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Artigos Técnicos
Mastite - Entenda o que é, quais são os fatores desencadeadores, como diagnosticar,
como tratar e prevenir.


O principal desafio das propriedades atualmente é a implantação de um programa de prevenção da
mastite baseado em um bom manejo de ordenha, melhoria das condições ambientais e da capacidade
imunológica das vacas, dando a elas condições de combater rapidamente a invasão de
microorganismos na glândula mamária. Um ponto importante no sucesso contra a apresentação
clínica da doença é a eficácia no tratamento, evitando recidivas e surgimento de vacas afetadas
cronicamente, que hoje é uma das principais causas de descarte involuntário, além de fontes dos
maiores gastos com medicamentos em uma fazenda leiteira.

Inúmeros são os questionamentos quanto ao tratamento da mastite clínica: Quantos dias tratar? Qual
antibiótico usar? Injetável e/ou intramamário? Devo ou não utilizar antiinflamatórios? Quando devo
trocar a base do antibiótico?

Apesar de algumas estratégias mostrarem bons resultados, a verdade é que não existe uma “receita”
pronta que resulte no sucesso do tratamento, mas sim o somatório de alguns fatores, como cuidados
com higiene, treinamento da mão de obra, conhecimentos dos agentes e medicamentos, além do
gerenciamento dos números, que são decisórios para o sucesso no tratamento dos casos clínicos nas
fazendas.

Recidivas

A freqüência de novas infecções e duração das infecções já existentes determina a gravidade da
mastite no rebanho. E este é o grande desafio do tratamento: promover cura clínica e bacteriológica,
ou seja, acabar com os sintomas e com os microorganismos que estão infectando a glândula
mamária. Isto é fato quando nos deparamos nas fazendas com algumas vacas que retornam à mastite
inúmeras vezes na lactação e são de difícil cura. Isto acontece pelo fato da doença flutuar entre a
forma clínica e a subclínica, e esta reversão é tida muitas vezes como cura. Vacas subclínicas que
voltam a apresentar mastite clínica em estágios avançados da lactação apresentam menor taxa de
cura, pelo fato do microorganismo invadir o tecido secretório e a partir daí não ser eficientemente
atingido pelo antibiótico. Isso evidencia a necessidade de tratar bem o primeiro caso clínico da
lactação, visando minimizar os retornos.

Diagnóstico precoce

A partir deste contexto, o primeiro passo para o sucesso no tratamento do caso clínico é o
diagnóstico precoce. Neste ponto, são detectadas falhas graves nas fazendas, principalmente
relacionado ao critério utilizado pelos ordenhadores no momento de iniciar ou não a terapia. Foi
criada a idéia de que mastite clínica acontece apenas mediante o aparecimento de grumo, e se
esquece de ficar alerta a outras alterações que podem ser detectadas precocemente, como:

- alteração na característica do leite: “aguado”ou com coloração alterada
- úbere inchado, vermelho e quente
- pequenos grumos nos primeiros jatos do teste da caneca, que para muitos é apenas o resquício do
leite residual da ordenha anterior

Portanto, os ordenhadores devem estar treinados para identificar as diferentes alterações causadas
pela mastite, para que a precocidade no tratamento seja determinante no sucesso do mesmo.

Higiene no tratamento

Após o diagnóstico, outro ponto fundamental é a higiene dos procedimentos de tratamento. É fato
que, logo após a remoção das teteiras, a ponta do teto está contaminada e a introdução das cânulas
intramamárias sem uma prévia desinfecção leva a reintrodução de bactéria na cisterna do teto,
diminuindo as chances de cura (Figura 1). A partir disso, tem-se usado com sucesso a desinfecção da
ponta do teto com o produto de pré ou pós-dipping (Iodo, Cloro, Clorexidine, etc), durante um
mínimo de 30 segundo e secagem com papel toalha, ou mesmo a utilização de lenço ou algodão
umidecidos em álcool 70% (presente em vários intramários), para posterior introdução da cânula.
Além disso, atitudes simples como utilização de luvas pelo ordenhador, remoção do lacre da bisnaga
apenas momentos antes da aplicação e introdução de cânulas curtas diminuem consideravelmente o
desafio de nova contaminação do canal do teto (Figura 2).




 Figura 1 – Reintrodução de microorganismos na glândula mamária durante o tratamento sem uma
                              prévia desinfecção da ponta do teto.




  Figura 2 – Sequência de procedimentos visando a desinfecção do teto antes e após o tratamento
                           evitando a introdução de microorganismos.



Procedimentos para uma boa higiene no momento do tratamento de mastite clínica: 1-Desinfecção
da ponta do teto com solução de pré ou pós dipping ; 2- secagem com papel toalha; 3-Limpeza da
ponta do teto com álcool; 4- abertura do lacre próximo à ponta do teto; 5- Introdução de cânula
curta; 6-Pós-Dipping.

Duração do tratamento

Quanto tempo tratar as vacas para garantir boas taxas de cura e o mínimo de recidivas de maneira
economicamente viável? No dia a dia das fazendas, encontram-se protocolos de tratamento que
preconizam a finalização do antibiótico na ordenha em que a vaca não apresentar mais grumos no
leite, e algumas vacas apresentam melhora clínica logo no primeiro dia. No entanto, terapias curtas
aumentam os riscos de cronificação, aumento de CCS e recidivas futuras com baixíssima taxa de
cura. Então, o que fazer?

Os trabalhos mostram que, ao contrário do que dizem as bulas dos medicamentos intramamários, as
terapias devem ser prolongadas para garantir a cura bacteriológica e devem priorizar a utilização de
antibióticos intramamários (Tabela 1). Terapias parenterais (antibióticos injetáveis) devem ser
utilizadas em situações especiais, as chamadas mastite grau 3, nas quais a vaca apresenta estado
clínico geral ruim, com febre, falta de apetite, desidratação e letargia.

        TABELA 1 - Taxa de cura de casos clínicos causados por Streptococcus. Ambientais




                                       Fonte: Hilerton JE et al., 2002



A partir destes dados e de experiências práticas, uma estratégia interessante é o tratamento por no
mínimo de 3 dias, em 2 ordenhas diárias, independente da melhora do quadro clínico. Em casos de
insucesso no tratamento com a primeira base de antibiótico, é necessário iniciar uma nova terapia
com novo medicamento, utilizando o mesmo protocolo da primeira base. Caso necessário, uma
terceira base deve ser utilizada em animais que não respondam bem aos 2 primeiros tratamentos. Por
isso, é importante ter na propriedade pelo menos 3 antibióticos intramamários como alternativa para
vacas que não respondam bem ao início do tratamento. Outro ponto importante é tratar os animais
por pelo menos 2 ordenhas (24 horas) após o fim dos sintomas, garantindo além da cura clínica, uma
grande chance de conseguir a cura bacteriológica.


         TABELA 2 - Taxas de cura em casos de mastite clínica causada por Strep. Uberis




                                       Fonte: Hillerton e Kleim, 2002
Quando o antibiótico intramamário não é suficiente?

Em algumas circunstâncias, é preciso recorrer a outros medicamentos, como antiinflamatórios e
antibióticos injetáveis. Para isso, classifica-se a mastite em 3 graus, de forma a padronizar e ter
parâmetros para a tomada de decisão sobre qual terapia instituir.

        Mastite Grau 1:Alterações visíveis apenas nas características do leite. Ou seja, o animal
         não apresenta inchaço no úbere ou qualquer alteração no seu estado clínico geral. Nestes
         casos, encontram-se apenas grumos ou leite com características anormais na coloração e
         viscosidade. Neste tipo de mastite é necessária apenas a utilização de antibióticos
         intramários.
        Mastite Grau 2:Alterações visíveis no leite e na glândula mamária. Nesta categoria estão
         os animais que apresentam alterações no leite e na glândula mamária. Estes casos são
         facilmente diagnosticados pelo fato do úbere apresentar-se avermelhado, quente, com
         aumento de volume e muitas vezes mais consistente. Nestes casos, é necessária a
         utilização de antiinflamatórios não esteroidais (AINES) associados ao antibiótico
         intramamário.
        Mastite Grau 3: O animal apresenta alterações no leite, glândula mamária e no seu estado
         clínico geral. As vacas encontram-se prostradas, desidratadas, comem pouco e em muitos
         casos apresentam as mucosas congestas (arroxeadas). Muitos destes casos graves de
         mastite são causados pela chegada de bactérias à corrente sanguínea ou liberação de
         toxinas por elas, causando uma reação inflamatória sistêmica que deve ser minimizada
         rapidamente ou pode matar os animais em poucas horas. Nestas situações, é importante
         utilizar antibióticos injetáveis (Sulfa e Trimetropim, Ceftiofur, Oxitetraciclina, etc.) e
         intramamários, além de um tratamento suporte com antiinflamatórios (preferencialmente
         flunixine meglumine) e hidratação oral ou endovenosa.




                 Figura 3 - Mastite clínica – Da esquerda para a direita, grau 1, 2 e 3.



Qual antibiótico utilizar?

Muitas propriedades utilizam antibiograma com o objetivo de escolher o medicamento e o protocolo
de tratamento baseado nos resultados destes testes laboratoriais. Fato é que os diferentes tipos de
antibióticos (Gentamicinas, Cefalosporinas, Penicilinas, Tetraciclinas, etc), apresentam resultados
variados dependendo da fazenda. Além disso, vários trabalhos revelaram pouca relação entre os
resultados de sensibilidade (antibiograma) e as taxas de cura bacteriológica. Esta divergência é
atribuída aos poucos estudos quanto ao comportamento da solução intramamária dentro da glândula
mamária. Um exemplo disso é que a grande maioria dos testes mostram uma alta sensibilidade do
Staphilococccus aureus aos antibióticos e na prática o tratamento de vacas portadoras deste agente é
comumente frustrante.

Então, como serão escolhidos os antibióticos utilizados na fazenda? Para a decisão acertada, é
preciso recorrer à gestão dos números que envolvem o tratamento de mastite e fazer com que a
propriedade seja o “antibiograma” e diga qual antibiótico utilizar. Para isso, é necessário que haja
anotações criteriosas dos tratamentos pelos ordenhadores. A partir destas planilhas de controle será
possível definir quais antibióticos utilizar baseados em um índice chamado de “Eficiência de
Tratamentos”.

Para o levantamento deste número, são levadas em consideração as vacas que se curaram com
determinado antibiótico - vacas que se curaram da mastite e não apresentaram recidiva no quarto
tratado após 15 dias do final do tratamento. A partir deste índice é definida a eficiência de cada
protocolo, que já é conseguido em alguns softwares de gestão pecuária.
Exemplo: em determinada fazenda foram tratados 30 casos de mastite com determinado antibiótico
(protocolo 1). Destes, apenas 10 se curaram e outros 20 necessitaram de nova opção de
medicamento. A partir destes números, chegou-se à eficiência do protocolo 1 que foi de 33,3%
(10/30), número muito inferior às metas aceitáveis para cada protocolo, necessitando de revisão do
mesmo e escolha de novas opções para a fazenda.


     TABELA 3 - Metas de eficiência dos diferentes protocolos de tratamento de mastite clínica




                          Fonte: Curso de Qualidade do Leite e Controle da Mastite (ReHAgro)



Outras ferramentas são utilizadas na avaliação da eficiência do tratamento, como a CCS e o cultivo
microbiológico. A CCS, apesar de ser indicativa de infecção, pode ser enganosa pelo fato de sua
diminuição não necessariamente ser acompanhada de cura bacteriológica. Neste caso, pode ocorrer o
efeito da diluição dos outros quartos ou mesmo havendo declínio na CCS da glândula tratada,
bactérias residuais podem continuar sendo liberadas. O outro método, pouco utilizado nas fazendas,
é a realização do cultivo pós-tratamento. Sol et, al. (1997) recomendam que a definição de cura
deveria ser baseada em pelo menos 2 culturas, intervaladas de 15 e 30 dias após o final do
tratamento.

Imunidade

Além dos objetivos propostos de diminuir o desafio ambiental e tratar corretamente a mastite, é
importante que se tenha como foco a imunidade da vaca. Para isso, deve-se estar atento ao estresse
(térmico, social, manejo, etc), balanceamento de minerais e vitaminas (tabela 3) e preservação do
esfíncter do teto, por este ser a primeira barreira contra a entrada e colonização bacteriana no úbere.

Toda esta preocupação com a imunidade vem do fato de que algumas infecções na glândula mamária
terem auto-resolução e este processo ser totalmente dependente da eficácia dos mecanismos de
defesa do animal, principalmente nas mastites ambientais causadas por gram-negativos. Somado a
isso, o sucesso da ação do antibiótico é extremamente dependente do sistema de imune da vaca, uma
vez que mesmo durante o tratamento, grande parte da eliminação de bactérias no úbere é feita pelas
células de defesa.

Em resumo, pode-se concluir que vacas com bom sistema imune têm menos casos clínicos de
mastite, se curam mais rápido e consomem menos medicamentos, diminuindo os impactos negativos
desta doença no rebanho.

Referências Bibliográficas:
Fetrow, J., 2000. Mastitis: na economic consideration. PP 3-47 in Proceeding of the 29™ annual
meeting of NMC. Vol 42, National Mastitis Council, Madison WI.
Hillerton, J. E. and K.E. Kliem. 2002. Effective treatment of Streptococcus uberis clinical mastitis to
minimize the use of antibiotic. J Dairy Sci 85: 1009 – 1014.
Ruegg, P.L. Estratégia de tratamento da mastite clínica. Curso Novos Enfoques na Produção e
Reprodução de Bovinos.
Ruegg, P. L. Tratamento de mastite clínica – O que nos dizem as pesquisas. Anais do XV Curso
Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, 2011.
Ruegg, P.L. Seleção de antibióticos para o tratamento da mastite. Curso Novos Enfoques na
Produção e Reprodução de Bovinos.

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Mastite - Diagnóstico, tratamento e prevenção

  • 1. Artigos Técnicos Mastite - Entenda o que é, quais são os fatores desencadeadores, como diagnosticar, como tratar e prevenir. O principal desafio das propriedades atualmente é a implantação de um programa de prevenção da mastite baseado em um bom manejo de ordenha, melhoria das condições ambientais e da capacidade imunológica das vacas, dando a elas condições de combater rapidamente a invasão de microorganismos na glândula mamária. Um ponto importante no sucesso contra a apresentação clínica da doença é a eficácia no tratamento, evitando recidivas e surgimento de vacas afetadas cronicamente, que hoje é uma das principais causas de descarte involuntário, além de fontes dos maiores gastos com medicamentos em uma fazenda leiteira. Inúmeros são os questionamentos quanto ao tratamento da mastite clínica: Quantos dias tratar? Qual antibiótico usar? Injetável e/ou intramamário? Devo ou não utilizar antiinflamatórios? Quando devo trocar a base do antibiótico? Apesar de algumas estratégias mostrarem bons resultados, a verdade é que não existe uma “receita” pronta que resulte no sucesso do tratamento, mas sim o somatório de alguns fatores, como cuidados com higiene, treinamento da mão de obra, conhecimentos dos agentes e medicamentos, além do gerenciamento dos números, que são decisórios para o sucesso no tratamento dos casos clínicos nas fazendas. Recidivas A freqüência de novas infecções e duração das infecções já existentes determina a gravidade da mastite no rebanho. E este é o grande desafio do tratamento: promover cura clínica e bacteriológica, ou seja, acabar com os sintomas e com os microorganismos que estão infectando a glândula mamária. Isto é fato quando nos deparamos nas fazendas com algumas vacas que retornam à mastite inúmeras vezes na lactação e são de difícil cura. Isto acontece pelo fato da doença flutuar entre a forma clínica e a subclínica, e esta reversão é tida muitas vezes como cura. Vacas subclínicas que voltam a apresentar mastite clínica em estágios avançados da lactação apresentam menor taxa de cura, pelo fato do microorganismo invadir o tecido secretório e a partir daí não ser eficientemente atingido pelo antibiótico. Isso evidencia a necessidade de tratar bem o primeiro caso clínico da lactação, visando minimizar os retornos. Diagnóstico precoce A partir deste contexto, o primeiro passo para o sucesso no tratamento do caso clínico é o diagnóstico precoce. Neste ponto, são detectadas falhas graves nas fazendas, principalmente relacionado ao critério utilizado pelos ordenhadores no momento de iniciar ou não a terapia. Foi criada a idéia de que mastite clínica acontece apenas mediante o aparecimento de grumo, e se esquece de ficar alerta a outras alterações que podem ser detectadas precocemente, como: - alteração na característica do leite: “aguado”ou com coloração alterada - úbere inchado, vermelho e quente - pequenos grumos nos primeiros jatos do teste da caneca, que para muitos é apenas o resquício do leite residual da ordenha anterior Portanto, os ordenhadores devem estar treinados para identificar as diferentes alterações causadas pela mastite, para que a precocidade no tratamento seja determinante no sucesso do mesmo. Higiene no tratamento Após o diagnóstico, outro ponto fundamental é a higiene dos procedimentos de tratamento. É fato que, logo após a remoção das teteiras, a ponta do teto está contaminada e a introdução das cânulas intramamárias sem uma prévia desinfecção leva a reintrodução de bactéria na cisterna do teto,
  • 2. diminuindo as chances de cura (Figura 1). A partir disso, tem-se usado com sucesso a desinfecção da ponta do teto com o produto de pré ou pós-dipping (Iodo, Cloro, Clorexidine, etc), durante um mínimo de 30 segundo e secagem com papel toalha, ou mesmo a utilização de lenço ou algodão umidecidos em álcool 70% (presente em vários intramários), para posterior introdução da cânula. Além disso, atitudes simples como utilização de luvas pelo ordenhador, remoção do lacre da bisnaga apenas momentos antes da aplicação e introdução de cânulas curtas diminuem consideravelmente o desafio de nova contaminação do canal do teto (Figura 2). Figura 1 – Reintrodução de microorganismos na glândula mamária durante o tratamento sem uma prévia desinfecção da ponta do teto. Figura 2 – Sequência de procedimentos visando a desinfecção do teto antes e após o tratamento evitando a introdução de microorganismos. Procedimentos para uma boa higiene no momento do tratamento de mastite clínica: 1-Desinfecção da ponta do teto com solução de pré ou pós dipping ; 2- secagem com papel toalha; 3-Limpeza da ponta do teto com álcool; 4- abertura do lacre próximo à ponta do teto; 5- Introdução de cânula curta; 6-Pós-Dipping. Duração do tratamento Quanto tempo tratar as vacas para garantir boas taxas de cura e o mínimo de recidivas de maneira economicamente viável? No dia a dia das fazendas, encontram-se protocolos de tratamento que preconizam a finalização do antibiótico na ordenha em que a vaca não apresentar mais grumos no leite, e algumas vacas apresentam melhora clínica logo no primeiro dia. No entanto, terapias curtas aumentam os riscos de cronificação, aumento de CCS e recidivas futuras com baixíssima taxa de
  • 3. cura. Então, o que fazer? Os trabalhos mostram que, ao contrário do que dizem as bulas dos medicamentos intramamários, as terapias devem ser prolongadas para garantir a cura bacteriológica e devem priorizar a utilização de antibióticos intramamários (Tabela 1). Terapias parenterais (antibióticos injetáveis) devem ser utilizadas em situações especiais, as chamadas mastite grau 3, nas quais a vaca apresenta estado clínico geral ruim, com febre, falta de apetite, desidratação e letargia. TABELA 1 - Taxa de cura de casos clínicos causados por Streptococcus. Ambientais Fonte: Hilerton JE et al., 2002 A partir destes dados e de experiências práticas, uma estratégia interessante é o tratamento por no mínimo de 3 dias, em 2 ordenhas diárias, independente da melhora do quadro clínico. Em casos de insucesso no tratamento com a primeira base de antibiótico, é necessário iniciar uma nova terapia com novo medicamento, utilizando o mesmo protocolo da primeira base. Caso necessário, uma terceira base deve ser utilizada em animais que não respondam bem aos 2 primeiros tratamentos. Por isso, é importante ter na propriedade pelo menos 3 antibióticos intramamários como alternativa para vacas que não respondam bem ao início do tratamento. Outro ponto importante é tratar os animais por pelo menos 2 ordenhas (24 horas) após o fim dos sintomas, garantindo além da cura clínica, uma grande chance de conseguir a cura bacteriológica. TABELA 2 - Taxas de cura em casos de mastite clínica causada por Strep. Uberis Fonte: Hillerton e Kleim, 2002
  • 4. Quando o antibiótico intramamário não é suficiente? Em algumas circunstâncias, é preciso recorrer a outros medicamentos, como antiinflamatórios e antibióticos injetáveis. Para isso, classifica-se a mastite em 3 graus, de forma a padronizar e ter parâmetros para a tomada de decisão sobre qual terapia instituir. Mastite Grau 1:Alterações visíveis apenas nas características do leite. Ou seja, o animal não apresenta inchaço no úbere ou qualquer alteração no seu estado clínico geral. Nestes casos, encontram-se apenas grumos ou leite com características anormais na coloração e viscosidade. Neste tipo de mastite é necessária apenas a utilização de antibióticos intramários. Mastite Grau 2:Alterações visíveis no leite e na glândula mamária. Nesta categoria estão os animais que apresentam alterações no leite e na glândula mamária. Estes casos são facilmente diagnosticados pelo fato do úbere apresentar-se avermelhado, quente, com aumento de volume e muitas vezes mais consistente. Nestes casos, é necessária a utilização de antiinflamatórios não esteroidais (AINES) associados ao antibiótico intramamário. Mastite Grau 3: O animal apresenta alterações no leite, glândula mamária e no seu estado clínico geral. As vacas encontram-se prostradas, desidratadas, comem pouco e em muitos casos apresentam as mucosas congestas (arroxeadas). Muitos destes casos graves de mastite são causados pela chegada de bactérias à corrente sanguínea ou liberação de toxinas por elas, causando uma reação inflamatória sistêmica que deve ser minimizada rapidamente ou pode matar os animais em poucas horas. Nestas situações, é importante utilizar antibióticos injetáveis (Sulfa e Trimetropim, Ceftiofur, Oxitetraciclina, etc.) e intramamários, além de um tratamento suporte com antiinflamatórios (preferencialmente flunixine meglumine) e hidratação oral ou endovenosa. Figura 3 - Mastite clínica – Da esquerda para a direita, grau 1, 2 e 3. Qual antibiótico utilizar? Muitas propriedades utilizam antibiograma com o objetivo de escolher o medicamento e o protocolo de tratamento baseado nos resultados destes testes laboratoriais. Fato é que os diferentes tipos de antibióticos (Gentamicinas, Cefalosporinas, Penicilinas, Tetraciclinas, etc), apresentam resultados variados dependendo da fazenda. Além disso, vários trabalhos revelaram pouca relação entre os resultados de sensibilidade (antibiograma) e as taxas de cura bacteriológica. Esta divergência é atribuída aos poucos estudos quanto ao comportamento da solução intramamária dentro da glândula mamária. Um exemplo disso é que a grande maioria dos testes mostram uma alta sensibilidade do Staphilococccus aureus aos antibióticos e na prática o tratamento de vacas portadoras deste agente é comumente frustrante. Então, como serão escolhidos os antibióticos utilizados na fazenda? Para a decisão acertada, é preciso recorrer à gestão dos números que envolvem o tratamento de mastite e fazer com que a propriedade seja o “antibiograma” e diga qual antibiótico utilizar. Para isso, é necessário que haja
  • 5. anotações criteriosas dos tratamentos pelos ordenhadores. A partir destas planilhas de controle será possível definir quais antibióticos utilizar baseados em um índice chamado de “Eficiência de Tratamentos”. Para o levantamento deste número, são levadas em consideração as vacas que se curaram com determinado antibiótico - vacas que se curaram da mastite e não apresentaram recidiva no quarto tratado após 15 dias do final do tratamento. A partir deste índice é definida a eficiência de cada protocolo, que já é conseguido em alguns softwares de gestão pecuária. Exemplo: em determinada fazenda foram tratados 30 casos de mastite com determinado antibiótico (protocolo 1). Destes, apenas 10 se curaram e outros 20 necessitaram de nova opção de medicamento. A partir destes números, chegou-se à eficiência do protocolo 1 que foi de 33,3% (10/30), número muito inferior às metas aceitáveis para cada protocolo, necessitando de revisão do mesmo e escolha de novas opções para a fazenda. TABELA 3 - Metas de eficiência dos diferentes protocolos de tratamento de mastite clínica Fonte: Curso de Qualidade do Leite e Controle da Mastite (ReHAgro) Outras ferramentas são utilizadas na avaliação da eficiência do tratamento, como a CCS e o cultivo microbiológico. A CCS, apesar de ser indicativa de infecção, pode ser enganosa pelo fato de sua diminuição não necessariamente ser acompanhada de cura bacteriológica. Neste caso, pode ocorrer o efeito da diluição dos outros quartos ou mesmo havendo declínio na CCS da glândula tratada, bactérias residuais podem continuar sendo liberadas. O outro método, pouco utilizado nas fazendas, é a realização do cultivo pós-tratamento. Sol et, al. (1997) recomendam que a definição de cura deveria ser baseada em pelo menos 2 culturas, intervaladas de 15 e 30 dias após o final do tratamento. Imunidade Além dos objetivos propostos de diminuir o desafio ambiental e tratar corretamente a mastite, é importante que se tenha como foco a imunidade da vaca. Para isso, deve-se estar atento ao estresse (térmico, social, manejo, etc), balanceamento de minerais e vitaminas (tabela 3) e preservação do esfíncter do teto, por este ser a primeira barreira contra a entrada e colonização bacteriana no úbere. Toda esta preocupação com a imunidade vem do fato de que algumas infecções na glândula mamária terem auto-resolução e este processo ser totalmente dependente da eficácia dos mecanismos de defesa do animal, principalmente nas mastites ambientais causadas por gram-negativos. Somado a isso, o sucesso da ação do antibiótico é extremamente dependente do sistema de imune da vaca, uma vez que mesmo durante o tratamento, grande parte da eliminação de bactérias no úbere é feita pelas células de defesa. Em resumo, pode-se concluir que vacas com bom sistema imune têm menos casos clínicos de mastite, se curam mais rápido e consomem menos medicamentos, diminuindo os impactos negativos desta doença no rebanho. Referências Bibliográficas: Fetrow, J., 2000. Mastitis: na economic consideration. PP 3-47 in Proceeding of the 29™ annual meeting of NMC. Vol 42, National Mastitis Council, Madison WI. Hillerton, J. E. and K.E. Kliem. 2002. Effective treatment of Streptococcus uberis clinical mastitis to
  • 6. minimize the use of antibiotic. J Dairy Sci 85: 1009 – 1014. Ruegg, P.L. Estratégia de tratamento da mastite clínica. Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos. Ruegg, P. L. Tratamento de mastite clínica – O que nos dizem as pesquisas. Anais do XV Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, 2011. Ruegg, P.L. Seleção de antibióticos para o tratamento da mastite. Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos.