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Episódio 6 – Seth
Escrito por: Heroxi
Produzido por: lvigario
Abriu os olhos e limpou a testa cheia de farinha. Estou cansado! Tossiu. Pousou o pão na
mesa de madeira e esmurrou-o com força. Uma câmara virou para ele, produzindo um pequeno
som, como se quisesse dar a entender que estava ali a vigiá-los. Seth olhou para Theo e fez-lhe
sinal que ia apanhar ar. O amigo arregalou os olhos como sinal de reprovação.
- É rápido. Preciso de apanhar ar. Já só respiro farinha.
A câmara continuou a seguir Seth, até sair do refeitório.
Seth respirou fundo e olhou para o céu. Como o céu pode ser tão azul e a terra tão escura?
Olhou para o casarão. Aposto que lá devem respirar ar puro e não farinha todas as manhãs! Uma
outra câmara continuou a função da anterior e filmou-o. Nada na sua atitude poderia denunciar
algo contra o Império. Seth fechou os olhos e voltou a inspirar fundo até sentir os seus pulmões
bem cheios. Ficou assim, parado, durante alguns segundos, como se o ar puro fosse renovar todo
o seu sistema respiratório.
Ouviu ao longe um pequeno ruído. Parecia vir do Casarão. O que estarão a fazer lá dentro?
Agora o ruído tornara-se mais forte. Pedras caíram na terra batida. Não, isto não pode vir do
Casarão. Olhou à sua volta e focou-se na extensão que separava as vilas dos homens das
mulheres. Serrou o olhar e viu um buraco na muralha negra. O que se está a passar? Seth ficou
tentado a analisa-lo, mas não podia faze-lo. A muralha estava repleta de câmaras. Seria facilmente
detectado. Eles sabem que não fiz nada. Se estão a filmar, sabem que não fui eu quem fez aquilo!
Correu para a muralha.
Uma rapariga de cabelos negros e olhos cinzentos olhou para ele confusa. Seth retribuiu o ar
de espanto. O barulho de uma câmara despertou-o.
- Quem és tu? O que estás aqui a fazer? – olhou à sua volta. – Estás a ser vigiada!
- Jennifer! A revolução começou! – disse num tom sério. – As câmaras deste lado estão
desligadas.
- Revolução? Câmaras desligadas? Como é que fizeram isso?
- Não há tempo para contar pormenores. Aos poucos nós vamos destruir a muralha e acabar
com esta divisão. Não sei como te chamas, mas avisa os homens. Avisa-os que as mulheres
tomaram conta deste lado e estamos prontas para acabar com o Império. Unem-se a nós. Em
breve as vossas câmaras serão desligadas. Precisamos de vocês.
Seth ficou perplexo a olhar para ela. Revolução. Estão loucas? É impossível começar uma
revolução com tanta vigilância.
- Tenho de ir. Avisa-os!
A rapariga saiu do seu campo de visão e tapou o pequeno buraco com restos da muralha
caídos no chão.
As câmaras continuavam a funcionar. Não estavam desligadas. Tudo o que se passou ali foi
visto por alguém. Seth olhou para as câmaras assustado e depois de uma ter aumentado o foco,
correu para o refeitório.
- Onde está o Theo? – perguntou a um dos rapazes.
- Está a lavar o forno. – Seth dirigiu-se para lá e encontrou Theo molhado e com um olhar
cansado.
O forno era enorme. Tinha a capacidade de cozer quase cem pães ao mesmo tempo. Exigia
sempre bastante lenha para queimar.
- Finalmente! Pega aí no balde e ajuda-me a lavar isto. – ordenou Theo.
- Theo… As mulheres vão ou já começaram uma revolução. – comentou Seth o mais baixo
possível para ninguém os ouvir. Theo entendeu perfeitamente a mensagem.
- Não sejas tonto. Lava isso! – olhou à sua volta e arregalou os olhos, para avisar Seth que
estavam a ser vigiados.
- Uma rapariga, chamada Jennifer, abriu um buraco na muralha e falou-me isso que ouviste.
– Theo parou de lavar o forno e olhou com atenção para o amigo. – As mulheres tomaram o lado
delas e querem a nossa ajuda para acabar com o Império. Temos de as ajudar! Pode ser que
consigamos uma vida melhor depois disto.
- Fala baixo! – ordenou o mais velho.
Um estrondo aterrorizador fez estremecer o refeitório, deixando-os em pânico.
- Já começou, Theo! Já começou! Temos que sair daqui, temos de as ajudar.
Uma figura baixa com um fato azul-escuro apareceu ao lado deles, acompanhado de quatro
polícias do Império, trajados com o uniforme vermelho. Afinal, nenhuma revolução tinha começado
no lado dos homens. Apenas Barriston, o General da Polícia do Império, anunciara a sua chegada
ao refeitório.
- Seth e Theo Beans o Casarão chama-vos! – ordenou o homem, exibindo os seus dentes
castanhos. O general agitou as mãos como uma mosca sedenta de sangue. – Não temeis.
Salva-me, Theo! Despacha-te. Salva-a e vem tirar-me daqui. Tira-me desta sala!
Seth sentiu uma dor agoniante no pescoço. Eles querem foder-me a cabeça. Gritou
como forma de protesto, mas ninguém tomou atenção. A luz cintilante vinda do tecto
quadrado cegou-o por completo. Pegaram-lhe no braço solto e espetaram-lhe outra
seringa com o líquido vermelho vivo.
Sentiu o seu corpo dormente e fechou os olhos. Salva-a.
– Finalmente! – balbuciou o outro por entre os dentes castanhos, enquanto limpava
o peganhento suor da testa com a mão.
Salva-os a todos.
O corpo tremeu descontroladamente e um fio de sangue escorreu pelo nariz de
Seth. O outro sorriu.
– Processo concluído! – afirmou Barriston. – O perigo está controlado! Agora
vejamos se continuam a conspirar. Deixem-no aí. Dentro de algumas horas irá acordar.
Quando isso acontecer, levem-no para a vila. Façam o mesmo com o outro.
*
As portas do Casarão abriram-se e Seth sentiu-se meio perdido com os raios
solares a ofuscarem-lhe a visão. Cavalos alados. Saiu com o braço esquerdo a tapar-lhe
o sol. Riu-se. Irmã gémea. Dirigiu-se para o seu bungalow de forma automática. Ao longo
do percurso avistou alguns rapazes que olharam para ele com desdém.
- Que foi? Nunca viram? – gritou, rindo-se de seguida.
- Estás bem? – perguntou um rapaz mais novo que ele.
- Estou melhor que tu! Vou ser pai. – respondeu Seth esfregando as mãos. O outro
olhou para ele com estranheza e afastou-se.
Seth entrou em casa e viu Theo a vestir-se. Riu-se, largando perdigotos.
- Olha o clone do Theo… Estavas morto, mas eles trataram de te clonar. Não, de
clonar o Theo. Theo Beans… Beans, Beans, Beans!
- Clone? Temos de ir trabalhar, Seth.
- O meu pai está vivo, Theo! Vivo e manda nesta porra toda.
- O teu pai morreu, Seth. Morreu depois de teres sido criado.
- Não morreu nada. Tu és amigo dele. Cortaram-te o braço e ficaram amigos.
Depois mataram-te e clonaram-te. Como é que se clonam pessoas mortas? –
apertou-lhe o braço esquerdo e apercebeu-se que o membro que permanecia ali era
verdadeiro. – Grande material. Até parece verdadeiro!
- Estás bem, Seth?
- Cortaram-te o braço, não cortaram? Eu vi!
- Acho melhor ficares de cama, Seth. Tu não estás bem. Posso pedir a um dos
Health para tomar conta de ti.
Seth ficou parado a olhar para o amigo. Sempre tão preocupado comigo. Riu-se,
sentando na cama.
- Eu sei o que tu queres. Queres ver-te livre de mim, para estares à vontade com o
Richard. Não é, seu maroto? Eu matei-o, sabias? Diz-me lá, tu gostas de quem?
Theo levantou os lençóis da cama do amigo e ordenou-lhe que deitasse. O mais
novo cumpriu. A câmara mais próxima deles aumentou o foco.
- Encontraste a Jennifer? – perguntou Seth baixinho. Theo ficou perturbado. O
nome não lhe parecia estranho. Contudo, ignorou e reconfortou o amigo. – Dorme. Isso
tudo não passam de alucinações. Eu também as tive quando saí do Casarão. Agora
dorme. O trabalho continua à tua espera.
O cozinheiro saiu, mas o outro não conseguiu adormecer. Estava demasiado
agitado para continuar na cama. Levantou-se e dirigiu-se para a muralha. Olhou para as
câmaras que o vigiavam. Estão a funcionar. Percorreu com o olhar o máximo que pode
da muralha para encontrar resquícios de um buraco. Eu sei o que vi. Eu lembro-me!
Nada, nem sinal de restos no chão. Porém, algo estava diferente. A cor. A muralha era
totalmente negra. Porque é que havia uma mancha cinzenta ali? Taparam o buraco!
Olhou novamente para as câmaras. Jennifer é real.
Uma voz grossa, num altifalante bem longe, proferiu Criação é controlo e regulação
é prosperidade infinita.
- Gases – riu-se entre os dentes. – Os clones libertam gases. – soltou uma
gargalhada histérica. – Gases, gases, gases, gases...
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Episodio 6 - seth

  • 1. Episódio 6 – Seth Escrito por: Heroxi Produzido por: lvigario
  • 2. Abriu os olhos e limpou a testa cheia de farinha. Estou cansado! Tossiu. Pousou o pão na mesa de madeira e esmurrou-o com força. Uma câmara virou para ele, produzindo um pequeno som, como se quisesse dar a entender que estava ali a vigiá-los. Seth olhou para Theo e fez-lhe sinal que ia apanhar ar. O amigo arregalou os olhos como sinal de reprovação. - É rápido. Preciso de apanhar ar. Já só respiro farinha. A câmara continuou a seguir Seth, até sair do refeitório. Seth respirou fundo e olhou para o céu. Como o céu pode ser tão azul e a terra tão escura? Olhou para o casarão. Aposto que lá devem respirar ar puro e não farinha todas as manhãs! Uma outra câmara continuou a função da anterior e filmou-o. Nada na sua atitude poderia denunciar algo contra o Império. Seth fechou os olhos e voltou a inspirar fundo até sentir os seus pulmões bem cheios. Ficou assim, parado, durante alguns segundos, como se o ar puro fosse renovar todo o seu sistema respiratório. Ouviu ao longe um pequeno ruído. Parecia vir do Casarão. O que estarão a fazer lá dentro? Agora o ruído tornara-se mais forte. Pedras caíram na terra batida. Não, isto não pode vir do Casarão. Olhou à sua volta e focou-se na extensão que separava as vilas dos homens das mulheres. Serrou o olhar e viu um buraco na muralha negra. O que se está a passar? Seth ficou tentado a analisa-lo, mas não podia faze-lo. A muralha estava repleta de câmaras. Seria facilmente detectado. Eles sabem que não fiz nada. Se estão a filmar, sabem que não fui eu quem fez aquilo! Correu para a muralha.
  • 3. Uma rapariga de cabelos negros e olhos cinzentos olhou para ele confusa. Seth retribuiu o ar de espanto. O barulho de uma câmara despertou-o. - Quem és tu? O que estás aqui a fazer? – olhou à sua volta. – Estás a ser vigiada! - Jennifer! A revolução começou! – disse num tom sério. – As câmaras deste lado estão desligadas. - Revolução? Câmaras desligadas? Como é que fizeram isso? - Não há tempo para contar pormenores. Aos poucos nós vamos destruir a muralha e acabar com esta divisão. Não sei como te chamas, mas avisa os homens. Avisa-os que as mulheres tomaram conta deste lado e estamos prontas para acabar com o Império. Unem-se a nós. Em breve as vossas câmaras serão desligadas. Precisamos de vocês. Seth ficou perplexo a olhar para ela. Revolução. Estão loucas? É impossível começar uma revolução com tanta vigilância. - Tenho de ir. Avisa-os! A rapariga saiu do seu campo de visão e tapou o pequeno buraco com restos da muralha caídos no chão. As câmaras continuavam a funcionar. Não estavam desligadas. Tudo o que se passou ali foi visto por alguém. Seth olhou para as câmaras assustado e depois de uma ter aumentado o foco, correu para o refeitório. - Onde está o Theo? – perguntou a um dos rapazes. - Está a lavar o forno. – Seth dirigiu-se para lá e encontrou Theo molhado e com um olhar cansado.
  • 4. O forno era enorme. Tinha a capacidade de cozer quase cem pães ao mesmo tempo. Exigia sempre bastante lenha para queimar. - Finalmente! Pega aí no balde e ajuda-me a lavar isto. – ordenou Theo. - Theo… As mulheres vão ou já começaram uma revolução. – comentou Seth o mais baixo possível para ninguém os ouvir. Theo entendeu perfeitamente a mensagem. - Não sejas tonto. Lava isso! – olhou à sua volta e arregalou os olhos, para avisar Seth que estavam a ser vigiados. - Uma rapariga, chamada Jennifer, abriu um buraco na muralha e falou-me isso que ouviste. – Theo parou de lavar o forno e olhou com atenção para o amigo. – As mulheres tomaram o lado delas e querem a nossa ajuda para acabar com o Império. Temos de as ajudar! Pode ser que consigamos uma vida melhor depois disto. - Fala baixo! – ordenou o mais velho. Um estrondo aterrorizador fez estremecer o refeitório, deixando-os em pânico. - Já começou, Theo! Já começou! Temos que sair daqui, temos de as ajudar. Uma figura baixa com um fato azul-escuro apareceu ao lado deles, acompanhado de quatro polícias do Império, trajados com o uniforme vermelho. Afinal, nenhuma revolução tinha começado no lado dos homens. Apenas Barriston, o General da Polícia do Império, anunciara a sua chegada ao refeitório. - Seth e Theo Beans o Casarão chama-vos! – ordenou o homem, exibindo os seus dentes castanhos. O general agitou as mãos como uma mosca sedenta de sangue. – Não temeis.
  • 5. Salva-me, Theo! Despacha-te. Salva-a e vem tirar-me daqui. Tira-me desta sala! Seth sentiu uma dor agoniante no pescoço. Eles querem foder-me a cabeça. Gritou como forma de protesto, mas ninguém tomou atenção. A luz cintilante vinda do tecto quadrado cegou-o por completo. Pegaram-lhe no braço solto e espetaram-lhe outra seringa com o líquido vermelho vivo. Sentiu o seu corpo dormente e fechou os olhos. Salva-a. – Finalmente! – balbuciou o outro por entre os dentes castanhos, enquanto limpava o peganhento suor da testa com a mão. Salva-os a todos. O corpo tremeu descontroladamente e um fio de sangue escorreu pelo nariz de Seth. O outro sorriu. – Processo concluído! – afirmou Barriston. – O perigo está controlado! Agora vejamos se continuam a conspirar. Deixem-no aí. Dentro de algumas horas irá acordar. Quando isso acontecer, levem-no para a vila. Façam o mesmo com o outro.
  • 6. * As portas do Casarão abriram-se e Seth sentiu-se meio perdido com os raios solares a ofuscarem-lhe a visão. Cavalos alados. Saiu com o braço esquerdo a tapar-lhe o sol. Riu-se. Irmã gémea. Dirigiu-se para o seu bungalow de forma automática. Ao longo do percurso avistou alguns rapazes que olharam para ele com desdém. - Que foi? Nunca viram? – gritou, rindo-se de seguida. - Estás bem? – perguntou um rapaz mais novo que ele. - Estou melhor que tu! Vou ser pai. – respondeu Seth esfregando as mãos. O outro olhou para ele com estranheza e afastou-se. Seth entrou em casa e viu Theo a vestir-se. Riu-se, largando perdigotos. - Olha o clone do Theo… Estavas morto, mas eles trataram de te clonar. Não, de clonar o Theo. Theo Beans… Beans, Beans, Beans! - Clone? Temos de ir trabalhar, Seth. - O meu pai está vivo, Theo! Vivo e manda nesta porra toda. - O teu pai morreu, Seth. Morreu depois de teres sido criado. - Não morreu nada. Tu és amigo dele. Cortaram-te o braço e ficaram amigos.
  • 7. Depois mataram-te e clonaram-te. Como é que se clonam pessoas mortas? – apertou-lhe o braço esquerdo e apercebeu-se que o membro que permanecia ali era verdadeiro. – Grande material. Até parece verdadeiro! - Estás bem, Seth? - Cortaram-te o braço, não cortaram? Eu vi! - Acho melhor ficares de cama, Seth. Tu não estás bem. Posso pedir a um dos Health para tomar conta de ti. Seth ficou parado a olhar para o amigo. Sempre tão preocupado comigo. Riu-se, sentando na cama. - Eu sei o que tu queres. Queres ver-te livre de mim, para estares à vontade com o Richard. Não é, seu maroto? Eu matei-o, sabias? Diz-me lá, tu gostas de quem? Theo levantou os lençóis da cama do amigo e ordenou-lhe que deitasse. O mais novo cumpriu. A câmara mais próxima deles aumentou o foco. - Encontraste a Jennifer? – perguntou Seth baixinho. Theo ficou perturbado. O nome não lhe parecia estranho. Contudo, ignorou e reconfortou o amigo. – Dorme. Isso tudo não passam de alucinações. Eu também as tive quando saí do Casarão. Agora dorme. O trabalho continua à tua espera.
  • 8. O cozinheiro saiu, mas o outro não conseguiu adormecer. Estava demasiado agitado para continuar na cama. Levantou-se e dirigiu-se para a muralha. Olhou para as câmaras que o vigiavam. Estão a funcionar. Percorreu com o olhar o máximo que pode da muralha para encontrar resquícios de um buraco. Eu sei o que vi. Eu lembro-me! Nada, nem sinal de restos no chão. Porém, algo estava diferente. A cor. A muralha era totalmente negra. Porque é que havia uma mancha cinzenta ali? Taparam o buraco! Olhou novamente para as câmaras. Jennifer é real. Uma voz grossa, num altifalante bem longe, proferiu Criação é controlo e regulação é prosperidade infinita. - Gases – riu-se entre os dentes. – Os clones libertam gases. – soltou uma gargalhada histérica. – Gases, gases, gases, gases...
  • 9. FIM