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Directora
                 Graça Franco
                       Editor
                  Raul Santos

                Grupo r/com
                   www.rr.pt
                 www.rfm.pt
               www.mega.fm
             www.radiosim.pt

                  Quarta-feira
           8 Setembro de 2010
Gratuit
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                                 RR
REGRESSO
ÀS AULAS
           2010/2011
           Algumas novidades e velhos problemas
           Prevê-se que a maioria das escolas do país abra portas para os alunos do Básico e do Secun-
           dário na segunda-feira, dia 13, mas já a partir desta quarta-feira, 8, haverá alunos de volta
           à escola, para o início do ano lectivo 2010/2011.
           O novo ano traz algumas novidades - como um novo Estatuto do Aluno e a obrigatoriedade da
           disciplina de Educação Sexual -, mas a questão do momento é a do encerramento de escolas
           e da consequente constituição de “mega-agrupamentos”.
           A estes novos problemas juntam-se outros, recorrentes. Desde logo, aqueles que se pren-
           dem com as pretensões da classe docente. E um “eterno” problema, o do dinheiro, assume,
           face às circunstâncias, um peso ainda mais forte. O ano arranca sob o signo da contenção
 PÁG.      orçamental para os responsáveis do Ministério da Educação, que terão de gerir recursos sob

02         o olhar atento de sindicatos e famílias. E das diversas forças partidárias.
           Esta edição especial aborda algumas das temáticas, dúvidas e problemas que se colocam
           na abertura do novo ano lectivo, sem prejuízo da abordagem continuada que o Página1 e a
           Informação da Renascença em geral continuarão a fazer em todas as plataformas.




                                                                                                                      DR




                                                                      r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Encerramentos
           Ministra Isabel Alçada diz que processo não afectará a
           serenidade na abertura das aulas
           O Ministério da Educação reafirma que os alunos de         nifestadas pela Associação Nacional de Municípios Por-
           691 escolas, que encerram, vão mesmo ser transferi-       tugueses (ANMP), e a ministra garante que o ano vai
           dos para novos centros escolares.                         começar com toda a serenidade.
           O gabinete da ministra Isabel Alçada indicara, inicial-   “O reordenamento da rede escolar é um processo
           mente, 701 encerramentos, mas o número foi corrigido      complexo”, reconheceu, nas últimas horas, a ministra,
           por não ter sido possível chegar a acordo para o fecho    garantindo que foram envolvidas “todas as direcções
           de dez estabelecimentos de ensino de cinco conce-         regionais do Ministério da Educação, que trabalharam
           lhos. O mapa publicado nesta página, com os dados         no terreno com as câmaras municiais” e “estabelece-
 PÁG.      iniciais do Ministério da Educação, traduz, contudo, o
           panorama geral.
                                                                     ram acordos”. Isabel Alçada concluiu que será “nessa
                                                                     base que o ano lectivo vai começar com toda a sere-


03         Isabel Alçada faz uma avaliação positiva do processo
           de encerramento de escolas, apesar das reservas ma-
                                                                     nidade”.
                                                                     A ministra da Educação reiterou que “aquilo que esta-




                                                                                                                                   Pedro Candeias/RR




                                                                                   r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           va anunciado e publicado vai manter-se”. Quer isto        A ANMP alega ter indí-
           dizer, que “as escolas que estava previsto que não        cios de casos de encer-
           viessem a abrir, não vão abrir e as crianças irão para    ramento de escolas sem
           novos centros escolares, com muito melhores condi-        o consentimento dos
           ções, para que o seu processo de educação se faça         municípiosn e, no final
           com mais qualidade”.                                      da reunião de ontem do
           A ministra da Educação anunciou também que o des-         Conselho Directivo da
           pacho sobre os apoios da acção social escolar vai         associação, o seu presi-
           ser publicado muito em breve e garantiu que se vão        dente, Fernando Ruas,
           manter os apoios com um ligeiro ajustamento ao pre-       exigiu o cumprimento do
           ço dos livros                                             acordo rubricado com o
                                                                     Governo.
           ANMP pede reunião urgente                                 Os municípios contestam




                                                                                                                                         LUSA
                                                                     ainda que o número de
           Apesar do balanço positivo e da serenidade garantida      escolas que vão fechar
 PÁG.      para a abertura do novo ano escolar, a ANMP pediu
           uma reunião urgente à ministra da Educação.
                                                                     seja exactamente de 691 e sugeriram à tutela que
                                                                     refaça as contas.


04           Em Coruche: mais uma escola portuguesa que fecha
                                                                                                                       Teresa Abecasis




             A Escola Básica de Valverde, em        refeitório, me-
             Coruche, tem duas salas de aula.       sas novas, um
             No ano passado, funcionou apenas       quadro elec-
             uma, onde 14 alunos do 1.º e 2.º       trónico com-
             anos partilharam uma professora.       prado no início
             Por isso, já não abre portas. É uma    do ano lectivo
             de duas escolas no concelho que        passado. “Uma
             fecham neste Setembro, uma en-         escola com es-
             tre muits centenas que fecham no       tas condições
             país.                                  não devia fe-
             Para entrar na Escola Básica de Val-   char”,    argu-
             verde, é preciso encontrar a guar-     menta Florbela
             diã. A chave que abre o gradea-        Coelho.
             mento que rodeia o edifício térreo     Os alunos da escola de Valverde       é “importante” os professores te-
             com duas salas está com Florbela       vão passar a frequentar a escola      rem contacto com outros colegas,
             Coelho. Foi ela quem, durante os       de Vale Mansos, que fica a cerca de    poderem “partilhar experiências”,
             últimos dois anos, cuidou desta es-    dois quilómetros. José Pontes, da     algo que considera “difícil” nestas
             cola como se fosse a sua casa.         administração do Agrupamento de       escolas.
             “Era eu que ia buscar as crianças      Escolas de Coruche, acredita que a    Por outro lado, a partilha da mes-
             de manhã ao transporte da câmara.      mudança não vai ser assim tão ra-     ma sala e professor por alunos de
             Quando elas entravam para a sala,      dical. “Muitas crianças moram en-     anos diferentes “dificulta o traba-
             eu ficava por aqui. Dava-lhes o al-     tre uma escola e outra”, diz.         lho do docente, que tem de gerir
             moço e, à tarde, voltava a ir levá-    Mas Natalina Marques, encarregada     a atenção dispensada aos diversos
             los a casa. Depois, voltava à escola   de educação da Maria, que iria ago-   grupos de níveis diferentes.
             para fazer as limpezas”, conta.        ra para o 3.º ano em Valverde, não    No próximo ano, Coruche vai rece-
             A funcionária sempre morou, ali-       pensa assim. A escola de Vale Man-    ber um novo centro escolar e pelo
             ás, bem perto da escola. Tão per-      sos, queixa-se, “já tem demasiados    menos mais uma escola vai fechar
             to que da janela de casa ouvia as      alunos” e Natalina tem medo que a     portas no concelho. É para o novo
             crianças. É, por isso, com pena        Maria não tenha o acompanhamen-       centro que vão os quadros novos.
             que agora vê fechar a escola. Não      to necessário.                        Este ano, ficarão empacotados.
             compreende o encerramento, uma         José Pontes não arrisca dizer que     Contactada pela Renascença, a
             vez que já quando ela ali andou,       as escolas com menos de 21 alu-       Câmara de Coruche adiantou que
             “há quase 40 anos”, o número de        nos devem ser encerradas, tal         a escola de Valverde vai ser usada
             crianças “era mais ou menos o          como previsto pelo Ministério da      para ateliês pedagógicos ou será
             mesmo”.                                Educação. Defende que é preciso       cedida a associações desportivas
             Entretanto, o que mudou foram as       ter em conta a especificidade de       ou culturais.
             condições da escola. Ganhou um         cada região. Mas acrescenta que       Versão vídeo em www.rr.pt.



                                                                                     r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Expectativas
           Pais e professores com alguma apreensão
           » Marta Velho
                                                                   FNE com esperança
           O nervosismo do início das aulas não é exclusivo dos
           alunos. Os pais e os professores sentem-se também an-   Já João Dias da Silva, da Federação Nacional da Edu-
           siosos com os desafios que este ano lectivo promete.     cação (FNE), tem uma expectativa mais positiva e olha
           “Existem três situações que nos causam uma certa pre-   para os meses que se avizinham com esperança.
           ocupação: o novo Estatuto do Aluno, o encerramento      Dias da Silva manifesta o desejo de que este ano lec-
           das escolas com menos de 21 alunos e a junção das       tivo seja uma oportunidade, bem aproveitada, para
           escolas 2/3 com as Secundárias”, enumera Hermínio       restabelecer a confiança no sistema educativo e nos
           Correia, da Confederação Nacional das Associações de    profissionais do sector.
           Pais (CONFAP).                                          A FNE pretende, sobretudo, recentrar o papel do do-
 PÁG.      Querendo tranquilizar os encarregados de educação,
           a CONFAP esteve, durante as férias, a trabalhar estes
                                                                   cente no trabalho de responsabilidade que tem junto
                                                                   dos alunos. “É preciso acabar com este afogamento de


05         assuntos de forma a melhor poder ajudar na resolução
           de qualquer problema com que os pais possam vir a
           deparar-se. Além disso, este representante conta que
           a CONFAP tem estado em contacto com a tutela, “para
                                                                   cada professor na realização de tarefas burocráticas e
                                                                   administrativas, de papéis e relatórios, perfeitamente
                                                                   inúteis e desnecessários, e na participação em reuniões
                                                                   sucessivas que lhes esgotam a totalidade do tempo de
           assegurar que tudo estava devidamente legislado e que   que dispõe para trabalhar com os alunos”, diz o res-
           as dúvidas estariam resolvidas”.                        ponsável da FNE, em jeito de desejo para 2010/2011.
           Dúvidas e incertezas também estão presentes no espí-    Visões distintas, mas um ponto em comum: tanto pais
           rito dos responsáveis da Confederação Nacional Inde-    como professores aguardam com expectativa o arran-
           pendente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE).    que de mais um ano lectivo.
           A porta-voz da organização, Maria José Viseu,
           acredita que o início do ano lectivo será um
           pouco atribulado, “sobretudo, em relação às
           escolas do primeiro ciclo que foram encerra-
           das”. A porta-voz da CNIPE acrescenta que “há
           muita contestação por parte dos encarregados
           de educação”.
           A CNIPE acredita, ainda, que a junção de várias
           escolas e agrupamentos poderá vir a ser, tam-
           bém, um ponto de discórdia e contestação.

           FENPROF critica “economicismo”

           Do lado dos docentes, Mário Nogueira, da Fe-
           deração Nacional dos Professores (FENPROF),
           é peremptório ao afirmar que este ano lectivo
           “começa mal, com o agravamento dos níveis
           de precariedade”.
           O sindicalista refere-se ao aumento do número
           de docentes contratados e consequente dimi-
           nuição de professores nos quadros, lembrando
           que as condições de trabalho dos primeiros são
           inferiores às dos segundos.
           A FENPROF acredita que as últimas medidas to-
           madas pelo Ministério da Educação são motiva-
           das por uma redução orçamental para o sector:
           “Tudo isto foi feito - e, aliás, dissémo-lo em
           Julho e Agosto - com uma intenção, que é uma
           intenção de poupar, uma intenção economicis-
           ta e que, tendo sido cega, não teve em conta
           as consequências que isto pode ter para o ano
           lectivo”.
           Mário Nogueira diz ainda que as preocupações
                                                                                                                                 Nuno Santos/RR




           dos sindicatos vão mais longe: a FENPROF acre-
           dita que as indicações para o Orçamento de
           Estado de 2011 são de impor cortes ainda mais
           radicais na área da Educação.


                                                                                 r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Educação Sexual
           Nova lei não colhe consenso
           » Domingos Pinto
                                                                      acompanhem de perto os conteúdos e a forma como
           Em vésperas da abertura de mais um ano lectivo, a          é dada a disciplina: “A escola tem, neste momento,
           nova lei sobre a disciplina de Educação Sexual nos en-     mecanismos onde as famílias estão representadas
           sino Básico e Secundário está a gerar uma enorme con-      em permanência, pelo que os pais podem e devem
           trovérsia na comunidade educativa, sobressaindo as         ser consultados e informados sobre os programas de
           críticas dos pais, professores e alunos.                   educação sexual que vão acontecer na escola e que
           Em causa estão aspectos como a obrigatoriedade da          vão acontecer na turma específica dos seus filhos. Eu,
           disciplina e também a forma como e por quem serão          como pai, posso exprimir as opiniões que queira sobre
           dados os conteúdos definidos na lei de Agosto de 2009.      os assuntos e sobre a educação sexual que deve ser
           O articulado define para a disciplina uma duração míni-     dada numa perspectiva de debate plural”.
 PÁG.      ma de seis horas por ano lectivo, no primeiro e segundo
           ciclos, e de 12 horas, no terceiro ciclo do Básico e no
                                                                      Nesta lógica, o responsável diz serem “incompreen-
                                                                      síveis” as críticas que têm sido feitas, considerando


06         Secundário.
           No primeiro ciclo, a disciplina é dada pelo professor
           nas turmas, devendo as aulas, nos segundo e terceiro
           ciclos do Básico, ser integradas preferencialmente nas
                                                                      que elas partem “basicamente”, de quem simples-
                                                                      mente “se opõe à educação sexual”, por a encarar
                                                                      como “uma ameaça para os seus filhos ou para as suas
                                                                      famílias”, por achar que “vai aparecer gente militante
           áreas de formação cívica e nas áreas de projecto.          e radical a pregar a educação sexual às crianças e aos
           Já no Secundário, como não há estas áreas de forma-        jovens”.
           ção cívica e de projecto, serão as próprias direcções de   Duarte Vilar defende que se tem verificado, em muitas
           turma das escolas e os directores de turma a definirem      escolas, o desenvolvimento de “experiências bastante
           como serão ministradas as 12 horas em cada turma e         ricas de trabalho com crianças e jovens”, pelo que a
           em cada ano.                                               APF insiste, “fortemente, na formação e na prepara-
           A escola tem que ter uma equipa com um professor           ção dos professores, não só numa perspectiva de serem
           coordenador que define os locais, ocasiões e espaços        capazes de levarem à prática o que está na lei, mas
           curriculares em que vão ser abordados os temas de          também numa perspectiva global, de saberem lidar de
           educação sexual.                                           forma adequada com a sexualidade das suas crianças
                                                                      e dos seus jovens”.
           APF a favor
                                                                      Família posta de parte
           A favor da lei está a Associação Portuguesa para o Pla-
           neamento da Família (APF), organismo que vê no arti-       Se a APF defende a lei tal como ela está feita, o mesmo
           culado a definição de um modelo correcto para educar        já não acontece com outros parceiros da área da edu-
           os jovens para a sexualidade.                              cação, como é o caso das associações de pais.
           O coordenador executivo da associação, Duarte Vilar,       Maria Ferrugento Gonçalves, presidente da Associação
           destaca o facto de a nova lei dar autonomia às escolas     de Pais do Colégio de Santa Maria, em Lisboa, clas-
           nesta matéria e de permitir que os pais e educadores       sifica esta legislação como “um bocadinho abusiva”,
                                                                                   uma vez que não cabe ao Governo legislar
                                                                                   “sobre uma matéria que é da exclusiva
                                                                                   competência dos pais”.
                                                                                   “É um direito que está consagrado na
                                                                                   Constituição. Os pais têm o direito e o
                                                                                   dever de educar os seus filhos. A educa-
                                                                                   ção é algo que é transversal, uma área
                                                                                   onde o Governo não devia interferir”,
                                                                                   sublinha a responsável da Associação de
                                                                                   Pais do Colégio de Santa Maria.
                                                                                   Para Maria Ferrugento Gonçalves, a nova
                                                                                   lei é “redutora” e “põe em causa a liber-
                                                                                   dade dos pais darem aos seus filhos a edu-
                                                                                   cação sexual que querem”.
                                                                                   “A educação sexual deve ser dada na fa-
                                                                                   mília e na família natural onde existe um
                                                                                   pai e uma mãe. As questões da educação
                                                                                   sexual não surgem só na fase da puber-
                                                                                   dade e da adolescência, mas surgem logo
                                                                                   desde pequeninos. Toda a curiosidade
                                                                                   sexual deve ter uma resposta adequada,
                                                                                   integrada dentro deste contexto familiar,
                                                                                 RR




                                                                                      r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           onde se vivem os valores que se preconizam e que se     ticas, os textos e os cadernos porque vamos abordar
           pretendem transmitir às crianças de uma forma na-       aqui uma matéria, vamos debater um texto sobre a
           tural, sem grandes imposições, e dando as respostas     questão da homossexualidade’”.
           próprias de cada um para cada idade e para cada si-     A nova lei “tira a possibilidade de a família decidir se
           tuação”, defende Maria Ferrugento Gonçalves, subli-     quer dar este tipo de informação aos seus filhos no
           nhando ainda que esta posição “não tem nada a ver       seio das aulas, em âmbito escolar, acabando por não
           com questões confessionais”, já que se trata de “uma    ter alternativa”, acrescenta o coordenador da Plata-
           questão de princípio e de respeito pela dignidade da    forma Resistência Nacional, sublinhando o princípio
           pessoa humana em cada uma das fases do seu cres-        de que “os pais são soberanos” na educação dos seus
           cimento até à altura em que cada um é responsável       filhos.
           pelos seus actos”.                                      A organização está a preparar uma carta em queos
                                                                   seus membros afirmam que não autorizam os filhos
           Estado totalitário                                      a frequentar estas aulas. A missiva será entregue na
                                                                   abertura das aulas e é para assumir “até ás ultimas
           Aos protestos contra nova lei da educação sexual jun-   consequências”, porque “não faz sentido” que “o Es-
 PÁG.      ta-se também a Plataforma Resistência Nacional, que
           já conta com um milhar de membros.
                                                                   tado se meta numa matéria deste tipo”, passando “a
                                                                   impor um esquema totalitário”.


07         Esta organização da sociedade civil olha para o arti-
           culado como uma forma de o Estado tentar impor um
           modelo de educação sexual.
           O coordenador da Plataforma Resistência Nacional,
                                                                   “O Estado não pode impor, jamais, convicções filosó-
                                                                   ficas, religiosas ou qualquer outra que seja. A escola
                                                                   não funciona nesse sentido, a escola tem um papel
                                                                   subsidiário em relação à família”, remata Mesquita
           Artur Mesquita Guimarães, sublinha que a organiza-      Guimarães.
           ção está “objectivamente contra a lei” e não “contra
           a educação sexual”.                                     Críticas também da Igreja Católica
           “Somos contra a lei 60/2009 de 6 de Agosto, porque
           não permite a liberdade de escolha, uma liberdade       As dúvidas e críticas à nova lei da educação sexual
           que fica muito diluída, pois não se sabe bem onde        são também partilhadas no seio da Igreja Católica,
           começa nem onde acaba”, esclarece o coordenador         que não foi ouvida pelo Governo sobre esta matéria,
           da Plataforma Resistência Nacional.                     apesar de ser uma questão com fortíssima componen-
           Mesquita Guimarães diz que a lei “impõe um modelo       te ética.
           único de Estado”, que, além de único, “não é suficien-   O presidente da Associação das Escolas Católicas, Pa-
           temente claro”, porque a sua aplicação “pode variar     dre Querubim Silva, faz duras críticas aos responsá-
           consoante o estabelecimento de ensino” e consoante      veis pela elaboração desta lei: “As escolas, porventu-
           “o professor que aparecer pela frente”.                 ra com a indicação do Ministério, confiaram-se a uma
           O responsável da Plataforma Resistência Nacional,       determinada entidade que forneceu materiais, alguns
           alerta para os problemas que levanta o facto de não     dos quais são absolutamente inadequados para idades
           haver “um formato absolutamente definido”, o que         a que dizem respeito e, por outro lado, as turmas não
           permite que “tudo pode acontecer”. Mesquita Gui-        são para gente toda igual”.
           marães exemplifica: “Num determinado dia, pode ser       O presidente da Associação das Escolas Católicas sus-
           abordado um módulo de ‘x’ minutos numa aula de          tenta que estas questões “passam mais por um ritmo
           formação cívica, no âmbito da educação para a saúde     pessoal do que por um ritmo de sala de aula” e cri-
           e, noutro dia, numa aula de Português, a professora     tica também o ponto da lei que prevê os gabinetes
           dizer ‘meus amigos, agora vamos arrumar as gramá-       de atendimento do aluno previstos: “Aparentemente,
                                                                              funcionam mais como um espaço secreto,
                                                                              onde não se sabe o que é que se vai dizer
                                                                              e que orientação é que se vai dar, e então
                                                                              fica tudo entre quem está no gabinete de
                                                                              aconselhamento e quem aparece para se
                                                                              aconselhar. A família, muitas vezes, pas-
                                                                              sará absolutamente à margem de tudo
                                                                              isso”.
                                                                              Para este sacerdote, que representa a Con-
                                                                              ferência Episcopal Portuguesa no Conselho
                                                                              Nacional de Educação, o modelo que se
                                                                              pretende impor “não tem presente valores
                                                                              essenciais da pessoa humana”, já que dela
                                                                              fornece “uma visão redutora”. Da sexuali-
                                                                              dade, a visão imposta é a “utilitarista”.
                                                                              O panorama não deixa antever um ano lec-
                                                                              tivo tranquilo no que diz respeito à educa-
                                                                              ção sexual nas escolas, onde são mais as
                                                                              dúvidas e divergências do que os consen-
                                                                              sos.
                                                                            RR




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ÀS AULAS
           PTC - Protege o teu Coração
                                                                                                            por Margarida Góis,
                                                                                                 Associação Família e Sociedade



           A Associação Família e Sociedade acredita que a         conteúdos e materiais didácticos por ela criados,
           educação da sexualidade faz parte da educação           aos professores por ela formados.
           da integralidade do ser humano e deve ser vista         Pensamos também que devia haver a obrigatorie-
           como uma educação da afectividade e, num âm-            dade, independentemente do programa escolhido
           bito mais amplo, como uma educação do carácter.         pela escola, de os encarregados de educação se-
           Só jovens fortes e maduros poderão responder de         rem informados, por escrito, e darem autorização
           forma segura aos desafios do seu crescimento se-         expressa para aplicação do mesmo aos seus filhos
           xual e afectivo, essencial para uma vida afectiva       (com os conteúdos fundamentais e a forma como
           plenamente assumida e comprometida enquanto             serão transmitidos). O programa aplicado pela as-
 PÁG.      adultos.
           Pensamos também, na linha da Constituição da
                                                                   sociação, o PTC, prevê esta autorização inicial.
                                                                   O PTC - Protege o teu coração toca também os


08         República, que “o Estado não pode programar a
           educação e a cultura segundo quaisquer directri-
           zes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou
           religiosas”. Consideramos ser difícil programar o
                                                                   conteúdos abordados na regulamentação da lei. Só
                                                                   que tem uma abordagem muito diferente. Em vez
                                                                   de ver o homem como um mero ser biológico, que
                                                                   também é, vê-o na sua integralidade. Isso explica
           ensino desta matéria de forma completamente             a intenção do programa de educar a sexualida-
           “neutra”. E pensamos que só será saudável e vivi-       de através da educação do carácter. Como expli-
           ficador se houver outras maneiras de ver e ensinar       ca Maria Luísa Velez, co-fundadora do programa,
           a educação da sexualidade nas escolas.                  “todos temos carácter, mas a vantagem está em
           Há dois anos que trabalhamos com o programa “Pro-       ter um bom carácter. A nossa metodologia é di-
           tege o teu Coração” - ou PTC -, na área da educação     recta, clara, muito participativa. Fazemos pensar
           da afectividade e da sexualidade. Trata-se de um        profundamente. O adolescente é rebelde e não
           programa com 17 anos de existência, desenvolvido        conhece as suas cinco dimensões: social, racio-
           actualmente em 18 países, destinado a jovens dos        nal, emocional, física e transcendente. Propomos
           10 aos 18 anos e a pais e educadores (detalhes em:      ‘truques’ para se descobrir a si mesmo, através
           http://www.protegetucorazon.com). Este programa         de técnicas de identificação. Os pais e professores
           – que faz alusão ao coração como eixo central do ser    também adquirem ferramentas para continuar
           humano – fundamenta-se na antropologia filosófica,        esse trabalho de descoberta”.
           psicologia, medicina, estatística e sociologia. O seu   Há um convite à aproximação dos pais em relação
           objectivo principal é apoiar a formação do carácter     ao mundo dos filhos. Para tal, dão-se igualmente
           e da sexualidade de adolescentes.                       outros conteúdos. A comunicação mudou drastica-
           A associação acredita que, em matéria de educa-         mente a relação. Antes, tocava o telefone, aten-
           ção sexual, deve sempre prevalecer a filosofia de         dia o pai. Hoje, os jovens enviam mensagens a sós
           vida de dos pais, seja ela qual for. A escola não       e ninguém conhece todos os seus amigos. Muitos
           deve impor quaisquer valores. Sendo um tema de          pais ignoram a linguagem tecnológica e isso cria
           grande delicadeza, os pais devem poder optar que        muita distância.
           os seus filhos frequentem as sessões existentes na       Em resumo, o que o adolescente necessita é de
           escola dos filhos, devem ter conhecimento dos            conhecer-se a si mesmo, aprender a resistir às
           conteúdos explorados e devem poder opinar sobre         pressões negativas e a aceitar as positivas. Adqui-
           os mesmos, decidindo em conjunto com os profes-         rir uma certa capacidade para gerir as emoções,
           sores e a comunidade escolar.                           diferenciar o amor verdadeiro do enamoramento,
           É muito importante, em todo o caso, que nas es-         substituir as gratificações imediatas pelas dura-
           colas haja pluralidade e diversidade. Somos con-        douras. Não cortemos o seu destino com soluções
           tra os monopólios, sobretudo político-ideológicos.      aparentes que vão em detrimento de toda a sua
           Daí, a importância do projecto que propomos,            pessoa, e que acarretam entre outros efeitos,
           bem como do aparecimento de outros, muitos              consequências emocionais já comprovadas: medo
           outros, que defendam outras linhas pedagógicas          ao compromisso, sensação de ter sido utilizados,
           e filosóficas no ensino/comunicação destas maté-          baixa da auto-estima, relações arruinadas. Em
           rias. Não é normal que, num país que se diz plural      três palavras: deterioração do carácter. Como
           e pluralista, o ensino de tal matéria esteja es-        dizia ainda Juan Velez, “não se pode reduzir o
           treitamente ligado a uma única organização, aos         amor, nem o sexo, a um problema de látex”.



                                                                                 r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Estatuto do Aluno
           Escolas têm dois meses para adaptarem regulamentos
           às novas regras
           O ano lectivo arranca agora, em Setembro, mas as es-        Com as novas regras, o Governo deixa cair as provas
           colas terão ainda Outubro e Novembro para adaptar os        de recuperação, uma iniciativa da equipa de Maria de
           seus regulamentos ao novo Estatuto do Aluno.                Lurdes Rodrigues, anterior ministra, para os estudan-
           A informação foi confirmada à Renascença por fonte           tes com excesso de faltas.
           do Ministério da Educação.                                  O documento recupera, ainda, a distinção entre fal-
           O diploma foi promulgado pelo Presidente da Repúbli-        tas justificadas e injustificadas, prevendo um alargado
           ca no final de Agosto, depois de ter sido aprovado no        plano de promoção da assiduidade dos alunos.
           Parlamento a 22 de Julho, com votos favoráveis do PS e      O novo Estatuto do Aluno foi publicado em Diário da
 PÁG.      do CDS-PP. Os restantes partidos votaram contra.            República na última quinta-feira, dia 2.



09




                                                                                                                                     DR
           Computador Magalhães
           Novos computadores vão chegar às escolas já no início do ano
                                      A ministra da Educação, Isa-
                                         mi                            Comunicações Móveis, que gere o “e-escolinhas”.
                                        bel Alçada, deixou, no final    O relatório final concluiu que o Executivo criou “uma
                                           d Conselho de Ministros
                                           do                          situação de monopólio” que favoreceu a empresa J.P.
                                            de 19 de Agosto, a ga-     Sá Couto, fabricante do Magalhães, e usou a Fundação
                                            rantia de que 250 mil      para as Comunicações Móveis como “intermediário” do
                                            computadores       Maga-   negócio.
                                            lhães começarão a ser      No terreno, esta situação provocou atrasos na entrega
                                            distribuídos no arranque   dos computadores às crianças. Por tudo isso, no final de
                                            do ano lectivo.            Julho, o balanço feito pelos professores ao programa
                                            Isabel Alçada afirmou       “e-escolinhas” era negativo.
                                          que já estava tudo em
                                          q                            Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional de
                                        cur para que professores e
                                        curso                          Professores, queixava-se, sobretudo, de falta de for-
           alunos
             l                         recebessem a nova versão        mação dos docentes para lidarem com os Magalhães
           do portátil, que é       tecnologicamente mais avan-        e também de desadaptação dos manuais e programas
           çada do que o modelo distribuído ao longo do primeiro       escolares ao portátil do Governo.
           ano do programa “e-escolinhas”, em 2008/2009.               A crítica foi reiterada por Manuel Grilo, do Sindicato
           O chamado “Mg2” tem um teclado mais confortável e           dos Professores da Grande Lisboa, que acrescentava,
           um ecrã maior, características que correspondem a so-       ainda, que as expectativas dos alunos mais novos ti-
           licitações de pais e alunos.                                nham sido frustradas. Estes estudantes, por causa de
           O ano lectivo de 2009/2010 ficou manchado pela longa         atrasos e questões políticas, não tinham recebido o
           investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito à         computador Magalhães, ao contrário dos alunos mais
           actuação do Governo em relação à Fundação para as           velhos, no ano anterior.


                                                                                     r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Ensino artístico
           Escolas de música recusam limitação do apoio financeiro
           O Ministério da Educação e os estabelecimentos de en-     ciação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Co-
           sino artístico articulado travam um confronto que já      operativo (AEEP), lembra que o diploma pode afectar,
           chegou à Justiça.                                         sobretudo, a continuidade das aulas.
           O tribunal aceitou a providência cautelar do Conser-      O arranque do ano lectivo, para já, não está em causa,
           vatório de Música, Dança e Arte Dramática de Lisboa e     garante Queiroz e Melo, sublinhando, contudo, que “os
           ficou suspenso o despacho da tutela, que cancelava o       alunos começam as aulas e os ordenados serão pagos”,
           concurso para novos apoios financeiros para o sector.      embora não saiba “até quando”.
           De acordo com o diploma do gabinete de Isabel Alça-       “Há um momento em que, acabando o dinheiro, aca-
           da, publicado a 3 de Agosto em Diário da República, as    bam as aulas”, conclui, afirmando, ainda, esperar que
           verbas são limitadas para esta vertente, no ano lectivo   a tutela consiga chegar a uma solução, em conjunto
 PÁG.      2010/2011. Na prática, quem não recebia financiamen-
           to no ano anterior, também não teria agora direito às
                                                                     com os parceiros.



10         verbas. Além disso, as escolas com apoios do Estado
           deixavam de poder inscrever mais alunos e também de
           pedir mais dinheiro do que aquele que já recebiam no
           ano anterior.
           A porta-voz da Confederação Nacional Independente
           de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Maria
           José Viseu, assume que a decisão do Ministério da Edu-
           cação de congelar as verbas, pode obrigar os pais a to-
           marem medidas drásticas, como “retirar os seus filhos
           para outras escolas”.
           A representante dos encarregados de educação afirma
           que esta situação “contradiz a opção de que os pais
           poderiam escolher a escola onde queriam que os seus
           filhos fossem matriculados”.
           Já Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Asso-




                                                                                                                                   DR
                                                                                                                                   Catarina Santos/RR




                                                                                   r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Educação Moral e Religiosa Católica
           Mais matrículas no Básico
           O novo ano lectivo vai ter mais alunos a frequentar a      D. António Francisco dos Santos considera fundamental
           disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, sen-    que a disciplina seja acolhida pelos próprios jovens:
           do o aumento mais significativo no primeiro ciclo do        “Temos de continuar a trabalhar para, simultaneamen-
           ensino Básico.                                             te, merecer a credibilidade dos alunos, que esperam
           Em vésperas da abertura do novo ano escolar, este é o      da Igreja uma resposta através das aulas de Educação
           dado mais relevante avançado ao Página1 pelo coorde-       Moral e Religiosa Católica, e satisfazer a expectativa
           nador do Departamento do Ensino Religioso no Secreta-      das famílias, dos pais e encarregados de educação”.
           riado Nacional de Educação Cristã, Dimas Pedrinho.         O Bispo de Aveiro indica que se está “a reflectir, para
           Este responsável dá também conta da estabilidade que       elaborar e preparar textos que possam, através de ma-
           a disciplina vem conhecendo, também no Secundário,         nuais, ajudar e contribuir para a valorização da presen-
 PÁG.      onde metade dos jovens portugueses optam pela ma-
           trícula na disciplina.
                                                                      ça da igreja nas escolas, através da Educação Moral e
                                                                      Religiosa Católica”.


11         “Evidentemente, que há zonas do país onde a percen-
           tagem é um bocadinho acima” dos 50% e noutras fica
           “um bocadinho abaixo”, mas “as diferenças não são
           assim tão significativas, de diocese para diocese”.
                                                                      D. António Francisco dos Santos acrescenta, neste con-
                                                                      texto, que, mais do que olhar para as ambiguidades
                                                                      da lei, é preciso
                                                                      apostar forte no
           As zonas Norte e Interior, tal como Angra do Heroísmo,     trabalho da Igreja
           registam os índices de frequência superiores, mas “há      nas escolas.
           uma certa continuidade”, diz Dimas Pedrinho, atiran-       Nestas declarações
           do um exemplo: “O Algarve tem também uma boa fre-          ao Página1, D.
           quência”.                                                  António sublinhou
           A subida de inscrições que se verifica no primeiro ciclo    ainda que a disci-
           constitui, para a Igreja, “um sinal de esperança”, tanto   plina de Educação
           mais que “têm surgido dificuldades de diversa nature-       Moral e Religiosa
           za, ao nível da criação de condições para a leccionação    Católica não deve
           da disciplina”, que é “facultativa para os alunos, mas     ser      confundida
           de oferta obrigatória pelas escolas, desde que haja        com a catequese:
           alunos inscritos”.                                         “A catequese não
           O coordenador do Departamento do Ensino Religioso          substitui a aula da
           no Secretariado Nacional de Educação Cristã defende        disciplina de Edu-




                                                                                                                                    RR
           que a legislação que regula o ensino religioso nas es-     cação Moral e Reli-
           colas, deveria ser mais adequada às realidades locais.     giosa Católica e esta disciplina não repete aquilo que
           “O problema está na própria legislação, não na legisla-    na catequese se realiza. Uma é complementar da outra
           ção especifica, mas na legislação conjugada”, algo que      e uma e outra são indispensáveis para o crescimento na
           faz com que “muitas vezes, os próprios directores das      maturidade dos valores humanos e dos valores cristãos
           escolas fiquem um bocadinho perturbados, entenden-          e para educação cristã das crianças, dos adolescentes
           do que não há condições para leccionar a disciplina”,      e dos jovens”.
           quando, por vezes, “até existem”.                          Assim, para o Bispo de Aveiro, esta realidade exige “um
           Dimas Pedrinho sugere que “nos casos em que a disci-       trabalho conjunto entre as paróquias, os professores,
           plina não pode ser leccionada por questões práticas,       concretamente os párocos, os catequistas e os profes-
           organizativas, deviam ser as próprias escolas a comu-      sores de Educação Moral e Religiosa Católica”.
           nicá-lo, quer aos serviços diocesanos quer às próprias
           direcções regionais, porque “isso seria meio caminho”      Pais são insubstituíveis
           para fazer com a legislação seja revista.
           Nos restantes ciclos, concretamente no segundo e           O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
           também no Secundário, não têm surgido dificuldades          (CEP), D.Jorge Ortiga, sublinha o facto de os pais tam-
           significativas na leccionação da disciplina, embora o       bém serem chamados a participar na tarefa, porque se
           responsável pelo ensino religioso nas escolas defenda      trata dos “primeiros educadores e educadores insubs-
           a necessidade de os professores “motivarem os alunos,      tituíveis, devendo intervir na escolha da educação que
           criando uma dinâmica que dê visibilidade a esta aérea      querem dar aos seus filhos”.
           da formação humana, que é uma prioridade para a ac-        D. Jorge Ortiga lembra que, “se são pais católicos,
           ção da igreja que tem de ser valorizada”.                  crentes, devem reconhecer que, para além da cate-
                                                                      quese, a formação na área escolar é qualquer coisa de
           Cativar os jovens                                          imprescindível. Muitos pais dizem que deixam os filhos
                                                                      livres. Seria bom que os deixassem livres, mas eluci-
           No mesmo sentido, pronuncia-se, em declarações ao          dando-os para que reconhecessem a aula de Educação
           Página1, o Bispo de Aveiro, que é vogal da Comissão        Moral e Religiosa Católica como algo constitutivo da
           Episcopal da Educação Cristã.                              sua própria formação”.


                                                                                    r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Debate
           Pais são os primeiros educadores dos filhos
           » Raquel Abecasis
                                                                      opção por uma escola privada “não os desobriga de par-
           Na semana em que se inicia um novo ano lectivo, o          ticiparem activamente e de se interessarem, junto da
           programa “Princípio e Fim”, da Renascença, sentou à        escola, pela formação que é dada aos seus filhos”
           mesma mesa Maria Ferrugento Gonçalves, uma mãe que         Para os três participantes no programa emitido no fim-
           optou por colocar os seus filhos num colégio católico,      de-semana, é ainda mais imperioso que a voz dos pais
           Manuel Sousa Guedes, que tem os filhos numa escola          seja ouvida agora que as escolas vão abrir espaço para
           pública, e Alexandra Chumbo, presidente da Associação      a educação sexual. “Os curricula desta disciplina estão
           Família e Sociedade, organização que se empenha em         abertos às propostas de pais e educadores, pelo que
           colaborar com escolas e pais em matérias que têm que       é fundamental que os pais saibam o que a escola dos
           ver com a educação.                                        seus filhos pretende fazer e participem activamente na
 PÁG.      “Os pais são os principais e primeiros educadores dos
           filhos. É muito importante que não se esqueçam disso
                                                                      elaboração dos programas”, alertou Alexandra Chum-
                                                                      bo, cuja associação tem uma proposta de curriculum


12         e que tenham consciência de que o exemplo que dão
           aos filhos é essencial para a sua formação”, alertou Ale-
           xandra Chumbo, sublinhando que, em matéria de edu-
           cação, os pais não devem descansar nas escolas ou nos
                                                                      para a disciplina, intitulado “Protege o teu coração”. A
                                                                      proposta já foi aceite por algumas escolas e pelo Minis-
                                                                      tério da Educação.
                                                                      Deste debate saiu também um conselho consensual:
           professores.                                               durante o tempo escolar, os pais não se devem limitar
           Manuel Sousa Guedes considera fundamental a parti-         a preocupar-se com a execução dos trabalhos de casa,
           cipação nas associações de pais, tanto mais que “hoje      mas devem ter “tempo de qualidade” para gastar com
           em dia, a legislação escolar permite uma participação      os seus filhos. “Saber quem são os amigos, saber o que
           muito grande dos pais nos órgãos de gestão da escola”.     interessa aos filhos” é muito importante para acompa-
           Esta opinião é partilhada por Maria Ferrugento Gonçal-     nhar o ano lectivo e saber detectar e enfrentar eventu-
           ves, que garante que o facto de os pais fazerem uma        ais dificuldades que venham a surgir.




                                                                                                                                    DR




                                                                                    r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Manuais escolares
           ASAE abriu seis processos-crime por venda acima dos
           valores estabelecidos
                                                                      Uma acção de fiscalização da Autoridade de Seguran-
                                                                      ça Alimentar e Económica (ASAE) à venda de manuais
                                                                      escolares levou à instauração de seis processos-crime
                                                                      a seis estabelecimentos que vendiam os manuais por
                                                                      valores superiores ao estabelecido na convenção de
                                                                      preços. Foram, ainda, multados 22 estabelecimentos
                                                                      de venda.
                                                                      A fiscalização da ASAE foi efectuada em diversos pontos
 PÁG.                                                                 do país, entre 27 de Agosto e 3 de Setembro,.
                                                                      A acção envolveu 65 brigadas da ASAE e foram inspec-


13                                                               DR
                                                                      cionados 273 estabelecimentos.




            O regresso às aulas e a progressiva perda da liberdade?
                                                                                                           por Alexandra Pinheiro
                                                                                                     Fórum Liberdade de Educação



            Começa um novo ano lectivo, desta vez marca-              Outubro. Era assim no Estado Novo; a liberdade
            do pela reorganização escolar, com Mega Agru-             do 25 de Abril continua a não chegar à educação.
            pamentos onde ninguém conhece ninguém, com                Os resultados educativos portugueses serão cada
            a suspensão do financiamento do Estado a vários            vez mais decepcionantes e o Orçamento de Esta-
            programas escolares do ensino artístico, contra a         do não cessará de nos exigir maiores sacrifícios.
            vontade dos alunos e dos pais, e com a introdução
            da Educação Sexual Obrigatória.                           Se não houver coragem de mudar, o ME não
                                                                      conseguirá libertar-se da gestão administrativa
            Para onde vais, Portugal? Infelizmente, a edu-            da escola, nem se concentrará na definição das
            cação em Portugal vai no sentido de um maior              grandes linhas de política educativa a longo pra-
            arbítrio do Estado-Educador através da progressi-         zo e, muito especialmente, no desenvolvimento
            va aniquilação da oferta “pública” de ensino não          de mecanismos de apoio aos pais e às escolas no
            estatal. Temos um Estado-Educador que acena ao            desenvolvimento do projecto educativo em que
            povo português a bandeira da autonomia das es-            pais e professores acreditarem. Nunca veremos
            colas, que mais não é do que uma pura delegação           nascer um universo de escolas públicas diferen-
            de poderes, sempre controlada pela “autorida-             ciadas, de acesso universal e gratuito, com uma
            de burocrata”. Com a monopolização do ensino              oferta educativa adaptada às necessidades de di-
            nas mãos do “senhor feudal”, os cidadãos mais             ferentes comunidades, seguindo métodos peda-
            pobres são cada vez mais servos da “vanguarda             gógicos alternativos, com autonomia curricular e
            iluminada” que controla o poder político. Para            com grande participação da comunidade escolar
            onde vais, Portugal?                                      onde a igualdade de oportunidades é assegura-
                                                                      da.
            O futuro de Portugal exige um despertar das
            consciências dos Portugueses!                             Para o Fórum Liberdade de Educação o caminho
                                                                      é claro! Só com a vitalidade, energia e criativida-
            Se tudo ficar como está, o Ministério da Educa-            de de todos os agentes educativos será possível a
            ção (ME) continuará atarefado na resolução das            Portugal recuperar a fraca qualidade do ensino.
            questões administrativas e laborais das “suas”            De outra forma, continuaremos a ser enganados,
            escolas estatais, anestesiando cada vez mais a ca-        com a propaganda que são o Magalhães II e a in-
            pacidade de progresso das escolas aos novos desa-         trodução da videovigilância nas escolas e outras
            fios do ensino e tornando os professores em me-            distracções que possibilitarão o acesso a uma
            ros funcionários da máquina “educativa” de 5 de           educação de qualidade a todos.



                                                                                    r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS
           Duas gerações
           O tempo da Primária e o tempo do 1.º ciclo do Básico
           Maria Emília, 57 anos, foi professora primária durante 33. Marlene Andrade, 27 anos, é há
           cinco professora do 1.º ciclo do ensino Básico e já passou por quatro escolas. Como a própria
           designação da profissão revela, são pessoas e professoras de tempos diferentes. Marlene
           cumpre, contudo, a mesma missão que María Emília cumpriu durante mais de três décadas.
           Fá-lo, apenas, de modo diferente. Página1 desafiou as duas professoras a partilharem as
           suas experiências. Encontre o leitor as diferenças entre a “Primária” e o 1.º ciclo do Básico.
           Também na versão vídeo em www.rr.pt.


 PÁG.
           » André Rodrigues e Letícia Amorim
           Sob o fundo negro do quadro de ardósia, meninos de


14         bata branca mostravam sorrisos desdentados. A um dos
           cantos da objectiva, a professora primária com o indis-
           farçável orgulho. Um só clique e o primeiro dia de aulas
           entrava para a posteridade.
           Será mais ou menos esta a memória que muitos terão do
           primeiro dia de aulas na “Escola Primária”, que o tempo
           renomeou para 1.º ciclo do ensino Básico. À primeira
           vista, uma e outra são a mesma coisa. Nada mais, nada
           menos do que o percurso entre o primeiro e o quarto
           anos… Ou a primeira e a quarta classe.                     dar aulas, pelo menos, mais este ano lectivo. “Vai ser a
           Mas, ao longo dos anos, não foi só a nomenclatura que      primeira vez que regresso ao trabalho com alunos que
           evoluiu. Com ela, muitos outros aspectos da vida esco-     já conheço. Será muito mais produtivo e rentável do
           lar evoluíram.                                             que nos outros anos em que permaneci na mesma esco-
           No que diz respeito aos docentes, uma das grandes mu-      la apenas por um ano lectivo”. Marlene diz-se “ansio-
           danças foi, ao mesmo tempo, a maior dor de cabeça: a       sa” por regressar a Cascais, mas, tal como no passado,
           instabilidade do vínculo profissional. Para quem ingres-    o emprego só está garantido até Maio. Depois disso, a
           sa na docência, a incerteza ensombra as perspectivas       angústia e a ansiedade crescem até Setembro. “Nunca
           de um futuro promissor.                                    sei para onde vou a seguir”, afirma, resignada. E conti-
           Marlene Andrade licenciou-se em 2005, na Escola Supe-      nua: “Não sei quando, nem em que dia ou em que ano
           rior de Educação de Viseu. Desde o início da carreira,     irei sentir a estabilidade que é tão necessária para me
           nunca soube o que era um contrato seguro. E já lá vão      dedicar de forma ainda mais plena ao meu trabalho”.
           cinco anos. Há quatro, conseguiu, pela primeira vez,       Mas Marlene diz ter em si “um certo espírito aventu-
           uma colocação a tempo inteiro, nos Açores. De lá, já       reiro” e procura sempre “encarar a situação pelo lado
           esteve mesmo ao lado de casa, em Marco de Canaveses,       positivo”. A vida de professora-saltimbanco fez crescer
           e voltou a ser deslocalizada para Cascais, onde ficará a    o leque de amizades: “São as coisas boas que também
                                                                      levamos disto”.

                                                                      “Tínhamos sempre escola”

                                                                      Bem diferente foi a experiência de Emília Couto. Come-
                                                                      çou a dar aulas em 1975/76, em pleno período pós-re-
                                                                      volucionário. “As mudanças no ensino aconteciam qua-
                                                                      se todos os dias. Foram tempos muito conturbados”,
                                                                      recorda esta docente, aposentada há quatro anos.
                                                                      “A vantagem”, diz, “eram as colocações”. E as incerte-
                                                                      zas - “claro que havia incerteza” - era de cariz diferen-
                                                                      te, porque havia “a certeza de termos trabalho no ano
                                                                      lectivo seguinte”.
                                                                      “Tínhamos sempre escola, agora não. Pelo que ouço dos
                                                                      colegas mais novos, Setembro é sempre uma angústia,
                                                                      porque nunca sabem se vão ou não conseguir coloca-
                                                                      ção. No meu tempo, não era assim, embora tivéssemos
                                                                      outras dificuldades”, diz.
                                                                      Hoje, como há 30 anos, o início da carreira era difícil.
                                                                      “Era normal sermos colocados em zonas muito distantes
                                                                      da nossa área de residência. Hoje, todos os jovens têm


                                                                                    r/com renascença comunicação multimédia, 2010
REGRESSO
ÀS AULAS




           carro. Sentem-se desenraizados, é certo, mas, nesse as-
           pecto, as dificuldades são muito menores do que eram
           no passado. A mobilidade está muito mais facilitada.
 PÁG.      Quando ficava colocada longe, tinha de ficar hospedada
           e raramente vinha a casa. Só nas férias”, conclui.


15         Por outro lado, as sucessivas mudanças no sistema de
           ensino alteraram de forma decisiva o estatuto do do-
           cente perante a opinião pública. No passado, era práti-
           ca comum a fixação de laços entre alunos e professores,
           relações de afectividade e, sobretudo, respeito.
           “No meu tempo, o professor chegava à sala de aula e
           um olhar era quanto bastava para que as crianças se
           comportassem convenientemente”, lembra Emília Cou-
           to. Hoje é bem diferente, “mas também não se deve
           exigir aos miúdos comportamentos que eles não estão
           habituados a ter. É tudo uma questão de educação.
           Eles não estão habituados assim com os pais”. E essa é,
           também, uma das razões para que a nova geração de
           professores “nunca tenha sentido esse privilégio acres-
           cido de ser professor. “É isso que eu sinto. Do ponto de
           vista social, a nossa profissão já não é olhada da mesma
           maneira”, desabafa Marlene Andrade. “No entanto”,
           continua a jovem professora, “há outras recompensas.
           Tenho orgulho na minha profissão, pelo que faço, pelo
           que os meus alunos me dão e por sentir que contribuo
           para o crescimento deles”.

           Menos cultura geral, mais facilitismo

           E o que dizer da evolução dos conteúdos curriculares?
           Qual o lugar da cultura geral que, segundo os mais anti-
           gos, enriquecia os programas da antiga escola primária?
           Há não muito tempo - 30, 40 anos -, os alunos eram         descurado nos últimos tempos. E nem sempre por culpa
           obrigados a saber os nomes dos rios, onde nascem, por      dos professores.
           onde passam e desaguam, as serras do território conti-     Marlene advoga que a razão para este fenómeno reside
           nental e ilhas ou as principais linhas ferroviárias.       no “facilitismo crescente no nosso sistema de ensino”,
           Era a cultura geral que se aprendia, mecanicamente e       porque “os conteúdos estão lá, a exigência é que não”.
           de tenra idade, nos bancos da escola. Hoje, esses con-     “Impõe-se, por isso, uma atitude mais pró-activa por
           teúdos permanecem nos planos curriculares do 1.º ciclo     parte dos docentes”, alerta Emília Couto. “Não basta
           do ensino Básico. A forma de os transmitir é que mudou,    ao professor chegar à sala de aula e limitar-se a ensi-
           “por vezes, de uma forma tão radical, retirando-lhes o     nar a ler e a escrever, sem desenvolver a cultura geral
           sentido”, adverte Emília Couto. “Hoje, a escola prefere    das crianças”. “Além disso”, afirma esta ex-professora
           promover outro tipo de conhecimento e os meninos não       primária (como tanto gosta que lhe chamem), é neces-
           estão preparados para estimular a memória”. A tabuada      sário extravasar o papel de um simples educador: “Mui-
           é o melhor exemplo, considera: “Se eles não aprende-       tas vezes, a professora tem de ser mãe, ama, enfer-
           rem a memorizar algo tão simples como o 2x2, dificil-       meira, médica, tudo isso e muito mais”. No fundo, ser
           mente irão apreender qualquer outro conteúdo mais          mais “professora primária” e menos “professora do 1.º
           complexo, um dia mais tarde, na faculdade”.                ciclo”, uma espécie de “todo-o-terreno” que atenda às
           Num ponto, Emília Couto e Marlene Andrade parecem          necessidades da comunidade educativa que mudou por
           estar de acordo: o desenvolvimento da memória é fun-       força das alterações que a sociedade impôs à escola.
           damental para o crescimento da criança, mas tem sido       Versão vídeo disponível em www.rr.pt.


                                                                                    r/com renascença comunicação multimédia, 2010
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                       Calendário Escolar 2010/2011
            Educação pré-escolar
            Início das actividades educativas                                                 Termo das actividades educativas
            entre 8 e 13 de Setembro de 2010                                                  5 de Julho de 2011

            Interrupções das actividades educativas

            1.ª de 20 a 31 de Dezembro de 2010
            2.ª de 7 a 9 de Março de 2011
 PÁG.       3.ª de 11 e 21 de Abril de 2011


16

             Básico e Secundário

             1.º Período
             Início: entre 8 e 13 de Setembro de 2010
             Termo: 17 de Dezembro de 2010


             2.º Período
             Início: 3 de Janeiro de 2011
             Termo: 8 de Abril de 2011


             3.ª Período
             Início: 26 de Abril de 2011
             Termo: 9 de Junho de 2011 para os 9.º, 11.º e 12.º anos e 22 de Junho de 2011 para os
             restantes anos de escolaridade

             Interrupções
             1.ª de 20 a 31 de Dezembro de 2010
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                Jornalistas e grafismo: André Rodrigues, Cristina Nascimento, Domingos Pinto, Hugo Monteiro, Letícia Amorim,
                                             Marta Velho, Pedro Candeias, Raquel Abecasis, Rodrigo Machado, Teresa Abecasis



           Página1 é um jornal registado na ERC, sob o nº 125177. É propriedade/editor Rádio Renascença Lda, com o nº de pessoa colectiva nº 500725373. O Conselho de
           Gerência é constituído por João Aguiar Campos, José Luís Ramos Pinheiro, Luís Manuel David Soromenho de Alvito e Luiz Gonzaga Torgal Mendes Ferreira. O capital
           da empresa é detido pelo Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa. Rádio Renascença. Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa.

                                                                                                                  r/com renascença comunicação multimédia, 2010

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Regresso às aulas: encerramentos e problemas recorrentes

  • 1. Directora Graça Franco Editor Raul Santos Grupo r/com www.rr.pt www.rfm.pt www.mega.fm www.radiosim.pt Quarta-feira 8 Setembro de 2010 Gratuit Gratuito Gratuito Leia mais RR
  • 2. REGRESSO ÀS AULAS 2010/2011 Algumas novidades e velhos problemas Prevê-se que a maioria das escolas do país abra portas para os alunos do Básico e do Secun- dário na segunda-feira, dia 13, mas já a partir desta quarta-feira, 8, haverá alunos de volta à escola, para o início do ano lectivo 2010/2011. O novo ano traz algumas novidades - como um novo Estatuto do Aluno e a obrigatoriedade da disciplina de Educação Sexual -, mas a questão do momento é a do encerramento de escolas e da consequente constituição de “mega-agrupamentos”. A estes novos problemas juntam-se outros, recorrentes. Desde logo, aqueles que se pren- dem com as pretensões da classe docente. E um “eterno” problema, o do dinheiro, assume, face às circunstâncias, um peso ainda mais forte. O ano arranca sob o signo da contenção PÁG. orçamental para os responsáveis do Ministério da Educação, que terão de gerir recursos sob 02 o olhar atento de sindicatos e famílias. E das diversas forças partidárias. Esta edição especial aborda algumas das temáticas, dúvidas e problemas que se colocam na abertura do novo ano lectivo, sem prejuízo da abordagem continuada que o Página1 e a Informação da Renascença em geral continuarão a fazer em todas as plataformas. DR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 3. REGRESSO ÀS AULAS Encerramentos Ministra Isabel Alçada diz que processo não afectará a serenidade na abertura das aulas O Ministério da Educação reafirma que os alunos de nifestadas pela Associação Nacional de Municípios Por- 691 escolas, que encerram, vão mesmo ser transferi- tugueses (ANMP), e a ministra garante que o ano vai dos para novos centros escolares. começar com toda a serenidade. O gabinete da ministra Isabel Alçada indicara, inicial- “O reordenamento da rede escolar é um processo mente, 701 encerramentos, mas o número foi corrigido complexo”, reconheceu, nas últimas horas, a ministra, por não ter sido possível chegar a acordo para o fecho garantindo que foram envolvidas “todas as direcções de dez estabelecimentos de ensino de cinco conce- regionais do Ministério da Educação, que trabalharam lhos. O mapa publicado nesta página, com os dados no terreno com as câmaras municiais” e “estabelece- PÁG. iniciais do Ministério da Educação, traduz, contudo, o panorama geral. ram acordos”. Isabel Alçada concluiu que será “nessa base que o ano lectivo vai começar com toda a sere- 03 Isabel Alçada faz uma avaliação positiva do processo de encerramento de escolas, apesar das reservas ma- nidade”. A ministra da Educação reiterou que “aquilo que esta- Pedro Candeias/RR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 4. REGRESSO ÀS AULAS va anunciado e publicado vai manter-se”. Quer isto A ANMP alega ter indí- dizer, que “as escolas que estava previsto que não cios de casos de encer- viessem a abrir, não vão abrir e as crianças irão para ramento de escolas sem novos centros escolares, com muito melhores condi- o consentimento dos ções, para que o seu processo de educação se faça municípiosn e, no final com mais qualidade”. da reunião de ontem do A ministra da Educação anunciou também que o des- Conselho Directivo da pacho sobre os apoios da acção social escolar vai associação, o seu presi- ser publicado muito em breve e garantiu que se vão dente, Fernando Ruas, manter os apoios com um ligeiro ajustamento ao pre- exigiu o cumprimento do ço dos livros acordo rubricado com o Governo. ANMP pede reunião urgente Os municípios contestam LUSA ainda que o número de Apesar do balanço positivo e da serenidade garantida escolas que vão fechar PÁG. para a abertura do novo ano escolar, a ANMP pediu uma reunião urgente à ministra da Educação. seja exactamente de 691 e sugeriram à tutela que refaça as contas. 04 Em Coruche: mais uma escola portuguesa que fecha Teresa Abecasis A Escola Básica de Valverde, em refeitório, me- Coruche, tem duas salas de aula. sas novas, um No ano passado, funcionou apenas quadro elec- uma, onde 14 alunos do 1.º e 2.º trónico com- anos partilharam uma professora. prado no início Por isso, já não abre portas. É uma do ano lectivo de duas escolas no concelho que passado. “Uma fecham neste Setembro, uma en- escola com es- tre muits centenas que fecham no tas condições país. não devia fe- Para entrar na Escola Básica de Val- char”, argu- verde, é preciso encontrar a guar- menta Florbela diã. A chave que abre o gradea- Coelho. mento que rodeia o edifício térreo Os alunos da escola de Valverde é “importante” os professores te- com duas salas está com Florbela vão passar a frequentar a escola rem contacto com outros colegas, Coelho. Foi ela quem, durante os de Vale Mansos, que fica a cerca de poderem “partilhar experiências”, últimos dois anos, cuidou desta es- dois quilómetros. José Pontes, da algo que considera “difícil” nestas cola como se fosse a sua casa. administração do Agrupamento de escolas. “Era eu que ia buscar as crianças Escolas de Coruche, acredita que a Por outro lado, a partilha da mes- de manhã ao transporte da câmara. mudança não vai ser assim tão ra- ma sala e professor por alunos de Quando elas entravam para a sala, dical. “Muitas crianças moram en- anos diferentes “dificulta o traba- eu ficava por aqui. Dava-lhes o al- tre uma escola e outra”, diz. lho do docente, que tem de gerir moço e, à tarde, voltava a ir levá- Mas Natalina Marques, encarregada a atenção dispensada aos diversos los a casa. Depois, voltava à escola de educação da Maria, que iria ago- grupos de níveis diferentes. para fazer as limpezas”, conta. ra para o 3.º ano em Valverde, não No próximo ano, Coruche vai rece- A funcionária sempre morou, ali- pensa assim. A escola de Vale Man- ber um novo centro escolar e pelo ás, bem perto da escola. Tão per- sos, queixa-se, “já tem demasiados menos mais uma escola vai fechar to que da janela de casa ouvia as alunos” e Natalina tem medo que a portas no concelho. É para o novo crianças. É, por isso, com pena Maria não tenha o acompanhamen- centro que vão os quadros novos. que agora vê fechar a escola. Não to necessário. Este ano, ficarão empacotados. compreende o encerramento, uma José Pontes não arrisca dizer que Contactada pela Renascença, a vez que já quando ela ali andou, as escolas com menos de 21 alu- Câmara de Coruche adiantou que “há quase 40 anos”, o número de nos devem ser encerradas, tal a escola de Valverde vai ser usada crianças “era mais ou menos o como previsto pelo Ministério da para ateliês pedagógicos ou será mesmo”. Educação. Defende que é preciso cedida a associações desportivas Entretanto, o que mudou foram as ter em conta a especificidade de ou culturais. condições da escola. Ganhou um cada região. Mas acrescenta que Versão vídeo em www.rr.pt. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 5. REGRESSO ÀS AULAS Expectativas Pais e professores com alguma apreensão » Marta Velho FNE com esperança O nervosismo do início das aulas não é exclusivo dos alunos. Os pais e os professores sentem-se também an- Já João Dias da Silva, da Federação Nacional da Edu- siosos com os desafios que este ano lectivo promete. cação (FNE), tem uma expectativa mais positiva e olha “Existem três situações que nos causam uma certa pre- para os meses que se avizinham com esperança. ocupação: o novo Estatuto do Aluno, o encerramento Dias da Silva manifesta o desejo de que este ano lec- das escolas com menos de 21 alunos e a junção das tivo seja uma oportunidade, bem aproveitada, para escolas 2/3 com as Secundárias”, enumera Hermínio restabelecer a confiança no sistema educativo e nos Correia, da Confederação Nacional das Associações de profissionais do sector. Pais (CONFAP). A FNE pretende, sobretudo, recentrar o papel do do- PÁG. Querendo tranquilizar os encarregados de educação, a CONFAP esteve, durante as férias, a trabalhar estes cente no trabalho de responsabilidade que tem junto dos alunos. “É preciso acabar com este afogamento de 05 assuntos de forma a melhor poder ajudar na resolução de qualquer problema com que os pais possam vir a deparar-se. Além disso, este representante conta que a CONFAP tem estado em contacto com a tutela, “para cada professor na realização de tarefas burocráticas e administrativas, de papéis e relatórios, perfeitamente inúteis e desnecessários, e na participação em reuniões sucessivas que lhes esgotam a totalidade do tempo de assegurar que tudo estava devidamente legislado e que que dispõe para trabalhar com os alunos”, diz o res- as dúvidas estariam resolvidas”. ponsável da FNE, em jeito de desejo para 2010/2011. Dúvidas e incertezas também estão presentes no espí- Visões distintas, mas um ponto em comum: tanto pais rito dos responsáveis da Confederação Nacional Inde- como professores aguardam com expectativa o arran- pendente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE). que de mais um ano lectivo. A porta-voz da organização, Maria José Viseu, acredita que o início do ano lectivo será um pouco atribulado, “sobretudo, em relação às escolas do primeiro ciclo que foram encerra- das”. A porta-voz da CNIPE acrescenta que “há muita contestação por parte dos encarregados de educação”. A CNIPE acredita, ainda, que a junção de várias escolas e agrupamentos poderá vir a ser, tam- bém, um ponto de discórdia e contestação. FENPROF critica “economicismo” Do lado dos docentes, Mário Nogueira, da Fe- deração Nacional dos Professores (FENPROF), é peremptório ao afirmar que este ano lectivo “começa mal, com o agravamento dos níveis de precariedade”. O sindicalista refere-se ao aumento do número de docentes contratados e consequente dimi- nuição de professores nos quadros, lembrando que as condições de trabalho dos primeiros são inferiores às dos segundos. A FENPROF acredita que as últimas medidas to- madas pelo Ministério da Educação são motiva- das por uma redução orçamental para o sector: “Tudo isto foi feito - e, aliás, dissémo-lo em Julho e Agosto - com uma intenção, que é uma intenção de poupar, uma intenção economicis- ta e que, tendo sido cega, não teve em conta as consequências que isto pode ter para o ano lectivo”. Mário Nogueira diz ainda que as preocupações Nuno Santos/RR dos sindicatos vão mais longe: a FENPROF acre- dita que as indicações para o Orçamento de Estado de 2011 são de impor cortes ainda mais radicais na área da Educação. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 6. REGRESSO ÀS AULAS Educação Sexual Nova lei não colhe consenso » Domingos Pinto acompanhem de perto os conteúdos e a forma como Em vésperas da abertura de mais um ano lectivo, a é dada a disciplina: “A escola tem, neste momento, nova lei sobre a disciplina de Educação Sexual nos en- mecanismos onde as famílias estão representadas sino Básico e Secundário está a gerar uma enorme con- em permanência, pelo que os pais podem e devem trovérsia na comunidade educativa, sobressaindo as ser consultados e informados sobre os programas de críticas dos pais, professores e alunos. educação sexual que vão acontecer na escola e que Em causa estão aspectos como a obrigatoriedade da vão acontecer na turma específica dos seus filhos. Eu, disciplina e também a forma como e por quem serão como pai, posso exprimir as opiniões que queira sobre dados os conteúdos definidos na lei de Agosto de 2009. os assuntos e sobre a educação sexual que deve ser O articulado define para a disciplina uma duração míni- dada numa perspectiva de debate plural”. PÁG. ma de seis horas por ano lectivo, no primeiro e segundo ciclos, e de 12 horas, no terceiro ciclo do Básico e no Nesta lógica, o responsável diz serem “incompreen- síveis” as críticas que têm sido feitas, considerando 06 Secundário. No primeiro ciclo, a disciplina é dada pelo professor nas turmas, devendo as aulas, nos segundo e terceiro ciclos do Básico, ser integradas preferencialmente nas que elas partem “basicamente”, de quem simples- mente “se opõe à educação sexual”, por a encarar como “uma ameaça para os seus filhos ou para as suas famílias”, por achar que “vai aparecer gente militante áreas de formação cívica e nas áreas de projecto. e radical a pregar a educação sexual às crianças e aos Já no Secundário, como não há estas áreas de forma- jovens”. ção cívica e de projecto, serão as próprias direcções de Duarte Vilar defende que se tem verificado, em muitas turma das escolas e os directores de turma a definirem escolas, o desenvolvimento de “experiências bastante como serão ministradas as 12 horas em cada turma e ricas de trabalho com crianças e jovens”, pelo que a em cada ano. APF insiste, “fortemente, na formação e na prepara- A escola tem que ter uma equipa com um professor ção dos professores, não só numa perspectiva de serem coordenador que define os locais, ocasiões e espaços capazes de levarem à prática o que está na lei, mas curriculares em que vão ser abordados os temas de também numa perspectiva global, de saberem lidar de educação sexual. forma adequada com a sexualidade das suas crianças e dos seus jovens”. APF a favor Família posta de parte A favor da lei está a Associação Portuguesa para o Pla- neamento da Família (APF), organismo que vê no arti- Se a APF defende a lei tal como ela está feita, o mesmo culado a definição de um modelo correcto para educar já não acontece com outros parceiros da área da edu- os jovens para a sexualidade. cação, como é o caso das associações de pais. O coordenador executivo da associação, Duarte Vilar, Maria Ferrugento Gonçalves, presidente da Associação destaca o facto de a nova lei dar autonomia às escolas de Pais do Colégio de Santa Maria, em Lisboa, clas- nesta matéria e de permitir que os pais e educadores sifica esta legislação como “um bocadinho abusiva”, uma vez que não cabe ao Governo legislar “sobre uma matéria que é da exclusiva competência dos pais”. “É um direito que está consagrado na Constituição. Os pais têm o direito e o dever de educar os seus filhos. A educa- ção é algo que é transversal, uma área onde o Governo não devia interferir”, sublinha a responsável da Associação de Pais do Colégio de Santa Maria. Para Maria Ferrugento Gonçalves, a nova lei é “redutora” e “põe em causa a liber- dade dos pais darem aos seus filhos a edu- cação sexual que querem”. “A educação sexual deve ser dada na fa- mília e na família natural onde existe um pai e uma mãe. As questões da educação sexual não surgem só na fase da puber- dade e da adolescência, mas surgem logo desde pequeninos. Toda a curiosidade sexual deve ter uma resposta adequada, integrada dentro deste contexto familiar, RR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 7. REGRESSO ÀS AULAS onde se vivem os valores que se preconizam e que se ticas, os textos e os cadernos porque vamos abordar pretendem transmitir às crianças de uma forma na- aqui uma matéria, vamos debater um texto sobre a tural, sem grandes imposições, e dando as respostas questão da homossexualidade’”. próprias de cada um para cada idade e para cada si- A nova lei “tira a possibilidade de a família decidir se tuação”, defende Maria Ferrugento Gonçalves, subli- quer dar este tipo de informação aos seus filhos no nhando ainda que esta posição “não tem nada a ver seio das aulas, em âmbito escolar, acabando por não com questões confessionais”, já que se trata de “uma ter alternativa”, acrescenta o coordenador da Plata- questão de princípio e de respeito pela dignidade da forma Resistência Nacional, sublinhando o princípio pessoa humana em cada uma das fases do seu cres- de que “os pais são soberanos” na educação dos seus cimento até à altura em que cada um é responsável filhos. pelos seus actos”. A organização está a preparar uma carta em queos seus membros afirmam que não autorizam os filhos Estado totalitário a frequentar estas aulas. A missiva será entregue na abertura das aulas e é para assumir “até ás ultimas Aos protestos contra nova lei da educação sexual jun- consequências”, porque “não faz sentido” que “o Es- PÁG. ta-se também a Plataforma Resistência Nacional, que já conta com um milhar de membros. tado se meta numa matéria deste tipo”, passando “a impor um esquema totalitário”. 07 Esta organização da sociedade civil olha para o arti- culado como uma forma de o Estado tentar impor um modelo de educação sexual. O coordenador da Plataforma Resistência Nacional, “O Estado não pode impor, jamais, convicções filosó- ficas, religiosas ou qualquer outra que seja. A escola não funciona nesse sentido, a escola tem um papel subsidiário em relação à família”, remata Mesquita Artur Mesquita Guimarães, sublinha que a organiza- Guimarães. ção está “objectivamente contra a lei” e não “contra a educação sexual”. Críticas também da Igreja Católica “Somos contra a lei 60/2009 de 6 de Agosto, porque não permite a liberdade de escolha, uma liberdade As dúvidas e críticas à nova lei da educação sexual que fica muito diluída, pois não se sabe bem onde são também partilhadas no seio da Igreja Católica, começa nem onde acaba”, esclarece o coordenador que não foi ouvida pelo Governo sobre esta matéria, da Plataforma Resistência Nacional. apesar de ser uma questão com fortíssima componen- Mesquita Guimarães diz que a lei “impõe um modelo te ética. único de Estado”, que, além de único, “não é suficien- O presidente da Associação das Escolas Católicas, Pa- temente claro”, porque a sua aplicação “pode variar dre Querubim Silva, faz duras críticas aos responsá- consoante o estabelecimento de ensino” e consoante veis pela elaboração desta lei: “As escolas, porventu- “o professor que aparecer pela frente”. ra com a indicação do Ministério, confiaram-se a uma O responsável da Plataforma Resistência Nacional, determinada entidade que forneceu materiais, alguns alerta para os problemas que levanta o facto de não dos quais são absolutamente inadequados para idades haver “um formato absolutamente definido”, o que a que dizem respeito e, por outro lado, as turmas não permite que “tudo pode acontecer”. Mesquita Gui- são para gente toda igual”. marães exemplifica: “Num determinado dia, pode ser O presidente da Associação das Escolas Católicas sus- abordado um módulo de ‘x’ minutos numa aula de tenta que estas questões “passam mais por um ritmo formação cívica, no âmbito da educação para a saúde pessoal do que por um ritmo de sala de aula” e cri- e, noutro dia, numa aula de Português, a professora tica também o ponto da lei que prevê os gabinetes dizer ‘meus amigos, agora vamos arrumar as gramá- de atendimento do aluno previstos: “Aparentemente, funcionam mais como um espaço secreto, onde não se sabe o que é que se vai dizer e que orientação é que se vai dar, e então fica tudo entre quem está no gabinete de aconselhamento e quem aparece para se aconselhar. A família, muitas vezes, pas- sará absolutamente à margem de tudo isso”. Para este sacerdote, que representa a Con- ferência Episcopal Portuguesa no Conselho Nacional de Educação, o modelo que se pretende impor “não tem presente valores essenciais da pessoa humana”, já que dela fornece “uma visão redutora”. Da sexuali- dade, a visão imposta é a “utilitarista”. O panorama não deixa antever um ano lec- tivo tranquilo no que diz respeito à educa- ção sexual nas escolas, onde são mais as dúvidas e divergências do que os consen- sos. RR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 8. REGRESSO ÀS AULAS PTC - Protege o teu Coração por Margarida Góis, Associação Família e Sociedade A Associação Família e Sociedade acredita que a conteúdos e materiais didácticos por ela criados, educação da sexualidade faz parte da educação aos professores por ela formados. da integralidade do ser humano e deve ser vista Pensamos também que devia haver a obrigatorie- como uma educação da afectividade e, num âm- dade, independentemente do programa escolhido bito mais amplo, como uma educação do carácter. pela escola, de os encarregados de educação se- Só jovens fortes e maduros poderão responder de rem informados, por escrito, e darem autorização forma segura aos desafios do seu crescimento se- expressa para aplicação do mesmo aos seus filhos xual e afectivo, essencial para uma vida afectiva (com os conteúdos fundamentais e a forma como plenamente assumida e comprometida enquanto serão transmitidos). O programa aplicado pela as- PÁG. adultos. Pensamos também, na linha da Constituição da sociação, o PTC, prevê esta autorização inicial. O PTC - Protege o teu coração toca também os 08 República, que “o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directri- zes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas”. Consideramos ser difícil programar o conteúdos abordados na regulamentação da lei. Só que tem uma abordagem muito diferente. Em vez de ver o homem como um mero ser biológico, que também é, vê-o na sua integralidade. Isso explica ensino desta matéria de forma completamente a intenção do programa de educar a sexualida- “neutra”. E pensamos que só será saudável e vivi- de através da educação do carácter. Como expli- ficador se houver outras maneiras de ver e ensinar ca Maria Luísa Velez, co-fundadora do programa, a educação da sexualidade nas escolas. “todos temos carácter, mas a vantagem está em Há dois anos que trabalhamos com o programa “Pro- ter um bom carácter. A nossa metodologia é di- tege o teu Coração” - ou PTC -, na área da educação recta, clara, muito participativa. Fazemos pensar da afectividade e da sexualidade. Trata-se de um profundamente. O adolescente é rebelde e não programa com 17 anos de existência, desenvolvido conhece as suas cinco dimensões: social, racio- actualmente em 18 países, destinado a jovens dos nal, emocional, física e transcendente. Propomos 10 aos 18 anos e a pais e educadores (detalhes em: ‘truques’ para se descobrir a si mesmo, através http://www.protegetucorazon.com). Este programa de técnicas de identificação. Os pais e professores – que faz alusão ao coração como eixo central do ser também adquirem ferramentas para continuar humano – fundamenta-se na antropologia filosófica, esse trabalho de descoberta”. psicologia, medicina, estatística e sociologia. O seu Há um convite à aproximação dos pais em relação objectivo principal é apoiar a formação do carácter ao mundo dos filhos. Para tal, dão-se igualmente e da sexualidade de adolescentes. outros conteúdos. A comunicação mudou drastica- A associação acredita que, em matéria de educa- mente a relação. Antes, tocava o telefone, aten- ção sexual, deve sempre prevalecer a filosofia de dia o pai. Hoje, os jovens enviam mensagens a sós vida de dos pais, seja ela qual for. A escola não e ninguém conhece todos os seus amigos. Muitos deve impor quaisquer valores. Sendo um tema de pais ignoram a linguagem tecnológica e isso cria grande delicadeza, os pais devem poder optar que muita distância. os seus filhos frequentem as sessões existentes na Em resumo, o que o adolescente necessita é de escola dos filhos, devem ter conhecimento dos conhecer-se a si mesmo, aprender a resistir às conteúdos explorados e devem poder opinar sobre pressões negativas e a aceitar as positivas. Adqui- os mesmos, decidindo em conjunto com os profes- rir uma certa capacidade para gerir as emoções, sores e a comunidade escolar. diferenciar o amor verdadeiro do enamoramento, É muito importante, em todo o caso, que nas es- substituir as gratificações imediatas pelas dura- colas haja pluralidade e diversidade. Somos con- douras. Não cortemos o seu destino com soluções tra os monopólios, sobretudo político-ideológicos. aparentes que vão em detrimento de toda a sua Daí, a importância do projecto que propomos, pessoa, e que acarretam entre outros efeitos, bem como do aparecimento de outros, muitos consequências emocionais já comprovadas: medo outros, que defendam outras linhas pedagógicas ao compromisso, sensação de ter sido utilizados, e filosóficas no ensino/comunicação destas maté- baixa da auto-estima, relações arruinadas. Em rias. Não é normal que, num país que se diz plural três palavras: deterioração do carácter. Como e pluralista, o ensino de tal matéria esteja es- dizia ainda Juan Velez, “não se pode reduzir o treitamente ligado a uma única organização, aos amor, nem o sexo, a um problema de látex”. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 9. REGRESSO ÀS AULAS Estatuto do Aluno Escolas têm dois meses para adaptarem regulamentos às novas regras O ano lectivo arranca agora, em Setembro, mas as es- Com as novas regras, o Governo deixa cair as provas colas terão ainda Outubro e Novembro para adaptar os de recuperação, uma iniciativa da equipa de Maria de seus regulamentos ao novo Estatuto do Aluno. Lurdes Rodrigues, anterior ministra, para os estudan- A informação foi confirmada à Renascença por fonte tes com excesso de faltas. do Ministério da Educação. O documento recupera, ainda, a distinção entre fal- O diploma foi promulgado pelo Presidente da Repúbli- tas justificadas e injustificadas, prevendo um alargado ca no final de Agosto, depois de ter sido aprovado no plano de promoção da assiduidade dos alunos. Parlamento a 22 de Julho, com votos favoráveis do PS e O novo Estatuto do Aluno foi publicado em Diário da PÁG. do CDS-PP. Os restantes partidos votaram contra. República na última quinta-feira, dia 2. 09 DR Computador Magalhães Novos computadores vão chegar às escolas já no início do ano A ministra da Educação, Isa- mi Comunicações Móveis, que gere o “e-escolinhas”. bel Alçada, deixou, no final O relatório final concluiu que o Executivo criou “uma d Conselho de Ministros do situação de monopólio” que favoreceu a empresa J.P. de 19 de Agosto, a ga- Sá Couto, fabricante do Magalhães, e usou a Fundação rantia de que 250 mil para as Comunicações Móveis como “intermediário” do computadores Maga- negócio. lhães começarão a ser No terreno, esta situação provocou atrasos na entrega distribuídos no arranque dos computadores às crianças. Por tudo isso, no final de do ano lectivo. Julho, o balanço feito pelos professores ao programa Isabel Alçada afirmou “e-escolinhas” era negativo. que já estava tudo em q Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional de cur para que professores e curso Professores, queixava-se, sobretudo, de falta de for- alunos l recebessem a nova versão mação dos docentes para lidarem com os Magalhães do portátil, que é tecnologicamente mais avan- e também de desadaptação dos manuais e programas çada do que o modelo distribuído ao longo do primeiro escolares ao portátil do Governo. ano do programa “e-escolinhas”, em 2008/2009. A crítica foi reiterada por Manuel Grilo, do Sindicato O chamado “Mg2” tem um teclado mais confortável e dos Professores da Grande Lisboa, que acrescentava, um ecrã maior, características que correspondem a so- ainda, que as expectativas dos alunos mais novos ti- licitações de pais e alunos. nham sido frustradas. Estes estudantes, por causa de O ano lectivo de 2009/2010 ficou manchado pela longa atrasos e questões políticas, não tinham recebido o investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito à computador Magalhães, ao contrário dos alunos mais actuação do Governo em relação à Fundação para as velhos, no ano anterior. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 10. REGRESSO ÀS AULAS Ensino artístico Escolas de música recusam limitação do apoio financeiro O Ministério da Educação e os estabelecimentos de en- ciação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Co- sino artístico articulado travam um confronto que já operativo (AEEP), lembra que o diploma pode afectar, chegou à Justiça. sobretudo, a continuidade das aulas. O tribunal aceitou a providência cautelar do Conser- O arranque do ano lectivo, para já, não está em causa, vatório de Música, Dança e Arte Dramática de Lisboa e garante Queiroz e Melo, sublinhando, contudo, que “os ficou suspenso o despacho da tutela, que cancelava o alunos começam as aulas e os ordenados serão pagos”, concurso para novos apoios financeiros para o sector. embora não saiba “até quando”. De acordo com o diploma do gabinete de Isabel Alça- “Há um momento em que, acabando o dinheiro, aca- da, publicado a 3 de Agosto em Diário da República, as bam as aulas”, conclui, afirmando, ainda, esperar que verbas são limitadas para esta vertente, no ano lectivo a tutela consiga chegar a uma solução, em conjunto PÁG. 2010/2011. Na prática, quem não recebia financiamen- to no ano anterior, também não teria agora direito às com os parceiros. 10 verbas. Além disso, as escolas com apoios do Estado deixavam de poder inscrever mais alunos e também de pedir mais dinheiro do que aquele que já recebiam no ano anterior. A porta-voz da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Maria José Viseu, assume que a decisão do Ministério da Edu- cação de congelar as verbas, pode obrigar os pais a to- marem medidas drásticas, como “retirar os seus filhos para outras escolas”. A representante dos encarregados de educação afirma que esta situação “contradiz a opção de que os pais poderiam escolher a escola onde queriam que os seus filhos fossem matriculados”. Já Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Asso- DR Catarina Santos/RR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 11. REGRESSO ÀS AULAS Educação Moral e Religiosa Católica Mais matrículas no Básico O novo ano lectivo vai ter mais alunos a frequentar a D. António Francisco dos Santos considera fundamental disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, sen- que a disciplina seja acolhida pelos próprios jovens: do o aumento mais significativo no primeiro ciclo do “Temos de continuar a trabalhar para, simultaneamen- ensino Básico. te, merecer a credibilidade dos alunos, que esperam Em vésperas da abertura do novo ano escolar, este é o da Igreja uma resposta através das aulas de Educação dado mais relevante avançado ao Página1 pelo coorde- Moral e Religiosa Católica, e satisfazer a expectativa nador do Departamento do Ensino Religioso no Secreta- das famílias, dos pais e encarregados de educação”. riado Nacional de Educação Cristã, Dimas Pedrinho. O Bispo de Aveiro indica que se está “a reflectir, para Este responsável dá também conta da estabilidade que elaborar e preparar textos que possam, através de ma- a disciplina vem conhecendo, também no Secundário, nuais, ajudar e contribuir para a valorização da presen- PÁG. onde metade dos jovens portugueses optam pela ma- trícula na disciplina. ça da igreja nas escolas, através da Educação Moral e Religiosa Católica”. 11 “Evidentemente, que há zonas do país onde a percen- tagem é um bocadinho acima” dos 50% e noutras fica “um bocadinho abaixo”, mas “as diferenças não são assim tão significativas, de diocese para diocese”. D. António Francisco dos Santos acrescenta, neste con- texto, que, mais do que olhar para as ambiguidades da lei, é preciso apostar forte no As zonas Norte e Interior, tal como Angra do Heroísmo, trabalho da Igreja registam os índices de frequência superiores, mas “há nas escolas. uma certa continuidade”, diz Dimas Pedrinho, atiran- Nestas declarações do um exemplo: “O Algarve tem também uma boa fre- ao Página1, D. quência”. António sublinhou A subida de inscrições que se verifica no primeiro ciclo ainda que a disci- constitui, para a Igreja, “um sinal de esperança”, tanto plina de Educação mais que “têm surgido dificuldades de diversa nature- Moral e Religiosa za, ao nível da criação de condições para a leccionação Católica não deve da disciplina”, que é “facultativa para os alunos, mas ser confundida de oferta obrigatória pelas escolas, desde que haja com a catequese: alunos inscritos”. “A catequese não O coordenador do Departamento do Ensino Religioso substitui a aula da no Secretariado Nacional de Educação Cristã defende disciplina de Edu- RR que a legislação que regula o ensino religioso nas es- cação Moral e Reli- colas, deveria ser mais adequada às realidades locais. giosa Católica e esta disciplina não repete aquilo que “O problema está na própria legislação, não na legisla- na catequese se realiza. Uma é complementar da outra ção especifica, mas na legislação conjugada”, algo que e uma e outra são indispensáveis para o crescimento na faz com que “muitas vezes, os próprios directores das maturidade dos valores humanos e dos valores cristãos escolas fiquem um bocadinho perturbados, entenden- e para educação cristã das crianças, dos adolescentes do que não há condições para leccionar a disciplina”, e dos jovens”. quando, por vezes, “até existem”. Assim, para o Bispo de Aveiro, esta realidade exige “um Dimas Pedrinho sugere que “nos casos em que a disci- trabalho conjunto entre as paróquias, os professores, plina não pode ser leccionada por questões práticas, concretamente os párocos, os catequistas e os profes- organizativas, deviam ser as próprias escolas a comu- sores de Educação Moral e Religiosa Católica”. nicá-lo, quer aos serviços diocesanos quer às próprias direcções regionais, porque “isso seria meio caminho” Pais são insubstituíveis para fazer com a legislação seja revista. Nos restantes ciclos, concretamente no segundo e O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa também no Secundário, não têm surgido dificuldades (CEP), D.Jorge Ortiga, sublinha o facto de os pais tam- significativas na leccionação da disciplina, embora o bém serem chamados a participar na tarefa, porque se responsável pelo ensino religioso nas escolas defenda trata dos “primeiros educadores e educadores insubs- a necessidade de os professores “motivarem os alunos, tituíveis, devendo intervir na escolha da educação que criando uma dinâmica que dê visibilidade a esta aérea querem dar aos seus filhos”. da formação humana, que é uma prioridade para a ac- D. Jorge Ortiga lembra que, “se são pais católicos, ção da igreja que tem de ser valorizada”. crentes, devem reconhecer que, para além da cate- quese, a formação na área escolar é qualquer coisa de Cativar os jovens imprescindível. Muitos pais dizem que deixam os filhos livres. Seria bom que os deixassem livres, mas eluci- No mesmo sentido, pronuncia-se, em declarações ao dando-os para que reconhecessem a aula de Educação Página1, o Bispo de Aveiro, que é vogal da Comissão Moral e Religiosa Católica como algo constitutivo da Episcopal da Educação Cristã. sua própria formação”. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 12. REGRESSO ÀS AULAS Debate Pais são os primeiros educadores dos filhos » Raquel Abecasis opção por uma escola privada “não os desobriga de par- Na semana em que se inicia um novo ano lectivo, o ticiparem activamente e de se interessarem, junto da programa “Princípio e Fim”, da Renascença, sentou à escola, pela formação que é dada aos seus filhos” mesma mesa Maria Ferrugento Gonçalves, uma mãe que Para os três participantes no programa emitido no fim- optou por colocar os seus filhos num colégio católico, de-semana, é ainda mais imperioso que a voz dos pais Manuel Sousa Guedes, que tem os filhos numa escola seja ouvida agora que as escolas vão abrir espaço para pública, e Alexandra Chumbo, presidente da Associação a educação sexual. “Os curricula desta disciplina estão Família e Sociedade, organização que se empenha em abertos às propostas de pais e educadores, pelo que colaborar com escolas e pais em matérias que têm que é fundamental que os pais saibam o que a escola dos ver com a educação. seus filhos pretende fazer e participem activamente na PÁG. “Os pais são os principais e primeiros educadores dos filhos. É muito importante que não se esqueçam disso elaboração dos programas”, alertou Alexandra Chum- bo, cuja associação tem uma proposta de curriculum 12 e que tenham consciência de que o exemplo que dão aos filhos é essencial para a sua formação”, alertou Ale- xandra Chumbo, sublinhando que, em matéria de edu- cação, os pais não devem descansar nas escolas ou nos para a disciplina, intitulado “Protege o teu coração”. A proposta já foi aceite por algumas escolas e pelo Minis- tério da Educação. Deste debate saiu também um conselho consensual: professores. durante o tempo escolar, os pais não se devem limitar Manuel Sousa Guedes considera fundamental a parti- a preocupar-se com a execução dos trabalhos de casa, cipação nas associações de pais, tanto mais que “hoje mas devem ter “tempo de qualidade” para gastar com em dia, a legislação escolar permite uma participação os seus filhos. “Saber quem são os amigos, saber o que muito grande dos pais nos órgãos de gestão da escola”. interessa aos filhos” é muito importante para acompa- Esta opinião é partilhada por Maria Ferrugento Gonçal- nhar o ano lectivo e saber detectar e enfrentar eventu- ves, que garante que o facto de os pais fazerem uma ais dificuldades que venham a surgir. DR r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 13. REGRESSO ÀS AULAS Manuais escolares ASAE abriu seis processos-crime por venda acima dos valores estabelecidos Uma acção de fiscalização da Autoridade de Seguran- ça Alimentar e Económica (ASAE) à venda de manuais escolares levou à instauração de seis processos-crime a seis estabelecimentos que vendiam os manuais por valores superiores ao estabelecido na convenção de preços. Foram, ainda, multados 22 estabelecimentos de venda. A fiscalização da ASAE foi efectuada em diversos pontos PÁG. do país, entre 27 de Agosto e 3 de Setembro,. A acção envolveu 65 brigadas da ASAE e foram inspec- 13 DR cionados 273 estabelecimentos. O regresso às aulas e a progressiva perda da liberdade? por Alexandra Pinheiro Fórum Liberdade de Educação Começa um novo ano lectivo, desta vez marca- Outubro. Era assim no Estado Novo; a liberdade do pela reorganização escolar, com Mega Agru- do 25 de Abril continua a não chegar à educação. pamentos onde ninguém conhece ninguém, com Os resultados educativos portugueses serão cada a suspensão do financiamento do Estado a vários vez mais decepcionantes e o Orçamento de Esta- programas escolares do ensino artístico, contra a do não cessará de nos exigir maiores sacrifícios. vontade dos alunos e dos pais, e com a introdução da Educação Sexual Obrigatória. Se não houver coragem de mudar, o ME não conseguirá libertar-se da gestão administrativa Para onde vais, Portugal? Infelizmente, a edu- da escola, nem se concentrará na definição das cação em Portugal vai no sentido de um maior grandes linhas de política educativa a longo pra- arbítrio do Estado-Educador através da progressi- zo e, muito especialmente, no desenvolvimento va aniquilação da oferta “pública” de ensino não de mecanismos de apoio aos pais e às escolas no estatal. Temos um Estado-Educador que acena ao desenvolvimento do projecto educativo em que povo português a bandeira da autonomia das es- pais e professores acreditarem. Nunca veremos colas, que mais não é do que uma pura delegação nascer um universo de escolas públicas diferen- de poderes, sempre controlada pela “autorida- ciadas, de acesso universal e gratuito, com uma de burocrata”. Com a monopolização do ensino oferta educativa adaptada às necessidades de di- nas mãos do “senhor feudal”, os cidadãos mais ferentes comunidades, seguindo métodos peda- pobres são cada vez mais servos da “vanguarda gógicos alternativos, com autonomia curricular e iluminada” que controla o poder político. Para com grande participação da comunidade escolar onde vais, Portugal? onde a igualdade de oportunidades é assegura- da. O futuro de Portugal exige um despertar das consciências dos Portugueses! Para o Fórum Liberdade de Educação o caminho é claro! Só com a vitalidade, energia e criativida- Se tudo ficar como está, o Ministério da Educa- de de todos os agentes educativos será possível a ção (ME) continuará atarefado na resolução das Portugal recuperar a fraca qualidade do ensino. questões administrativas e laborais das “suas” De outra forma, continuaremos a ser enganados, escolas estatais, anestesiando cada vez mais a ca- com a propaganda que são o Magalhães II e a in- pacidade de progresso das escolas aos novos desa- trodução da videovigilância nas escolas e outras fios do ensino e tornando os professores em me- distracções que possibilitarão o acesso a uma ros funcionários da máquina “educativa” de 5 de educação de qualidade a todos. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 14. REGRESSO ÀS AULAS Duas gerações O tempo da Primária e o tempo do 1.º ciclo do Básico Maria Emília, 57 anos, foi professora primária durante 33. Marlene Andrade, 27 anos, é há cinco professora do 1.º ciclo do ensino Básico e já passou por quatro escolas. Como a própria designação da profissão revela, são pessoas e professoras de tempos diferentes. Marlene cumpre, contudo, a mesma missão que María Emília cumpriu durante mais de três décadas. Fá-lo, apenas, de modo diferente. Página1 desafiou as duas professoras a partilharem as suas experiências. Encontre o leitor as diferenças entre a “Primária” e o 1.º ciclo do Básico. Também na versão vídeo em www.rr.pt. PÁG. » André Rodrigues e Letícia Amorim Sob o fundo negro do quadro de ardósia, meninos de 14 bata branca mostravam sorrisos desdentados. A um dos cantos da objectiva, a professora primária com o indis- farçável orgulho. Um só clique e o primeiro dia de aulas entrava para a posteridade. Será mais ou menos esta a memória que muitos terão do primeiro dia de aulas na “Escola Primária”, que o tempo renomeou para 1.º ciclo do ensino Básico. À primeira vista, uma e outra são a mesma coisa. Nada mais, nada menos do que o percurso entre o primeiro e o quarto anos… Ou a primeira e a quarta classe. dar aulas, pelo menos, mais este ano lectivo. “Vai ser a Mas, ao longo dos anos, não foi só a nomenclatura que primeira vez que regresso ao trabalho com alunos que evoluiu. Com ela, muitos outros aspectos da vida esco- já conheço. Será muito mais produtivo e rentável do lar evoluíram. que nos outros anos em que permaneci na mesma esco- No que diz respeito aos docentes, uma das grandes mu- la apenas por um ano lectivo”. Marlene diz-se “ansio- danças foi, ao mesmo tempo, a maior dor de cabeça: a sa” por regressar a Cascais, mas, tal como no passado, instabilidade do vínculo profissional. Para quem ingres- o emprego só está garantido até Maio. Depois disso, a sa na docência, a incerteza ensombra as perspectivas angústia e a ansiedade crescem até Setembro. “Nunca de um futuro promissor. sei para onde vou a seguir”, afirma, resignada. E conti- Marlene Andrade licenciou-se em 2005, na Escola Supe- nua: “Não sei quando, nem em que dia ou em que ano rior de Educação de Viseu. Desde o início da carreira, irei sentir a estabilidade que é tão necessária para me nunca soube o que era um contrato seguro. E já lá vão dedicar de forma ainda mais plena ao meu trabalho”. cinco anos. Há quatro, conseguiu, pela primeira vez, Mas Marlene diz ter em si “um certo espírito aventu- uma colocação a tempo inteiro, nos Açores. De lá, já reiro” e procura sempre “encarar a situação pelo lado esteve mesmo ao lado de casa, em Marco de Canaveses, positivo”. A vida de professora-saltimbanco fez crescer e voltou a ser deslocalizada para Cascais, onde ficará a o leque de amizades: “São as coisas boas que também levamos disto”. “Tínhamos sempre escola” Bem diferente foi a experiência de Emília Couto. Come- çou a dar aulas em 1975/76, em pleno período pós-re- volucionário. “As mudanças no ensino aconteciam qua- se todos os dias. Foram tempos muito conturbados”, recorda esta docente, aposentada há quatro anos. “A vantagem”, diz, “eram as colocações”. E as incerte- zas - “claro que havia incerteza” - era de cariz diferen- te, porque havia “a certeza de termos trabalho no ano lectivo seguinte”. “Tínhamos sempre escola, agora não. Pelo que ouço dos colegas mais novos, Setembro é sempre uma angústia, porque nunca sabem se vão ou não conseguir coloca- ção. No meu tempo, não era assim, embora tivéssemos outras dificuldades”, diz. Hoje, como há 30 anos, o início da carreira era difícil. “Era normal sermos colocados em zonas muito distantes da nossa área de residência. Hoje, todos os jovens têm r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 15. REGRESSO ÀS AULAS carro. Sentem-se desenraizados, é certo, mas, nesse as- pecto, as dificuldades são muito menores do que eram no passado. A mobilidade está muito mais facilitada. PÁG. Quando ficava colocada longe, tinha de ficar hospedada e raramente vinha a casa. Só nas férias”, conclui. 15 Por outro lado, as sucessivas mudanças no sistema de ensino alteraram de forma decisiva o estatuto do do- cente perante a opinião pública. No passado, era práti- ca comum a fixação de laços entre alunos e professores, relações de afectividade e, sobretudo, respeito. “No meu tempo, o professor chegava à sala de aula e um olhar era quanto bastava para que as crianças se comportassem convenientemente”, lembra Emília Cou- to. Hoje é bem diferente, “mas também não se deve exigir aos miúdos comportamentos que eles não estão habituados a ter. É tudo uma questão de educação. Eles não estão habituados assim com os pais”. E essa é, também, uma das razões para que a nova geração de professores “nunca tenha sentido esse privilégio acres- cido de ser professor. “É isso que eu sinto. Do ponto de vista social, a nossa profissão já não é olhada da mesma maneira”, desabafa Marlene Andrade. “No entanto”, continua a jovem professora, “há outras recompensas. Tenho orgulho na minha profissão, pelo que faço, pelo que os meus alunos me dão e por sentir que contribuo para o crescimento deles”. Menos cultura geral, mais facilitismo E o que dizer da evolução dos conteúdos curriculares? Qual o lugar da cultura geral que, segundo os mais anti- gos, enriquecia os programas da antiga escola primária? Há não muito tempo - 30, 40 anos -, os alunos eram descurado nos últimos tempos. E nem sempre por culpa obrigados a saber os nomes dos rios, onde nascem, por dos professores. onde passam e desaguam, as serras do território conti- Marlene advoga que a razão para este fenómeno reside nental e ilhas ou as principais linhas ferroviárias. no “facilitismo crescente no nosso sistema de ensino”, Era a cultura geral que se aprendia, mecanicamente e porque “os conteúdos estão lá, a exigência é que não”. de tenra idade, nos bancos da escola. Hoje, esses con- “Impõe-se, por isso, uma atitude mais pró-activa por teúdos permanecem nos planos curriculares do 1.º ciclo parte dos docentes”, alerta Emília Couto. “Não basta do ensino Básico. A forma de os transmitir é que mudou, ao professor chegar à sala de aula e limitar-se a ensi- “por vezes, de uma forma tão radical, retirando-lhes o nar a ler e a escrever, sem desenvolver a cultura geral sentido”, adverte Emília Couto. “Hoje, a escola prefere das crianças”. “Além disso”, afirma esta ex-professora promover outro tipo de conhecimento e os meninos não primária (como tanto gosta que lhe chamem), é neces- estão preparados para estimular a memória”. A tabuada sário extravasar o papel de um simples educador: “Mui- é o melhor exemplo, considera: “Se eles não aprende- tas vezes, a professora tem de ser mãe, ama, enfer- rem a memorizar algo tão simples como o 2x2, dificil- meira, médica, tudo isso e muito mais”. No fundo, ser mente irão apreender qualquer outro conteúdo mais mais “professora primária” e menos “professora do 1.º complexo, um dia mais tarde, na faculdade”. ciclo”, uma espécie de “todo-o-terreno” que atenda às Num ponto, Emília Couto e Marlene Andrade parecem necessidades da comunidade educativa que mudou por estar de acordo: o desenvolvimento da memória é fun- força das alterações que a sociedade impôs à escola. damental para o crescimento da criança, mas tem sido Versão vídeo disponível em www.rr.pt. r/com renascença comunicação multimédia, 2010
  • 16. REGRESSO ÀS AULAS Calendário Escolar 2010/2011 Educação pré-escolar Início das actividades educativas Termo das actividades educativas entre 8 e 13 de Setembro de 2010 5 de Julho de 2011 Interrupções das actividades educativas 1.ª de 20 a 31 de Dezembro de 2010 2.ª de 7 a 9 de Março de 2011 PÁG. 3.ª de 11 e 21 de Abril de 2011 16 Básico e Secundário 1.º Período Início: entre 8 e 13 de Setembro de 2010 Termo: 17 de Dezembro de 2010 2.º Período Início: 3 de Janeiro de 2011 Termo: 8 de Abril de 2011 3.ª Período Início: 26 de Abril de 2011 Termo: 9 de Junho de 2011 para os 9.º, 11.º e 12.º anos e 22 de Junho de 2011 para os restantes anos de escolaridade Interrupções 1.ª de 20 a 31 de Dezembro de 2010 2.ª de 7 a 9 de Março de 2011 3.ª de 11 a 21 de Abril de 2011 Jornalistas e grafismo: André Rodrigues, Cristina Nascimento, Domingos Pinto, Hugo Monteiro, Letícia Amorim, Marta Velho, Pedro Candeias, Raquel Abecasis, Rodrigo Machado, Teresa Abecasis Página1 é um jornal registado na ERC, sob o nº 125177. É propriedade/editor Rádio Renascença Lda, com o nº de pessoa colectiva nº 500725373. O Conselho de Gerência é constituído por João Aguiar Campos, José Luís Ramos Pinheiro, Luís Manuel David Soromenho de Alvito e Luiz Gonzaga Torgal Mendes Ferreira. O capital da empresa é detido pelo Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa. Rádio Renascença. Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa. r/com renascença comunicação multimédia, 2010