- O documento discute o processo de modificação do significado da sigla MPB ao longo do tempo, desde sua origem como música politicamente engajada até sua atual aceitação de influências estrangeiras.
- Aborda a relação da MPB com a indústria cultural, desde uma postura inicial de aversão até um casamento conturbado, e sua despolitização gradual.
- Também analisa a percepção do público sobre o que define a MPB, se existe uma "Nova MPB", e a influência de figuras com autoridade no meio musical.
1. FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL - CPDOC
ESTUDANDO A MPB
Reflexões sobre a MPB, Nova MPB e o
que o público entende por isso
Autor: RAFAEL MACHADO SALDANHA
Orientador: Fernando Lattman-Weltman
Rio de Janeiro, 2008
3. OBJETIVO
• Estudar o processo de modificação do
significado da sigla MPB, bem como o
processo de institucionalização desta dentro
do campo musical brasileiro.
• Descobrir pistas do que define esse estilo
musical que hoje conhecemos como MPB.
4. SUMÁRIO
• Primeiro capítulo:
– busca pistas na história, na evolução dos usos da
sigla através dos tempos.
• Segundo Capítulo:
– procura entender a MPB através da Nova MPB:
procurando o que as diferencia, tenta-se chegar àquilo
que as define.
• Terceiro capítulo:
– busca ouvir também alguns indivíduos que estão
na outra ponta do processo, pessoas que
consomem o produto final da MPB.
6. 1- A busca de uma brasilidade na música: de
uma manifestação tipicamente branca europeizada, ao
longo das décadas, acompanhando a construção da
própria identidade nacional, a música brasileira
incorpora elementos da tradição, do folclore e do
cotidiano, assumindo uma roupagem abrasileirada, ainda
que com a contribuição de gêneros internacionais,
fomentado pela indústria cultural e numa perspectiva
elitista e artificial de brasilidade, cujo marco inicial de
emancipação é o Modernismo e sua evolução ímpar no
• Imprecisão do conceito no qual a tradição surge como
território brasileiro, de “identidade nacional”
• Busca por uma identidade
elemento transgressor. nacional
• O índio como símbolo da nacionalidade
• O negro como símbolo da nacionalidade
• Identidade nacional elitista
• Lampejos de nacionalismo em uma música colonizada
• Ascensão de uma música genuinamente brasileira
• O papel da indústria cultural na configuração de um nacionalismo
musical
• MPB como símbolo de nacionalidade
7. • Construção artificial da brasilidade
• A Bossa Nova como veículo de idéias nacionalistas
• O movimento nacionalista da Bossa Nova na direção da MPB
• O Tropicalismo na contramão do ultra-nacionalismo bossanovista
• Redemocratização do país
• Legitimação popular de uma estética musical elitista
• Invenção elitista da música tradicional e da cultura popular
• Aspecto elitista da MPB herdado da Bossa Nova
• A MPB como representante de uma classe média e de uma elite
intelectual
• O modernismo como marco da emancipação musical brasileira
• A MPB surge como fruto da transição entre Modernidade e Pós-
Modernidade
• A Modernidade brasileira incorporou a tradição
• A tradição brasileira surge como um elemento de transgressão ao
colonialismo
8. 2- A geração dos pioneiros: a primeira geração
se constituiu no eixo RJ-SP; a segunda contou com
representantes nordestinos; e a terceira adentrou o
reduto universitário como seu público, dentre eles havia
um grupo marginal bem avaliado, mas pouco comercial,
todos eles porta-vozes da inovação musical, sendo a
segunda geração mais duramente criticada por pouca
originalidade
• As 3 primeiras gerações de emepebistas
• Os marginais da MPB e a rejeição popular
9. 3- Sentidos atribuídos à sigla MPB: os sentidos
variam de uma polissemia estética apenas ideologicamente
delimitada até a reivindicação de um sentido próprio como
gênero musical que incorpora elementos estéticos de
outros estilos, sendo aí compreendida como sinônimo de boa
música
• Sentido amplo de MPB
• Sentido ideológico de MPB
• Sentido elitista de MPB
• Polissemia do conceito de MPB
• Sentido restrito de MPB
• Sentido ideológico da MPB
• A polissemia estética da MPB
• A ampliação do conceito de MPB pelo Tropicalismo
• A Tropicália como reformadora da MPB
10. • Sentido amplo de MPB
• A reforma tropicalista da MPB se deu de forma diferente pelo Brasil
• Nova ampliação do conceito de MPB, que incorpora o BRock
• Representantes da MPB se rendem aos encantos do Rock
• Rockeiros assumem uma identidade emepebista
• A MPB se distancia do Rock
• O conceito de MPB sofre uma retração de suas fronteiras
• A MPB reivindica um sentido próprio e incorpora elementos de
outros estilos em novas leituras
• MPB como sinônimo de refinamento e maturidade
• A novidade da Bossa Nova na direção do experimentalismo
emepebista
• O acolhimento popular do Tropicalismo como MPB
• A MPB se consolida como sinônimo de ‘boa música’, mas perde
mercado
11. 4- O romance proibido da MPB com a
indústria cultural: a relação evolui de uma
arrogante aversão, politicamente orientada, até um
casamento conturbado, quando ela se rende aos encantos
da cultura pop e se consolida como sinônimo de boa música
com pretensa autonomia criativa
• Industrialização da MPB
• A consolidação do compromisso entre MPB e indústria
fonográfica
• A MPB se rende ao mercado e à cultura pop
• A repressão militar recrudesce, o mercado se encolhe e a MPB
se ressente
• A MPB recupera mercado
• A MPB assume definitivamente seu romance com a indústria
fonográfica e a cultura pop
• Pretensa autonomia em relação ao mercado, possibilitada
pelas facilidades tecnológicas
12. 5- A despolitização gradual da música:
surgido dentro de um movimento de politização da Bossa
Nova como uma manifestação cultural politicamente
engajada, a MPB se opõe ao Rock e à Jovem Guarda, mas aos
poucos perde seu engajamento, fenômeno que se inicia com a
Tropicália e estaciona na ‘Nova’-MPB na déc de 90.
• A MPB afrouxa seu engajamento político e assume uma identidade
mais camp
• Atitudes adesistas de representantes da MPB
• A redução do engajamento político da MPB
• Os ataques da esquerda a uma MPB insípida
• A música como veículo e aparelho ideológico do Estado
• A Jovem Guarda como sinônimo de música alienada
• O pop, o kitsch e o camp tropicalista versus o engajamento político
e o paroditismo da MPB
• O descompromisso político tropicalista
• A MPB surge como contraponto à Jovem Guarda
• O engajamento político da Bossa Nova
• A MPB como música politicamente engajada
13. 6- Colonização à americana: liberta do
colonialismo europeu e do ultranacionalismo dos
idos iniciais de seu surgimento, principalmente
com a Tropicália, a MPB se abre para o exterior
e se rende aos encantos da música norte
americana.
• A internacionalização da música brasileira
• EUA: um novo modelo de colonialismo cultural
• A influência norte americana na MPB
• Internacionalização da Bossa Nova
14. 7- A nova cara da juventude brasileira: o
Rock poesia ganha espaço e recebe apoio da MPB. Ao final
da década de 80 ambos cedem para estilos musicais mais
dançantes, quando surge uma nova geração de
emepebistas menos comprometidos com ideologias políticas
• BRock como novo símbolo da juventude
• O BRock perde espaço para a Lambada, o Sertanejo, o Pagode
e o Axé
• Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown inauguram
uma nova fase
15. 8- A quarta geração de emepebistas: uma
suposta ruptura estética entre o novo e velho apenas
estabelece uma releitura de seus precursores se
caracterizando pelo descomprometimento político,
predomino feminino e um flerte com o ambiente
universitário sem grandes novidades
• A oposição ideológica entre ‘nova’ e ‘velha’ MPB
• Possibilidades de uma Nova MPB
• Ausência de ruptura legítima entre Nova e Velha MPB
• Completa frouxidão do engajamento político
• O flerte entre a MPB e o ambiente universitário
• A presença feminina
• Predomínio feminino como intérpretes de precursoras
• Pequena originalidade musical
17. • Abordagem qualitativa
• Aplicação do conceito de grupo focal em ambiente virtual
• Perfil dos respondentes:
– Faixa etária: 15-45 anos
– Escolaridade: Ensino Médio – Pós-Graduação
– Região geográfica: Sudeste, Nordeste, Sul e exterior
• Foi criado o “Grupo de Pesquisa - MPB” no Orkut,
restrito a inscritos (máx. 25)=>Laços fracos
• A apresentação dos resultados será ilustrada com os
comentários mais significativos e repetitivos.
18. • Convite realizado nas principais comunidades que discutem
MPB no Orkut (a maior delas, chamada “MPB – Música
Brasileira” conta com mais de 350.000 membros)
• Também foram enviados convites às comunidades de ódio
à MPB
• Dos 25 membros ativos da “Grupo de Pesquisa - MPB”,
20 responderam todas as enquetes.
• As respostas foram armazenadas, codificadas e categorizadas,
conforme a Análise de Conteúdo proposta por Bardin
• Foram seis discussões propostas ao longo de dois meses sobre
as seguintes questões:
19. Primeiro debate: qual o conceito de MPB?
• O que vocês acham? Concordam com alguma
destas alternativas? Se concorda, justifique. Se
não, como você definiria a MPB?
• Opção 1) Todo tipo de música popular que seja feita no
Brasil. Ou seja, ritmos e gêneros tradicionais como samba,
baião e choro e outros mais atuais e “globalizados”,
como rock, o funk e o sertanejo.
• Opção 2) Somente música de boa qualidade.
• Opção 3) Somente música ligada às tradições culturais
do Brasil, independente da qualidade.
• Opção 4) Uma sigla discriminatória que coloca em “guetos
do mau gosto” artistas com tendências mais “populares”
20. Segundo debate: como é a relação da MPB com
a mídia?
• Onde vocês procuram informações sobre a
MPB? A grande imprensa dá cobertura
adequada à MPB? O que vocês acham das
rádios especializadas nela? Quando ela é tema
dos cadernos culturais dos jornais ou das
revistas, o que vocês acham do tratamento a
ela dispensado?
21. Terceiro debate: MPB define música de boa
qualidade?
• Você acredita que ser classificado como MPB
faz um artista ser mais "respeitado"?
– Por exemplo: Concordando ou não com a
classificação, a banda carioca Los Hermanos
mudou de status depois que a grande
imprensa e boa parcela do público começou a
considerá-los um grupo de MPB ao invés de uma
banda de Rock?
22. Quarto debate: existe uma “Nova-MPB”?
• A partir do final dos anos 90, começa a se falar de uma
"Nova MPB", não como uma nova onda da MPB, mas
como algo isolado... surgem no cenário musical
nomes nunca ouvidos antes. Na nova MPB o som
não se restringe mais a apenas um toque do violão...
o processo de composição ora adotado incorpora
novas informações de forma rápida, ágil, numa
mistura de veículos, tendências, cores e sons. O que
definiria essa "Nova MPB"? Quais seriam as
principais diferenças (estéticas, temáticas, etc) dessa
em relação a MPB tradicional? Quais artistas fariam
parte dessa "Nova MPB"?
23. Quinto debate: existe apadrinhamento na MPB?
• Em muitas áreas de atuação, algumas figuras
atingem um tamanho grau de influência (ou
legitimidade) que uma palavra deles pode
servir para transferir um pouco dessa
legitimidade para o referido... Isso também
acontece na música brasileira e, sendo mais
específico, na MPB? Quem seriam essas figuras
com autoridade suficiente para abrirem a boca e
elevar ou acabar com um artista?...Não quis dizer
que seriam pessoas que influenciam vocês, e sim
figuras que influenciam o mercado em geral, o
público em geral.
24. Sexto debate: como é a relação entre música
brasileira e música estrangeira?
• O que vocês acham da influência estrangeira
sobre a música brasileira? É necessário tomar
alguma medida protecionista sobre ela? As
rádios tocam músicas estrangeiras demais? A
exposição a estes ritmos deturpa ou deforma
de alguma forma a música brasileira?
26. • Podemos então concluir que, na opinião da maioria, a
MPB deveria ser compreendida como o somatório de
todas as expressões musicais produzidas no Brasil por
brasileiros, mas que, no entanto, a sigla cada vez mais
é usada para designar um gênero específico de “boa”
música, havendo uma postura desconfiada quanto à
atuação da mídia:
– “Para mim MPB é a música que nosso povo cria. Quer
eu goste dela ou não. Se é influenciada pela tradição
ou pela tradução de influencias globalizadas tanto faz.
Quanto a isso, devo lembrar que os únicos que podem
dizer que fazem música brasileira "pura" são nossos
indígenas e faz muito que eles sumiram de nossas paradas
de sucesso...”
28. • Ao longo de sua história, MPB significou várias coisas
diferentes. Serviu para nomear a música engajada do
início dos anos 60, aceitou os experimentalismos do
tropicalismo, herdando seus artistas após o fim do
movimento. Se ampliou indefinidamente para aceitar
os roqueiros-poetas dos anos 80 até ser tomado
cada vez mais como um estilo musical definido,
que herda a brasilidade das tradições musicais
antigas, a sofisticação da Bossa Nova e o flerte
com o popular e com o pop principiado no
tropicalismo, ampliado nos anos 80 e retraído após os
anos 90, em um clima de elitismo e superioridade
• Dilema Tostines
30. • Não houve descrição do processo de categorização dos
resultados, apenas menção ao que foi feito, apresentação
de conclusões daí decorrentes e ilustração com falas
pertinentes e recorrentes nos debates.
• Não foi apresentado um quadro-síntese das categorias.
• A estrutura formal de um trabalho científico não foi
adotada:
– Elementos da metodologia foram apresentados numa mescla
com o que seria “Resultado”.
– O que seria “Conclusão” apareceu como “Resultado”
– A “Discussão” apareceu apenas ao final sem o devido
tratamento (“O fim?”)
31. Problematização
(BERNARDES, Antonio. QUANTO ÀS CATEGORIAS E AOS CONCEITOS. Revista Formação Online, n.
18, volume 2, p. 39-62 , jan./jun., 2011)
• “...Tanto para perspectiva oniposicional como para perspectiva
posicional as categorias indicam as essências, o ser do fenômeno, e,
os conceitos indicam as existências, o estar dos fenômenos. Elas são
definidas tendo em vista o método e a doutrina utilizada para
o desenvolvimento da pesquisa, assim como, principalmente, a
perspectiva de mundo desenvolvida, que é uma forte indicação
da postura do pesquisador, como ser-no-mundo...É nesse
entrevero que as categorias e os conceitos ganham relevância, pois
possuem um valor histórico como instrumentais teóricos para o
entendimento da realidade, mas, quando isolados do seu corpo
teórico podem perder todo o seu sentido...”
– Assim, seria a utilização dos juízes um meio verdadeiramente seguro
para se garantir a inequivocidade das categorias ou seria mera
estratégia para se reduzirem as chances de uma variabilidade
interpretativa, legitimando uma certa forma de se analisar
determinado conteúdo?