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      Caros colegas,


      Hoje, nesta sala, faz-se história.
      Lado a lado, nos últimos meses, caminharam duas Universidades centenárias,
rumo a um sonho: a criação da maior e melhor Universidade de Portugal.
      Os obstáculos não se fizeram esperar: num país onde impera a perniciosidade
das quintinhas privadas, são muitos os incomodados. E porque a progressão, a
evolução, retira sempre espaço aos medíocres, restam estes, solitários, nas bancadas
do descontentamento. Porque a mudança só agrada a quem é livre. E as
Universidades de que fazemos parte provaram, com este processo, que apesar das
grilhetas económicas que nos acorrentam, ainda somos um país de homens livres.


      E assim se fez o sonho. Vergílio Ferreira escreveu: “Há o desejo, que não tem
limite, e há o que se alcança, que o tem. A felicidade consiste em fazer coincidir os
dois.” Hoje, estou profundamente feliz por poder assistir, de tão perto, ao maior
projecto educativo português das últimas décadas. Graças aos que sonharam e
persistiram, seremos orgulhosos estudantes da maior Universidade do País, que
representará o passado brilhante das instituições que lhe deram origem e empunhará
o Conhecimento e a Ciência como os verdadeiros fachos de luz na escuridão dos dias.
Aos que dividem para reinar, deixam as Universidades uma mensagem clara
de que o Ensino, como a Democracia, não se faz uns contra os outros, mas todos
juntos, no respeito pelas diferenças. Foi essa a filosofia que presidiu à Fusão e será
essa a filosofia a prevalecer nas relações entre estudantes, professores e funcionários.


      A responsabilidade dos estudantes é, aqui, tremenda. Seremos nós a decidir se
queremos ter uma Universidade ou se preferimos ter 18 Escolas, 18 fragmentos, 18
quintais.
      Eu, que odeio muros com o mesmo fervor com que odeio quintais, não acredito
que nos perderemos a construí-los. As vozes estudantis mais fortes do país nunca são
vozes singulares. Há que dar a esta Universidade uma identidade, uma filosofia, uma
marca e lutarei com todas as forças para que essas sejam de União entre estudantes.
      Nem outra coisa poderia deixar de ser. Que sentido faz, sucedendo-se
impreterivelmente as gerações de estudantes, semear a fragilidade dos isolamentos e
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Português. Deixemos a nossa marca nessa revolução, unindo onde outrora estivemos
separados. Vamos legar à nova Universidade um espírito estudantil comum. No
contexto actual, estarmos separados é sermos fracos; é estarmos permeáveis; é
desistirmos.
      E enfrentamos hoje enormes desafios. A nossa geração encontra-se no limbo de
uma era cujo fim anunciado se vê agora iminente. Discutem-se as Reformas do
Estado. Põe-se em causa a Constituição.
      Estão à porta remodelações profundas do Portugal que conhecemos.
      Nestas alturas determinantes, os estudantes estiveram sempre na linha da
frente. Pela força do protesto, pela bondade dos motivos, os estudantes escreveram
páginas na história deste país.
      Quem nos governa acredita que os últimos anos nos tiraram a arrogância, a
rebeldia, a firmeza, os ideais. Acham-nos preguiçosos, mal preparados. Brindam-nos
com paternalismos eloquentes e fingem que nos ouvem.
Não acreditam que os estudantes sejam já capazes de se mobilizar por grandes
causas.
       Deixam que o desemprego jovem chegue aos 40 % porque acreditam que não
nos revoltaremos.
       Incentivam-nos a ir para fora porque, dizem, estamos acomodados. Estamos
letárgicos.
       Cortam nos apoios sociais porque nos acham conformistas. Acham que nos
formataram. Que nos corromperam. Que nos quebraram.
       Vivemos no poema de Sophia, “Esta é a noite/Densa de chacais/Pesada de
amargura/ Este é o tempo em que os homens renunciam. “
       Mas nós continuamos aqui. Os estudantes, enquanto consciência viva, terão
sempre as características que os fizeram fortes. Não renunciam face aos chacais nem
renunciarão face aos orçamentos.


       “Porque há sempre uma candeia /
       dentro da própria desgraça /
       há sempre alguém que semeia /
       canções no vento que passa.
       Mesmo na noite mais triste /
       em tempo de servidão /
       há sempre alguém que resiste /
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       Unidos, seremos nós.

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Discurso cerimónia de abertura do ano académico

  • 1. Os Magníficos Reitores, Exmos. Presidentes e Membros dos Conselhos Gerais das Universidades Exmos. Membros dos Senados Senhores Administradores das Universidades Senhores Administradores dos Serviços de Acção Social Ilustríssimos Convidados Caros colegas, Hoje, nesta sala, faz-se história. Lado a lado, nos últimos meses, caminharam duas Universidades centenárias, rumo a um sonho: a criação da maior e melhor Universidade de Portugal. Os obstáculos não se fizeram esperar: num país onde impera a perniciosidade das quintinhas privadas, são muitos os incomodados. E porque a progressão, a evolução, retira sempre espaço aos medíocres, restam estes, solitários, nas bancadas do descontentamento. Porque a mudança só agrada a quem é livre. E as Universidades de que fazemos parte provaram, com este processo, que apesar das grilhetas económicas que nos acorrentam, ainda somos um país de homens livres. E assim se fez o sonho. Vergílio Ferreira escreveu: “Há o desejo, que não tem limite, e há o que se alcança, que o tem. A felicidade consiste em fazer coincidir os dois.” Hoje, estou profundamente feliz por poder assistir, de tão perto, ao maior projecto educativo português das últimas décadas. Graças aos que sonharam e persistiram, seremos orgulhosos estudantes da maior Universidade do País, que representará o passado brilhante das instituições que lhe deram origem e empunhará o Conhecimento e a Ciência como os verdadeiros fachos de luz na escuridão dos dias.
  • 2. Aos que dividem para reinar, deixam as Universidades uma mensagem clara de que o Ensino, como a Democracia, não se faz uns contra os outros, mas todos juntos, no respeito pelas diferenças. Foi essa a filosofia que presidiu à Fusão e será essa a filosofia a prevalecer nas relações entre estudantes, professores e funcionários. A responsabilidade dos estudantes é, aqui, tremenda. Seremos nós a decidir se queremos ter uma Universidade ou se preferimos ter 18 Escolas, 18 fragmentos, 18 quintais. Eu, que odeio muros com o mesmo fervor com que odeio quintais, não acredito que nos perderemos a construí-los. As vozes estudantis mais fortes do país nunca são vozes singulares. Há que dar a esta Universidade uma identidade, uma filosofia, uma marca e lutarei com todas as forças para que essas sejam de União entre estudantes. Nem outra coisa poderia deixar de ser. Que sentido faz, sucedendo-se impreterivelmente as gerações de estudantes, semear a fragilidade dos isolamentos e depois sair, legando aos vindouros uma Universidade partida. Somos contemporâneos de uma revolução no Ensino Superior Público Português. Deixemos a nossa marca nessa revolução, unindo onde outrora estivemos separados. Vamos legar à nova Universidade um espírito estudantil comum. No contexto actual, estarmos separados é sermos fracos; é estarmos permeáveis; é desistirmos. E enfrentamos hoje enormes desafios. A nossa geração encontra-se no limbo de uma era cujo fim anunciado se vê agora iminente. Discutem-se as Reformas do Estado. Põe-se em causa a Constituição. Estão à porta remodelações profundas do Portugal que conhecemos. Nestas alturas determinantes, os estudantes estiveram sempre na linha da frente. Pela força do protesto, pela bondade dos motivos, os estudantes escreveram páginas na história deste país. Quem nos governa acredita que os últimos anos nos tiraram a arrogância, a rebeldia, a firmeza, os ideais. Acham-nos preguiçosos, mal preparados. Brindam-nos com paternalismos eloquentes e fingem que nos ouvem.
  • 3. Não acreditam que os estudantes sejam já capazes de se mobilizar por grandes causas. Deixam que o desemprego jovem chegue aos 40 % porque acreditam que não nos revoltaremos. Incentivam-nos a ir para fora porque, dizem, estamos acomodados. Estamos letárgicos. Cortam nos apoios sociais porque nos acham conformistas. Acham que nos formataram. Que nos corromperam. Que nos quebraram. Vivemos no poema de Sophia, “Esta é a noite/Densa de chacais/Pesada de amargura/ Este é o tempo em que os homens renunciam. “ Mas nós continuamos aqui. Os estudantes, enquanto consciência viva, terão sempre as características que os fizeram fortes. Não renunciam face aos chacais nem renunciarão face aos orçamentos. “Porque há sempre uma candeia / dentro da própria desgraça / há sempre alguém que semeia / canções no vento que passa. Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não.” Unidos, seremos nós.