1. VERSÃO DO PROFESSOR
Didática e o Ensino de Geografia
D I S C I P L I N A
Didática e a prática educativa
Autoras
Sônia de Almeida Pimenta
Ana Beatriz Gomes Carvalho
aula
01
Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data:
___/___/___
Nome:_______________________________________
3. Apresentação
N
esta disciplina, vamos percorrer um caminho que acreditamos ser muito útil para o
seu desempenho como professor em sua sala de aula, unindo os conceitos teóricos da
Geografia enquanto ciência e sua aplicabilidade na educação básica. Apresentaremos
um percurso que iniciará com as discussões teóricas da própria Geografia e da Didática como
uma ferramenta essencial para a execução de todas as possibilidades estratégicas para a
apresentação do conteúdo. Por esta razão, usamos a linguagem de um caminho, uma trilha
ou percurso que será a sua própria construção do conhecimento, com obstáculos, falhas,
dificuldades, mas com a recompensa de concluir a trajetória final repleto de novas reflexões
e desafios. Assim, usamos expressões como “Diálogos no Caminho”, com histórias reais de
nossa trajetória como professores da educação básica, “Pausa para Orientação”, um espaço
para reflexão dos conceitos e de nossas práticas, a pergunta “Estou no Caminho Certo?,
uma reorientação de nossas perspectivas e necessidades de aprendizagem, e “Concluindo o
Percurso”, a finalização do caminho percorrido em cada aula. Esperamos que você aproveite
ao máximo as possibilidades que a educação a distância permite para a construção da sua
aprendizagem e sinta-se à vontade neste disciplina que foi elaborada pensando em sua prática
como professor.
Nesta aula, apresentaremos uma reflexão sobre a ação do professor de Geografia e a
importância da prática educativa em sala da aula. A Geografia, por seu conteúdo específico,
necessita de um pensar constante sobre todos elementos que podem ser utilizados para
possibilitar uma aprendizagem contextualizada e significativa. Tratar de tantos assuntos
distintos e polêmicos, meio-ambiente, economia, subdesenvolvimento, população, astronomia
etc. exige do professor mais do que apenas o conhecimento do conteúdo, ele precisa
redimensionar suas crenças e valores para não se deixar que suas opiniões oprimam o
pensamento e o conhecimento prévio dos seus alunos. É importante que você leia os textos
e realize as atividades durante a leitura, porque elas serão importantes para a compreensão
das etapas seguintes.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
4. Objetivos
Ao final desta aula, esperamos que você:
1
2
3
4
Conheça o objeto de estudo da Geografia;
Compreenda as implicações deste objeto na prática
educativa;
Relacione as dificuldades do conteúdo da disciplina e
sua abordagem em sala de aula;
Aprenda sobre a formação do professor e suas escolhas
e estratégias na condução da aprendizagem.
Os desafios no ensino
de Geografia
O
mundo contemporâneo, repleto de informações que dinamizam as mudanças em
nosso cotidiano, apresenta um cenário ideal para a Geografia tornar-se uma disciplina
interessante e instigante na escola. Afinal, qual das disciplinas curriculares do Ensino
Fundamental e Médio poderia discutir com tanta propriedade desde assuntos de geopolítica
com a Guerra do Iraque, conteúdo da Educação Básica, no recorte regional sobre o Oriente
Médio, até um filme como “O Jardineiro Fiel” que trata das ações inescrupulosas das grandes
companhias farmacêuticas no continente africano e no mundo? Apesar de ser uma ciência
do concreto, com potencial e flexibilidade para lidar com o mundo que nos cerca, a Geografia
escolar tem apresentado um nível de abstração igual às demais disciplinas, distanciando-se
cada vez mais do mundo real e de sua problemática.
Quando perguntamos aos alunos se gostam de Geografia, podemos ouvir as seguintes
respostas:
1. “Não consigo lembrar os nomes dos rios, não sei onde ficam os lugares e acho que ela
não serve para nada...”
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
5. 2. “O professor só fala, fala, eu não entendo o que ele quer dizer com este negócio de
primeiro mundo e terceiro mundo... Afinal, quantos mundos existem de verdade?”
3. “Eu descobri que meu professor mentia para a gente mostrando um mapa com linhas
que ele chamava de longitude e latitude. Quando eu andei de avião com meus pais eu
olhei para baixo e era tudo muito lindo, os rios, as montanhas... Mas não tinha nada das
linhas que o professor tinha mostrado, não. Daí eu pensei, se não existem de verdade
para que mostrar aquilo e fazer a gente decorar?”
Diálogos no caminho
Quando eu estudava Geografia e ia a algum evento social, invariavelmente as pessoas
me perguntavam: “Ah, Geografia... Você sabe qual é a capital da Suécia?” Quando eu não
respondia ou tentava explicar que o que a Geografia realmente estudava, o interlocutor perdia
o interesse no assunto. Você já ouviu algum comentário depreciativo ou positivo de adultos e
crianças sobre a Geografia e seu conteúdo? Registre as suas impressões sobre sua experiência
em relação ao interesse das pessoas pela disciplina e a ciência geográfica.
Na resposta da pergunta anterior, é bem provável que as experiências relatadas estejam
relacionadas ao desempenho pessoal do professor, e não com o conteúdo da Geografia em si.
Se o professor fosse comunicativo, interessante e agradável, as experiências na escola com a
Geografia possivelmente teriam sido mais fáceis. Mas, se ao contrário, o professor tinha uma
personalidade difícil, a recordação estará relacionada com a memorização dos rios, capitais
e rendas “per capita”.
Como uma disciplina com tantos elementos interessantes para manusear em sala de aula
– a bússola, o mapa, o globo terrestre etc – pode ser transformada numa disciplina enfadonha
a qual a única lembrança é a memorização de pontos geográficos?
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
6. Atividade 1
Você poderia listar algum tipo de incoerência ou inadequação nas informações
e mapas encontrados nos livros didáticos de Geografia?
Quando analisamos os livros utilizados em sala de aula e seu aproveitamento pedagógico
– que normalmente fica restrito à leitura, resumo e reposta às questões propostas – começamos
a encontrar razões para o desinteresse dos educandos.
“O RELÓGIO”
Vinícius de Moraes
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
4
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
7. Por outro lado, muitos educadores alegam que há excesso de conteúdo e pouco tempo
em sala de aula para explorar tudo o que é proposto.
Considerando que o tempo pedagógico expressa também a forma relacional educandoeducador, compondo assim os processos de ensino e aprendizagem, a questão é o modo
como são apresentados alguns conceitos complexos, os quais exigem compromisso ético e
político com a Educação, estruturas cognitivas adequadas, bem como a utilização de recursos
para a sua consolidação.
A didática tem, como marca de sua história, a função técnica, ou seja, aquela dimensão
que se refere ao processo de ensino-aprendizagem apenas como uma ação intencional que
procura organizar condições que propiciem a aprendizagem. Neste caso, são valorizados os
objetivos instrucionais, a seleção do conteúdo, as estratégias de ensino, a avaliação etc. É o
que se convencionou chamar de tecnicismo, no qual o fazer pedagógico está dissociado de
suas raízes político-sociais e ideológicas, fazendo crer que a Educação é neutra e se resume
aos instrumentos e técnicas, as quais, se bem utilizadas, levariam ao sucesso escolar.
Vários são os exemplos desta dimensão técnica da didática ainda em nosso cotidiano.
Muitas vezes, nossos educandos – ou mesmo os pais e gestores escolares – esperam dos
educadores o uso refinado de técnicas de modo a atrair a atenção, dinamizar a aula ou ainda elevar
a motivação. Tudo isto para cumprir os objetivos propostos e “chegar ao fim do livro didático”.
Sem querer diminuir a importância do livro didático, é sabido que a aprendizagem
não é linear, e que muitas vezes são necessárias várias estratégias para que se concretize a
aprendizagem. Por exemplo: uma pesquisa de campo, uma atividade lúdica para despertar
curiosidades... Enfim, um outro conjunto de processos que levem em conta outras dimensões,
como a política (ao se deparar com a realidade vivida de forma crítica e mediada pelo educador)
ou ainda a humana (ao deparar-se com sentimentos e valores que muitas vezes são negados
na sala de aula).
Sendo assim, o ensino de qualquer disciplina (no nosso caso, a Geografia), não é neutro
e requer a compreensão de que seus conteúdos devem ser contextualizados de acordo com
a realidade dos educandos, de modo a fazer sentido para os mesmos, e orientados para a
construção de um conhecimento que seja útil para o cidadão em formação.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
8. A Geografia como instrumento
de dominação
N
a verdade, observamos que a Geografia assume um papel ideológico de falsa
neutralidade, reproduzindo as relações de dominação, tornando-se incapaz de
desempenhar um papel crítico na construção da cidadania e no fortalecimento da
democracia.
O processo de construção do conhecimento acontece de acordo com o processo de
socialização dos indivíduos e, numa sociedade capitalista e de classes, a socialização se faz
sob interesses antagônicos, opondo-se sempre a uma ideologia dominante a outra dominada
(OLIVEIRA, 2003).
A criação de uma escola comprometida com a transformação da sociedade para se contrapor
à ordem vigente, requer uma nova proposta pedagógica que permita fazer uma reformulação dos
conceitos científicos, a partir da ótica do aprendiz, como sujeito de sua história.
A abstração apresentada no ensino de Geografia é fundamentada e reforçada pelo uso
de livros didáticos, muitos deles escritos para uma realidade local, universalizado a fórceps,
descontextualizando o assunto e o debate. É comum encontrarmos o uso de livros escritos
com referência aos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, sendo usados em
cidades interioranas, onde a configuração espacial e a disputa pelo território ocorrem em esferas
completamente diferentes das opções propostas pelo livro didático. Ou então, reproduzimos
erros primários como “o cipó de Tarzan ainda é o meio de transporte aéreo utilizado no interior da
selva...” (Livro Geografia das Paisagens – 8ª série, página 96, publicado pela editora IBEP).
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
9. Longe de serem equívocos isolados, a disseminação dos livros didáticos como uma
estratégia de unificar o ensino de Geografia dentro de uma metodologia dominante não é uma
característica do ensino no Brasil.
A França realizou uma reforma educacional para reestruturar o ensino de História e Geografia
no Ensino Básico. Entre as medidas estabelecidas, estava a diminuição da carga horária, a unificação
das duas disciplinas (lecionadas por um só professor) e a distribuição de manuais didáticos pelo
Estado. Para Lacoste (2003), existem formas sutis de controle social, censuras disfarçadas na
distribuição estatal de livros didáticos e que isso acontece exatamente no momento em que os
ensinamentos destas disciplinas estavam tornando-se incômodos para as classes dominantes.
Atividade 2
Você poderia relembrar como era a sua sala de aula no Ensino Fundamental
ou Médio? Descreva relacionando esta descrição com a ação pedagógica
envolvendo professores e alunos. Dê sua opinião aqui ou no Ambiente Virtual.
Porém, não é apenas o livro didático que compõe a dimensão pedagógica do ensino.
Se observarmos a substituição – nas últimas décadas, em grande parte das escolas – de
mesas e cadeiras por “carteiras”, as quais combinam “mesas/cadeiras” e restringem o uso e
a manipulação de vários objetos didáticos (dicionários, outros livros, experimentos etc). Outro
exemplo seria a disposição tradicional das cadeiras em sala de aula, com a qual concluímos
que tal disposição se baseia na idéia de que o professor é o único e exclusivo detentor do
saber e que este deve ser transmitido para seus alunos que, em separado, devem assimilá-lo.
Ou seja, o diálogo, a troca de idéias e experiências é reduzida na medida em que muitos ficam
“escondidos” atrás de seus colegas.
Assim, muitas são as reclamações dos alunos que, frequentemente, expressam: “Aquele
professor não tem didática!”, ou ainda: “A aula me dá sono, não consigo prestar atenção no
que o professor diz...”. Ou ainda, por parte dos professores: “Esses alunos não sabem ficar
quietos, não param nas suas carteiras, não se concentram na aula”. Tais queixas dizem respeito
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
10. à didática utilizada (baseada na dimensão tradicional e técnica somente), sem incorporar outras
dimensões fundamentais ao processo pedagógico que podem ser participativas, enriquecedoras
e motivadoras, gerando aprendizagens significativas e que, certamente, ao fazer sentido, farão
parte da realidade presente e futura dos alunos.
Estas limitações apresentadas acima não dizem respeito apenas às escolhas de professores
e alunos, mas também às concepções de ensino e de aprendizagem.
A concepção da aprendizagem significativa propõe uma explicação teórica do processo
de aprendizagem a partir do cognitivismo, o qual parte do processo de armazenamento da
informação e condensação em classes mais genéricas de conhecimentos, que são incorporados a
uma estrutura no cérebro do indivíduo, de modo que possa ser manipulada e utilizada no futuro.
Além disso, a aprendizagem significativa reconhece a importância da experiência afetiva.
Sendo assim, novas idéias e informações podem ser aprendidas na medida em que
conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura
cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para novas idéias
e conceitos. Importa também a interação dos conceitos com novos materiais que, segundo
Ausubel (1968), constitui uma “...experiência consciente, claramente articulada e precisamente
diferenciada, que emerge quando sinais, símbolos, conceitos e proposições potencialmente
significativos são relacionados à estrutura cognitiva e nela incorporados.”
Resumindo, a aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma nova informação se
relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Daí a importância
de trabalharmos a didática segundo suas dimensões técnicas, políticas e humanas.
No entanto, o que percebemos ainda no nosso sistema escolar é a compartimentalização do
conhecimento em disciplinas, exigindo do professor o domínio absoluto sobre aquele conteúdo, o
qual deve ser transmitido com toda a sua excelência para que o aluno o absorva em sua totalidade.
Porém, é sabido que esta especialização de conteúdos pode gerar o distanciamento da realidade,
da estrutura cognitiva do educando e da aprendizagem útil para a cidadania.
No caso do Ensino de Geografia, há uma outra especificidade, qual seja a existência de duas
vertentes em seu conteúdo: a Geografia física e a Geografia econômica/humana. Muitos professores
encontram dificuldades em transitar pelas duas e invariavelmente optam pelo favoritismo declarado
por uma delas, dificultando a compreensão do aluno sobre a inter-relação entre elas.
Pausa para orientação
De fato, este é um desafio no ensino: Como estabelecer as relações tão
essenciais entre os elementos da Geografia Física e a Geografia Humana, sem
continuar a ensinar os conteúdos como elementos estanques, apresentados
em gavetas e completamente descontextualizados?
8
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
11. O professor e o ensino
de geografia
“Todo amanhã se cria num ontem, através de hoje. De modo que o nosso futuro baseiase no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que
somos, para saber o que seremos”.
Paulo Freire
A formação do professor tem sido objeto da legislação e de reflexões que, longe de ser
consenso, sugere perfis esperados para o profissional da Educação. Sendo assim, o que a
legislação apresenta (através das Diretrizes Curriculares) são elementos básicos norteadores,
como, por exemplo, o perfil do profissional.
No caso das Diretrizes Curriculares para o Curso de Geografia, afirma-se a necessidade
de compreender a Geografia em seu processo de desenvolvimento histórico como área do
conhecimento, que busca conhecer e explicar as múltiplas interações entre a sociedade e a
natureza como uma totalidade dinâmica. Além disso, o desenvolvimento de “... metodologias
e tecnologias de representação do espaço (geoprocessamento e sistemas geográficos de
informação, cartografia automatizada, sensoriamento remoto etc.) quanto no que concerne ao
seu acervo teórico e metodológico em nível de pesquisa básica ( campos novos ou renovados
como geo-ecologia, teoria das redes geográficas, Geografia cultural, Geografia econômica,
Geografia política e recursos naturais etc.), quanto em nível de pesquisa aplicada (planejamento
e gestão ambiental, urbana e rural)”, vem demandando do profissional e do professor de
Geografia a capacidade de ser um pesquisador por excelência, de modo a articular novos
saberes, realidades, e formas de aprendizagens, recursos e metodologias próprias.
Recomenda-se, então, devido aos argumentos acima apresentados, que o professor
desta disciplina deverá re-significar a dimensão técnica da didática para ampliar a capacidade
de refletir sobre o ensino da Geografia enquanto uma prática social. Além disso, deve dispor
de conhecimentos sobre as tecnologias da informação e comunicação de modo a mediar os
processos de aprendizagens que não ocorrem somente no âmbito escolar.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
12. Atividade 3
“Uma ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados...”
sua resposta
Quantas vezes já ouvimos esta definição e a repassamos sem refletir criticamente
sobre ela? Assim como a definição do conceito de ilha ou os afluentes da margem
esquerda e direita do rio Amazonas, reproduzimos vários outros conceitos ou
estratégias de ensinar que são equivocadas ou ultrapassadas. Reflita sobre
outros elementos que você já usou em sala de aula e considera ultrapassado
nos dias de hoje. Registre aqui e publique no Ambiente Virtual para que seus
colegas compartilhem sua experiência:
É sabido que a formação do professor é um elemento fundamental no ensino da Geografia
Física. Alguns temas são bastante árduos e desdobrá-los para a compreensão de jovens em
níveis diferentes na capacidade de abstração, exige uma complexidade que não pode ser
ignorada. A maioria dos livros didáticos estimula a memorização dos processos e nomenclaturas
como única forma possível de aprendizagem para a Geografia Física.
Aqui encontramos uma outra questão importante para ser abordada: a distribuição dos
conteúdos ao longo das séries. Esta distribuição é tão equivocada que, por vezes, pode se
constituir em um desastre do ponto de vista da aprendizagem. O ensino de Coordenadas
10
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
13. Geográficas e Fusos Horários na 6ª ano do Ensino Fundamental é um desafio que faz muitos
professores se recusarem a lecionar para este grupo. A disposição deste conteúdo é agravada
pela base na disciplina que é construída com os alunos na educação básica. São tantos equívocos
e lacunas que o professor de Geografia do 6° ano, passa seis meses tentando restabelecer
conexões e fundamentos que já deveriam fazer parte do processo de formação destes alunos.
A sobreposição dos conteúdos com outras disciplinas como Ciências e História também
dificulta o processo de construção dos saberes geográficos nas séries iniciais. O olhar de outra
disciplina sobre o mesmo tema, de forma simultânea, provoca mais confusão na aprendizagem
do que os esclarecimentos necessários.
Assim, é comum um professor de Geografia ouvir, com freqüência, a desastrosa
frase: “a professora de Ciências já ensinou isso e não foi assim não...” O interessante é que
não existe uma legislação ou orientação do MEC que determine os conteúdos que serão
ensinados nas séries do Ensino Fundamental e Médio. As orientações dos PCN’s são restritas
ao desenvolvimento de competências e habilidades, assim como os temas transversais. Não
existe um documento que estabeleça o ensino de Países Desenvolvidos ou Américas no 8°
ano, por exemplo.
Então, por que então existe uma convenção na distribuição dos conteúdos nas séries
da Educação Básica? A resposta, apesar de simples, é surpreendente: porque as editoras
uniformizam os conteúdos para facilitar a venda e distribuição de livros! Ou seja, não existe
nenhuma legislação que impeça que o semi-árido seja o fio condutor da Geografia do Brasil no
6° ano, mas como os professores utilizam os livros elaborados na região Centro-Sul, limitamse a falar problemas das grandes cidades como se fosse o assunto preponderante das cidades
no interior da Paraíba ou do Rio Grande do Norte!
Pausa para orientação
Na minha sala de aula é possível encontrar:
n
Livros extras para os alunos manusearem;
n
Material de sucata para a construção de modelos e maquetes;
n
Livro texto adotado pela escola, caderno e mapas para colorir;
n
Quadro sempre cheio de atividades e resumos para ocupar os alunos ao
máximo em sala de aula;
n
Material organizado e alunos sentados e enfileirados.
n
Poucos materiais, mas alunos motivados e entusiasmados.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
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14. Novas tendências, novas
práticas, novos desafios...
Como superar estas dificuldades e nos concentrarmos no que realmente é essencial
no processo, ou seja, a construção dos raciocínios geográficos que, tal como a Matemática,
deveria permear a prática cotidiana de todos os indivíduos?
Sem dúvida, o primeiro passo nesta direção está na mudança de atitude do professor e de
sua prática em sala de aula. Um professor que apresenta os conteúdos de sua disciplina com
criticidade, conseguirá desenvolver o senso crítico em seus alunos desde que esteja disposto
também a exercer sua autocrítica, reavaliando constantemente suas práticas e estratégias.
No entanto, o que vem a ser a criticidade?
A criticidade é o elemento da prática educativa que leva a consciência crítica. Freire (1988),
afirma que antes da consciência crítica o que temos é a consciência ingênua, a qual revela
um simplismo na interpretação dos problemas e não se aprofunda na casualidade do próprio
fato. Por outro lado, a consciência crítica há um compromisso com a análise aprofundada
dos problemas.
Neste caso, o educador crítico reconhece que a realidade é mutável e não se satisfaz
com as aparências, discutindo com seus com seus educandos, os princípios autênticos de
causalidade.
12
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
15. Obviamente esta causalidade pode requisitar a compreensão de outras áreas do
conhecimento, o que implica em outro elemento de uma aprendizagem significativa: a
Interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade aqui é entendida como um princípio mediador entre as diferentes
disciplinas, constituindo-se como dispositivo teórico-metodológico da diversidade e da criatividade.
Jamais ela pode ser um elemento de redução a um denominador comum do conhecimento, mas
sim uma perspectiva de análise do saber que gere conhecimento útil e significativo.
Neste sentido, várias disciplinas (matemática, biologia, português, história etc), vários
saberes populares (lendas, parlendas, estórias, provérbios etc) ou ainda, dispositivos culturais
produzidos em multimídia (programas de TV, rádio, cinema etc) podem ser articulados de
modo a fornecer elementos que dinamizem a aprendizagem.
A elaboração de seu próprio material – o qual pode ser usado como guia ou livro-texto
– deveria ser estimulada, e os professores devidamente preparados para esta tarefa. Nada
mais interessante para o ensino de Geografia do que uma análise do local contextualizando-o
com o global. Tratar de temas que não permeiam a realidade dos professores e alunos, leva
ao distanciamento da disciplina, provocando uma abstração que a torna desinteressante e
desestimulante.
O uso de materiais concretos em sala de aula muda a perspectiva de conteúdos
complexos, os quais poderiam ser bem mais explorados se incorporássemos o lúdico em
sua apresentação.
A redistribuição de alguns conteúdos ao longo das séries e a incorporação de temáticas
locais potencializariam a disciplina como ferramenta na solução de problemas do cotidiano
(orientação, erosão, economia solidária etc.). Quando falamos em temáticas locais não estamos
nos referindo ao conteúdo de Geografia local (ainda apresentados com a delimitação de Estados
ou Municípios), mas sim, aos grandes temas que fazem parte do cotidiano das comunidades
onde a escola está inserida.
Conforme visto anteriormente, a aprendizagem só faz sentido para o aluno se ela
for realmente significativa e estiver contextualizada com a realidade. Ademais, este tipo
de conhecimento gerado apresenta a possibilidade de articulação com a realidade e inibe
a utilização da avaliação como instrumento de medição e invoca, ao avaliador (no caso o
educador) a perspectiva de uma avaliação que subsidie sua prática pedagógica, apontando
caminhos que sejam mais produtivos à prática pedagógica.
Ao perceber a Geogvrafia como uma disciplina que trata de problemáticas cotidianas e
aponta soluções, educandos e educadores passarão a compreendê-la como instrumento de
conscientização para a construção da cidadania plena e do conhecimento válido, suscitando,
nos mesmos, um movimento de retorno do conteúdo apresentado e permitindo inúmeras
contribuições para a aprendizagem.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
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16. A reformulação das práticas pedagógicas utilizadas na apresentação da disciplina nas
séries iniciais é urgente e contribuiriam para uma melhoria significativa na construção de
conceitos geográficos no segundo ciclo do Ensino Fundamental. Em tempos de globalização,
introduzir a disciplina Geografia com o bairro, o município, o Estado etc, reservando a
apresentação do Mapa do Mundo para mais tarde, não contribui em nada para a melhoria na
capacidade de orientação e localização dos indivíduos. É preciso mudar a perspectiva e isso só
será possível com a compreensão clara de que professores somos, que professores queremos
ser, o que esperam de nós (os alunos, a sociedade e a escola). Todos estes questionamentos
são complexos e inquietantes e pretendemos com este material apontar para algumas
possibilidades e caminhos possíveis de trilhar.
Atividade 4
O que move o ser humano em sua trajetória é a inquietação e necessidade
de aperfeiçoar e melhorar sua prática constantemente. Publique no Fórum do
Ambiente Virtual as ações pedagógicas que você já realizou ou experimentou
como professor para a melhoria da aprendizagem de seus alunos.
Concluindo o percurso
O
ensino de Geografia passa por um período de questionamentos e transformações
inerentes ao processo de discussão da própria Geografia como ciência. A Geografia
sempre foi utilizada como um instrumento de reprodução das classes dominantes
e para realizar uma prática transformadora e libertadora, é preciso conhecer e analisar as
tendências do ensino de Geografia no Brasil e no mundo conhecendo as possibilidades
pedagógicas para promover uma aprendizagem voltada para a cidadania e a real construção
dos saberes geográficos.
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Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
17. Leituras complementares
LEVY, Pierre. O Que é o Virtual? São Paulo: Ed.34, 1996.
Este livro aborda o uso da técnica através de um novo conceito de cultura e novos
elementos com a construção de espaço virtual, ou ciberespaço, apontando a tendência das
supervias de informação.
OLIVEIRA, A.U.(org). Para Onde Vai o Ensino de Geografia? São Paulo, Editora
Contexto. 2003.
Este livro reúne uma coletânea de textos de autores brasileiros e estrangeiros, buscando
aprofundar a discussão acerca da crise na Geografia e suas conseqüências para o seu ensino,
no contexto de uma sociedade capitalista onde todas as suas contradições surgem ao longo
da história, materializadas no território.
VESENTINI, J. W. (org.) Geografia e Ensino: Textos Críticos. Campinas, Papirus, 2007.
Neste livro, estão reunidos grandes geógrafos de renome nacional e internacional, que
atuam em várias universidades no Brasil e na França. Aborda o aspecto social da Geografia
a partir do questionamento de seu papel ideológico, sua falsa neutralidade e sua eficácia na
reprodução da dominação, sua metodologia e prática escolar.
Resumo
O ensino de Geografia é repleto de inúmeros desafios provocados pelas mudanças
no mundo globalizado e com o próprio objeto da Geografia enquanto ciência que
pode ser usado como instrumento de dominação. A formação do professor é
fundamental para o sucesso no ensino da disciplina na educação básica, sempre
impulsionada por novas tendências, novas práticas e novos desafios.
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
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18. Auto-avaliação
1
Releia o texto aqui apresentado, destaque os conceitos relacionados com didática
e aprendizagens e as contribuições para uma nova perspectiva do Ensino de
Geografia.
2
Faça uma reflexão sobre as novas tendências e desafios no ensino de Geografia e
a realidade vivenciada nas escolas atualmente, considerando novas possibilidades
para a apresentação dos conteúdos da disciplina.
Referências
EVANS, T NATION, D. Educational Technologies: reforming open and distance education.
In: Reforming open and distance education. Londres, Koogan, 1993.
FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1994.
________. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.
HARVEY, D. Condição Pós-Moderna - Uma Pesquisa Sobre as Origens da Mudança
Cultural, São Paulo: Loyola, 1993.
LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Unesp, 1999. Cortez, 2001.
OLIVEIRA, A.U.(org). Para Onde Vai o Ensino de Geografia? São Paulo, Editora Contexto.
2003.
OLIVEIRA, D.A. “Política Educacional nos Anos 1990: Educação Básica e Empregabilidade”,
in: DOURADO, L.F. e PARO, V.H. (org.). Políticas Públicas e Educação Básica, São Paulo:
Xamã, 2001.
VESENTINI, J. W. (org.) Geografia e Ensino: Textos Críticos. Campinas, Papirus, 2007.
16
Aula 01 Didática e o Ensino de Geografia
19. Didática e o Ensino de Geografia – GEOGRAFIA
EMENTA
Análise dos documentos necessários à organização do ensino; fundamentação teórico-metodológica para a organização
do trabalho docente; tendências atuais do ensino de geografia; a geografia e a interdisciplinaridade; a utilização de
diferentes fontes de informações e linguagens e a prática docente em geografia; situações problemas e a prática de ensino
em geografia.
AUTORAS
n
Sônia de Almeida Pimenta
n
Ana Beatriz Gomes Carvalho
AULAS
Didática e a prática educativa
02
Elementos da didática: os diferentes métodos de ensino
03
Tendências no ensino de Geografia
04
A contribuição dos parâmetros curriculares para o ensino de Geografia
05
O ensino de Geografia, a multiculturalidade e as tecnologias de informação
06
A interdisciplinaridade no ensino de Geografia e a pedagogia de projetos
07
Elementos para o ensino de Geografia (orientação e representação cartográfica)
08
O planejamento na organização da prática pedagógica
09
Teorias e práticas sobre a avaliação
10
A construção de conceitos nos primeiros anos do ensino fundamental
11
Temas em geografia no ensino fundamental
12
Temas em geografia no ensino médio
15
2º Semestre de 2008
01