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Barroco e Rococó no Brasil
O Barroco chega no Brasil através das influências de Portugal e tem suas
primeiras manifestações no Nordeste, região mais rica da colônia na época, no
final do século XVII. O estilo foi importante para a criação da identidade nacional,
dado que foi o primeiro a se desenvolver plenamente no Brasil e ter suas
características regionais próprias, sendo redescoberto pelos artistas modernistas
no início do século XX. Inclusive, o enfraquecimento das ordens religiosas,
estimulou o desenvolvimento de estilos regionais dentro da colônia. Assim, no
Brasil, grande parte das criações barrocas foram patrocinadas por irmandades,
ou seja, grupos religiosos de laicos, e a religiosidade popular teve grande
importância na elaboração desses projetos.
Interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, Recife,
Pernambuco
No Nordeste, temos igrejas importantes em estilo Barroco nas principais capitais:
Salvador, capital do Brasil e de seu estado mais rico, a Bahia; Recife, em
Pernambuco; e João Pessoa, na Paraíba. Os exteriores geralmente são bem
menos decorados do que os interiores, estes riquíssimos em talha dourada, em
plena expressão da profusão de ornamentos barroca e fusão da arquitetura,
pintura e escultura. Além disso, azulejos portugueses embelezam igrejas,
conventos e construções laicas, com representações de temas religiosos,
históricos, alegóricos e até mitológicos.
Igreja de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia
Claustro do Convento de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia
Bartolomeu Antunes de Jesus, A concórdia faz o povo invencível, Claustro do
Convento de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia
No Rio de Janeiro, que se torna capital em 1763, também há exemplos notáveis
do período, com o mais importante artista local tendo sido Mestre Valentim. Em
São Paulo, a maior parte das construções da época foi destruída ou modificada,
com alguns poucos exemplares remanescentes, que eram muito mais simples
do que no Nordeste e no Rio de Janeiro, pois a região era menos abastada. Na
escultura e pintura paulista, percebe-se a maior simplicidade das
representações, com uma influência significativa da religiosidade popular.
Manuel e Francisco Xavier de Brito, Interior da Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco da Penitência, Rio de Janeiro (concluída em 1773)
Valentim da Fonseca e Silva, dito Mestre Valentim, Fonte dos Jacarés, Passeio
Público, Rio de Janeiro (1783)
Antigo Mosteiro e Igreja da Imaculada Conceição da Luz, atual Museu de Arte
Sacra, São Paulo (inauguração das obras de ampliação em 1774)
Frei Jesuíno do Monte Carmelo, Teto da capela-mor da Igreja do Carmo, Itu, São
Paulo
Atribuída ao Mestre de Angra, Cristo Seráfico e São Francisco das Chagas (século
XVII)
Uma grande contribuição dos paulistas, entretanto, foi a fundação de vilas em
Minas Gerais, com a descoberta de ouro na região, que se tornariam cidades
importantes, repletas de manifestações artísticas barrocas e rococó, por
exemplo, Ouro Preto. A região possui importantes exemplos da arquitetura,
escultura e pintura barroca, que com o tempo, se tornaria mais próxima do
Rococó, com menos ornamento, menor uso da folha de ouro e cores mais claras.
Além da arquitetura religiosa, há testemunhos importantes do período em
construções laicas, por exemplo, o atual Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
O artista mais famoso da época, o arquiteto e escultor Aleijadinho, nasceu, viveu
e trabalhou em Minas Gerais, e produziu obras que denotam grande emoção e
sensibilidade.
Interior da Igreja Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto, Minas Gerais remodelado
por Francisco Antônio Pombal em 1736
Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Igreja de São Francisco de Assis, Ouro
Preto, Minas Gerais (século XVIII)
Interior da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais
Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Flagelação (detalhe), Santuário do Bom
Jesus de Matosinhos, Congonhas, Minas Gerais
Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Profetas Jonas e Baruc, Santuário do
Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais (1800-05)
Os artistas, no início europeus, principalmente portugueses, com o tempo
acabaram tendo as mais diversas origens, existindo, inclusive, diversos artistas
mulatos e caboclos. Da mesma maneira, imagens de personagens com feições
brasileiras também acabaram fazendo parte das representações, como vemos
através do exemplo da Virgem mulata na pintura ilusionista de Ataíde na Igreja
de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.
Manuel da Costa Ataíde, dito Mestre Ataíde, Assunção da Virgem, Igreja de São
Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais (século XVIII)
Manuel da Costa Ataíde, dito Mestre Ataíde, Assunção da Virgem (detalhe), Igreja
de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais (século XVIII)
Por fim, é importante acrescentar que as missões religiosas junto aos povos
indígenas, por exemplo no sul do Brasil, produziram interessantes esculturas, que
mesclam os temas e a técnica europeia à criatividade indígena.
Anjo proveniente da Igreja de Santo Ângelo (XVII-XVIII)
Texto por Aline Pascholati

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  • 1. Barroco e Rococó no Brasil O Barroco chega no Brasil através das influências de Portugal e tem suas primeiras manifestações no Nordeste, região mais rica da colônia na época, no final do século XVII. O estilo foi importante para a criação da identidade nacional, dado que foi o primeiro a se desenvolver plenamente no Brasil e ter suas características regionais próprias, sendo redescoberto pelos artistas modernistas no início do século XX. Inclusive, o enfraquecimento das ordens religiosas, estimulou o desenvolvimento de estilos regionais dentro da colônia. Assim, no Brasil, grande parte das criações barrocas foram patrocinadas por irmandades, ou seja, grupos religiosos de laicos, e a religiosidade popular teve grande importância na elaboração desses projetos. Interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, Recife, Pernambuco No Nordeste, temos igrejas importantes em estilo Barroco nas principais capitais:
  • 2. Salvador, capital do Brasil e de seu estado mais rico, a Bahia; Recife, em Pernambuco; e João Pessoa, na Paraíba. Os exteriores geralmente são bem menos decorados do que os interiores, estes riquíssimos em talha dourada, em plena expressão da profusão de ornamentos barroca e fusão da arquitetura, pintura e escultura. Além disso, azulejos portugueses embelezam igrejas, conventos e construções laicas, com representações de temas religiosos, históricos, alegóricos e até mitológicos.
  • 3. Igreja de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia Claustro do Convento de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia
  • 4. Bartolomeu Antunes de Jesus, A concórdia faz o povo invencível, Claustro do Convento de São Francisco de Assis, Salvador, Bahia No Rio de Janeiro, que se torna capital em 1763, também há exemplos notáveis do período, com o mais importante artista local tendo sido Mestre Valentim. Em São Paulo, a maior parte das construções da época foi destruída ou modificada, com alguns poucos exemplares remanescentes, que eram muito mais simples do que no Nordeste e no Rio de Janeiro, pois a região era menos abastada. Na escultura e pintura paulista, percebe-se a maior simplicidade das representações, com uma influência significativa da religiosidade popular.
  • 5. Manuel e Francisco Xavier de Brito, Interior da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, Rio de Janeiro (concluída em 1773)
  • 6. Valentim da Fonseca e Silva, dito Mestre Valentim, Fonte dos Jacarés, Passeio Público, Rio de Janeiro (1783)
  • 7. Antigo Mosteiro e Igreja da Imaculada Conceição da Luz, atual Museu de Arte Sacra, São Paulo (inauguração das obras de ampliação em 1774)
  • 8. Frei Jesuíno do Monte Carmelo, Teto da capela-mor da Igreja do Carmo, Itu, São Paulo
  • 9. Atribuída ao Mestre de Angra, Cristo Seráfico e São Francisco das Chagas (século XVII) Uma grande contribuição dos paulistas, entretanto, foi a fundação de vilas em Minas Gerais, com a descoberta de ouro na região, que se tornariam cidades importantes, repletas de manifestações artísticas barrocas e rococó, por exemplo, Ouro Preto. A região possui importantes exemplos da arquitetura, escultura e pintura barroca, que com o tempo, se tornaria mais próxima do Rococó, com menos ornamento, menor uso da folha de ouro e cores mais claras. Além da arquitetura religiosa, há testemunhos importantes do período em construções laicas, por exemplo, o atual Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. O artista mais famoso da época, o arquiteto e escultor Aleijadinho, nasceu, viveu e trabalhou em Minas Gerais, e produziu obras que denotam grande emoção e sensibilidade.
  • 10. Interior da Igreja Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto, Minas Gerais remodelado por Francisco Antônio Pombal em 1736
  • 11. Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais (século XVIII)
  • 12. Interior da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais
  • 13. Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Flagelação (detalhe), Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, Minas Gerais
  • 14. Antônio Francisco Lisboa, dito Aleijadinho, Profetas Jonas e Baruc, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais (1800-05) Os artistas, no início europeus, principalmente portugueses, com o tempo acabaram tendo as mais diversas origens, existindo, inclusive, diversos artistas mulatos e caboclos. Da mesma maneira, imagens de personagens com feições brasileiras também acabaram fazendo parte das representações, como vemos através do exemplo da Virgem mulata na pintura ilusionista de Ataíde na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.
  • 15. Manuel da Costa Ataíde, dito Mestre Ataíde, Assunção da Virgem, Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais (século XVIII)
  • 16. Manuel da Costa Ataíde, dito Mestre Ataíde, Assunção da Virgem (detalhe), Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais (século XVIII) Por fim, é importante acrescentar que as missões religiosas junto aos povos indígenas, por exemplo no sul do Brasil, produziram interessantes esculturas, que mesclam os temas e a técnica europeia à criatividade indígena.
  • 17. Anjo proveniente da Igreja de Santo Ângelo (XVII-XVIII) Texto por Aline Pascholati