1. Rev Med (São Paulo). 2012;91(ed. esp.):54-5.
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Mario Augusto Taricco
A Neurocirurgia tem como peculiaridade a complexidade da especialidade exigindo alta tecnologia e costuma ser um trabalho em equipe.
Para se tornar especialista em Neurocirurgia é necessário fazer a residência médica em Neurocirurgia que tem duração de 5 anos.
Os locais para fazer a residência médica em Neurocirurgia são oficializados pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e, ou pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). São 54 serviços credenciados até o momento, sendo somente um, em Recife, localizado no Nordeste. Todos os demais estão na região sudeste e sul do país. Esse fato explica o grande número de candidatos que vem para a região sul e sudeste do Brasil para prestar as provas para residência.
Como já dissemos a residência médica em Neurocirurgia tem duração de 5 anos, sendo o primeiro ano dedicado a Neuroanatomia, Neurofisiologia, Neurologia clínica e Intensivismo em Neurologia. Os residentes são submetidos a provas anuais, que são realizadas em todo o pais, no mesmo dia e mesmo horários, que é na primeira sexta feira do mês de dezembro às 14:00 h. A nota mínima é seis, e o aluno reprovado tem a oportunidade de prestar outra prova no meio do outro ano. Após os cinco anos de residência, se foi aprovado nas provas anteriores, realizará uma prova teórica e oral final.
Os colegas que realizaram residência em outro país, terão que apresentar documentação que comprove a semelhança do programa que realizou e terá que prestar a prova teórica e oral.
Na Disciplina de Neurocirurgia da FMUSP, são seis vagas por ano, desde 2011. Os residentes são submetidos a provas trimestrais, com nota mínima de sete. No caso de não aprovado tem a oportunidade de prestar nova prova de recuperação. Caso não consiga aprovação na segunda tentativa é desligado da Disciplina.
Pelas características da própria especialidade a residência é bastante desgastante, tanto fisicamente como emocionalmente, devido ao quadro clínico dos pacientes que exige condutas rápidas e precisas.
Ao terminar a residência as opções são em dar plantões em Serviços de emergência, geralmente em Hospitais públicos, e ser convidado a participar de alguma equipe já formada. Devido à complexidade da especialidade, ela tem suas sub-especialidades exigindo uma dedicação maior do profissional, com a realização de novos cursos e atualização permanente.
Avaliando o que foi colocado pode parecer que não haverá campo profissional, mas o que se nota todos os anos é que os residentes formados pela Disciplina de Neurocirurgia da FMUSP sempre tem uma colocação no mercado de trabalho.
E dependendo da sua vida profissional conquistará seu espaço e ter sucesso profissional.
Economicamente podemos afirmar que a Neurocirurgia é semelhante às outras especialidades médicas, exigindo uma dedicação muito grande.
O fundamental é gostar da especialidade. E para ter uma apreciação como aluno, sugerimos que frequentem a Liga de Neurocirurgia para um conhecimento melhor da especialidade.
Graduado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina - 1974, Residência Médica em Neuropsiquiatria e Neurocirurgia pelo HC- FMUSP, Doutorado e Livre-docência pela FMUSP, Prof. Doutor do Departamento de Neurologia da FMUSP. Membro da equipe DFVNeuro das Sociedades Brasileira de Neurocirurgia, American Spine Injury Association, North American Spine Society, Sociedade Brasileira de Estudos da Lesão Medular, American Association Neurological Surgeons, World Federation of Neurosurgical Societies e Sociedade Brasileira de Patologia da Coluna Vertebral.
Especialidades Médicas - Neurocirurgia
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Rev Med (São Paulo). 2012;91(ed. esp.):54-5.
Desafios no Início da Carreira de um Neurocirurgião
Bernardo Assumpção de Monaco
Neurocirurgião. Médico Preceptor da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A fama da residência médica em neurocirurgia ser muito difícil é verdadeira! Existe a necessidade de grande dedicação aos pacientes, aos estudos, à anatomia neurológica e funcional, exame físico específico, desenvolvilmento de raciocínio clínico direcionado aos diagnósticos topográfico, etiológico, nosológico; treino de habilidades cirúrgicas, capacidade de decisão sob pressão emocional, entre outras. Um breve descuido pode acarretar conseqüências catastróficas para o paciente.
A melhor conduta a ser tomada pelo neurocirurgião muitas vezes não leva à cura, mas sim, proporciona aumento de sobrevida com melhor qualidade de vida e conforto. Não gerar seqüelas é uma missão. Doentes muito graves fazem parte do cotidiano do neurocirurgião, assim como examinar doentes em morte encefálica. Um paciente completamente normal pode se transformar em um paciente moribundo em segundos, seja por rotura de um aneurisma cerebral ou por acidente com lesão encefálica e/ou medular entre outras.
A grande abrangência da neurocirurgia permite a sub-especialização ou ênfase em diversas áreas, como: microcirurgia (oncologia, vascular, base de crânio), exames de imagem, neuronavegação, radiologia intervencionista, Doppler transcraniano, cirurgia funcional, estereotaxia, cirurgia de coluna, hidrodinâmica, trauma, cirurgia minimamente invasiva, endoscopia cerebral, eletrofisiologia, tratamento da dor, neurointensivismo, neuroendocrinologia, etc..
A tecnologia está presente na neurocirurgia em métodos de diagnóstico e tratamento das lesões neurológicas. Um exemplo é a interface cérebro- máquina, onde computadores podem desempenhar funções neurológicas perdidas, seja comandando um cursor de computador através do pensamento ou movendo um braço mecânico. Outros exemplos são implantes de eletródios cerebrais profundos acoplados a geradores elétricos que tem capacidade de estimular ou inibir funções cerebrais entre outros implantes complexos utilizados nas diversas áreas da neurocirurgia.
Para um neurocirurgião recém-formado existem ainda novos desafios. Cinco anos de residência dão autonomia para seguir seu curso por conta própria. É cada vez mais rara a figura de um neurocirurgião geral. A formação em neurocirurgia pelo HCFMUSP é considerada a mais completa do país, com alto número de cirurgias realizadas sob supervisão, dando experiência para resolução dos principais problemas neurocirúrgicos incidentes e prevalentes na população, além de formação para desenvolvimento e condução de pesquisas científicas.
Considero a neurocirurgia fascinante. Dediquei e dedico grande parte da minha vida ao estudo e trabalho (grande parte mesmo!), mas consegui a difícil tarefa de conciliar com a família e amigos, fundamental para se manter a integridade psicológica e permitir a continuidade do bom exercício da medicina e não só da neurocirurgia.