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Fundação Procafé
Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400
35 – 3214 1411
www.fundacaoprocafe.com.br
PALHA DE CAFÉ DEVE SER APLICADA, NÃO AMONTOADA
J.B. Matiello – Eng Agr Fundação Procafé e Hugo Siqueira- Eng Agr FAERJ/SENAR-RJ
Palha de café amontoada, seja próximo à instalação de beneficiamento, seja junto a
carreadores na lavoura, é uma forma errada de manejo dessa importante fonte de adubação para
os cafezais. Ela, o quanto antes possível, deve ser aplicada, junto aos cafeeiros, para ser bem
aproveitada.
Nas propriedades cafeeiras a palha de café é o principal adubo orgânico produzido, sendo
o mais econômico para retornar à lavoura, como fonte nutricional, com liberação lenta de
nutrientes e, ainda, melhorando física e biologicamente o solo. Já dentro da propriedade, ela não
exige gastos maiores com transporte. Sua quantidade é relativamente elevada, correspondendo ao
mesmo peso do café (grãos) produzido. Cada 100 sacas de café comercializadas, deixam na
propriedade cerca de 6000 kg de palha.
A palha de café comum, de frutos em coco secos, a mais produzida, contem cerca de 1,5
% de N, 0,15% de P e 3,0 % de K, alem de cálcio, magnésio, enxofre e micro-nutrientes. Seu
retorno pra lavoura representa cerca de 35 % dos nutrientes retirados pela produção, com
economia na adubação química suplementar e com a vantagem, conforme já dito, da liberação
lenta dos nutrientes.
O melhor manejo da palha é aquele onde, assim que o café vai sendo beneficiado, a palha
vai para a lavoura e lá é distribuída, rapidamente, junto aos cafeeiros. Quando isso não for
possível, o monte de palha deve ser protegido, com algum tipo de cobertura, para não tomar
chuva, pois a água lava e retira boa parte do potássio existente na palha. Quando molhada,
também ela começa a fermentar e pode atingir elevadas temperaturas, podendo, até, pegar fogo.
Da mesma forma, quando vai para o campo, sendo depositada, em montes, junto aos
carreadores, ela deve ser imediatamente distribuída, pois ali, também, pode perder os nutrientes, e
o chorume dela saído, um líquido de cor escura, chega a matar plantas de café que ficam próximas
aos montes.
Na lavoura a palha deve ser aplicada em cobertura, não precisando de enterrio, como
muitos pensam. Sobre o solo ela vai sendo decomposta lentamente, servindo como fonte
nutricional, e ,ainda, como cobertura morta, preservando umidade no solo. A dose empregada vai
depender da disponibilidade de palha e da necessidade do solo, conforme análise. A regra ideal é
usar menores doses em mais áreas, pela vantagem do seu efeito orgânico e provedor de nutrientes
letamente disponíveis. O uso da palha deve, sempre, considerar o equilíbrio entre o potássio e
cálcio e magnésio no solo, visto que essa matéria orgânica possui alto teor de K.
Durante a formação do cafezal e na fase de produção, a palha de café deve ser distribuída
na linha, mais debaixo da saia do cafeeiro, em camadas finas, sem formar montes, nos quais
poderiam se desenvolver larvas de moscas, prejudiciais a animais bovinos. Nas áreas
montanhosas, colocar na parte superior do declive. Para as áreas mecanizadas, existem carretas
distribuidoras de palhas, que facilitam todo o trabalho, antes considerado difícil. A aplicação deve
ser feita, de preferência, após a colheita e antes da esparramação. A quantidade de nutrientes
aplicada através da adubação orgânica deve ser descontada da adubação química. No quadro aqui
incluído pode-se ver a vantagem produtiva adicional da lavoura em experimento quando com
doses crescentes de palha de café, de 2,5 até 20 t/ha, sendo que o aumento foi vantajoso até 5-10
t/ha.
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35 – 3214 1411
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Quadro – Produção de café , na média de 3 safras, em ensaio de substituição da adubação química por diferentes
doses de palha de café- Araxá-MG, 2012
Tratamentos Produção média
3 safras (scs/ha)
% de acréscimo produtivo
Em relação à testemunha Em relação à adub quimica
Testemunha 31,0 c - - 43
Adub química exclusiva 58,3 b + 88 -
2,5 t de palha e AQR 66,0 b + 113 + 13
5,0 t de palha e AQR 72,6 a + 134 + 25
10,0 t de palha e AQR 72,7 a + 135 + 25
20,0 t de palha e AQR 66,4 ab + 114 + 14
Fonte – Fernandes, Santinato, Ticle e Santinato – In - Coffee Science, V.8, n.3, p.324-326,2013
Palha de café amontoada, no carreador (esq.) deve ser logo aplicada, sendo que, em terrenos montanhosos,
pode ser distribuida em cobrtura, do lado de cima da linha de cafeeiros(dir.)

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Folha 349 palha de café deve ser aplicada, não amontoada

  • 1. Fundação Procafé Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 35 – 3214 1411 www.fundacaoprocafe.com.br PALHA DE CAFÉ DEVE SER APLICADA, NÃO AMONTOADA J.B. Matiello – Eng Agr Fundação Procafé e Hugo Siqueira- Eng Agr FAERJ/SENAR-RJ Palha de café amontoada, seja próximo à instalação de beneficiamento, seja junto a carreadores na lavoura, é uma forma errada de manejo dessa importante fonte de adubação para os cafezais. Ela, o quanto antes possível, deve ser aplicada, junto aos cafeeiros, para ser bem aproveitada. Nas propriedades cafeeiras a palha de café é o principal adubo orgânico produzido, sendo o mais econômico para retornar à lavoura, como fonte nutricional, com liberação lenta de nutrientes e, ainda, melhorando física e biologicamente o solo. Já dentro da propriedade, ela não exige gastos maiores com transporte. Sua quantidade é relativamente elevada, correspondendo ao mesmo peso do café (grãos) produzido. Cada 100 sacas de café comercializadas, deixam na propriedade cerca de 6000 kg de palha. A palha de café comum, de frutos em coco secos, a mais produzida, contem cerca de 1,5 % de N, 0,15% de P e 3,0 % de K, alem de cálcio, magnésio, enxofre e micro-nutrientes. Seu retorno pra lavoura representa cerca de 35 % dos nutrientes retirados pela produção, com economia na adubação química suplementar e com a vantagem, conforme já dito, da liberação lenta dos nutrientes. O melhor manejo da palha é aquele onde, assim que o café vai sendo beneficiado, a palha vai para a lavoura e lá é distribuída, rapidamente, junto aos cafeeiros. Quando isso não for possível, o monte de palha deve ser protegido, com algum tipo de cobertura, para não tomar chuva, pois a água lava e retira boa parte do potássio existente na palha. Quando molhada, também ela começa a fermentar e pode atingir elevadas temperaturas, podendo, até, pegar fogo. Da mesma forma, quando vai para o campo, sendo depositada, em montes, junto aos carreadores, ela deve ser imediatamente distribuída, pois ali, também, pode perder os nutrientes, e o chorume dela saído, um líquido de cor escura, chega a matar plantas de café que ficam próximas aos montes. Na lavoura a palha deve ser aplicada em cobertura, não precisando de enterrio, como muitos pensam. Sobre o solo ela vai sendo decomposta lentamente, servindo como fonte nutricional, e ,ainda, como cobertura morta, preservando umidade no solo. A dose empregada vai depender da disponibilidade de palha e da necessidade do solo, conforme análise. A regra ideal é usar menores doses em mais áreas, pela vantagem do seu efeito orgânico e provedor de nutrientes letamente disponíveis. O uso da palha deve, sempre, considerar o equilíbrio entre o potássio e cálcio e magnésio no solo, visto que essa matéria orgânica possui alto teor de K. Durante a formação do cafezal e na fase de produção, a palha de café deve ser distribuída na linha, mais debaixo da saia do cafeeiro, em camadas finas, sem formar montes, nos quais poderiam se desenvolver larvas de moscas, prejudiciais a animais bovinos. Nas áreas montanhosas, colocar na parte superior do declive. Para as áreas mecanizadas, existem carretas distribuidoras de palhas, que facilitam todo o trabalho, antes considerado difícil. A aplicação deve ser feita, de preferência, após a colheita e antes da esparramação. A quantidade de nutrientes aplicada através da adubação orgânica deve ser descontada da adubação química. No quadro aqui incluído pode-se ver a vantagem produtiva adicional da lavoura em experimento quando com doses crescentes de palha de café, de 2,5 até 20 t/ha, sendo que o aumento foi vantajoso até 5-10 t/ha.
  • 2. Fundação Procafé Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 35 – 3214 1411 www.fundacaoprocafe.com.br Quadro – Produção de café , na média de 3 safras, em ensaio de substituição da adubação química por diferentes doses de palha de café- Araxá-MG, 2012 Tratamentos Produção média 3 safras (scs/ha) % de acréscimo produtivo Em relação à testemunha Em relação à adub quimica Testemunha 31,0 c - - 43 Adub química exclusiva 58,3 b + 88 - 2,5 t de palha e AQR 66,0 b + 113 + 13 5,0 t de palha e AQR 72,6 a + 134 + 25 10,0 t de palha e AQR 72,7 a + 135 + 25 20,0 t de palha e AQR 66,4 ab + 114 + 14 Fonte – Fernandes, Santinato, Ticle e Santinato – In - Coffee Science, V.8, n.3, p.324-326,2013 Palha de café amontoada, no carreador (esq.) deve ser logo aplicada, sendo que, em terrenos montanhosos, pode ser distribuida em cobrtura, do lado de cima da linha de cafeeiros(dir.)