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Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Curso de Arquitetura e Urbanismo Desenvolvimento do Mobiliário a Partir do Entendimento da Influência do Objeto no Espaço 
VICTOR HUGO NUNES DO AMARAL 
Coronel Fabriciano, Novembro de 2014
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DESENVOLVIMENTO DO MÓBILIARIO A PARTIR DO ENTENDIMENTO DA INFLUÊNCIA DO OBJETO NO ESPAÇO.
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DEDICATÓRIA 
Para Maria Alice.
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DEDICATÓRIA 
Agradeço a Deus maior Arquiteto do Universo, por guiar-me nesta caminhada. 
A toda minha família, por terem me transmitido valores que são alicerces fundamentais na minha vida. Principalmente a meus pais Maria Alice e Joel, minhas irmãs Viviane e Iara. Aos colegas de faculdade que me acompanharam durante essa trajetória. Em especial a minha colega Maria Marta, que por meio de inúmeras discussões, durante os semestres, contribuiu para meu amadurecimento. Obrigado pela amizade, paciência e companheirismo. À minha orientadora Carla Paoliello e demais professores que estiveram sempre presentes e atentos ao repasse de novos conhecimentos. Aprendi muito com vocês. Ao Roberto Caldeira e Kênia Barbosa pela oportunidade de vivenciar ensinamentos práticos do urbanismo e aos colegas do PDDI com quem pude conviver e trabalhar nesse final de graduação.
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Para que serve a floresta, meu pai? 
Para tudo que você quiser meu filho. E o que eu pretendo mostrar é um pouquinho de tudo que se pode fazer com a dádiva da floresta. É com tristeza que eu vos comunico: Os meus irmãos mataram esta floresta que era inteirinha quando eu nasci, por que não quiseram aprender a usá-la. Era a floresta do Atlântico, das mais ricas em essências na face da Terra. ....... 
(Caldas, 1982 apud Segawa, 2003: 11).
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RESUMO O presente trabalho utilizou-se da evolução histórica dos objetos para mostrar sua influência, ao longo dos séculos, frente às novas experimentações dos espaços. A casa como integradora desse contexto foi então escolhida para o desenvolvimento da proposta, já que seus mobiliários exercem grande influência nesse ambiente. O estudo e análise do mobiliário trouxe a constatação de que os móveis de apoio e assento possuem grande valor simbólico, bem como relevância dentre esses objetos, considerando sua utilidade, capacidade de interação e criação de novas percepções aos indivíduos. Para tornar a proposta mais consistente, foram estudados princípios das ergonomia e antropometria, visando o entendimento das posturas e suas condicionantes no ato de assentar. Também a madeira foi alvo de grande pesquisa, por ser matéria prima básica bastante utilizada na confecção do mobiliário. Contem, além de boas características físicas e mecânicas, alto valor histórico e simbólico principalmente em nosso país. O trabalho de conclusão de curso analisou também a interação entre ambientes e atividades desenvolvidas na habitação contemporânea, principalmente na cozinha conjugada, local onde estão inseridos os móveis de assento e apoio que deverão ser produzidos na próxima etapa. Por fim, foi retratada a influência dos modelos, tipologias e formas das mesas e cadeiras, perante aos usuários e ao ambiente, para que possam ser elaboradas peças condizentes com as necessidades atuais. 
Palavras - chave: influência dos objetos, móveis de apoio, móveis de assentar, madeira.
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INDICE FIGURAS 
Figura 1 - Relação homem/ espaço - objeto. ............................................................... 14 
Figura 2 - Cadeira francesa de 1750 ............................................................................ 18 
Figura 3 - Pintura Visconde de Flavigny em uma voyeuse -1763. ................................. 18 
Figura 4 - Cadeira francesa Voyeuse -1780 .................................................................. 18 
Figura 5 - Móveis portugueses do século XVII - Cadeira rasa, de sola ou Tamborete, Mesa Bufete................................................................................................................ 25 
Figura 6 - Bufete Séc. XVIII .......................................................................................... 25 
Figura 7 - Bancos Indígenas ......................................................................................... 26 
Figura 8 - Cadeira de sola Séc. XVII. ............................................................................. 27 
Figura 9 - Cadeira Austríaca n 14 de Michael Thonet – 1859, de madeira curvada a fogo ................................................................................................................................... 27 
Figura 10 - Cartaz com cadeiras e mesas Thonet. ........................................................ 28 
Figura 11 - Cadeira Thonet, produzida no Brasil. ......................................................... 28 
Figura 12 - Cadeira patente ......................................................................................... 29 
Figura 13 - Catálogo de móveis Carrera. ...................................................................... 29 
Figura 14 - Poltroninha 1960, Lucio Costa. .................................................................. 31 
Figura 15 - Mesa Brasília - Oscar Niemeyer e Joaquim tenreiro ................................... 32 
Figura 16 - Poltrona em Compensado recortado, João Batista Vilanova Artigas. ......... 32 
Figura 17 - Móveis de Carlos Benvenuto Fongaro. ....................................................... 32 
Figura 18 - Mesa,Joaquim Tenreiro ............................................................................. 33 
Figura 19 - Cadeiras variadas de Joaquim Tenreiro. ..................................................... 34 
Figura 20 - Poltrona de três pés – Joaquim Tenreiro. ................................................... 34 
Figura 21 - sala de jantar – Joaquim Tenreiro .............................................................. 35 
Figura 22 - Móveis variados de Zanine Caldas ............................................................. 36 
Figura 23 - Mesa orgânica, Zanine Caldas, 1950 .......................................................... 36 
Figura 24 - Mesa de chapas de compensado - 1970. ................................................... 37 
Figura 25 - Poltrona Mole............................................................................................ 38 Figura 26 - Poltrona Radar, Carlos Motta .................................................................... 39 
Figura 27 - Poltrona Sabre – Carlos Motta ................................................................... 39
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Figura 28 - Mesa de jantar Iporanga ............................................................................ 39 
Figura 29 - Cadeira alta com detalhe dos encaixes e de variadas madeiras. ................. 40 
Figura 30 - Mesa Tatto, aço inox e ralos de pvc, Irmãos Campana ............................... 41 
Figura 31 – Poltrona sushi IV, feita de EVA, Estúdio Campana. .................................... 41 Figura 32 - Móvel Hibrido produzido na Polônia de Karolina Tylka. ............................. 42 
Figura 33- Mesa com placas fotovoltaicas de Marjan Van Aubel, design Holandes. ..... 42 
Figura 34 - Mesa reserva designer brasileiro Paulo Alves ............................................ 43 
Figura 35 - Mesa estrutural pesa 4.5 kg do designer Alemão, Ruben Beckers. ............. 43 
Figura 36 - Banco prisma Zanine de Zanini .................................................................. 43 
Figura 37 – Banco de alumino fundido em madeira, de hilla shamia. .......................... 44 
Figura 38 - Propriedades Mecânicas ............................................................................ 48 
Figura 39 - Texturas de madeira de cores .................................................................... 49 
Figura 40 - Mesa com texturas .................................................................................... 50 
Figura 41 – Exemplo da Junta tridimensional de Mauricio. .......................................... 51 
Figura 42 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. ............................... 52 
Figura 43 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. ............................... 52 
Figura 44 - Diferenças dos veios em nas tabuas, corte tangencial e radial. .................. 53 
Figura 45 - Diferentes faces da Madeira ...................................................................... 53 
Figura 46- Alterações dimensionais por contração e dilatação. ................................... 54 
Figura 47 - Nível de dificuldade de acordo com a ferramenta ...................................... 55 
Figura 48 – Material apropriado / adequação. ............................................................ 56 
Figura 49 - Mancha de utilização e conexões possíveis. ............................................... 56 
Figura 50 - Conexões variadas ..................................................................................... 59 
Figura 51 - Esforços aos quais a cadeira e submetida. ................................................. 60 
Figura 52 - Partes componentes de uma cadeira com seus respectivos encaixes......... 60 
Figura 53 - cadeira montada e explodida de Mauricio. ................................................ 61 
Figura 54 - Estrutura e encaixes de espaldar de cadeira. ............................................. 61 
Figura 55 - Encaixe tridimensional para encosto da cadeira. ....................................... 62 
Figura 56 – Travamentos ............................................................................................. 62 
Figura 57 - Quina de assento de cadeira sem travamentos inferiores. ......................... 63 
Figura 58 - Junta tridimensional em travamento inferior. ............................................ 63
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Figura 59 - Croquis relacionados a execução da Poltrona Mole. .................................. 64 
Figura 60 - Cadeira São Paulo, Carlos Motta. ............................................................... 64 
Figura 61 - Estrutura esquemática de mesa ................................................................. 65 
Figura 62 – Desenho encaixe macho fêmea ................................................................ 66 
Figura 63 - Desenho de construção de tampo de mesa em esquema de fêmeas e chaveta corrida. .......................................................................................................... 66 
Figura 64 -Tampo de mesa com chavetas internas. ..................................................... 66 
Figura 65 - Desenhos de tampos de mesas ilustrando as variações dimensionais diferenciadas justapostas ortogonalmente. ................................................................ 67 
Figura 66 - Cartaz semana integrada. .......................................................................... 68 
Figura 67 - Ocupação da sala durante o seminário. ..................................................... 69 
Figura 68 – Ocupação da sala durante o seminário. .................................................... 69 
Figura 69 – Móveis de arquitetos e designers x peças convencionais de madeira de demolição ................................................................................................................... 70 
Figura 70 - Mesa redonda com pés central. Com Cadeiras Layla. ................................ 72 
Figura 71 - Mesa de peroba rosa reutilizada com Cadeiras Sahy ................................. 72 
Figura 72 - Dimensões antropométricas ...................................................................... 74 
Figura 73 - Variáveis relativas ao assento (cm) ........................................................... 75 
Figura 74 - Dimensões básicas de cadeiras para postura ereta e relaxada (cm) ........... 75 
Figura 75 - Dimensões básicas de cadeiras fixas (cm) .................................................. 75 
Figura 76 - Cadeira com assento alto causando desconforto na parte interna da coxa 76 
Figura 77 - Cadeira com assento baixo, causando perda da sensação de estabilidade . 76 
Figura 78 - Cadeira com assento longo acarreta pressão abaixo do joelho .................. 77 
Figura 79 - Cadeira com assento curto sensação de instabilidade................................ 77 
Figura 80 - Contato nádegas assento, vista lateral. ...................................................... 78 
Figura 81 - Contato nádegas assento, vista posterior. ................................................. 78 
Figura 82 - Distribuição de pressões sobre o assento: estofamento duro e estofamento macio. ......................................................................................................................... 78 
Figura 83 - Espaço entre o assento e o encosto ........................................................... 79 
Figura 84 - Encosto dando suporte da região lombar. ................................................. 79
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Figura 85 - Posições assumidas pela coluna ,postura reta, relaxada para frente, relaxada para trás. ...................................................................................................... 80 
Figura 86 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista superior). ......................... 80 
Figura 87 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista Lateral). ........................... 80 
Figura 88 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista lateral). .............................. 81 
Figura 89 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista posterior). .......................... 82 
Figura 90 – Obras de Ben Young. ................................................................................. 84 
Figura 91 - Desenho e obra finalizada.......................................................................... 85 
Figura 92 - Peças variadas de Antonio Bernardo .......................................................... 86 
Figura 93 - Poltrona ”Pantosh”- Lattoog ...................................................................... 87 
Figura 94 – Reeg parede. ............................................................................................. 87 
Figura 95 - Moleco ...................................................................................................... 88 
Figura 96 – Áreas mínimas para dimensionamento de mesa ....................................... 92 
Figura 97 – Dimensões mínimas de mesas nas tipologias mais comuns ....................... 92 
Figura 98 - Mesas em uso. ........................................................................................... 93 
Figura 99 - Exemplo de Cadeira Dobrável. ................................................................... 94 Figura 100 – Cadeira desmontável Bind/B1 dos designer jessy Van Durmer. ............... 95 
Figura 101 – Cadeira Pila, empilhavél de Ronan & Erwan Bouroullec. ........................ 96 
Figura 102 - Cadeira e mesa empilháveis, Copenhague Collection , Ronan & Erwan Bouroullec .................................................................................................................. 96 
Figura 103 - Mesas expansíveis. .................................................................................. 97 
Figura 104 - Planta casa antiga .................................................................................... 99 
Figura 105 - Relação de tabas do assoalho. ............................................................... 100 
Figura 106 - Dimensão dos Portais. ........................................................................... 101 
Figura 107 - Peças do antigo curral. .......................................................................... 101 
Figura 108 - Serra tora. ............................................................................................. 102 
Figura 109 - Serra circular ......................................................................................... 102 
Figura 110 – Desengrosso ......................................................................................... 103 
Figura 111 - Serra Fita ............................................................................................... 103 
Figura 112 - Furador horizontal ................................................................................. 104 
Figura 113 – Plaina .................................................................................................... 104
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Figura 114 – Esquadrejadeira .................................................................................... 105 
Figura 115 - mini desengrosso ................................................................................... 105 
Figura 116 - Tupia ..................................................................................................... 106 
Figura 117 - furador vertical ...................................................................................... 107
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Conteúdo 
CAPITULO 1 . INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13 
1.1 Influência do objeto no espaço .......................................................................... 13 
CAPITULO 2 – PERCEPÇÕES - CONCEITUAÇÃO E PANORAMA HISTÓRICO ................... 16 
2.1 O Mobiliário e a casa ......................................................................................... 16 
2.2 Definição de mobiliário ...................................................................................... 21 
2.3 Abordagem do Mobiliário Escolhido - Móveis de assento e apoio ..................... 23 
2.4 Contextualização histórica dos mobiliários de sentar e de apoio ....................... 24 
CAPÍTULO 3 – ENTENDENDO O MOBILIÁRIO ............................................................... 45 
3.1 A Matéria Prima (Madeira) ................................................................................ 45 
3.2 Percepções do Usuário - Seminário .................................................................... 68 
3.3 Ergonomia e Antropometria .............................................................................. 72 
3.4 Valor Simbólico .................................................................................................. 83 
CAPITULO 4 – CONDICIONANTES PARA PROPOSTA E EXECUÇÃO DO MOBILIARIO....... 89 
4.1 Os ambientes da casa na atualidade ...................................................................... 89 
4.2 Matéria prima disponíveis para confecção das peças ......................................... 98 
4.3 Maquinas e equipamentos disponíveis ............................................................ 101 
4.4 Definição do que deverá ser feito .................................................................... 108 
5. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 109 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 110
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CAPITULO 1 . INTRODUÇÃO 
1.1 Influência do objeto no espaço 
Segundo o Dicionário Houaiss (2007), entre seus vários significados, espaço pode ser definido como: 1.Extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos nos corpos ou objetos existentes possíveis. 2.Medida que separa duas linhas ou dois pontos. 3. Extensão limitada em uma, duas ou três dimensões, distância, área ou volume determinado. 4. Extensão que compreende o sistema solar, as galáxias, as estrelas, o universo. 5. Forma intuitiva e apriorística a partir da qual a sensibilidade humana organiza a experiência sensorial estabelecendo relações e distâncias entre um objeto percebido simultaneamente. A partir desse conceito observa-se grande abrangência do termo. Porém, para tornar mais clara a compreensão e raciocínio frente a elaboração desse projeto, optou-se pela descrição de espaço como fenômeno materializado, identificado por Alves (1999), como “produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade.” Essa definição é apropriada, pois vai ao encontro do próprio significado da palavra arquitetura, a qual referências a adotam como arte de construir e ordenar o espaço. Para melhor entendimento da influência do objeto no espaço e seus resultados, torna- se necessária a conceituação dos dois termos, visto que várias são as vertentes e as abrangências deste entendimento. O mesmo dicionário descreve o objeto como “... coisa material que pode ser percebida pelos sentidos. Coisa mental ou física para a qual converge o pensamento, um sentimento, uma ação”. 
Partindo então da definição de espaço como aquilo que o homem interfere, apropria, modifica ou usufrui de alguma forma, resultando ao final do processo em uma troca
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simbiótica dessa relação e objeto como algo material perceptível, carregado de significância de caráter utilitário, ornamental ou religioso; é possível afirmar que o reconhecimento do espaço e sua experimentação e interação, apenas se tornam possíveis por meio das relações entre sujeito e objeto, no qual o objeto influencia o meio e o meio influencia o objeto. Sem o espaço não há lugar-ambiente, sem os objetos não há interação, são estes últimos que garantem as interações com o meio, a percepção e os sentimentos acerca de onde estamos. Ambos se complementam e se relacionam. Sobre esta relação simbiótica Costa (2004), afirma: o espaço deve ser construído pela experiência, a qual existe na relação entre sujeito e objeto. É como se somente fosse possível experimentar a espacialidade após constatar a presença dos objetos. Mais que a proximidade natural entre corpo e objeto, o reconhecimento do segundo implica em inferir sobre sua função específica e, em seguida, sobre o posicionamento do uso a que se destina em relação ao uso do ambiente propriamente dito, ou seja, à função a que se destina o espaço. Portanto, manipular a função de determinado objeto ou mesmo modificar a maneira de inseri-lo num lugar poderá significar a modificação das relações do usuário com o espaço. Vale aqui ressaltar que após o espaço remodelado pela influência do objeto, ele dificilmente voltará ao seu estado original, o que propicia a recriação do ciclo ilustrado na figura 1. 
Figura 1 - Relação homem/ espaço - objeto. 
Dentro deste panorama, elege-se o espaço da casa como local escolhido para desenvolvimento da proposta.
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É a casa que fornece um espaço para ação e interação e possibilita desenvolver, manter ou mudar a sua identidade, ela é um abrigo para as pessoas e objetos que se torna um ambiente simbólico indispensável. (OLIVEIRA, 2011). Em seguida a discussão da importância do mobiliário de assento e de apoio neste ambiente residencial é o segundo foco desta pesquisa, bem como as abordagens acerca de sua definição, evolução ao longo do tempo e as características imprescindíveis relacionadas à sua criação e concepção como: ergonomia, materiais, técnicas construtivas, estrutura, ligações ou encaixes, importância do desenho/projeto, e por fim seu valor simbólico. Essas abordagens nortearam o desenvolvimento futuro do mobiliário aqui estudado.
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CAPITULO 2 – PERCEPÇÕES - CONCEITUAÇÃO E PANORAMA HISTÓRICO 
2.1 O Mobiliário e a casa 
A frase de John Lukacs, Rybczynski (1999), acerca da evolução do psiquismo humano e do mobiliário, “os móveis internos das casas surgiram junto com os móveis internos das mentes”, apresenta de forma clara a interferência do mobiliário e do espaço em nossas vidas. A frase demonstra o processo que introduziu, não apenas no lar, mas também nos indivíduos, a percepção e a compreensão de inúmeros conceitos como conforto, domesticidade, privacidade, intimidade, conveniência, utilidade e eficiência, conceitos que apenas se concretizaram à medida que evoluíam o mobiliário e a casa, criando o valor simbólico do espaço e a consciência de individualidade. Na Idade Média, o objeto estava diretamente relacionado à sua função, como relata Rybczynski (1999): As pessoas da Idade Média pensavam de maneira diferente sobre o tópico função, principalmente quando ela se referia a seu ambiente doméstico. Para nós, a função de alguma coisa está ligada à sua utilidade (a função de uma cadeira é servir de assento, por exemplo) e distinguimos este de outros atributos, como beleza, a idade ou o estilo, na vida medieval não se faziam tais distinções. Cada objeto tinha um significado e um lugar na vida que era tão parte de sua função como a sua utilidade imediata, e estes dois aspectos eram inseparáveis. Como não havia algo como função pura, era difícil, para a mente medieval pensar em melhorias funcionais; isto significaria perverter a própria realidade. 
Somente a partir da transformação das tecnologias geradas pela revolução industrial, e da remoção do trabalho para fábricas e lojas é que se desenvolveu a percepção individual. Essa percepção, com a ajuda do mobiliário, definiu melhor os ambientes, criando assim os cômodos de atividades específicas. A casa ganhava cada vez mais um caráter mais intimista e privado, “o senso de intimidade doméstica que estava surgindo foi uma invenção humana assim como qualquer outro implemento tecnológico. Na verdade, deve ter sido mais importante, pois não afetava somente o ambiente físico, como também a nossa consciência.” Rybczynski (1999). Esta
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implementação de intimidade e privacidade, com o decorrer do tempo introduziria na casa naquele mesmo século XVII outra percepção a domesticidade: o prazer pelo lar, pelo ambiente familiar e íntimo, o espaço deixava de se tornar apenas abrigo e se tornava ambiente de experimentação acerca de nossos sentimentos, “o interior não era só um ambiente para as atividades domésticas - como sempre havia sido – mas os cômodos, os seus objetos, agora adquiriam vida própria.” Rybczynski (1999). Esta evolução dos objetos e do psiquismo humano interferiram de maneira decisiva nos costumes, do lar e em nossa interação social. No século XVIII, os móveis rococó franceses, conforme figura 2, 3, 4 passariam a ter aspectos mais ergonômicos e decorativos além da função simbólica e utilitária, com isso, peças diferentes eram colocadas em cômodos distintos, indicando níveis de formalidade variados, numa busca a se adaptar ao espaço, e a ele levar a descoberta da noção de conforto. Sobre as cadeiras utilizadas naquele período Rybczynski (1999) aborda: Os assentos das cadeiras eram estofados com crina de cavalo, o que dava um apoio firme, as cadeiras das mulheres que tinham de sustentar menos peso, frequentemente eram estofados com penugem.... o estofamento não era chato, arredondado (bombé), portanto sustentava o peso maior no meio da cadeira e evitava que o anteparo machucasse as coxas. Os encostos inclinados haviam sido descobertos no século anterior; quando eles eram estofados, como quase sempre ocorria, se apresentavam levemente curvados. O estofamento era recoberto com brocados de seda, veludos ou tapeçaria bordada, todos eles ásperos (diferente da madeira e do couro) evitavam que se escorregassem para frente.... As cadeiras eram confortáveis porque acomodavam a estrutura biológica, mas também porque acomodavam as posturas da época.
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Figura 2 - Cadeira francesa de 1750 
Fonte : http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/205527 
Figura 3 - Pintura Visconde de Flavigny em uma voyeuse -1763. 
Fonte: http://www.philippeguegan.com/galerie/A_louis_XVI_voyeuse.html. 
Figura 4 - Cadeira francesa Voyeuse -1780 
Fonte: http://www.philippeguegan.com/galerie/A_louis_XVI_voyeuse.html.
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Todas estas características criaram o conforto físico e a comodidade, que seria novamente influenciado pelo novo estilo georgiano de móveis ingleses funcionais, projetados para serem úteis, mais estruturais que decorativos. A configuração da casa figurava com as atividades separadas verticalmente, o público abaixo e o privado acima. Outra característica interessante era o desejo por um quarto individual, fato este atrelado não apenas a questão de privacidade, mas à crescente consciência da individualidade. Os cômodos eram irregulares de estilos explicitamente diferentes, porém, ambos privavam pelo bem-estar e pela comodidade. O estilo dessas casas gerou uma disposição menos formal e mais irregular. O planejamento mais livre facilitou a incorporação de novos tipos de cômodos. Os cômodos que anteriormente eram considerados uma obra de arte passariam a ser concebidos, para se realizar atividades humanas, isto é, o conforto deveria incluir não só o encanto visual e o bem estar físico, mas também a utilidade. O espaço da casa sofria com influência direta do mobiliário. Após estes acontecimentos, a casa e os ambientes do século XIX, necessitariam da eficiência funcional, gerada pela tecnologia doméstica, tecnologia esta principalmente relacionada à ventilação e iluminação e que logo se dispersaria para além do conforto do lazer e passaria a ser exigida também no lazer doméstico. Estas características levariam a criação da mecanização do lar. É importante retratar que, por mais que a casa recebesse essas diversas invenções para melhorias da eficiência do trabalho doméstico, ela não sofreu um impacto tão profundo, sua forma na maioria das vezes não havia mudado, como relata Rybczynski (1999), “não havia motivo para ser de outra maneira. Que as máquinas, ou que as casas que incorporaram as máquinas, devessem ter uma aparência diferente das suas antecedentes pré industriais é um conceito moderno”. 
A tecnologia doméstica e a administração do lar havia se rebaixado totalmente a questões de estilo arquitetônico. A partir deste momento o conforto estava sempre atrelado a estilos, como o Moderno, ou a anteriores como Art Decó, Art Noveau, entre
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outros. O móvel passaria a ter importância para além do ambiente, pois não refletia apenas a decoração do cômodo, mas muitas características da época, ligadas a costumes e ideologias. “Os móveis dizem tudo. Assim como um paleontologista pode reconstituir um animal pré-histórico a partir de um fragmento de osso maxilar, pode- se reconstituir o interior doméstico, e o comportamento dos seus habitantes, a partir de uma única cadeira.” Rybczynski (1999). Hoje, o bem estar é uma necessidade fundamental, que precisa ser satisfeita. Se o presente não consegue fornecer tais atribuições busca-se no passado, através da austeridade e da nostalgia, este algo que não se encontra no presente, o conforto e o bem estar. O que nos coloca em uma situação difícil porque não há como adotar elementos do passado, e adequá-los a hábitos contemporâneos, não se consegue o conforto do passado ao copiar seu mobiliário e sua decoração. Sua aparência e sua função estão diretamente relacionadas à maneira como as pessoas imaginavam o conforto ou o idealizavam naquele período. O padrão de vida e a tecnologia entrelaçados com outros inúmeros fatores alteraram e continuam alterando em muito nossa percepção e definição de espaço ideal, por isso não há como retroagir à parametrizações antigas. Com isso, nos dias atuais, os móveis estão carregados de características funcionais, estéticas, ergonômicas, simbólicas, artísticas, etc., visto que a individualidade e a noção de conforto são tão diferentes entre os usuários, devido a suas diversas atribuições como conveniência, eficiência, lazer, bem estar, prazer, domesticidade, intimidade e privacidade. Toda esta abordagem é uma reflexão acerca da influência direta do mobiliário no espaço, não se deve esquecer o passado e aquilo que já foi construído, mas deve-se aproveitá-lo e trazer essa reflexão para características atuais.
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2.2 Definição de mobiliário 
No Dicionário Houaiss (2007), mobiliário é conceituado da seguinte forma: consiste em móveis; relativo aos bens móveis 2. relativo ou pertencente a mobília, 3. conjunto de móveis destinados ao uso e a decoração de uma habitação, um escritório, um hotel, um hospital, mobília, conjunto de móveis de um estilo, de um período, de um autor . E mobília como “conjunto de peças que se colocam dentro de um cômodo com várias utilidades podendo servir para adorno; mobiliário.” Para esta pesquisa, definiu-se como mobiliário o conjunto de móveis, equipamentos ou objetos elaborados com a função de permitir atividades cotidianas, de acordo com a necessidade de seu usuário, seja para o trabalho, lazer ou fatores biológicos, religiosos e ornamentais, que possibilita a nossa percepção acerca de lugares, como uma habitação, um escritório, um restaurante, um hospital ou mesmo ambientes, sejam eles um quarto, uma cozinha ou sala. Deve-se atentar que tal definição apenas se tornou possível graças à influência direta do domínio da produção agrícola. Esta evolução criaria o excedente, levando o homem a deixar de ser nômade e possibilitando assim seu agrupamento. Esta passagem, fez com que cada vez mais se criassem ferramentas/objetos e técnicas, para melhorar seu cotidiano e sua adaptação a este espaço, cada vez mais urbano e mais vivo em relações sociais. Esta questão é colocada por Costa (2004), Uma maneira direta de compreender a estreiteza da relação entre objeto e espaço é a própria evolução do móvel ao longo da história. Muitas vezes o desenvolvimento de uma técnica construtiva ou a mudança na concepção de uma determinada característica de um edifício, seja ela de interior ou exterior, imagética ou espacial só foi possível em função da participação direta do mobiliário.
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Como já retratado nesta pesquisa e afirmado pela autora, os objetos exercem influência direta no espaço (aqui retratado com foco na habitação-casa), propiciando a definição de seus ambientes e sua experimentação. Dentro dessa abordagem a cozinha apresenta papel preponderante em nossa cultura desde o início de nosso descobrimento. No período colonial, vamos encontrar a cozinha como real setor de serviços, uma verdadeira indústria de alimentos, uma fábrica de comida para atender a um verdadeiro restaurante, freqüentado pela imensa família patriarcal, além de visitantes, agregados, empregados e, até mesmo, o contingente escravo. Trata-se de um grande espaço que, em alguns casos, pode ocupar mais de um terço da área da casa, repleto de utensílios de diversos tamanhos e aplicações: gamelas, tachos, moringas, panelas de ferro, frascos, prateleiras, fogões a lenha. Bittar (1999) Naquela época, a cozinha apresentava papel preponderante e de destaque, sendo o lugar mais importante da casa não apenas o lugar de refeição, mas de grande hospitalidade. Espaço abastecido em sua maioria pelos alimentos produzidos in loco (própria fazenda) e/ou redondezas. Mesmo com as mudanças espaciais e sociais vivenciadas hoje, suplantadas pela diminuição de seus usuários e freqüentadores ou pela produção de alimentos ao seu redor, resultado este da diminuição da família dos empregados e de quintais cada vez menores ou até mesmo inexistentes. A configuração atual da cozinha, mesmo com a diminuição de seu espaço, ainda permite muitas relações de convívio familiar/social já que várias estão acopladas à copa como a cozinha americana. É na cozinha que se prepara as refeições, mas é onde estão localizadas a mesa e as cadeiras que se codificam e concretizam o valor de nossa cultura gastronômica e de nossa hospitalidade mineira. E nesse contexto de espaço é possível desacelerar das atividades cotidianas, desfrutando da rica culinária e das conversas com amigos e familiares. Diante desse cenário, será abordado aqui nesta pesquisa, o conjunto mesa e cadeira, muito em função das relações sociais e familiares que ambas peças permitem.
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2.3 Abordagem do Mobiliário Escolhido – Móveis de assento e apoio 
Móveis de assento são cadeiras, poltronas e sofás. 
O ato de sentar-se engloba várias relações do corpo com o espaço e o objeto. Por exemplo, senta-se quando se está cansado de permanecer em pé, quando se ambiciona desfrutar de um ambiente de lazer como em um teatro ou num campo de futebol; ao se alimentar em casas, bares e restaurantes, etc., ou seja, senta-se para suprir necessidades físicas, biológicas e psicológicas. Para a constituição de um objeto, necessita-se no mínimo de características básicas como: estabilidade, segurança, comodidade, conforto, mobilidade e resistência; além do atendimento a uma determinada função/ação. Sendo assim, foi analisado o ato de assentar e palavras correlatas a esta ação, tais como: Assento, Assentar e Sentar. Assento 1 superfície ou coisa sobre a qual se senta 2 parte especifica de uma cadeira, sofá, poltrona etc.,que fica na horizontal onde se senta. 3 Lugar que oferece segurança e/ou estabilidade a alguma coisa lá posta. Assentar 1 pôr(-se) sobre assento; acomodar(-se)..2 pôr ou estar apoiado, de forma estável e/ou estática. Sentar 1 flexionar as pernas até apoiar as nádegas em assento; tomar assento; assentar-se na poltrona; fazer tomar assento; lançar longe ;atirar, jogar,atacar. Houaiss, (2007). 
Andrade (2012) afirma que “a cadeira pode e deve ser definida como uma estrutura para se sentar”. Partindo dessa concepção do sentar a mesma carece de mobilidade, precisando ser movimentada para trás e em seguida arrastada para frente junto à mesa. Para atender tais requisitos, a leveza faz-se importante em sua concepção, assim como seu ato de indeformabilidade, o que acarreta uma configuração estrutural de peças esbeltas, unidas por meio de encaixes colados, ou soldados. Estas
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características serão melhores abordadas no capítulo 2, uma vez que é importante entender que a cadeira é um móvel de construção complexa e sofisticada, a ponto de exigir conhecimento das suas uniões estruturais e de seus encaixes para possibilitar a total integridade da peça. De acordo com Houassis (2007): Apoio “1 o que serve para amparar, firmar, segurar, sustentar (alguém ou algo), sustentáculo... 2 auxilio (que se presta a.), amparo, ajuda; Móveis de apoio são utilizados para dar suporte, ajuda na realização de outras ações e ou atividades. Dentro dessa classificação podem ser: Mesas de todos os tipos e subtipos: mesas de refeições, mesas de estudo, trabalho, centro, laterais, jogos, enfim, toda e qualquer superfície plana afastada do piso a altura ergonomicamente adequada ao desempenho de uma função específica de apoio, às atividades humanas. Andrade (2012) 
As crescentes especializações dos trabalhos e das atividades humanas, com base nesse mobiliário, influenciam diretamente sua construção e uso. Os móveis de apoio servem como suporte sobretudo para refeições e serviços em geral, em alguns casos podem servir também como aparadores e suporte para variados objetos, sejam eles de cunho religioso, decorativo ou funcional (ferramentas). Assim como a cadeira, a mesa exige diversas características básicas como indeformabilidade e regularidade em sua superfície entre outras, que serão melhores abordadas no Cap.2. 
2.4 Contextualização histórica dos mobiliários de sentar e de apoio 
O mobiliário brasileiro foi claramente influenciado pelas tradições portuguesas. Na época da colonização, os móveis de assento eram trono, banco, escabelo, algumas variedades de cadeiras e de tamboretes, os móveis de apoio eram os bufetes e as mesas, figura 5.
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Figura 5 - Móveis portugueses do século XVII - Cadeira rasa, de sola ou Tamborete, Mesa Bufete. Fonte: Canti. Pag. 40, 48.1998. No século XVIII, as mesas em Portugal, eram trabalhadas, com decoração em tremidos, ondulados, e torneado, conforme mostra a figura 6, passando por vezes a ter moldura e almofadas, muitas eram executados em madeira do Brasil, sobretudo em jacarandá. Vale ressaltar que até este século (XVIII), o que hoje denominamos mesas eram conhecidas em Portugal como bufetes e serviam como aparadores ou para serviços, sobretudo na cozinha, e como suporte para oratório e/ou escritório. As mesas, de fato, eram aquelas destinas a refeições, peças simples desmontáveis com pernas de cavaletes. 
Figura 6 - Bufete Séc. XVIII 
Fonte: Canti. Pag .1998. Os móveis de assento entre os séculos XVI e XVII, em Portugal, variavam conforme a condição social e a hierarquia, na corte portuguesa, o trono era reservado ao rei; as cadeiras rasas, bancos e escabelos aos nobres, de acordo com sua posição hierárquica; e as damas e demais cortesãos utilizavam as almofadas sobre estrados forrados com alfombras (grande tapete).
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Em suas casas os nobres utilizavam cadeiras encouradas de espaldas e braços, de estrutura retangular, e os mais abastados utilizavam também destas cadeiras com braços, porém mais simples que a dos nobres, que aos poucos foram evoluindo para as cadeiras sem braço ou tamboretes. No século XVI, o Brasil já contava com um número crescente de engenho de açúcar. O mobiliário era escasso e constituído sobretudo de caixas, cadeiras, bufetes e catres, em sua maioria construídos na própria casa. Segundo Canti (1999), “os móveis, inspirados nos móveis portugueses, são, em sua maioria, reproduzidos em madeira mais grossa, em maiores proporções e mais rústicos que seus modelos originais.” Com o passar dos séculos maioria dos exemplares foram destruídos, com isso as imagens destes mobiliários são raras. Os bancos indígenas eram variados, de simples toros de madeira a outros mais trabalhados com peças com desenhos geométricos ou em formato de animal, figura 7. 
Figura 7 - Bancos Indígenas 
Fonte: Borges,2010. Com isso, entre 1500 a 1808, tinha-se três tipos de móveis: os portugueses, trazidos pelos colonizadores, os produzidos pelos índios, e aqueles seguindo referências européias, com madeiras nacionais com ilustra as figura 8.
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Figura 8 - Cadeira de sola Séc. XVII. Fonte: Canti. Pag. 103. 1998. A partir de 1808, com a vinda da corte e os vários tratados comerciais proporcionados pela abertura dos portos, iniciava-se a diversificação de nossa oferta através de peças inglesas, austríacas, conforme figura 9 e 10, e francesas, trazendo assim novos estilos de mobiliário que influenciariam a produção local. 
Figura 9 - Cadeira Austríaca n 14 de Michael Thonet – 1859, de madeira curvada a fogo 
Fonte: http://www.revistacliche.com.br/2012/04/revolucao-thonet/
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Figura 10 - Cartaz com cadeiras e mesas Thonet. Fonte: http://www.casadevalentina.com.br/blog/detalhes/michael-thonet-254 Algumas décadas depois, já na metade do século XIX, começaria a existir uma maior evolução do móvel aqui produzido devido ao elevado número de marceneiros e da implantação de pequenas fábricas de produção mecanizada que gradativamente faziam desaparecer a produção artesanal. Em 1890, houve a abertura da Companhia de Móveis Curvados, uma fábrica de produção em larga escala de móveis que imitavam os austríacos, como ilustrado na figura 11. 
Figura 11 - Cadeira Thonet, produzida no Brasil. 
Fonte: Santos, Pag.17. 1995.
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A evolução dos móveis brasileiros ocorria de modo gradativo ao longo dos anos, porém a interrupção das importações geradas pelas duas guerras, juntamente com a migração de artistas, artesãos e arquitetos em nosso país propiciaram um desenvolvimento mais acelerado, fazendo surgir em 1915 o projeto da linha patente desenvolvida por Celso Martinez Carrera. Definida pelas formas simples e puras numa busca pela racionalização do desenho a fim de diminuir os custos e aumentar a produção, a Linha Patente é considerada um marco fundamental para a evolução do desenho do mobiliário brasileiro. Nascia o verdadeiro mobiliário brasileiro, figuras 12 e 13. 
Figura 12 - Cadeira patente 
Fonte: http://cdn.casavogue.globo.com/wp-content/uploads/2011/07/cama_patente_33.jpg 
Figura 13 - Catálogo de móveis Carrera. Fonte: Santos, Pag.34. 1995.
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O século XX pode ser considerado um marco do desenvolvimento do mobiliário brasileiro uma vez que neste século houve muitas mudanças relacionadas à concepção deste objeto. 
Segundo Paoliello (2001), 
(...) século XX, marcado pela transição da Monarquia para a República assinalava um desejo de mudança, principalmente no sentido de se encontrar uma identificação própria. O sentimento nacionalista, movimento de retorno à tradição, às raízes culturais e o desejo crescente de ingresso à modernidade culminaram na Semana de Arte Moderna de 1922. Existia uma proposta significativa de buscar a atualização artística em concordância com as vanguardas européias e, ao mesmo tempo, voltar à realidade brasileira, para dela extrair sua temática. Propunha-se a pesquisa de formas ligadas às nossas tradições culturais e à exploração das possibilidades dos nossos materiais, criando soluções originais de acordo com a realidade econômica e tecnológica, o clima e o cotidiano brasileiro, contribuindo assim, para a criação de um design verdadeiramente brasileiro. Esta modernização da cultura brasileira após a Semana de Arte de 22 era intensa. Vários artistas buscavam a experimentação através de diferentes meios de expressão, como literatura, dança, pintura, arquitetura e na própria criação do mobiliário. Contudo, essa filosofia era considerada de pequenos grupos não conseguindo atingir a população. O que aconteceu é que a modernização do mobiliário, fazendo parte de um contexto mais amplo, participou do processo de importação e assimilação de idéias e conceitos, que foi se tornando mais complexo, enriquecendo-se com elementos nacionais: os tecidos, as fibras naturais e o uso de outros materiais da terra. Conseqüentemente, esses elementos acabaram amortecendo o reflexo da importação de idéias, trazendo maior autonomia para a produção do móvel e caracterizando obras significativas elaboradas dentro de um marco estilístico que respondeu mais adequadamente às nossas condições. Santos ( 1995). 
A modernização do mobiliário realizada pelos arquitetos se dava de uma maneira intrínseca à arquitetura, numa busca pela integração entre objetos e espaços criados;
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ocorreu assim uma produção pontual direcionada a uma busca da unidade do ambiente construído. Apenas alguns destes móveis passaram a ser comercializados. O problema encontrado no equipamento dos edifícios é que, muitas vezes, o mobiliário, o arranjo interno, prejudica completamente a arquitetura. Arquitetura prevê os espaços que devem ficar livres entre grupos de móveis, e às vezes, os móveis são colocados de uma maneira imprópria, os espaços se perdem e a arquitetura fica prejudicada. De modo que, sempre se deve procurar marcar o lugar dos móveis, mas, mesmo assim, às vezes eles não estão de acordo com a arquitetura, e o ambiente se faz sem a unidade que a gente gostaria. Santos (1995) Entre estes arquitetos estavam Lúcio Costa, figura 14, Oscar Niemeyer figura 15, João Batista Vilanova Artigas, figura 16, e o arquiteto Italiano Carlos Benvenuto Fongaro, figura 17, que chegou ao Brasil em 1947, colaborando com várias empresas na fabricação de móveis, usando muito jacarandá e ferro. 
Figura 14 - Poltroninha 1960, Lucio Costa. 
http://www.revestir.com.br/mobiliario_design/Brasil_mostra_cara/brasil_mostra_cara.html
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Figura 15 - Mesa Brasília - Oscar Niemeyer e Joaquim tenreiro 
Fonte: http://antiquariocarioca.blogspot.com.br/2011/10/oscar-niemeyer-mesa-brasilia.html 
Figura 16 - Poltrona em Compensado recortado, João Batista Vilanova Artigas. 
Fonte: http://www.tecto.com.br/Agenda/2010/10/01/Mostra-Os-Modernos-Brasileiros 
Figura 17 - Móveis de Carlos Benvenuto Fongaro. Fonte: Santos, Pag.56. 1995.
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Havia se criado não apenas uma preocupação com o espaço, mas uma preocupação em se produzir um mobiliário adequado à cada particularidade por meio de um novo desenho, seguindo nossas características climáticas e nossa disponibilidade de matéria prima. Utilizava-se assim, sobretudo a madeira, a qual nosso país sempre teve em abundância. ... a riqueza deste patrimônio acumulado por mais de quatrocentos anos e o esmero da mão-de-obra, associados à generosidade de nossa flora, estabeleceram uma verdadeira tradição do móvel em madeira no Brasil, que voltará a emergir, com muita força, na obra de alguns designers do século XX, particularmente, a produção de Carlos Motta, Joaquim Tenreiro, José Zanine Caldas, Maurício Azeredo e Sérgio Rodrigues. (Santos,1995) Neste mesmo século, na década de 40, Joaquim Tenreiro, foi sem dúvida um dos mais representantes de seu período, considerado por muitos, como um dos maiores conhecedores desse material. Em sua produção havia sempre a alta qualidade artesanal aliada ao fascínio pela textura, organicidade e tatilidade, extraindo da madeira formas que remetiam às nossas raízes culturais. As realizações de Tenreiro na confecção de móveis foram divididas em duas fases bem distintas: entre 1931 a 1942 quando trabalhou para duas casas de mobília produzindo móveis ecléticos; e no período de 1942 a 1969, quando criou a Langenbach & Tenreiro Moveis e Decorações, empresa na qual pode colocar em prática suas concepções modernas por meio de peças leves, funcionais e sem ornamentos, figuras 18, 19, 20, 21. 
Figura 18 - Mesa,Joaquim Tenreiro
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Fonte: http://antiquariocarioca.blogspot.com.br/search/label/Joaquim%20Tenreiro. 
Figura 19 - Cadeiras variadas de Joaquim Tenreiro. 
Fonte: http://nomescomsobrenome.blogspot.com.br/2011/04/nome-joaquim-sobrenome- tenreiro.html 
Figura 20 - Poltrona de três pés – Joaquim Tenreiro. Fonte: http://www.r-and-company.com/item_detail.cfm?id=1898
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Figura 21 - sala de jantar – Joaquim Tenreiro 
Fonte: http://revista.casavogue.globo.com/design/leilao-oferece-design-com-historia-em-sp/ A rápida industrialização vivida na década de 50 em nosso país, atrelada ao desenvolvimento dos meios de comunicação difundiram o móvel moderno, que utilizava do uso de novos materiais, formas padrões e tendências. Configura-se assim condições para criação da experiência da industrialização e da produção em série. Com essa proposta o arquiteto José Zanine Caldas, cria a fabrica Móveis Z, Zanine, Pontes & Cia. Ltda, desenvolvendo móveis a partir do princípio da modulação e aproveitando por completo as chapas de compensado. Desta maneira, evitava assim o desperdício, o que, para ele e considerando as características econômicas brasileiras, era algo inaceitável: Os principais conceitos defendidos por Zanine – de valorização econômica e cultura das florestas; de incentivo à dignidade e à sabedoria do povo brasileiro para utilizar os recursos naturais disponíveis no país; e da luta pela promoção do reuso da madeira. Braga (2012). 
Junto com Tenreiro, Zanine era considerado um mestre da madeira, com reconhecimento internacional. Ele tinha tanto apreço a essa matéria prima que foi um
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dos precursores do conceito de preservação ambiental na metodologia de projeto, produzindo móveis artesanais com madeiras refugadas, residuais e raízes, figura 22, 23 e 24. 
Figura 22 - Móveis variados de Zanine Caldas 
Fonte: http://media-cache- ak0.pinimg.com/originals/54/df/4e/54df4e645f2ed22160fe5c153b8e9656.jpg 
Figura 23 - Mesa orgânica, Zanine Caldas, 1950 
Fonte: https://artsy.net/artwork/jose-zanine-caldas-organically-shaped-side-table
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Figura 24 - Mesa de chapas de compensado - 1970. 
FONTE: http://theredlist.com/wiki-2-18-393-1456-view-brazilian-modernism-1-profile-zanine-caldas- jose-1.html Para Santos (1995), a década de 60 foi o período mais expressivo do meio artístico e cultural brasileiro. Neste período, era travada uma luta por uma arte autenticamente nacional e crítica em função dos problemas econômicos e sociais que atingiam o país. O móvel absorvia o ideário estético da aculturação. Enriquecendo-se com os elementos nativos, produziu-se em certos momentos, um móvel com formas originais, mais condizentes com nossas condições e expressivo caráter. Sob essa perspectiva, nacionalista, um dos trabalhos mais significativos foi o do arquiteto e designer Sérgio Rodrigues, seu comprometimento com os valores e materiais regionais vinculados a formas e padrões de nossa cultura, o fizeram criar a Poltrona Mole, figura 25, ganhadora do 1º Prêmio na Bienal Concorso Internazionale del Mobile em 1961.
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Figura 25 - Poltrona Mole 
http://www.sergiorodrigues.com.br/ Sobre esta poltrona, Santos (1995) aborda: A Poltrona Mole foi projetada para permitir o máximo de conforto e repouso. Toda a sua estrutura é de jacarandá maciço, torneado em forma de fuso, e os encaixes são manuais, percintas em couro natural reguláveis e almofadões executados em atanado fino. As percintas de couro que formam a estrutura da Poltrona Mole estabelecem uma certa filiação formal com as tradicionais redes, elemento representativo de nossa cultura. Os almofadões de atanado sob a estrutura possibilitam ao usuário moldar o corpo anatomicamente ao sentar, remetendo, de certa forma, à aderência perfeita entre corpo e rede. Nas décadas de 70 e 80, o mobiliário alcança uma escala massiva. A produção era eclética seguindo várias vertentes. Dois arquitetos que desempenhavam um papel importante nesta época e ainda o fazem, Carlos Motta e Mauricio Azeredo. Carlos Motta trabalha da seguinte forma: Meu método de trabalho para projetar assentos é: procuro a postura que acredito ser a mais correta – o conforto – uma vez resolvido, vou pensar em estrutura e construir essa forma. Usando a técnica construtiva mais adequada da combinação desses elementos chego a um resultado estético. BORGES (1955) Um bom exemplo de seu trabalho são a poltrona radar e a Poltrona Sabre, figuras 26, 27 e 28.
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Figura 26 - Poltrona Radar, Carlos Motta 
http://www.casafashionista.com.br/poltrona-radar/ 
Figura 27 - Poltrona Sabre – Carlos Motta 
http://rincarnation.wordpress.com/2012/09/22/around-the-world-in-80-chairs-sabre-chair-by-carlos- motta-at-19-greek-street-london/ 
Figura 28 - Mesa de jantar Iporanga 
Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-de-jantar-iporanga/
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Mauricio Azeredo utiliza de desenhos baseados na releitura de simbologias indígenas, associadas às diversas nuances e tonalidades das madeiras brasileiras para criação de seus móveis. As cores em sua obra remetem a nossas tradições culturais como carnaval, festas populares e ritos, conforme figura 29. Para conseguir confeccionar suas peças, estudou a fundo diversos tipos de madeira nacionais, técnicas e sistemas construtivos. 
Figura 29 - Cadeira alta com detalhe dos encaixes e de variadas madeiras. Fonte: http://mauricioazeredo.wordpress.com/about/ Na atualidade o móvel produzido no Brasil é fruto de variadas intenções e influências externas, assim como aconteceu desde o início de sua colonização. Porém essas interferências não são mais oriundas apenas de alguns países ou tipos específicos de mobiliários, a troca de informações geradas pelos meios de comunicação permite uma influência direta de outras culturas e etnias do mundo inteiro. Por outro lado, o Brasil tem sido agente da mudança dos paradigmas e dos conceitos acerca do mobiliário produzido mundialmente. Pensando então nas variáveis que influenciam a produção do mobiliário e segundo PAOLIELLO (2002) que define ”Adaptando-se à complexidade de hoje, o móvel é lúdico, exuberante, funcional, artesanal e mesmo nostálgico, coerente com as maneiras de estar, assentar e vivenciar os espaços interiores nacionais.” Tem-se que o móvel contemporâneo é permeado de intenções e se fôssemos qualificá-lo em uma palavra esta seria “Surpresa”.
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Assim sendo, o valor simbólico e funcional do mobiliário neste período permite uma tentativa de mudança de percepções, ocasionando grande experimentação de formas, técnicas e materiais. A definição então de técnicas e matérias primas extrapola os materiais do cotidiano, em alguns casos para produtos que aparentemente não teriam valor, totalmente fora do contexto normal de objetos de apoio e assento, como acontece com os Irmãos Campana. Ilustrado nas figuras 30 e 31. 
Figura 30 - Mesa Tatto, aço inox e ralos de pvc, Irmãos Campana 
http://www.vermaisdesign.com.br/wp-content/uploads/2013/03/cc-0573-54-irmaos-campana-10.jpg 
Figura 31 – Poltrona sushi IV, feita de EVA, Estúdio Campana. Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/Casaejardim/foto/0,,21893057,00.jpg
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O objetivo final do mobiliário não é definido, podendo ter apenas uma única função ou várias, um móvel híbrido, figura 32, ou tecnológico, figura 33. Figura 32 - Móvel Hibrido produzido na Polônia de Karolina Tylka. 
http://dornob.com/turning-tables-flexible-wood-seats-flip-into-work-surfaces/ 
Figura 33- Mesa com placas fotovoltaicas de Marjan Van Aubel, design Holandes. 
Fonte: http://marjanvanaubel Sua concepção parte de formas simples, podendo chegar a estruturas complexas com ferramentas básicas a maquinas ultramodernas de cortes, ou até mesmo o uso de materiais de forma inusitada, figuras 34, 35, 36, 37.
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Figura 34 - Mesa reserva designer brasileiro Paulo Alves 
http://www.arquivocontemporaneo.com.br/brasilia/produtos/showProduto/642 
Figura 35 - Mesa estrutural pesa 4.5 kg do designer Alemão, Ruben Beckers. Fonte :http://www.dezeen.com/2014/01/17/wooden-table-by-ruben-beckers-weighs-just-4-5- kilograms/ 
Figura 36 - Banco prisma Zanine de Zanini 
http://casavogue.globo.com/LazerCultura/Livros/noticia/2013/12/zanini-de-zanine-lanca-livro-de-sua- obra.html
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Figura 37 – Banco de alumino fundido em madeira, de hilla shamia. http://www.designboom.com/readers/wood-casting-by-hilla-shamia/
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CAPÍTULO 3 – ENTENDENDO O MOBILIÁRIO 
3.1 A Matéria Prima (Madeira) 
A madeira in natura, principalmente proveniente de árvores nativas, sempre foi a matéria prima básica para confecção do mobiliário em nosso país, porém, devido a sua grande exploração ao longo dos anos vinculada à falta de estímulo para a sua produção legal, tem originado a escassez deste material, como se vê num trecho da dissertação de mestrado de Valadares (2012): Explora-se uma determinada madeira intensivamente até seu escasseamento e, quando isso acontece, novas frentes de desmatamento introduzem outras espécies no mercado. Esse fenômeno é histórico e passível de ser averiguado através do estudo cronológico das construções. Cada tempo tem sua madeira e as madeiras das construções antigas ajudam a datá-las. A preocupação em identificar as madeiras e suas potencialidades vem desde o tempo da colônia, quando a coroa portuguesa classificou as madeiras sobre as quais tinha maior interesse em função das qualidades especiais de cada espécie, começando pelo pau-brasil e plasmando, assim, o conceito de madeira de lei, que nada mais era do que uma listagem de madeiras que precisavam de autorização do governo português para serem comercializadas... A cronologia mencionada anteriormente evidencia que as primeiras construções usaram madeiras da Mata Atlântica e sua exploração durou séculos. Esse bioma, mais rico em diversidade que a própria Floresta Amazônica..... O uso excessivo dessa matéria se deu graças a varias características físicas e mecânicas próprias favoráveis a sua utilização como: 
 Resistência mecânica tanto a esforços de tração (forças com tendência a estender o seu comprimento), como à compressão (resistência da madeira a forças que tendem a encurtar o seu comprimento), além de resistência à tração na flexão (forças ao longo do seu comprimento). 
 Alta resistência mecânica na relação peso próprio. 
 Resistência a choques e cargas dinâmicas absorvendo impactos. 
 Facilidade de obtenção de formas de encaixes e conexões de peças entre si.
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 Boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica. 
 Matéria prima renovável, desde que se explorada racionalmente. 
 Diversos padrões estéticos e de qualidade. 
Ao mesmo tempo outros procedimentos ou intempéries as desqualificam diminuindo sua qualidade, gerando desperdício e mau aproveitamento tais como: 
 Problema de secagem ou umidade podem levar à diminuição da resistência das fibras lenhosas ocasionando tensões internas secundárias. 
 Deterioração em ambientes agressivos que desenvolveram agentes predadores como fungos, cupins, mofos, etc. 
 Heterogeneidade e anisotropia (as propriedades físicas variam conforme a direção de suas fibras), ocasionando diferentes resistências e transformações ao longo da peça. 
 Hidroscopia capacidade da madeira de absorver umidade e se expandir (entumecimento), ou retrair (retração), de acordo com as variações da atmosfera envolvente. No sentido longitudinal ao eixo de uma tora, por exemplo, a variação é mínima (0,1%), no sentido tangencial é máxima (até 10%), e no sentido radial, cerca de 5%. 
 A quantidade de água presente na madeira a defini e seus estados podem ser: 
verde - umidade acima de 30% semi seca - acima de 23% comercialmente seca - entre 18 e 23% seca ao ar - entre 13 e 18% dessecada - entre O e 13% seca - 0%
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É importante observar que estas características físicas e mecânicas variam de acordo com a espécie, presença de umidade e corte. Por exemplo, a madeira aumenta sua resistência, fica mais dura quando se está seca e diminui tornando-se mais “elástica”, quando possui alta concentração de água em suas células vazias. As madeiras consideradas de leis, àquelas mais duras e escuras, possuem suas fibras bastante trançadas, o que as tornam densas, pesadas e resistentes. Muitas não precisam de tratamento contra insetos xilófagos (cupins e brocas), pois as fibras são trançadas a ponto da água quase não conseguir penetrar e os insetos não conseguirem comê-las. A variação na tonalidade da cor propicia ainda melhor resistência ao sol, sendo sua cor como a pele, quanto mais escura, mais resistente será ao sol. Por isso madeiras mais claras recomenda-se utilizar produtos que possuam em sua composição filtros contra raios UVA e UVB. Estas madeiras consideradas duras, densas e pesadas, tem sua massa especifica acima de 800 Kg/m³, sendo super-resistentes e ótimas para uso de estruturas, como exemplos: Ipê (1010,00 Kg/m³), Garapeira (830,00 Kg/m³), Piquiá (930,00 Kg/m³), Jatobá (960,00 Kg/m³), Parajú (1000,00 Kg/m³). Para obtenção destes valores calcula- se a massa específica a partir da fórmula abaixo: μ=mV Densidade da madeira = Massa específica (Kg/m³) = massa ( Kg ) / Volume ( base x altura x comprimento da peça=m³). A densidade é então considerada em termos da massa específica aparente e para este cálculo considera-se a peça com umidade em 15%, valor de acordo com a norma brasileira.
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Conclui-se assim que as principais características mecânicas da madeira estão atreladas às suas propriedades anisotrópicas, à absorção de umidade e à densidade das fibras, alterando-as de acordo com a variação destas condicionantes. Mesmo assim, no geral, a madeira suporta bem a esforços no sentido axial ou das fibras, a esforços de compressão, tração, flexão estática e dinâmica. Perpendicularmente às fibras tem- se boa resistência à compressão e tração normal às fibras, torção e cisalhamento, figura 38. 
Figura 38 - Propriedades Mecânicas 
Graças às estas características, no passado e na atualidade, muitos são os que se apropriam e apropriaram desta matéria prima para confecção de seus móveis. Precursores da preservação ambiental como Zanine Caldas, Maurício Azeredo, Hugo França, foram ainda mais além e aproveitaram a disponibilidade de madeiras refugadas, residuais, raízes, de demolição, e, em alguns casos de árvores que poderiam ser cortadas, para produção de seus móveis, tirando da escassez sua inspiração. Mauricio Azeredo, que ainda na atualidade fabrica seus móveis partindo de várias destas características, merece agora uma melhor atenção, pois ajudará no desenvolvimento deste projeto em função de suas obras e pesquisas.
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Mauricio é arquiteto urbanista, graduado pela faculdade Mackenzie. Em 1974 depois de formado montou uma marcenaria onde elaborava projetos de arquitetura e fabricava móveis de construção simples em madeira. Em 1977, foi convidado a dar aulas na Universidade de Brasília. Nesse período foi despertado pelo interesse da pesquisa, onde desenvolvia estudos sobre a arquitetura vernácula brasileira, chegando às construções em madeira fundamentadas basicamente de encaixes, como as japonesas. Nessa mesma época em Brasília teve acesso ao laboratório de Produtos Florestais do IBAMA, que era localizado no campo, lá percebeu como conta a Borges (1999): A verdadeira palheta de pintura, a incrível diversidades de cores, texturas, características físicas de um sem-número de madeiras brasileiras.....Percebi também a diversidade de madeiras era desejável sob o ponto de vista plástico, pois abria a possibilidade de fugir da cor única e de incorporar contrastes ao móvel, que, assim poderia se transformar num objeto cultural com maior expressividade. A partir desse momento seus projetos ganhavam vida. Ele então passaria a usar a paleta de cores, figura 39, e um grande acuro técnico, para projetar seus móveis. Agora toda madeira era passível de uso, se fosse utilizada de maneira correta. Outro ponto importantíssimo era que ao usar várias espécies, além de valorizar o conjunto de acordo com sua ideologia, reduzia a velocidade da devastação e eliminaria o desperdício, como ilustra a figura 40. 
Figura 39 - Texturas de madeira de cores 
Fonte: Borges, Pag.44, 1999.
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Figura 40 - Mesa com texturas 
Fonte: Borges, Pag. 67. 1999. Empolgado com tantas novas possibilidades começou a elaborar uma série de móveis incorporando diversas madeiras distintas e não parou mais. Porém, devido às características intrínsecas da madeira teve que desenvolver um sistema construtivo baseado em encaixes que chamou de “Junta Tridimensional”, figura 41, estrutura que permitiu a elaboração de diversos de seus móveis. A ligação é baseada em encaixes mútuos rígidos que não requerem o uso de fixadores convencionais como parafusos e pregos, mas garantem a estabilidade da peça, travando-as umas às outras. Esse engaste gerou uma estrutura tão eficiente e esteticamente agradável que Mauricio sempre a utiliza de modo visível, participando plasticamente do móvel.
51 
Figura 41 – Exemplo da Junta tridimensional de Mauricio. Fonte: adaptação do autor, de acordo com o livro, Maurício Azeredo a construção da identidade brasileira no mobiliário. Com o conjunto desses encaixes desenvolveu ainda um sistema estrutural extremamente útil em seus projetos, o qual lhe conferiu bons resultados, tanto em função do uso da matéria prima, quanto pelas variedades utilizadas na confecção de seus mobiliários. A madeira como visto acima possui várias características que a influenciam diretamente, talvez uma das principais seja a higroscopia, capacidade de inchar ao absorver a umidade atmosférica e de murchar quando acontece o contrário. Pode-se dizer ainda que essa movimentação incessante se torna mais complexa quando a ela se juntam as mudanças de volume decorrentes das alterações de temperatura. Alterações que ocasionam variações dimensionais complicando o sistema construtivo, tornando-a mais ou menos resistente, além é claro, da alteração do direcionamento dos veios lenhosos que acontecem muitas vezes dentro de uma mesma peça, predispondo ao empenamento ou às trincas.
52 
A partir disto a maneira como a madeira é armazenada e desdobrada, influencia 
muito, tanto na aparência como na propensão ao empenamento e em seu peso.Como 
se nas figuras 42,43,44. 
Figura 42 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. 
FONTE: NENNEWITZ, Ingo et al. Manual de Tecnologia da Madeira. São Paulo: Studio 
Nobel: FAPESP: EDUSP, 1995. 
Figura 43 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. 
Fonte: http://www.frudua.com/corte_radial_vs_corte_tangencial.htm conferir
53 
Figura 44 - Diferenças dos veios em nas tabuas, corte tangencial e radial. 
As contrações e dilatações geram deformações que costumam acontecer conforme 
afirma Valadares em sua citação e de acordo com as figuras 45 e 46. 
Quando uma madeira é extraída da natureza, suas células lenhosas 
desidratam, murcham, encolhem no sentido transversal e pouco no 
longitudinal..... quando o meio disponibiliza umidade, essas células 
tendem a recuperar a antiga forma, anterior à desidratação, como 
numa espécie de “esponja elástica”, um movimento análogo ao de 
uma sanfona que se dilata e encolhe no sentido transversal, mas 
muitíssimo pouco no longitudinal. 
Figura 45 - Diferentes faces da Madeira 
Fonte: Andrade, Pag.54. 2012.
54 
Figura 46- Alterações dimensionais por contração e dilatação. 
Fonte: Andrade, Pag. 55. 2012. 
Peças de madeira extraídas do tronco em seção robusta, como vigas e pilares, tendem 
a se deformar menos do que as tábuas ou peças menores. Mesmo assim um tampo 
inteiriço retirado de um pranchão de madeira maciça pode ter problemas em 
decorrência de como no tronco, se extraiu aquele pranchão. 
Essas deformações podem ser incrementadas ou diminuídas em função da maior ou 
menor regularidade com que se organizam os feixes lenhosos ao longo do eixo do 
tronco da árvore. Na fig. 46 nota-se que as menores deformações ocorrem quando se 
tem as faces de maior superfície em esquema radial, se, o arranjo for tangencial, as 
tábuas que vierem a ser extraídas do pranchão terão uma propensão à variações 
dimensionais muito acentuadas, o que pode gerar empenamentos e aberturas de 
fendas. Entretanto, pela falta de informação e cuidado é difícil conseguir peças 
classificadas dentro dessa configuração. 
Portanto essas características influenciam diretamente a execução com este material, 
por exemplo, nos tampos das mesas, por possuírem peças longas e principalmente na 
junção dos encaixes, as movimentações geradas pela higroscópia associadas às
55 
diferentes peças que nem sempre são da mesma árvore ou espécie, geram variações das fibras e da densidade não só entre elas, mas, também ao longo de cada uma delas. O que pode acarretar deformações diferenciadas entre as tábuas de um eventual tampo ou deformações diferentes nas diferentes regiões de cada tábua. Com tantas interferências a serem avaliadas e entendidas, um bom móvel em madeira requer sempre soluções estruturais e encaixes que garantem a integridade das peças e amenizem as transformações do material. O que torna o encaixe elaborado por Mauricio uma boa solução técnica. Muitos dos encaixes em madeira utilizados na marcenaria são técnicas desenvolvidas pela carpintaria usadas em proporções menores na confecção de móveis, isso acontece com as respigas, as cavilhas, meias madeiras, sangramentos, machos e fêmeas etc. Outros foram se desenvolvendo dentro do próprio contexto da marcenaria. A revista Good Wood Joints, disponível em http://woodtools.nov.ru/mag/good_ wood_joints/good_wood_joints0001.htm, apresenta variados modelos de encaixes, bem como a indicação de onde são potencialmente utilizados, o tipo de madeira ou compensado mais apropriados para aquela articulação e ferramentas que poderão ser utilizadas. Para auxiliar na compreensão, serão colocados aqui diagramas contento as explicações que foram traduzidas, conforme ilustra as figuras 47 e 48. A figura 49 indica onde podem ser executados os encaixes com seus respectivos números e a figura 50 os encaixes geralmente utilizados. 
Figura 47 - Nível de dificuldade de acordo com a ferramenta 
Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm
56 
Figura 48 – Material apropriado / adequação. Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm 
Figura 49 - Mancha de utilização e conexões possíveis. Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm
57
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59 
Figura 50 - Conexões variadas 
Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm Pode-se afirmar que essas uniões estruturais garantem a integridade dos móveis, devido aos diferentes esforços pelas quais é submetida, variando conforme o modelo ou tipologia e o uso. Portanto ao modificar a forma altera-se também a configuração estrutural e os encaixes. Normalmente as cadeiras são submetidas a esforços de flexão, torção, compressão. Como se vê na figura 51.
60 
Figura 51 - Esforços aos quais a cadeira e submetida. 
Em situação de torção, as respigas são soluções recorrentes para se alcançar a união 
de peças de maneira precisa, em disposição ortogonal ou próximo disto, exemplo na 
figura 52. 
Figura 52 - Partes componentes de uma cadeira com seus respectivos encaixes. 
FONTE: Andrade. Pag 40.2012.
61 
Maurício utiliza de soluções um pouco diferentes como Ilustra a figura 53. 
Figura 53 - cadeira montada e explodida de Mauricio. 
Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade 
brasileira no mobiliário 
Na parte superior, podem ser utilizadas as respigas, para efetivar as uniões entre peças 
ortogonais e as cavilhas, para as uniões oblíquas ou em ângulo. Estas últimas são, na 
verdade, pinos de madeira que se inserem em furos abertos no plano das superfícies a 
serem unidas. Ilustrado na figura 54. 
Figura 54 - Estrutura e encaixes de espaldar de cadeira. 
FONTE: Andrade. Pag 47 .2012.
62 
Mauricio utiliza-se de sua junta tridimensional como se vê na figura 55. 
Figura 55 - Encaixe tridimensional para encosto da cadeira. 
Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade 
brasileira no mobiliário 
Na parte inferior, para solidificar a união dos pés com o assento das cadeiras é 
bastante utilizada as travessas. Elas servem como travamento, unindo os pés e 
conformam o requadro do assento. Quando se utilizam travessas superiores e 
inferiores estas não precisam ter larguras exageradas, pois umas auxiliam as outras 
travando as estruturas (Figura 56). 
Figura 56 – Travamentos 
FONTE: Andrade. Pag. 47.2012.
63 
Um problema crítico da construção de cadeiras sem travamentos inferiores, na 
marcenaria tradicional, é a união das travessas laterais (ilhargas) com os pés e as 
travessas frontal e traseira, como ilustra a figura 57. 
Figura 57 - Quina de assento de cadeira sem travamentos inferiores. 
FONTE: Andrade. Pag. 48.2012. 
Os travamentos inferiores, figura 58, têm a função de reforçar a rigidez do plano em 
que se inserem, aliviando as ilhargas e possibilitando, assim, a redução de sua seção. 
Como esses travamentos não precisam estar no mesmo plano, como é o caso das 
travessas, alternam-se suas alturas para não enfraquecer a seção dos pés num ponto 
específico. 
O sistema de uniões de Mauricio lhe permite maior estabilidade da peça gerando 
travessas menores, sem travamentos inferiores, que somente são utilizadas quando se 
quer fabricar um assento mais alto. 
Figura 58 - Junta tridimensional em travamento inferior.
64 
Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade brasileira no mobiliário. Assim como Mauricio, muitos outros designers e arquitetos de móveis desenvolveram encaixes e estruturas específicas para suas cadeiras ou poltronas como nestes exemplos de Sergio Rodrigues e Carlos Motta, figuras 59 e 60. 
Figura 59 - Croquis relacionados a execução da Poltrona Mole. 
Fonte: http://revista.casavogue.globo.com/design/ha-50-anos-poltrona-mole-se-consagrava/ 
Figura 60 - Cadeira São Paulo, Carlos Motta.
65 
Fonte: http://espacodotraco.blogspot.com.br/2012/05/pocket-office-container-na-casa-cor.html 
A configuração estrutural de uma mesa figura 61 é basicamente, um tampo apoiado 
sobre uma malha, que, recebe um pé em cada quina. As maiores dificuldades na 
execução da mesa estão relacionadas com as características da matéria prima. 
As uniões dos pés com a malha que apóia o tampo, geralmente é feita por meio de 
respigas. 
Figura 61 - Estrutura esquemática de mesa 
FONTE: Andrade. Pag. 62 .2012. 
Nas mesas produzidas por Mauricio, seu sistema estrutural de apoio do tampo e o 
mesmo modelo de junta tridimensional, utilizada no travamento inferior das cadeiras, 
conforme visto na figura 58. 
Para o tampo, a solução mais recorrente ao unir tábuas ao longo de seu comprimento 
é a ligação em macho e fêmea. A área de contato oferecida por esse tipo de encaixe, 
auxiliada pelas colas, proporciona uma união extremamente confiável entre as tábuas 
ao longo de seu comprimento. 
O inconveniente do macho e fêmea, figura 62 é expor, no topo do tampo, a solução 
construtiva adotada, o que pode ser evitado com a união em chaveta, corrida figura 
63, 64. Nesta técnica de união é possível nada se exibir no topo. Basta que se 
interrompam os rasgos das laterais das tábuas antes que eles atinjam o topo.
66 
Figura 62 – Desenho encaixe macho fêmea 
FONTE: Andrade. Pag 62 .2012. 
Figura 63 - Desenho de construção de tampo de mesa em esquema de fêmeas e chaveta corrida. 
FONTE: Andrade. Pag 62 .2012. 
Figura 64 -Tampo de mesa com chavetas internas. 
FONTE: Andrade. Pag.62.2012. 
Costumam-se fazer tampos de mesas reforçando a união das tábuas com travessas. 
Porém, essa solução pode ocasionar fendas, tanto em um tampo com travessa interna 
ou com travessa encaixada, figura 65.
67 
Figura 65 - Desenhos de tampos de mesas ilustrando as variações dimensionais diferenciadas 
justapostas ortogonalmente. 
FONTE: Andrade. Pag 65 .2012. 
Andrade (2012) aponta que: 
O ideal é que o painel de tábuas que define o tampo não tivesse 
moldura nem travessas e que sua base, a malha estrutural que lhe dá 
apoio, permitisse a sua livre movimentação. Isto é, o tampo não 
deveria ser consolidado por meio de colagem e sambladuras naquela 
malha. A moldura aventada para esconder o topo das uniões em 
macho e fêmea poderia ser evitada, simplesmente usando-se a 
solução da união em chaveta embutida. Infelizmente esta alternativa, 
a de não consolidar o tampo na base, é muito difícil de ser aceita 
tanto pelos marceneiros como por quem lhes encomenda o seu 
serviço. Mesmo que o tampo fique preso à sua base por meio de
68 
encaixes “secos”, sem cola, a sensação de que o tampo está “solto” promove ojeriza a esta solução. As madeiras de demolição, que hoje são corriqueiramente utilizadas apresentam algumas vantagens de utilização, como já sofreram inúmeras vezes o processo de higroscópia e tantos outros processos naturais físicos e mecânicos, que se antes não o eram, agora comprovadamente são peças estáveis e resistentes, não envergando, empenando e deformando com facilidade. Este material é propício à confecção de mesas e cadeiras. 
3.2 Percepções do Usuário - Seminário 
Figura 66 - Cartaz semana integrada. 
Foi elaborado na 24ª Semana Integrada do curso de Arquitetura um seminário para observar a influência do mobiliário e discutir com os participantes as diferenças, peculiaridades, vantagens e desvantagens em relação aos movéis de demolição e aqueles desenvolvidos por designers ou arquitetos. Devido ao mal tempo, o evento foi removido para a sala E 107, onde foram inseridos mobiliários totalmente distintos dos habituais daquele espaço. A idéia era criar uma nova percepção e experimentação do ambiente a partir dos objetos ali inseridos.
69 
Dentro dessa proposta foram distribuídos no interior da sala almofadas, puffs e esteiras. Objetos que possibilitaram a apropriação do espaço de maneira variada, seja assentados, deitados, ou da forma que se sentissem mais confortáveis, conforme figura 67, 68. 
Figura 67 - Ocupação da sala durante o seminário. 
Figura 68 – Ocupação da sala durante o seminário. 
A intervenção proposta na sala pelos diferentes mobiliários interferiu de maneira positiva, sendo relatado ao final do seminário que as peças e sua facilidade de
70 
locomoção possibilitaram um ambiente convidativo, favorável à permanência prolongada. Criou-se assim uma nova percepção e experimentação daquele espaço. A inserção de novos objetos reforçou também a influência destes no ambiente, percebidos ainda pela importância de suas características atreladas às concepções de conforto, visualizadas por parte dos participantes. Fato que deve ser considerado ao produzir um mobiliário, além das qualidades ergonômicas, estéticas e funcionais. Com os participantes já acomodados no ambiente, foram apresentados quatro vídeos, de profissionais que trabalham na criação e execução de mobiliários, nesta ordem: Sérgio Rodrigues, Ailda Boal, Carlos Motta e Zanini de Zanini. Os dois primeiros considerados modernistas e os dois últimos contemporâneos. Os vídeos abordaram os conceitos de criação de cada um e a influência do projeto aliado ao conhecimento técnico na produção das peças. Ao final foi projetada a figura 69, referente a peças mostradas nos documentários e imagens de móveis de madeira de demolição. Finalizando com a discussão, a partir das indagações: Se havia alguma diferença entre os móveis? Quais vantagens ou desvantagens existiam em relação a um e a outro? 
Figura 69 – Móveis de arquitetos e designers x peças convencionais de madeira de demolição
71 
Para os questionamentos mencionados no parágrafo anterior, foram obtidas as seguintes conclusões: 
 nas peças produzidas pelos arquitetos e designers existe um refinamento que gera uma percepção de conforto, além disso os objetos trazem uma identidade, uma memória, uma história, um vínculo da vivência de quem os produz e uma significância para seu usuário; 
 móveis de demolição foram considerados rústicos e, na maioria das vezes, utilizados para tentar criar um ambiente de aconchego, sendo que a maioria dos participantes tiveram a percepção que os móveis de madeira de demolição são produzidos em réplicas, num “modismo”; 
 algumas peças de demolição são produzidas com tanto apreço estético (decorativo) que ao serem utilizadas causam desconforto ao usúario; 
 um dos participantes argumentou que os móveis de demolição são baratos, que eles poderiam atender a uma população de classe mais baixa. Porém outros participantes discordaram e relataram sobre a escassez do material que, juntamente com seu modo de produção que beira o artesanal, encarece o produto tornando difícil sua aquisição a qualquer tipo de público. 
É preciso considerar que algumas peças produzidas a partir de madeira não apresentam preocupações com caracteristicas ergonômicas e antropometricas, não havendo portanto um estudo ou projeto que garantam uma concepção do móvel pensado para o conforto do usuário e sua funcionalidade. Nestes casos há somente um móvel durável com características estéticas, atraentes e com baixa associação ao bem estar, não passando de uma réplica exagerada do objeto que agrega pouca influência na percepção de novas sensações no espaço. Mas também existem bons exemplos de quem trabalha com esse material dando a ele identidade, estética e conforto como é o caso da Carlos Motta. Como se vê nas figuras 70, 71.
72 
Figura 70 - Mesa redonda com pés central. Com Cadeiras Layla. Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-redonda-com-pe-central/ 
Figura 71 - Mesa de peroba rosa reutilizada com Cadeiras Sahy 
Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-para-adega/ 
3.3 Ergonomia e Antropometria 
Outro ponto de relevância para elaboração da mesa e da cadeira e a ergonomia, ciência que colocada, de modo simplificado, concebe a adaptação de objetos e ou espaços às características humanas, físicas, fisiológicas e psicológicas. Paoliello (2001) discorre sobre o assunto: 
Sendo um estudo interdisciplinar, a ergonomia se baseia em conhecimentos de anatomia, fisiologia, antropometria, biomecânica, engenharia mecânica, desenho industrial, eletrônica, gerência
73 
industrial e psicologia na solução de problemas. É somente desta maneira que esta consegue ser a aplicação da informação científica no desenho e forma de objetos, sistemas e ambientes para uso humano. A Antropometria do grego ánthropos – homem, ser humano e métron – que mede, seria a mensuração do corpo. À primeira vista parece ser algo relativamente fácil mas não é, como há variados tipos de pessoas, principalmente em nosso país, devido à miscigenação de diversas etnias, não existem medidas antrométricas normatizadas, outro fator relevante para essa variação é a condição de nutrição e saúde em que se encontram a população. Outra consideração importante relativo á estrutura anatômica do indivíduo é que o corpo foi planejado para o movimento e não para permanência em repouso, os ossos, músculos e articulações são desenvolvidos para suportar impactos, como alavanca servindo para levantar pesos, para correr, saltar, etc; executamos atividades que requerem esforços das mais diversas articulações e músculos. Quando entramos em estado de inércia e permanecemos em uma mesma posição durante muito tempo, sentimos incômodo. Senta-se com conforto quando o corpo fica apoiado de uma maneira adequada: Para garantir o conforto - isto é, a falta de desconforto – a cadeira precisa cumprir diversos requisitos, simultaneamente. Precisa haver estofamento suficiente para evitar a pressão sobre os ossos, mas não tanto a ponto das coxas e nádegas pressionarem os ossos pontudos na base da bacia dolorosamente. O anteparo da frente da cadeira, que é necessário por motivos estruturais, deve ficar abaixo da almofada, senão ele machucará as coxas. Um apoio para as costas é necessário. Deve-se ficar sustentado numa posição mais ou menos ereta. Um encosto totalmente vertical, no entanto, è desconfortável; o ideal é que haja uma pequena inclinação para trás, de preferência curva, para acomodar a espinha, que não é reta. Esta inclinação não pode ter um ângulo muito grande; no entanto, do contrário, quem se sentar vai escorregar para a frente. Se o corpo se curvar para a frente, seu peso deixará, de ser sustentado pela região lombar e a caixa torácica se dobrará sobre o estômago. Isto provocará uma leve queda dos pulmões e conseqüentemente, uma redução no consumo de oxigênio e cansaço. Rybczynski (1999)
74 
A noção de ergonomia e antropometria seja em uma cadeira ou em uma mesa estão diretamente relacionados a proporções que se enquadram dentro de uma “área de conforto”, no qual é descoberta ao se medir o limite onde as pessoas começam a sentir desconforto, (perturbações físicas, fisiológicas e psicológicas). Essas medidas são geralmente representadas pela sua média ou desvio-padrão (o desvio padrão apresenta um grau de confiança de 95%), dentro destes fatores há diversas considerações que devem ser analisadas ao se desenhar ou propor móvel de apoio ou de assento. No Brasil não existem normas referentes a dimensões ideais para o conjunto de cadeiras e mesas de jantar. Somente para mesas e cadeiras de escritório. Com isso, muitos autores que abordam o tema, recorrem à publicações principalmente em estrangeiras. Exemplos: 
 Dimensões antropométricas fig.72, a altura poplítea (A), comprimento das nádegas (B), Largura do quadril (C), altura lombar (D). 
Figura 72 - Dimensões antropométricas 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.61. 
 Dimensões básicas do assento segundo estudos já realizados por outros autores ou normas técnicas vigentes fig.73, 74, 75.
75 
Figura 73 - Variáveis relativas ao assento (cm) 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.61. 
Figura 74 - Dimensões básicas de cadeiras para postura ereta e relaxada (cm) 
Fonte: Iida, 1997. p.143 
Figura 75 - Dimensões básicas de cadeiras fixas (cm) 
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 13962. p.5.
76 
 Considerar a falta de conforto, causado por estas variáveis: 
Se a superfície for muito alta a parte interna das coxas será comprimida causando, 
conseqüentemente, um desconforto e também uma restrição na circulação sangüínea 
(fig. 76). Se ao contrário, esta altura for pequena, as pernas tendem a se posicionar 
para frente, perdendo a sensação de estabilidade antes mencionada (fig. 77). É 
interessante lembrar que a dimensão da altura do assento está diretamente 
relacionada com a altura poplítea (da parte inferior da coxa à sola do pé).” 
Figura 76 - Cadeira com assento alto causando desconforto na parte interna da coxa 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.62. 
Figura 77 - Cadeira com assento baixo, causando perda da sensação de estabilidade 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979..p.62. 
O tamanho do assento devera ser considerado, se for longo acarretará pressão logo 
abaixo do joelho, prejudicando a circulação sangüínea desta região e de toda a perna, 
(fig. 78). Se a superfície for muito menor que a recomendada, resultará a sensação de 
instabilidade, o usuário ira sentir, que vai cair da cadeira a qualquer momento (fig. 79).
77 
Figura 78 - Cadeira com assento longo acarreta pressão abaixo do joelho 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.64. 
Figura 79 - Cadeira com assento curto sensação de instabilidade 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.64. 
 O ato de sentar é uma atividade estática, com isso, deve se permitir variações 
freqüentes de postura, para aliviar as tensões, reduzindo assim a fadiga (fig. 80). 
Quando assentamos, aproximadamente, 80% de todo o peso do 
corpo é transmitido para apenas 25 cm² através desta estrutura Isto 
constitui uma carga excepcionalmente elevada distribuída numa área 
relativamente pequena, produzindo, em conseqüência, uma tensão 
muito grande nesta região. Esta pressão causa fadiga e desconforto, 
sendo um dos principais objetivos de uma cadeira aliviar esta 
condição." Paoliello (2001)
78 
Figura 80 - Contato nádegas assento, vista lateral. 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.58 
Figura 81 - Contato nádegas assento, vista posterior. 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.58. 
O material do assento deve ser pensado de maneira à melhor distribuir o peso do 
corpo para uma maior área, sendo aconselhável um estofamento intermediário, sobre 
uma base rígida. Sendo também antiderrapante e com boa capacidade de dissipar o 
calor e a umidade gerados pelo corpo. (fig. 82). 
Figura 82 - Distribuição de pressões sobre o assento: estofamento duro e estofamento macio. 
Fonte: Iida, 1997. p.141.
79 
 Por apresentar uma protuberância ao assentar aconselha-se deixar um espaço 
entre o assento e o encosto. 
Outro fator que também deve ser analisado é o fato de que uma pessoa sentada 
apresenta uma protuberância para trás na altura das nádegas sendo recomendável 
deixar um espaço vazio de 15 a 20 cm entre o assento e o encosto (fig. 83). Este espaço 
não acarreta nenhum problema, uma vez que a função básica do encosto é somente 
de dar suporte à região lombar (fig. 84). 
Figura 83 - Espaço entre o assento e o encosto 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.65. 
Figura 84 - Encosto dando suporte da região lombar. 
Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.65.
80 
 A postura empregada pelo indivíduo e suas variações também devem ser levadas 
em consideração. (fig. 85). 
Figura 85 - Posições assumidas pela coluna ,postura reta, relaxada para frente, relaxada para trás. 
Fonte: Iida, 1997. p. 142. 
 Dimensões antropométricas adotadas, para mesas segundo algumas referências. 
Fig. 86, 87, 88. Tabela 1 e 2. 
Figura 86 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista superior). 
Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146 
Figura 87 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista Lateral). 
Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146.
81 
Tabela 1 - Dimensões gerais mesa de refeição (cm). Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146. Adaptado pelo autor. 
Figura 88 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista lateral). Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13966. P.3. Adaptada pelo autor.
82 
Figura 89 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista posterior). 
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13966. P.3 
Adaptada pelo autor. 
Cód. VARIÁVEL VALOR 
MINIMO 
VALOR 
MÁXIMO 
H 1 Altura da mesa de trabalho 720 750 
L1 Largura da mesa de trabalho 800 - 
P1 Profundidade da mesa de trabalho 600 1100 
a Altura livre sob o tampo 660 - 
b Profundidade livre para os joelhos 450 - 
c Profundidade livre para os pés 570 - 
e Largura livre para as pernas 600 - 
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR. 13966.p.4. 
Tabela 2 - Dimensões gerais da mesa de trabalho (mm) 
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. 
NBR 13966. p.4.Adaptada pelo autor.
83 
3.4 Valor Simbólico 
Pensar na criação de um mobiliário é pensar em um produto que estará sempre carregado de símbolos e significâncias (signos). Para elaborar o projeto de qualquer mobiliário é impossível desassociá-lo de seu tempo, lugar, de suas condicionantes culturais pertinentes a quem os produziu ou utiliza, e de diretrizes básicas funcionais, estéticas, ergonômicas, simbólicas e artísticas. Todas relevantes no processo de criação, contudo, não são características exatas e sim ponderações de atribuições que permanecem entre o limiar do agradável e do desagradável, condicionando assim a maior ou menor ênfase para determinadas características. Com isso a Pergunta que se segue é: Quais das atribuições serão executadas com maior ou menor ênfase? Para ajudar a obter estas respostas, serão abordados alguns exemplos de objetos confeccionados por designers e arquitetos que enfatizam conceitos, inspirações ou experiência em suas obras. Como primeiro exemplo as peças de Bem Young, que muito se apropria da Influência do habitat, do estilo de vida e do efeito proporcionado pelo material. Ben Young é um artista que cria esculturas, abstratas e realistas de vidro, inspirados pelas ondas e pelo seu habitat, de infância perto da bela Baía de Plenty, localizada na costa da Ilha Norte da Nova Zelândia. Suas obras retratam um cenário ou um objeto especial, onde o vidro é a matéria prima principal. Quem observa suas peças tem a chance de visualizar cada objeto como um todo, e em seguida, apreciar o efeito de diferentes efeitos de iluminação. Perguntado sobre sua inspiração, Young responde: O mar e a natureza são grandes inspirações para mim. Eu cresci junto ao mar e surf é uma grande parte da minha vida por isso era bastante natural para mim para começar a explorar esses conceitos para começar. O lado técnico do meu trabalho é algo que eu realmente gosto muito, então eu sempre quero ser eu mesmo empurrando quando se trata de novas técnicas ou tentar novas idéias. ( Traduzido de Freshome)
84 
Cada uma de suas peças é desenhada à mão, então o vidro é cortado e fixada de modo artesanal, camada sobre camada até criar o produto final. Fig.90. 
Figura 90 – Obras de Ben Young. Fonte: http://freshome.com/2014/08/28/ben-youngs-handcrafted-glass-sculpture-inspired-by-ocean- waves/ Já como segundo exemplo Antônio Bernardo, designer de jóias contemporâneo brasileiro com grande inquietação artística, que utiliza a excelência da joalheria artesanal, e dos processos industriais, para conceber suas peças por meio da experimentação, sensibilidade empírica, investigação plástica e funcional dos materiais, como sua maleabilidade, colorações, vistas, composições e tratamentos principalmente de sua superfícies, enfim, sua identidade reside no reinventar-se. Com a manipulação de modelos conceituais é que se têm início suas criações, utilizando do desenho e posteriormente do papel, metal, fios, chapas e toda a ordem de materiais maleáveis. Estas réplicas funcionam como instrumentos de experimentação e simulação das dobras, vincos, inflexões, movimentos e encaixes.
85 
Figura 91 - Desenho e obra finalizada. Fonte: http://www.antoniobernardo.com.br/inspiracao/ Antonio Bernardo cria suas peças com a sensibilidade de quem escreve uma poesia, sendo motivado pela leveza e insinuação do movimento, pela beleza dos materiais principalmente as gemas, pela observação de indivíduos e de grupos sociais nas quais considera as histórias pessoais, ou humor, as manifestações culturais e comportamentais, e por fim a investigação plástica de formas surpreendentes, alinhando conhecimento técnico às propriedades do material criando assim peças bastante originais e lúdicas, apresentadas na figura 92.
86 
Figura 92 - Peças variadas de Antonio Bernardo 
Fonte: http://www.antoniobernardo.com.br/inspiracao/ E como últimos exemplos os designers Pedro Moog e Leonardo Lattavo, da Lattoog, especialistas em design de mobiliário, ajudaram a refletir a reinterpretação formal ou funcional dos móveis, por meio de uma contemporaneização de objetos, resgatando aquilo que há de bom nos produtos antigos, de uma maneira diferente para o nosso cotidiano, criando assim a série intitulada “Viralata”. 
Primogênita desta série a poltrona, ”Pantosh”, surgiu a partir da mistura da cadeira Panton do arquiteto dinamarquês Verner Panton datada de 1968 com a Poltrona Willow, do arquiteto escocês Charles Rennie Mackintosh, criada entre 1902 e 1904. Esta Poltrona foi a primeira da série que é composta por diversas peças entre móveis,
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  • 1. 1 Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Curso de Arquitetura e Urbanismo Desenvolvimento do Mobiliário a Partir do Entendimento da Influência do Objeto no Espaço VICTOR HUGO NUNES DO AMARAL Coronel Fabriciano, Novembro de 2014
  • 2. 2 DESENVOLVIMENTO DO MÓBILIARIO A PARTIR DO ENTENDIMENTO DA INFLUÊNCIA DO OBJETO NO ESPAÇO.
  • 3. 3 DEDICATÓRIA Para Maria Alice.
  • 4. 4 DEDICATÓRIA Agradeço a Deus maior Arquiteto do Universo, por guiar-me nesta caminhada. A toda minha família, por terem me transmitido valores que são alicerces fundamentais na minha vida. Principalmente a meus pais Maria Alice e Joel, minhas irmãs Viviane e Iara. Aos colegas de faculdade que me acompanharam durante essa trajetória. Em especial a minha colega Maria Marta, que por meio de inúmeras discussões, durante os semestres, contribuiu para meu amadurecimento. Obrigado pela amizade, paciência e companheirismo. À minha orientadora Carla Paoliello e demais professores que estiveram sempre presentes e atentos ao repasse de novos conhecimentos. Aprendi muito com vocês. Ao Roberto Caldeira e Kênia Barbosa pela oportunidade de vivenciar ensinamentos práticos do urbanismo e aos colegas do PDDI com quem pude conviver e trabalhar nesse final de graduação.
  • 5. 5 .... Para que serve a floresta, meu pai? Para tudo que você quiser meu filho. E o que eu pretendo mostrar é um pouquinho de tudo que se pode fazer com a dádiva da floresta. É com tristeza que eu vos comunico: Os meus irmãos mataram esta floresta que era inteirinha quando eu nasci, por que não quiseram aprender a usá-la. Era a floresta do Atlântico, das mais ricas em essências na face da Terra. ....... (Caldas, 1982 apud Segawa, 2003: 11).
  • 6. 6 RESUMO O presente trabalho utilizou-se da evolução histórica dos objetos para mostrar sua influência, ao longo dos séculos, frente às novas experimentações dos espaços. A casa como integradora desse contexto foi então escolhida para o desenvolvimento da proposta, já que seus mobiliários exercem grande influência nesse ambiente. O estudo e análise do mobiliário trouxe a constatação de que os móveis de apoio e assento possuem grande valor simbólico, bem como relevância dentre esses objetos, considerando sua utilidade, capacidade de interação e criação de novas percepções aos indivíduos. Para tornar a proposta mais consistente, foram estudados princípios das ergonomia e antropometria, visando o entendimento das posturas e suas condicionantes no ato de assentar. Também a madeira foi alvo de grande pesquisa, por ser matéria prima básica bastante utilizada na confecção do mobiliário. Contem, além de boas características físicas e mecânicas, alto valor histórico e simbólico principalmente em nosso país. O trabalho de conclusão de curso analisou também a interação entre ambientes e atividades desenvolvidas na habitação contemporânea, principalmente na cozinha conjugada, local onde estão inseridos os móveis de assento e apoio que deverão ser produzidos na próxima etapa. Por fim, foi retratada a influência dos modelos, tipologias e formas das mesas e cadeiras, perante aos usuários e ao ambiente, para que possam ser elaboradas peças condizentes com as necessidades atuais. Palavras - chave: influência dos objetos, móveis de apoio, móveis de assentar, madeira.
  • 7. 7 INDICE FIGURAS Figura 1 - Relação homem/ espaço - objeto. ............................................................... 14 Figura 2 - Cadeira francesa de 1750 ............................................................................ 18 Figura 3 - Pintura Visconde de Flavigny em uma voyeuse -1763. ................................. 18 Figura 4 - Cadeira francesa Voyeuse -1780 .................................................................. 18 Figura 5 - Móveis portugueses do século XVII - Cadeira rasa, de sola ou Tamborete, Mesa Bufete................................................................................................................ 25 Figura 6 - Bufete Séc. XVIII .......................................................................................... 25 Figura 7 - Bancos Indígenas ......................................................................................... 26 Figura 8 - Cadeira de sola Séc. XVII. ............................................................................. 27 Figura 9 - Cadeira Austríaca n 14 de Michael Thonet – 1859, de madeira curvada a fogo ................................................................................................................................... 27 Figura 10 - Cartaz com cadeiras e mesas Thonet. ........................................................ 28 Figura 11 - Cadeira Thonet, produzida no Brasil. ......................................................... 28 Figura 12 - Cadeira patente ......................................................................................... 29 Figura 13 - Catálogo de móveis Carrera. ...................................................................... 29 Figura 14 - Poltroninha 1960, Lucio Costa. .................................................................. 31 Figura 15 - Mesa Brasília - Oscar Niemeyer e Joaquim tenreiro ................................... 32 Figura 16 - Poltrona em Compensado recortado, João Batista Vilanova Artigas. ......... 32 Figura 17 - Móveis de Carlos Benvenuto Fongaro. ....................................................... 32 Figura 18 - Mesa,Joaquim Tenreiro ............................................................................. 33 Figura 19 - Cadeiras variadas de Joaquim Tenreiro. ..................................................... 34 Figura 20 - Poltrona de três pés – Joaquim Tenreiro. ................................................... 34 Figura 21 - sala de jantar – Joaquim Tenreiro .............................................................. 35 Figura 22 - Móveis variados de Zanine Caldas ............................................................. 36 Figura 23 - Mesa orgânica, Zanine Caldas, 1950 .......................................................... 36 Figura 24 - Mesa de chapas de compensado - 1970. ................................................... 37 Figura 25 - Poltrona Mole............................................................................................ 38 Figura 26 - Poltrona Radar, Carlos Motta .................................................................... 39 Figura 27 - Poltrona Sabre – Carlos Motta ................................................................... 39
  • 8. 8 Figura 28 - Mesa de jantar Iporanga ............................................................................ 39 Figura 29 - Cadeira alta com detalhe dos encaixes e de variadas madeiras. ................. 40 Figura 30 - Mesa Tatto, aço inox e ralos de pvc, Irmãos Campana ............................... 41 Figura 31 – Poltrona sushi IV, feita de EVA, Estúdio Campana. .................................... 41 Figura 32 - Móvel Hibrido produzido na Polônia de Karolina Tylka. ............................. 42 Figura 33- Mesa com placas fotovoltaicas de Marjan Van Aubel, design Holandes. ..... 42 Figura 34 - Mesa reserva designer brasileiro Paulo Alves ............................................ 43 Figura 35 - Mesa estrutural pesa 4.5 kg do designer Alemão, Ruben Beckers. ............. 43 Figura 36 - Banco prisma Zanine de Zanini .................................................................. 43 Figura 37 – Banco de alumino fundido em madeira, de hilla shamia. .......................... 44 Figura 38 - Propriedades Mecânicas ............................................................................ 48 Figura 39 - Texturas de madeira de cores .................................................................... 49 Figura 40 - Mesa com texturas .................................................................................... 50 Figura 41 – Exemplo da Junta tridimensional de Mauricio. .......................................... 51 Figura 42 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. ............................... 52 Figura 43 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. ............................... 52 Figura 44 - Diferenças dos veios em nas tabuas, corte tangencial e radial. .................. 53 Figura 45 - Diferentes faces da Madeira ...................................................................... 53 Figura 46- Alterações dimensionais por contração e dilatação. ................................... 54 Figura 47 - Nível de dificuldade de acordo com a ferramenta ...................................... 55 Figura 48 – Material apropriado / adequação. ............................................................ 56 Figura 49 - Mancha de utilização e conexões possíveis. ............................................... 56 Figura 50 - Conexões variadas ..................................................................................... 59 Figura 51 - Esforços aos quais a cadeira e submetida. ................................................. 60 Figura 52 - Partes componentes de uma cadeira com seus respectivos encaixes......... 60 Figura 53 - cadeira montada e explodida de Mauricio. ................................................ 61 Figura 54 - Estrutura e encaixes de espaldar de cadeira. ............................................. 61 Figura 55 - Encaixe tridimensional para encosto da cadeira. ....................................... 62 Figura 56 – Travamentos ............................................................................................. 62 Figura 57 - Quina de assento de cadeira sem travamentos inferiores. ......................... 63 Figura 58 - Junta tridimensional em travamento inferior. ............................................ 63
  • 9. 9 Figura 59 - Croquis relacionados a execução da Poltrona Mole. .................................. 64 Figura 60 - Cadeira São Paulo, Carlos Motta. ............................................................... 64 Figura 61 - Estrutura esquemática de mesa ................................................................. 65 Figura 62 – Desenho encaixe macho fêmea ................................................................ 66 Figura 63 - Desenho de construção de tampo de mesa em esquema de fêmeas e chaveta corrida. .......................................................................................................... 66 Figura 64 -Tampo de mesa com chavetas internas. ..................................................... 66 Figura 65 - Desenhos de tampos de mesas ilustrando as variações dimensionais diferenciadas justapostas ortogonalmente. ................................................................ 67 Figura 66 - Cartaz semana integrada. .......................................................................... 68 Figura 67 - Ocupação da sala durante o seminário. ..................................................... 69 Figura 68 – Ocupação da sala durante o seminário. .................................................... 69 Figura 69 – Móveis de arquitetos e designers x peças convencionais de madeira de demolição ................................................................................................................... 70 Figura 70 - Mesa redonda com pés central. Com Cadeiras Layla. ................................ 72 Figura 71 - Mesa de peroba rosa reutilizada com Cadeiras Sahy ................................. 72 Figura 72 - Dimensões antropométricas ...................................................................... 74 Figura 73 - Variáveis relativas ao assento (cm) ........................................................... 75 Figura 74 - Dimensões básicas de cadeiras para postura ereta e relaxada (cm) ........... 75 Figura 75 - Dimensões básicas de cadeiras fixas (cm) .................................................. 75 Figura 76 - Cadeira com assento alto causando desconforto na parte interna da coxa 76 Figura 77 - Cadeira com assento baixo, causando perda da sensação de estabilidade . 76 Figura 78 - Cadeira com assento longo acarreta pressão abaixo do joelho .................. 77 Figura 79 - Cadeira com assento curto sensação de instabilidade................................ 77 Figura 80 - Contato nádegas assento, vista lateral. ...................................................... 78 Figura 81 - Contato nádegas assento, vista posterior. ................................................. 78 Figura 82 - Distribuição de pressões sobre o assento: estofamento duro e estofamento macio. ......................................................................................................................... 78 Figura 83 - Espaço entre o assento e o encosto ........................................................... 79 Figura 84 - Encosto dando suporte da região lombar. ................................................. 79
  • 10. 10 Figura 85 - Posições assumidas pela coluna ,postura reta, relaxada para frente, relaxada para trás. ...................................................................................................... 80 Figura 86 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista superior). ......................... 80 Figura 87 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista Lateral). ........................... 80 Figura 88 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista lateral). .............................. 81 Figura 89 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista posterior). .......................... 82 Figura 90 – Obras de Ben Young. ................................................................................. 84 Figura 91 - Desenho e obra finalizada.......................................................................... 85 Figura 92 - Peças variadas de Antonio Bernardo .......................................................... 86 Figura 93 - Poltrona ”Pantosh”- Lattoog ...................................................................... 87 Figura 94 – Reeg parede. ............................................................................................. 87 Figura 95 - Moleco ...................................................................................................... 88 Figura 96 – Áreas mínimas para dimensionamento de mesa ....................................... 92 Figura 97 – Dimensões mínimas de mesas nas tipologias mais comuns ....................... 92 Figura 98 - Mesas em uso. ........................................................................................... 93 Figura 99 - Exemplo de Cadeira Dobrável. ................................................................... 94 Figura 100 – Cadeira desmontável Bind/B1 dos designer jessy Van Durmer. ............... 95 Figura 101 – Cadeira Pila, empilhavél de Ronan & Erwan Bouroullec. ........................ 96 Figura 102 - Cadeira e mesa empilháveis, Copenhague Collection , Ronan & Erwan Bouroullec .................................................................................................................. 96 Figura 103 - Mesas expansíveis. .................................................................................. 97 Figura 104 - Planta casa antiga .................................................................................... 99 Figura 105 - Relação de tabas do assoalho. ............................................................... 100 Figura 106 - Dimensão dos Portais. ........................................................................... 101 Figura 107 - Peças do antigo curral. .......................................................................... 101 Figura 108 - Serra tora. ............................................................................................. 102 Figura 109 - Serra circular ......................................................................................... 102 Figura 110 – Desengrosso ......................................................................................... 103 Figura 111 - Serra Fita ............................................................................................... 103 Figura 112 - Furador horizontal ................................................................................. 104 Figura 113 – Plaina .................................................................................................... 104
  • 11. 11 Figura 114 – Esquadrejadeira .................................................................................... 105 Figura 115 - mini desengrosso ................................................................................... 105 Figura 116 - Tupia ..................................................................................................... 106 Figura 117 - furador vertical ...................................................................................... 107
  • 12. 12 Conteúdo CAPITULO 1 . INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13 1.1 Influência do objeto no espaço .......................................................................... 13 CAPITULO 2 – PERCEPÇÕES - CONCEITUAÇÃO E PANORAMA HISTÓRICO ................... 16 2.1 O Mobiliário e a casa ......................................................................................... 16 2.2 Definição de mobiliário ...................................................................................... 21 2.3 Abordagem do Mobiliário Escolhido - Móveis de assento e apoio ..................... 23 2.4 Contextualização histórica dos mobiliários de sentar e de apoio ....................... 24 CAPÍTULO 3 – ENTENDENDO O MOBILIÁRIO ............................................................... 45 3.1 A Matéria Prima (Madeira) ................................................................................ 45 3.2 Percepções do Usuário - Seminário .................................................................... 68 3.3 Ergonomia e Antropometria .............................................................................. 72 3.4 Valor Simbólico .................................................................................................. 83 CAPITULO 4 – CONDICIONANTES PARA PROPOSTA E EXECUÇÃO DO MOBILIARIO....... 89 4.1 Os ambientes da casa na atualidade ...................................................................... 89 4.2 Matéria prima disponíveis para confecção das peças ......................................... 98 4.3 Maquinas e equipamentos disponíveis ............................................................ 101 4.4 Definição do que deverá ser feito .................................................................... 108 5. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 109 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 110
  • 13. 13 CAPITULO 1 . INTRODUÇÃO 1.1 Influência do objeto no espaço Segundo o Dicionário Houaiss (2007), entre seus vários significados, espaço pode ser definido como: 1.Extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos nos corpos ou objetos existentes possíveis. 2.Medida que separa duas linhas ou dois pontos. 3. Extensão limitada em uma, duas ou três dimensões, distância, área ou volume determinado. 4. Extensão que compreende o sistema solar, as galáxias, as estrelas, o universo. 5. Forma intuitiva e apriorística a partir da qual a sensibilidade humana organiza a experiência sensorial estabelecendo relações e distâncias entre um objeto percebido simultaneamente. A partir desse conceito observa-se grande abrangência do termo. Porém, para tornar mais clara a compreensão e raciocínio frente a elaboração desse projeto, optou-se pela descrição de espaço como fenômeno materializado, identificado por Alves (1999), como “produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade.” Essa definição é apropriada, pois vai ao encontro do próprio significado da palavra arquitetura, a qual referências a adotam como arte de construir e ordenar o espaço. Para melhor entendimento da influência do objeto no espaço e seus resultados, torna- se necessária a conceituação dos dois termos, visto que várias são as vertentes e as abrangências deste entendimento. O mesmo dicionário descreve o objeto como “... coisa material que pode ser percebida pelos sentidos. Coisa mental ou física para a qual converge o pensamento, um sentimento, uma ação”. Partindo então da definição de espaço como aquilo que o homem interfere, apropria, modifica ou usufrui de alguma forma, resultando ao final do processo em uma troca
  • 14. 14 simbiótica dessa relação e objeto como algo material perceptível, carregado de significância de caráter utilitário, ornamental ou religioso; é possível afirmar que o reconhecimento do espaço e sua experimentação e interação, apenas se tornam possíveis por meio das relações entre sujeito e objeto, no qual o objeto influencia o meio e o meio influencia o objeto. Sem o espaço não há lugar-ambiente, sem os objetos não há interação, são estes últimos que garantem as interações com o meio, a percepção e os sentimentos acerca de onde estamos. Ambos se complementam e se relacionam. Sobre esta relação simbiótica Costa (2004), afirma: o espaço deve ser construído pela experiência, a qual existe na relação entre sujeito e objeto. É como se somente fosse possível experimentar a espacialidade após constatar a presença dos objetos. Mais que a proximidade natural entre corpo e objeto, o reconhecimento do segundo implica em inferir sobre sua função específica e, em seguida, sobre o posicionamento do uso a que se destina em relação ao uso do ambiente propriamente dito, ou seja, à função a que se destina o espaço. Portanto, manipular a função de determinado objeto ou mesmo modificar a maneira de inseri-lo num lugar poderá significar a modificação das relações do usuário com o espaço. Vale aqui ressaltar que após o espaço remodelado pela influência do objeto, ele dificilmente voltará ao seu estado original, o que propicia a recriação do ciclo ilustrado na figura 1. Figura 1 - Relação homem/ espaço - objeto. Dentro deste panorama, elege-se o espaço da casa como local escolhido para desenvolvimento da proposta.
  • 15. 15 É a casa que fornece um espaço para ação e interação e possibilita desenvolver, manter ou mudar a sua identidade, ela é um abrigo para as pessoas e objetos que se torna um ambiente simbólico indispensável. (OLIVEIRA, 2011). Em seguida a discussão da importância do mobiliário de assento e de apoio neste ambiente residencial é o segundo foco desta pesquisa, bem como as abordagens acerca de sua definição, evolução ao longo do tempo e as características imprescindíveis relacionadas à sua criação e concepção como: ergonomia, materiais, técnicas construtivas, estrutura, ligações ou encaixes, importância do desenho/projeto, e por fim seu valor simbólico. Essas abordagens nortearam o desenvolvimento futuro do mobiliário aqui estudado.
  • 16. 16 CAPITULO 2 – PERCEPÇÕES - CONCEITUAÇÃO E PANORAMA HISTÓRICO 2.1 O Mobiliário e a casa A frase de John Lukacs, Rybczynski (1999), acerca da evolução do psiquismo humano e do mobiliário, “os móveis internos das casas surgiram junto com os móveis internos das mentes”, apresenta de forma clara a interferência do mobiliário e do espaço em nossas vidas. A frase demonstra o processo que introduziu, não apenas no lar, mas também nos indivíduos, a percepção e a compreensão de inúmeros conceitos como conforto, domesticidade, privacidade, intimidade, conveniência, utilidade e eficiência, conceitos que apenas se concretizaram à medida que evoluíam o mobiliário e a casa, criando o valor simbólico do espaço e a consciência de individualidade. Na Idade Média, o objeto estava diretamente relacionado à sua função, como relata Rybczynski (1999): As pessoas da Idade Média pensavam de maneira diferente sobre o tópico função, principalmente quando ela se referia a seu ambiente doméstico. Para nós, a função de alguma coisa está ligada à sua utilidade (a função de uma cadeira é servir de assento, por exemplo) e distinguimos este de outros atributos, como beleza, a idade ou o estilo, na vida medieval não se faziam tais distinções. Cada objeto tinha um significado e um lugar na vida que era tão parte de sua função como a sua utilidade imediata, e estes dois aspectos eram inseparáveis. Como não havia algo como função pura, era difícil, para a mente medieval pensar em melhorias funcionais; isto significaria perverter a própria realidade. Somente a partir da transformação das tecnologias geradas pela revolução industrial, e da remoção do trabalho para fábricas e lojas é que se desenvolveu a percepção individual. Essa percepção, com a ajuda do mobiliário, definiu melhor os ambientes, criando assim os cômodos de atividades específicas. A casa ganhava cada vez mais um caráter mais intimista e privado, “o senso de intimidade doméstica que estava surgindo foi uma invenção humana assim como qualquer outro implemento tecnológico. Na verdade, deve ter sido mais importante, pois não afetava somente o ambiente físico, como também a nossa consciência.” Rybczynski (1999). Esta
  • 17. 17 implementação de intimidade e privacidade, com o decorrer do tempo introduziria na casa naquele mesmo século XVII outra percepção a domesticidade: o prazer pelo lar, pelo ambiente familiar e íntimo, o espaço deixava de se tornar apenas abrigo e se tornava ambiente de experimentação acerca de nossos sentimentos, “o interior não era só um ambiente para as atividades domésticas - como sempre havia sido – mas os cômodos, os seus objetos, agora adquiriam vida própria.” Rybczynski (1999). Esta evolução dos objetos e do psiquismo humano interferiram de maneira decisiva nos costumes, do lar e em nossa interação social. No século XVIII, os móveis rococó franceses, conforme figura 2, 3, 4 passariam a ter aspectos mais ergonômicos e decorativos além da função simbólica e utilitária, com isso, peças diferentes eram colocadas em cômodos distintos, indicando níveis de formalidade variados, numa busca a se adaptar ao espaço, e a ele levar a descoberta da noção de conforto. Sobre as cadeiras utilizadas naquele período Rybczynski (1999) aborda: Os assentos das cadeiras eram estofados com crina de cavalo, o que dava um apoio firme, as cadeiras das mulheres que tinham de sustentar menos peso, frequentemente eram estofados com penugem.... o estofamento não era chato, arredondado (bombé), portanto sustentava o peso maior no meio da cadeira e evitava que o anteparo machucasse as coxas. Os encostos inclinados haviam sido descobertos no século anterior; quando eles eram estofados, como quase sempre ocorria, se apresentavam levemente curvados. O estofamento era recoberto com brocados de seda, veludos ou tapeçaria bordada, todos eles ásperos (diferente da madeira e do couro) evitavam que se escorregassem para frente.... As cadeiras eram confortáveis porque acomodavam a estrutura biológica, mas também porque acomodavam as posturas da época.
  • 18. 18 Figura 2 - Cadeira francesa de 1750 Fonte : http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/205527 Figura 3 - Pintura Visconde de Flavigny em uma voyeuse -1763. Fonte: http://www.philippeguegan.com/galerie/A_louis_XVI_voyeuse.html. Figura 4 - Cadeira francesa Voyeuse -1780 Fonte: http://www.philippeguegan.com/galerie/A_louis_XVI_voyeuse.html.
  • 19. 19 Todas estas características criaram o conforto físico e a comodidade, que seria novamente influenciado pelo novo estilo georgiano de móveis ingleses funcionais, projetados para serem úteis, mais estruturais que decorativos. A configuração da casa figurava com as atividades separadas verticalmente, o público abaixo e o privado acima. Outra característica interessante era o desejo por um quarto individual, fato este atrelado não apenas a questão de privacidade, mas à crescente consciência da individualidade. Os cômodos eram irregulares de estilos explicitamente diferentes, porém, ambos privavam pelo bem-estar e pela comodidade. O estilo dessas casas gerou uma disposição menos formal e mais irregular. O planejamento mais livre facilitou a incorporação de novos tipos de cômodos. Os cômodos que anteriormente eram considerados uma obra de arte passariam a ser concebidos, para se realizar atividades humanas, isto é, o conforto deveria incluir não só o encanto visual e o bem estar físico, mas também a utilidade. O espaço da casa sofria com influência direta do mobiliário. Após estes acontecimentos, a casa e os ambientes do século XIX, necessitariam da eficiência funcional, gerada pela tecnologia doméstica, tecnologia esta principalmente relacionada à ventilação e iluminação e que logo se dispersaria para além do conforto do lazer e passaria a ser exigida também no lazer doméstico. Estas características levariam a criação da mecanização do lar. É importante retratar que, por mais que a casa recebesse essas diversas invenções para melhorias da eficiência do trabalho doméstico, ela não sofreu um impacto tão profundo, sua forma na maioria das vezes não havia mudado, como relata Rybczynski (1999), “não havia motivo para ser de outra maneira. Que as máquinas, ou que as casas que incorporaram as máquinas, devessem ter uma aparência diferente das suas antecedentes pré industriais é um conceito moderno”. A tecnologia doméstica e a administração do lar havia se rebaixado totalmente a questões de estilo arquitetônico. A partir deste momento o conforto estava sempre atrelado a estilos, como o Moderno, ou a anteriores como Art Decó, Art Noveau, entre
  • 20. 20 outros. O móvel passaria a ter importância para além do ambiente, pois não refletia apenas a decoração do cômodo, mas muitas características da época, ligadas a costumes e ideologias. “Os móveis dizem tudo. Assim como um paleontologista pode reconstituir um animal pré-histórico a partir de um fragmento de osso maxilar, pode- se reconstituir o interior doméstico, e o comportamento dos seus habitantes, a partir de uma única cadeira.” Rybczynski (1999). Hoje, o bem estar é uma necessidade fundamental, que precisa ser satisfeita. Se o presente não consegue fornecer tais atribuições busca-se no passado, através da austeridade e da nostalgia, este algo que não se encontra no presente, o conforto e o bem estar. O que nos coloca em uma situação difícil porque não há como adotar elementos do passado, e adequá-los a hábitos contemporâneos, não se consegue o conforto do passado ao copiar seu mobiliário e sua decoração. Sua aparência e sua função estão diretamente relacionadas à maneira como as pessoas imaginavam o conforto ou o idealizavam naquele período. O padrão de vida e a tecnologia entrelaçados com outros inúmeros fatores alteraram e continuam alterando em muito nossa percepção e definição de espaço ideal, por isso não há como retroagir à parametrizações antigas. Com isso, nos dias atuais, os móveis estão carregados de características funcionais, estéticas, ergonômicas, simbólicas, artísticas, etc., visto que a individualidade e a noção de conforto são tão diferentes entre os usuários, devido a suas diversas atribuições como conveniência, eficiência, lazer, bem estar, prazer, domesticidade, intimidade e privacidade. Toda esta abordagem é uma reflexão acerca da influência direta do mobiliário no espaço, não se deve esquecer o passado e aquilo que já foi construído, mas deve-se aproveitá-lo e trazer essa reflexão para características atuais.
  • 21. 21 2.2 Definição de mobiliário No Dicionário Houaiss (2007), mobiliário é conceituado da seguinte forma: consiste em móveis; relativo aos bens móveis 2. relativo ou pertencente a mobília, 3. conjunto de móveis destinados ao uso e a decoração de uma habitação, um escritório, um hotel, um hospital, mobília, conjunto de móveis de um estilo, de um período, de um autor . E mobília como “conjunto de peças que se colocam dentro de um cômodo com várias utilidades podendo servir para adorno; mobiliário.” Para esta pesquisa, definiu-se como mobiliário o conjunto de móveis, equipamentos ou objetos elaborados com a função de permitir atividades cotidianas, de acordo com a necessidade de seu usuário, seja para o trabalho, lazer ou fatores biológicos, religiosos e ornamentais, que possibilita a nossa percepção acerca de lugares, como uma habitação, um escritório, um restaurante, um hospital ou mesmo ambientes, sejam eles um quarto, uma cozinha ou sala. Deve-se atentar que tal definição apenas se tornou possível graças à influência direta do domínio da produção agrícola. Esta evolução criaria o excedente, levando o homem a deixar de ser nômade e possibilitando assim seu agrupamento. Esta passagem, fez com que cada vez mais se criassem ferramentas/objetos e técnicas, para melhorar seu cotidiano e sua adaptação a este espaço, cada vez mais urbano e mais vivo em relações sociais. Esta questão é colocada por Costa (2004), Uma maneira direta de compreender a estreiteza da relação entre objeto e espaço é a própria evolução do móvel ao longo da história. Muitas vezes o desenvolvimento de uma técnica construtiva ou a mudança na concepção de uma determinada característica de um edifício, seja ela de interior ou exterior, imagética ou espacial só foi possível em função da participação direta do mobiliário.
  • 22. 22 Como já retratado nesta pesquisa e afirmado pela autora, os objetos exercem influência direta no espaço (aqui retratado com foco na habitação-casa), propiciando a definição de seus ambientes e sua experimentação. Dentro dessa abordagem a cozinha apresenta papel preponderante em nossa cultura desde o início de nosso descobrimento. No período colonial, vamos encontrar a cozinha como real setor de serviços, uma verdadeira indústria de alimentos, uma fábrica de comida para atender a um verdadeiro restaurante, freqüentado pela imensa família patriarcal, além de visitantes, agregados, empregados e, até mesmo, o contingente escravo. Trata-se de um grande espaço que, em alguns casos, pode ocupar mais de um terço da área da casa, repleto de utensílios de diversos tamanhos e aplicações: gamelas, tachos, moringas, panelas de ferro, frascos, prateleiras, fogões a lenha. Bittar (1999) Naquela época, a cozinha apresentava papel preponderante e de destaque, sendo o lugar mais importante da casa não apenas o lugar de refeição, mas de grande hospitalidade. Espaço abastecido em sua maioria pelos alimentos produzidos in loco (própria fazenda) e/ou redondezas. Mesmo com as mudanças espaciais e sociais vivenciadas hoje, suplantadas pela diminuição de seus usuários e freqüentadores ou pela produção de alimentos ao seu redor, resultado este da diminuição da família dos empregados e de quintais cada vez menores ou até mesmo inexistentes. A configuração atual da cozinha, mesmo com a diminuição de seu espaço, ainda permite muitas relações de convívio familiar/social já que várias estão acopladas à copa como a cozinha americana. É na cozinha que se prepara as refeições, mas é onde estão localizadas a mesa e as cadeiras que se codificam e concretizam o valor de nossa cultura gastronômica e de nossa hospitalidade mineira. E nesse contexto de espaço é possível desacelerar das atividades cotidianas, desfrutando da rica culinária e das conversas com amigos e familiares. Diante desse cenário, será abordado aqui nesta pesquisa, o conjunto mesa e cadeira, muito em função das relações sociais e familiares que ambas peças permitem.
  • 23. 23 2.3 Abordagem do Mobiliário Escolhido – Móveis de assento e apoio Móveis de assento são cadeiras, poltronas e sofás. O ato de sentar-se engloba várias relações do corpo com o espaço e o objeto. Por exemplo, senta-se quando se está cansado de permanecer em pé, quando se ambiciona desfrutar de um ambiente de lazer como em um teatro ou num campo de futebol; ao se alimentar em casas, bares e restaurantes, etc., ou seja, senta-se para suprir necessidades físicas, biológicas e psicológicas. Para a constituição de um objeto, necessita-se no mínimo de características básicas como: estabilidade, segurança, comodidade, conforto, mobilidade e resistência; além do atendimento a uma determinada função/ação. Sendo assim, foi analisado o ato de assentar e palavras correlatas a esta ação, tais como: Assento, Assentar e Sentar. Assento 1 superfície ou coisa sobre a qual se senta 2 parte especifica de uma cadeira, sofá, poltrona etc.,que fica na horizontal onde se senta. 3 Lugar que oferece segurança e/ou estabilidade a alguma coisa lá posta. Assentar 1 pôr(-se) sobre assento; acomodar(-se)..2 pôr ou estar apoiado, de forma estável e/ou estática. Sentar 1 flexionar as pernas até apoiar as nádegas em assento; tomar assento; assentar-se na poltrona; fazer tomar assento; lançar longe ;atirar, jogar,atacar. Houaiss, (2007). Andrade (2012) afirma que “a cadeira pode e deve ser definida como uma estrutura para se sentar”. Partindo dessa concepção do sentar a mesma carece de mobilidade, precisando ser movimentada para trás e em seguida arrastada para frente junto à mesa. Para atender tais requisitos, a leveza faz-se importante em sua concepção, assim como seu ato de indeformabilidade, o que acarreta uma configuração estrutural de peças esbeltas, unidas por meio de encaixes colados, ou soldados. Estas
  • 24. 24 características serão melhores abordadas no capítulo 2, uma vez que é importante entender que a cadeira é um móvel de construção complexa e sofisticada, a ponto de exigir conhecimento das suas uniões estruturais e de seus encaixes para possibilitar a total integridade da peça. De acordo com Houassis (2007): Apoio “1 o que serve para amparar, firmar, segurar, sustentar (alguém ou algo), sustentáculo... 2 auxilio (que se presta a.), amparo, ajuda; Móveis de apoio são utilizados para dar suporte, ajuda na realização de outras ações e ou atividades. Dentro dessa classificação podem ser: Mesas de todos os tipos e subtipos: mesas de refeições, mesas de estudo, trabalho, centro, laterais, jogos, enfim, toda e qualquer superfície plana afastada do piso a altura ergonomicamente adequada ao desempenho de uma função específica de apoio, às atividades humanas. Andrade (2012) As crescentes especializações dos trabalhos e das atividades humanas, com base nesse mobiliário, influenciam diretamente sua construção e uso. Os móveis de apoio servem como suporte sobretudo para refeições e serviços em geral, em alguns casos podem servir também como aparadores e suporte para variados objetos, sejam eles de cunho religioso, decorativo ou funcional (ferramentas). Assim como a cadeira, a mesa exige diversas características básicas como indeformabilidade e regularidade em sua superfície entre outras, que serão melhores abordadas no Cap.2. 2.4 Contextualização histórica dos mobiliários de sentar e de apoio O mobiliário brasileiro foi claramente influenciado pelas tradições portuguesas. Na época da colonização, os móveis de assento eram trono, banco, escabelo, algumas variedades de cadeiras e de tamboretes, os móveis de apoio eram os bufetes e as mesas, figura 5.
  • 25. 25 Figura 5 - Móveis portugueses do século XVII - Cadeira rasa, de sola ou Tamborete, Mesa Bufete. Fonte: Canti. Pag. 40, 48.1998. No século XVIII, as mesas em Portugal, eram trabalhadas, com decoração em tremidos, ondulados, e torneado, conforme mostra a figura 6, passando por vezes a ter moldura e almofadas, muitas eram executados em madeira do Brasil, sobretudo em jacarandá. Vale ressaltar que até este século (XVIII), o que hoje denominamos mesas eram conhecidas em Portugal como bufetes e serviam como aparadores ou para serviços, sobretudo na cozinha, e como suporte para oratório e/ou escritório. As mesas, de fato, eram aquelas destinas a refeições, peças simples desmontáveis com pernas de cavaletes. Figura 6 - Bufete Séc. XVIII Fonte: Canti. Pag .1998. Os móveis de assento entre os séculos XVI e XVII, em Portugal, variavam conforme a condição social e a hierarquia, na corte portuguesa, o trono era reservado ao rei; as cadeiras rasas, bancos e escabelos aos nobres, de acordo com sua posição hierárquica; e as damas e demais cortesãos utilizavam as almofadas sobre estrados forrados com alfombras (grande tapete).
  • 26. 26 Em suas casas os nobres utilizavam cadeiras encouradas de espaldas e braços, de estrutura retangular, e os mais abastados utilizavam também destas cadeiras com braços, porém mais simples que a dos nobres, que aos poucos foram evoluindo para as cadeiras sem braço ou tamboretes. No século XVI, o Brasil já contava com um número crescente de engenho de açúcar. O mobiliário era escasso e constituído sobretudo de caixas, cadeiras, bufetes e catres, em sua maioria construídos na própria casa. Segundo Canti (1999), “os móveis, inspirados nos móveis portugueses, são, em sua maioria, reproduzidos em madeira mais grossa, em maiores proporções e mais rústicos que seus modelos originais.” Com o passar dos séculos maioria dos exemplares foram destruídos, com isso as imagens destes mobiliários são raras. Os bancos indígenas eram variados, de simples toros de madeira a outros mais trabalhados com peças com desenhos geométricos ou em formato de animal, figura 7. Figura 7 - Bancos Indígenas Fonte: Borges,2010. Com isso, entre 1500 a 1808, tinha-se três tipos de móveis: os portugueses, trazidos pelos colonizadores, os produzidos pelos índios, e aqueles seguindo referências européias, com madeiras nacionais com ilustra as figura 8.
  • 27. 27 Figura 8 - Cadeira de sola Séc. XVII. Fonte: Canti. Pag. 103. 1998. A partir de 1808, com a vinda da corte e os vários tratados comerciais proporcionados pela abertura dos portos, iniciava-se a diversificação de nossa oferta através de peças inglesas, austríacas, conforme figura 9 e 10, e francesas, trazendo assim novos estilos de mobiliário que influenciariam a produção local. Figura 9 - Cadeira Austríaca n 14 de Michael Thonet – 1859, de madeira curvada a fogo Fonte: http://www.revistacliche.com.br/2012/04/revolucao-thonet/
  • 28. 28 Figura 10 - Cartaz com cadeiras e mesas Thonet. Fonte: http://www.casadevalentina.com.br/blog/detalhes/michael-thonet-254 Algumas décadas depois, já na metade do século XIX, começaria a existir uma maior evolução do móvel aqui produzido devido ao elevado número de marceneiros e da implantação de pequenas fábricas de produção mecanizada que gradativamente faziam desaparecer a produção artesanal. Em 1890, houve a abertura da Companhia de Móveis Curvados, uma fábrica de produção em larga escala de móveis que imitavam os austríacos, como ilustrado na figura 11. Figura 11 - Cadeira Thonet, produzida no Brasil. Fonte: Santos, Pag.17. 1995.
  • 29. 29 A evolução dos móveis brasileiros ocorria de modo gradativo ao longo dos anos, porém a interrupção das importações geradas pelas duas guerras, juntamente com a migração de artistas, artesãos e arquitetos em nosso país propiciaram um desenvolvimento mais acelerado, fazendo surgir em 1915 o projeto da linha patente desenvolvida por Celso Martinez Carrera. Definida pelas formas simples e puras numa busca pela racionalização do desenho a fim de diminuir os custos e aumentar a produção, a Linha Patente é considerada um marco fundamental para a evolução do desenho do mobiliário brasileiro. Nascia o verdadeiro mobiliário brasileiro, figuras 12 e 13. Figura 12 - Cadeira patente Fonte: http://cdn.casavogue.globo.com/wp-content/uploads/2011/07/cama_patente_33.jpg Figura 13 - Catálogo de móveis Carrera. Fonte: Santos, Pag.34. 1995.
  • 30. 30 O século XX pode ser considerado um marco do desenvolvimento do mobiliário brasileiro uma vez que neste século houve muitas mudanças relacionadas à concepção deste objeto. Segundo Paoliello (2001), (...) século XX, marcado pela transição da Monarquia para a República assinalava um desejo de mudança, principalmente no sentido de se encontrar uma identificação própria. O sentimento nacionalista, movimento de retorno à tradição, às raízes culturais e o desejo crescente de ingresso à modernidade culminaram na Semana de Arte Moderna de 1922. Existia uma proposta significativa de buscar a atualização artística em concordância com as vanguardas européias e, ao mesmo tempo, voltar à realidade brasileira, para dela extrair sua temática. Propunha-se a pesquisa de formas ligadas às nossas tradições culturais e à exploração das possibilidades dos nossos materiais, criando soluções originais de acordo com a realidade econômica e tecnológica, o clima e o cotidiano brasileiro, contribuindo assim, para a criação de um design verdadeiramente brasileiro. Esta modernização da cultura brasileira após a Semana de Arte de 22 era intensa. Vários artistas buscavam a experimentação através de diferentes meios de expressão, como literatura, dança, pintura, arquitetura e na própria criação do mobiliário. Contudo, essa filosofia era considerada de pequenos grupos não conseguindo atingir a população. O que aconteceu é que a modernização do mobiliário, fazendo parte de um contexto mais amplo, participou do processo de importação e assimilação de idéias e conceitos, que foi se tornando mais complexo, enriquecendo-se com elementos nacionais: os tecidos, as fibras naturais e o uso de outros materiais da terra. Conseqüentemente, esses elementos acabaram amortecendo o reflexo da importação de idéias, trazendo maior autonomia para a produção do móvel e caracterizando obras significativas elaboradas dentro de um marco estilístico que respondeu mais adequadamente às nossas condições. Santos ( 1995). A modernização do mobiliário realizada pelos arquitetos se dava de uma maneira intrínseca à arquitetura, numa busca pela integração entre objetos e espaços criados;
  • 31. 31 ocorreu assim uma produção pontual direcionada a uma busca da unidade do ambiente construído. Apenas alguns destes móveis passaram a ser comercializados. O problema encontrado no equipamento dos edifícios é que, muitas vezes, o mobiliário, o arranjo interno, prejudica completamente a arquitetura. Arquitetura prevê os espaços que devem ficar livres entre grupos de móveis, e às vezes, os móveis são colocados de uma maneira imprópria, os espaços se perdem e a arquitetura fica prejudicada. De modo que, sempre se deve procurar marcar o lugar dos móveis, mas, mesmo assim, às vezes eles não estão de acordo com a arquitetura, e o ambiente se faz sem a unidade que a gente gostaria. Santos (1995) Entre estes arquitetos estavam Lúcio Costa, figura 14, Oscar Niemeyer figura 15, João Batista Vilanova Artigas, figura 16, e o arquiteto Italiano Carlos Benvenuto Fongaro, figura 17, que chegou ao Brasil em 1947, colaborando com várias empresas na fabricação de móveis, usando muito jacarandá e ferro. Figura 14 - Poltroninha 1960, Lucio Costa. http://www.revestir.com.br/mobiliario_design/Brasil_mostra_cara/brasil_mostra_cara.html
  • 32. 32 Figura 15 - Mesa Brasília - Oscar Niemeyer e Joaquim tenreiro Fonte: http://antiquariocarioca.blogspot.com.br/2011/10/oscar-niemeyer-mesa-brasilia.html Figura 16 - Poltrona em Compensado recortado, João Batista Vilanova Artigas. Fonte: http://www.tecto.com.br/Agenda/2010/10/01/Mostra-Os-Modernos-Brasileiros Figura 17 - Móveis de Carlos Benvenuto Fongaro. Fonte: Santos, Pag.56. 1995.
  • 33. 33 Havia se criado não apenas uma preocupação com o espaço, mas uma preocupação em se produzir um mobiliário adequado à cada particularidade por meio de um novo desenho, seguindo nossas características climáticas e nossa disponibilidade de matéria prima. Utilizava-se assim, sobretudo a madeira, a qual nosso país sempre teve em abundância. ... a riqueza deste patrimônio acumulado por mais de quatrocentos anos e o esmero da mão-de-obra, associados à generosidade de nossa flora, estabeleceram uma verdadeira tradição do móvel em madeira no Brasil, que voltará a emergir, com muita força, na obra de alguns designers do século XX, particularmente, a produção de Carlos Motta, Joaquim Tenreiro, José Zanine Caldas, Maurício Azeredo e Sérgio Rodrigues. (Santos,1995) Neste mesmo século, na década de 40, Joaquim Tenreiro, foi sem dúvida um dos mais representantes de seu período, considerado por muitos, como um dos maiores conhecedores desse material. Em sua produção havia sempre a alta qualidade artesanal aliada ao fascínio pela textura, organicidade e tatilidade, extraindo da madeira formas que remetiam às nossas raízes culturais. As realizações de Tenreiro na confecção de móveis foram divididas em duas fases bem distintas: entre 1931 a 1942 quando trabalhou para duas casas de mobília produzindo móveis ecléticos; e no período de 1942 a 1969, quando criou a Langenbach & Tenreiro Moveis e Decorações, empresa na qual pode colocar em prática suas concepções modernas por meio de peças leves, funcionais e sem ornamentos, figuras 18, 19, 20, 21. Figura 18 - Mesa,Joaquim Tenreiro
  • 34. 34 Fonte: http://antiquariocarioca.blogspot.com.br/search/label/Joaquim%20Tenreiro. Figura 19 - Cadeiras variadas de Joaquim Tenreiro. Fonte: http://nomescomsobrenome.blogspot.com.br/2011/04/nome-joaquim-sobrenome- tenreiro.html Figura 20 - Poltrona de três pés – Joaquim Tenreiro. Fonte: http://www.r-and-company.com/item_detail.cfm?id=1898
  • 35. 35 Figura 21 - sala de jantar – Joaquim Tenreiro Fonte: http://revista.casavogue.globo.com/design/leilao-oferece-design-com-historia-em-sp/ A rápida industrialização vivida na década de 50 em nosso país, atrelada ao desenvolvimento dos meios de comunicação difundiram o móvel moderno, que utilizava do uso de novos materiais, formas padrões e tendências. Configura-se assim condições para criação da experiência da industrialização e da produção em série. Com essa proposta o arquiteto José Zanine Caldas, cria a fabrica Móveis Z, Zanine, Pontes & Cia. Ltda, desenvolvendo móveis a partir do princípio da modulação e aproveitando por completo as chapas de compensado. Desta maneira, evitava assim o desperdício, o que, para ele e considerando as características econômicas brasileiras, era algo inaceitável: Os principais conceitos defendidos por Zanine – de valorização econômica e cultura das florestas; de incentivo à dignidade e à sabedoria do povo brasileiro para utilizar os recursos naturais disponíveis no país; e da luta pela promoção do reuso da madeira. Braga (2012). Junto com Tenreiro, Zanine era considerado um mestre da madeira, com reconhecimento internacional. Ele tinha tanto apreço a essa matéria prima que foi um
  • 36. 36 dos precursores do conceito de preservação ambiental na metodologia de projeto, produzindo móveis artesanais com madeiras refugadas, residuais e raízes, figura 22, 23 e 24. Figura 22 - Móveis variados de Zanine Caldas Fonte: http://media-cache- ak0.pinimg.com/originals/54/df/4e/54df4e645f2ed22160fe5c153b8e9656.jpg Figura 23 - Mesa orgânica, Zanine Caldas, 1950 Fonte: https://artsy.net/artwork/jose-zanine-caldas-organically-shaped-side-table
  • 37. 37 Figura 24 - Mesa de chapas de compensado - 1970. FONTE: http://theredlist.com/wiki-2-18-393-1456-view-brazilian-modernism-1-profile-zanine-caldas- jose-1.html Para Santos (1995), a década de 60 foi o período mais expressivo do meio artístico e cultural brasileiro. Neste período, era travada uma luta por uma arte autenticamente nacional e crítica em função dos problemas econômicos e sociais que atingiam o país. O móvel absorvia o ideário estético da aculturação. Enriquecendo-se com os elementos nativos, produziu-se em certos momentos, um móvel com formas originais, mais condizentes com nossas condições e expressivo caráter. Sob essa perspectiva, nacionalista, um dos trabalhos mais significativos foi o do arquiteto e designer Sérgio Rodrigues, seu comprometimento com os valores e materiais regionais vinculados a formas e padrões de nossa cultura, o fizeram criar a Poltrona Mole, figura 25, ganhadora do 1º Prêmio na Bienal Concorso Internazionale del Mobile em 1961.
  • 38. 38 Figura 25 - Poltrona Mole http://www.sergiorodrigues.com.br/ Sobre esta poltrona, Santos (1995) aborda: A Poltrona Mole foi projetada para permitir o máximo de conforto e repouso. Toda a sua estrutura é de jacarandá maciço, torneado em forma de fuso, e os encaixes são manuais, percintas em couro natural reguláveis e almofadões executados em atanado fino. As percintas de couro que formam a estrutura da Poltrona Mole estabelecem uma certa filiação formal com as tradicionais redes, elemento representativo de nossa cultura. Os almofadões de atanado sob a estrutura possibilitam ao usuário moldar o corpo anatomicamente ao sentar, remetendo, de certa forma, à aderência perfeita entre corpo e rede. Nas décadas de 70 e 80, o mobiliário alcança uma escala massiva. A produção era eclética seguindo várias vertentes. Dois arquitetos que desempenhavam um papel importante nesta época e ainda o fazem, Carlos Motta e Mauricio Azeredo. Carlos Motta trabalha da seguinte forma: Meu método de trabalho para projetar assentos é: procuro a postura que acredito ser a mais correta – o conforto – uma vez resolvido, vou pensar em estrutura e construir essa forma. Usando a técnica construtiva mais adequada da combinação desses elementos chego a um resultado estético. BORGES (1955) Um bom exemplo de seu trabalho são a poltrona radar e a Poltrona Sabre, figuras 26, 27 e 28.
  • 39. 39 Figura 26 - Poltrona Radar, Carlos Motta http://www.casafashionista.com.br/poltrona-radar/ Figura 27 - Poltrona Sabre – Carlos Motta http://rincarnation.wordpress.com/2012/09/22/around-the-world-in-80-chairs-sabre-chair-by-carlos- motta-at-19-greek-street-london/ Figura 28 - Mesa de jantar Iporanga Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-de-jantar-iporanga/
  • 40. 40 Mauricio Azeredo utiliza de desenhos baseados na releitura de simbologias indígenas, associadas às diversas nuances e tonalidades das madeiras brasileiras para criação de seus móveis. As cores em sua obra remetem a nossas tradições culturais como carnaval, festas populares e ritos, conforme figura 29. Para conseguir confeccionar suas peças, estudou a fundo diversos tipos de madeira nacionais, técnicas e sistemas construtivos. Figura 29 - Cadeira alta com detalhe dos encaixes e de variadas madeiras. Fonte: http://mauricioazeredo.wordpress.com/about/ Na atualidade o móvel produzido no Brasil é fruto de variadas intenções e influências externas, assim como aconteceu desde o início de sua colonização. Porém essas interferências não são mais oriundas apenas de alguns países ou tipos específicos de mobiliários, a troca de informações geradas pelos meios de comunicação permite uma influência direta de outras culturas e etnias do mundo inteiro. Por outro lado, o Brasil tem sido agente da mudança dos paradigmas e dos conceitos acerca do mobiliário produzido mundialmente. Pensando então nas variáveis que influenciam a produção do mobiliário e segundo PAOLIELLO (2002) que define ”Adaptando-se à complexidade de hoje, o móvel é lúdico, exuberante, funcional, artesanal e mesmo nostálgico, coerente com as maneiras de estar, assentar e vivenciar os espaços interiores nacionais.” Tem-se que o móvel contemporâneo é permeado de intenções e se fôssemos qualificá-lo em uma palavra esta seria “Surpresa”.
  • 41. 41 Assim sendo, o valor simbólico e funcional do mobiliário neste período permite uma tentativa de mudança de percepções, ocasionando grande experimentação de formas, técnicas e materiais. A definição então de técnicas e matérias primas extrapola os materiais do cotidiano, em alguns casos para produtos que aparentemente não teriam valor, totalmente fora do contexto normal de objetos de apoio e assento, como acontece com os Irmãos Campana. Ilustrado nas figuras 30 e 31. Figura 30 - Mesa Tatto, aço inox e ralos de pvc, Irmãos Campana http://www.vermaisdesign.com.br/wp-content/uploads/2013/03/cc-0573-54-irmaos-campana-10.jpg Figura 31 – Poltrona sushi IV, feita de EVA, Estúdio Campana. Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/Casaejardim/foto/0,,21893057,00.jpg
  • 42. 42 O objetivo final do mobiliário não é definido, podendo ter apenas uma única função ou várias, um móvel híbrido, figura 32, ou tecnológico, figura 33. Figura 32 - Móvel Hibrido produzido na Polônia de Karolina Tylka. http://dornob.com/turning-tables-flexible-wood-seats-flip-into-work-surfaces/ Figura 33- Mesa com placas fotovoltaicas de Marjan Van Aubel, design Holandes. Fonte: http://marjanvanaubel Sua concepção parte de formas simples, podendo chegar a estruturas complexas com ferramentas básicas a maquinas ultramodernas de cortes, ou até mesmo o uso de materiais de forma inusitada, figuras 34, 35, 36, 37.
  • 43. 43 Figura 34 - Mesa reserva designer brasileiro Paulo Alves http://www.arquivocontemporaneo.com.br/brasilia/produtos/showProduto/642 Figura 35 - Mesa estrutural pesa 4.5 kg do designer Alemão, Ruben Beckers. Fonte :http://www.dezeen.com/2014/01/17/wooden-table-by-ruben-beckers-weighs-just-4-5- kilograms/ Figura 36 - Banco prisma Zanine de Zanini http://casavogue.globo.com/LazerCultura/Livros/noticia/2013/12/zanini-de-zanine-lanca-livro-de-sua- obra.html
  • 44. 44 Figura 37 – Banco de alumino fundido em madeira, de hilla shamia. http://www.designboom.com/readers/wood-casting-by-hilla-shamia/
  • 45. 45 CAPÍTULO 3 – ENTENDENDO O MOBILIÁRIO 3.1 A Matéria Prima (Madeira) A madeira in natura, principalmente proveniente de árvores nativas, sempre foi a matéria prima básica para confecção do mobiliário em nosso país, porém, devido a sua grande exploração ao longo dos anos vinculada à falta de estímulo para a sua produção legal, tem originado a escassez deste material, como se vê num trecho da dissertação de mestrado de Valadares (2012): Explora-se uma determinada madeira intensivamente até seu escasseamento e, quando isso acontece, novas frentes de desmatamento introduzem outras espécies no mercado. Esse fenômeno é histórico e passível de ser averiguado através do estudo cronológico das construções. Cada tempo tem sua madeira e as madeiras das construções antigas ajudam a datá-las. A preocupação em identificar as madeiras e suas potencialidades vem desde o tempo da colônia, quando a coroa portuguesa classificou as madeiras sobre as quais tinha maior interesse em função das qualidades especiais de cada espécie, começando pelo pau-brasil e plasmando, assim, o conceito de madeira de lei, que nada mais era do que uma listagem de madeiras que precisavam de autorização do governo português para serem comercializadas... A cronologia mencionada anteriormente evidencia que as primeiras construções usaram madeiras da Mata Atlântica e sua exploração durou séculos. Esse bioma, mais rico em diversidade que a própria Floresta Amazônica..... O uso excessivo dessa matéria se deu graças a varias características físicas e mecânicas próprias favoráveis a sua utilização como:  Resistência mecânica tanto a esforços de tração (forças com tendência a estender o seu comprimento), como à compressão (resistência da madeira a forças que tendem a encurtar o seu comprimento), além de resistência à tração na flexão (forças ao longo do seu comprimento).  Alta resistência mecânica na relação peso próprio.  Resistência a choques e cargas dinâmicas absorvendo impactos.  Facilidade de obtenção de formas de encaixes e conexões de peças entre si.
  • 46. 46  Boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica.  Matéria prima renovável, desde que se explorada racionalmente.  Diversos padrões estéticos e de qualidade. Ao mesmo tempo outros procedimentos ou intempéries as desqualificam diminuindo sua qualidade, gerando desperdício e mau aproveitamento tais como:  Problema de secagem ou umidade podem levar à diminuição da resistência das fibras lenhosas ocasionando tensões internas secundárias.  Deterioração em ambientes agressivos que desenvolveram agentes predadores como fungos, cupins, mofos, etc.  Heterogeneidade e anisotropia (as propriedades físicas variam conforme a direção de suas fibras), ocasionando diferentes resistências e transformações ao longo da peça.  Hidroscopia capacidade da madeira de absorver umidade e se expandir (entumecimento), ou retrair (retração), de acordo com as variações da atmosfera envolvente. No sentido longitudinal ao eixo de uma tora, por exemplo, a variação é mínima (0,1%), no sentido tangencial é máxima (até 10%), e no sentido radial, cerca de 5%.  A quantidade de água presente na madeira a defini e seus estados podem ser: verde - umidade acima de 30% semi seca - acima de 23% comercialmente seca - entre 18 e 23% seca ao ar - entre 13 e 18% dessecada - entre O e 13% seca - 0%
  • 47. 47 É importante observar que estas características físicas e mecânicas variam de acordo com a espécie, presença de umidade e corte. Por exemplo, a madeira aumenta sua resistência, fica mais dura quando se está seca e diminui tornando-se mais “elástica”, quando possui alta concentração de água em suas células vazias. As madeiras consideradas de leis, àquelas mais duras e escuras, possuem suas fibras bastante trançadas, o que as tornam densas, pesadas e resistentes. Muitas não precisam de tratamento contra insetos xilófagos (cupins e brocas), pois as fibras são trançadas a ponto da água quase não conseguir penetrar e os insetos não conseguirem comê-las. A variação na tonalidade da cor propicia ainda melhor resistência ao sol, sendo sua cor como a pele, quanto mais escura, mais resistente será ao sol. Por isso madeiras mais claras recomenda-se utilizar produtos que possuam em sua composição filtros contra raios UVA e UVB. Estas madeiras consideradas duras, densas e pesadas, tem sua massa especifica acima de 800 Kg/m³, sendo super-resistentes e ótimas para uso de estruturas, como exemplos: Ipê (1010,00 Kg/m³), Garapeira (830,00 Kg/m³), Piquiá (930,00 Kg/m³), Jatobá (960,00 Kg/m³), Parajú (1000,00 Kg/m³). Para obtenção destes valores calcula- se a massa específica a partir da fórmula abaixo: μ=mV Densidade da madeira = Massa específica (Kg/m³) = massa ( Kg ) / Volume ( base x altura x comprimento da peça=m³). A densidade é então considerada em termos da massa específica aparente e para este cálculo considera-se a peça com umidade em 15%, valor de acordo com a norma brasileira.
  • 48. 48 Conclui-se assim que as principais características mecânicas da madeira estão atreladas às suas propriedades anisotrópicas, à absorção de umidade e à densidade das fibras, alterando-as de acordo com a variação destas condicionantes. Mesmo assim, no geral, a madeira suporta bem a esforços no sentido axial ou das fibras, a esforços de compressão, tração, flexão estática e dinâmica. Perpendicularmente às fibras tem- se boa resistência à compressão e tração normal às fibras, torção e cisalhamento, figura 38. Figura 38 - Propriedades Mecânicas Graças às estas características, no passado e na atualidade, muitos são os que se apropriam e apropriaram desta matéria prima para confecção de seus móveis. Precursores da preservação ambiental como Zanine Caldas, Maurício Azeredo, Hugo França, foram ainda mais além e aproveitaram a disponibilidade de madeiras refugadas, residuais, raízes, de demolição, e, em alguns casos de árvores que poderiam ser cortadas, para produção de seus móveis, tirando da escassez sua inspiração. Mauricio Azeredo, que ainda na atualidade fabrica seus móveis partindo de várias destas características, merece agora uma melhor atenção, pois ajudará no desenvolvimento deste projeto em função de suas obras e pesquisas.
  • 49. 49 Mauricio é arquiteto urbanista, graduado pela faculdade Mackenzie. Em 1974 depois de formado montou uma marcenaria onde elaborava projetos de arquitetura e fabricava móveis de construção simples em madeira. Em 1977, foi convidado a dar aulas na Universidade de Brasília. Nesse período foi despertado pelo interesse da pesquisa, onde desenvolvia estudos sobre a arquitetura vernácula brasileira, chegando às construções em madeira fundamentadas basicamente de encaixes, como as japonesas. Nessa mesma época em Brasília teve acesso ao laboratório de Produtos Florestais do IBAMA, que era localizado no campo, lá percebeu como conta a Borges (1999): A verdadeira palheta de pintura, a incrível diversidades de cores, texturas, características físicas de um sem-número de madeiras brasileiras.....Percebi também a diversidade de madeiras era desejável sob o ponto de vista plástico, pois abria a possibilidade de fugir da cor única e de incorporar contrastes ao móvel, que, assim poderia se transformar num objeto cultural com maior expressividade. A partir desse momento seus projetos ganhavam vida. Ele então passaria a usar a paleta de cores, figura 39, e um grande acuro técnico, para projetar seus móveis. Agora toda madeira era passível de uso, se fosse utilizada de maneira correta. Outro ponto importantíssimo era que ao usar várias espécies, além de valorizar o conjunto de acordo com sua ideologia, reduzia a velocidade da devastação e eliminaria o desperdício, como ilustra a figura 40. Figura 39 - Texturas de madeira de cores Fonte: Borges, Pag.44, 1999.
  • 50. 50 Figura 40 - Mesa com texturas Fonte: Borges, Pag. 67. 1999. Empolgado com tantas novas possibilidades começou a elaborar uma série de móveis incorporando diversas madeiras distintas e não parou mais. Porém, devido às características intrínsecas da madeira teve que desenvolver um sistema construtivo baseado em encaixes que chamou de “Junta Tridimensional”, figura 41, estrutura que permitiu a elaboração de diversos de seus móveis. A ligação é baseada em encaixes mútuos rígidos que não requerem o uso de fixadores convencionais como parafusos e pregos, mas garantem a estabilidade da peça, travando-as umas às outras. Esse engaste gerou uma estrutura tão eficiente e esteticamente agradável que Mauricio sempre a utiliza de modo visível, participando plasticamente do móvel.
  • 51. 51 Figura 41 – Exemplo da Junta tridimensional de Mauricio. Fonte: adaptação do autor, de acordo com o livro, Maurício Azeredo a construção da identidade brasileira no mobiliário. Com o conjunto desses encaixes desenvolveu ainda um sistema estrutural extremamente útil em seus projetos, o qual lhe conferiu bons resultados, tanto em função do uso da matéria prima, quanto pelas variedades utilizadas na confecção de seus mobiliários. A madeira como visto acima possui várias características que a influenciam diretamente, talvez uma das principais seja a higroscopia, capacidade de inchar ao absorver a umidade atmosférica e de murchar quando acontece o contrário. Pode-se dizer ainda que essa movimentação incessante se torna mais complexa quando a ela se juntam as mudanças de volume decorrentes das alterações de temperatura. Alterações que ocasionam variações dimensionais complicando o sistema construtivo, tornando-a mais ou menos resistente, além é claro, da alteração do direcionamento dos veios lenhosos que acontecem muitas vezes dentro de uma mesma peça, predispondo ao empenamento ou às trincas.
  • 52. 52 A partir disto a maneira como a madeira é armazenada e desdobrada, influencia muito, tanto na aparência como na propensão ao empenamento e em seu peso.Como se nas figuras 42,43,44. Figura 42 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. FONTE: NENNEWITZ, Ingo et al. Manual de Tecnologia da Madeira. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: EDUSP, 1995. Figura 43 - Exemplos de desdobramento de troncos de madeira. Fonte: http://www.frudua.com/corte_radial_vs_corte_tangencial.htm conferir
  • 53. 53 Figura 44 - Diferenças dos veios em nas tabuas, corte tangencial e radial. As contrações e dilatações geram deformações que costumam acontecer conforme afirma Valadares em sua citação e de acordo com as figuras 45 e 46. Quando uma madeira é extraída da natureza, suas células lenhosas desidratam, murcham, encolhem no sentido transversal e pouco no longitudinal..... quando o meio disponibiliza umidade, essas células tendem a recuperar a antiga forma, anterior à desidratação, como numa espécie de “esponja elástica”, um movimento análogo ao de uma sanfona que se dilata e encolhe no sentido transversal, mas muitíssimo pouco no longitudinal. Figura 45 - Diferentes faces da Madeira Fonte: Andrade, Pag.54. 2012.
  • 54. 54 Figura 46- Alterações dimensionais por contração e dilatação. Fonte: Andrade, Pag. 55. 2012. Peças de madeira extraídas do tronco em seção robusta, como vigas e pilares, tendem a se deformar menos do que as tábuas ou peças menores. Mesmo assim um tampo inteiriço retirado de um pranchão de madeira maciça pode ter problemas em decorrência de como no tronco, se extraiu aquele pranchão. Essas deformações podem ser incrementadas ou diminuídas em função da maior ou menor regularidade com que se organizam os feixes lenhosos ao longo do eixo do tronco da árvore. Na fig. 46 nota-se que as menores deformações ocorrem quando se tem as faces de maior superfície em esquema radial, se, o arranjo for tangencial, as tábuas que vierem a ser extraídas do pranchão terão uma propensão à variações dimensionais muito acentuadas, o que pode gerar empenamentos e aberturas de fendas. Entretanto, pela falta de informação e cuidado é difícil conseguir peças classificadas dentro dessa configuração. Portanto essas características influenciam diretamente a execução com este material, por exemplo, nos tampos das mesas, por possuírem peças longas e principalmente na junção dos encaixes, as movimentações geradas pela higroscópia associadas às
  • 55. 55 diferentes peças que nem sempre são da mesma árvore ou espécie, geram variações das fibras e da densidade não só entre elas, mas, também ao longo de cada uma delas. O que pode acarretar deformações diferenciadas entre as tábuas de um eventual tampo ou deformações diferentes nas diferentes regiões de cada tábua. Com tantas interferências a serem avaliadas e entendidas, um bom móvel em madeira requer sempre soluções estruturais e encaixes que garantem a integridade das peças e amenizem as transformações do material. O que torna o encaixe elaborado por Mauricio uma boa solução técnica. Muitos dos encaixes em madeira utilizados na marcenaria são técnicas desenvolvidas pela carpintaria usadas em proporções menores na confecção de móveis, isso acontece com as respigas, as cavilhas, meias madeiras, sangramentos, machos e fêmeas etc. Outros foram se desenvolvendo dentro do próprio contexto da marcenaria. A revista Good Wood Joints, disponível em http://woodtools.nov.ru/mag/good_ wood_joints/good_wood_joints0001.htm, apresenta variados modelos de encaixes, bem como a indicação de onde são potencialmente utilizados, o tipo de madeira ou compensado mais apropriados para aquela articulação e ferramentas que poderão ser utilizadas. Para auxiliar na compreensão, serão colocados aqui diagramas contento as explicações que foram traduzidas, conforme ilustra as figuras 47 e 48. A figura 49 indica onde podem ser executados os encaixes com seus respectivos números e a figura 50 os encaixes geralmente utilizados. Figura 47 - Nível de dificuldade de acordo com a ferramenta Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm
  • 56. 56 Figura 48 – Material apropriado / adequação. Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm Figura 49 - Mancha de utilização e conexões possíveis. Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm
  • 57. 57
  • 58. 58
  • 59. 59 Figura 50 - Conexões variadas Fonte: http://woodtools.nov.ru/mag/good_wood_joints/good_wood_joints0010.htm Pode-se afirmar que essas uniões estruturais garantem a integridade dos móveis, devido aos diferentes esforços pelas quais é submetida, variando conforme o modelo ou tipologia e o uso. Portanto ao modificar a forma altera-se também a configuração estrutural e os encaixes. Normalmente as cadeiras são submetidas a esforços de flexão, torção, compressão. Como se vê na figura 51.
  • 60. 60 Figura 51 - Esforços aos quais a cadeira e submetida. Em situação de torção, as respigas são soluções recorrentes para se alcançar a união de peças de maneira precisa, em disposição ortogonal ou próximo disto, exemplo na figura 52. Figura 52 - Partes componentes de uma cadeira com seus respectivos encaixes. FONTE: Andrade. Pag 40.2012.
  • 61. 61 Maurício utiliza de soluções um pouco diferentes como Ilustra a figura 53. Figura 53 - cadeira montada e explodida de Mauricio. Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade brasileira no mobiliário Na parte superior, podem ser utilizadas as respigas, para efetivar as uniões entre peças ortogonais e as cavilhas, para as uniões oblíquas ou em ângulo. Estas últimas são, na verdade, pinos de madeira que se inserem em furos abertos no plano das superfícies a serem unidas. Ilustrado na figura 54. Figura 54 - Estrutura e encaixes de espaldar de cadeira. FONTE: Andrade. Pag 47 .2012.
  • 62. 62 Mauricio utiliza-se de sua junta tridimensional como se vê na figura 55. Figura 55 - Encaixe tridimensional para encosto da cadeira. Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade brasileira no mobiliário Na parte inferior, para solidificar a união dos pés com o assento das cadeiras é bastante utilizada as travessas. Elas servem como travamento, unindo os pés e conformam o requadro do assento. Quando se utilizam travessas superiores e inferiores estas não precisam ter larguras exageradas, pois umas auxiliam as outras travando as estruturas (Figura 56). Figura 56 – Travamentos FONTE: Andrade. Pag. 47.2012.
  • 63. 63 Um problema crítico da construção de cadeiras sem travamentos inferiores, na marcenaria tradicional, é a união das travessas laterais (ilhargas) com os pés e as travessas frontal e traseira, como ilustra a figura 57. Figura 57 - Quina de assento de cadeira sem travamentos inferiores. FONTE: Andrade. Pag. 48.2012. Os travamentos inferiores, figura 58, têm a função de reforçar a rigidez do plano em que se inserem, aliviando as ilhargas e possibilitando, assim, a redução de sua seção. Como esses travamentos não precisam estar no mesmo plano, como é o caso das travessas, alternam-se suas alturas para não enfraquecer a seção dos pés num ponto específico. O sistema de uniões de Mauricio lhe permite maior estabilidade da peça gerando travessas menores, sem travamentos inferiores, que somente são utilizadas quando se quer fabricar um assento mais alto. Figura 58 - Junta tridimensional em travamento inferior.
  • 64. 64 Fonte: Produzida pelo autor a partir de imagens do livro, Maurício Azeredo: a construção da identidade brasileira no mobiliário. Assim como Mauricio, muitos outros designers e arquitetos de móveis desenvolveram encaixes e estruturas específicas para suas cadeiras ou poltronas como nestes exemplos de Sergio Rodrigues e Carlos Motta, figuras 59 e 60. Figura 59 - Croquis relacionados a execução da Poltrona Mole. Fonte: http://revista.casavogue.globo.com/design/ha-50-anos-poltrona-mole-se-consagrava/ Figura 60 - Cadeira São Paulo, Carlos Motta.
  • 65. 65 Fonte: http://espacodotraco.blogspot.com.br/2012/05/pocket-office-container-na-casa-cor.html A configuração estrutural de uma mesa figura 61 é basicamente, um tampo apoiado sobre uma malha, que, recebe um pé em cada quina. As maiores dificuldades na execução da mesa estão relacionadas com as características da matéria prima. As uniões dos pés com a malha que apóia o tampo, geralmente é feita por meio de respigas. Figura 61 - Estrutura esquemática de mesa FONTE: Andrade. Pag. 62 .2012. Nas mesas produzidas por Mauricio, seu sistema estrutural de apoio do tampo e o mesmo modelo de junta tridimensional, utilizada no travamento inferior das cadeiras, conforme visto na figura 58. Para o tampo, a solução mais recorrente ao unir tábuas ao longo de seu comprimento é a ligação em macho e fêmea. A área de contato oferecida por esse tipo de encaixe, auxiliada pelas colas, proporciona uma união extremamente confiável entre as tábuas ao longo de seu comprimento. O inconveniente do macho e fêmea, figura 62 é expor, no topo do tampo, a solução construtiva adotada, o que pode ser evitado com a união em chaveta, corrida figura 63, 64. Nesta técnica de união é possível nada se exibir no topo. Basta que se interrompam os rasgos das laterais das tábuas antes que eles atinjam o topo.
  • 66. 66 Figura 62 – Desenho encaixe macho fêmea FONTE: Andrade. Pag 62 .2012. Figura 63 - Desenho de construção de tampo de mesa em esquema de fêmeas e chaveta corrida. FONTE: Andrade. Pag 62 .2012. Figura 64 -Tampo de mesa com chavetas internas. FONTE: Andrade. Pag.62.2012. Costumam-se fazer tampos de mesas reforçando a união das tábuas com travessas. Porém, essa solução pode ocasionar fendas, tanto em um tampo com travessa interna ou com travessa encaixada, figura 65.
  • 67. 67 Figura 65 - Desenhos de tampos de mesas ilustrando as variações dimensionais diferenciadas justapostas ortogonalmente. FONTE: Andrade. Pag 65 .2012. Andrade (2012) aponta que: O ideal é que o painel de tábuas que define o tampo não tivesse moldura nem travessas e que sua base, a malha estrutural que lhe dá apoio, permitisse a sua livre movimentação. Isto é, o tampo não deveria ser consolidado por meio de colagem e sambladuras naquela malha. A moldura aventada para esconder o topo das uniões em macho e fêmea poderia ser evitada, simplesmente usando-se a solução da união em chaveta embutida. Infelizmente esta alternativa, a de não consolidar o tampo na base, é muito difícil de ser aceita tanto pelos marceneiros como por quem lhes encomenda o seu serviço. Mesmo que o tampo fique preso à sua base por meio de
  • 68. 68 encaixes “secos”, sem cola, a sensação de que o tampo está “solto” promove ojeriza a esta solução. As madeiras de demolição, que hoje são corriqueiramente utilizadas apresentam algumas vantagens de utilização, como já sofreram inúmeras vezes o processo de higroscópia e tantos outros processos naturais físicos e mecânicos, que se antes não o eram, agora comprovadamente são peças estáveis e resistentes, não envergando, empenando e deformando com facilidade. Este material é propício à confecção de mesas e cadeiras. 3.2 Percepções do Usuário - Seminário Figura 66 - Cartaz semana integrada. Foi elaborado na 24ª Semana Integrada do curso de Arquitetura um seminário para observar a influência do mobiliário e discutir com os participantes as diferenças, peculiaridades, vantagens e desvantagens em relação aos movéis de demolição e aqueles desenvolvidos por designers ou arquitetos. Devido ao mal tempo, o evento foi removido para a sala E 107, onde foram inseridos mobiliários totalmente distintos dos habituais daquele espaço. A idéia era criar uma nova percepção e experimentação do ambiente a partir dos objetos ali inseridos.
  • 69. 69 Dentro dessa proposta foram distribuídos no interior da sala almofadas, puffs e esteiras. Objetos que possibilitaram a apropriação do espaço de maneira variada, seja assentados, deitados, ou da forma que se sentissem mais confortáveis, conforme figura 67, 68. Figura 67 - Ocupação da sala durante o seminário. Figura 68 – Ocupação da sala durante o seminário. A intervenção proposta na sala pelos diferentes mobiliários interferiu de maneira positiva, sendo relatado ao final do seminário que as peças e sua facilidade de
  • 70. 70 locomoção possibilitaram um ambiente convidativo, favorável à permanência prolongada. Criou-se assim uma nova percepção e experimentação daquele espaço. A inserção de novos objetos reforçou também a influência destes no ambiente, percebidos ainda pela importância de suas características atreladas às concepções de conforto, visualizadas por parte dos participantes. Fato que deve ser considerado ao produzir um mobiliário, além das qualidades ergonômicas, estéticas e funcionais. Com os participantes já acomodados no ambiente, foram apresentados quatro vídeos, de profissionais que trabalham na criação e execução de mobiliários, nesta ordem: Sérgio Rodrigues, Ailda Boal, Carlos Motta e Zanini de Zanini. Os dois primeiros considerados modernistas e os dois últimos contemporâneos. Os vídeos abordaram os conceitos de criação de cada um e a influência do projeto aliado ao conhecimento técnico na produção das peças. Ao final foi projetada a figura 69, referente a peças mostradas nos documentários e imagens de móveis de madeira de demolição. Finalizando com a discussão, a partir das indagações: Se havia alguma diferença entre os móveis? Quais vantagens ou desvantagens existiam em relação a um e a outro? Figura 69 – Móveis de arquitetos e designers x peças convencionais de madeira de demolição
  • 71. 71 Para os questionamentos mencionados no parágrafo anterior, foram obtidas as seguintes conclusões:  nas peças produzidas pelos arquitetos e designers existe um refinamento que gera uma percepção de conforto, além disso os objetos trazem uma identidade, uma memória, uma história, um vínculo da vivência de quem os produz e uma significância para seu usuário;  móveis de demolição foram considerados rústicos e, na maioria das vezes, utilizados para tentar criar um ambiente de aconchego, sendo que a maioria dos participantes tiveram a percepção que os móveis de madeira de demolição são produzidos em réplicas, num “modismo”;  algumas peças de demolição são produzidas com tanto apreço estético (decorativo) que ao serem utilizadas causam desconforto ao usúario;  um dos participantes argumentou que os móveis de demolição são baratos, que eles poderiam atender a uma população de classe mais baixa. Porém outros participantes discordaram e relataram sobre a escassez do material que, juntamente com seu modo de produção que beira o artesanal, encarece o produto tornando difícil sua aquisição a qualquer tipo de público. É preciso considerar que algumas peças produzidas a partir de madeira não apresentam preocupações com caracteristicas ergonômicas e antropometricas, não havendo portanto um estudo ou projeto que garantam uma concepção do móvel pensado para o conforto do usuário e sua funcionalidade. Nestes casos há somente um móvel durável com características estéticas, atraentes e com baixa associação ao bem estar, não passando de uma réplica exagerada do objeto que agrega pouca influência na percepção de novas sensações no espaço. Mas também existem bons exemplos de quem trabalha com esse material dando a ele identidade, estética e conforto como é o caso da Carlos Motta. Como se vê nas figuras 70, 71.
  • 72. 72 Figura 70 - Mesa redonda com pés central. Com Cadeiras Layla. Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-redonda-com-pe-central/ Figura 71 - Mesa de peroba rosa reutilizada com Cadeiras Sahy Fonte: http://carlosmotta.com.br/design/mesa-para-adega/ 3.3 Ergonomia e Antropometria Outro ponto de relevância para elaboração da mesa e da cadeira e a ergonomia, ciência que colocada, de modo simplificado, concebe a adaptação de objetos e ou espaços às características humanas, físicas, fisiológicas e psicológicas. Paoliello (2001) discorre sobre o assunto: Sendo um estudo interdisciplinar, a ergonomia se baseia em conhecimentos de anatomia, fisiologia, antropometria, biomecânica, engenharia mecânica, desenho industrial, eletrônica, gerência
  • 73. 73 industrial e psicologia na solução de problemas. É somente desta maneira que esta consegue ser a aplicação da informação científica no desenho e forma de objetos, sistemas e ambientes para uso humano. A Antropometria do grego ánthropos – homem, ser humano e métron – que mede, seria a mensuração do corpo. À primeira vista parece ser algo relativamente fácil mas não é, como há variados tipos de pessoas, principalmente em nosso país, devido à miscigenação de diversas etnias, não existem medidas antrométricas normatizadas, outro fator relevante para essa variação é a condição de nutrição e saúde em que se encontram a população. Outra consideração importante relativo á estrutura anatômica do indivíduo é que o corpo foi planejado para o movimento e não para permanência em repouso, os ossos, músculos e articulações são desenvolvidos para suportar impactos, como alavanca servindo para levantar pesos, para correr, saltar, etc; executamos atividades que requerem esforços das mais diversas articulações e músculos. Quando entramos em estado de inércia e permanecemos em uma mesma posição durante muito tempo, sentimos incômodo. Senta-se com conforto quando o corpo fica apoiado de uma maneira adequada: Para garantir o conforto - isto é, a falta de desconforto – a cadeira precisa cumprir diversos requisitos, simultaneamente. Precisa haver estofamento suficiente para evitar a pressão sobre os ossos, mas não tanto a ponto das coxas e nádegas pressionarem os ossos pontudos na base da bacia dolorosamente. O anteparo da frente da cadeira, que é necessário por motivos estruturais, deve ficar abaixo da almofada, senão ele machucará as coxas. Um apoio para as costas é necessário. Deve-se ficar sustentado numa posição mais ou menos ereta. Um encosto totalmente vertical, no entanto, è desconfortável; o ideal é que haja uma pequena inclinação para trás, de preferência curva, para acomodar a espinha, que não é reta. Esta inclinação não pode ter um ângulo muito grande; no entanto, do contrário, quem se sentar vai escorregar para a frente. Se o corpo se curvar para a frente, seu peso deixará, de ser sustentado pela região lombar e a caixa torácica se dobrará sobre o estômago. Isto provocará uma leve queda dos pulmões e conseqüentemente, uma redução no consumo de oxigênio e cansaço. Rybczynski (1999)
  • 74. 74 A noção de ergonomia e antropometria seja em uma cadeira ou em uma mesa estão diretamente relacionados a proporções que se enquadram dentro de uma “área de conforto”, no qual é descoberta ao se medir o limite onde as pessoas começam a sentir desconforto, (perturbações físicas, fisiológicas e psicológicas). Essas medidas são geralmente representadas pela sua média ou desvio-padrão (o desvio padrão apresenta um grau de confiança de 95%), dentro destes fatores há diversas considerações que devem ser analisadas ao se desenhar ou propor móvel de apoio ou de assento. No Brasil não existem normas referentes a dimensões ideais para o conjunto de cadeiras e mesas de jantar. Somente para mesas e cadeiras de escritório. Com isso, muitos autores que abordam o tema, recorrem à publicações principalmente em estrangeiras. Exemplos:  Dimensões antropométricas fig.72, a altura poplítea (A), comprimento das nádegas (B), Largura do quadril (C), altura lombar (D). Figura 72 - Dimensões antropométricas Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.61.  Dimensões básicas do assento segundo estudos já realizados por outros autores ou normas técnicas vigentes fig.73, 74, 75.
  • 75. 75 Figura 73 - Variáveis relativas ao assento (cm) Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.61. Figura 74 - Dimensões básicas de cadeiras para postura ereta e relaxada (cm) Fonte: Iida, 1997. p.143 Figura 75 - Dimensões básicas de cadeiras fixas (cm) Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 13962. p.5.
  • 76. 76  Considerar a falta de conforto, causado por estas variáveis: Se a superfície for muito alta a parte interna das coxas será comprimida causando, conseqüentemente, um desconforto e também uma restrição na circulação sangüínea (fig. 76). Se ao contrário, esta altura for pequena, as pernas tendem a se posicionar para frente, perdendo a sensação de estabilidade antes mencionada (fig. 77). É interessante lembrar que a dimensão da altura do assento está diretamente relacionada com a altura poplítea (da parte inferior da coxa à sola do pé).” Figura 76 - Cadeira com assento alto causando desconforto na parte interna da coxa Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.62. Figura 77 - Cadeira com assento baixo, causando perda da sensação de estabilidade Fonte: Panero&Zelnik, 1979..p.62. O tamanho do assento devera ser considerado, se for longo acarretará pressão logo abaixo do joelho, prejudicando a circulação sangüínea desta região e de toda a perna, (fig. 78). Se a superfície for muito menor que a recomendada, resultará a sensação de instabilidade, o usuário ira sentir, que vai cair da cadeira a qualquer momento (fig. 79).
  • 77. 77 Figura 78 - Cadeira com assento longo acarreta pressão abaixo do joelho Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.64. Figura 79 - Cadeira com assento curto sensação de instabilidade Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.64.  O ato de sentar é uma atividade estática, com isso, deve se permitir variações freqüentes de postura, para aliviar as tensões, reduzindo assim a fadiga (fig. 80). Quando assentamos, aproximadamente, 80% de todo o peso do corpo é transmitido para apenas 25 cm² através desta estrutura Isto constitui uma carga excepcionalmente elevada distribuída numa área relativamente pequena, produzindo, em conseqüência, uma tensão muito grande nesta região. Esta pressão causa fadiga e desconforto, sendo um dos principais objetivos de uma cadeira aliviar esta condição." Paoliello (2001)
  • 78. 78 Figura 80 - Contato nádegas assento, vista lateral. Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.58 Figura 81 - Contato nádegas assento, vista posterior. Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.58. O material do assento deve ser pensado de maneira à melhor distribuir o peso do corpo para uma maior área, sendo aconselhável um estofamento intermediário, sobre uma base rígida. Sendo também antiderrapante e com boa capacidade de dissipar o calor e a umidade gerados pelo corpo. (fig. 82). Figura 82 - Distribuição de pressões sobre o assento: estofamento duro e estofamento macio. Fonte: Iida, 1997. p.141.
  • 79. 79  Por apresentar uma protuberância ao assentar aconselha-se deixar um espaço entre o assento e o encosto. Outro fator que também deve ser analisado é o fato de que uma pessoa sentada apresenta uma protuberância para trás na altura das nádegas sendo recomendável deixar um espaço vazio de 15 a 20 cm entre o assento e o encosto (fig. 83). Este espaço não acarreta nenhum problema, uma vez que a função básica do encosto é somente de dar suporte à região lombar (fig. 84). Figura 83 - Espaço entre o assento e o encosto Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.65. Figura 84 - Encosto dando suporte da região lombar. Fonte: Panero&Zelnik, 1979. p.65.
  • 80. 80  A postura empregada pelo indivíduo e suas variações também devem ser levadas em consideração. (fig. 85). Figura 85 - Posições assumidas pela coluna ,postura reta, relaxada para frente, relaxada para trás. Fonte: Iida, 1997. p. 142.  Dimensões antropométricas adotadas, para mesas segundo algumas referências. Fig. 86, 87, 88. Tabela 1 e 2. Figura 86 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista superior). Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146 Figura 87 - Dimensões gerais para mesa de refeição. (vista Lateral). Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146.
  • 81. 81 Tabela 1 - Dimensões gerais mesa de refeição (cm). Fonte: Panero&Zelnik, 2002. p.140;146. Adaptado pelo autor. Figura 88 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista lateral). Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13966. P.3. Adaptada pelo autor.
  • 82. 82 Figura 89 - Dimensões gerais da mesa de trabalho. (vista posterior). Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13966. P.3 Adaptada pelo autor. Cód. VARIÁVEL VALOR MINIMO VALOR MÁXIMO H 1 Altura da mesa de trabalho 720 750 L1 Largura da mesa de trabalho 800 - P1 Profundidade da mesa de trabalho 600 1100 a Altura livre sob o tampo 660 - b Profundidade livre para os joelhos 450 - c Profundidade livre para os pés 570 - e Largura livre para as pernas 600 - Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR. 13966.p.4. Tabela 2 - Dimensões gerais da mesa de trabalho (mm) Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13966. p.4.Adaptada pelo autor.
  • 83. 83 3.4 Valor Simbólico Pensar na criação de um mobiliário é pensar em um produto que estará sempre carregado de símbolos e significâncias (signos). Para elaborar o projeto de qualquer mobiliário é impossível desassociá-lo de seu tempo, lugar, de suas condicionantes culturais pertinentes a quem os produziu ou utiliza, e de diretrizes básicas funcionais, estéticas, ergonômicas, simbólicas e artísticas. Todas relevantes no processo de criação, contudo, não são características exatas e sim ponderações de atribuições que permanecem entre o limiar do agradável e do desagradável, condicionando assim a maior ou menor ênfase para determinadas características. Com isso a Pergunta que se segue é: Quais das atribuições serão executadas com maior ou menor ênfase? Para ajudar a obter estas respostas, serão abordados alguns exemplos de objetos confeccionados por designers e arquitetos que enfatizam conceitos, inspirações ou experiência em suas obras. Como primeiro exemplo as peças de Bem Young, que muito se apropria da Influência do habitat, do estilo de vida e do efeito proporcionado pelo material. Ben Young é um artista que cria esculturas, abstratas e realistas de vidro, inspirados pelas ondas e pelo seu habitat, de infância perto da bela Baía de Plenty, localizada na costa da Ilha Norte da Nova Zelândia. Suas obras retratam um cenário ou um objeto especial, onde o vidro é a matéria prima principal. Quem observa suas peças tem a chance de visualizar cada objeto como um todo, e em seguida, apreciar o efeito de diferentes efeitos de iluminação. Perguntado sobre sua inspiração, Young responde: O mar e a natureza são grandes inspirações para mim. Eu cresci junto ao mar e surf é uma grande parte da minha vida por isso era bastante natural para mim para começar a explorar esses conceitos para começar. O lado técnico do meu trabalho é algo que eu realmente gosto muito, então eu sempre quero ser eu mesmo empurrando quando se trata de novas técnicas ou tentar novas idéias. ( Traduzido de Freshome)
  • 84. 84 Cada uma de suas peças é desenhada à mão, então o vidro é cortado e fixada de modo artesanal, camada sobre camada até criar o produto final. Fig.90. Figura 90 – Obras de Ben Young. Fonte: http://freshome.com/2014/08/28/ben-youngs-handcrafted-glass-sculpture-inspired-by-ocean- waves/ Já como segundo exemplo Antônio Bernardo, designer de jóias contemporâneo brasileiro com grande inquietação artística, que utiliza a excelência da joalheria artesanal, e dos processos industriais, para conceber suas peças por meio da experimentação, sensibilidade empírica, investigação plástica e funcional dos materiais, como sua maleabilidade, colorações, vistas, composições e tratamentos principalmente de sua superfícies, enfim, sua identidade reside no reinventar-se. Com a manipulação de modelos conceituais é que se têm início suas criações, utilizando do desenho e posteriormente do papel, metal, fios, chapas e toda a ordem de materiais maleáveis. Estas réplicas funcionam como instrumentos de experimentação e simulação das dobras, vincos, inflexões, movimentos e encaixes.
  • 85. 85 Figura 91 - Desenho e obra finalizada. Fonte: http://www.antoniobernardo.com.br/inspiracao/ Antonio Bernardo cria suas peças com a sensibilidade de quem escreve uma poesia, sendo motivado pela leveza e insinuação do movimento, pela beleza dos materiais principalmente as gemas, pela observação de indivíduos e de grupos sociais nas quais considera as histórias pessoais, ou humor, as manifestações culturais e comportamentais, e por fim a investigação plástica de formas surpreendentes, alinhando conhecimento técnico às propriedades do material criando assim peças bastante originais e lúdicas, apresentadas na figura 92.
  • 86. 86 Figura 92 - Peças variadas de Antonio Bernardo Fonte: http://www.antoniobernardo.com.br/inspiracao/ E como últimos exemplos os designers Pedro Moog e Leonardo Lattavo, da Lattoog, especialistas em design de mobiliário, ajudaram a refletir a reinterpretação formal ou funcional dos móveis, por meio de uma contemporaneização de objetos, resgatando aquilo que há de bom nos produtos antigos, de uma maneira diferente para o nosso cotidiano, criando assim a série intitulada “Viralata”. Primogênita desta série a poltrona, ”Pantosh”, surgiu a partir da mistura da cadeira Panton do arquiteto dinamarquês Verner Panton datada de 1968 com a Poltrona Willow, do arquiteto escocês Charles Rennie Mackintosh, criada entre 1902 e 1904. Esta Poltrona foi a primeira da série que é composta por diversas peças entre móveis,