Memórias de um sargento de melícias - Características da obra
2. Escritor romântico de transição para o Realismo, Manuel Antônio de Almeida
(1831-1861) se formou em Medicina mas era jornalista por excelência. Um de
seus empregos antes do jornalismo foi assistente de tipógrafo.Escreveu uma única
obra em vida. Morreu tragicamente aos 30 anos de idade, no naufrágio do navio
Hermes.
3. Memórias de um Sargento de Milícias surgiu como
um romance de folhetim, ou seja, em capítulos,
publicados semanalmente no jornal Correio
Mercantil, do Rio de Janeiro, entre junho de 1852
e julho de 1853. A história saiu em livro em 1854
(primeiro volume) e 1855 (segundo volume), com
autoria creditada a “Um Brasileiro”.
4. A história se passa no começo do
século XIX.
O romance tem início com a
expressão “Era no tempo do rei”,
referindo-se ao rei português Dom
João VI.
5. Leonardo –O sargento de milícias a que se refere o
título da obra.
Leonardo-Pataca – pai de Leonardo, um meirinho
(oficial de Justiça) que durante sua viagem ao Brasil,
conhece Maria das Hortaliças.
Maria das Hortaliças – mãe de Leonardo, uma saloia
(camponesa) muito namoradeira, que abandona o filho
para ficar com outro homem.
O Compadre (ou Padrinho) – é dono de uma barbearia e
toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a
criança.
6. A Comadre (ou Madrinha) – mulher gorda e bonachona, apresentada como
ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas.
Major Vidigal – homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar
do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e
centralizado.
Dona Maria – mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto
bem cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das
demandas (disputas judiciais).
Luisinha – sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se
transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora.
Vidinha – mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de
Leonardo.
Há ainda José Manoel, Chiquinha, Maria Regalada...
7. A obra conta as aventuras de Leonardo ou Leonardinho,que nasceu de
uma“pisadela” e um “beliscão”, seu pai, Leonardo Pataca e sua mãe Maria da
Hortaliça conheceram-se no navio em que vinha de Portugal para o Brasil.
Como os pais não desejaram criá-lo, Leonardo fica por conta de seu padrinho
(um barbeiro) e de sua madrinha (uma parteira), após a separação dos seus
pais.
Sempre metido em travessuras, desde cedo Leonardo mostra-se um grande
malandro. Já moço, apaixona-se por Luisinha, mas põe o romance a perder
quando se envolve com a mulata Vidinha. A primeira decide, então, casar-se
com outro.
Tempos depois, Leonardo é preso pelo Major Vidigal, enfrenta diversos
problemas, mas acaba sargento de milícias. Quando da viuvez de Luisinha,
reaproxima-se da moça. Os dois casam-se e Leonardo é reabilitado.
8. Samba enredo
"Memórias de um sargento de
milícias"
Autor: Paulinho da Viola
Era no tempo do rei
Quando aqui chegou
Um modesto casal
Feliz pelo recente amor
Leonardo, tornando-se meirinho
Deu a Maria Hortaliça um novo
lar
Um pouco de conforto e de
carinho,
Dessa união nasceu um lindo
varão
Que recebeu o mesmo nome de seu
pai
Personagem central da história
Que contamos neste carnaval
Mas um dia Maria
Fez a Leonardo uma ingratidão
Mostrando que não era uma boa
companheira
Provocou a separação,
Foi assim que o padrinho passou
A ser do menino tutor
A quem deu imensa dedicação
Sofrendo uma grande desilusão,
Outra figura importante de sua
vida
Foi a comadre parteira popular
Diziam que benzia de quebranto
A beata mais famosa do lugar,
Havia nesse tempo aqui no Rio
Tipos que devemos mencionar
Chico Juca era mestre em valentia
E por todos se fazia respeitar
O reverendo, amante da cigana
Preso pelo Vidigal, o justiceiro
Homem de grande autoridade
Que à frente dos seus granadeiros
Era temido pelo povo da cidade,
Luizinha, primeiro amor
Que Leonardo conheceu
E que dona Maria
A outro como esposa concedeu
Somente foi feliz
Quando José Manuel morreu
Nosso herói outra vez se
apaixonou
Quando sua viola a mulata
Vidinha
Esta singela modinha contou:
Se os meus suspiros pudessem
Aos seu ouvidos chegar
Verias que uma paixão
Tem poder de assassinar
9. O livro Memórias de um Sargento de Milícias é um Romance Urbano tem
como principal característica retratar e criticar os costumes da sociedade
carioca do século XIX. Nele a vida social do Rio de Janeiro era retratada,
como também os ambientes urbanos.
A linguagem é popularesca, coloquial, mais de acordo com
pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas
sociais simples.
10. Temos uma obra ainda romântica, porém com certo caráter
picaresco, herança espanhola que traz à tona uma visão divertida
de determinada época.
O foco narrativo é em terceira pessoa, com um narrador
onisciente, que interfere no texto, faz observações e busca contato
com o leitor (tentativa de diálogo).
Já vê pois o leitor que o negócio não estava mal parado, e em breve saberá
o resultado de tudo isto. (p.21)
11. Duas forças de tensão movem as personagens do romance: ordem e
desordem, que se revelarão características profundas da sociedade colonial
de então.
Personagens como o major Vidigal, a comadre, dona Maria e o compadre
pertencem ao lado da ordem. Mas os personagens desse polo nada têm de
retidão, apenas estão em uma situação social mais estável.
O polo da desordem é formado pelo malandro Teotônio, o sacristão da Sé e
Vidinha. A acomodação dos personagens, tanto na ordem como na
desordem, está sujeita a uma mudança repentina de polo, ou seja, não existe
quem esteja totalmente situado no campo da ordem nem no da desordem.
12. No Romance há uma queda da idealização romântica dos personagens,
mostrando-nos, inclusive, a figura de um anti-herói como protagonista do
enredo.
(...) pequeno, dizemos, tendo tantas coisas boas, escolheu a pior possível: nem foi
para Coimbra, nem para a Conceição, nem para cartório algum; não fez nenhuma
destas coisas, nem também outra qualquer: constituiu-se um completo vadio, vadio-
mestre, vadio-tipo.(p .49)
13. A análise de algumas passagens da obra literária “Memórias de um
Sargento de Milícias” tem por finalidade compreender a vida suburbana do
Rio de Janeiro, os costumes, hábitos, referências musicais, instrumentos,
descrição de danças, as modinhas mais populares, como sendo parte da
história do Brasil.
São três graus, principalmente, em que se desenvolve a narrativa
romântica: Cidade, campo, selva ou vida urbana, vida rural ou
vida primitiva, a partir desses três elementos acontece a
verdadeira tomada de consciência da realidade
brasileira no plano artístico, o verdadeiro ideal do nacionalismo
brasileiro.
(CÂNDIDO, 2000, p. 70-74)
14. A consolidação dessa nacionalidade é componente
fundamental no projeto literário e ocorre todas as vezes que
um leitor se reconhece nas cenas que lê.
Grande parte do Campo estava já coberta daqueles ranchos sentados em
esteiras, ceando, conversando, cantando modinhas ao som de guitarra e
viola. Fazia gosto passear por entre eles, e ouvir aqui a anedota que
contava um conviva de bom gosto, ali a modinha cantada naquele tom
apaixonadamente poético que faz uma das nossas raras originalidades,
apreciar aquele movimento e animação que geralmente reinavam.(p.54)
15. Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc.
XIX, o romance focaliza os tipos populares do Rio de Janeiro
suburbano. Esse painel pitoresco retrata a alegria de viver, a
malícia da época, as fofocas, as beatices, as crendices, as festas,
as profissões, os costumes e hábitos de nosso povo.
Um dia de procissão foi sempre nesta cidade um dia de grande festa,
de lufa-lufa, de movimento e de agitação(...) enchiam-se as ruas de
povo (...) (p.44)
16. A identidade nacional é um discurso e, por isso, ela, como
qualquer outro discurso, é constituída dialogicamente.
BAKHTIN, Mikhail,(1970, p. 34-36; apud Fiori, 2009 p.117).
17. É desse modo que Manuel Antônio de Almeida caracteriza o personagem
Leonardo, que resulta num herói sem nenhum caráter, ou melhor, que
apresenta os traços fundamentais do estereótipo do brasileiro. Manuel
Antônio de Almeida é o primeiro a fixar em literatura o caráter nacional
brasileiro, tal como terá longa vida em nossas letras (...) Creio que se pode
saudar em Leonardo o ancestral de Macunaíma.
GALVÃO, Walnice Nogueira, (1976)
18. ALMEIDA Manuel Antonio de, Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Ática,
Série Bom Livro, 1991
Análise da Obra Memórias de um Sargento de Milícias. Disponível em :
http://oficinadohistoriador.blogspot.com.br/2012/04/analise-da-obra-memorias-de-um-
sargento.html Acesso em 18 julho.2014
CANDIDO.Antonio, 1918- Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6 ed.
Belo Horizonte. Itatiaia, 2000.
CANDIDO .Antonio, Dialética da Malandragem caracterização das Memórias de um
sargento de milícias In: Revista do Instituto de estudos brasileiros, nº 8, São Paulo, USP,
1970, pp. 67-89
BAKHTIN, Mikhail. L’oeuvre de François Rabelais et la culture populaire au Moyen Âge
et sous la Renaissance. Paris: Gallimard, 1970
GALVÃO, Walnice Nogueira. No tempo do rei. In: _____. Saco de gatos. Ensaios
críticos. São Paulo: Duas Cidades, Secretaria da Cultura, Ciência e tecnologia do Estado
de São Paulo, 1976.
FIORIN, José Luiz ,BAKHTINIANA, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 115-126, 1o sem. 2009