O documento apresenta três fotógrafos pioneiros de São Paulo: Militão de Azevedo, que fotografou a cidade entre 1862 e 1887; Guilherme Gaensly, que registrou o progresso da cidade entre 1894 e 1920; e Aurélio Becherini, que documentou São Paulo entre 1910 e 1939. As fotos mostram a transformação da cidade de vilarejo a metrópole.
1. São Paulo: Minha Cidade! 12
PIONEIROS
DA FOTOGRAFIA
PAULISTANA
“Um povo sem memória,
é um povo sem passado e sem futuro”
p/ avançar as fotos use as setas ou mouse (autor desconhecido)
2. A primeira notícia de um estabelecimento fotográfico em São Paulo, é de G1
24.11.1852*. Depois disso, muitos profissionais foram se estabelecendo, pois o G2
mercado, na cidade que progredia a olhos vistos, era promissor. Já as primeiras
vistas da cidade, foram feitas somente a partir de 1860, quando as máquinas, já
aperfeiçoadas, permitiam as tomadas instantâneas. As vistas eram compiladas em
álbuns de vinte ou trinta fotos, e oferecidas principalmente aos quintanistas da
Academia de Direito, como lembrança do local em que eles viveram durante os anos
de estudo. Foi nesse contexto que Militão de Azevedo começou a fazer suas vistas
de São Paulo. A grande diferença entre este, e os outros fotógrafos da época, é que
a maioria daqueles estúdios teve duração efêmera, enquanto que Militão atuou por
mais de 25 anos. O mais importante, no entanto, é que seus negativos originais (em
vidro), eram arquivados e relacionados, o que acabou por preservar a maior parte
do seu acervo (mais de 2.000 negativos), que atualmente estão sob a guarda do
Museu Paulista. Depois desse pioneiro, muitos outros seguiram seus passos, e
dentre esses, escolhemos mais três, que continuaram o trabalho, quase que em
sequência, até meados do século XX.
Nota: sobre as fotos originais, foi feito um trabalho de restauração, em
Photoshop, para corrigir riscos, pequenas manchas, assim como dar um equilíbrio de
luminosidade e contraste, e estabelecer uma tonalidade semelhante
em todas as fotos.
Gilberto Calixto Rios
* Conforme relatado no livro “Noticiário Geral da Photographia Paulistana 1839-1900”, de Paulo Cezar Alves Goulart e Ricardo
Mendes, do Centro Cultural São Paulo, de 2007.
4. Rua da Imperatriz em 1862, atual rua 15 de Novembro.
Ao fundo, avista-se parte da torre da antiga catedral, no
então Largo da Sé. Nota: nessa época a rua tinha seu
início na rua Direita, e não na praça, como ocorre
atualmente.
MILITÃO AUGUSTO DE AZEVEDO
Desde que a fotografia fora introduzida em São Paulo, em meados do século
XIX, vários profissionais foram se estabelecendo na cidade. Entre estes, um
em particular, se notabilizou, por ter registrado cenas da cidade, e editado um
álbum comparativo, onde registrou aspectos da cidade em duas épocas: 1862
e 1887. Esse pioneiro, foi um carioca que se estabelecera em São Paulo por
volta de 1860: Militão Augusto de Azevedo (1840-1905). Sua importância,
também se deve, ao registro de tipos populares, estudantes, trabalhadores e
até escravos, já que o preço módico de suas fotos, estava ao alcance das
classes menos favorecidas da sociedade da época.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
5. Largo de N. S. dos Remédios em 1862. Atual praça
João Mendes, que na década de 1940, teve a igreja e
a quadra circundante demolidas, para a criação da
atual praça e facilitação do trânsito de veículos pelo
local.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
6. Rua São Bento em 1862. A foto foi batida a partir da
esquina com a rua do Ouvidor (atual José Bonifácio),
em direção à igreja de São Bento, avistada no fim da
rua. O casarão à direita, era a residência do brigadeiro
Luís Antônio de Souza Queiroz, uma das grandes
fortunas da cidade, à época.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
7. Ladeira de São Francisco em 1862, atual rua São Francisco. Por aqui
era a saída da cidade para os que se dirigiam para o norte
(Freguesia do Ó e Jundiai) e oeste (Freguesia dos Pinheiros e
Sorocaba). Ao fundo, avista-se o largo e a Ladeira da Memória, com
seu obelisco, o primeiro monumento que se erigiu na cidade (1814).
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
8. Largo de São Francisco em 1862, com o casarão conventual e as
igrejas de São Francisco e da Ordem Terceira da Penitência. Nesse
casarão, desde 1828, funcionava a Academia de Direito, cujos
estudantes são vistos na foto. O prédio do convento foi demolido e
reformado diversas vezes, mas as igrejas, permanecem até os dias
atuais, com poucas modificações.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
9. Ladeira do Carmo em 1862, atual avenida Rangel
Pestana. Ao fundo, a várzea do Carmo (inundada) e mais
à frente a então Freguesia do Brás. Por esse caminho,
saia-se da cidade para se ir à Freguesia da Penha (nos
morros avistados bem ao fundo) e ao Rio de Janeiro.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
10. Esta foto, retrata a mesma Ladeira do Carmo, vinte e
cinco anos depois, em 1887. A diferença notada nesta
foto, é que ela foi batida de um ponto mais elevado
que a anterior. À direita, dá para se ver parte do
Largo do Carmo, não avistado na foto de 62.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
11. Aqui, também a rua Direita, refotografada em 1887. A
foto foi tomada da esquina com a São Bento (atual
praça do Patriarca), e ao fundo, avista-se parte da
torre da antiga catedral, no então Largo da Sé.
FOTO ORIGINAL DE MILITÃO DE AZEVEDO
12.
13. Nesta foto, de 1895, o início do recém-construído
viaduto do Chá, e ao fundo, o final da rua Direita,
onde mais tarde seria implantada a atual praça do
Patriarca.
GUILHERME GAENSLY
No rastro de Militão, chega a São Paulo em 1894, o suíço Guilherme Gaensly
(1843-1928), que anteriormente já estivera estabelecido em Salvador, Bahia.
Foi durante mais de vinte anos, o fotógrafo escolhido pela empresa “Light,
Power and Tramway”, para registrar o dia-a-dia da implantação dos serviços
de eletricidade e transporte por bondes elétricos na cidade. Com isso, cenas
preciosas da vida na cidade foram sendo registradas
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
14. Aqui outra foto de 1895, mostrando o viaduto do outro lado, onde o mesmo se
ligava com a rua Barão de Itapetininga, no local conhecido então como “Centro
Novo”. Uma curiosidade: a tenda que aparece na parte inferior da foto, à direita,
era onde se cobrava pedágio para a travessia, de pedestres ou veículos.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
15. Avenida Paulista em 1900, em foto tomada das proximidades da atual rua Brig.
Luiz Antônio, em direção à rua da Consolação. A avenida, inaugurada em 1891,
tornou-se o local preferido pela elite para edificar suas mansões: era um local
aprazível, e longe do burburinho do centro.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
16. A Estação da Luz, inaugurada em 1900, vista aqui em foto
de 1905. À direita, o Jardim da Luz, e na parte inferior da
foto, o início da avenida Tiradentes, o caminho para o
bairro de Santana e zona norte.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
17. A avenida Tiradentes, mencionada na foto anterior,
mostrada em foto de 1911, na direção bairro-centro. Ao
fundo dá para se ver a torre da Estação da Luz, e ao
centro, a antiga residência do Marquês de Três Rios,
adquirida pelo estado, para implantar ali a Escola
Politécnica, atual FATEC.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
18. Praça da Sé, em 1912. Ao centro, a rua 15 de Novembro,
onde um bonde apanha passageiros, a qual, juntamente com
a rua Direita, era onde se concentrava o mais fino comércio
da cidade. A foto foi batida de uma das sacadas da antiga
catedral, que seria demolida em agosto daquele ano.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
19. Viaduto Santa Ifigênia, mostrado aqui em 1913, mesmo ano de
sua inauguração, que faz a ligação entre os largos Santa Ifigênia
e São Bento. Ao fundo, a igreja do mesmo nome, inaugurada
alguns anos antes. Por baixo do viaduto, a antiga rua
Anhangabaú, precursora da atual avenida Prestes Maia.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
20. Clube de Regatas São Paulo em 1910. O clube, precursor do atual
clube Tietê, ficava às margens do rio, no lugar onde atualmente se
encontra a ponte das Bandeiras. Era o lazer da elite paulistana, onde
se pescava, se praticava natação e remo, além dos “pic-nics” nos
gramados à beira-rio. Nota: nessa época, o rio ainda não estava
retificado, e seu curso era sinuoso, com muitas ilhas e lagoas.
FOTO ORIGINAL DE GUILHERME GAENSLY
21.
22. AURÉLIO BECHERINI
O terceiro desta série, Aurélio Becherini (1879-1939),
nasceu na Itália, e em 1900 desembarcava no Brasil como
imigrante. Em 1910 começa a fotografar a cidade e seus
habitantes, tornando-se um dos primeiros repórteres
fotográficos a atuarem em São Paulo. Forneceu imagens
para os principais periódicos da época, em especial para o
jornal “O Estado de São Paulo”. Seu trabalho chamou a
atenção do então prefeito Washington Luiz Pereira de
Souza, que o contratou para realizar um grande trabalho
de documentação sobre a cidade que se modernizava.
23. Aqui a antiga catedral, no então Largo da Sé, em foto de
1910. A igreja, cuja construção era de 1745, seria
inteiramente demolida em 1912, para dar lugar a uma
“nova e moderna igreja”, que seria construída duas
quadras atrás.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
24. Ciente da demolição próxima da catedral, Becherini apressou-
se em fotografar o seu interior, onde no teto, existia uma
pintura de Almeida Júnior, “A Conversão de São Paulo”.
Felizmente, a tela foi retirada intacta durante a demolição, e
levada para o Museu Paulista, onde se encontra atualmente.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
25. Praça da Sé em 1914. Da catedral antiga, nada mais
restava, apenas a imensa esplanada, servindo de
estacionamento para os primeiros automóveis. Ao fundo,
dá pra se ver o canteiro de obras da nova catedral, que só
seria inaugurada 40 anos depois, em 1954, ainda
inacabada.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
26. Nesta foto, de 1910, a então ladeira São João,
futura avenida. Vemos aqui, sua quadra inicial,
que vem da praça Antônio Prado (no alto), até o
cruzamento com a rua Líbero Badaró. Ambas as
ruas seriam alargadas nos anos seguintes.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
27. Aqui também o mesmo caso da foto anterior. Mostrado em
1910, o cruzamento da rua Direita saindo para o viaduto,
com a rua Líbero Badaró, onde um bonde apanha
passageiros. O quarteirão todo mostrado ao centro, a partir
de 1916 seria arrasado e no seu lugar, surgiria a atual
praça do Patriarca
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
28. Rua Líbero Badaró em 1916, mostrada
entre a av. São João e a praça do
Patriarca. A rua havia sido alargada
apenas alguns anos antes. Ao fundo, na
direção do último bonde que aparece na
foto, fora erguido o palácio Conde
Prates, onde funcionaram a prefeitura e
a câmara, até os anos 50.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
29. A foto, de 1910, nos mostra o Teatro Municipal ainda em
final de construção. À esquerda o antigo viaduto do Chá e o
teatro São José, demolido em 1929. Ao centro, mostrando
ainda residências no vale do Anhangabaú, e as plantações
de chá, que deram nome ao viaduto.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
30. Nesta foto de 1920, o vale do Anhangabaú já refomado e todo
ajardinado. À direita o palácio Conde Prates, sede da prefeitura, e
ao centro, o prédio da Coletoria Federal em final de construção.
Esse prédio seria demolido nos anos 40, quando foi aberta no
vale, a avenida Anhangabaú. Nota: o Teatro Municipal, localiza-se
no final da alameda que sobe à esquerda.
FOTO ORIGINAL DE AURÉLIO BECHERINI
31.
32. BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
O quarto dos grandes fotógrafos que documentou a
transformação da cidade, foi Benedito Junqueira Duarte
(1910-1995), natural de Franca SP. Aprendendo a arte
fotográfica com o tio, um ex-fotógrafo da Casa Imperial,
no Rio, em 1922 vai continuar seus estudos em Paris,
onde se aperfeiçoa na arte fotográfica. De volta a São
Paulo, estabelece-se como retratista, e em 1929, é
convidado para chefiar a secção de iconografia, do
recém-criado Departamento de Cultura da prefeitura
paulistana. Trabalhou para esse órgão até sua
aposentadoria, em 1965. Ali teve a oportunidade de
registrar o dia-a-dia das obras que eram executadas na
cidade, produzindo mais de 4.000 fotos, e
simultaneamente realizando entre 1938 e 1945, uma
série de filmes sobre a cidade.
33. Os palácios-gêmeos Conde Prates, em foto de
1928, tomada a partir do então Parque do
Anhangabaú. O da esquerda abrigava a
prefeitura e câmara, e o da direita, junto ao
viaduto do Chá, era a sede do Automóvel Clube.
Ambos foram demolidos entre os anos 50 e 70.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
34. Praça da Sé em foto de 1930. Vemos aqui a praça, do lado
esquerdo e abaixo da catedral, que então se construía. O
prédio ao fundo, era o “Palacete Santa Helena”, cujo cinema
do mesmo nome, era um dos mais luxuosos da cidade. Na
década de 70, essa quadra inteira foi demolida para a
construção da estação Sé, do metrô.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
35. Nesta foto, batida em 1940, a avenida São João,
então em processo de alargamento. A foto
mostra o trecho em obras, a partir do
cruzamento com a rua Vitória, na direção
centro-bairro.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
36. Nesta foto, feita em 1939, o estádio municipal do
Pacaembu, em fase final de construção. O estádio
seria inaugurado em 1941 e, até a inauguração do
Maracanã, no Rio, em 1950, foi o maior dos
estádios brasileiros.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
37. Avenida São João, em 1940, mostrada aqui em sua
quadra inicial, a partir do cruzamento com a rua São
Bento. À esquerda, o edifício Martinelli, então o mais
alto do Brasil, com seus 28 andares. À direita, coberto
por tapumes, o local onde seria erguido o futuro prédio
do Banco do Brasil, nos anos 50.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
38. Esta foto, de 1945, retrata igualmente a avenida São João, em
tomada oposta à anterior. Foi batida do largo do Paissandu, em
direção centro. Vê-se ao fundo, na sua totalidade, o mencionado
edifício Martinelli. O curioso é a não existência (ainda) ao lado, do
edifício “Banespa”, que seria inaugurado nos anos seguintes.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
39. Avenida Tiradentes em 1952, mostrada aqui
em seu início. Ao centro o monumento em
homenagem à Ramos de Azevedo, e à
esquerda, a igreja de São Cristóvao (c.1890)
Em 1969, devido à construção do metrô, o
monumento foi removido do local e remontado
na Cidade Universitária.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
40. A avenida Anhangabaú e o viaduto do Chá, em foto de
1952. À esquerda, o imponente edifício-sede das
Industrias Matarazzo, de 1929, atualmente abrigando
a Prefeitura do Município de São Paulo. Clique agora
mais uma vez, para ver como se encontra o mesmo
local na atualidade.
FOTO ORIGINAL DE BENEDITO JUNQUEIRA DUARTE
41. E, para terminar, presto aqui minha
homenagem fotográfica à cidade,
mostrando o local onde tudo começou,
há exatos 457 anos:
- Pátio do Colégio -