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A formação profissional no século XXI:
                      desafios e dilemas
Edna Lúcia da Silva
Doutora em Ciência da Informação – UFRJ-Eco/CNPQ-Ibict
                                                                     INTRODUÇÃO
Professora do Departamento de Ciência da Informação. Centro de
Ciências da Educação. Universidade Federal de Santa Catarina.        A chegada do século XXI vem marcada com algumas ca-
E-mail: els@newsite.com.br                                           racterísticas: o mundo globalizado e a emergência de uma
                                                                     nova sociedade que se convencionou chamar de socie-
Miriam Vieira da Cunha
Doutora em Ciência da Informação – CNAM, Paris. Professora do        dade do conhecimento. Tal cenário traz inúmeras trans-
Departamento de Ciência da Informação. Centro de Ciências da         formações em todos os setores da vida humana. O pro-
Educação. Universidade Federal de Santa Catarina.                    gresso tecnológico é evidente, e a importância dada à
E-mail: mcunha@unetsul.com.br
                                                                     informação é incontestável. O progresso tecnológico
                                                                     atua, principalmente, como facilitador no processo
Resumo                                                               comunicacional. Agora é possível processar, armazenar,
Reflexão sobre a educação no século XXI com enfoque especial         recuperar e comunicar informação em qualquer forma-
à educação dos bibliotecários. Destaca os quatros pilares            to, sem interferência de fatores como distância, tempo
básicos e essenciais, preconizados pela Unesco, a um novo            ou volume. Para González de Gómez1, “trata-se de uma
conceito de educação: aprender a conhecer, aprender a viver
juntos, aprender a fazer e aprender a ser. Apresenta as              revolução que agrega novas capacidades à inteligência
ponderações elaboradas por Morin , a pedido da Unesco, que           humana e muda o modo de trabalharmos juntos e viver-
poderão melhorar a educação do futuro. Com base em tais              mos juntos”.
fundamentos, discute o papel e a formação do bibliotecário no
século XXI. Declara que os dilemas dos educadores, nesses
novos tempos, estão centrados em três questionamentos: O que         O mundo globalizado da sociedade do conhecimento
ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Pondera que a               trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho.
formação do bibliotecário deverá enfatizar sua função educativa
e que a base deve ser polivalente alicerçada em um conjunto de
                                                                     O conceito de emprego está sendo substituído pelo de
valores que possibilite alterar percepções, maneiras de pensar e     trabalho. A atividade produtiva passa a depender de co-
instaure a cooperação e a sabedoria em detrimento do                 nhecimentos, e o trabalhador deverá ser um sujeito cria-
tecnicismo hoje privilegiado. Conclui que o papel mais
importante do bibliotecário no século XXI parece ainda ser o de      tivo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar
gerenciador da informação.                                           rapidamente às mudanças dessa nova sociedade.
Palavras-chave
                                                                      O diploma passa a não significar necessariamente uma
Educação dos bibliotecários; Profissional da informação.
                                                                     garantia de emprego. A empregabilidade está relaciona-
The professional education in the XXI century:                       da à qualificação pessoal; as competências técnicas de-
challengs and dilemmas                                               verão estar associadas à capacidade de decisão, de adap-
                                                                     tação a novas situações, de comunicação oral e escrita,
Abstract                                                             de trabalho em equipe. O profissional será valorizado
Reflection on education in the 21th century with special             na medida da sua habilidade para estabelecer relações e
attention on librarians’ education. It emphasizes the four basic     de assumir liderança. Para Drucker2, “os principais gru-
points, praised by Unesco, to a new concept of education: to
learn to know, to learn to live together, to learn to do and to      pos sociais da sociedade do conhecimento serão os ‘tra-
learn to be. It presents the points developed by Morin, for          balhadores do conhecimento”’, pessoas capazes de alocar
UNESCO, that will be able to improve the education of the
future. On the bases of such points examine the role of              conhecimentos para incrementar a produtividade e ge-
librarians education in 21th century. The educators’ dilemas in      rar inovação.
these times are centered in three questions: What to teach?
How to teach? and Why to teach? It suggests that the
Librarianship curricula must privilegie librarians’ educative role   Na perspectiva do trabalho na sociedade do conheci-
and that this role must be founded in a set of values in order to    mento, a criatividade e a disposição para capacitação
modify perceptions, and emphasize cooperation in detriment of
technology. The paper concludes that the most important
                                                                     permanente serão requeridas e valorizadas. As
function of librarians in 21th century will be the one of            tecnologias de informação e comunicação estão modifi-
information managers.                                                cando as situações de trabalho, e as máquinas passaram a
Keywords                                                             executar tarefas rotineiras em substituição aos seres hu-
Librarians’ education; Information professionals.                    manos. Neste ambiente de mudanças, “a construção do

 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002                                                                  77
Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha

conhecimento já não é mais produto unilateral de seres          ampliado ou aperfeiçoado por uma pessoa, é aplicado,
humanos isolados, mas de uma vasta colaboração                  ensinado e transmitido por uma pessoa e é usado, bem ou
cognitiva distribuída, da qual participam aprendentes           mal, por uma pessoa. Para ele, a sociedade do conheci-
humanos e sistemas cognitivos artificiais”3. Constata-          mento coloca a pessoa no centro, e isso levanta desafios
se, também, que esse é um processo sem possibilidade de         e questões a respeito de como preparar a pessoa para
reversão. O que fazer? Os seres humanos terão de alterar        atuar neste novo contexto.
suas expectativas de emprego e modificar as suas rela-
ções com o trabalho.                                            Para Delors6, “face aos múltiplos desafios do futuro, a
                                                                educação surge como um trunfo indispensável à huma-
Nesta conjuntura, em que a mudança tecnológica é a              nidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e da
regra, buscar condições para ancorar a preparação do pro-       justiça social. Para ele, só a educação conduzirá “a um
fissional do futuro requer uma estratégia diferenciada.         desenvolvimento humano mais harmonioso, mais au-
Este profissional deverá interagir com máquinas sofisti-        têntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão so-
cadas e inteligentes, será um agente no processo de to-         cial, as incompreensões, as opressões, as guerras...”
mada de decisão. Além disso, o seu valor no mercado
será estimado com base em seu dinamismo, em sua                 Com base nesta visão, a Unesco, por meio de sua Comis-
criatividade e em seu empreendedorismo. Todas esses             são Internacional sobre a Educação para o século XXI,
fatores evidenciam que só a educação será capaz de pre-         presidida por Jacques Delors6, estabelece os quatro pila-
parar as pessoas para enfrentar os desafios dessa nova          res de um novo tipo de educação com enfoque em apren-
sociedade.                                                      der a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e
                                                                aprender a ser.
Além disso, segundo De Masi4, existem alguns valores
emergentes, nesta nova sociedade, que merecem ser le-           Aprender a viver junto é considerado uns dos pilares mais
vados em consideração quando tratamos de formação e             importantes do processo educativo desses novos tem-
educação profissional. Um deles é a intelectualidade (va-       pos. Ressalta a interdependência do mundo moderno e a
lorização das atividades cerebrais em detrimento às ati-        importância das relações. Tudo está interligado e tudo
vidades braçais); outro é a criatividade (tarefas repetitivas   que acontece afetará a todos de uma forma ou de outra. O
e chatas serão feitas pelas máquinas); outro é a estética       que o mundo precisa mais é de compreensão mútua, in-
(o que distingue hoje não é mais a técnica, e sim a estéti-     tercâmbios pacíficos e harmonia. “Trata-se de aprender
ca, o design). Para este autor, ainda, a subjetividade, a       a viver conjuntamente, desenvolvendo o conhecimento
emotividade, a desestruturação e a descontinuidade tam-         dos outros, de sua história, de suas tradições e de sua
bém são valores importantes e, por isso, deverão, tam-          espiritualidade. E, a partir disso, criar um espírito novo
bém, estar na mira dos processos educativos do futuro.          que, graças precisamente a essa percepção de nossas
                                                                interdependências crescentes e a uma análise partilhada
Esta realidade parece apontar para uma educação básica          dos riscos e desafios do futuro, promova a realização de
e polivalente que valorize a cultura geral, a postura pro-      projetos comuns, ou melhor, uma gestão inteligente e
fissional, a ética e a responsabilidade social.                 apaziguadora dos inevitáveis conflitos...”.

Refletir sobre a formação do bibliotecário para atuar no        Aprender a conhecer é um pilar que tem como pano de
cenário do século XXI é o objetivo deste trabalho. Nesta        fundo o prazer de compreender, de conhecer e de desco-
reflexão, merecerão destaque: a educação e o século XXI         brir. Aprender para conhecer supõe aprender para apren-
e a educação dos bibliotecários.                                der, exercitando a atenção, a memória e o pensamento.
                                                                Uma das tarefas mais importantes no processo educa-
A EDUCAÇÃO E O SÉCULO XXI                                       cional, hoje, é ensinar como chegar à informação. Parte
                                                                da consciência de que é impossível estudar tudo, de que o
Na sociedade do conhecimento, os indivíduos são fun-            conhecimento não cessa de progredir e se acumular. En-
damentais. Druker5 alerta que o conhecimento moeda              tão o mais importante é saber conhecer os meios para se
desta nova era não é impessoal como o dinheiro. “Co-            chegar até ele.
nhecimento não reside em um livro, em um banco de
dados, em um programa de software: estes contêm infor-          Aprender a fazer significa que a educação não pode aceitar
mações. O conhecimento está sempre incorporado por              a imposição de opção entre a teoria e a técnica, o saber e
uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é criado,            o fazer. A educação para o novo século tem a obrigação


78                                                                     Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002
A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas

de associar a técnica com a aplicação de conhecimentos           A terceira reflexão defende que a educação do futuro
teóricos.                                                        deverá ser centrada na condição humana. Ensinar a con-
                                                                 dição humana significa situar/questionar nossa posição
Aprender a ser é um pilar que foi preconizado pelo Rela-         no mundo no plano físico, biológico, psíquico, cultural,
tório Edgard Faure, preparado para a Unesco, na década           social e histórico. “Para a educação do futuro, é necessá-
de 70. O mundo atual exige de cada pessoa uma grande             rio promover grande remembramento dos conhecimen-
capacidade de autonomia e uma postura ética. Conside-            tos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a con-
ra-se que os atos e as responsabilidades pessoais interfe-       dição humana no mundo, dos conhecimentos derivados
rem no destino coletivo. Refere-se ao desenvolvimento            das ciências humanas para colocar em evidência a
dos talentos do ser humano: memória, raciocínio, ima-            muldimensionalidade e a complexidade humanas, bem
ginação, capacidades físicas, sentido estético, facilidade       como integrar (na educação do futuro) a contribuição
de comunicação com os outros, carisma natural etc. Con-          inestimável das humanidades, não somente a filosofia e
firma a necessidade de “cada um se conhecer e se com-            a história, mas também a literatura , a poesia, as artes...”.
preender melhor”.
                                                                 Na quarta reflexão, Morin enfatiza que a educação do
A educação no século XXI deverá ser uma educação ao              futuro também deverá estar comprometida em ensinar a
longo da vida. Este conceito permite “ordenar as dife-           “identidade da terra”. É preciso aprender a “estar aqui”,
rentes seqüências de aprendizagem (educação básica, se-          o que significa aprender a viver, a dividir, a comunicar, a
cundária e superior), gerir as transições, diversificar os       comungar nas culturas singulares e, também, aprender a
percursos, valorizando-os”. A educação deverá se preo-           ser, viver, dividir e comunicar-se como ser humano do
cupar com a formação do cidadão, da pessoa em seu sen-           planeta terra. O mundo global necessita de seres humanos
tido amplo, e não somente com a formação profissional.           que tenham “consciência antropológica”, “consciência
                                                                 ecológica”, “consciência cívica terrena” e “consciência
Igualmente importante para o entendimento dos cami-              espiritual da condição humana”.
nhos da educação do futuro é o documento elaborado
por Morin7, a pedido da Unesco. Este autor, neste docu-          Na quinta, Morin enfoca que a educação deve mostrar
mento, apresenta reflexões a respeito de questões funda-         que na atualidade a lógica determinística deve ser subs-
mentais para melhorar a educação no próximo século.              tituída pela lógica da incerteza. Por isso, a educação deve
                                                                 ensinar “princípios de estratégia que permitam enfren-
A primeira ressalta que o conhecimento comporta erros            tar os imprevistos, o inesperado e a incerteza e modificar
e ilusões. A mente humana é sujeita a falhas de memó-            seu desenvolvimento, em virtude das informações ad-
ria, enganos e, por isso, a escola deve preparar a mente         quiridas ao longo do tempo”. Para Morin, “é preciso
humana para conhecer o que é conhecer como forma de              aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio
estar apta para o combate e identificação permanente             a arquipélagos de certeza”.
de erros. Portanto, “é necessário introduzir e desenvol-
ver na educação o estudo das características cerebrais,          Na sexta, Morin afirma que a educação deve “ensinar a
mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus            compreensão”. A educação para a compreensão é funda-
processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas         mental em todos os níveis educativos e em todas as ida-
quanto culturais” com forma de identificar o que leva ao         des. Considera a compreensão mútua fundamental para
erro ou à ilusão.                                                a educação do futuro. Por isso, estudar a incompreensão
                                                                 a partir de suas raízes, suas modalidades e efeitos possibi-
A segunda refere-se ao que Morin chama de “conheci-              litaria a identificação das causas do racismo, da xenofo-
mento pertinente”. Trata da necessidade de promover o            bia, do desprezo e traria uma base mais consistente à
conhecimento capaz de apreender problemas globais e              “educação para a paz”.
fundamentais para neles inserir os conhecimentos par-
ciais e locais”. O conhecimento deve estar voltado para          Finalmente, Morin levanta a questão da “ética do gêne-
apreender os objetos em seu contexto, sua complexida-            ro humano”. A educação do futuro deve conduzir à
de, seu conjunto. Para Morin, é preciso “ensinar os mé-          “antropoética”. A ética, neste sentido, para Morin, tem
todos que permitam estabelecer as relações mútuas e as           três dimensões: uma do indivíduo, uma social e outra da
influências recíprocas entre as partes e o todo em um            espécie. Estas três dimensões estão inter-relacionadas e
mundo complexo”.                                                 deveriam ser vistas de maneira integrada. A antropoética
                                                                 supõe a decisão consciente de “assumir a condição hu-


 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002                                                                 79
Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha

mana indivíduo/sociedade/espécie na complexidade do           Ora, como vimos anteriormente, para ser um ator efeti-
nosso ser; alcançar a humanidade em nós mesmos em             vo na sociedade do conhecimento, cada indivíduo deve
nossa consciência pessoal e assumir o destino humano          aprender a manejar sua riqueza de conhecimento, como
em suas antinomias e plenitude”. A antropoética pres-         gerar novos conhecimentos e como traduzir o conheci-
supõe “trabalhar para a humanização da humanidade;            mento em informação útil para o desenvolvimento da
efetuar a dupla pilotagem do planeta: obedecer à vida,        sociedade de forma a agir e se adaptar a esta realidade.
guiar a vida; alcançar a unidade planetária na diversida-     A era do conhecimento demanda mentes questionadoras
de; respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a       e imaginativas que devem ser cultivadas através de uma
identidade quanto a si mesmo; desenvolver a ética da          educação adequada e com conteúdos pertinentes e con-
solidariedade; desenvolver a ética da compreensão; en-        seqüentes.
sinar a ética do gênero humano”.
                                                              O conceito de sociedade do conhecimento se baseia no
Em resumo, a educação no século XXI estará atrelada ao        crescente reconhecimento do papel que ocupam a aqui-
desenvolvimento da capacidade intelectual dos estudan-        sição, a criação, a assimilação e a disseminação do co-
tes e a princípios éticos, de compreensão e de solidarie-     nhecimento em todas as áreas da sociedade. “A verdade
dade humana. A educação visará a prepará-los para li-         não é dada pronta [...], mas está constantemente em jogo,
dar com mudanças e diversidades tecnológicas, econô-          através de processos abertos e coletivos de pesquisa, de
micas e culturais, equipando-os com qualidades como           construção e de crítica9.
iniciativa, atitude e adaptabilidade. A universidade, neste
contexto, tem seu papel ampliado. A globalização, se-         Ora, para construir e criticar, é necessário buscar infor-
gundo a Unesco8, mostra que o “moderno desenvolvi-            mação, disponibilizar informação, criar e transformar
mento de recursos humanos implica não somente uma             informação. Estas práticas são intimamente ligadas ao
necessidade de perícia em profissionalismo avançado,          fazer dos profissionais da informação e especificamente
mas também de consciência nos assuntos culturais, de          dos bibliotecários.
meio ambiente e social envolvidos”. Para isso, a univer-
sidade deverá reforçar seus papéis no aumento dos valo-       A realidade em que vivemos, dentro de um contexto
res éticos e morais da sociedade e no desenvolvimento         globalizado, exige dos profissionais de todas as áreas me-
do espírito cívico ativo e participativo de seus futuros      lhor desempenho e mais eficiência. Dentro deste con-
graduados. A universidade precisa dar “maior ênfase para      texto, os bibliotecários devem estar preparados de forma
o desenvolvimento pessoal dos estudantes, juntamente          a responder às novas exigências da sociedade do conhe-
com a preparação de sua vida profissional”.                   cimento.

A EDUCAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO: ALGUMAS                          Nesta sociedade onde a utilização eficaz da informação e
REFLEXÕES                                                     do conhecimento tornou-se fundamental, a competên-
                                                              cia destes profissionais tem sido submetida à pressão de
Jamais a evolução da ciência e da técnica foi tão rápida e    novas formas de demanda, conseqüência da necessidade
com tantas conseqüências diretas sobre a vida cotidiana,      de as pessoas e as instituições operarem de forma mais
o trabalho, as formas de comunicação e a relação com o        eficaz em termos de tomada de decisão, de inovação e de
corpo e com o espaço. É no universo do saber e do saber       aquisição de conhecimento.
fazer (o universo das técnicas) que estas mudanças são
mais fortes. Por esta razão, o saber condiciona todas as      De que forma se transmitem estas competências? Como
outras dimensões da vida em sociedade.                        preparar profissionais para lidar com esta nova realida-
                                                              de, para serem atores efetivos nesta nova realidade, para
A quantidade de mensagens em circulação nunca foi tão         interagir nesta nova sociedade?
grande. Entretanto, dispomos de poucos instrumentos
para filtrar a informação pertinente, para estabelecer        O valor e a organização do conhecimento dependem da
comparações, enfim, para nos encontrarmos nos espaços         motivação e dos objetivos de cada indivíduo em um de-
dos fluxos informacionais. A distância entre a quantida-      terminado momento. Somente o exercício em situações
de dos fluxos, das mensagens e as formas tradicionais de      reais dá sentido e valor ao conhecimento.
decisão e de orientação é cada vez maior.




80                                                                   Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002
A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas

Segundo Levy10, “o conhecimento que vive de invenção             Vivemos em um movimento de fragmentação e de dis-
coletiva, de transformação, de interpretação e de troca é        persão que se instala no mundo do trabalho. As mudan-
um dos lugares onde a solidariedade do homem pode ter            ças neste universo em direção a um trabalho mais quali-
mais sentido, transformando-se em um dos laços mais              ficado enfatizam a necessidade de novos modelos de qua-
fortes entre os indivíduos”.                                     lificação profissional.

Parece-nos importante incutir na educação dos biblio-            Que modelos são esses?
tecários o princípio de “conhecimento pertinente”, pre-
conizado por Morin, levando-os a estabelecer relações            No nosso entender, esses modelos devem estar baseados
recíprocas entre as partes e o todo.                             nos princípios enfatizados por Morin sobre a educação
                                                                 do futuro. Neste sentido, a educação dos bibliotecários
Ora, os bibliotecários são levados cada vez mais a parti-        deverá, no século XXI, priorizar a condição humana,
cipar ativamente do fluxo internacional de informações           enfatizando princípios como o “conhecimento pertinen-
por meio da prestação de serviços a usuários virtuais que        te”, o aprender a ser, a comunicar-se e a compreender
podem estar localizados em qualquer local do planeta.            outros indivíduos. É fundamental enfatizar a necessida-
Em contrapartida, estes mesmos profissionais se benefi-          de de articulação do acervo cognitivo com o mundo do
ciam e utilizam serviços provenientes deste fluxo inter-         trabalho em paralelo ao investimento individual em trei-
nacional. É essencial que estes profissionais sejam for-         namento e capacitação.
mados no sentido de compartilhar serviços colaboran-
do, desta forma, em um sistema global de informações.            Os novos perfis profissionais privilegiam a criatividade,
Seu fazer é, portanto, essencialmente um fazer de trocar,        a interatividade, a flexibilidade e o aprendizado contí-
de pôr à disposição informações a partir de um contexto          nuo. Além disso, os novos profissionais devem ser capa-
local – o da instituição e da unidade de informação –            zes de operacionalizar seu conhecimento de modo inte-
para um contexto planetário e deste contexto planetá-            grado às suas aptidões e vivências culturais.
rio para o individual.
                                                                 É necessário enfatizar que o bibliotecário é em sua essên-
Além disso, parece fundamental que a formação destes             cia um mediador, um comunicador, alguém que põe em
profissionais que lidam basicamente com informação e             contato informações com pessoas, pessoas com informa-
conhecimento os leve a adquirir uma consciência de sua           ções.
importância.
                                                                 Uma das questões centrais da sociedade da informação é
A diversidade e o fluxo dos conhecimentos disponíveis            que o objeto de trabalho do homem passa a ser a interação
atualmente são tais que nenhum indivíduo pode possuir            com outros homens. O saber e a comunicação passam a
a totalidade do conhecimento. A inteligência e o pensa-          ocupar a maioria das atividades humanas. Além disso, é
mento estão condenados ao trabalho em comum, à aber-             necessário lembrar que “a informação é um fator intrín-
tura, à transparência, à troca. Como afirma Levy10, “nas         seco a qualquer atividade, fator este que deve ser conhe-
nossas interações com as coisas, desenvolvemos compe-            cido, processado, compreendido e utilizado contribuin-
tências. Nas nossas relações com os signos e com a infor-        do para ampliar de forma segura as atividades humanas”11.
mação, adquirimos conhecimento. Na relação com os
outros, através da iniciação e da transmissão, fazemos           Os bibliotecários, profissionais que privilegiam a infor-
viver o saber. Competência, conhecimento e saber (que            mação no seu fazer cotidiano, têm um papel importante
podem estar relacionados com os mesmos objetos) são              a cumprir na sociedade do conhecimento. Incutir a cons-
três formas complementares da transação cognitiva que            ciência da importância deste papel juntamente com prin-
se confundem todo o tempo. Cada atividade, cada ato de           cípios como ética, solidariedade humana, capacidade
comunicação, cada relação humana implica um aprendi-             crítica e de questionamento pode fazer o diferencial ne-
zado.”                                                           cessário na construção de uma sociedade mais justa e
                                                                 equilibrada.
Ora, trabalho em comum, cooperação, transparência,
troca são, no nosso entender, princípios fundamentais            Esperamos que, com uma educação baseada em princí-
do fazer bibliotecário.                                          pios éticos e solidários, os bibliotecários sejam atores fun-
                                                                 damentais neste processo.



 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002                                                                 81
Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha

CONCLUSÃO                                                     REFERÊNCIAS

                                                              1.   GONZÁLEZ DE GOMEZ, Maria Nélida. A globalização e os
Os dilemas dos educadores do século XXI parecem estar              novos espaços. Informare, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2-3, jan. 1997.
resumidos em três questionamentos: O que ensinar?
                                                              2.   DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. 6. ed. São Paulo :
Como ensinar? Para que ensinar?                                    Pioneira, 1997.
                                                              3.   ASSMANN, Hugo. A metamorfose do aprender na sociedade da
Dertouzos12 alerta que a educação é muito mais que a
                                                                   informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 20, n. 2, p. 7-15,
transferência de conhecimentos de professores para alu-            maio/ago. 2000.
nos. Acender a “chama da vontade de aprender no cora-         4.   DE MASI, Domenico. Competência criativa: o desafio da educa-
ção dos estudantes, dar o exemplo e criar vínculos entre           ção no novo milênio. Disponível em: <http://www.al.rs. gov. .br /
professores e alunos” são fatores essenciais para o suces-         comiss%C3%B5es50/Eventos/              1999/       Palestras/
                                                                   991026_Domenico_De_Masi.htm>. Acesso em: 12 maio 2001.
so do aprendizado. E este é um papel que a tecnologia
não poderá cumprir.                                           5.   DRUCKER, Peter. Sociedade de pós-capitalista. 6. ed. São Paulo :
                                                                   Pioneira, 1997. p. xvi.
Em A cabeça bem-feita, Morin13 defende que o ensino           6.   DELORS, Jacques. (0rg.). Educação: um tesouro a descobrir:
educativo deve buscar não a mera transmissão do saber              relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educa-
                                                                   ção para o século XXI. 4. ed. São Paulo : Cortez, 2000. p. 11, p.19-
acumulado, mas uma cultura que possibilite a compre-               32.
ensão da condição humana e nos ajude a viver, e que
                                                              7.   MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2.
favoreça um modo de pensar aberto e livre. A educação,             ed. São Paulo : Cortez, 2000.
para o autor, deve propiciar a compreensão do contexto,
                                                              8.   UNESCO. Política de mudança e desenvolvimento no ensino superior.
o todo em relação às partes , as partes em relação ao todo.        Rio de Janeiro : Garamond, 1999.
Para ele, o excesso de especialização do saber leva ao en-    9.   LEVY, Pierre. A revolução contemporânea em matéria de comu-
fraquecimento da responsabilidade e da solidariedade.              nicação. Revista Famecos, Porto Alegre, n. 9, dez.1998. Dispo-
Cada um faz a sua parte, e não há consciência da co-               nível em: < http://www.pucrs.br/famecos/levyfinal.html.>. Acesso
                                                                   em: 12 maio 2002.
responsabilidade pelo todo. Ensinar não é distribuir cer-
tezas, mas instigar dúvidas; não é inculcar a aceitação       10. _______. L’inteligence collective: pour une anthropologie du
                                                                  cyberspace. Paris: La Découverte, 1997.
passiva do estabelecido, mas instrumentalizar para a con-
testação; não é formar iguais, mas diferentes, unidos pelo    11. CARVALHO, Isabel Cristina Louzada; KANISKI, Ana Lúcia. A
                                                                  sociedade do conhecimento e o acesso á informação: para que e
respeito e aceitação das próprias diversidades. A educa-          para quem? Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 3, p. 33-39,
ção “pode ajudar a nos tornarmos melhores, se não mais            set./dez.2000.
felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver a   12. DERTOUZOS, Michael. O que será: como a informação transfor-
parte poética de nossas vidas”.                                   mará nossas vidas. São Paulo : Companhia das Letras, 2000.
                                                              13. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: reformar a reforma , reforçar
O papel mais importante do bibliotecário no século XXI            o pensamento. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2000.
parece ainda ser o de gerenciador da informação. A im-
portância dessa tarefa pode ser assim colocada: o gran-
de problema desse século é a superabundância de infor-
mação. Então, se não possuirmos sistemas e estratégias
adequadas de acesso à informação ou estivermos
despreparados para acessá-las, de que servirá tanta infor-
mação? Do que servirá a tecnologia, se a maioria das
pessoas não saberá utilizá-la ou não terá acesso a elas? Os
computadores e os sistemas inteligentes de
processamento de dados podem até assumir parte dessa
tarefa. No entanto, a organização e a manipulação de
toda essa informação requer instruções, e aqui é que o
bibliotecário poderá contribuir. Tal tarefa influenciará
diretamente a vida de todas as pessoas e irá requerer com-
petências de cunho educativo, intelectual, social e
tecnológico.




82                                                                      Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002

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  • 1. A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas Edna Lúcia da Silva Doutora em Ciência da Informação – UFRJ-Eco/CNPQ-Ibict INTRODUÇÃO Professora do Departamento de Ciência da Informação. Centro de Ciências da Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. A chegada do século XXI vem marcada com algumas ca- E-mail: els@newsite.com.br racterísticas: o mundo globalizado e a emergência de uma nova sociedade que se convencionou chamar de socie- Miriam Vieira da Cunha Doutora em Ciência da Informação – CNAM, Paris. Professora do dade do conhecimento. Tal cenário traz inúmeras trans- Departamento de Ciência da Informação. Centro de Ciências da formações em todos os setores da vida humana. O pro- Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. gresso tecnológico é evidente, e a importância dada à E-mail: mcunha@unetsul.com.br informação é incontestável. O progresso tecnológico atua, principalmente, como facilitador no processo Resumo comunicacional. Agora é possível processar, armazenar, Reflexão sobre a educação no século XXI com enfoque especial recuperar e comunicar informação em qualquer forma- à educação dos bibliotecários. Destaca os quatros pilares to, sem interferência de fatores como distância, tempo básicos e essenciais, preconizados pela Unesco, a um novo ou volume. Para González de Gómez1, “trata-se de uma conceito de educação: aprender a conhecer, aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser. Apresenta as revolução que agrega novas capacidades à inteligência ponderações elaboradas por Morin , a pedido da Unesco, que humana e muda o modo de trabalharmos juntos e viver- poderão melhorar a educação do futuro. Com base em tais mos juntos”. fundamentos, discute o papel e a formação do bibliotecário no século XXI. Declara que os dilemas dos educadores, nesses novos tempos, estão centrados em três questionamentos: O que O mundo globalizado da sociedade do conhecimento ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Pondera que a trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho. formação do bibliotecário deverá enfatizar sua função educativa e que a base deve ser polivalente alicerçada em um conjunto de O conceito de emprego está sendo substituído pelo de valores que possibilite alterar percepções, maneiras de pensar e trabalho. A atividade produtiva passa a depender de co- instaure a cooperação e a sabedoria em detrimento do nhecimentos, e o trabalhador deverá ser um sujeito cria- tecnicismo hoje privilegiado. Conclui que o papel mais importante do bibliotecário no século XXI parece ainda ser o de tivo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar gerenciador da informação. rapidamente às mudanças dessa nova sociedade. Palavras-chave O diploma passa a não significar necessariamente uma Educação dos bibliotecários; Profissional da informação. garantia de emprego. A empregabilidade está relaciona- The professional education in the XXI century: da à qualificação pessoal; as competências técnicas de- challengs and dilemmas verão estar associadas à capacidade de decisão, de adap- tação a novas situações, de comunicação oral e escrita, Abstract de trabalho em equipe. O profissional será valorizado Reflection on education in the 21th century with special na medida da sua habilidade para estabelecer relações e attention on librarians’ education. It emphasizes the four basic de assumir liderança. Para Drucker2, “os principais gru- points, praised by Unesco, to a new concept of education: to learn to know, to learn to live together, to learn to do and to pos sociais da sociedade do conhecimento serão os ‘tra- learn to be. It presents the points developed by Morin, for balhadores do conhecimento”’, pessoas capazes de alocar UNESCO, that will be able to improve the education of the future. On the bases of such points examine the role of conhecimentos para incrementar a produtividade e ge- librarians education in 21th century. The educators’ dilemas in rar inovação. these times are centered in three questions: What to teach? How to teach? and Why to teach? It suggests that the Librarianship curricula must privilegie librarians’ educative role Na perspectiva do trabalho na sociedade do conheci- and that this role must be founded in a set of values in order to mento, a criatividade e a disposição para capacitação modify perceptions, and emphasize cooperation in detriment of technology. The paper concludes that the most important permanente serão requeridas e valorizadas. As function of librarians in 21th century will be the one of tecnologias de informação e comunicação estão modifi- information managers. cando as situações de trabalho, e as máquinas passaram a Keywords executar tarefas rotineiras em substituição aos seres hu- Librarians’ education; Information professionals. manos. Neste ambiente de mudanças, “a construção do Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002 77
  • 2. Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha conhecimento já não é mais produto unilateral de seres ampliado ou aperfeiçoado por uma pessoa, é aplicado, humanos isolados, mas de uma vasta colaboração ensinado e transmitido por uma pessoa e é usado, bem ou cognitiva distribuída, da qual participam aprendentes mal, por uma pessoa. Para ele, a sociedade do conheci- humanos e sistemas cognitivos artificiais”3. Constata- mento coloca a pessoa no centro, e isso levanta desafios se, também, que esse é um processo sem possibilidade de e questões a respeito de como preparar a pessoa para reversão. O que fazer? Os seres humanos terão de alterar atuar neste novo contexto. suas expectativas de emprego e modificar as suas rela- ções com o trabalho. Para Delors6, “face aos múltiplos desafios do futuro, a educação surge como um trunfo indispensável à huma- Nesta conjuntura, em que a mudança tecnológica é a nidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e da regra, buscar condições para ancorar a preparação do pro- justiça social. Para ele, só a educação conduzirá “a um fissional do futuro requer uma estratégia diferenciada. desenvolvimento humano mais harmonioso, mais au- Este profissional deverá interagir com máquinas sofisti- têntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão so- cadas e inteligentes, será um agente no processo de to- cial, as incompreensões, as opressões, as guerras...” mada de decisão. Além disso, o seu valor no mercado será estimado com base em seu dinamismo, em sua Com base nesta visão, a Unesco, por meio de sua Comis- criatividade e em seu empreendedorismo. Todas esses são Internacional sobre a Educação para o século XXI, fatores evidenciam que só a educação será capaz de pre- presidida por Jacques Delors6, estabelece os quatro pila- parar as pessoas para enfrentar os desafios dessa nova res de um novo tipo de educação com enfoque em apren- sociedade. der a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser. Além disso, segundo De Masi4, existem alguns valores emergentes, nesta nova sociedade, que merecem ser le- Aprender a viver junto é considerado uns dos pilares mais vados em consideração quando tratamos de formação e importantes do processo educativo desses novos tem- educação profissional. Um deles é a intelectualidade (va- pos. Ressalta a interdependência do mundo moderno e a lorização das atividades cerebrais em detrimento às ati- importância das relações. Tudo está interligado e tudo vidades braçais); outro é a criatividade (tarefas repetitivas que acontece afetará a todos de uma forma ou de outra. O e chatas serão feitas pelas máquinas); outro é a estética que o mundo precisa mais é de compreensão mútua, in- (o que distingue hoje não é mais a técnica, e sim a estéti- tercâmbios pacíficos e harmonia. “Trata-se de aprender ca, o design). Para este autor, ainda, a subjetividade, a a viver conjuntamente, desenvolvendo o conhecimento emotividade, a desestruturação e a descontinuidade tam- dos outros, de sua história, de suas tradições e de sua bém são valores importantes e, por isso, deverão, tam- espiritualidade. E, a partir disso, criar um espírito novo bém, estar na mira dos processos educativos do futuro. que, graças precisamente a essa percepção de nossas interdependências crescentes e a uma análise partilhada Esta realidade parece apontar para uma educação básica dos riscos e desafios do futuro, promova a realização de e polivalente que valorize a cultura geral, a postura pro- projetos comuns, ou melhor, uma gestão inteligente e fissional, a ética e a responsabilidade social. apaziguadora dos inevitáveis conflitos...”. Refletir sobre a formação do bibliotecário para atuar no Aprender a conhecer é um pilar que tem como pano de cenário do século XXI é o objetivo deste trabalho. Nesta fundo o prazer de compreender, de conhecer e de desco- reflexão, merecerão destaque: a educação e o século XXI brir. Aprender para conhecer supõe aprender para apren- e a educação dos bibliotecários. der, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Uma das tarefas mais importantes no processo educa- A EDUCAÇÃO E O SÉCULO XXI cional, hoje, é ensinar como chegar à informação. Parte da consciência de que é impossível estudar tudo, de que o Na sociedade do conhecimento, os indivíduos são fun- conhecimento não cessa de progredir e se acumular. En- damentais. Druker5 alerta que o conhecimento moeda tão o mais importante é saber conhecer os meios para se desta nova era não é impessoal como o dinheiro. “Co- chegar até ele. nhecimento não reside em um livro, em um banco de dados, em um programa de software: estes contêm infor- Aprender a fazer significa que a educação não pode aceitar mações. O conhecimento está sempre incorporado por a imposição de opção entre a teoria e a técnica, o saber e uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é criado, o fazer. A educação para o novo século tem a obrigação 78 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002
  • 3. A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas de associar a técnica com a aplicação de conhecimentos A terceira reflexão defende que a educação do futuro teóricos. deverá ser centrada na condição humana. Ensinar a con- dição humana significa situar/questionar nossa posição Aprender a ser é um pilar que foi preconizado pelo Rela- no mundo no plano físico, biológico, psíquico, cultural, tório Edgard Faure, preparado para a Unesco, na década social e histórico. “Para a educação do futuro, é necessá- de 70. O mundo atual exige de cada pessoa uma grande rio promover grande remembramento dos conhecimen- capacidade de autonomia e uma postura ética. Conside- tos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a con- ra-se que os atos e as responsabilidades pessoais interfe- dição humana no mundo, dos conhecimentos derivados rem no destino coletivo. Refere-se ao desenvolvimento das ciências humanas para colocar em evidência a dos talentos do ser humano: memória, raciocínio, ima- muldimensionalidade e a complexidade humanas, bem ginação, capacidades físicas, sentido estético, facilidade como integrar (na educação do futuro) a contribuição de comunicação com os outros, carisma natural etc. Con- inestimável das humanidades, não somente a filosofia e firma a necessidade de “cada um se conhecer e se com- a história, mas também a literatura , a poesia, as artes...”. preender melhor”. Na quarta reflexão, Morin enfatiza que a educação do A educação no século XXI deverá ser uma educação ao futuro também deverá estar comprometida em ensinar a longo da vida. Este conceito permite “ordenar as dife- “identidade da terra”. É preciso aprender a “estar aqui”, rentes seqüências de aprendizagem (educação básica, se- o que significa aprender a viver, a dividir, a comunicar, a cundária e superior), gerir as transições, diversificar os comungar nas culturas singulares e, também, aprender a percursos, valorizando-os”. A educação deverá se preo- ser, viver, dividir e comunicar-se como ser humano do cupar com a formação do cidadão, da pessoa em seu sen- planeta terra. O mundo global necessita de seres humanos tido amplo, e não somente com a formação profissional. que tenham “consciência antropológica”, “consciência ecológica”, “consciência cívica terrena” e “consciência Igualmente importante para o entendimento dos cami- espiritual da condição humana”. nhos da educação do futuro é o documento elaborado por Morin7, a pedido da Unesco. Este autor, neste docu- Na quinta, Morin enfoca que a educação deve mostrar mento, apresenta reflexões a respeito de questões funda- que na atualidade a lógica determinística deve ser subs- mentais para melhorar a educação no próximo século. tituída pela lógica da incerteza. Por isso, a educação deve ensinar “princípios de estratégia que permitam enfren- A primeira ressalta que o conhecimento comporta erros tar os imprevistos, o inesperado e a incerteza e modificar e ilusões. A mente humana é sujeita a falhas de memó- seu desenvolvimento, em virtude das informações ad- ria, enganos e, por isso, a escola deve preparar a mente quiridas ao longo do tempo”. Para Morin, “é preciso humana para conhecer o que é conhecer como forma de aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio estar apta para o combate e identificação permanente a arquipélagos de certeza”. de erros. Portanto, “é necessário introduzir e desenvol- ver na educação o estudo das características cerebrais, Na sexta, Morin afirma que a educação deve “ensinar a mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus compreensão”. A educação para a compreensão é funda- processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas mental em todos os níveis educativos e em todas as ida- quanto culturais” com forma de identificar o que leva ao des. Considera a compreensão mútua fundamental para erro ou à ilusão. a educação do futuro. Por isso, estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e efeitos possibi- A segunda refere-se ao que Morin chama de “conheci- litaria a identificação das causas do racismo, da xenofo- mento pertinente”. Trata da necessidade de promover o bia, do desprezo e traria uma base mais consistente à conhecimento capaz de apreender problemas globais e “educação para a paz”. fundamentais para neles inserir os conhecimentos par- ciais e locais”. O conhecimento deve estar voltado para Finalmente, Morin levanta a questão da “ética do gêne- apreender os objetos em seu contexto, sua complexida- ro humano”. A educação do futuro deve conduzir à de, seu conjunto. Para Morin, é preciso “ensinar os mé- “antropoética”. A ética, neste sentido, para Morin, tem todos que permitam estabelecer as relações mútuas e as três dimensões: uma do indivíduo, uma social e outra da influências recíprocas entre as partes e o todo em um espécie. Estas três dimensões estão inter-relacionadas e mundo complexo”. deveriam ser vistas de maneira integrada. A antropoética supõe a decisão consciente de “assumir a condição hu- Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002 79
  • 4. Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha mana indivíduo/sociedade/espécie na complexidade do Ora, como vimos anteriormente, para ser um ator efeti- nosso ser; alcançar a humanidade em nós mesmos em vo na sociedade do conhecimento, cada indivíduo deve nossa consciência pessoal e assumir o destino humano aprender a manejar sua riqueza de conhecimento, como em suas antinomias e plenitude”. A antropoética pres- gerar novos conhecimentos e como traduzir o conheci- supõe “trabalhar para a humanização da humanidade; mento em informação útil para o desenvolvimento da efetuar a dupla pilotagem do planeta: obedecer à vida, sociedade de forma a agir e se adaptar a esta realidade. guiar a vida; alcançar a unidade planetária na diversida- A era do conhecimento demanda mentes questionadoras de; respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a e imaginativas que devem ser cultivadas através de uma identidade quanto a si mesmo; desenvolver a ética da educação adequada e com conteúdos pertinentes e con- solidariedade; desenvolver a ética da compreensão; en- seqüentes. sinar a ética do gênero humano”. O conceito de sociedade do conhecimento se baseia no Em resumo, a educação no século XXI estará atrelada ao crescente reconhecimento do papel que ocupam a aqui- desenvolvimento da capacidade intelectual dos estudan- sição, a criação, a assimilação e a disseminação do co- tes e a princípios éticos, de compreensão e de solidarie- nhecimento em todas as áreas da sociedade. “A verdade dade humana. A educação visará a prepará-los para li- não é dada pronta [...], mas está constantemente em jogo, dar com mudanças e diversidades tecnológicas, econô- através de processos abertos e coletivos de pesquisa, de micas e culturais, equipando-os com qualidades como construção e de crítica9. iniciativa, atitude e adaptabilidade. A universidade, neste contexto, tem seu papel ampliado. A globalização, se- Ora, para construir e criticar, é necessário buscar infor- gundo a Unesco8, mostra que o “moderno desenvolvi- mação, disponibilizar informação, criar e transformar mento de recursos humanos implica não somente uma informação. Estas práticas são intimamente ligadas ao necessidade de perícia em profissionalismo avançado, fazer dos profissionais da informação e especificamente mas também de consciência nos assuntos culturais, de dos bibliotecários. meio ambiente e social envolvidos”. Para isso, a univer- sidade deverá reforçar seus papéis no aumento dos valo- A realidade em que vivemos, dentro de um contexto res éticos e morais da sociedade e no desenvolvimento globalizado, exige dos profissionais de todas as áreas me- do espírito cívico ativo e participativo de seus futuros lhor desempenho e mais eficiência. Dentro deste con- graduados. A universidade precisa dar “maior ênfase para texto, os bibliotecários devem estar preparados de forma o desenvolvimento pessoal dos estudantes, juntamente a responder às novas exigências da sociedade do conhe- com a preparação de sua vida profissional”. cimento. A EDUCAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO: ALGUMAS Nesta sociedade onde a utilização eficaz da informação e REFLEXÕES do conhecimento tornou-se fundamental, a competên- cia destes profissionais tem sido submetida à pressão de Jamais a evolução da ciência e da técnica foi tão rápida e novas formas de demanda, conseqüência da necessidade com tantas conseqüências diretas sobre a vida cotidiana, de as pessoas e as instituições operarem de forma mais o trabalho, as formas de comunicação e a relação com o eficaz em termos de tomada de decisão, de inovação e de corpo e com o espaço. É no universo do saber e do saber aquisição de conhecimento. fazer (o universo das técnicas) que estas mudanças são mais fortes. Por esta razão, o saber condiciona todas as De que forma se transmitem estas competências? Como outras dimensões da vida em sociedade. preparar profissionais para lidar com esta nova realida- de, para serem atores efetivos nesta nova realidade, para A quantidade de mensagens em circulação nunca foi tão interagir nesta nova sociedade? grande. Entretanto, dispomos de poucos instrumentos para filtrar a informação pertinente, para estabelecer O valor e a organização do conhecimento dependem da comparações, enfim, para nos encontrarmos nos espaços motivação e dos objetivos de cada indivíduo em um de- dos fluxos informacionais. A distância entre a quantida- terminado momento. Somente o exercício em situações de dos fluxos, das mensagens e as formas tradicionais de reais dá sentido e valor ao conhecimento. decisão e de orientação é cada vez maior. 80 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002
  • 5. A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas Segundo Levy10, “o conhecimento que vive de invenção Vivemos em um movimento de fragmentação e de dis- coletiva, de transformação, de interpretação e de troca é persão que se instala no mundo do trabalho. As mudan- um dos lugares onde a solidariedade do homem pode ter ças neste universo em direção a um trabalho mais quali- mais sentido, transformando-se em um dos laços mais ficado enfatizam a necessidade de novos modelos de qua- fortes entre os indivíduos”. lificação profissional. Parece-nos importante incutir na educação dos biblio- Que modelos são esses? tecários o princípio de “conhecimento pertinente”, pre- conizado por Morin, levando-os a estabelecer relações No nosso entender, esses modelos devem estar baseados recíprocas entre as partes e o todo. nos princípios enfatizados por Morin sobre a educação do futuro. Neste sentido, a educação dos bibliotecários Ora, os bibliotecários são levados cada vez mais a parti- deverá, no século XXI, priorizar a condição humana, cipar ativamente do fluxo internacional de informações enfatizando princípios como o “conhecimento pertinen- por meio da prestação de serviços a usuários virtuais que te”, o aprender a ser, a comunicar-se e a compreender podem estar localizados em qualquer local do planeta. outros indivíduos. É fundamental enfatizar a necessida- Em contrapartida, estes mesmos profissionais se benefi- de de articulação do acervo cognitivo com o mundo do ciam e utilizam serviços provenientes deste fluxo inter- trabalho em paralelo ao investimento individual em trei- nacional. É essencial que estes profissionais sejam for- namento e capacitação. mados no sentido de compartilhar serviços colaboran- do, desta forma, em um sistema global de informações. Os novos perfis profissionais privilegiam a criatividade, Seu fazer é, portanto, essencialmente um fazer de trocar, a interatividade, a flexibilidade e o aprendizado contí- de pôr à disposição informações a partir de um contexto nuo. Além disso, os novos profissionais devem ser capa- local – o da instituição e da unidade de informação – zes de operacionalizar seu conhecimento de modo inte- para um contexto planetário e deste contexto planetá- grado às suas aptidões e vivências culturais. rio para o individual. É necessário enfatizar que o bibliotecário é em sua essên- Além disso, parece fundamental que a formação destes cia um mediador, um comunicador, alguém que põe em profissionais que lidam basicamente com informação e contato informações com pessoas, pessoas com informa- conhecimento os leve a adquirir uma consciência de sua ções. importância. Uma das questões centrais da sociedade da informação é A diversidade e o fluxo dos conhecimentos disponíveis que o objeto de trabalho do homem passa a ser a interação atualmente são tais que nenhum indivíduo pode possuir com outros homens. O saber e a comunicação passam a a totalidade do conhecimento. A inteligência e o pensa- ocupar a maioria das atividades humanas. Além disso, é mento estão condenados ao trabalho em comum, à aber- necessário lembrar que “a informação é um fator intrín- tura, à transparência, à troca. Como afirma Levy10, “nas seco a qualquer atividade, fator este que deve ser conhe- nossas interações com as coisas, desenvolvemos compe- cido, processado, compreendido e utilizado contribuin- tências. Nas nossas relações com os signos e com a infor- do para ampliar de forma segura as atividades humanas”11. mação, adquirimos conhecimento. Na relação com os outros, através da iniciação e da transmissão, fazemos Os bibliotecários, profissionais que privilegiam a infor- viver o saber. Competência, conhecimento e saber (que mação no seu fazer cotidiano, têm um papel importante podem estar relacionados com os mesmos objetos) são a cumprir na sociedade do conhecimento. Incutir a cons- três formas complementares da transação cognitiva que ciência da importância deste papel juntamente com prin- se confundem todo o tempo. Cada atividade, cada ato de cípios como ética, solidariedade humana, capacidade comunicação, cada relação humana implica um aprendi- crítica e de questionamento pode fazer o diferencial ne- zado.” cessário na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. Ora, trabalho em comum, cooperação, transparência, troca são, no nosso entender, princípios fundamentais Esperamos que, com uma educação baseada em princí- do fazer bibliotecário. pios éticos e solidários, os bibliotecários sejam atores fun- damentais neste processo. Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002 81
  • 6. Edna Lúcia da Silva / Miriam Vieira da Cunha CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 1. GONZÁLEZ DE GOMEZ, Maria Nélida. A globalização e os Os dilemas dos educadores do século XXI parecem estar novos espaços. Informare, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2-3, jan. 1997. resumidos em três questionamentos: O que ensinar? 2. DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. 6. ed. São Paulo : Como ensinar? Para que ensinar? Pioneira, 1997. 3. ASSMANN, Hugo. A metamorfose do aprender na sociedade da Dertouzos12 alerta que a educação é muito mais que a informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 20, n. 2, p. 7-15, transferência de conhecimentos de professores para alu- maio/ago. 2000. nos. Acender a “chama da vontade de aprender no cora- 4. DE MASI, Domenico. Competência criativa: o desafio da educa- ção dos estudantes, dar o exemplo e criar vínculos entre ção no novo milênio. Disponível em: <http://www.al.rs. gov. .br / professores e alunos” são fatores essenciais para o suces- comiss%C3%B5es50/Eventos/ 1999/ Palestras/ 991026_Domenico_De_Masi.htm>. Acesso em: 12 maio 2001. so do aprendizado. E este é um papel que a tecnologia não poderá cumprir. 5. DRUCKER, Peter. Sociedade de pós-capitalista. 6. ed. São Paulo : Pioneira, 1997. p. xvi. Em A cabeça bem-feita, Morin13 defende que o ensino 6. DELORS, Jacques. (0rg.). Educação: um tesouro a descobrir: educativo deve buscar não a mera transmissão do saber relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educa- ção para o século XXI. 4. ed. São Paulo : Cortez, 2000. p. 11, p.19- acumulado, mas uma cultura que possibilite a compre- 32. ensão da condição humana e nos ajude a viver, e que 7. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. favoreça um modo de pensar aberto e livre. A educação, ed. São Paulo : Cortez, 2000. para o autor, deve propiciar a compreensão do contexto, 8. UNESCO. Política de mudança e desenvolvimento no ensino superior. o todo em relação às partes , as partes em relação ao todo. Rio de Janeiro : Garamond, 1999. Para ele, o excesso de especialização do saber leva ao en- 9. LEVY, Pierre. A revolução contemporânea em matéria de comu- fraquecimento da responsabilidade e da solidariedade. nicação. Revista Famecos, Porto Alegre, n. 9, dez.1998. Dispo- Cada um faz a sua parte, e não há consciência da co- nível em: < http://www.pucrs.br/famecos/levyfinal.html.>. Acesso em: 12 maio 2002. responsabilidade pelo todo. Ensinar não é distribuir cer- tezas, mas instigar dúvidas; não é inculcar a aceitação 10. _______. L’inteligence collective: pour une anthropologie du cyberspace. Paris: La Découverte, 1997. passiva do estabelecido, mas instrumentalizar para a con- testação; não é formar iguais, mas diferentes, unidos pelo 11. CARVALHO, Isabel Cristina Louzada; KANISKI, Ana Lúcia. A sociedade do conhecimento e o acesso á informação: para que e respeito e aceitação das próprias diversidades. A educa- para quem? Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 3, p. 33-39, ção “pode ajudar a nos tornarmos melhores, se não mais set./dez.2000. felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver a 12. DERTOUZOS, Michael. O que será: como a informação transfor- parte poética de nossas vidas”. mará nossas vidas. São Paulo : Companhia das Letras, 2000. 13. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: reformar a reforma , reforçar O papel mais importante do bibliotecário no século XXI o pensamento. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2000. parece ainda ser o de gerenciador da informação. A im- portância dessa tarefa pode ser assim colocada: o gran- de problema desse século é a superabundância de infor- mação. Então, se não possuirmos sistemas e estratégias adequadas de acesso à informação ou estivermos despreparados para acessá-las, de que servirá tanta infor- mação? Do que servirá a tecnologia, se a maioria das pessoas não saberá utilizá-la ou não terá acesso a elas? Os computadores e os sistemas inteligentes de processamento de dados podem até assumir parte dessa tarefa. No entanto, a organização e a manipulação de toda essa informação requer instruções, e aqui é que o bibliotecário poderá contribuir. Tal tarefa influenciará diretamente a vida de todas as pessoas e irá requerer com- petências de cunho educativo, intelectual, social e tecnológico. 82 Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, p. 77-82, set./dez. 2002