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Episodio 3 - A Vida Será O Que Tu Quiseres
ANTERIORMENTE
No início, Seth nunca entendera muito bem o porquê da existência do Dia da Criação. Um dia explicaram–lhe que
a população mundial aumentou e os recursos ficaram escassos, então houve necessidade do mundo controlar a sua
população. Como tal, algumas pessoas foram escolhidas e agrupadas em pequenas vilas, divididas por sexo: homens
por um lado e mulheres para o outro. Ambos os géneros não se podem misturar, à exceção de um dia especial. Esse
acontecimento surge uma vez por ano e tem como objetivo selecionar duas pessoas especiais a reproduzirem–se, para
a espécie humana não terminar de vez. Com o controlo da natalidade, há um controlo dos recursos existentes no
planeta.[…]
– Meus caros… Parece que iremos nomear um novo homem para cumprir o seu dever. Theo Beans recusou-se e
nós nunca queremos obrigar ninguém a nada. – riu-se.– O próximo, e esperemos que o último, eleito é… – continuou o
General.
Seth olhou para Jack para tentar saber o que se estava a passar. O colega encolheu os ombros, com incerteza.
[…]
A rapariga assustou-se e fugiu para o canto do ecrã.
– Estamos à sua espera! – afirmou o médico.
Eu não posso. Ela é igual a mim. Ela tem os mesmo olhos verdes que eu. O mesmo formato do rosto. A mesma cor
de cabelos. Ela sou eu. Ela… Ela é minha irmã gémea.
– Eu não vou fazer nada! – gritou para uma das câmaras. Ao mesmo tempo que disse estas palavras, arrependera-
se de imediato. […] Não! Eu tenho mesmo! Se não o fizer, ele morre. Despiu-a totalmente e baixou as suas calças. Ela é
só uma estranha que tem o meu sangue. Ela não é minha irmã. Eu não a escolhi como família. Ficou duro, cuspiu para o
pénis e tomou-a.
ANTERIORMENTE
Um dos membros do Conselho Regional havia morrido. Chamavam-lhe o Ancião e não era difícil depreender o
porquê da alcunha. Anthony, esse tal membro do conselho, era o mais velho dos que integravam o órgão que regulava a
vila, o que não era propriamente um elogio, já que ninguém no Conselho 21 era mais novo que setenta anos de
idade.[…]
- Este é o Ronald, mas podes trata-lo por Ron. Como podes ver, ele é um recém-chegado e após um difícil e longo
processo de Seleção, já lhe foi atribuída uma profissão.[…]Este é (…) o teu novo companheiro de quarto.
Seth tossiu, esbugalhando os olhos. O que é que ele acabara de dizer? Ele devia ter-se enganado, com toda a
certeza. Como é que um rapazinho de 11 anos de idade iria viver com ele? Aquilo era mesmo muito estranho. […]
Como já passaram os três dias de luto impostos pelo próprio Conselho de forma a honrar o falecido, é tempo de
saber quem será a pessoa que terá a honra de se juntar ao órgão que luta pelos nossos direitos e pela nossa
sobrevivência enquanto cidadãos, o Conselho do Império.
“ Como os mais antigos devem saber, para se proceder à seleção da pessoa suficientemente boa para exercer tal
poder e responsabilidade, procede-se aos Jogos do Império, um campeonato antigo e tradicional. É composto por três
etapas, cada uma…” […]
- Richard Prizorgi! - Seth Beans!
Em seguida, Richard fitou Seth de forma triste. . Seth assentiu com a cabeça, percebendo o que ele lhe estava a
transmitir. Daqui a três semanas, um deles (ou até mesmo os dois) estaria morto.[...]
Seth começou a ouvir duas vozes que se aproximavam a passos largos conversando entre si. Uma das vozes, a
menos intensa e que parecia que se curvava perante a do outro sujeito, parecia-lhe estranhamente familiar. […]
- … e como é óbvio, ambos sabemos que o Seth nunca conseguiria ser escolhido para a Seleção por mérito próprio.
Acha mesmo que valeu a pena manipular o Conselho? Acha mesmo que valeu a pena assassinar o Conselheiro
Anthony?
- - É claro que valeu a pena, senhor Theo Beans. O Seth deve ter lugar no Conselho, é imperativo. Não se esqueça
que ele é meu filho. [...]
No fundo de um dos muitos corredores largos, frios e brancos do mármore que os
reveste encontra-se a Ala Laboratorial do Casarão. Saem de lá três raparigas. Uma com
o seu cabelo desgrenhado, olhos fundos mas muito abertos com uma expressão que não
se entende se está a sorrir sinistramente ou prestes a chorar desesperadamente. Outra
com o seu ar altivo que sempre se espera de uma Prizorgi, mas a sua pele escura e
quente não está tão brilhante, tal como os seus olhos, que já não transmitem o fogo da
presunção a que habituou todas as raparigas da vila. E por fim, sai Lorena. Esguia,
morena e de cabelos lisos e longos, é dona de uma beleza cândida embora com um
olhar forte e embriagante. Mal aguenta no corpo toda a repugnância que sente no
momento.
A Conselheira Magenta recebe-as à porta. É a única mulher do Conselho e a mais
nova com 71 anos sendo conhecida por ter feito uma prova emocional épica nos últimos
Jogos do Império da vila 21, onde ironicamente provou que não tinha emoções
nenhumas, a não ser uma determinação imensa em ser obediente e metódica para poder
viver confortavelmente entre aquelas paredes de mármore, quase tão frias como ela.
Decidiu somente com a razão e sem compaixão quem deveriam ser os sobreviventes de
um naufrágio de 20 pessoas sendo ela uma das sacrificadas. No entanto, para os
conselheiros, os conceitos de honestidade e pureza são um pouco duvidosos.
- Caras selecionadas, parabéns. O doutor Jeff certificou-se que o procedimento foi
bem-sucedido e vocês são oficialmente mulheres grávidas. Criação é controlo. Regulação é
prosperidade infinita.
- Criação é controlo. Regulação é prosperidade infinita.- repetem Edna Prizorgi e
Ivy Faith.
Se o olhar matasse, Lorena já era cinzas perante Magenta. A jovem repete a
máxima muito rápida e atabalhoadamente. Apesar da revolta há que ter um pouco de
cautela. Quem está capaz de matar alguém é ela devido a tudo a que foi submetida nos
últimos dias. Roubaram-lhe a dignidade e agora sente-se a ser engolida por um mundo no
qual vivia conformada mas que agora sabe que não é normal.
Lá por ser a única forma de viver que todos conhecem há muito tempo, não significa
que seja o normal. Forcem-me, engravidem-me, inutilizem-me mas não vão voltar a fazer-
me acreditar que a vida não pode ser diferente disto!
- Vou perdoar-lhe a “distração” menina Silkworm, esperando que seja apenas isso. –
resmunga a alta e austera Magenta – Agora sigam-me e apressem o passo. Como sabem o
Conselheiro Veterano Anthony morreu e estão a começar os Jogos do Império das raparigas
onde a minha presença é necessária. – Como também pode ser selecionada uma mulher
para o Conselho, os Jogos também decorrem na vila de Lorena.
- E a nós, onde nos vão meter agora? – pergunta Lorena em tom de desprezo.
-Silêncio! – gritou – Os cidadãos da vila não têm o direito de falar aqui dentro, exceto se
forem ordenados! – abriu de tal forma os olhos, a boca e as narinas que as camadas de
base esverdeada da alta e elegante mulher estalaram mostrando rugas enraizadas e
manchas suspeitas. E é esta a visão que Lorena tem do Casarão: um exterior bonito,
imperial e luminoso para esconder a podridão e depravação. – Normalmente, eu levo-vos
para as vossas casas e são lá controladas, mas está cá o Presidente do Império e decidiu
nomear um responsável para cuidar de vocês aqui dentro. Saiam para este pátio e
aguardem que alguém vos venha buscar. Quanto à menina Silkworm, à terceira terá
problemas sérios – fechando o portão agressivamente.
Pois, vai fazer-me exatamente o quê? Eu não sou a “honrada” selecionada?
Edna senta-se muita hirta no banco de pedra, cruzando as pernas elegantemente
e ficando a fitar com um olhar vazio uma pequena fonte no canto do pátio. Lorena tenta
conversar com Ivy na esperança de desabafarem as suas frustrações comuns mas esta
está perdida no seu mundo deambulando entre as camélias que compõem o pequeno jardim
e passando as mãos pela barriga repetidamente. Cerca de um quarto de hora depois, entra
no pátio sombrio um jovem com um só braço. Lorena estava encostada a uma parede
tentando encontrar câmaras de vigilância sem sucesso, quando o encara.
Momentaneamente, sente que perde a força nas pernas. As imagens do Dia da Criação
correm mais uma vez como um comboio desvairado no seu cérebro. – Tu?!
- Aproximem-se as três. Eu sou o novo secretário do Casarão e responsabilizar-me-ei
de vos guiar durante algumas semanas aqui dentro. Até porque vão ter uma importante
tarefa em breve.
- Um homem? Da vila? – pergunta Edna saindo do seu canto e caminhando
lentamente ao encontro de Theo Beans e olhando-o com desdém de alto a baixo. Já Ivy
observa-o com a cabeça ligeiramente inclinada e a cara tensa e misteriosa como uma gata
curiosa que tenta perceber a índole do visitante.
- Digamos que os conselheiros e o Presidente do Império sabem que eu não sou
um perigo para a Criação – olhando condescendentemente para Lorena que ainda está a
reviver os acontecimentos recentes – e alerto-vos que sou vosso superior. É imperial que
me tratem com respeito.
A expressão da costureira muda, e os seus olhos voltam a brilhar. A brilhar de
indignação. Num gesto rápido e imprevisível insurge-se contra o rapaz de braços levantados
e punhos serrados. – A culpa é tua! Foste tu que me fizeste isto! Era tudo um esquema. O
teu amigo… aquele animal lunático desfez-me, destruiu-me.
Theo usa o braço são para se proteger, agarrar na morena e cercá-la num canto
daquela divisão exterior aproximando a sua cara da dela o suficiente para a deixar mais uma
vez em pânico e quieta como uma pedra.
- Um esquema para quê, diz-me lá! Por pertencer ao Casarão? – sussurrando - Eu
nunca quis estar aqui. Isso valeria o meu braço? Ou um esquema para ele te fazer o que
fez? Nem eu nem ele temos responsabilidade na política deles. E disseste bem, ele é meu
amigo. Voltas a insultá-lo e eu vou ser a última pessoa que verás. Eu estou aqui a
acompanhar-vos para minha própria sobrevivência. Por isso acalma-te e convence-te que
seres uma seleciona da não faz de ti mais especial. – afasta-se da rapariga, que se deixa
cair prostrada no chão– E também não te torna menos especial. Acredita que um dia a vida
será o que tu quiseres. Continuando…Daqui a duas semanas vocês farão parte da prova
emocional dos rapazes nos Jogos do Império. Por isso vamos começar a prepararmo-nos
para isso. Vocês são as pérolas da vila neste momento, por isso estarão deslumbrantes… e
veremos o que eles são capazes de fazer para vos proteger.
*
A primeira prova dos Jogos do Império está prestes a começar. O Conselheiro Bromo
informou que o desafio proposto irá testar as capacidades físicas dos candidatos. Explicou
ainda que para ser um bom conselheiro é importante saber impor a sua presença e
superioridade, quer física quer comportamental. Quando o Presidente do Império é
formalmente apresentado na cerimónia de abertura, este dá a conhecer aos candidatos o
teor da prova. Passarão 3 dias numa redoma no bosque onde vive uma população de
cavalos alados selvagens, espécie criada por manipulação genética inspirada em ficção
mitológica. Estes animais são furtivos, rápidos e muito independentes, mas são conhecidos
por se renderem à demonstração de poder físico dos homens que os tentem dominar com
mais força e determinação passando a assumir uma postura de grande lealdade. Escusado
seria dizer que o Conselho não se responsabiliza por mortes ou ferimentos que possam
acontecer.
Seth mal se consegue concentrar nas explicações do Presidente, ficando a pensar
no que viu e ouviu na floresta. Eu alucinei, só posso ter alucinado. São os fumos das
mezinhas que os Faith preparam, só pode ser. O Theo morreu, por muito que me custe. E
aquele homem não é meu pai, é só o asqueroso Presidente deste império de merda. Theo
sempre se queixou de que Seth falava muito durante a noite enquanto tinha sonhos
mirabolantes. Não seria assim tão estranho ele ter imaginado toda aquela cena. Muito mais
estranha era a possibilidade daquela conversa ter acontecido mesmo.
O Presidente termina o discurso com o seu ar impenetrável e sinistramente encantatório e os
candidatos seguem a caminho da redoma numa marcha liderada por Barriston e vários polícias do
Império. Richard caminha com o seu ar mais compenetrado quando agarra o braço de Seth e diz-lhe:
- Seth, eu quero muito ser conselheiro! Sempre tive essa ambição. Quando o Theo estava cá ele
moderava a minha fome de controlo. Mas agora já não o tenho, e sendo assim quero isto mais do que
nunca. Embora ele fosse sempre a minha primeira escolha. E espero que a vitória seja tua, se eu não
a conseguir.
- Faz o que tens a fazer desde que nunca te esqueças do Theo e da forma injusta como ele
morreu. Mesmo depois de entrares pelo Casarão a dentro. – diz Seth de forma dura. A única resposta
é a expressão confiante do amigo.
Os candidatos entram na redoma e é decretado o começo da prova. Daqui a 72 horas os
representantes de cada classe trabalhadora terão de ter domado um cavalo alado para passarem à
próxima etapa. Richard e Seth decidem aliar-se e seguir juntos.
O único cavalo alado que os dois amigos viram horas depois foi um castanho claro com
asas amareladas que voou muito rápido por cima deles, a que se seguiu gritos agonizantes a alguns
metros de distância. Tentaram encontrar a origem do pedido de auxílio, mas sem sucesso. O silêncio
perturbador regressa momentos depois. Supostamente, os cavalos alados não são animais agressivos
se não forem perturbados, no entanto os investigadores do Casarão podem ter tornado o jogo mais
“desafiante”.
No final do dia, sentam-se ambos numa espécie de fonte para pássaros gigante em madeira
para que os animais voadores da redoma lá bebam. Planeiam subir para saciar a sede, mas
terão de ser cautelosos com os cavalos. No alto não será boa ideia tentar dominar os cavalos
pois arriscam-se a uma queda feia. Mas Richard não pensa assim…Está disposto a tudo. Tenta
alcançar a primeira estaca da torre com a ajuda de Seth quando escutam um barulho vindo de
um arbusto. Recuam e baixam-se. Focam com temor o arbusto prontos para agir. Sai de lá
Brandon Hunter com quatro coelhos nas mãos:
-Então já comeram? Aposto que não pensaram nisso idiotas. – diz Brandon fingindo-se
animado – Vá, o Beans cozinha para não estranhar e eu e tu vamos lá a cima buscar a água,
parece-te bem? – procurando um sinal de aprovação no Prizorgi. Ele é muito respeitado pelos
rapazes da vila.
Depois dos rapazes respirarem de alívio, Seth acende uma fogueira e os dois começam a
escalar os alicerces da torre. O cozinheiro está concentrado a preparar os coelhos quando olha
em frente e confronta-se com um cavalo alado verde-água claro a menos de 3 metros de
distância. Assusta-se e levanta-se bruscamente fazendo o portentoso animal abrir as enormes
asas. Os olhos espelham o terror e também a curiosidade dele próprio. Naquele momento sente
a força, o carisma e o calor daquele produto de laboratório. Mas ele é muito mais do que isso. É
o seu reflexo. Finalmente compreende que ele simplesmente quer comida. Aproxima-se dele com
um bom pedaço de coelho. Ouve-se um grito vindo do alto da torre.
- Não faças isso idiota!
Assusta-se e cavalga por cima da fogueira que ateia o fogo sobre uma árvore, uma das
suas asas e em seguida os alicerces do depósito. Seth joga-se sobre ele tentando apagar o
fogo com o próprio corpo. Brandon cai desamparado. Richard consegue saltar para uma
árvore mas sem evitar magoar-se. Quando a torre em chamas está quase a desabar sobre
Seth e o equídeo voador, este abre as asas e voa carregando o candidato. Escapam por um
ápice. Voam juntos pelos limites da redoma. Ouve-se uma voz vida do exterior:
- Senhor Beans, se for capaz traga a sua conquista para fora da redoma, através da
saída superior que se vai abrir agora. – é a voz do Barriston.
Nem é preciso dar qualquer ordem. O cavalo cumpre o seu dever e pousa no palco da
cerimónia onde é entregue aos polícias. Seth abraça-se ao animal com toda a sua força. O
Presidente alcança o primeiro vencedor e coloca-lhe uma pulseira da vitória em bronze.
- É o teu passaporte para o próximo sucesso. Não foi o tipo de domínio que estávamos
à espera mas foi… interessante. Aguardemos pelos próximos vitoriosos. – diz sorrindo,
sorriso esse que não é minimamente correspondido pelo seu vassalo.
Uma grande tempestade que já ameaçava chegar começa na vila 21, e todas as
pessoas fora da redoma têm ordem de se dirigir às suas casas. Em corrida veloz até ao seu
bungalow, Seth interseta-se com Ron, o seu novo parceiro de casa, que lhe diz aflito que
precisa de o acompanhar ao refeitório. Quando recusa sem dar importância ao pequeno
rapaz, este rouba-lhe a pulseira conquistada na prova e desata a correr. Seth segue-o
praguejando levando com vento e chuva na cara até chegar ao destino forçado. Ao entrar na
cozinha defronta-se com Theo rolando a sua pulseira pela bancada. Theo, meu irmão!
-Temos de ser rápidos – diz Theo abraçando Seth – por isso concentra-te e não faças
perguntas desnecessárias.
-Estás vivo?
-Lá está! Essa é uma delas. Estou vivo mas não posso estar aqui, nunca mais posso
cá voltar. Agora trabalho no Casarão. Depois de me cortarem o braço, uma mulher colocou-me
ligaduras e deixaram-me horas sozinho naquela sala gélida. Quando eu pensei que voltavam
para me matar, encontro-me com o Presidente do Império que me diz que serei mais útil vivo do
que morto. Portanto eu estou bem, não te preocupes comigo. – os olhos do rapaz encharcado
ficam mais abertos do que nunca e a testa franze enquanto tenta processar tanta informação,
não tendo tempo para falar porque o amigo retoma – Tu tens de te concentrar nos Jogos, tens de
vencê-los. A ideia é essa e as provas estão à tua medida, embora tu precises de querer! As
coisas vão mudar Seth. Mas eu vim aqui porque…Eu não estava a contar que o Richard também
fosse selecionado. – o seu ar decidido e autoritário que está a surpreender Seth começa a
desvanecer-se em tristeza – Eu preciso que tu garantas que ele sobrevive até ao final dos Jogos
e depois logo se vê o que se pode fazer. E vence essa…
-Vai com calma Theo – interrompe – não estou a perceber nada. Tu trabalhas no Casarão?
Trabalhas para o Presidente? Eu…isto está feito para eu vencer? Como é que podes ser tão
estúpido? Eu vi-te a falares com esse cabrão na floresta junto aos Faith. Ele disse-te que era
meu pai. Também acreditas nisso? Acreditas mesmo que ele quer ajudar alguém, que as coisas
vão mudar? Ele é o homem nojento a quem devemos a nossa infância miserável e tu andas às
conversinhas com ele?
-Calma!
-Não tenho calma nenhuma. Eu não estou a entender nada do que tu estás para aí a dizer,
mas eu sei que isso só pode ser alguma artimanha para nos foder a vida.
- É verdade! Ele é teu pai! – Seth está prestes a perder completamente a cabeça –
Mas não é o verdadeiro Presidente do Império. Esse é agora prisioneiro dos Rebeldes. E o teu
pai é um deles. Há 25 anos que eles manipulam os conselhos a nomear rebeldes e já várias vilas
têm um conselheiro da organização. Tu és o próximo… e o último. Eles aproveitaram que a
nossa é a vila mais remota e como o presidente mais recente nunca cá veio, o teu pai é o
impostor. Mas a mentira está a tornar-se insustentável e assim que tu venceres os Jogos e fores
para o Casarão a revolução vai finalmente estalar.
Theo aproxima-se entrega-lhe a pulseira agarrando a sua mão com força, até que ouve
uma voz vinda da copa dirigindo-se para cozinha e diz apressadamente Lembra-te, em breve a
vida será o que tu quiseres. Dito isto, corre para fora dali.
A vida será o que eu quiser? Rebeldes? Revolução? Pai?
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Episodio 3 - A Vida Será O Que Tu Quiseres

  • 2. ANTERIORMENTE No início, Seth nunca entendera muito bem o porquê da existência do Dia da Criação. Um dia explicaram–lhe que a população mundial aumentou e os recursos ficaram escassos, então houve necessidade do mundo controlar a sua população. Como tal, algumas pessoas foram escolhidas e agrupadas em pequenas vilas, divididas por sexo: homens por um lado e mulheres para o outro. Ambos os géneros não se podem misturar, à exceção de um dia especial. Esse acontecimento surge uma vez por ano e tem como objetivo selecionar duas pessoas especiais a reproduzirem–se, para a espécie humana não terminar de vez. Com o controlo da natalidade, há um controlo dos recursos existentes no planeta.[…] – Meus caros… Parece que iremos nomear um novo homem para cumprir o seu dever. Theo Beans recusou-se e nós nunca queremos obrigar ninguém a nada. – riu-se.– O próximo, e esperemos que o último, eleito é… – continuou o General. Seth olhou para Jack para tentar saber o que se estava a passar. O colega encolheu os ombros, com incerteza. […] A rapariga assustou-se e fugiu para o canto do ecrã. – Estamos à sua espera! – afirmou o médico. Eu não posso. Ela é igual a mim. Ela tem os mesmo olhos verdes que eu. O mesmo formato do rosto. A mesma cor de cabelos. Ela sou eu. Ela… Ela é minha irmã gémea. – Eu não vou fazer nada! – gritou para uma das câmaras. Ao mesmo tempo que disse estas palavras, arrependera- se de imediato. […] Não! Eu tenho mesmo! Se não o fizer, ele morre. Despiu-a totalmente e baixou as suas calças. Ela é só uma estranha que tem o meu sangue. Ela não é minha irmã. Eu não a escolhi como família. Ficou duro, cuspiu para o pénis e tomou-a.
  • 3. ANTERIORMENTE Um dos membros do Conselho Regional havia morrido. Chamavam-lhe o Ancião e não era difícil depreender o porquê da alcunha. Anthony, esse tal membro do conselho, era o mais velho dos que integravam o órgão que regulava a vila, o que não era propriamente um elogio, já que ninguém no Conselho 21 era mais novo que setenta anos de idade.[…] - Este é o Ronald, mas podes trata-lo por Ron. Como podes ver, ele é um recém-chegado e após um difícil e longo processo de Seleção, já lhe foi atribuída uma profissão.[…]Este é (…) o teu novo companheiro de quarto. Seth tossiu, esbugalhando os olhos. O que é que ele acabara de dizer? Ele devia ter-se enganado, com toda a certeza. Como é que um rapazinho de 11 anos de idade iria viver com ele? Aquilo era mesmo muito estranho. […] Como já passaram os três dias de luto impostos pelo próprio Conselho de forma a honrar o falecido, é tempo de saber quem será a pessoa que terá a honra de se juntar ao órgão que luta pelos nossos direitos e pela nossa sobrevivência enquanto cidadãos, o Conselho do Império. “ Como os mais antigos devem saber, para se proceder à seleção da pessoa suficientemente boa para exercer tal poder e responsabilidade, procede-se aos Jogos do Império, um campeonato antigo e tradicional. É composto por três etapas, cada uma…” […] - Richard Prizorgi! - Seth Beans! Em seguida, Richard fitou Seth de forma triste. . Seth assentiu com a cabeça, percebendo o que ele lhe estava a transmitir. Daqui a três semanas, um deles (ou até mesmo os dois) estaria morto.[...] Seth começou a ouvir duas vozes que se aproximavam a passos largos conversando entre si. Uma das vozes, a menos intensa e que parecia que se curvava perante a do outro sujeito, parecia-lhe estranhamente familiar. […] - … e como é óbvio, ambos sabemos que o Seth nunca conseguiria ser escolhido para a Seleção por mérito próprio. Acha mesmo que valeu a pena manipular o Conselho? Acha mesmo que valeu a pena assassinar o Conselheiro Anthony? - - É claro que valeu a pena, senhor Theo Beans. O Seth deve ter lugar no Conselho, é imperativo. Não se esqueça que ele é meu filho. [...]
  • 4. No fundo de um dos muitos corredores largos, frios e brancos do mármore que os reveste encontra-se a Ala Laboratorial do Casarão. Saem de lá três raparigas. Uma com o seu cabelo desgrenhado, olhos fundos mas muito abertos com uma expressão que não se entende se está a sorrir sinistramente ou prestes a chorar desesperadamente. Outra com o seu ar altivo que sempre se espera de uma Prizorgi, mas a sua pele escura e quente não está tão brilhante, tal como os seus olhos, que já não transmitem o fogo da presunção a que habituou todas as raparigas da vila. E por fim, sai Lorena. Esguia, morena e de cabelos lisos e longos, é dona de uma beleza cândida embora com um olhar forte e embriagante. Mal aguenta no corpo toda a repugnância que sente no momento. A Conselheira Magenta recebe-as à porta. É a única mulher do Conselho e a mais nova com 71 anos sendo conhecida por ter feito uma prova emocional épica nos últimos Jogos do Império da vila 21, onde ironicamente provou que não tinha emoções nenhumas, a não ser uma determinação imensa em ser obediente e metódica para poder viver confortavelmente entre aquelas paredes de mármore, quase tão frias como ela. Decidiu somente com a razão e sem compaixão quem deveriam ser os sobreviventes de um naufrágio de 20 pessoas sendo ela uma das sacrificadas. No entanto, para os conselheiros, os conceitos de honestidade e pureza são um pouco duvidosos.
  • 5. - Caras selecionadas, parabéns. O doutor Jeff certificou-se que o procedimento foi bem-sucedido e vocês são oficialmente mulheres grávidas. Criação é controlo. Regulação é prosperidade infinita. - Criação é controlo. Regulação é prosperidade infinita.- repetem Edna Prizorgi e Ivy Faith. Se o olhar matasse, Lorena já era cinzas perante Magenta. A jovem repete a máxima muito rápida e atabalhoadamente. Apesar da revolta há que ter um pouco de cautela. Quem está capaz de matar alguém é ela devido a tudo a que foi submetida nos últimos dias. Roubaram-lhe a dignidade e agora sente-se a ser engolida por um mundo no qual vivia conformada mas que agora sabe que não é normal. Lá por ser a única forma de viver que todos conhecem há muito tempo, não significa que seja o normal. Forcem-me, engravidem-me, inutilizem-me mas não vão voltar a fazer- me acreditar que a vida não pode ser diferente disto! - Vou perdoar-lhe a “distração” menina Silkworm, esperando que seja apenas isso. – resmunga a alta e austera Magenta – Agora sigam-me e apressem o passo. Como sabem o Conselheiro Veterano Anthony morreu e estão a começar os Jogos do Império das raparigas onde a minha presença é necessária. – Como também pode ser selecionada uma mulher para o Conselho, os Jogos também decorrem na vila de Lorena. - E a nós, onde nos vão meter agora? – pergunta Lorena em tom de desprezo.
  • 6. -Silêncio! – gritou – Os cidadãos da vila não têm o direito de falar aqui dentro, exceto se forem ordenados! – abriu de tal forma os olhos, a boca e as narinas que as camadas de base esverdeada da alta e elegante mulher estalaram mostrando rugas enraizadas e manchas suspeitas. E é esta a visão que Lorena tem do Casarão: um exterior bonito, imperial e luminoso para esconder a podridão e depravação. – Normalmente, eu levo-vos para as vossas casas e são lá controladas, mas está cá o Presidente do Império e decidiu nomear um responsável para cuidar de vocês aqui dentro. Saiam para este pátio e aguardem que alguém vos venha buscar. Quanto à menina Silkworm, à terceira terá problemas sérios – fechando o portão agressivamente. Pois, vai fazer-me exatamente o quê? Eu não sou a “honrada” selecionada? Edna senta-se muita hirta no banco de pedra, cruzando as pernas elegantemente e ficando a fitar com um olhar vazio uma pequena fonte no canto do pátio. Lorena tenta conversar com Ivy na esperança de desabafarem as suas frustrações comuns mas esta está perdida no seu mundo deambulando entre as camélias que compõem o pequeno jardim e passando as mãos pela barriga repetidamente. Cerca de um quarto de hora depois, entra no pátio sombrio um jovem com um só braço. Lorena estava encostada a uma parede tentando encontrar câmaras de vigilância sem sucesso, quando o encara. Momentaneamente, sente que perde a força nas pernas. As imagens do Dia da Criação correm mais uma vez como um comboio desvairado no seu cérebro. – Tu?!
  • 7. - Aproximem-se as três. Eu sou o novo secretário do Casarão e responsabilizar-me-ei de vos guiar durante algumas semanas aqui dentro. Até porque vão ter uma importante tarefa em breve. - Um homem? Da vila? – pergunta Edna saindo do seu canto e caminhando lentamente ao encontro de Theo Beans e olhando-o com desdém de alto a baixo. Já Ivy observa-o com a cabeça ligeiramente inclinada e a cara tensa e misteriosa como uma gata curiosa que tenta perceber a índole do visitante. - Digamos que os conselheiros e o Presidente do Império sabem que eu não sou um perigo para a Criação – olhando condescendentemente para Lorena que ainda está a reviver os acontecimentos recentes – e alerto-vos que sou vosso superior. É imperial que me tratem com respeito. A expressão da costureira muda, e os seus olhos voltam a brilhar. A brilhar de indignação. Num gesto rápido e imprevisível insurge-se contra o rapaz de braços levantados e punhos serrados. – A culpa é tua! Foste tu que me fizeste isto! Era tudo um esquema. O teu amigo… aquele animal lunático desfez-me, destruiu-me. Theo usa o braço são para se proteger, agarrar na morena e cercá-la num canto daquela divisão exterior aproximando a sua cara da dela o suficiente para a deixar mais uma vez em pânico e quieta como uma pedra.
  • 8. - Um esquema para quê, diz-me lá! Por pertencer ao Casarão? – sussurrando - Eu nunca quis estar aqui. Isso valeria o meu braço? Ou um esquema para ele te fazer o que fez? Nem eu nem ele temos responsabilidade na política deles. E disseste bem, ele é meu amigo. Voltas a insultá-lo e eu vou ser a última pessoa que verás. Eu estou aqui a acompanhar-vos para minha própria sobrevivência. Por isso acalma-te e convence-te que seres uma seleciona da não faz de ti mais especial. – afasta-se da rapariga, que se deixa cair prostrada no chão– E também não te torna menos especial. Acredita que um dia a vida será o que tu quiseres. Continuando…Daqui a duas semanas vocês farão parte da prova emocional dos rapazes nos Jogos do Império. Por isso vamos começar a prepararmo-nos para isso. Vocês são as pérolas da vila neste momento, por isso estarão deslumbrantes… e veremos o que eles são capazes de fazer para vos proteger.
  • 9. * A primeira prova dos Jogos do Império está prestes a começar. O Conselheiro Bromo informou que o desafio proposto irá testar as capacidades físicas dos candidatos. Explicou ainda que para ser um bom conselheiro é importante saber impor a sua presença e superioridade, quer física quer comportamental. Quando o Presidente do Império é formalmente apresentado na cerimónia de abertura, este dá a conhecer aos candidatos o teor da prova. Passarão 3 dias numa redoma no bosque onde vive uma população de cavalos alados selvagens, espécie criada por manipulação genética inspirada em ficção mitológica. Estes animais são furtivos, rápidos e muito independentes, mas são conhecidos por se renderem à demonstração de poder físico dos homens que os tentem dominar com mais força e determinação passando a assumir uma postura de grande lealdade. Escusado seria dizer que o Conselho não se responsabiliza por mortes ou ferimentos que possam acontecer. Seth mal se consegue concentrar nas explicações do Presidente, ficando a pensar no que viu e ouviu na floresta. Eu alucinei, só posso ter alucinado. São os fumos das mezinhas que os Faith preparam, só pode ser. O Theo morreu, por muito que me custe. E aquele homem não é meu pai, é só o asqueroso Presidente deste império de merda. Theo sempre se queixou de que Seth falava muito durante a noite enquanto tinha sonhos mirabolantes. Não seria assim tão estranho ele ter imaginado toda aquela cena. Muito mais estranha era a possibilidade daquela conversa ter acontecido mesmo.
  • 10. O Presidente termina o discurso com o seu ar impenetrável e sinistramente encantatório e os candidatos seguem a caminho da redoma numa marcha liderada por Barriston e vários polícias do Império. Richard caminha com o seu ar mais compenetrado quando agarra o braço de Seth e diz-lhe: - Seth, eu quero muito ser conselheiro! Sempre tive essa ambição. Quando o Theo estava cá ele moderava a minha fome de controlo. Mas agora já não o tenho, e sendo assim quero isto mais do que nunca. Embora ele fosse sempre a minha primeira escolha. E espero que a vitória seja tua, se eu não a conseguir. - Faz o que tens a fazer desde que nunca te esqueças do Theo e da forma injusta como ele morreu. Mesmo depois de entrares pelo Casarão a dentro. – diz Seth de forma dura. A única resposta é a expressão confiante do amigo. Os candidatos entram na redoma e é decretado o começo da prova. Daqui a 72 horas os representantes de cada classe trabalhadora terão de ter domado um cavalo alado para passarem à próxima etapa. Richard e Seth decidem aliar-se e seguir juntos. O único cavalo alado que os dois amigos viram horas depois foi um castanho claro com asas amareladas que voou muito rápido por cima deles, a que se seguiu gritos agonizantes a alguns metros de distância. Tentaram encontrar a origem do pedido de auxílio, mas sem sucesso. O silêncio perturbador regressa momentos depois. Supostamente, os cavalos alados não são animais agressivos se não forem perturbados, no entanto os investigadores do Casarão podem ter tornado o jogo mais “desafiante”.
  • 11. No final do dia, sentam-se ambos numa espécie de fonte para pássaros gigante em madeira para que os animais voadores da redoma lá bebam. Planeiam subir para saciar a sede, mas terão de ser cautelosos com os cavalos. No alto não será boa ideia tentar dominar os cavalos pois arriscam-se a uma queda feia. Mas Richard não pensa assim…Está disposto a tudo. Tenta alcançar a primeira estaca da torre com a ajuda de Seth quando escutam um barulho vindo de um arbusto. Recuam e baixam-se. Focam com temor o arbusto prontos para agir. Sai de lá Brandon Hunter com quatro coelhos nas mãos: -Então já comeram? Aposto que não pensaram nisso idiotas. – diz Brandon fingindo-se animado – Vá, o Beans cozinha para não estranhar e eu e tu vamos lá a cima buscar a água, parece-te bem? – procurando um sinal de aprovação no Prizorgi. Ele é muito respeitado pelos rapazes da vila. Depois dos rapazes respirarem de alívio, Seth acende uma fogueira e os dois começam a escalar os alicerces da torre. O cozinheiro está concentrado a preparar os coelhos quando olha em frente e confronta-se com um cavalo alado verde-água claro a menos de 3 metros de distância. Assusta-se e levanta-se bruscamente fazendo o portentoso animal abrir as enormes asas. Os olhos espelham o terror e também a curiosidade dele próprio. Naquele momento sente a força, o carisma e o calor daquele produto de laboratório. Mas ele é muito mais do que isso. É o seu reflexo. Finalmente compreende que ele simplesmente quer comida. Aproxima-se dele com um bom pedaço de coelho. Ouve-se um grito vindo do alto da torre. - Não faças isso idiota!
  • 12. Assusta-se e cavalga por cima da fogueira que ateia o fogo sobre uma árvore, uma das suas asas e em seguida os alicerces do depósito. Seth joga-se sobre ele tentando apagar o fogo com o próprio corpo. Brandon cai desamparado. Richard consegue saltar para uma árvore mas sem evitar magoar-se. Quando a torre em chamas está quase a desabar sobre Seth e o equídeo voador, este abre as asas e voa carregando o candidato. Escapam por um ápice. Voam juntos pelos limites da redoma. Ouve-se uma voz vida do exterior: - Senhor Beans, se for capaz traga a sua conquista para fora da redoma, através da saída superior que se vai abrir agora. – é a voz do Barriston. Nem é preciso dar qualquer ordem. O cavalo cumpre o seu dever e pousa no palco da cerimónia onde é entregue aos polícias. Seth abraça-se ao animal com toda a sua força. O Presidente alcança o primeiro vencedor e coloca-lhe uma pulseira da vitória em bronze. - É o teu passaporte para o próximo sucesso. Não foi o tipo de domínio que estávamos à espera mas foi… interessante. Aguardemos pelos próximos vitoriosos. – diz sorrindo, sorriso esse que não é minimamente correspondido pelo seu vassalo.
  • 13. Uma grande tempestade que já ameaçava chegar começa na vila 21, e todas as pessoas fora da redoma têm ordem de se dirigir às suas casas. Em corrida veloz até ao seu bungalow, Seth interseta-se com Ron, o seu novo parceiro de casa, que lhe diz aflito que precisa de o acompanhar ao refeitório. Quando recusa sem dar importância ao pequeno rapaz, este rouba-lhe a pulseira conquistada na prova e desata a correr. Seth segue-o praguejando levando com vento e chuva na cara até chegar ao destino forçado. Ao entrar na cozinha defronta-se com Theo rolando a sua pulseira pela bancada. Theo, meu irmão! -Temos de ser rápidos – diz Theo abraçando Seth – por isso concentra-te e não faças perguntas desnecessárias. -Estás vivo?
  • 14. -Lá está! Essa é uma delas. Estou vivo mas não posso estar aqui, nunca mais posso cá voltar. Agora trabalho no Casarão. Depois de me cortarem o braço, uma mulher colocou-me ligaduras e deixaram-me horas sozinho naquela sala gélida. Quando eu pensei que voltavam para me matar, encontro-me com o Presidente do Império que me diz que serei mais útil vivo do que morto. Portanto eu estou bem, não te preocupes comigo. – os olhos do rapaz encharcado ficam mais abertos do que nunca e a testa franze enquanto tenta processar tanta informação, não tendo tempo para falar porque o amigo retoma – Tu tens de te concentrar nos Jogos, tens de vencê-los. A ideia é essa e as provas estão à tua medida, embora tu precises de querer! As coisas vão mudar Seth. Mas eu vim aqui porque…Eu não estava a contar que o Richard também fosse selecionado. – o seu ar decidido e autoritário que está a surpreender Seth começa a desvanecer-se em tristeza – Eu preciso que tu garantas que ele sobrevive até ao final dos Jogos e depois logo se vê o que se pode fazer. E vence essa… -Vai com calma Theo – interrompe – não estou a perceber nada. Tu trabalhas no Casarão? Trabalhas para o Presidente? Eu…isto está feito para eu vencer? Como é que podes ser tão estúpido? Eu vi-te a falares com esse cabrão na floresta junto aos Faith. Ele disse-te que era meu pai. Também acreditas nisso? Acreditas mesmo que ele quer ajudar alguém, que as coisas vão mudar? Ele é o homem nojento a quem devemos a nossa infância miserável e tu andas às conversinhas com ele? -Calma!
  • 15. -Não tenho calma nenhuma. Eu não estou a entender nada do que tu estás para aí a dizer, mas eu sei que isso só pode ser alguma artimanha para nos foder a vida. - É verdade! Ele é teu pai! – Seth está prestes a perder completamente a cabeça – Mas não é o verdadeiro Presidente do Império. Esse é agora prisioneiro dos Rebeldes. E o teu pai é um deles. Há 25 anos que eles manipulam os conselhos a nomear rebeldes e já várias vilas têm um conselheiro da organização. Tu és o próximo… e o último. Eles aproveitaram que a nossa é a vila mais remota e como o presidente mais recente nunca cá veio, o teu pai é o impostor. Mas a mentira está a tornar-se insustentável e assim que tu venceres os Jogos e fores para o Casarão a revolução vai finalmente estalar. Theo aproxima-se entrega-lhe a pulseira agarrando a sua mão com força, até que ouve uma voz vinda da copa dirigindo-se para cozinha e diz apressadamente Lembra-te, em breve a vida será o que tu quiseres. Dito isto, corre para fora dali. A vida será o que eu quiser? Rebeldes? Revolução? Pai?