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CARLOS DRUMMOND
   DE ANDRADE




    Prof. William Ferraz
BIOGRAFIA
 Drummond é consagrado pela tradição
    como o maior poeta brasileiro. Obteve um
    reconhecimento único em vida:

 foi capa de revistas,
 enredo de escola de samba,
   assunto de programas de televisão.

    Sua morte provocou comoção nacional,
    merecidamente.
Mangueira: O Reino das Palavras – 1987 – Rody, Verinha e Bira do Ponto

  Mangueira                             Olha as carrancas
  de mãos dadas com a poesia            do rio São Francisco
  traz para os braços do povo           rema rema remador
  este poeta genial                     primavera vem chegando
  Carlos Drumond de Andrade             inspirando amor
  suas obras são palavras               o rio toma forma de sambista
  de um reino de verdade                como o artista imaginou
  Itabira                               Na ilusão de um sonho
  em seus versos ele tanto exaltou      achei                          bis
  com amor                              o elefante que eu imaginei
  eis aí a verde e rosa               bis
  cantando em verso e prosa
  o que ao poeta inspirou
  É Dom Quixote ô
  é Zé Pereira
  é Charlie Chaplin             bis
  no embalo da Mangueira
BIOGRAFIA
 Carlos Drummond de
  Andrade nasceu em Itabira do
  Mato Dentro - MG, em 31 de
  outubro de 1902. De uma
  família de fazendeiros em
  decadência, estudou na cidade
  de Belo Horizonte e com os
  jesuítas no Colégio Anchieta
  de Nova Friburgo RJ, de onde
  foi expulso por "insubordinação
  mental".
 De novo em Belo Horizonte,
  começou a carreira de escritor
  como colaborador do Diário de
  Minas, que aglutinava os
  adeptos locais do incipiente
  movimento modernista mineiro.
BIOGRAFIA
   Ante a insistência familiar para que obtivesse um
    diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro
    Preto em 1925.

 Fundou com outros escritores ”A Revista”, que,
  apesar da vida breve, foi importante veículo de
  afirmação do modernismo em Minas.
 Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se
  para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de
  Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.
 Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio
  Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em
  1962. Desde 1954 colaborou como cronista
  no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no
  Jornal do Brasil. Morreu no Rio, em 1987.
Confidência do Itabirano
   Alguns anos vivi em Itabira.
    Principalmente nasci em Itabira.
    Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
    Noventa por cento de ferro nas calçadas.
    Oitenta por cento de ferro nas almas.
    E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

    A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
    vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
    E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
    é doce herança itabirana.

    De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
    esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
    este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
    este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
    este orgulho, esta cabeça baixa...

    Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
    Hoje sou funcionário público.
    Itabira é apenas uma fotografia na parede.
    Mas como dói!
Confidência do Itabirano

   O poema começa com a saudade profunda de seu
    lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas
    sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que
    aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas,
    paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de
    Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no
    sofrimento. De Itabira vem a explicação de
    Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3,
    verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta
    sente uma incomensurável saudade de sua cidade
    natal.
Drummond e seus poemas eróticos
 Drummond sempre se comportou de
 modo discreto, avesso à publicidade,
 notabilizando-se como tradicional pai de
 família. Todavia, após a morte, veio a
 público sua faceta íntima de amante
 dedicado, pois manteve um longo e
 intenso amor paralelo à vida familiar, que
 lhe inspirou diversos poemas eróticos,
 bem mais explícitos do que os que
 normalmente publicava em seus livros.
O amor natural: poemas
    pornográficos
          A língua lambe

 A língua lambe as pétalas vermelhas
 da rosa pluriaberta; a língua lavra
 certo oculto botão, e vai tecendo
 lépidas variações de leves ritmos.

 E lambe, lambilonga, lambilenta,
 a licorina gruta cabeluda,
 e, quanto mais lambente, mais ativa,
 atinge o céu do céu, entre gemidos,
 entre gritos, balidos e rugidos
 de leões na floresta, enfurecidos.
As 4 fases de Drummond
 A poesia drummondiana apresenta quatro
  fases marcantes, que representam a
  própria evolução do Modernismo no
  Brasil.
 Inicialmente seus versos foram muito
  influenciados pelos ideais da Semana de
  arte moderna de 1922.
1ª FASE
 Alguma poesia (1930)
 Brejo das Almas (1934)


 Nesta fase percebe-se a recorrência do
  verso livre, do poema-piada, da concisão
  poética, do prosaísmo e do coloquialismo.
 Muitos poemas dessa época funcionaram
  quase como provocação aos admiradores
  da poesia do século XIX. É o caso de “No
  meio do caminho”.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
                          Revista de Antropofagia, 1928
                      Incluído em Alguma poesia (1930)
 Individualismo

  Pessimismo



                          eu “gauche”

                 Poema de sete faces
     Quando nasci, um anjo torto
     desses que vivem na sombra
     disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
     (...)
2ª FASE
   Sentimento do mundo (1940),
   José (1942)
    A rosa do povo (1945)

   Com o golpe do Estado Novo e a Segunda Guerra
    Mundial, Drummond, cuja poesia sempre deixou
    transparecer a valorização dos regimes de
    esquerda, passou a discutir questões
    sociopolíticas mais amplas.
   As questões existenciais não são deixadas de
    lado a esta altura, mas os três livros dessa fase
    misturam-nas à preocupação social.
   O Coloquialismo se mistura com sombra de
    Classicismo.
solidariedade e luta    Mãos dadas
     Não serei o poeta de um mundo caduco.
     Também não cantarei o mundo futuro.
     Estou preso à vida e olho meus companheiros.
     Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
     Entre eles, considero a enorme realidade.
     O presente é tão grande, não nos afastemos.
     Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

     Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
     não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem
     vista da janela,
     não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
     não fugirei para as ilhas nem serei raptado por
     serafins.
     O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
     homens presentes,
     a vida presente.
Relação Eu-mundo                Questionamento da existência:
                                o impasse


                         José

      E agora, José?             Com a chave na mão
      A festa acabou,            quer abrir a porta,
      a luz apagou,              não existe porta;
      o povo sumiu,              quer morrer no mar,
      a noite esfriou,           mas o mar secou:
      e agora, José?             quer ir para Minas,
      e agora, você?             Minas não há mais.
      (...)                      José, e agora?
                                 (...)
                                 você marcha, José!
                                 José, para onde?
A Poesia         O Lutador
           Lutar com palavras
           é a luta mais vã.
           Entanto lutamos
           mal rompe a manhã.
           São muitas, eu
           pouco.
           (...)

           Palavra, palavra
           (digo exasperado),
           se me desafias,
           aceito o combate.
           (...)

           O ciclo do dia
           ora se consuma
           e o inútil duelo
           jamais se resolve.
3ª FASE
   Novos poemas (1948)
   Claro enigma (1951)
   Fazendeiro do ar (1954)
   A vida passada a limpo (1959)

   A terceira fase de sua poesia é altamente reflexiva:
    as questões sociais dão espaço às indagações
    filosóficas, de ordem metafísica.
   Muitos poemas passam a empregar formas poéticas
    mais tradicionais, problematizam a própria criação
    poética, num exercício de metalinguagem.
   Surgem algumas poesias eróticas.
Oficina irritada
    Eu quero compor um soneto duro
    Como poeta algum ousara escrever.
    Eu quero pintar um soneto escuro,
    Seco, abafado, difícil de ler.
    Quero que meu soneto, no futuro,
    Não desperte em ninguém nenhum prazer.
    E que, no seu maligno ar imaturo,
    Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
    Esse meu verbo antipático e impuro
    Há de pungir, há de fazer sofrer,
    Tendão de vênus sob o pedicuro.
    Ninguém o lembrará: tiro no muro,
    Cão mijando no caos, enquanto arcturo,
    Claro enigma, se deixa surpreender.

                                                Claro enigma (1951)
   Arcturo: estrela que serve de norte
Procura da poesia
Não faças versos sobre acontecimentos. (...)
Não faças poesia com o corpo, (...)
Nem me reveles teus sentimentos, (...)
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.(...)
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
4ª FASE
   Lição de coisas (1962)

   Por fim, Drummond retomou um pouco do espírito
    revolucionário do Modernismo de 1922, fundindo-o com o
    experimentalismo que caracterizava a poesia brasileira na
    virada da década de 1950 para a de 1960.

   Retorno aos poemas curtos e humorísticos de Alguma
    poesia. Memorialismo e reflexão.

   Experimentalismo sensível e inteligente.

   Adoção de elementos do Concretismo:
    
        Abandono da sintaxe;
    
        Atomização dos vocábulos;
    
        Espacialização gráfica do texto
Amar-amaro
                                            se era para
porque amou por que amou                    ou era por
se sabia                                    como se entretanto todavia
proibidopassearsentimentos                  toda via mas toda vida
ternos ou desesperados                      é indignação do achado e aguda espotejação
nesse museu do pardo indiferente            da carne do conhecimento, ora veja
me diga: mas por que
amar sofrer talvez como se morre            permita cavalheir(o,a)
de varíola voluntária vágula evidente?      amig(o,a) me releve
ah PORQUE AMOU                              este malestar
e se queimou                                cantarino escarninho piedoso
                                            este querer consolar sem muita convicção
todo por dentro por fora nos cantos ecos    o que é inconsolável de ofício
lúgubres de você mesm(o,a)                  a morte é esconsolável consolatrix
irm(ã,o) retrato espetáculo por que amou?   consoadíssima
                                            a vida também
                                            tudo também
                                            mas o amor car(o,a) colega este não consola
                                            nunca de nuncarás.



                                                           Lição de coisas (1962)
Outras obras
   Após Lição de coisas, Drummond ainda publicou
    muitos outros livros de poemas, que não costumam
    ser agrupados nas quatro fases de sua poesia,
    destaque para:

   Boitempo(1968)
   A paixão medida (1980)
   Corpo (1984)
   Amar se aprende amando (1985)
   O amor natural (publicado postumamente em 1992)
REUNIÃO E NOVA REUNIÃO
 Em 1969 os dez primeiros livros de
 Drummond foram organizados e editados
 pelo autor no volume REUNIÃO.

 EM 1982 foram  agrupados além dos dez
 anteriores, mais nove livros no volume
 NOVA REUNIÃO.
TEMAS DE REUNIÃO
   Em 1962 ao completar 60 anos, o poeta organizou uma
    seleção de seus poemas e e agrupou os poemas em torno
    de 9 grupos temáticos, que receberam do autor títulos
    específicos:

   1- o indivíduo ( “um eu todo retorcido”)
   2- a terra natal (“uma província: esta”)
   3- a família (“a família que me dei”)
   4- amigos (“cantar de amigos”)
   5- A sociedade (“amar-amaro”)
   6- o amor (“uma, duas argolinhas”)
   7- a poesia (“Poesia contemplada”)
   8- os exercícios lúdicos (“Na praça de convites”)
   9- a existência (“ Tentativa de exploração e interpretação do
    estar-no-mundo
Reflexão Existencial
Anoitecer
                                       É a hora do descanso,
É a hora em que o sino toca,           mas o descanso vem tarde,
mas aqui não há sinos;                 o corpo não pede sono,
há somente buzinas, sirenes roucas,    depois de tanto rodar;
                              apitos   pede paz – morte – mergulho
aflitos, pungentes, trágicos,          no poço mais ermo e quedo;
uivando escuro segredo;                desta hora tenho medo.
desta hora tenho medo.                  
                                       Hora de delicadeza, 
É a hora em que o pássaro volta,       gasalho , sombra, silêncio.
mas de há muito não há pássaros;       Haverá disso no mundo?
só multidões compactas                 É antes a hora dos corvos,
escorrendo exaustas                    bicando em mim, meu 
como espesso óleo                      passado,
que impregna o lajedo;                 meu futuro, meu degredo; 
desta hora tenho medo.                 dessa hora, sim, tenho medo.
Desfile
O rosto no travesseiro,
escuto o tempo fluindo
no mais completo silêncio.
(...)
Vinte anos ou pouco mais,
tudo estará terminado.
O tempo flui sem dor.
O rosto no travesseiro,
fecho os olhos, para ensaio.
Os últimos dias
Que a terra há de comer.
Mas não coma já.
(...)
E a matéria se veja acabar: adeus, composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias grossas, meus
sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
Sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal,
                    [idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
vida aos outros legada.
Resíduo
De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
(...)
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? (...)
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.
Poesia social
Tempos sombrios...
                            O medo
                                          A Antonio Candido

                "Porque há para todos nós um problema sério...
                                  Este problema é o do medo."
                       (Antonio Candido, Plataforma de Uma
                                                   Geração)

    Em verdade temos medo.
    (...)
    E fomos educados para o medo.
    Cheiramos flores de medo.
    Vestimos panos de medo.
    De medo, vermelhos rios
    vadeamos.
(...)

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
(...)
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
“morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas
                                  e medrosas.”

                       (Sentimento do Mundo)

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Carlos drummond de andrade próprio

  • 1. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Prof. William Ferraz
  • 2. BIOGRAFIA  Drummond é consagrado pela tradição como o maior poeta brasileiro. Obteve um reconhecimento único em vida:  foi capa de revistas,  enredo de escola de samba,  assunto de programas de televisão. Sua morte provocou comoção nacional, merecidamente.
  • 3.
  • 4.
  • 5.
  • 6. Mangueira: O Reino das Palavras – 1987 – Rody, Verinha e Bira do Ponto Mangueira Olha as carrancas de mãos dadas com a poesia do rio São Francisco traz para os braços do povo rema rema remador este poeta genial primavera vem chegando Carlos Drumond de Andrade inspirando amor suas obras são palavras o rio toma forma de sambista de um reino de verdade como o artista imaginou Itabira Na ilusão de um sonho em seus versos ele tanto exaltou achei bis com amor o elefante que eu imaginei eis aí a verde e rosa bis cantando em verso e prosa o que ao poeta inspirou É Dom Quixote ô é Zé Pereira é Charlie Chaplin bis no embalo da Mangueira
  • 7. BIOGRAFIA  Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".  De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
  • 8. BIOGRAFIA  Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925.  Fundou com outros escritores ”A Revista”, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas.  Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.  Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil. Morreu no Rio, em 1987.
  • 9. Confidência do Itabirano  Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!
  • 10. Confidência do Itabirano  O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.
  • 11. Drummond e seus poemas eróticos  Drummond sempre se comportou de modo discreto, avesso à publicidade, notabilizando-se como tradicional pai de família. Todavia, após a morte, veio a público sua faceta íntima de amante dedicado, pois manteve um longo e intenso amor paralelo à vida familiar, que lhe inspirou diversos poemas eróticos, bem mais explícitos do que os que normalmente publicava em seus livros.
  • 12. O amor natural: poemas pornográficos A língua lambe A língua lambe as pétalas vermelhas da rosa pluriaberta; a língua lavra certo oculto botão, e vai tecendo lépidas variações de leves ritmos. E lambe, lambilonga, lambilenta, a licorina gruta cabeluda, e, quanto mais lambente, mais ativa, atinge o céu do céu, entre gemidos, entre gritos, balidos e rugidos de leões na floresta, enfurecidos.
  • 13. As 4 fases de Drummond  A poesia drummondiana apresenta quatro fases marcantes, que representam a própria evolução do Modernismo no Brasil.  Inicialmente seus versos foram muito influenciados pelos ideais da Semana de arte moderna de 1922.
  • 14. 1ª FASE  Alguma poesia (1930)  Brejo das Almas (1934)  Nesta fase percebe-se a recorrência do verso livre, do poema-piada, da concisão poética, do prosaísmo e do coloquialismo.  Muitos poemas dessa época funcionaram quase como provocação aos admiradores da poesia do século XIX. É o caso de “No meio do caminho”.
  • 15. No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra Revista de Antropofagia, 1928 Incluído em Alguma poesia (1930)
  • 16.  Individualismo  Pessimismo eu “gauche” Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. (...)
  • 17. 2ª FASE  Sentimento do mundo (1940),  José (1942)  A rosa do povo (1945)  Com o golpe do Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial, Drummond, cuja poesia sempre deixou transparecer a valorização dos regimes de esquerda, passou a discutir questões sociopolíticas mais amplas.  As questões existenciais não são deixadas de lado a esta altura, mas os três livros dessa fase misturam-nas à preocupação social.  O Coloquialismo se mistura com sombra de Classicismo.
  • 18. solidariedade e luta Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
  • 19. Relação Eu-mundo Questionamento da existência: o impasse José E agora, José? Com a chave na mão A festa acabou, quer abrir a porta, a luz apagou, não existe porta; o povo sumiu, quer morrer no mar, a noite esfriou, mas o mar secou: e agora, José? quer ir para Minas, e agora, você? Minas não há mais. (...) José, e agora? (...) você marcha, José! José, para onde?
  • 20. A Poesia O Lutador Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. (...) Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. (...) O ciclo do dia ora se consuma e o inútil duelo jamais se resolve.
  • 21. 3ª FASE  Novos poemas (1948)  Claro enigma (1951)  Fazendeiro do ar (1954)  A vida passada a limpo (1959)  A terceira fase de sua poesia é altamente reflexiva: as questões sociais dão espaço às indagações filosóficas, de ordem metafísica.  Muitos poemas passam a empregar formas poéticas mais tradicionais, problematizam a própria criação poética, num exercício de metalinguagem.  Surgem algumas poesias eróticas.
  • 22. Oficina irritada Eu quero compor um soneto duro Como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro, Seco, abafado, difícil de ler. Quero que meu soneto, no futuro, Não desperte em ninguém nenhum prazer. E que, no seu maligno ar imaturo, Ao mesmo tempo saiba ser, não ser. Esse meu verbo antipático e impuro Há de pungir, há de fazer sofrer, Tendão de vênus sob o pedicuro. Ninguém o lembrará: tiro no muro, Cão mijando no caos, enquanto arcturo, Claro enigma, se deixa surpreender.  Claro enigma (1951)  Arcturo: estrela que serve de norte
  • 23. Procura da poesia Não faças versos sobre acontecimentos. (...) Não faças poesia com o corpo, (...) Nem me reveles teus sentimentos, (...) O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.(...) O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
  • 24. 4ª FASE  Lição de coisas (1962)  Por fim, Drummond retomou um pouco do espírito revolucionário do Modernismo de 1922, fundindo-o com o experimentalismo que caracterizava a poesia brasileira na virada da década de 1950 para a de 1960.  Retorno aos poemas curtos e humorísticos de Alguma poesia. Memorialismo e reflexão.  Experimentalismo sensível e inteligente.  Adoção de elementos do Concretismo:  Abandono da sintaxe;  Atomização dos vocábulos;  Espacialização gráfica do texto
  • 25. Amar-amaro se era para porque amou por que amou ou era por se sabia como se entretanto todavia proibidopassearsentimentos toda via mas toda vida ternos ou desesperados é indignação do achado e aguda espotejação nesse museu do pardo indiferente da carne do conhecimento, ora veja me diga: mas por que amar sofrer talvez como se morre permita cavalheir(o,a) de varíola voluntária vágula evidente? amig(o,a) me releve ah PORQUE AMOU este malestar e se queimou cantarino escarninho piedoso este querer consolar sem muita convicção todo por dentro por fora nos cantos ecos o que é inconsolável de ofício lúgubres de você mesm(o,a) a morte é esconsolável consolatrix irm(ã,o) retrato espetáculo por que amou? consoadíssima a vida também tudo também mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de nuncarás. Lição de coisas (1962)
  • 26. Outras obras  Após Lição de coisas, Drummond ainda publicou muitos outros livros de poemas, que não costumam ser agrupados nas quatro fases de sua poesia, destaque para:  Boitempo(1968)  A paixão medida (1980)  Corpo (1984)  Amar se aprende amando (1985)  O amor natural (publicado postumamente em 1992)
  • 27. REUNIÃO E NOVA REUNIÃO  Em 1969 os dez primeiros livros de Drummond foram organizados e editados pelo autor no volume REUNIÃO.  EM 1982 foram agrupados além dos dez anteriores, mais nove livros no volume NOVA REUNIÃO.
  • 28. TEMAS DE REUNIÃO  Em 1962 ao completar 60 anos, o poeta organizou uma seleção de seus poemas e e agrupou os poemas em torno de 9 grupos temáticos, que receberam do autor títulos específicos:  1- o indivíduo ( “um eu todo retorcido”)  2- a terra natal (“uma província: esta”)  3- a família (“a família que me dei”)  4- amigos (“cantar de amigos”)  5- A sociedade (“amar-amaro”)  6- o amor (“uma, duas argolinhas”)  7- a poesia (“Poesia contemplada”)  8- os exercícios lúdicos (“Na praça de convites”)  9- a existência (“ Tentativa de exploração e interpretação do estar-no-mundo
  • 30. Anoitecer   É a hora do descanso, É a hora em que o sino toca, mas o descanso vem tarde, mas aqui não há sinos; o corpo não pede sono, há somente buzinas, sirenes roucas,  depois de tanto rodar; apitos pede paz – morte – mergulho aflitos, pungentes, trágicos, no poço mais ermo e quedo; uivando escuro segredo; desta hora tenho medo. desta hora tenho medo.     Hora de delicadeza,  É a hora em que o pássaro volta,  gasalho , sombra, silêncio. mas de há muito não há pássaros; Haverá disso no mundo? só multidões compactas É antes a hora dos corvos, escorrendo exaustas bicando em mim, meu  como espesso óleo passado, que impregna o lajedo; meu futuro, meu degredo;  desta hora tenho medo. dessa hora, sim, tenho medo.
  • 31. Desfile O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio. (...) Vinte anos ou pouco mais, tudo estará terminado. O tempo flui sem dor. O rosto no travesseiro, fecho os olhos, para ensaio.
  • 32. Os últimos dias Que a terra há de comer. Mas não coma já. (...) E a matéria se veja acabar: adeus, composição que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade. Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias grossas, meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro, Sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, [idéia de justiça, revolta e sono, adeus, vida aos outros legada.
  • 33. Resíduo De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco. (...) Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? (...) fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rato.
  • 35. Tempos sombrios... O medo A Antonio Candido "Porque há para todos nós um problema sério... Este problema é o do medo." (Antonio Candido, Plataforma de Uma Geração) Em verdade temos medo. (...) E fomos educados para o medo. Cheiramos flores de medo. Vestimos panos de medo. De medo, vermelhos rios vadeamos.
  • 36. (...) Faremos casas de medo, duros tijolos de medo, medrosos caules, repuxos, ruas só de medo e calma. (...) Nossos filhos tão felizes... Fiéis herdeiros do medo, eles povoam a cidade. Depois da cidade, o mundo. Depois do mundo, as estrelas, dançando o baile do medo.
  • 37. “morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.” (Sentimento do Mundo)