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Capa: Mulher negra atravessando a rua em um
dia chuvoso.
Sinopse
Diante das inúmeras mortes de covid-19 decorrentes do que a Fiocruz veio a se referir como a maior crise sanitária da
história do Brasil, esse ensaio busca registrar um momento ímpar na saúde pública, onde o desalento das mortes, sequelas da doença,
desemprego em massa, volta do Brasil ao mapa da fome e a miséria cotidiana que podemos observar na cidade do Recife, só realçam a
impressão de que nossas instituições políticas colapsaram diante da responsabilidade pela saúde pública, quando vemos a intensificação
do não fazer nada como política de governo.
No “novo normal”, as pessoas não estão restritas de irem ao trabalho caso sejam empregadas domésticas, motoristas de
ônibus ou caixas de supermercado. Essas pessoas se arriscam e morrem aos montes, manifestando nos dados de pessoas negras vítimas
da covid como a necropolítica, como a ferrugem, nunca dorme. O “novo normal” no Brasil é altamente letal, e totalmente desvinculado
de seu propósito momentâneo e emergencial. O crescimento em ‘K’, expressão típica da economia, é um ótimo exemplo de como o país
veio a alcançar as profundezas do respeito a morte e a vida humana, manifestando na parte superior do ‘K’ as pessoas de classe média
que ascenderam economicamente durante, enquanto aquelas que estavam no meio do ‘K’ simplesmente alcançaram as profundezas do
desemprego e perda econômica. Diante da indiferença que as elites econômicas manifestam, os mortos não falam e os trabalhadores
não param de trabalhar, afinal, podem morrer a morte violenta de Thomas Hobbes pela fome, o crime ou outras formas de vivenciar o
século XXI.
Os vazios urbanos ilustram esse cenário, onde famílias se mudaram para baixo das ruas por não conseguir pagar
aluguel, acumulando pedaços de lixo e ressignificando-os como as portas e janelas de um lar. O Estado é desmantelado a olhos nus,
enquanto ônibus com placas de todos os municípios de Pernambuco disputam uma vaga em frente ao cemitério, na esperança de
salvar um mãe, um pai, um filho ou avô que são tudo para as famílias ceifadas do direito constitucional à saúde.
Tenho medo de ir ao hospital, não por talvez me infectar com o vírus, mas pensando na moralidade da lente fotográfica
com o desespero de outros seres humanos, que se esforçam para respirar em um corpo frágil e fulminando por essa praga que nos
assola. Ao mesmo tempo que vejo um homem descer de uma ambulância com seu filho em desespero, juro como etnógrafo não
registrar o terror, mas denunciar a tragédia. Enquanto essa cena nefasta se desenrola dolorosamente, concluo a sinopse desse ensaio
caixões de metal e mármore, construídos de forma ‘modular’, afim de ser possível expandir as gavetas que foram feitas para as
vitimas desse genocídio brasileiro. Desde o começo da pandemia, vejo a expansão lenta e gradativa, como um aviso diário em minhas
idas e vindas pela cidade, quando a vida e morte se tornam tema da paisagem urbana, e a miséria um dado quantitativo, mas a morte,
essa é para sempre para os vidos e para os que partem.
Escombros de uma
demolição em uma
bairro nobre
Anexo abandonado da
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de Pernambuco
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onde pessoas vivem
Centro de Saúde Prof.
Waldemar de Oliveira
(fachada pintada durante
pandemia)
Hospital Oswaldo Cruz, lambe lambe rasgado de
100 mil mortes com foto rasgada do presidente
Ciclovia recém lançada
durante a pandemia
A moralidade de observar
os doentes
Fileira de transporte dos
doentes de municipios
próximos
Mulher passando em frente
ao cemitério de Santo
Amaro
Ficha Técnica
Autor: Igor Holanda Vaz Arcoverde
Doutorando pelo em Antropologia pelo PPGA/UFPE.
Email: igor.vaz@ufpe.br.
Orcid: 0000-0003-0423-1378.
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A pandemia e o colapso do Estado no Recife

  • 1. Capa: Mulher negra atravessando a rua em um dia chuvoso.
  • 2. Sinopse Diante das inúmeras mortes de covid-19 decorrentes do que a Fiocruz veio a se referir como a maior crise sanitária da história do Brasil, esse ensaio busca registrar um momento ímpar na saúde pública, onde o desalento das mortes, sequelas da doença, desemprego em massa, volta do Brasil ao mapa da fome e a miséria cotidiana que podemos observar na cidade do Recife, só realçam a impressão de que nossas instituições políticas colapsaram diante da responsabilidade pela saúde pública, quando vemos a intensificação do não fazer nada como política de governo. No “novo normal”, as pessoas não estão restritas de irem ao trabalho caso sejam empregadas domésticas, motoristas de ônibus ou caixas de supermercado. Essas pessoas se arriscam e morrem aos montes, manifestando nos dados de pessoas negras vítimas da covid como a necropolítica, como a ferrugem, nunca dorme. O “novo normal” no Brasil é altamente letal, e totalmente desvinculado de seu propósito momentâneo e emergencial. O crescimento em ‘K’, expressão típica da economia, é um ótimo exemplo de como o país veio a alcançar as profundezas do respeito a morte e a vida humana, manifestando na parte superior do ‘K’ as pessoas de classe média
  • 3. que ascenderam economicamente durante, enquanto aquelas que estavam no meio do ‘K’ simplesmente alcançaram as profundezas do desemprego e perda econômica. Diante da indiferença que as elites econômicas manifestam, os mortos não falam e os trabalhadores não param de trabalhar, afinal, podem morrer a morte violenta de Thomas Hobbes pela fome, o crime ou outras formas de vivenciar o século XXI. Os vazios urbanos ilustram esse cenário, onde famílias se mudaram para baixo das ruas por não conseguir pagar aluguel, acumulando pedaços de lixo e ressignificando-os como as portas e janelas de um lar. O Estado é desmantelado a olhos nus, enquanto ônibus com placas de todos os municípios de Pernambuco disputam uma vaga em frente ao cemitério, na esperança de salvar um mãe, um pai, um filho ou avô que são tudo para as famílias ceifadas do direito constitucional à saúde. Tenho medo de ir ao hospital, não por talvez me infectar com o vírus, mas pensando na moralidade da lente fotográfica com o desespero de outros seres humanos, que se esforçam para respirar em um corpo frágil e fulminando por essa praga que nos assola. Ao mesmo tempo que vejo um homem descer de uma ambulância com seu filho em desespero, juro como etnógrafo não registrar o terror, mas denunciar a tragédia. Enquanto essa cena nefasta se desenrola dolorosamente, concluo a sinopse desse ensaio
  • 4. caixões de metal e mármore, construídos de forma ‘modular’, afim de ser possível expandir as gavetas que foram feitas para as vitimas desse genocídio brasileiro. Desde o começo da pandemia, vejo a expansão lenta e gradativa, como um aviso diário em minhas idas e vindas pela cidade, quando a vida e morte se tornam tema da paisagem urbana, e a miséria um dado quantitativo, mas a morte, essa é para sempre para os vidos e para os que partem.
  • 5. Escombros de uma demolição em uma bairro nobre
  • 6. Anexo abandonado da Assembléia Legislativa de Pernambuco
  • 7. Embaixo de um viaduto onde pessoas vivem
  • 8. Centro de Saúde Prof. Waldemar de Oliveira (fachada pintada durante pandemia)
  • 9. Hospital Oswaldo Cruz, lambe lambe rasgado de 100 mil mortes com foto rasgada do presidente
  • 11. A moralidade de observar os doentes
  • 12. Fileira de transporte dos doentes de municipios próximos
  • 13. Mulher passando em frente ao cemitério de Santo Amaro
  • 14. Ficha Técnica Autor: Igor Holanda Vaz Arcoverde Doutorando pelo em Antropologia pelo PPGA/UFPE. Email: igor.vaz@ufpe.br. Orcid: 0000-0003-0423-1378. Informações técnicas: Todas as fotos foram registradas com um iPhone 8.