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IBA EMSCHER PARK: UMA OFICINA DE 10 ANOS PARA
A REESTRUTURAÇÃO DA ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL DO
VALE DO RUHR, ALEMANHA.
Polise Moreira De Marchi, 1
1. RESUMO
Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e
sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global
começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,
desindustrializando-se.
Em 1989, a agência semipública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi
criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália como uma oficina para a
renovação de uma antiga região industrial, delimitada pela zona do rio Emscher,
compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.no vale do Ruhr, por um período
de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-
Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a
Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft).
O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma
complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em
ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.
Embora o panorama alertasse para a difícil tarefa a ser enfrentada, o sucesso desta
experiência pode ser constatado no vasto legado do desenvolvimento regional integrado,
nos inovativos projetos de redesenho e nas medidas ecológicas de reconversão do território
que mudaram a imagem de uma das maiores regiões industriais do mundo.
1
Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP e Aluna do programa de Doutorado –
Departamento de Projeto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo:
polise@usp.br
2. INTRODUÇÃO
Desde a segunda metade do século 19, as Mostras de Construção tornaram-se
tradicionais, nas exposições internacionais e feiras mundiais. Elas tinham como função
prática apresentar as novas invenções e criações nos campos da arquitetura, engenharia e
tecnologia.
Em 1851, o Crystal Palace Great Exhibition, na cidade de Londres; e em 1889, a
Torre Eiffel, exposta na Exposition Universelle, em Paris; foram exemplos de inovações
nas áreas da engenharia e tecnologia, durante as primeiras décadas da segunda Revolução
Industrial.
Em 1901, com a exposição em Darmstadt-Mathildenhole, a tradição das Mostras de
Construção chegou a Alemanha.
Durante o período entre guerras, várias exposições fizeram parte do cenário da
sociedade industrial. Naquela época, o objetivo era o de encontrar soluções para o
problema da demanda habitacional, decorrente do aumento progressivo do número de
pessoas que viviam nas cidades.
Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de reconstrução, uma vez mais, deu
impulso às Mostras de Construção. Em 1951, uma exposição internacional foi sediada em
Hanôver e, após 6 anos, foi a vez de Berlim com a INTERBAU'57.
O foco da INTERBAU'57 foi a reconstrução do distrito Hansa - na antiga Berlim
Ocidental -, que foi fortemente danificado pelos bombardeios durante a Segunda Guerra
Mundial.
O projeto de reconstrução, liderado pelo arquiteto Otto Barning, representava o
conceito modernista de desenvolvimento urbano de baixa densidade, popular durante o
pós-guerra. Barning pretendeu através do projeto, criar um modelo de cidade do amanhã2
,
estabelecendo um contraponto ao modelo de arquitetura propagada pela DDR3
.
Em 1987, após 30 anos da INTERBAU'57, uma nova exposição internacional foi
sediada em Berlim, apresentando como tema: O “centro da cidade como local de moradia,
reestrutura a cidade degradada”.
A Mostra Internacional IBA Berlin’ 87 foi o resultado de nove anos de trabalho da
Agência IBA Berlin Gmbh, criada em 1979, mediante aprovação do governo da Berlim
2
Stadt von morgen
3
Die Deutsche Demokratische Republik. República Democrata Alemã, pertencente ao bloco dos países
socialistas, cuja capital era a Berlim Oriental.
Ocidental. Desta agência fizeram parte membros do governo, arquitetos, urbanistas e
representantes de setores públicos e privados.
O objetivo da Agência IBA Berlim concentrou-se, não somente na construção de
novos projetos urbanos, mas principalmente, na requalificação e redesenvolvimento de
áreas centrais e edificadas. Aproximadamente 3000 residências foram construídas ou
reestruturadas até 1987, ano de encerramento da exposição internacional.
O IBA Berlim agregou, ao processo de renovação urbana, a participação popular e a
parceria público-privado, além de ter criado uma agência especial responsável pela
renovação e restauro4
: STERN (Gesellschaft der behutsamen Stadterneuerung GmbH)5
.
Esta agência tornou-se modelo para as futuras intervenções urbanas em cidades alemãs,
principalmente para os projetos de redesenvolvimento da Berlim Oriental, após a queda do
muro, em 1989.
Durante os anos do IBA Berlim'87, os critérios e conceitos de intervenção, entre
eles,: “a renovação urbana cuidadosa”, “a reconstrução crítica da cidade”, “promover a
habitação em antigas áreas centrais degradadas”, “integração entre construções existentes e
novas” e “a imagem da cidade", configuraram importantes parâmetros para a Mostra
seguinte, que teve por desafio a reconversão de um território industrial em escala regional:
a zona do rio Emscher, no vale do Ruhr.
3. A OCUPAÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO DO VALE DO RUHR
Os últimos 150 anos testemunharam a história industrial da região do Ruhr. Antes
deste período, o Ruhr era composto por áreas pantanosas, vilas e pequenas cidades com
menos de 500 habitantes.
A partir da segunda metade do século 19, o Ruhr iniciou um processo de
transformação industrial. A ocupação do território esteve relacionada, primeiramente, à
exploração do carvão, Schwarzen Gold (ouro preto),que ocorreu primeiramente ao sul,
onde ele era encontrado em veios próximos à superfície, não exigindo grandes esforços
tecnológicos para a sua exploração.
À medida que as técnicas industriais de escavação e extração de carvão se
aprimoraram, foi possível a exploração e descoberta de novas áreas em que os recursos,
qualitativamente melhores, eram encontrados mais profundamente no solo.
4
Definições apresentadas no Regional development studies: The EU compendium of spatial planning
systems and policies: Germany Luxemburg, 1999.
5
STERN: agência responsável pela renovação urbana.
Desta forma, a ocupação territorial foi se deslocando gradativamente de sul para
norte, em três diferentes zonas orientadas no sentido leste-oeste:
- A zona Hellweg, situada entre os rios Ruhr e Emscher (em torno dos centros
das cidades de Duisburg, Essen, Bochum e Dortmund)
- As zonas do rio Emscher e do rio Lippe, segundo e terceiro estágios da
ocupação territorial.
As primeiras aglomerações apareceram sem qualquer planejamento especial. Elas se
formaram através de iniciativas isoladas motivadas por razões econômicas. Durante a
década de 1870, pessoas provindas do leste europeu iniciaram um processo migratório para
a região do Ruhr, dinamizando ainda mais a sua ocupação territorial.
O crescimento capitalista da região foi consolidado de forma policêntrica. As cidades
assentadas nas zonas leste-oeste, desenvolveram-se individualmente ao longo do eixo
norte-sul, gerando uma grande imobilidade entre as cidades. O Ruhr cresceu como uma
periferia e a falta de urbanidade tornou-se a marca de sua expansão.
Deste modo, em algumas décadas, áreas agrícolas e florestas foram transformadas
em extensas áreas industriais. “Bosques deram lugar para chaminés, campos tornaram-se
assentamentos, rios foram convertidos, e o céu encoberto por fumaça e fuligem” [VON
PETZ: 1997, p. 56].
A região do vale do Ruhr cresceu como uma larga conurbação periférica, isto é, sem
um processo legítimo de desenvolvimento urbano. As atividades industriais desenharam as
aglomerações, assim como ditaram as regras do viver neste território. A vida urbana foi
estruturada com base no tempo das máquinas e pelo espaço da produção.
A zona do Emscher foi a que mais sofreu com a exploração industrial, em termos de
degradação e apropriação espacial sem planejamento. O território formado pela junção da
indústria e dos assentamentos populacionais desenhou cidades periféricas sem urbanidade.
O controle desta zona industrial acontecia, como em um sistema feudal, através do
monopólio político exercido pelos dirigentes das minas de carvão e das atividades
relacionadas à produção do aço.
A infra-estrutura da zona do Emscher também não foi baseada em planos
urbanísticos. Ela foi configurada de acordo com os interesses da Montanindustrie6
. As
primeiras alternativas de transporte surgiram para o escoamento e circulação da produção e
não para a mobilidade da população trabalhadora.
6
Indústria relacionada às atividades de extração mineral.
Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e
sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global
começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,
desindustrializando-se.
4. UMA NOVA IMAGEM PARA A ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL
A agência semi-pública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi criada
pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália com a missão de promover o
desenvolvimento regional da região industrial do vale do Ruhr, por um período de 10 anos.
Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-Ambiente,
Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a Companhia de
Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft); e ainda contou com
grandes contribuições financeiras da Comunidade Européia, através de programas de
subvenção a áreas urbanas em crise social, decorrentes do processo de desindustrialização.
O IBA Emscher Park foi constituído como uma oficina para a renovação de uma
antiga região industrial7
. A área delimitada para as intervenções correspondeu à zona do rio
Emscher, compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.
Parque da Paisagem do Emscher - sistema de corredores verdes
O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma
complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em
ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.
Estas áreas pertenciam aos monopólios do carvão e do aço, setores hostis às mudanças e
inovações.
7
IBA Emscher Park: Werkstatt zur Erneuerung alter Industriegebiete.
O desemprego atingindo taxas médias de até 12%8
, o previsto declínio populacional
de 15%, em um período de 20 a 30 anos e o meio ambiente contaminado através da
poluição de rios, do ar e de solos explorados, entre outros, apresentavam-se como enclaves
para o desenvolvimento, não somente da zona do Emscher, como também da região do
vale do Ruhr.
Embora o panorama alertasse, de um lado, para a difícil tarefa a ser enfrentada, por
outro, a zona do Emscher apresentava um grande potencial de desenvolvimento. Entre os
aspectos mais relevantes estavam: a condição geográfica central em relação à Europa; a
possibilidade de crescimento de um grande novo mercado com a abertura da Europa
Oriental; o fato da região do Emscher abrigar um grande contingente populacional,
proveniente de diferentes culturas; e, ainda, o elevado potencial para a ocupação e re-uso
de extensas áreas desocupadas, antes pertencentes a Montanindustrie.
O clima de desolação e falta de perspectiva tornaram-se pontos importantes a serem
combatidos. A mudança desta imagem: o desafio de projeto.
O capital inicial investido foi da ordem de 35 milhões de marcos alemães. A
administração do IBA contou com uma equipe de aproximadamente 30 profissionais -
liderados pelo geógrafo Karl Ganser -, combinando a tradicional “Mostra de Construção”,
no sentido arquitetônico, com o suporte político, econômico e administrativo de entidades
públicas.
A defesa dos espaços abertos foi retomada através do conceito de cinturões verdes,
desenvolvido anteriormente, em 1920, por Robert Schmidt. Estes elementos foram
novamente considerados ordenadores do espaço, mas desta vez, articulados por um
corredor verde leste-oeste de 70 quilômetros de comprimento e 15 quilômetros de largura,
ao longo da zona do Emscher. Este corredor verde, o Emscher Landschaftpark (Emscher
Parque da Paisagem) foi a linha estrutural para a regeneração do coração da região do
Ruhr.
5. AS SETE LINHAS MESTRAS DE INTERVENÇÃO DO IBA
EMSCHER PARK
A agência IBA foi instalada em edifício pertencente a antiga mina de carvão
Rheinelbe, na cidade de Gelsenkirchen, reforçando o caráter de redesenho e regeneração
do ambiente construído afastando-se, desde a sua essência, do conceito de tabula rasa.
8
As taxas de desemprego na zona do Emscher atingiam números maiores que qualquer outra área
pertencente a Alemanha ocidental.
O memorial oficial dos trabalhos da agência IBA Emscher Park, assinado em 1989,
previa um prazo de 10 anos de atividades do escritório, embora os projetos apresentassem
diferentes agendas - de 10 a 30 anos - e determinou sete linhas mestras de intervenção:
1. Emscher Landschaftspark- a regeneração e redesenho da paisagem ao longo da zona do
Emscher;
2. Ökologischer Umbau des Emscher-Systems - a reabilitação do rio Emscher e seus
afluentes, partindo de Duisburg a Bergkamen;
3. Kanäle als Erlebnisräume - o canal Rêno-Herne como espaço de vivência;
4. Industriedenkmäler als Zeugen der Geschichte - a conservação de edifícios industriais
através do redesenho de seus espaços e funções, propiciando a manutenção da identidade
industrial através de uma nova imagem, baseada em seu patrimônio cultural;
5. Arbeiten im Park - a criação de um espaço de alta qualidade voltado para a instalação de
novas empresas e escritórios, materializando o conceito de trabalhar no parque;
6. Wohnungsneubau und modernisierung - novas formas de morar e a habitação como
elemento propulsor da requalificação urbana;
7. Neue Angebote für soziale und kulturelle Aktivitäten - novas ofertas para as atividades
sociais e culturais, tendo em vista a necessidade de qualificar os espaços de lazer, devido
ao aumento do tempo livre, decorrente da redução da jornada de trabalho e dos novos
modos de produção que introduzem novos estilos de vida.
O Parque da Paisagem do Emscher e as 7 linhas mestres defendidas pelo IBA Emscher Park
Os planos diretores, modelo difundido pelos arquitetos modernistas, foram
substituídos pela administração de projetos isolados que, na concepção da equipe
coordenadora do IBA, dinamizariam a região, respeitando as diferenças entre elas. A
estratégia seria como uma terapia de acupuntura9
: uma rede de intervenções pontuais
polarizariam e tensionariam a regeneração de áreas adjacentes, conformando um
desenvolvimento regional integrado.
Aproximadamente 100 projetos foram desenvolvidos e implantados em uma faixa
formada por 17 cidades - Duisburg, Oberhausen, Mülheim, Bottrop, Essen, Gladbeck,
Bochum, Gelsenkirchen, Recklinghausen, Herne, Herten, Castrop-Rauxel, Waltrop, Lünen,
Dortmund, Kamen e Berkamen - somando um total de 2 milhões de habitantes.
O IBA defendeu o conceito de cultura da arquitetura (Baukultur), pelo qual o edifício
e o projeto do lugar foram os componentes críticos para a regeneração social, econômica e
ambiental. Acreditando ser a arquitetura, antes de uma imposição do ambiente construído,
um instrumento do planejamento espacial. “Através da qualidade arquitetônica
determinada caso a caso, baseada e moderada por uma autoridade qualificada, permite-se o
planejamento urbano de baixo para cima” [GANSER, 1990].
A oficina de reconversão do território industrial também organizou e financiou
processos de planejamento e qualificação, através de concursos interdisciplinares e
concorrências internacionais. Agindo desta forma, o IBA procurou trazer idéias e soluções
internacionais para as necessidades locais buscando a notoriedade da região no contexto
global.
Projetos como o museu do design de Norman Foster, nas antigas instalações da Mina
Zollverein em Essen; o museu de arte alemã, na antiga sede do moinho Küppersmühle em
Duisburg, projeto de Herzog e Meuron10
; e, o marco da paisagem, slag ingot for the
Ruhrgebiet de Richard Serras, no monte Schurenbach em Essen, são exemplos de arte e
arquitetura assinadas por arquitetos e designers conhecidos internacionalmente.
Küppersmühle em Duisburg, 2001.
9
As in the case of acunpucture, it contents itself with stimulating significant points in the hope that the
healing powers thus activated will spread out to include the closer vivinity and more distant environs. (Peht:
1999)
slag ingot for the Ruhrgebiet em essen, 2001.
10
Herzorg & Meuron são os autores do projeto Tates Gallery, em Londres.
Desta forma, a nova imagem do coração da região do Ruhr foi se delineando. Novos
usos e significados foram incorporados ao tecido urbano, sem que para tal fim, fossem
anuladas a memória e a identidade da paisagem construída. A zona do Emscher não foi
transformada em um museu, pelo contrário, ela foi considerada não somente um espaço de
visibilidade e contemplação, mas um lugar a ser usado e experimentado (Erlebnissräume).
Karl Ganser, mentor e coordenador-chefe da agência IBA, afirmou - quando
questionado quanto às intenções de projeto -, que o Ruhr deveria encontrar, em sua
paisagem industrial, os valores para o desenvolvimento de sua identidade.
A mudança de mentalidade reforçada pela auto-estima dos habitantes, acostumados
ao conformismo de uma região degenerada pelos anos de industrialização selvagem, foi
um dos pontos fortes defendido nas intervenções e nas atividades criadas.
Ao invés de serem desenvolvidas áreas periféricas, Ganser defendeu o redesenho e o
adensamento das áreas centrais mais atingidas pela industrialização. Paralelamente, foi
criado um conceito cultural de inovação que orientou os princípios das intervenções,
baseados em duas linhas de ação: “uma nova região fundamentada em uma nova cultura” e
“sustentabilidade urbana sem danos ecológicos”.
5.1 Reconvertendo wastelands11
: recriação da natureza ou a natureza em
um estágio pós-industrial
O projeto do Parque da Paisagem do Emscher (Emscher Landschaftspark) combinou
natureza e patrimônio industrial, em escala regional, através de uma área de 300
quilômetros quadrados. Diferentemente de outros parques que foram construídos
igualmente em sítios industriais, porém após a total demolição de suas referências
anteriores, como La Villete e Parc André-Citroën, ambos situados em Paris.
A coordenação do IBA Emscher Park buscou reconstruir o território através de uma
nova paisagem cultural (Kulturlandschaft), baseada na consciência coletiva de pertencer a
um lugar, a uma história e a uma região industrial.
O Emscher Landschaftpark partiu da integração e reconversão de terrenos industriais
visando, além do novo uso para a paisagem obsoleta, novas possibilidades de
desenvolvimento. A ecologia, foi vista como instrumento de reestruturação econômica,
11
Wasteland termo utilizado para designar áreas desoladas, abandonadas. Geralmente relacionadas a
exploração industrial ou urbana.
principalmente em se tratando da competição com outras metrópoles européias pela busca
de novas economias.
Para a nova paisagem do coração do Ruhr não houve limites urbanos. As cidades do
Emscher, pouco conhecidas fora da região, conformaram uma federação de novos espaços
onde a indústria, a cultura e a paisagem misturavam-se.
O parque da paisagem do Emscher abrangeu diferentes escalas de espaços livres,
desde corredores verdes aos parques locais. Algumas áreas foram eleitas pedras
fundamentais (Trittsteine) para o sucesso do projeto de grande parque urbano. Entre eles, o
Landschaftspark Duisburg-Nord - um dos principais parques locais que compõe a estrutura
de espaços verdes do Emscher Landschaftspark -, que agregou apreciação estética à
decadência da ruína industrial.
A vegetação que gradativamente ocupava as adjacências dos trilhos ferroviários e das
instalações em geral, foi administrada através do mesmo conceito de degradação
controlada, aplicado às construções industriais. Algumas partes do complexo foram
mantidas fechadas ao público. Entretanto, elas aguardam o desenrolar das futuras ações,
baseadas na cultura industrial e no turismo urbano.
Através da “degradação controlada”,
o desgaste das estruturas foi percebido
como fluxo natural de uma imagem de
paisagem mutante, que preserva as suas
características na medida em que legitima
seus índices em deterioração.
“Seria perigoso, se os monumentos
industriais fossem demolidos pela falta de
dinheiro para a sua manutenção. Ao menos,
eles restam visíveis. Esta é a estratégia da
degradação controlada” [GANSER: 2000,
p.22, trad. nossa].
A aceitação da herança industrial
manifestou-se através do “patrimônio histórico” e da “paisagem em movimento”, como
defende Bernard Reichen [2000, p.24]. Por processos de conservação e transformação, as
antigas estruturas deram origem a novos projetos arquitetônicos, referências da nova
cultura na paisagem.
Landschaftspark Duisburg-Nord
“Nós paisagistas, não mudamos os sítios industriais abandonados. São eles que
provocam uma mudança fundamental na nossa maneira de pensar e na filosofia de nossa
profissão” [LATZ: 2000, p.23].
Seguindo os mesmos passos do Landschaftspark Duisburg-Nord, embora
respondendo a diferentes escalas, outros parques agiram também como pedras
fundamentais para o redesenho da paisagem do Emscher, entre eles: o Nordstern Park, em
Gelsenkirchen; a Kokerei Zollverein, em Essen e o Westpark, em Bochum.
A restruturação do ecossistema da zona do Emscher foi o amálgama entre os
aproximadamente 100 projetos desenvolvidos durante o IBA Emscher Park.
A conexão entre estas diferentes escalas de espaços livres foi obtida através da
criação de trilhas peatonais, ciclovias regionais, do rio Emscher e do Canal Rhein-Herne,
do eixo ferroviário Köln-Mindener12
, além das convencionais ruas e estradas, que
cruzavam os setes cinturões verdes, permitindo o uso e a experimentação deste novo
cenário.
5.2 Habitação como forma de reestruturação urbana.
Uma das metas mais importantes do IBA Emscher Park foi concentrar e ocupar as
lacunas urbanas, estimulando ações como: morar, trabalhar e lazer. Além do usufruto
social e cultural, buscou-se um verdadeiro ambiente urbano, ausente até aquele momento.
A construção de novas habitações, assim como a regeneração de antigas áreas
residenciais, foram entendidas como ponto central do processo de reestruturação urbana
[SCHITZMEIER: 1991, p. 31]. A Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, pode ser
considerada um exemplo.
No final da década de 1970,
acompanhando o reflexo das crises
do carvão e do aço, a mina de carvão
Prosper III, em funcionamento desde
1906, foi fechada.
Em 1987, os antigos edifícios
foram demolidos, deixando uma área
vazia de 26 hectares. Apenas o muro
12
O eixo ferroviário Köln-Mindener foi grande propulsor do desenvolvimto regional na era industrial. Ele
também recebeu especial atenção da agência IBA Emscher Park, através do redesenho das estações e da
restruturação da infra-estrutura. A ferrovia desenvolveu papel central na atuação do IBA tal qual o rio
Emscher e o canal Rhein-Herne.
Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, 2001.
da mina, os portões que controlavam o acesso às instalações da ProsperIII e a avenida de
plátanos (Platanenalle) foram mantidos como elementos históricos relevantes.
Os primeiros esforços para a recuperação da área foram iniciados, em 1990, sob a
supervisão do IBA Emscher Park, juntamente com as parcerias da cidade de Bottrop, da
empresa MGG (Montan Grundstücksgesellschaft) e do GEP (Gesellschaft für Projekt-
management und Grundstücksentwicklung).
Arquitetos internacionais foram convidados a elaborar propostas de utilização do
sítio, através de um programa inovador, que não só deveria atender as necessidades de
reconversão da área em questão, como também, as aspirações da própria cidade de Bottrop
de se renovar e bem suceder frente ao processo de mudanças estruturais.
O programa do concurso estimulou a integração das linhas mestras do IBA:
“trabalhar no parque”, “reconstrução da paisagem”, “novas residências e novas formas de
morar”, além de “novas atividades culturais e sociais” [EVERDING: 1990, p.31].
O projeto vencedor do concurso foi de autoria do escritório de Trojan & Trojan. Os
26 hectares foram ocupados a partir de três usos básicos: 6 hectares para uso comercial, 9
para uso residencial e 11. para áreas verdes.
A área comercial, implantada na entrada do sítio, era composta por lojas e
supermercados, que visavam atender às necessidades da nova comunidade, assim como das
comunidades do entorno, preponderantemente residencial.
A zona destinada às habitações foi implantada em áreas onde o solo não apresentava
índice algum de contaminação, preservando a segurança e saúde dos habitantes.
No centro do terreno da Prosper III, onde se concentrava o maior índice de
contaminação do solo, foi criada uma área verde que visou, enquanto projeto, a
reconstrução da natureza local e a proteção contra futuras contaminações. Para tal fim,
após a descontaminação do solo, um talude foi criado com a terra proveniente da
movimentação de outras áreas do sítio.
Vários outros projetos, abordando as “novas formas de morar”, foram realizados
durante os anos de atuação da agência IBA Emscher Park. Ao todo foram 21 projetos entre
renovação habitacional e novos complexos habitacionais.
Dois projetos habitacionais ainda merecem ser destacados. Eles participaram do
programa Agenda 21 da cidade de Gelsenkirchen: Küppersbusch-Grundstück e Siedlung
Schüngelberg.
O Küppersbusch-Grundstück foi implantado em antigo terreno pertencente a fábrica
de móveis Küppersbusch. O novo complexo residencial ficou conhecido pelo seu padrão
arquitetônico ecológico, visível através das estruturas de captação de água pluvial que
percorre e desenha o espaço central do conjunto.
O Siedlung Schüngelberg abordou a renovação habitacional do antigo assentamento
residencial operário situado entre a mina de carvão Zeche Hugo e o monte Rungenberg -
criado com os detritos provenientes das extrações minerais. Ao todo foram renovadas 308
residências e criadas 220 novas habitações.
Siedlung Schüngelberg em Gelsenkirchen, 2001.
O programa abrangeu, ainda, a criação de creches e um novo centro para o conjunto
habitacional. Uma praça dotada de lojas e serviços foi criada ampliando as perspectivas
futuras de desenvolvimento da área.
O monte Rungenberg, assim como o Landschaftspark Duiburg-Nord, o
Wissenschaftspark Rheinelbe e tantos outros, faz parte da rota dos marcos artísticos da
paisagem (Landmarken-Kunst) da região do Ruhr. Mais uma vez, a arte a serviço da
paisagem apresentou-se como elemento referencial do espaço, iluminando o destino futuro
de um contexto urbano redesenhado.
5.3 Trabalhar no Parque.
O conceito Trabalhar no parque (Arbeiten im Park) foi desenvolvido através da
criação de parques tecnológicos e científicos, centros comerciais e de escritórios, e novas
indústrias, principalmente, aquelas voltadas às questões ecológicas como a produção de
energia alternativa.
Ao todo, 19 projetos foram implantados em sítios industriais, localizados dentro de
centros urbanos. Estes projetos compartilharam a criação de grandes áreas verdes e a alta
qualidade arquitetônica e ecológica de suas instalações. As novas áreas foram erguidas por
intermédio de investimentos públicos e privados, que visaram atrair novos empregos e
novas formas de economia para a região.
Como declarou o próprio líder do IBA Emscher Park, o geógrafo Karl Ganser, a
criação de lugares inovadores em meio a um ambiente urbano atraente, onde antes os
terrenos industriais configuravam o espaço, respondeu a demanda da opinião pública por
novas alternativas de desenvolvimento econômico.
Esta alteração no cenário urbano das cidades industriais, tendo por base a mudança
no modo de produção econômico, foi descrita por Manuel Castells e Peter Hal no livro
Technopoles of the world-The making of 21st century industrial complexes [1994, p.1].
Há uma imagem da economia industrial do século 19, familiar em uns cem livros de
história: a mina de carvão e sua vizinha fundição de ferro, expelindo fumaça negra no céu,
e iluminando os paraísos noturnos com seu clarão vermelho sombrio. Há uma imagem
correspondente para a nova economia que tem se formado a partir dos últimos anos do
século 20, [...] Ela consiste de uma série de baixos e discretos edifícios, geralmente de
muito bom gosto, inseridos em uma paisagem impecável, com atmosfera de campus.
O Wissenschaftspark Rheinelbe (Parque Científico Rheinelbe), em Gelsenkirchen,
representa a passagem acima descrita, tendo se tornado símbolo de inovação, na região do
Ruhr.
Os centros de pesquisa sempre estiveram integrados com as universidades da zona do
Hellweg. Somente cidades como Bochum, Dortmund, Essen e Duisburg eram dotadas de
atividades relacionadas à pesquisa e ao aperfeiçoamento científico. Através da criação de
institutos de pesquisa na zona do Emscher, o IBA Emscher Park, juntamente com o
governo da Renânia do Norte Vestfália, buscou novas formas de desenvolvimento e
atração para as cidades exclusivamente industriais.
Wissenschaftspark Rheinelbe em Gelsenkirchen, 2000.
O Wissenschaftspark Rheinelbe foi criado, não somente para agir como um instituto
de pesquisa, mas também, para polarizar novas ocupações para o seu entorno. O projeto
previu a incorporação e a conexão de elementos dinamizadores13
da reconversão urbana.
Viver e trabalhar se uniram envoltos pela atmosfera agradável do parque.
O sítio em reconversão contou com o reuso de alguns dos edifícios industriais
presentes no local, entre eles, a casa dos transformadores da mina Rheinelbe, que desde
1990, foi a sede do escritório IBA Emscher Park.
5.4 No caminho para um Emscher azul.
Desde a virada do século 19, o rio Emscher tornou-se um esgoto a céu aberto nos
seus 70 quilômetros de extensão leste-oeste. Com o aumento populacional e o
desenvolvimento das atividades mineradoras, o rio e seus afluentes, um sistema com 350
quilômetros, passou a ser utilizado indiscriminadamente.
A atividade exploratória da zona do Emscher não permitiu a introdução de bombas
ou tubulações subterrâneas, devido ao perigo de desabamentos e conseqüente ruptura
destes mecanismos. Com as escavações e extrações minerais, o terreno da região do
Emscher sofreu constantes acomodações e, em vários pontos, o nível do solo foi rebaixado.
O material das escavações, não tendo como retornar ao subsolo, era depositado em
outras áreas, dando origem às montanhas artificiais de detritos (slag heap), que alteraram o
relevo plano do vale do Ruhr.
Com a desindustrialização, a natureza na cidade passou a ser considerada e avaliada
não mais pelo ponto de vista pragmático dos engenheiros, mas de acordo com as demandas
ecológicas de reconversão da paisagem, entendidas como fundamentais para a
reestruturação do ambiente urbano, desgastado pelos anos de industrialização desenfreada.
Desta forma, para que o IBA tivesse credibilidade na reconversão da paisagem
destruída do Emscher, foi necessário tratar, em bases ecológicas, o elemento símbolo do
processo de degeneração industrial. O rio Emscher , por décadas, significou, através de sua
cor, de seu cheiro e de sua condição não natural, a degradação ambiental de toda a região
do Ruhr.
Uma vez que as atividades relacionadas à extração do carvão se deslocaram para
norte e que o perigo de deslizamentos não mais existiu, novas medidas foram adotadas
para o tratamento do esgoto na zona do Emscher. Desta vez, a reabilitação de partes do
13
Residências, novas formas de economia, instituições sociais e lazer.
sistema fluvial, buscou devolver à natureza uma água limpa, fluindo em um curso mais
natural, além da requalificação paisagística das margens do rio e de seus córregos.
Para a reestruturação ecológica do sistema do rio Emscher, o IBA associou-se a
EmscherGenossenschaft (agência criada em 1904 com o objetivo de tratar dos assuntos
relativos ao consumo de água) e, em conjunto, desenvolveram três linhas básicas de
atuação:
- Descentralização das estações de tratamento do esgoto, ao longo dos 70
quilômetros do rio Emscher, além de uma estação de tratamento biológica na confluência
dos rios Ruhr e Emscher, tendo em vista a melhoria da qualidade da água.
- Separação entre a água suja e a limpa, transferindo a água contaminada para
tubulações de esgoto subterrâneas, permitindo, através do redesenho do curso da água, um
leito mais natural para os rios e córregos. Como conseqüência também, a paisagem
adjacente seria redesenhada, criando um ambiente urbano mais atraente.
- Possibilidade de captação da água da chuva nas áreas próximas ao rio Emscher
e de seus afluentes, facilitando a infiltração natural.
O projeto de reconversão dos 350 quilômetros
de curso de água poluída foi previsto para um
período de 20 a 30 anos, com investimentos
estimados da ordem de 8.7 bilhões de marcos
alemães. Exemplos de aplicação destas três linhas
básicas podem ser verificados, respectivamente,
através da criação da moderna estação de tratamento
de esgoto, na cidade de Bottrop (Kläranlage Bottrop),
da reconversão do córrego e da paisagem adjacente
ao Deininghauser Bach e do projeto de captação e
infiltração natural da água da chuva, no antigo e novo
conjunto habitacional Schüngelberg.
Através do tratamento do sistema hidrológico
do Emscher, O IBA Emscher Park ganhou, da opinião
pública, de investidores e dos poderes públicos locais,
a credibilidade na reconversão da paisagem industrial.
Deininghauser Bach em Bottrop,
2001.
5.5 Montanhas de detritos minerais alterando o relevo do vale do Ruhr.
A topografia plana, característica natural da paisagem do Ruhr, com o passar dos
anos, foi alterada pelos montes de detritos (slag heaps), construídos a partir do material
extraído na exploração das minas.
As referências da paisagem do Ruhr eram sempre aquelas relacionadas ao cenário
industrial: chaminés, gasômetros, torres de extração e outros elementos marcantes que,
principalmente nas cidades da zona do Emscher, misturavam-se e confundiam-se
reforçando ainda mais a imagem de uma grande e única conurbação industrial.
As montanhas de detritos, algumas atingindo 65 metros de altura e áreas equivalentes
a 3 hectares., foram entendidas não somente como novas formas artificiais de relevo,
produtos da natureza industrial, mas potenciais land-arts, servindo de inspiração e suporte
para projetos artísticos [GANSER: 2000, p. 20].
Desta forma, os land-arts, a paisagem transformada em obra de arte e os landmarks,
a arte criando pontos de referência na paisagem, integraram o repertório das novas
visibilidades para o Ruhr.
A partir do tratamento artístico e paisagístico recebido, as montanhas artificiais se
tornaram também estratégicas plataformas de observação da paisagem industrial em
mutação: a visibilidade que observa.
6. APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA.
O IBA Emscher Park, influenciado pela última Mostra Internacional ocorrida em
Berlim, na década de 1980, fugiu do conceito de tabula rasa adotando o lema: “mudança
sem crescimento”.
A reutilização da terra prevenindo a exploração de novas áreas verdes; a
modernização, conservação e estratégias de re-uso para edifícios existentes; a incorporação
de práticas ecológicas para novas construções como também, para o redesenho de antigos
edifícios; e a transformação da estrutura de produção com métodos que não prejudicassem
o meio ambiente; constituíram alguns dos partidos adotados para o “desenvolvimento
controlado”, ou “mudança sem crescimento”, como definiu Karl Ganser, coordenador do
IBA.
Ao invés de planos diretores centralizadores, o IBA promoveu o desenvolvimento
regional integrado, uma nova escala de intervenção para uma mostra de construção
internacional, considerando sítios individuais, como espaços de mediação e instrumentos
de desenvolvimento urbano.
A criação de um parque da paisagem, como elemento conector dos aproximadamente
100 projetos, recorrendo ao antigo modelo dos corredores verdes, desenhado em 1920, por
Robert Schmidt, manteve a tradição alemã de privilegiar os espaços livres, ao mesmo
tempo em que partiu em defesa da ecologia, baseada nos novos parâmetros do
desenvolvimento sustentável.
Gasômetro em Oberhausen, 2001.
A experiência IBA Emscher Park, como defendeu Ganser, não deve servir de modelo
a ser aplicado em outras realidades industriais, mas o seu conceito de intervenção sim.
Cada localidade é construída em bases históricas e culturais próprias. A industrialização,
embora tenha sido um processo de desenvolvimento econômico mundial, e a sua
estruturação tenha ocorrido em bases similares em todo o mundo, apresentou reflexos
diversos em várias localidades do planeta.
Desta forma, não se faz cabível uma comparação entre a realidade do Ruhr e a de
qualquer região ou cidade industrial brasileira, pois se assim fizéssemos correríamos o
risco de esvaziar a riqueza das diferenças em analogias estruturais que acabariam por se
sobrepor às características culturais de ambas realidades. O que nos cabe ressaltar desta
experiência, entretanto, é a metodologia empregada em se tratando da intervenção em
territórios industriais, principalmente tendo em vista a recuperação urbana e a aproximação
com as noções de crescimento e desenvolvimento sustentável.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
- BOSMA K. & HELLINGA H. (Hrsg) "Mastering the City I /II" Rotterdam 1997
NAI.
- CASTELLS, Manuel & HALL, Peter. Technopoles of the world: the making of 21st
century industrial complexes. London: Routledge, 1994.
- Das Neue Berlin. "Berlin: open city" Berlin: Nicolai,. 2000.
- FEHN; K. & WEHLING; H.W. " Bergbau- und Industrielandschaften" Bonn:
Mignon Verlag, 1999.
- IBA Emscher Patk & Stadt Bottrop. Städtebaulicher Realisierungswettbewerb zur
Reaktivierung der Zechenbrache Prosper III in Bottrop, 1990.
- IBA Emscher Park (Hrsg). "Ergebnisse der Studie zur Machbarkeit des Emscher
Landschftspark in: Emscher Park Informationen 4,5/1990",Gelsenkirchen IBA,1990
- Projeturbain 21/ Sep 2000 " L'IBA Emscher Park: Un anti modele"

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Parque da Paisagem do Emscher

  • 1. IBA EMSCHER PARK: UMA OFICINA DE 10 ANOS PARA A REESTRUTURAÇÃO DA ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL DO VALE DO RUHR, ALEMANHA. Polise Moreira De Marchi, 1 1. RESUMO Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico, desindustrializando-se. Em 1989, a agência semipública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália como uma oficina para a renovação de uma antiga região industrial, delimitada pela zona do rio Emscher, compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.no vale do Ruhr, por um período de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio- Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft). O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral. Embora o panorama alertasse para a difícil tarefa a ser enfrentada, o sucesso desta experiência pode ser constatado no vasto legado do desenvolvimento regional integrado, nos inovativos projetos de redesenho e nas medidas ecológicas de reconversão do território que mudaram a imagem de uma das maiores regiões industriais do mundo. 1 Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP e Aluna do programa de Doutorado – Departamento de Projeto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo: polise@usp.br
  • 2. 2. INTRODUÇÃO Desde a segunda metade do século 19, as Mostras de Construção tornaram-se tradicionais, nas exposições internacionais e feiras mundiais. Elas tinham como função prática apresentar as novas invenções e criações nos campos da arquitetura, engenharia e tecnologia. Em 1851, o Crystal Palace Great Exhibition, na cidade de Londres; e em 1889, a Torre Eiffel, exposta na Exposition Universelle, em Paris; foram exemplos de inovações nas áreas da engenharia e tecnologia, durante as primeiras décadas da segunda Revolução Industrial. Em 1901, com a exposição em Darmstadt-Mathildenhole, a tradição das Mostras de Construção chegou a Alemanha. Durante o período entre guerras, várias exposições fizeram parte do cenário da sociedade industrial. Naquela época, o objetivo era o de encontrar soluções para o problema da demanda habitacional, decorrente do aumento progressivo do número de pessoas que viviam nas cidades. Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de reconstrução, uma vez mais, deu impulso às Mostras de Construção. Em 1951, uma exposição internacional foi sediada em Hanôver e, após 6 anos, foi a vez de Berlim com a INTERBAU'57. O foco da INTERBAU'57 foi a reconstrução do distrito Hansa - na antiga Berlim Ocidental -, que foi fortemente danificado pelos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. O projeto de reconstrução, liderado pelo arquiteto Otto Barning, representava o conceito modernista de desenvolvimento urbano de baixa densidade, popular durante o pós-guerra. Barning pretendeu através do projeto, criar um modelo de cidade do amanhã2 , estabelecendo um contraponto ao modelo de arquitetura propagada pela DDR3 . Em 1987, após 30 anos da INTERBAU'57, uma nova exposição internacional foi sediada em Berlim, apresentando como tema: O “centro da cidade como local de moradia, reestrutura a cidade degradada”. A Mostra Internacional IBA Berlin’ 87 foi o resultado de nove anos de trabalho da Agência IBA Berlin Gmbh, criada em 1979, mediante aprovação do governo da Berlim 2 Stadt von morgen 3 Die Deutsche Demokratische Republik. República Democrata Alemã, pertencente ao bloco dos países socialistas, cuja capital era a Berlim Oriental.
  • 3. Ocidental. Desta agência fizeram parte membros do governo, arquitetos, urbanistas e representantes de setores públicos e privados. O objetivo da Agência IBA Berlim concentrou-se, não somente na construção de novos projetos urbanos, mas principalmente, na requalificação e redesenvolvimento de áreas centrais e edificadas. Aproximadamente 3000 residências foram construídas ou reestruturadas até 1987, ano de encerramento da exposição internacional. O IBA Berlim agregou, ao processo de renovação urbana, a participação popular e a parceria público-privado, além de ter criado uma agência especial responsável pela renovação e restauro4 : STERN (Gesellschaft der behutsamen Stadterneuerung GmbH)5 . Esta agência tornou-se modelo para as futuras intervenções urbanas em cidades alemãs, principalmente para os projetos de redesenvolvimento da Berlim Oriental, após a queda do muro, em 1989. Durante os anos do IBA Berlim'87, os critérios e conceitos de intervenção, entre eles,: “a renovação urbana cuidadosa”, “a reconstrução crítica da cidade”, “promover a habitação em antigas áreas centrais degradadas”, “integração entre construções existentes e novas” e “a imagem da cidade", configuraram importantes parâmetros para a Mostra seguinte, que teve por desafio a reconversão de um território industrial em escala regional: a zona do rio Emscher, no vale do Ruhr. 3. A OCUPAÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO DO VALE DO RUHR Os últimos 150 anos testemunharam a história industrial da região do Ruhr. Antes deste período, o Ruhr era composto por áreas pantanosas, vilas e pequenas cidades com menos de 500 habitantes. A partir da segunda metade do século 19, o Ruhr iniciou um processo de transformação industrial. A ocupação do território esteve relacionada, primeiramente, à exploração do carvão, Schwarzen Gold (ouro preto),que ocorreu primeiramente ao sul, onde ele era encontrado em veios próximos à superfície, não exigindo grandes esforços tecnológicos para a sua exploração. À medida que as técnicas industriais de escavação e extração de carvão se aprimoraram, foi possível a exploração e descoberta de novas áreas em que os recursos, qualitativamente melhores, eram encontrados mais profundamente no solo. 4 Definições apresentadas no Regional development studies: The EU compendium of spatial planning systems and policies: Germany Luxemburg, 1999. 5 STERN: agência responsável pela renovação urbana.
  • 4. Desta forma, a ocupação territorial foi se deslocando gradativamente de sul para norte, em três diferentes zonas orientadas no sentido leste-oeste: - A zona Hellweg, situada entre os rios Ruhr e Emscher (em torno dos centros das cidades de Duisburg, Essen, Bochum e Dortmund) - As zonas do rio Emscher e do rio Lippe, segundo e terceiro estágios da ocupação territorial. As primeiras aglomerações apareceram sem qualquer planejamento especial. Elas se formaram através de iniciativas isoladas motivadas por razões econômicas. Durante a década de 1870, pessoas provindas do leste europeu iniciaram um processo migratório para a região do Ruhr, dinamizando ainda mais a sua ocupação territorial. O crescimento capitalista da região foi consolidado de forma policêntrica. As cidades assentadas nas zonas leste-oeste, desenvolveram-se individualmente ao longo do eixo norte-sul, gerando uma grande imobilidade entre as cidades. O Ruhr cresceu como uma periferia e a falta de urbanidade tornou-se a marca de sua expansão. Deste modo, em algumas décadas, áreas agrícolas e florestas foram transformadas em extensas áreas industriais. “Bosques deram lugar para chaminés, campos tornaram-se assentamentos, rios foram convertidos, e o céu encoberto por fumaça e fuligem” [VON PETZ: 1997, p. 56]. A região do vale do Ruhr cresceu como uma larga conurbação periférica, isto é, sem um processo legítimo de desenvolvimento urbano. As atividades industriais desenharam as aglomerações, assim como ditaram as regras do viver neste território. A vida urbana foi estruturada com base no tempo das máquinas e pelo espaço da produção. A zona do Emscher foi a que mais sofreu com a exploração industrial, em termos de degradação e apropriação espacial sem planejamento. O território formado pela junção da indústria e dos assentamentos populacionais desenhou cidades periféricas sem urbanidade. O controle desta zona industrial acontecia, como em um sistema feudal, através do monopólio político exercido pelos dirigentes das minas de carvão e das atividades relacionadas à produção do aço. A infra-estrutura da zona do Emscher também não foi baseada em planos urbanísticos. Ela foi configurada de acordo com os interesses da Montanindustrie6 . As primeiras alternativas de transporte surgiram para o escoamento e circulação da produção e não para a mobilidade da população trabalhadora. 6 Indústria relacionada às atividades de extração mineral.
  • 5. Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico, desindustrializando-se. 4. UMA NOVA IMAGEM PARA A ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL A agência semi-pública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália com a missão de promover o desenvolvimento regional da região industrial do vale do Ruhr, por um período de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft); e ainda contou com grandes contribuições financeiras da Comunidade Européia, através de programas de subvenção a áreas urbanas em crise social, decorrentes do processo de desindustrialização. O IBA Emscher Park foi constituído como uma oficina para a renovação de uma antiga região industrial7 . A área delimitada para as intervenções correspondeu à zona do rio Emscher, compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen. Parque da Paisagem do Emscher - sistema de corredores verdes O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral. Estas áreas pertenciam aos monopólios do carvão e do aço, setores hostis às mudanças e inovações. 7 IBA Emscher Park: Werkstatt zur Erneuerung alter Industriegebiete.
  • 6. O desemprego atingindo taxas médias de até 12%8 , o previsto declínio populacional de 15%, em um período de 20 a 30 anos e o meio ambiente contaminado através da poluição de rios, do ar e de solos explorados, entre outros, apresentavam-se como enclaves para o desenvolvimento, não somente da zona do Emscher, como também da região do vale do Ruhr. Embora o panorama alertasse, de um lado, para a difícil tarefa a ser enfrentada, por outro, a zona do Emscher apresentava um grande potencial de desenvolvimento. Entre os aspectos mais relevantes estavam: a condição geográfica central em relação à Europa; a possibilidade de crescimento de um grande novo mercado com a abertura da Europa Oriental; o fato da região do Emscher abrigar um grande contingente populacional, proveniente de diferentes culturas; e, ainda, o elevado potencial para a ocupação e re-uso de extensas áreas desocupadas, antes pertencentes a Montanindustrie. O clima de desolação e falta de perspectiva tornaram-se pontos importantes a serem combatidos. A mudança desta imagem: o desafio de projeto. O capital inicial investido foi da ordem de 35 milhões de marcos alemães. A administração do IBA contou com uma equipe de aproximadamente 30 profissionais - liderados pelo geógrafo Karl Ganser -, combinando a tradicional “Mostra de Construção”, no sentido arquitetônico, com o suporte político, econômico e administrativo de entidades públicas. A defesa dos espaços abertos foi retomada através do conceito de cinturões verdes, desenvolvido anteriormente, em 1920, por Robert Schmidt. Estes elementos foram novamente considerados ordenadores do espaço, mas desta vez, articulados por um corredor verde leste-oeste de 70 quilômetros de comprimento e 15 quilômetros de largura, ao longo da zona do Emscher. Este corredor verde, o Emscher Landschaftpark (Emscher Parque da Paisagem) foi a linha estrutural para a regeneração do coração da região do Ruhr. 5. AS SETE LINHAS MESTRAS DE INTERVENÇÃO DO IBA EMSCHER PARK A agência IBA foi instalada em edifício pertencente a antiga mina de carvão Rheinelbe, na cidade de Gelsenkirchen, reforçando o caráter de redesenho e regeneração do ambiente construído afastando-se, desde a sua essência, do conceito de tabula rasa. 8 As taxas de desemprego na zona do Emscher atingiam números maiores que qualquer outra área pertencente a Alemanha ocidental.
  • 7. O memorial oficial dos trabalhos da agência IBA Emscher Park, assinado em 1989, previa um prazo de 10 anos de atividades do escritório, embora os projetos apresentassem diferentes agendas - de 10 a 30 anos - e determinou sete linhas mestras de intervenção: 1. Emscher Landschaftspark- a regeneração e redesenho da paisagem ao longo da zona do Emscher; 2. Ökologischer Umbau des Emscher-Systems - a reabilitação do rio Emscher e seus afluentes, partindo de Duisburg a Bergkamen; 3. Kanäle als Erlebnisräume - o canal Rêno-Herne como espaço de vivência; 4. Industriedenkmäler als Zeugen der Geschichte - a conservação de edifícios industriais através do redesenho de seus espaços e funções, propiciando a manutenção da identidade industrial através de uma nova imagem, baseada em seu patrimônio cultural; 5. Arbeiten im Park - a criação de um espaço de alta qualidade voltado para a instalação de novas empresas e escritórios, materializando o conceito de trabalhar no parque; 6. Wohnungsneubau und modernisierung - novas formas de morar e a habitação como elemento propulsor da requalificação urbana; 7. Neue Angebote für soziale und kulturelle Aktivitäten - novas ofertas para as atividades sociais e culturais, tendo em vista a necessidade de qualificar os espaços de lazer, devido ao aumento do tempo livre, decorrente da redução da jornada de trabalho e dos novos modos de produção que introduzem novos estilos de vida. O Parque da Paisagem do Emscher e as 7 linhas mestres defendidas pelo IBA Emscher Park Os planos diretores, modelo difundido pelos arquitetos modernistas, foram substituídos pela administração de projetos isolados que, na concepção da equipe coordenadora do IBA, dinamizariam a região, respeitando as diferenças entre elas. A
  • 8. estratégia seria como uma terapia de acupuntura9 : uma rede de intervenções pontuais polarizariam e tensionariam a regeneração de áreas adjacentes, conformando um desenvolvimento regional integrado. Aproximadamente 100 projetos foram desenvolvidos e implantados em uma faixa formada por 17 cidades - Duisburg, Oberhausen, Mülheim, Bottrop, Essen, Gladbeck, Bochum, Gelsenkirchen, Recklinghausen, Herne, Herten, Castrop-Rauxel, Waltrop, Lünen, Dortmund, Kamen e Berkamen - somando um total de 2 milhões de habitantes. O IBA defendeu o conceito de cultura da arquitetura (Baukultur), pelo qual o edifício e o projeto do lugar foram os componentes críticos para a regeneração social, econômica e ambiental. Acreditando ser a arquitetura, antes de uma imposição do ambiente construído, um instrumento do planejamento espacial. “Através da qualidade arquitetônica determinada caso a caso, baseada e moderada por uma autoridade qualificada, permite-se o planejamento urbano de baixo para cima” [GANSER, 1990]. A oficina de reconversão do território industrial também organizou e financiou processos de planejamento e qualificação, através de concursos interdisciplinares e concorrências internacionais. Agindo desta forma, o IBA procurou trazer idéias e soluções internacionais para as necessidades locais buscando a notoriedade da região no contexto global. Projetos como o museu do design de Norman Foster, nas antigas instalações da Mina Zollverein em Essen; o museu de arte alemã, na antiga sede do moinho Küppersmühle em Duisburg, projeto de Herzog e Meuron10 ; e, o marco da paisagem, slag ingot for the Ruhrgebiet de Richard Serras, no monte Schurenbach em Essen, são exemplos de arte e arquitetura assinadas por arquitetos e designers conhecidos internacionalmente. Küppersmühle em Duisburg, 2001. 9 As in the case of acunpucture, it contents itself with stimulating significant points in the hope that the healing powers thus activated will spread out to include the closer vivinity and more distant environs. (Peht: 1999) slag ingot for the Ruhrgebiet em essen, 2001. 10 Herzorg & Meuron são os autores do projeto Tates Gallery, em Londres.
  • 9. Desta forma, a nova imagem do coração da região do Ruhr foi se delineando. Novos usos e significados foram incorporados ao tecido urbano, sem que para tal fim, fossem anuladas a memória e a identidade da paisagem construída. A zona do Emscher não foi transformada em um museu, pelo contrário, ela foi considerada não somente um espaço de visibilidade e contemplação, mas um lugar a ser usado e experimentado (Erlebnissräume). Karl Ganser, mentor e coordenador-chefe da agência IBA, afirmou - quando questionado quanto às intenções de projeto -, que o Ruhr deveria encontrar, em sua paisagem industrial, os valores para o desenvolvimento de sua identidade. A mudança de mentalidade reforçada pela auto-estima dos habitantes, acostumados ao conformismo de uma região degenerada pelos anos de industrialização selvagem, foi um dos pontos fortes defendido nas intervenções e nas atividades criadas. Ao invés de serem desenvolvidas áreas periféricas, Ganser defendeu o redesenho e o adensamento das áreas centrais mais atingidas pela industrialização. Paralelamente, foi criado um conceito cultural de inovação que orientou os princípios das intervenções, baseados em duas linhas de ação: “uma nova região fundamentada em uma nova cultura” e “sustentabilidade urbana sem danos ecológicos”. 5.1 Reconvertendo wastelands11 : recriação da natureza ou a natureza em um estágio pós-industrial O projeto do Parque da Paisagem do Emscher (Emscher Landschaftspark) combinou natureza e patrimônio industrial, em escala regional, através de uma área de 300 quilômetros quadrados. Diferentemente de outros parques que foram construídos igualmente em sítios industriais, porém após a total demolição de suas referências anteriores, como La Villete e Parc André-Citroën, ambos situados em Paris. A coordenação do IBA Emscher Park buscou reconstruir o território através de uma nova paisagem cultural (Kulturlandschaft), baseada na consciência coletiva de pertencer a um lugar, a uma história e a uma região industrial. O Emscher Landschaftpark partiu da integração e reconversão de terrenos industriais visando, além do novo uso para a paisagem obsoleta, novas possibilidades de desenvolvimento. A ecologia, foi vista como instrumento de reestruturação econômica, 11 Wasteland termo utilizado para designar áreas desoladas, abandonadas. Geralmente relacionadas a exploração industrial ou urbana.
  • 10. principalmente em se tratando da competição com outras metrópoles européias pela busca de novas economias. Para a nova paisagem do coração do Ruhr não houve limites urbanos. As cidades do Emscher, pouco conhecidas fora da região, conformaram uma federação de novos espaços onde a indústria, a cultura e a paisagem misturavam-se. O parque da paisagem do Emscher abrangeu diferentes escalas de espaços livres, desde corredores verdes aos parques locais. Algumas áreas foram eleitas pedras fundamentais (Trittsteine) para o sucesso do projeto de grande parque urbano. Entre eles, o Landschaftspark Duisburg-Nord - um dos principais parques locais que compõe a estrutura de espaços verdes do Emscher Landschaftspark -, que agregou apreciação estética à decadência da ruína industrial. A vegetação que gradativamente ocupava as adjacências dos trilhos ferroviários e das instalações em geral, foi administrada através do mesmo conceito de degradação controlada, aplicado às construções industriais. Algumas partes do complexo foram mantidas fechadas ao público. Entretanto, elas aguardam o desenrolar das futuras ações, baseadas na cultura industrial e no turismo urbano. Através da “degradação controlada”, o desgaste das estruturas foi percebido como fluxo natural de uma imagem de paisagem mutante, que preserva as suas características na medida em que legitima seus índices em deterioração. “Seria perigoso, se os monumentos industriais fossem demolidos pela falta de dinheiro para a sua manutenção. Ao menos, eles restam visíveis. Esta é a estratégia da degradação controlada” [GANSER: 2000, p.22, trad. nossa]. A aceitação da herança industrial manifestou-se através do “patrimônio histórico” e da “paisagem em movimento”, como defende Bernard Reichen [2000, p.24]. Por processos de conservação e transformação, as antigas estruturas deram origem a novos projetos arquitetônicos, referências da nova cultura na paisagem. Landschaftspark Duisburg-Nord
  • 11. “Nós paisagistas, não mudamos os sítios industriais abandonados. São eles que provocam uma mudança fundamental na nossa maneira de pensar e na filosofia de nossa profissão” [LATZ: 2000, p.23]. Seguindo os mesmos passos do Landschaftspark Duisburg-Nord, embora respondendo a diferentes escalas, outros parques agiram também como pedras fundamentais para o redesenho da paisagem do Emscher, entre eles: o Nordstern Park, em Gelsenkirchen; a Kokerei Zollverein, em Essen e o Westpark, em Bochum. A restruturação do ecossistema da zona do Emscher foi o amálgama entre os aproximadamente 100 projetos desenvolvidos durante o IBA Emscher Park. A conexão entre estas diferentes escalas de espaços livres foi obtida através da criação de trilhas peatonais, ciclovias regionais, do rio Emscher e do Canal Rhein-Herne, do eixo ferroviário Köln-Mindener12 , além das convencionais ruas e estradas, que cruzavam os setes cinturões verdes, permitindo o uso e a experimentação deste novo cenário. 5.2 Habitação como forma de reestruturação urbana. Uma das metas mais importantes do IBA Emscher Park foi concentrar e ocupar as lacunas urbanas, estimulando ações como: morar, trabalhar e lazer. Além do usufruto social e cultural, buscou-se um verdadeiro ambiente urbano, ausente até aquele momento. A construção de novas habitações, assim como a regeneração de antigas áreas residenciais, foram entendidas como ponto central do processo de reestruturação urbana [SCHITZMEIER: 1991, p. 31]. A Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, pode ser considerada um exemplo. No final da década de 1970, acompanhando o reflexo das crises do carvão e do aço, a mina de carvão Prosper III, em funcionamento desde 1906, foi fechada. Em 1987, os antigos edifícios foram demolidos, deixando uma área vazia de 26 hectares. Apenas o muro 12 O eixo ferroviário Köln-Mindener foi grande propulsor do desenvolvimto regional na era industrial. Ele também recebeu especial atenção da agência IBA Emscher Park, através do redesenho das estações e da restruturação da infra-estrutura. A ferrovia desenvolveu papel central na atuação do IBA tal qual o rio Emscher e o canal Rhein-Herne. Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, 2001.
  • 12. da mina, os portões que controlavam o acesso às instalações da ProsperIII e a avenida de plátanos (Platanenalle) foram mantidos como elementos históricos relevantes. Os primeiros esforços para a recuperação da área foram iniciados, em 1990, sob a supervisão do IBA Emscher Park, juntamente com as parcerias da cidade de Bottrop, da empresa MGG (Montan Grundstücksgesellschaft) e do GEP (Gesellschaft für Projekt- management und Grundstücksentwicklung). Arquitetos internacionais foram convidados a elaborar propostas de utilização do sítio, através de um programa inovador, que não só deveria atender as necessidades de reconversão da área em questão, como também, as aspirações da própria cidade de Bottrop de se renovar e bem suceder frente ao processo de mudanças estruturais. O programa do concurso estimulou a integração das linhas mestras do IBA: “trabalhar no parque”, “reconstrução da paisagem”, “novas residências e novas formas de morar”, além de “novas atividades culturais e sociais” [EVERDING: 1990, p.31]. O projeto vencedor do concurso foi de autoria do escritório de Trojan & Trojan. Os 26 hectares foram ocupados a partir de três usos básicos: 6 hectares para uso comercial, 9 para uso residencial e 11. para áreas verdes. A área comercial, implantada na entrada do sítio, era composta por lojas e supermercados, que visavam atender às necessidades da nova comunidade, assim como das comunidades do entorno, preponderantemente residencial. A zona destinada às habitações foi implantada em áreas onde o solo não apresentava índice algum de contaminação, preservando a segurança e saúde dos habitantes. No centro do terreno da Prosper III, onde se concentrava o maior índice de contaminação do solo, foi criada uma área verde que visou, enquanto projeto, a reconstrução da natureza local e a proteção contra futuras contaminações. Para tal fim, após a descontaminação do solo, um talude foi criado com a terra proveniente da movimentação de outras áreas do sítio. Vários outros projetos, abordando as “novas formas de morar”, foram realizados durante os anos de atuação da agência IBA Emscher Park. Ao todo foram 21 projetos entre renovação habitacional e novos complexos habitacionais. Dois projetos habitacionais ainda merecem ser destacados. Eles participaram do programa Agenda 21 da cidade de Gelsenkirchen: Küppersbusch-Grundstück e Siedlung Schüngelberg. O Küppersbusch-Grundstück foi implantado em antigo terreno pertencente a fábrica de móveis Küppersbusch. O novo complexo residencial ficou conhecido pelo seu padrão
  • 13. arquitetônico ecológico, visível através das estruturas de captação de água pluvial que percorre e desenha o espaço central do conjunto. O Siedlung Schüngelberg abordou a renovação habitacional do antigo assentamento residencial operário situado entre a mina de carvão Zeche Hugo e o monte Rungenberg - criado com os detritos provenientes das extrações minerais. Ao todo foram renovadas 308 residências e criadas 220 novas habitações. Siedlung Schüngelberg em Gelsenkirchen, 2001. O programa abrangeu, ainda, a criação de creches e um novo centro para o conjunto habitacional. Uma praça dotada de lojas e serviços foi criada ampliando as perspectivas futuras de desenvolvimento da área. O monte Rungenberg, assim como o Landschaftspark Duiburg-Nord, o Wissenschaftspark Rheinelbe e tantos outros, faz parte da rota dos marcos artísticos da paisagem (Landmarken-Kunst) da região do Ruhr. Mais uma vez, a arte a serviço da paisagem apresentou-se como elemento referencial do espaço, iluminando o destino futuro de um contexto urbano redesenhado. 5.3 Trabalhar no Parque. O conceito Trabalhar no parque (Arbeiten im Park) foi desenvolvido através da criação de parques tecnológicos e científicos, centros comerciais e de escritórios, e novas indústrias, principalmente, aquelas voltadas às questões ecológicas como a produção de energia alternativa. Ao todo, 19 projetos foram implantados em sítios industriais, localizados dentro de centros urbanos. Estes projetos compartilharam a criação de grandes áreas verdes e a alta
  • 14. qualidade arquitetônica e ecológica de suas instalações. As novas áreas foram erguidas por intermédio de investimentos públicos e privados, que visaram atrair novos empregos e novas formas de economia para a região. Como declarou o próprio líder do IBA Emscher Park, o geógrafo Karl Ganser, a criação de lugares inovadores em meio a um ambiente urbano atraente, onde antes os terrenos industriais configuravam o espaço, respondeu a demanda da opinião pública por novas alternativas de desenvolvimento econômico. Esta alteração no cenário urbano das cidades industriais, tendo por base a mudança no modo de produção econômico, foi descrita por Manuel Castells e Peter Hal no livro Technopoles of the world-The making of 21st century industrial complexes [1994, p.1]. Há uma imagem da economia industrial do século 19, familiar em uns cem livros de história: a mina de carvão e sua vizinha fundição de ferro, expelindo fumaça negra no céu, e iluminando os paraísos noturnos com seu clarão vermelho sombrio. Há uma imagem correspondente para a nova economia que tem se formado a partir dos últimos anos do século 20, [...] Ela consiste de uma série de baixos e discretos edifícios, geralmente de muito bom gosto, inseridos em uma paisagem impecável, com atmosfera de campus. O Wissenschaftspark Rheinelbe (Parque Científico Rheinelbe), em Gelsenkirchen, representa a passagem acima descrita, tendo se tornado símbolo de inovação, na região do Ruhr. Os centros de pesquisa sempre estiveram integrados com as universidades da zona do Hellweg. Somente cidades como Bochum, Dortmund, Essen e Duisburg eram dotadas de atividades relacionadas à pesquisa e ao aperfeiçoamento científico. Através da criação de institutos de pesquisa na zona do Emscher, o IBA Emscher Park, juntamente com o governo da Renânia do Norte Vestfália, buscou novas formas de desenvolvimento e atração para as cidades exclusivamente industriais. Wissenschaftspark Rheinelbe em Gelsenkirchen, 2000.
  • 15. O Wissenschaftspark Rheinelbe foi criado, não somente para agir como um instituto de pesquisa, mas também, para polarizar novas ocupações para o seu entorno. O projeto previu a incorporação e a conexão de elementos dinamizadores13 da reconversão urbana. Viver e trabalhar se uniram envoltos pela atmosfera agradável do parque. O sítio em reconversão contou com o reuso de alguns dos edifícios industriais presentes no local, entre eles, a casa dos transformadores da mina Rheinelbe, que desde 1990, foi a sede do escritório IBA Emscher Park. 5.4 No caminho para um Emscher azul. Desde a virada do século 19, o rio Emscher tornou-se um esgoto a céu aberto nos seus 70 quilômetros de extensão leste-oeste. Com o aumento populacional e o desenvolvimento das atividades mineradoras, o rio e seus afluentes, um sistema com 350 quilômetros, passou a ser utilizado indiscriminadamente. A atividade exploratória da zona do Emscher não permitiu a introdução de bombas ou tubulações subterrâneas, devido ao perigo de desabamentos e conseqüente ruptura destes mecanismos. Com as escavações e extrações minerais, o terreno da região do Emscher sofreu constantes acomodações e, em vários pontos, o nível do solo foi rebaixado. O material das escavações, não tendo como retornar ao subsolo, era depositado em outras áreas, dando origem às montanhas artificiais de detritos (slag heap), que alteraram o relevo plano do vale do Ruhr. Com a desindustrialização, a natureza na cidade passou a ser considerada e avaliada não mais pelo ponto de vista pragmático dos engenheiros, mas de acordo com as demandas ecológicas de reconversão da paisagem, entendidas como fundamentais para a reestruturação do ambiente urbano, desgastado pelos anos de industrialização desenfreada. Desta forma, para que o IBA tivesse credibilidade na reconversão da paisagem destruída do Emscher, foi necessário tratar, em bases ecológicas, o elemento símbolo do processo de degeneração industrial. O rio Emscher , por décadas, significou, através de sua cor, de seu cheiro e de sua condição não natural, a degradação ambiental de toda a região do Ruhr. Uma vez que as atividades relacionadas à extração do carvão se deslocaram para norte e que o perigo de deslizamentos não mais existiu, novas medidas foram adotadas para o tratamento do esgoto na zona do Emscher. Desta vez, a reabilitação de partes do 13 Residências, novas formas de economia, instituições sociais e lazer.
  • 16. sistema fluvial, buscou devolver à natureza uma água limpa, fluindo em um curso mais natural, além da requalificação paisagística das margens do rio e de seus córregos. Para a reestruturação ecológica do sistema do rio Emscher, o IBA associou-se a EmscherGenossenschaft (agência criada em 1904 com o objetivo de tratar dos assuntos relativos ao consumo de água) e, em conjunto, desenvolveram três linhas básicas de atuação: - Descentralização das estações de tratamento do esgoto, ao longo dos 70 quilômetros do rio Emscher, além de uma estação de tratamento biológica na confluência dos rios Ruhr e Emscher, tendo em vista a melhoria da qualidade da água. - Separação entre a água suja e a limpa, transferindo a água contaminada para tubulações de esgoto subterrâneas, permitindo, através do redesenho do curso da água, um leito mais natural para os rios e córregos. Como conseqüência também, a paisagem adjacente seria redesenhada, criando um ambiente urbano mais atraente. - Possibilidade de captação da água da chuva nas áreas próximas ao rio Emscher e de seus afluentes, facilitando a infiltração natural. O projeto de reconversão dos 350 quilômetros de curso de água poluída foi previsto para um período de 20 a 30 anos, com investimentos estimados da ordem de 8.7 bilhões de marcos alemães. Exemplos de aplicação destas três linhas básicas podem ser verificados, respectivamente, através da criação da moderna estação de tratamento de esgoto, na cidade de Bottrop (Kläranlage Bottrop), da reconversão do córrego e da paisagem adjacente ao Deininghauser Bach e do projeto de captação e infiltração natural da água da chuva, no antigo e novo conjunto habitacional Schüngelberg. Através do tratamento do sistema hidrológico do Emscher, O IBA Emscher Park ganhou, da opinião pública, de investidores e dos poderes públicos locais, a credibilidade na reconversão da paisagem industrial. Deininghauser Bach em Bottrop, 2001.
  • 17. 5.5 Montanhas de detritos minerais alterando o relevo do vale do Ruhr. A topografia plana, característica natural da paisagem do Ruhr, com o passar dos anos, foi alterada pelos montes de detritos (slag heaps), construídos a partir do material extraído na exploração das minas. As referências da paisagem do Ruhr eram sempre aquelas relacionadas ao cenário industrial: chaminés, gasômetros, torres de extração e outros elementos marcantes que, principalmente nas cidades da zona do Emscher, misturavam-se e confundiam-se reforçando ainda mais a imagem de uma grande e única conurbação industrial. As montanhas de detritos, algumas atingindo 65 metros de altura e áreas equivalentes a 3 hectares., foram entendidas não somente como novas formas artificiais de relevo, produtos da natureza industrial, mas potenciais land-arts, servindo de inspiração e suporte para projetos artísticos [GANSER: 2000, p. 20]. Desta forma, os land-arts, a paisagem transformada em obra de arte e os landmarks, a arte criando pontos de referência na paisagem, integraram o repertório das novas visibilidades para o Ruhr. A partir do tratamento artístico e paisagístico recebido, as montanhas artificiais se tornaram também estratégicas plataformas de observação da paisagem industrial em mutação: a visibilidade que observa. 6. APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA. O IBA Emscher Park, influenciado pela última Mostra Internacional ocorrida em Berlim, na década de 1980, fugiu do conceito de tabula rasa adotando o lema: “mudança sem crescimento”. A reutilização da terra prevenindo a exploração de novas áreas verdes; a modernização, conservação e estratégias de re-uso para edifícios existentes; a incorporação de práticas ecológicas para novas construções como também, para o redesenho de antigos edifícios; e a transformação da estrutura de produção com métodos que não prejudicassem o meio ambiente; constituíram alguns dos partidos adotados para o “desenvolvimento controlado”, ou “mudança sem crescimento”, como definiu Karl Ganser, coordenador do IBA. Ao invés de planos diretores centralizadores, o IBA promoveu o desenvolvimento regional integrado, uma nova escala de intervenção para uma mostra de construção internacional, considerando sítios individuais, como espaços de mediação e instrumentos de desenvolvimento urbano.
  • 18. A criação de um parque da paisagem, como elemento conector dos aproximadamente 100 projetos, recorrendo ao antigo modelo dos corredores verdes, desenhado em 1920, por Robert Schmidt, manteve a tradição alemã de privilegiar os espaços livres, ao mesmo tempo em que partiu em defesa da ecologia, baseada nos novos parâmetros do desenvolvimento sustentável. Gasômetro em Oberhausen, 2001. A experiência IBA Emscher Park, como defendeu Ganser, não deve servir de modelo a ser aplicado em outras realidades industriais, mas o seu conceito de intervenção sim. Cada localidade é construída em bases históricas e culturais próprias. A industrialização, embora tenha sido um processo de desenvolvimento econômico mundial, e a sua estruturação tenha ocorrido em bases similares em todo o mundo, apresentou reflexos diversos em várias localidades do planeta. Desta forma, não se faz cabível uma comparação entre a realidade do Ruhr e a de qualquer região ou cidade industrial brasileira, pois se assim fizéssemos correríamos o risco de esvaziar a riqueza das diferenças em analogias estruturais que acabariam por se sobrepor às características culturais de ambas realidades. O que nos cabe ressaltar desta experiência, entretanto, é a metodologia empregada em se tratando da intervenção em territórios industriais, principalmente tendo em vista a recuperação urbana e a aproximação com as noções de crescimento e desenvolvimento sustentável.
  • 19. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: - BOSMA K. & HELLINGA H. (Hrsg) "Mastering the City I /II" Rotterdam 1997 NAI. - CASTELLS, Manuel & HALL, Peter. Technopoles of the world: the making of 21st century industrial complexes. London: Routledge, 1994. - Das Neue Berlin. "Berlin: open city" Berlin: Nicolai,. 2000. - FEHN; K. & WEHLING; H.W. " Bergbau- und Industrielandschaften" Bonn: Mignon Verlag, 1999. - IBA Emscher Patk & Stadt Bottrop. Städtebaulicher Realisierungswettbewerb zur Reaktivierung der Zechenbrache Prosper III in Bottrop, 1990. - IBA Emscher Park (Hrsg). "Ergebnisse der Studie zur Machbarkeit des Emscher Landschftspark in: Emscher Park Informationen 4,5/1990",Gelsenkirchen IBA,1990 - Projeturbain 21/ Sep 2000 " L'IBA Emscher Park: Un anti modele"