1. DESAFIOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS
QUESTÕES SOCIAIS NO MUNDO
CAPITALISTA
Sergio de Goes Barboza
A patologia social é visível no interior da sociedade, percebe-se tal fato
pelas transferências de responsabilidades que hoje vemos do primeiro setor
(empresas públicas) para as empresas privadas e sociedade civil. É notório
que o governo não tem vocação para o social, daí o crescimento do terceiro
setor nesta área.
É inegável que a maioria dos países capitalistas está
mergulhada em uma crise do trabalho social que se manifesta
sob a forma de taxas elevadas de desemprego, de aumento
virulento do desemprego de longa duração, que em muitos
casos se transforma em patologia social e em exclusão social
(SINGER, 1999:56).
A sociedade capitalista interfere constantemente e diretamente no
cotidiano dos trabalhadores, pois as transformações sociais praticadas por este
sistema levam em consideração primeiramente a sua própria lógica, ou seja, a
concentração de renda que se acentua cada vez mais, e em contrapartida
deixando a margem à maioria da população.
Links
Veja no link a seguir o texto sobre o 2º. Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais no
Brasil – Unioeste: Para além dos conflitos: Um estudo sobre o papel do Serviço Social frente
aos Impactos das Relações entre Capital e Trabalho: http://cac-
php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/servico_social/MSS28.pdf
A Sociedade posterior à Revolução Industrial esteve e ainda esta numa
constante transformação e a excepcionalidade da forma social que se instala
2. na sociedade capitalista revela de forma decisiva o seu caráter patológico.
Sabe-se que o fato social é normal quando corresponde às condições de
existência da sociedade. Diante de tais circunstâncias indagamos se a
sociedade como está é possível. Atualmente os profissionais que atuam
perante os enfrentamentos das questões sociais têm como desafios também o
próprio sistema.
Por que o próprio sistema?
Porque é preciso destruir a inversão ideológica. Muitos profissionais
ligados aos capitalistas são obrigados a proporcionarem um trabalho alheio à
sua própria vontade, ou seja, são obrigados a seguirem determinações com
base em um discurso sobre o social e um discurso sobre o político como
comenta Marilena Chauí.
A ideologia, segundo Chauí, torna-se um discurso sobre o
social e um discurso sobre o político, pretendendo fazer
coincidir as representações sobre o social e o político com
aquilo que o social e o político seriam na sua realidade. O
Estado será responsável por tentar fazer com que o ponto de
vista da classe dominante (que domina o próprio Estado)
apareça para todos como universal. O Estado vinculado à
ideologia vai proporcionar à sociedade aquilo que ela na
realidade, não tem: unidade, identidade e homogeneidade. O
Estado tem como função ocultar os conflitos e antagonismo
que exprimem a existência das condições próprias de uma
sociedade dividida em classes. Segundo Chauí a ideia de que
o Estado representa toda a sociedade e de que todos os
cidadãos estão representados nele é uma das grandes forças
para legitimar a dominação dos dominados (isto é, para fazer
3. com que essa dominação seja aceita como normal, legal, justa)
(TOMAZI, 2000, p. 182)
Hoje estamos vivendo numa sociedade possível? Em que as
ações encontram-se dentro dos limites permitidos pela ordem social
e pela moral vigente?
Quais os grandes desafios para os enfrentamentos das questões sociais
no mundo capitalista?
Podemos fazer uma analogia à Links
história do menino selvagem de Aveyron. Veja O menino selvagem de
Você já pensou como seria sua vida se Aveyron:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes
vivesse de forma individual e isolada sem
/opombo/cinema/dossier/meninos
contato com outros indivíduos? elvagem.pdf
Como seria seu comportamento depois de viver uma grande parte de sua
vida em uma selva, como a história que conhecemos de um menino que foi
encontrado numa região da França chamada Aveyron?
Certamente você iria estranhar e perceber a grande diferença em viver
numa sociedade. Seguramente a sua realização enquanto ser social só
seria possível nessa nova sociedade se conseguisse integrar-se a essa
nova estrutura.
INTEGRAR-SE é a grande questão desta analogia com os fatos de nossa
realidade.
Aqui observamos que para viver em sociedade há a necessidade de certo
consenso e, ao mesmo tempo, de solidariedade entre seus membros. Da
mesma forma que a sociedade vai se desenvolvendo, se tornando mais
complexa, paralelamente a solidariedade também vai variando segundo o grau
de modernidade.
Como aquele menino selvagem de Aveyron, compara-se analogicamente,
a maioria da população que estão à margem da pobreza, vivendo numa
situação totalmente inversa da minoria. Os desafios são consequentemente
4. integrá-los à vida social, à estrutura adequada em que lhes proporciona uma
vida cidadã. Trazê-los para a “sociedade” e transformando-os em cidadãos de
fato não é uma ação fácil, pois é preciso, como no nosso exemplo, adequá-los
à nova estrutura.
Vemos muito desta realidade nas favelas quando desativadas e as
famílias transferidas para os novos assentamentos. Sem condições às novas
estruturas, o novo morador acaba vendendo ou trocando seu imóvel e voltando
novamente à realidade antiga. Ou fazendo deste novo local uma favela, com as
mesmas características. Considere-se assim, que dar-lhe um imóvel
simplesmente, não é transformá-lo em cidadão e nem proporcioná-lo condições
de plena realização enquanto ser social.
É possível, nesta analogia, observarmos duas sociedades existentes
como aquela referenciada por Karl Marx (1818-1883). A classe dos que
dominam e impõe a sua ideologia e as dos trabalhadores. Estes diante das
estratégias do próprio capitalismo encontram-se muitos, fora do mercado de
trabalho, proporcionando desta forma, uma questão social preocupante, uma
patologia social. Afinal a falta do trabalho numa proporção considerável,
desencadeia vários outros problemas sociais. Para o capitalista é necessário
um exército de mão-de-obra de desempregados para conduzir sua acumulação
de riquezas levando em consideração a relação “oferta e procura”. Desta forma
um menor custo de mão-de-obra e uma mais-valia mais adequada aos desejos
do capitalista.
Bibliografia
SINGER, Paul. Alternativas da gestão diante da crise do trabalho. In: RICO, Elizabeth,
Raquel. Gestão Social uma Questão em Debate. São Paulo: EDUC, 1999.
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.) Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000