Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Representação e imagens de controle da África e negros em livros didáticos
1. REPRESENTAÇÃO E
IMAGENS DE CONTROLE:
(in)visibilidade e estigma da
África e do negro africano em
livros didáticos de Geografia
Ana Flávia Borges de Oliveira (UFU)
Adriany de Ávila Melo Sampaio (UFU)
2. Introdução
Este trabalho constitui-se como um recorte da pesquisa de Dissertação de
Mestrado em andamento, que tem como tema central, a Representação Social
da África e dos negros africanos em livros didáticos de Geografia (PNLD 2014 e
2020) dos anos finais do Ensino Fundamental. Para este trabalho será
apresentado um viés acerca da (in)visibilidade e estigma na representação
social e nas imagens de controle do continente e do negro africano.
3. Objetivos
• O objetivo deste artigo é analisar e refletir a relação dos
termos representação social e imagens de controle em um
percurso teórico, sem problemas em associar a noção de
representação com àquela de imagem, pois além da relação
existente entre ambos os termos, também possuem
aproximação na semântica a partir das categorias de
(in)visibilidade e estigma.
4. Metodologia
A metodologia de pesquisa se utiliza de levantamento bibliográfico, tendo
como principal referencial da Teoria das Representações Sociais, o psicólogo
social romeno Serge Moscovici (2003) e das Imagens de Controle, a socióloga e
feminista negra norte-americana Patrícia Hill Collins (2019).
5. Resultados
As Representações Sociais são significados produzidos pelos grupos dominantes (como por exemplo,
o Estado, a religião, a ciência e as instituições de forma geral), impostos na sociedade e reproduzidos
coletivamente, que por sua vez, são perpetuados em novas imagens, conceitos e discursos que
reforçam as representações antigas. As representações possuem o poder de dar sentido ao mundo e
controlar o comportamento da sociedade, que aceita e assimila (de forma inconsciente) ideias
elaboradas por grupos dominantes orientando suas condutas, das mais simples até as mais
complexas. Além de colaborar com a explicação de conceitos gerados em processos de mudanças e
permanências em contextos de exclusão de sujeitos, seja de forma a invisibilizá-los ou colocá-los de
forma pejorativa, na qual são representados socialmente por imagens estereotipadas e racistas pelos
grupos étnico-raciais dominantes.
6. Resultados
• As Representações Sociais, entre elas as Imagens de Controle, estão na base do Racismo Estrutural, contribuindo
para a justificativa das desigualdades e das diversas opressões que atingem a população negra, e a própria África
como um continente. O povo negro teve e ainda tem sua história, sua ancestralidade, sua cultura e contribuições no
campo social, cultural, político e religioso silenciados e invisibilizados. No Brasil especialmente, existe o apagamento
histórico da importância das contribuições dos povos africanos na formação social, econômica e cultural nacional. A
luta hoje do Movimento Negro, entre outras questões, é por este reconhecimento, pois sempre resistiu às opressões
do cotidiano e reivindicou direitos e condições iguais.
• Segundo Collins (2019), os processos de inferiorização estão interligados com as táticas manipuladas pelos grupos
dominantes para manter os grupos minoritários excluídos de espaços de poder e da cidadania. Uma das formas do
grupo dominante comandar e reprimir a sociedade racista foi criando mecanismos de segregação e exploração,
entre eles estão o que Collins (2019) chamou de “imagens de controle”, que tem o poder de controlar o
comportamento e silenciar de forma violenta os grupos historicamente oprimidos.
• As Imagens de Controle são sempre relacionadas com a desumanização de um grupo subalterno, são imagens
impostas, padronizadas e estabelecidas por um grupo dominante, referendadas pelo senso comum. Elas são usadas
para generalizar e desqualificar um indivíduo ou grupo social, para isso são refeitas e constantemente atualizadas.
Fazem parte de uma dimensão de ideologia de dominação e são traçadas para que o racismo, o sexismo e outras
formas de violências aparentem ser naturais, normais e inevitáveis na vida das minorias, o que por sua vez, garante a
manutenção do grupo dominante no poder e no privilégio. São também dinâmicas e passam por transformações ao
longo do tempo histórico, apresentando uma falsa ideia de que não são mais racistas.
7. Resultados
• As imagens estereotipadas são imagens de controle que designam representações através de mitos, histórias,
estereótipos, estigmas que partem da lógica negativa e demarcam posições subalternas na sociedade. Apesar da
população negra serem mais de 50% da população brasileira, o país carrega a máscara da invisibilidade racial, os
mantendo ainda mais invisíveis em diversos espaços e essa exclusão está naturalizada e o que é reproduzido na mídia e
nos livros didáticos têm potencial importante na reprodução de imagens de controle que muitas vezes trazem um
discurso racista que naturaliza a condição de branco e estigmatiza o negro, e afetam a forma pela qual a sociedade
tratam os grupos minoritários.
• Os estigmas sociais são atribuídos aos preconceitos, estereótipos e o medo do desconhecido que a sociedade faz sobre
os grupos minoritários, sendo caracterizados como indesejáveis e rotulados de criminosos, preguiçosos, e como ameaça.
Um exemplo é em relação ao continente africano, que foi classificado como primitivo, pobre, selvagem, folclórico e
demoníaco, entre outras características desfavoráveis. Com essas denominações pode-se identificar a perpetuação de
imagens negativas sobre a população negra da África e o silenciamento dos conteúdos acerca do continente africano,
apresentando uma história calcada numa perspectiva única e eurocêntrica.
• Os livros didáticos são um dos principais instrumentos utilizados pela maioria das escolas e os conteúdos presentes
nesse material ajudam a construir ou naturalizar os princípios e concepções positivas e negativas a respeito de uma
cultura e um grupo social. Os currículos não são neutros, e ainda é capaz de reproduzir a lógica hegemônica e de poder
dos conteúdos da África com uma ideologia baseada no embranquecimento e na dominação eurocentrada. A base do
racismo é o estigma que desumaniza o Outro e como consequência da estigmatização, entende-se como se construiu as
Representações Sociais em relação ao africano escravizado e sua posterior condição de liberto, reforçando a falta de
identidade e a sua invisibilidade na sociedade. As representações são bases estruturantes do racismo, das
desigualdades e das demais opressões que atinge este grupo minoritário que tendem ter sua história, sua cultura,
legado e contribuições no campo social, cultural, político e religioso silenciados e invisibilizados na educação brasileira.
8. Considerações Finais
• Este trabalho ainda está em andamento com a análise dos livros didáticos de Geografia, mas as
conclusões indicam que a representação social é formada por imagens de controle com base na
estigmatização, na estereotipagem e na invisibilidade do negro africano e do continente África. São
formadas por imagens, palavras e expressões racistas que traduz o apagamento histórico das
importâncias e das contribuições dos povos africanos na formação sociocultural brasileira e na luta
constante e afirmativa dos afro-brasileiros em resistir às opressões do cotidiano.
• É imprescindível que se combata ao racismo estrutural enraizado na sociedade brasileira e haja uma
ressignificação das imagens do negro e da África nos livros didáticos através da mudança de postura do
professor em olhar criticamente os conteúdos sobre a África e na mudança do currículo escolar com a
intenção de transformar a escola em um espaço democrático e sem discriminação. O ensino de Geografia
ajuda a desmistificar a África como um território homogêneo, a conhecer as territorialidades originárias e
atuais e suas contribuições quanto a formação sócio territorial brasileira.
9. Referências
BUENO, Winnie de Campos. Processos de resistência e construção de subjetividades no pensamento feminista negro: uma
possibilidade de leitura da obra Black Feminist Thought: Knowledge, consciousness, and the politics of empowerment
(2009) a partir do conceito de imagens de controle. 167 f. Dissertação (Mestrado em Direito), Unidade Acadêmica de
Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos -Unisinos, São Leopoldo, 2019. Disponível em
http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/8966. Acesso em: 24 fev. 2022.
COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São
Paulo: Boitempo, 2019. Tradução Jamille Pinheiro Dias.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1988. Disponível em
https://www.mprj.mp.br/documents/20184/151138/goffman,erving.estigma_notassobreamanipulacaodaidentidadedet
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2011.