O documento discute a inovação aberta e como ela vem sendo explorada no Brasil. Três pontos principais: 1) A inovação aberta propõe a abertura do processo de inovação entre empresas e o mercado; 2) No Brasil, apesar de poucos estudos, eventos e mídia têm divulgado casos de empresas adotando essa prática; 3) As políticas públicas brasileiras de incentivo à inovação são apropriadas para estimular um ecossistema de inovação aberta no país.
1. Inovação aberta: um modelo a ser
explorado no Brasil
POR BRUNO RONDANI E HENRY CHESBROUGH
A Inovação Aberta (Open Innovation) propõe risco e o custo de inovação aumentam. Cada vez
a abertura das fronteiras do processo de inovação mais, as empresas se vêm pressionadas a abrir
– da pesquisa básica à comercialização – man- seus processos de inovação, devido a fatores
tendo um fluxo constante entre as empresas e como: diminuição do tempo de vida de produtos,
o mercado. A companhia inovadora integra os com o acirramento da competição; aumento da
recursos internos e externos (ideias, competências, complexidade, especialização e convergência de
infraestrutura, tecnologias, capital), para alavancar tecnologias; consolidação da indústria de capital
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), e de risco; maior mobilidade de profissionais qua-
explora novos caminhos para colocar as inovações lificados e crescente distribuição na geração de
no mercado. conhecimento.
A prática da inovação aberta acontece por No Brasil, apesar da carência de estudos sobre
meio de acordos e se viabiliza de três formas, a disseminação da inovação aberta, eventos dedi-
conforme a direção do fluxo de recursos entre a cados ao tema e a abordagem na mídia voltada
empresa inovadora e os agentes externos: para o público executivo, têm divulgado numerosos
• De fora para dentro – se caracteriza pela coo- casos de empresas que adotaram essa prática.
peração com fornecedores, clientes, universidades Já é possível constatar no País a presença dos
e escoteiros tecnológicos. Seus tipos mais comuns fatores propulsores da inovação aberta, com mais
de acordo são o licenciamento, a contratação de um elemento estimulador: as políticas públicas de
P&D externo e aquisições. incentivo à inovação.
• De dentro para fora – se caracteriza pela
disponibilização de patentes, desinvestimentos e FIM DA ERA DE P&D CENTRALIZADOS A lógica
criação de spin-outs. emergente da inovação aberta se baseia na ideia
• Acoplada – está relacionada à formação de que a vantagem competitiva de uma empresa
de redes de inovação, tendo como acordos mais está na sua capacidade de articular conhecimento
comuns, o licenciamento cruzado, codesenvolvimen- e recursos (internos e externos) para inovar. Mas, a
to, joint-ventures e spin-offs. Os fundos internos de premissa que sustentava a lógica dominante – nas
capital de risco (fundos corporativos) podem fomen- décadas de 70 a 90 –, era a do fortalecimento do
tar tanto spin-in e spin-outs, quanto spin-offs. departamento de P&D interno, como barreira de
entrada a novos entrantes.
As práticas de inovação aberta se disseminam Foi um período em que predominaram, como
ao redor do mundo globalizado, à medida que o motores da inovação, os grandes laboratórios de
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2. PD corporativos centralizados. As empresas líde-
res faziam pesados investimentos em suas áreas
de PD internas, como estratégia para atrair e
reter talentos, oferecendo-lhes os melhores recur-
sos e infraestrutura para garantir bons resultados.
Rivais só poderiam ousar competir no mercado se
conseguissem levantar recursos para criar seus
próprios laboratórios, em proporções equivalentes
às dos líderes. Como ilustração desse fenômeno,
em 1981 os investimentos privados nos Estados
Unidos estavam concentrados (71%) nas grandes
corporações com mais de 25 mil funcionários; em
2005, essa concentração tinha caído para apenas
37,5%. Por outro lado, empresas com menos de
mil funcionários, que representavam apenas 4,5%
desses investimentos em 1981, aumentaram sua
participação para 24% em 2005.
Há exemplos famosos de laboratórios que
tiveram de se reinventar nos últimos anos: o Menlo
Park, fundado pelo lendário Thomas Edison em
1876, que deu origem à General Electrics (GE);
o Bell Labs, de 1920, inicialmente da ATT e
depois ligado à Lucent Technologies, mundial-
mente conhecido por inventar as principais tecno-
logias de ruptura no mundo dos semicondutores
e ter abrigado mais de uma dezena de cientistas
vencedores do prêmio Nobel; o Parc da Xerox,
criado em 1970 e conhecido por suas inúme-
ras inovações, aproveitadas por outras empre-
sas – como a invenção do mouse e da interface
gráfica, que viabilizaram a rápida ascensão da
Apple no mercado de computadores pessoais; o
MSResearch da Microsoft, fundado em 1991,
que nos últimos ano teve um orçamento médio da
ordem de US$ 7 bilhões anuais.
A história desses centros inovadores ilustra o
fim da era dos grandes laboratórios. Atualmente, a
GE mantém laboratórios de pesquisa distribuídos
entre Nova York, Bangalore, Xangai e Munique.
Na Lucent, o Bell Labs não conseguiu fazer frente
aos novos entrantes chineses e a líder teve que
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3. se fusionar à Alcatel, alterando completamente INOVAÇÃO ABERTA E O SISTEMA NACIONAL
suas políticas de pesquisa. Após ter perdido uma DE INOVAÇÃO (SNI) BRASILEIRO A inovação já
série de tecnologias para outras companhias, o faz parte da agenda governamental de desen-
Parc mudou completamente suas diretrizes para volvimento no Brasil – nos últimos anos, houve
uma abordagem de inovação aberta. E o sucesso uma multiplicação dos mecanismos públicos para
recente de empresas como Google e Apple impôs à incentivá-la. À promulgação da Lei de Inovação
Microsoft o desafio de entender que “inovação não (Lei 10.973), em 2004, se seguiram outras leis
é uma questão de quanto se investe em PD”, nas de incentivos fiscais, acompanhadas de maiores
palavras de Steve Jobs, fundador e CEO da Apple. orçamentos e atenção do poder executivo para
No Brasil, esse modelo de inovação se refletiu com as entidades promotoras, regulatórias e ava-
na política industrial nacional. Seguindo a mesma liadoras dos esforços inovativos. Apesar de ainda
lógica das grandes corporações americanas e euro- exigir melhorias, esse jovem sistema de políticas
péias, entre a década de 60 e a onda das privati- públicas tem conseguido a atenção do setor priva-
zações nos anos 90, o governo criou praticamente do, que responde com a apresentação de projetos
um grande centro de PD para cada monopólio e programas de inovação, além de críticas aos
estatal. A criação do Cenpes data de 1963 e teve mecanismos vigentes.
como missão centralizar as atividades de PD da A terceira Pesquisa de Inovação Tecnológica
Petrobras. O Cepel, fortemente inspirado no Menlo (Pintec) deste ano, que ainda será publicada,
Park, fundado quase que um século antes, foi cria- poderá avaliar melhor a efetividade do SNI. Por
do em 1974 com duplo objetivo: diminuir a carga enquanto, é cedo para tirar conclusões. Mas, já
exercida pelo pagamento de royalties ao exterior, podemos fazer algumas indagações sobre a dire-
desenvolvendo tecnologia nacional, e atender às ção que o sistema está tomando. Uma análise dos
demandas tecnológicas das empresas do sistema mecanismos criados nos últimos anos mostra que
Eletrobrás. O CPqD da Telebrás foi criado em as políticas públicas para inovação são apropriadas
1976, para “ocupar o posto de vanguarda tecnoló- ao desenvolvimento de um cenário de inovação
gica” no setor de telecomunicações. aberta no Brasil.
Na inauguração do Centro Ténico Aeroespacial A abordagem mais tradicional de PD interna
(CTA), em 1945, o professor Richard Smith, chefe exigia enormes investimentos, que só as gran-
do Departamento de Aeronáutica do Massachussets des empresas – geralmente monopólios – podiam
Institute of Technology, referindo-se às vantagens enfrentar. Já a abordagem da inovação aberta cria
estratégicas do centro, para transformar o Brasil um campo mais nivelado, onde pequenas e médias
em uma “nova potência aérea”, atestava: “todos empresas, universidades, startups e grandes corpo-
os laboratórios nacionais de aeronáutica podem rações formam, coletivamente, um ecossistema de
ser construídos e concentrados num único gran- inovação. As atuais políticas públicas estimulam
de centro de pesquisas e treinamento”. O CTA amplamente: a interação entre empresas e universi-
concluiu em 1968 o primeiro protótipo de avião dades; o fortalecimento das áreas de PD de empre-
industrializável, o Bandeirante, e assim viabilizou sas de todos os portes; a consolidação da indústria
a criação da Embraer em 1969. O CTA funcionou de venture capital; a criação de incubadoras de
como centro tecnológico da Embraer até sua priva- novos negócios e benefícios especiais para startups;
tização, em 1994. a formação de parques tecnológicos pelo país.
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4. Os mecanismos mais importantes podem ser
A INOVAÇÃO JÁ FAZ PARTE
organizados em seis linhas básicas:
• Apoio às Instituições Científicas e DA AGENDA GOVERNAMENTAL
Tecnológicas (ICTs) – as ICTs são entidades da DE DESENVOLVIMENTO
administração pública, que têm como missão ins-
titucional, dentre outras, desenvolver atividades de NO BRASIL
pesquisa básica ou aplicada, de caráter científico
ou tecnológico. Os programas de apoio a ICTs são
talvez os mais antigos do sistema nacional de ino-
vação brasileiro, mas a ideia de que o aumento de • Apoio ao pesquisador na empresa – ao
recursos para instituições de pesquisa é suficiente perceber uma distorção na absorção de recursos
para induzir a inovação, já está ultrapassada. Hoje, humanos altamente qualificados no País – com
os principais programas de financiamento de ICTs 70% dos mestres e doutores nas ICTs e apenas
exigem que os candidatos incluam em seus pedi- 30% em empresas –, o governo desenvolveu pro-
dos de atividades, a transferência tecnológica ao gramas de incentivo à inserção de pesquisadores
setor produtivo e parcerias com empresas. Esses nas organizações. Destacam-se o Programa de
programas medem os resultados de um projeto Capacitação de Recursos Humanos para Atividades
não apenas pela quantidade de artigos científicos Estratégicas (RHAE), do CNPq, que concede bol-
produzidos e estudantes formados, mas também sas para empresas incluírem mestres e doutores
por meio da quantidade de patentes e spin-offs em seus projetos internos de PD, e o programa
gerados. Dentre essas políticas, destacam-se o de financiamento Inova Brasil da Finep, que ofe-
programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão rece um crédito extra não reembolsável, conhecido
(Cepid), da Fapesp, e o programa Institutos como “vale-pesquisador”, para a empresa aplicar
Nacionais de Ciência e Tecnologia, do CNPq. na contratação de mestres e doutores. A Lei de
• Apoio a parcerias universidade-empresa – Inovação de 2004 permite que pesquisadores ser-
atualmente há diversos mecanismos para estimular vidores públicos peçam licença de seus cargos em
essas parcerias e a Lei de Inovação representa um ICTs, para conduzir iniciativas privadas sem perda
marco legal importante. A interação universidades- do cargo público. Se o empreendimento falhar, o
empresas não é nova, mas o modo como acontece pesquisador pode voltar à instituição e prosseguir
hoje é bem diferente das práticas de décadas ante- sua carreira. A Lei do Bem (Lei 11.196), de 2005,
riores. Destinada às ICTs, a Lei de Inovação esta- incrementa os benefícios fiscais para as empresas
belece uma série de mecanismos para a formação que abrirem postos de trabalho para pesquisadores
dessas redes de cooperação, como a obrigatorie- dedicados exclusivamente à PD.
dade de criar Núcleos de Inovação e Transferência • Apoio a projetos de PD e inovação (inter-
Tecnológica (NITs), e a possibilidade de transferir nos e externos) nas empresas – os investimentos
tecnologia e licenciar patentes de propriedade das na área de PD interna também são importantes
ICTs para ambientes produtivos com menos regu- num modelo de inovação aberta, pois sem eles a
lamentação. Vale também destacar as políticas de empresa perderia a capacidade de interagir ade-
apoio, como os editais dos Fundos Setoriais de CT, quadamente com o ambiente externo e atender a
administrados pela Finep, o Fundo Tecnológico demanda estratégica por tecnologia. As atividades
(Funtec) do BNDES e o Programa de Apoio à de PD internas ajudam a manter a atratividade
Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica das empresas, facilitam a formação de redes de
(PITE), que se expandiu a partir de 2004 numa inovação e colaboram com a área interna em seus
série de convênios com empresas para o lançamen- desafios. Podemos destacar alguns programas que
to de editais. Todos esses programas determinam estimulam empresas, de qualquer porte ou setor,
que as ICTs sejam as executoras principais do pro- a incrementar suas atividades internas e externas
jeto, tendo um parceiro empresarial na execução e de PD. O principal é a Lei de Informática (Lei
financiamento do projeto, cujos resultados devem 8.248/91), que concede uma redução do Imposto
visar à exploração comercial. de Produtos Industrializados (IPI) sobre a venda de
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5. A INOVAÇÃO ABERTA NÃO É Tecnológicos, para abrigar universidades, institutos
de pesquisa, incubadoras, laboratórios privados de
PRATICADA APENAS POR PD e fundos de venture capital. No âmbito fede-
MULTINACIONAIS ESTRANGEIRAS, ral, destaca-se o Programa Nacional de Apoio às
Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos
MAS TAMBÉM COMPANHIAS (PNI) da Finep, que apoia o planejamento, criação
LÍDERES NACIONAIS e consolidação de incubadoras de empresas e par-
ques tecnológicos.
equipamentos às empresas que se comprometem INOVAÇÃO ABERTA NO BRASIL No Brasil, a ino-
a investir 4% do seu faturamento em projetos de vação aberta não é praticada apenas por multina-
PD, executados interna e externamente – até cionais estrangeiras, mas também por companhias
2,16% pode ser interno e um mínimo de 1,86% líderes nacionais – empresas nascentes e univer-
deve ser externo. Outros importantes mecanismos sidades participam do processo, apoiadas por um
são os programas de financiamento a juros subsi- conjunto de políticas públicas.
diados, como o Inova Brasil da Finep (com o “vale- A Fapesp tem firmado uma série de convênios
ICT”) e o Linha Inovação Tecnológica do BNDES. de parceria com empresas para realização de pro-
O principal objetivo da Lei do Bem é dar incentivos jetos conjuntos de inovação, entre elas e univer-
a todas as empresas que investem em PD – há sidades localizadas no estado de São Paulo. Nos
benefícios adicionais quando elas investem em chamados “Convênios PITE”, a Fapesp e a empre-
ICTs ou startups. A Lei de Inovação introduziu na sa parceira lançam juntas um edital, destinado à
legislação brasileira a possibilidade de o Estado comunidade científica do estado, para chamada
oferecer subvenção econômica a atividades de de projetos em linhas de pesquisa previamente
PD, para empresas de qualquer porte ou setor. definidas. As propostas são analisadas pela Fapesp
• Apoio à criação de novos negócios – num e a empresa, e depois executadas em parceria,
mundo de inovação aberta, as startups são impor- entre o grupo de pesquisa vencedor e a equipe
tantes agentes de inovação. Empreendedores são da empresa. A propriedade intelectual resultante
condutores de inovações capazes de estimular o é, geralmente, compartilhada pela universidade,
mercado para um ganho de competitividade. A Fapesp e empresa parceira.
consolidação de indústrias de venture capital é Desde a primeira experiência, realizada em
um dos principais fatores de erosão do modelo 2004 com a Natura, a Fapesp já firmou outros
fechado de inovação. O governo brasileiro estimula dez convênios semelhantes, com empresas como
a criação de novos negócios através de diversos Microsoft, Instituto Fleury, Ouro Fino Saúde
programas: fundos de venture capital, subvenção, Animal, Oxiteno, Dedini, Telefônica, Padtec,
financiamento a juros subsidiados e incentivos Braskem e CiT Software. No caso da Natura,
fiscais. Vale destacar a importância dada a esse Telefônica e Braskem, a experiência ajudou as
tipo de apoio, com o lançamento do maior progra- empresas a abrirem seus processos de inovação e
ma de incentivo à inovação – Programa Primeira aperfeiçoar suas habilidades na gestão de projetos
Empresa Inovadora (Prime/Finep) – destinado a de PD com agentes externos.
apoiar 5.000 novas empresas e que, em sua pri- A Natura resumiu seu aprendizado com a ino-
meira chamada, contou com orçamento de R$ 1,3 vação aberta em cinco fatores-chave de sucesso:
bilhões. melhoria de processos para a integração de parcei-
• Apoio à criação de Parques Tecnológicos ros externos; estabelecimento de critérios claros
– apesar dos avanços na colaboração a distan- para parcerias; foco em temas estratégicos de pes-
cia, com as novas tecnologias de comunicação quisa; grande sinergia com mecanismos públicos
e transporte, a proximidade física ainda é fator de inovação; proatividade na busca de parceiros
importante para o sucesso de uma parceria. Nesse externos com forte exposição, externa e interna, do
sentido, há diversos programas federais, estadu- programa de inovação aberta.
ais e municipais que visam a criação de Parques Outra prática de inovação aberta no Brasil é o
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6. investimento em institutos independentes de PD criticada pelo governo – pela venda das startups
– caso da EMS, empresa nacional líder no setor para uma empresa estrangeira –, a experiência da
farmacêutico. Uma experiência anterior de tra- VNN serviu para mostrar a força das oportunidades
balho esporádico com universidades, em projetos de inovação aberta no Brasil e como se beneficiar
com financiamento público, mostrou à EMS que, de um financiamento público para desenvolver
sem processos internos capazes de absorver os a inovação. Projetos bem-sucedidos como esses
projetos bem-sucedidos, esse esforço cooperativo podem atrair mais capital de investimento para o
poderia não valer o custo de gestão. Após cinco sistema brasileiro de inovação.
anos dessa experiência, a empresa reuniu líderes Como vimos nesta série de exemplos e siste-
da comunidade científica brasileira para criação mas, a inovação aberta não está tão distante da
do Instituto Vita Nova de Pesquisa e Inovação realidade do País. Pelo contrário, as evidências
(IVN). Seguindo uma estratégia audaciosa, base- encorajam acadêmicos e gestores a aprofundar
ada nos conceitos da inovação aberta, o IVN foi o entendimento sobre esse fenômeno, que ainda
fundado com os seguintes objetivos: estabelecer reserva muitas oportunidades para as empresas
uma infraestrutura independente de pesquisa que brasileiras.
não concorra com os projetos internos de PD;
BRUNO RONDANI é diretor-executivo do Centro de Inovação Aberta no
executar a transferência de tecnologia para a EMS; Brasil, membro do Conselho Superior de Tecnologia e Competitividade da
desenvolver processos industriais de scale-up para Fiesp e sócio-fundador da Allagi Open Innovation Services.
projetos de pesquisa realizados por parceiros exter-
HENRY CHESBROUGH é diretor-executivo do Centre for Open Innovation,
nos; gerir uma incubadora interna responsável pela da Universidade da Califórnia-Berkeley, onde também é professor. Autor
de Open Innovation: the New Imperative for Creating and Profiting from
atração de projetos de empresas nascentes; criar Innovation (Harvard Business Press, 2003) e Open Business Models: How
to Thrive in the New Innovation Landscape (Harvard Business School
um ambiente de trabalho cooperativo entre parcei- Press, 2006)
ros externos (concorrentes e empresas de outros
setores), com governança independente.
Outra iniciativa trazida ao Brasil pela
Votorantim Novos Negócios (VNN), e muito comum
em ambientes de inovação aberta, foi o capital de Centro de Inovação
risco corporativo. O grupo Votorantim, um con-
glomerado de indústrias de commodities (papel,
Aberta no Brasil
cimento e alumínio), percebeu que os startups
O Centro Open Innovation–Brasil é uma
poderiam também orientar os planos de uma
comunidade de prática que reúne profis-
grande corporação. A VNN foi criada para ser o
sionais e estudiosos envolvidos na aplicação
capital de risco e private equity do grupo e investir
da gestão da inovação aberta, guiados pelo
primariamente em biotecnologia e tecnologia da
princípio do learning by doing (aprender
informação. Uma das principais razões, que levou
fazendo). Criado a partir da troca de ideias
o Conselho de Administração a criar a VNN, foi a
entre empresários brasileiros e o professor
intenção de aprender a decidir sobre o investimen-
Henry Chesbrough – em sua primeira visita
to em inovação.
ao país em 2008 – tem colaborado para a
Em dez anos de operação, a VNN investiu em
formação de uma comunidade de estudos
um portfólio diversificado, dedicando seus dois
sobre a implementação da inovação aberta
maiores projetos à área de biotecnologia – em
no Brasil. Contando hoje com mais de 300
2002 e 2003, criou a Allellyx e a CanaVialis,
membros gestores de inovação, o centro se
empresas spin-outs de um programa científico
dedica ainda a divulgar esses estudos em
de financiamento público, que chegaram a arre-
empresas, universidades e escolas de negó-
cadar mais de R$ 60 milhões em subvenções do
cios nacionais e internacionais.
programa Finep. Após quase sete anos de investi-
Para outras informações, acesse: http://
mento, a VNN vendeu as duas empresas por R$
openinnovationbrasil.ning.com/
660 milhões para a Monsanto, líder mundial em
biotecnologia para agricultura. Embora fortemente
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7. Como se beneficiar das
políticas públicas de inovação
O próprio governo reconhece que os programas de incentivo à inovação no Brasil ainda pre-
cisam ser aprimorados e mais divulgados. São raras as empresas que conhecem todas as opor-
tunidades oferecidas por esses programas, e também escassas as que monitoram os avanços das
políticas públicas para identificar oportunidades que se encaixem em suas necessidades.
Selecionamos algumas recomendações para as empresas interessadas em aproveitar os
benefícios oferecidos:
• Adapte-se aos programas existentes, utilize-os e somente depois, os critique – a crítica
antecipada pode levar os tomadores de decisão da empresa a rejeitarem a utilização de um pro-
grama, sem a devida reflexão. Enquanto o governo não coordena melhor as ações, ou não adapta
os programas às demandas específicas de sua empresa, busque dentro das políticas públicas
alguma forma de usufruir dos benefícios. E mesmo que o edital não pareça totalmente adequado,
apresente seu projeto. Se não for aprovado, pelo menos o governo terá identificado o não enqua-
dramento da sua proposta e poderá levá-la em consideração quando formular o próximo edital.
• Busque apoio do governo para sua estratégia de inovação desde o início da implantação
– sempre que possível, interaja com os representantes dos programas de apoio e incentivo do
governo, desde o início, comentando as ideias que você tem para montar sua proposta. Esse
intercâmbio será útil para obter recomendações que podem ser fundamentais e também ajudará
o governo a afinar os mecanismos.
A aplicação de diferentes modalidades de inovação aberta aumenta a complexidade de gestão
– diferentes modalidades exigem processos também diferentes. Se sua empresa está começando
a construir ou reformulando programas de inovação aberta, fique atento às seguintes recomenda-
ções:
• Não comece um programa de inovação aberta sem encorajar internamente o espírito de
colaboração – se a empresa tem problemas com a integração dos gestores das diferentes áreas,
dificilmente conseguirá receptividade interna para fazer parcerias externas. Isso costuma acon-
tecer com organizações em estágio de rápido crescimento ou após fusões e aquisições. Quando
for o caso, deve-se trabalhar também a mudança da cultura da empresa, passando da “sín-
drome do não inventado aqui” para a “atitude do adquirido orgulhosamente em outro lugar”.
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8. Em grandes corporações ou conglomerados, antes de implantar programas de inovação aberta
voltados para o público externo, é preciso trabalhar a cooperação entre as empresas do grupo.
• Antes de buscar oportunidades fora da empresa, tenha a certeza de poder aplicá-las inter-
namente – antes de investir recursos na prospecção externa de tecnologias, parcerias e opor-
tunidades de inovação, o gestor responsável deve se assegurar de que a empresa tem condições
de internalizar aquela oportunidade. É comum, depois de um grande esforço de prospecção e
negociação com potenciais parceiros que pode durar meses, e declaração de interesse dos dois
lados, surgirem alguns entraves (política interna, propriedade intelectual, políticas de royalties,
aspectos de governança). Eles podem impedir que a oportunidade seja aproveitada, desgastando
as relações com o potencial parceiro.
• Ao criar um programa de inovação aberta não faça muita publicidade antes de ter casos
de sucesso para divulgar – em geral, a demanda e aceitação interna de uma abertura maior
estão relacionadas a experiências bem-sucedidas anteriormente. No Brasil, é comum ouvir das
empresas que a relação com universidades foi um desastre, no passado, e por isso não há inter-
esse em retomá-la. Para amenizar a resistência interna, é recomendável desenvolver projetos
bem-sucedidos anteriormente, mesmo pequenos ou de menor relevância.
• Esteja atento aos aspectos culturais e formação de recursos humanos – é comum pes-
quisadores e engenheiros de PD interno perceberem a inovação aberta como um risco para a
manutenção da equipe interna; outro entrave a ser considerado é o temor de uma diminuição
da relevância do PD interno.
• Antes de criar um programa de inovação aberta, fortaleça o departamento de PD interno
– para que o programa de inovação aberta seja bem aceito pelos colaboradores, e os projetos
prospectados externamente possam ser avaliados e internalizados, é fundamental um departa-
mento de PD interno consolidado e fortalecido. Esse cuidado também ajuda a aumentar a atra-
tividade dos projetos de inovação para a empresa, pois sem um interlocutor interno qualificado,
os parceiros não conseguem expor suas propostas de forma efetiva.
• Forme profissionais capazes de articular os diferentes agentes de inovação – gerenciar pro-
cessos em um ambiente de inovação aberta exige um perfil generalista do profissional designado
para essa atividade: conhecimentos em prospecção de tecnologia e mecanismos de propriedade
intelectual e licenciamento; perfil negociador; entender a dinâmica das diferentes instituições
envolvidas no processo de inovação e ter bom trânsito nelas; conhecer bem as políticas públi-
cas; ter conhecimento da importância dos modelos de negócios para a exploração da inovação.
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