representações e a realidade. Esse abismo se faz presente de três formas, denominadas por Woolgar (1988) de “horrores
metodológicos”: indexicalidade, inconclusividade e reflexividade.
Indexicalidade
v A indexicalidade refere-se à situacionalidade, ou vinculação com o contexto: o sentido muda à medida que a
situação muda. Na perspectiva realista, o controle da indexicalidade dá-se a partir dos critérios de validade e
fidedignidade. A validade refere-se ao grau de correspondência entre a medida e o que está sendo medido; a
fidedignidade, por sua vez, é definida pela replicabilidade dessas medidas.
v Na perspectiva construcionista – sendo a realidade entendida como um fenômeno histórico, cultural e dinâmico
–, esses critérios precisam ser reconceituados, pois o objetivo da pesquisa qualitativa não é a replicabilidade e
sim a especificidade. A indexicalidade deixa assim de ser um horror metodológico, passando a ser um elemento
intrínseco dos procedimentos de pesquisa, tornando-se responsabilidade do pesquisador a descrição e
exploração plena do contexto de pesquisa.
13. Inconclusividade
A inconclusividade refere-se à complexidade dos fenômenos sociais e à impossibilidade de controlar todas as
variáveis intervenientes.
v Na perspectiva da epistemologia realista, o horror que essa complexidade gera prende-se à
impossibilidade de generalização dos resultados. As soluções buscadas variam do ideal da pesquisa
em laboratório, na qual a complexidade é domada pela seleção das variáveis às agruras da pesquisa
de campo em que a complexidade é domada pela sofisticação das técnicas de amostragem.
v Na pesquisa qualitativa há uma aceitação plena da processualidade dos fenômenos sociais e isso é,
para muitos, um fator positivo que indica possibilidade de transformação social. A generalização fica
obviamente comprometida. Mas, se a pesquisa for vista na perspectiva dos processos de produção de
sentidos, poderá ser reinterpretada como ilustração das inúmeras possibilidades de sentidos ou como
versões coexistentes (Mol, 1999).
15. o A reflexividade, afinal, está também colada à espiral da interpretação que extrapola a seara das
observações empíricas e insere-se no contexto mais amplo dos procedimentos da comunidade
científica.
o Como afirma Morin (1985:16): “a objetividade, elemento primeiro e fundador da verdade e da
validade das teorias científicas, pode ser considerada como o último produto de um consenso
sociocultural e histórico da comunidade/sociedade científica”.
o O rigor e a avaliação são, assim, fenômenos da ordem da intersubjetividade e prendem-se à
possibilidade de socializar o processo interpretativo. Isso implica colocar à disposição da
comunidade – científica ou não – as informações produzidas pela pesquisa, assim como as demais
informações provenientes da postura reflexiva acima descrita. Na medida em que esse aspecto
público da atividade científica do novo paradigma é explicitamente assumido, a ressignificação da
objetividade abre espaço para o debate em torno da ética.
16. 4. AS MÚLTIPLAS OPÇÕES DE PESQUISA QUALITATIVA
• Observação (observação participante)
• Abordagens etnográficas
• Pesquisa ação
• Estudo de caso
• Entrevistas individuais/conversas do cotidiano
• Entrevistas grupais/grupos focais/rodas de conversa
• Análise documental (mídia, imagens em vídeo/filmes, legislação; documentos técnicos)
Decisões dependem de considerações ontológicas (estatuto do real); epistemológicas (teorias sobre
conhecimento) e éticas (respeito ao outro)
Exemplos de manuais sobre abordagens qualitativas
Ø Ludke, Menga e Sandré, Marli (1986). Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986
Ø Bannister, Peter et al (1994): Qualitative Methods in Psychology: A Reserach Guide. UK: Open University
Ø Bauer, Martin e Gaskell, George. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes.
Ø Spink, M.J.P.; Brigagão, J.I.; Nascimento, V. e Cordeiro, M. (Orgs), (2014). A produção de informação na pesquisa
social: compartilhando ferramentas. Centro Eldestein de Pesquisas Sociais, Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisas Sociais, 2014, p. 247-272. (publicação virtual).
18. 5. Pesquisa sobre práticas discursivas
A concepção de linguagem que adotamos está centrada na linguagem em uso. Mais precisamente,
entendemos a linguagem como prática social e buscamos trabalhar a interface entre:
o Os aspectos performáticos da linguagem (quando, em que condições, de que modo, com que efeitos)
o As condições de produção (entendidas tanto como contexto social e interacional, quanto no sentido
foucaultiano de construções históricas).
v Essa concepção de linguagem está aliada ao chamado “giro linguístico”, o longo percurso da filosofia
da linguagem que leva da preocupação com a representação do mundo ao poder da linguagem de
construção de mundos possíveis.
19. Fundamentos das atuais análises de discurso:
• A Teoria dos Atos de Fala de John Austin (1962)
• A Etnomedologia de Garfinkel (1967)
• As concepções discursivas de Michel Foucault (1969)
• A Pragmática de Levinson (1983) e Grice (1975)
A expressão “analise de discurso” designava, inicialmente, uma área de estudos e pesquisa da linguística, mas
tornou-se prática corrente em muitas disciplinas: antropologia, sociologia, psicologia, comunicação, entre
outras, por pelo menos três razões:
1. a influência exercida pelo debate epistemológico proporcionado pelo giro linguístico;
2. o deslocamento do interesse para o uso da linguagem em diferentes contextos de interação
3. a crescente relevância dos meios de comunicação e das tecnologias de comunicação
20. Lupicinio Iñiguez, no livro Manual de Analise de Discurso em Ciências Sociais (2004) sintetiza a
diversidade de enfoques a partir de quatro vertentes:
1. sociolinguística interacional, fortemente influenciada pela microssociologia de Goffman
2. etnografia da comunicação (Hymes, 1974; Duranti, 1997)
3. análise da conversação (Garfinhek, 1967)
4. análise crítica de discurso de cunho marxista (Pécheu, 1969; Maingueneau, 1987)
5. psicologia discursiva inglesa (Potter e Wetherell, 1987; Parker, 1992)
21. Diante da diversidade de oferta de modelos é importante destacar o que anima as teorizações e o programa de
pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Práticas Discursivas no Cotidiano: direitos, riscos e saúde
(NUPRAD) da PUCSP
ü A produção de sentidos como processo dialógico, que leva à análise de práticas discursivas.
A influência teórica principal, nessa vertente, é de Mikail Bakhtin e Rom Harré
ü Os efeitos de governamentalidade dos discursos contextualizados, que nos levou à análise da linguagem em
documentos de domínio público.
A influência teórica, neste caso, é de Michel Foucault. Mas fazem-se presentes, também, os teóricos da
mídia (Thompson, Fairclough, Van Leewen etc.)
23. Contextos de uso: os três tempos
Tempo Longo:
Domínio da construção social dos conteúdos culturais que formam os discursos de uma dada época. Constitui o
espaço dos conhecimentos produzidos e reinterpretados por diferentes domínios do saber: religião, ciência,
conhecimentos e tradições do senso comum.
Tempo vivido:
Tempo de ressignificação desses conteúdos históricos, a partir dos processos de socialização. Tempo de vida de
cada um de nós. Tempo da memória, traduzida em afetos, no qual enraizamos nossas narrativas pessoais e
identitárias.
Tempo curto:
Tempo da interanimação dialógica e da dinâmica da produção de sentidos. É nesse tempo que se presentificam as
diferentes vozes, ativadas pela memória cultural de tempo longo ou pela memória afetiva do tempo vivido.
24. Ferramentas de análise: os mapas dialógicos
Os mapas constituem uma primeira aproximação analítica e têm por objetivo sistematizar o processo de análise
do discurso em busca:
o Dos aspectos formais da construção linguística
o Dos repertórios utilizados nessa construção
o Dos processos de interanimação dialógica
Constituem instrumentos de visualização que tem duplo objetivo
o Dar subsídios para o processo de interpretação
o Facilitar a comunicação dos passos subjacentes ao processo interpretativo.
São, portanto, resultantes da ressignificação da noção de rigor que decorre da revalorização dos métodos
qualitativos como formas legítimas de fazer ciência.
25. o Como é comum em pesquisas que buscam entender o sentido dos fenômenos sociais, a análise inicia-se
com uma imersão no conjunto de informações, procurando deixar aflorar os sentidos, sem encapsular as
informações em categorias, classificações ou tematizações definidas a priori.
o Não que essas categorias, classificações e tematizações apriorísticas não façam parte do processo de
análise; contudo, na perspectiva conversacional de análise, tais processos de categorização não são
impositivos.
o Há um confronto possível entre sentidos construídos no processo de pesquisa e de interpretação e
aqueles decorrentes da familiarização prévia com nosso campo de estudo (nossa revisão bibliográfica) e
de nossas teorias de base.
o É desse confronto inicial que emergem nossas categorias temáticas. Buscamos, então, analisar o material
que temos ao nosso dispor (entrevistas, discussões de grupos, textos etc.) a partir dessas temáticas.
o Mas não são apenas os conteúdos que nos interessam. Para fazer aflorar os sentidos, precisamos
entender, também, o uso feito desses conteúdos. É com essa finalidade que desenvolvemos os mapas
dialógicos.
27. Exemplo de análise temática. Entrevista com A.P. realizada em 21/01/2015
E: entrevistadora; A: entrevistado
Entrevista temas
Exemplo de trecho analisado
E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso.
A: 1991.
E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos.
A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá.
E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego?
A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido.
Essa questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego
com dois, três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três,
quatro, até mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da
encosta.
Moradias no córrego
E: Embora a gente vê muitas casas com as paredes, a parte de baixo caída, né?
A: Isso, com a parte de baixo caída. Às vezes, como vimos também tem essas vigas aprofundadas no córrego, mas não consigo te informar que profundidade tem essas vigas,
né, não dá pra te informar. Porque, por exemplo, quando vem uma enchente muito forte não tem como saber se isso vai aguentar, se tem a estrutura pra aguentar essas
chuvas fortes, ou, por exemplo, a inundação do córrego.
Moradias/construção
E: Você me contou de um episódio de inundação, aliás dois né, que levou a ponte né.
A: É, esse que levou a ponte, levou as duas pontes do mesmo dia né. Tava até lembrando, foi as duas pontes no mesmo dia. Porque foi num dia que choveu quase 12 horas, ou
6 horas mais ou menos de chuva que ocorreu, e ficou que subiu muitíssimo mesmo o nível do córrego e acabou levando as pontes.
E: Você me mostrou até onde a água subiu… deve ter subido…
A: Acho que na senhora dava até a altura do pescoço. (RISOS)
E: (RISOS)
A: Mas acho que numa pessoa mais alta, dava na altura do peito. Bem alta, no nosso caso daria até a altura do pescoço.
inundação
E: Teve gente… muita gente que morreu durante essa inundação?
A: Gente que morreu não, mas gente que parou no hospital já teve bastante. Por causa de doenças, ou a água que invadiu a casa, teve que atravessar para fugir da chuva,
coisas desse tipo, mas agora que morreu não, não ouvi falar de vítima por causa da chuva.
vítimas
28. Uma vez definidas as categorias temáticas, a construção dos mapas é simples
•Utiliza-se um processador, tipo Word for Windows, e digita-se toda a entrevista.
•Constrói-se, então uma tabela com o mínimo possível de colunas referentes às categorias temáticas;
• usando “cortar” e “colar”, transfere-se o conteúdo para as colunas respeitando a sequência do diálogo,
criando assim um efeito “escada”.
•Tendo em vista o foco teórico nos processos de interanimação dialógica, o diálogo entre entrevistador e
participantes é mantido intacto - sem fragmentar - apenas deslocando-o para as colunas previamente
definidas em função dos objetivos da pesquisa.
30. Exemplo de análise do tema ”moradia” da entrevista com A.
Moradia à beira do córrego Razões para morar “em risco” riscos Outros
Introduzindo a conversa
E: Então, pelo que eu entendi você mora no bairro desde pequenininho.
A: Desde pequeno.
E: E você me disse que primeiro morava numa casa que ficava à beira do córrego.
A: Ficava à beira do córrego.
E: E aí você mudou… você sabe por quê?
A: Eu acho que… na verdade… também por conta
disso, enchentes… acredito que também a área não
é uma área boa, meu pai já tinha consciência disso e
acabou migrando, né. Hoje moramos na
proximidade da Rua Abílio César, na esquina da
Campos Borges, então talvez seja por isso, pelo fato
de estar bem localizado em cima, na encosta do
córrego, ele acabou mudando a casa, né.
Infância
Córrego (como era antes)
Lixo (córrego antes)
Esgoto (córrego antes)
E: Nós estamos falando… A nasceu em 1991, eu sei disso.
A: 1991.
E: E ele tá falando disso com cerca de 8 anos.
A: É, eu to falando disso com a proporção de 1999 pra cá.
E: Certo. Mas já tinha tanta casa construída na margem, no córrego?
A: Nas encostas? Acho que isso sempre teve também. Eu acho isso vem crescendo ao
longo desde anos, desde 2000 até os tempos agora, 2014, cresceu muito mais rápido. Essa
questão de construção de casa. Às vezes nem construir nem no território, nem na mesma
área, mas construir no próprio terreno. Casas que estão em cima do córrego com dois,
três andares, não sabe se a estrutura aguenta. O pessoal não tem consciência mas
continua construindo. Casa que acabam se tornando edifícios mesmo. Três, quatro, até
mais, como aquele que a senhora pôde ver, que tem quase seis andares. Hoje mesmo a
senhora consegue observar um daqueles de seis andares próximo da encosta.
32. A responsabilidade do Estado na perspectiva da legislação da Defesa Civil e de lideranças comunitárias
Relatório Final – PIBIC/PUCSP, 2016
Henrique Mota Manesco
RESUMO
Considerando a problemática da gestão de riscos de desastres ambientais, o objetivo desta pesquisa foi compreender a responsabilidade do
Estado neste âmbito sob duas perspectivas: a da legislação da Defesa Civil e a das lideranças comunitárias do M’Boi Mirim. O município de
São Paulo possui 407 áreas de risco, sendo 50 destas localizadas na Subprefeitura de M’Boi Mirim, território que está entre os piores índices
da cidade no mais recente Mapa da Exclusão/Inclusão Social. Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), compete
às prefeituras gerenciar áreas de risco, porém a população continua vivendo em situação de grande vulnerabilidade. Assim, verifica-se a
importância de compreender e discutir a responsabilidade do Estado neste contexto, a falta de estabelecimento do nexo causal que une
desastres e poder público e como isso mantém a população em situação de vulnerabilidade. Para cumprir o objetivo desta pesquisa, foi feita a
análise das entrevistas de três lideranças comunitárias da região, por meio da abordagem da psicologia discursiva em uma perspectiva
pautada no construcionismo social. Para isto, foram utilizados os mapas dialógicos, instrumentos que permitem uma análise da dialogia
presente nos discursos analisados. Como resultado, identificou-se diversos elementos que contribuem para a situação atual da região
estudada, sendo estes a inércia do poder público, as dificuldades de diálogo entre população e autoridades governamentais e a diversidade
de atores que interferem na solução e/ou na negligência das questões encontradas, como secretarias municipais que não conversam entre si,
políticos que atuam de acordo com seus próprios interesses e a onipresença do tráfico na região. Verificou-se, ainda, que as lideranças tinham
uma perspectiva crítica tanto com relação às ações ou inércia do governo na gestão de risco de desastres como também com relação à
responsabilidade da população neste contexto.
33. As entrevistas selecionadas para este trabalho são relacionadas a três contextos da região do M'Boi Mirim:
1. a ocupação em margens de córregos, mais especificamente o caso do Córrego dos Brancos;
2. as casas em área de risco, com o exemplo da Favela Erundina
3. a ocupação das áreas de mananciais no Jardim Capela.
o Foram entrevistadas três mulheres: Marta, Margarida e Joice (nomes fictícios), que na época das entrevistas
eram lideranças comunitárias nesse território e contribuíram ativamente para os casos citados, respectivamente.
o Para cada uma das entrevistas foi construído um mapa dialógico. Eles contêm apenas os temas relacionados à
responsabilidade do Estado na gestão de riscos de desastres. Os trechos das transcrições sequenciais de cada
entrevista que se desviaram desse foco foram suprimidos dos mapas.
o É importante destacar que cada um deles possui temas diferentes tendo em vista que esta pesquisa não visava
comparar as entrevistas e, embora as entrevistadas se refiram a assuntos parecidos, cada qual fala de um
contexto específico e se posiciona a partir de um lugar específico.
34. MAPA 3 – JOICE (EXEMPLO)
AÇÃO DO PDA AÇÃO DO PODER PÚBLICO INÉRCIA DO PODER PÚBLICO PAPEL DA POPULAÇÃO
TRECHO SUPRIMIDO
JOICE: Então, eu tava fazendo monitoramento,
foi até o dia em que eu passei na casa do
Eduardo. Daí eu to vendo fogo, fogo, daí eu
falei, (nome suprimido)… eu sou muito
curiosa…
Mary Jane: (risos)
JOICE: Porque eu sou coordenadora do ponto
da divisão, eu tenho que ficar ali no
computador, respondendo e-mail, fazendo
relatório né. E nesse dia eu fui pra rua e eu
falei: “Fogo, (nome suprimido)!” Aí ele cortou
pela Tijuá, que foi por uma travessa ali e
saímos onde tava acontecendo. Aí a gente foi
tirar foto.
Aí falaram por que a gente tava tirando foto ao
invés de ajudar.
Mas ajudar como? Aí quando eu cheguei aqui,
comecei a ouvir
o barulho dos tiros,
aí voltei de novo pra lá aí eu já entrei na
comunidade.
Perguntei, aí falaram que tinha alagado, que
tinha subido a água, e que eles tinham tirado as
coisas que se perderam na enchente e
colocado na rua para chamar a atenção das
autoridades. Já que já tinham ligado para a UBS
do Paranapanema
e ninguém fez nada,
ligava para um monte de gente
que não fazia contexto daqui, mas podia
orientar né. Acho que a comunicação não
precisa ser a pessoa especializada, mas poderia
ter orientado e não teria acontecido o que
aconteceu.
35. MAPA 3 – JOICE (EXEMPLO)
AÇÃO DO PDA AÇÃO DO PODER PÚBLICO INÉRCIA DO PODER PÚBLICO PAPEL DA POPULAÇÃO
Aí ali eu já encontrei a (nome suprimido), a
(nome suprimido), as duas nervosas, falando,
falando, aí como eu já tinha o telefone do
subprefeito, do (nome suprimido), liguei pra
ele: “(nome suprimido), tá acontecendo isso,
isso aqui…” Daí já liguei para o (nome
suprimido): “Olha, tá acontecendo isso aqui, o
pessoal quer subir, quer juntar o pessoal da
Palestina, não vai dar certo isso aqui, é
perigoso ter vítimas.”
Aí chegou o subprefeito, o (nome suprimido) na
época, daí a gente correu lá pra a comunidade e
mesmo assim os policiais jogando bomba, com
arma em punho, né, sem saber quem é o
subprefeito, que o (nome suprimido) era da
habitação, eu também, tava de chinelo,
sandália, bermuda, tava muito sol e eu lá
dentro…
MARY JANE: Foi janeiro, né?
JOICE: Dia 23 de janeiro. Aí nós lá dentro e a
polícia, aí comecei a articular as coisas.
Aí foi chegando a Defesa Civil, aí foi chegando o
pessoal, daí 10 e meia da noite chegou o CAPE
(Coordenadoria de Atendimento Permanente e
de Emergência), que não chegava nunca, mas
parece que não teve comunicação,
aí pegou o megafone meia noite e meia
gritando pro povo lá,
aí chega a polícia, os policiais já querendo dar
tiro,
daí eu parei na frente dele
e ele continuou com a arma apontada.
E eu falei não.
36. VIVER EM ÁREAS DE RISCO – UM ESTUDO SOBRE GESTÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA ÓTICA DA MÍDIA
Helena de Souza Oliveira Gonçalves
Relatório Final, Iniciação Científica, PUCSP, 2016
RESUMO
O presente estudo teve como finalidade compreender como é apresentada a noção de responsabilização acerca de desastres de origem
hídrica na cidade de São Paulo em dois jornais de larga escala que circulam na região (Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo). Tendo em
vista que os desastre por excesso de chuva são comuns neste território, é de grande importância analisar como a mídia participa no
processo de sensibilização da população sobre esse tema. Para isso foi necessário compreender que responsabilidades são atribuídas a
quais atores a partir da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), como os desastres são definidos e averiguar de que
maneira isso chega à população paulistana pelos jornais escolhidos. O levantamento das notícias publicadas nestes dois jornais foi feito no
período de fevereiro de 2015 a março de 2016. Foram localizadas 105 notícias (60 na Folha e 45 no Estadão) analisadas como práticas
discursivas utilizando, como ferramenta, os mapas dialógicos. Para a construção dos mapas, a partir da leitura de cada notícia, foram
definidos cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais) e quatro grupos de atores (instâncias
governamentais, órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro, população e "natureza"). De modo a contrastar as
notícias dos dois jornais, foi selecionada uma matéria de cada tema publicada em cada jornal no mesmo dia, tratando, portanto, de um
mesmo evento. Para as matérias escolhidas, foram construídos mapas dialógicos para análise dos repertórios interpretativos utilizados
para falar sobre responsabilização. Os resultados indicam que a chuva e a natureza, em 8 das 10 notícias analisadas, foram
responsabilizadas pelos eventos. As instâncias governamentais foram pouco responsabilizadas, emergindo como fonte de informação para
os jornais ou como responsáveis pela prestação de socorro às vitimas.
37. Procedimentos
A análise incluiu os seguintes procedimentos:
1) análise quantitativa das matérias localizadas nos dois jornais;
2) leitura de todas as matérias em busca dos principais temas que foram foco da notícia;
3) análise comparativa dos textos de cada tema nos dois jornais.
o A análise comparativa foi efetuada a partir das teorizações sobre práticas discursivas desenvolvidas no Núcleo de
Pesquisa coordenado pela orientadora (SPINK, 1999; SPINK, BRIGAGÃO, NASCIMENTO, CORDEIRO, 2014). Foram
construídos mapas dialógicos para identificação dos atores mencionados nas matérias selecionadas a partir dos
quais foram analisados os repertórios utilizados para posicioná-los no evento (como autoridades, vítimas, etc.). A
partir destes repertórios foi analisado o discurso sobre responsabilização por danos e pela própria ocorrência.
o Os mapas dialógicos são uma forma de reorganização do corpo de um texto, por meio de colunas e linhas que
permitem uma melhor visualização do assuntos tratados no texto selecionado. Neste estudo as colunas eram
referentes aos atores presentes e as linhas ao texto escrito pelo jornal. Essa organização propicia uma melhor
compreensão de como a noção da responsabilidade é estruturada na notícia publicada.
38. Temas e atores
• cinco temas-foco (morte, obras, desastres, mobilidade urbana e danos materiais)
• Atores mais mencionados nas matérias: as instâncias governamentais, a natureza (exemplo: chuva), os
órgãos governamentais responsáveis pela prestação de socorro e a população.
Resultados: temas
No Estadão, o tema mais presente foi desastres, seguido de mobilidade urbana. Em contraste, desastres foi o
tema menos abordado nas matérias da Folha, onde os dois principais temas foram danos materiais e obras. As
matérias do Estadão tiveram, na maioria das vezes, mais de um tema presente, o que indica uma maior
diversidade de fatores presentes na mesma notícia.
Além dos cinco temas apresentados na pesquisa, haviam outras matérias que fugiam do tema desastres
hídricos e, por isso, não entraram na nossa classificação para análise. Notícias eventuais que falavam, por
exemplo, sobre o aedes aegypti e ao serem classificadas no tema "outros" não estavam dentro das opções de
escolha para análise.
39. Resultados: responsabilização
Todas as regiões da cidade são afetadas por eventos que provocam algum tipo de dano, desde a
interdição de rua e perda de bens até a morte de pessoas. Os jornais, ao tratarem deste assunto, pouco
abordam as instâncias governamentais e as suas responsabilidades previstas a partir do Politica Nacional
de Proteção e Defesa Civil. Nas poucas notícias em que os jornais apresentaram um caráter de
responsabilização governamental para os eventos ocorridos, não foram pontuadas as obrigações
governamentais de prevenção ou reparação pós-dano necessárias. Também não foi feita em nenhum
momento uma análise sobre a interlocução da Defesa Civil com os outros direitos da população, como a
moradia, saneamento básico, saúde, entre outros, que também são de responsabilidade da União, dos
Estados ou Municípios. Afinal, desastres são fenômenos sociais decorrentes de uma vulnerabilidade
sócio-ambiental.
Há uma responsabilização predominante da natureza em relação aos eventos ocorridos e não se aponta
os direitos e deveres em relação a estas politicas públicas. Por conta disso, as responsabilidades
governamentais não chegam à população que, por sua vez, não utiliza esse repertório interpretativo
41. Descrição do evento Instâncias governamentais Órgãos governamentais
responsáveis pela prestação de
socorro
População “ Natureza”
De acordo com o CGE(Centro
de Gerenciamento de
Emergências), da prefeitura,
as chuvas de sábado (9)
totalizaram 148 milímetros em
apenas três horas na zona leste.
O volume equivale a 57% do
previsto para todo o mês de
janeiro —268 milímetros.
No sábado, moradores
protestaram contra a enchente.
Eles chegaram a queimar um
ônibus ao lado do córrego
Lajeado, no Itaim Paulista.
Nesta segunda (11),o cenário
na região era de limpeza e
reconstrução, ainda sob chuva.
Moradores colocaram para fora
colchões, sofás, camas e outros
objetos destruídos pelos
alagamentos
O material era recolhido por
caminhões da prefeitura.
43. Referências
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