1) O documento discute como os espíritas veem o Dia de Finados, explicando que não há proibição de visitar cemitérios, mas que acreditam que o espírito não permanece no túmulo.
2) Espíritas respeitam as tradições dos outros de prestar homenagens no cemitério, reconhecendo que alguns espíritos podem visitar os túmulos nessa data.
3) O mais importante é a sinceridade da intenção e do amor, que podem ser expressos de diferentes formas, seja no cemité
1. O dia de finados para o
Espírita
Por: Christina Nunes
A propósito do dia de finados, é interessante
discorrer sobre questionamentos com os quais de
vez em quando somos colhidos por parte de
conhecidos, curiosos ou interessados em se iniciar
nos assuntos relativos à espiritualidade.
De vez em quando alguém pergunta "por que o
espírita não vai ao cemitério" (no dia de finados,
mais especificamente). Cabe aqui, portanto, um
esclarecimento útil.
Primeiro: nenhum espírita, em virtude de ideologia
religiosa, ou limitação de qualquer tipo imposta
2. pela doutrina, "não pode" ir ao cemitério em
qualquer época. Efetivamente conheço muitos,
simpatizantes, ou espiritualistas convictos, que
narram de suas visitas a túmulos de parentes ou
conhecidos.
Segundo: o que ocorre mais amiúde é que, em
detendo o espírita a tranqüila convicção de que
seu ente querido não mais se demora por estas
bandas, tendo demandado estâncias outras, mais
ricas, de vida, guarda a consciência clara de que
tudo o que ficou na sepultura foi a "roupagem
gasta", e não mais, portanto, a pessoa com quem
compartilhou experiências e afeto.
Terceiro: isto não implica em que o espírita sincero
condene ou critique o posicionamento dos demais
semelhantes que, de todo o coração, prestam com
sinceridade as suas homenagens aos seus
afeiçoados que se anteciparam na viagem deste
para o outro lado da vida. Aliás, reza no próprio
conhecimento da doutrina que muitos
desencarnados visitam, efetivamente, os
cemitérios por ocasião da data, em consideração
às demonstração de amor com que ali são
distinguidos. E muitos outros ainda, afeitos aos
costumes dentro dos quais desenvolveram suas
experiências na matéria, conferem ainda subida
importância a este gesto, ressentindo-se, de fato,
daqueles que não o prestem nas datas de molde a
serem lembrados.
Vistas estas considerações, é sensata a conclusão
de que jamais cabe padrão algum de conduta no
que toca ao sagrado universo íntimo humano.
Cada agrupamento familiar terreno é único e
peculiar, e ninguém melhor do que os seus
componentes para estarem inteirados do que
3. atinge ou não atinge mais de perto a cada um; o
que convém ou o que não convém em matéria de
sentimento e dedicação, cujos estágios e
características se multiplicam ao infinito
correspondente do número de habitantes do vasto
universo humano.
Efetivamente, somos do lado de "lá" o que fomos
aqui. É dever comezinho não só do espírita, quanto
de qualquer pessoa que se diga civilizada,
respeitar a diversidade dos caminhos escolhidos
que, destarte, haverão de conduzir a cada ser, no
tempo certo, ao mesmo ponto de encontro comum
na intimidade das luzes divinas. Questão de
temperamento, de agrupamento humano, de fé e
de hábitos, o ir ou não ir ao cemitério, de vez que
é na sinceridade do gesto, e não no gesto em si,
que se vislumbra a verdadeira homenagem aos
desencarnados, de forma que, amor pelos
mesmos, podemos dirigir-lhes tanto do recesso
abençoado do nosso recanto de meditação no lar,
quanto do ambiente de qualquer templo religioso,
ou ainda diariamente, no movimento tumultuado
das ruas, ou também no cemitério, a qualquer dia
do ano.
De forma que aqueles que partiram nos amando de
todo o coração haverão de valorizar e entender a
nossa melhor intenção ao seu respeito, seja de
onde for que se irradie, colhendo-os de pronto,
pela linguagem instantânea do coração e do
pensamento. Os que foram afeitos aos hábitos
costumeiros do dia de finados, na medida de suas
possibilidades espirituais após a transição lá
estarão, junto à sepultura física, colhendo com
sincera afeição os votos de paz e as preces que
lhes estejam sendo dirigidas. Os provenientes dos
lares espiritualistas na Terra receberão as mesmas
demonstrações de amor a qualquer tempo, em
4. qualquer data que faça emergir naqueles que
ficaram para trás no aprendizado físico as gratas
lembranças com que são evocados.
O importante é que espíritas e não espíritas têm
em comum, em relação aos seus amados que já se
foram, à qualquer época, a linguagem
inconfundível do amor entre as almas.
Enxerguemos acima dos horizontes das limitações
de visão humanas para alcançarmos com clareza a
compreensão de que é assunto individual a forma
como celebramos o nosso afeto para com os
nossos entes queridos, e que o fator da
sinceridade e da intenção é o que de fato conta, na
hora da certeza de que nossas preces e votos de
paz serão bem recebidos por aqueles que
prosseguem nos amando de igual forma na
continuidade pura e simples da vida, que a todos
aguarda para além das portas da sepultura, sob as
bênçãos de Jesus.
Dia de Finados?
Passos Lírio
O Cristianismo é, por excelência, a Doutrina do Espírito,
5. fundada em fatos que demonstram, à evidência, a sua
presença e atuação, em qualquer circunstância, sempre que
necessário.
Seus ensinamentos primam pela tese comprobatória da
realidade da existência da alma e de sua faculdade de entrar
em relação conosco, em estado de vigília ou durante o sono,
como que a mostrar-nos à saciedade que há entre os dois
planos, material e espiritual, corpóreo e incorpóreo, estreito
entrosamento.
Maria de Nazaré recebe a visita do Anjo Gabriel, que lhe
anuncia a maternidade de agraciada do Senhor.
José, em se propondo deixar a esposa secretamente, é
avisado em sonho de que não faça tal, porque o que nela fora
gerado era do Espírito Santo.
Isabel, visitada pela gestante eleita, recebe o impacto de
poderoso influxo magnético, que faz que a criança - ela
também estava para ser mãe -, lhe estremeça no ventre.
Os magos visualizam no Oriente uma estrela que os guia
em dois estafantes anos de viagem e os conduz, não à gruta,
mas à casa onde se achavam José e Maria e, de regresso,
são “por divina advertência prevenidos em sonho para não
voltarem à presença de Herodes”.
Em sonho ainda, “eis que aparece um anjo do Senhor a
José”, induzindo-o à fuga para o Egito a fim de salvar o
menino da sanha sanguinária de Herodes, ordenando-lhe que
retornasse à “terra de Israel” e aconselhando-o a que se
retirasse “para as regiões da Galilé ia”.
Uma entidade angelical, na calada da noite, aparece aos
pastores dando-lhes a boa nova do Nascimento do Salvador.
“Movido pelo Espírito”, Simeão foi ao templo, onde tomou
nos braços o Filho de Deus, bendizendo ao Pai pela bênção de
tê-Lo visto antes de partir e profetizando acerca do Seu
messianato.
Ana, a profetisa, mediunizada, “chegando naquela hora,
dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os
que esperavam a redenção de Jerusalém”.
Antes do Nascimento de Jesus, houve o de João,
6. caracterizado também por manifestações espirituais
ostensivas.
Quando Zacharias oficiava no templo, “na ordem do seu
turno”, surge-lhe um Emissário Celestial que lhe prediz o
nascimento do Precursor.
No Jordão, ao se processar o batismo de Jesus, uma voz
reboa pelo ar, dizendo: - “Este é o meu filho amado, em quem
me comprazo.
Este mesmo fenômeno de pneumatofonia repete-se quando
da transfiguração do Mestre no Monte Tabor, presentes os
Espíritos de Moisés e Elias, profetas da antiga dispensação.
Ressuscita, o Messias, a filha de Jairo, o filho da viúva de
Naim e o irmão de Marta e Maria.
Na parábola do rico e Lázaro, infunde-nos Ele a convicção
na realidade da comunicação dos Espíritos com os homens,
fazendo que Abraão ponderasse ao rico, que queria falar a
cinco irmãos seus, ser inútil aparecer-lhes porque eles não lhe
dariam crédito e não porque fosse impossível fazer-se-lhes
visível para adverti-los.
Liberta endemoninhados, cujos Espíritos impuros e
obsessores confessavam conhecê-Lo e reconhecer-Lhe a
autoridade de Filho do Altíssimo.
- “Porque buscais entre os e mortos ao que vive?” Foi a
pergunta que “dois varões com vestes resplandecentes”
fizeram às mulheres que levavam aromas e bálsamos para
depositar no túmulo de Jesus, cuja pedra encontraram
removida, sem o corpo no seu interior.
- “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão!” Assim se
expressavam os dois discípulos que, a caminho de Emaús,
tiveram a companhia do Mestre, com quem confabularam
durante toda a viagem e a quem pediram, ao término da
jornada: - “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina.”
“E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para
Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros com eles.
Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e
como fora por eles reconhecido no partir do pão.”
“O Espiritismo, que se funda estruturalmente no
Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a
7. plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da
alma, da eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço”.
- “Paz seja convosco.” -“Porque estais perturbados? E por
que sobem dúvidas aos vossos corações?” Foram palavras de
Jesus, na Sua primeira aparição aos Discípulos, no Cenáculo
de Jerusalém.
- “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não
viram, e creram.” Outras palavras de Jesus, em Sua segunda
aparição aos Discípulos, dirigidas especialmente a Tomé, que,
por não estar presente na primeira, não dera crédito à versão
divulgada pelos seus companheiros, de que o Senhor lhes
aparecera.
“Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos Discípulos
junto do mar de Tiberíades”, onde se desenrolam
acontecimentos de assinalada importância que culminam com
o famoso diálogo entre Ele e Simão Pedro, o Pescador de
Calarnaum.
Finalmente, apareceu o Nazareno, no monte, aos
quinhentos da Galiléia, a quem endereça, pela última vez, a
Sua Palavra de Vida Eterna, após o que ocorre a Ascensão
definitiva.
Isto sem falar de aparições, no cenário de Jerusalém, a
Maria Madalena; a Maria de Nazaré, em Éfeso, na casa de João
Evangelista; a Pedro, por algumas vezes; a Saulo de Tarso, às
portas de Damasco.
Onde, em tudo isso, a idéia de morte? Antes não
ressumbra, de todos esses sucessos, a noção de “vida
abundante”, de pensamento e ação por parte daqueles que
formam o mundo incorpóreo?
O Espiritismo, que se funda estruturalmente no
Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a
plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da
alma, da eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço.
Não há mortos e vivos, nem do lado de lá, nem do lado de
cá, embora possa haver, tanto num quanto noutro plano,
mortos-vivos e vivos-mortos. Ninguém vai, ninguém fica,
apenas alguns chegam e outros voltam, na longa caminhada
de poder subir para saber descer, ajudando os outros a fim de
ajudar-se a si próprio.
8. A mediunidade, disciplinada espiriticamente, nos
descortinou novas dimensões de vida, revelando ao mundo a
existência de outros mundos e à Humanidade a presença de
outras Humanidades disseminadas no turbilhão de astros que
gravitam nos arcanos do Universo.
2 de Novembro... Como os demais, dia de todos nós,
encarnados e desencarnados, que buscamos na Terra ou na
Erraticidade os valores do Espírito, a gloriosa realização de
nós mesmos em Deus, libertos e purificados por todo o
sempre, para empunhamos na destra a palma da vitória e
cingirmos à frente a coroa de louros de almas redimidas e
ressurrectas, integradas nas sublimes claridades dos cimos.
Fonte: Reformador nº1976 – Novembro/1993
Responsável pela transcrição: Wadi Ibrahim
Dia de Finados
Azamor Cirne
“A Morte é o veíc ulo c ondutor enc arregado de transferir a mec ânic a da vida de
um apara
outra vibraç ão”. - Joanna de Ângelis
Dizer que a existência dos Espíritos foi invenção de Allan Kardec,
não passe de uma inverdade formulada, a priori, sem conhecimento
de causa. Ora, não se inventa o que está na Natureza.
Newton não inventou a Lei da Gravitação. Esta lei já existia,
antes dele. Pasteur não inventou as bactérias; elas já
existiam. Estes cientistas, apenas, as descobriram. São muitos
os exemplos.
Allan Kardec nada julgou, a priori. As experimentações positivas,
por ele realizadas, vieram revelar os fatos e confirmar, a posteriori,
as teorias. Foram os próprios Espíritos que se revelaram, como sendo
as almas dos mortos.
Ao Espiritismo, isto sim, coube a honra de ter sido o primeiro a se
interessar, de maneira séria, e observar, cientificamente, a origem, a
natureza e o destino dos Espíritos, depois da morte do corpo físico,
além de comprovar as comunicações que podem estabelecer com os
encarnados.
Aliás, entre os fundamentos dessa Doutrina, quatro estão na base
de todas as religiões: Deus, alma, imortalidade e vida futura.
9. “A idéia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência
do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e, com isso,
precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à
idéia”- afirma o Codificador.
Após o fenômeno da morte a alma (Espírito) desprende-se do
corpo, com o rompimento do laço sutil que a prendia: o cordão
fluídico. No mundo dos Espíritos - que é o mundo normal, primitivo,
eterno, preexistente, e sobrevivente - o Espírito, ligado ao corpo
espiritual (perispírito) passa por um estado de perturbação, com
quem acorda de um sonho, em um outro lugar. Sua mente, já
desligada do cérebro, portanto, traz-lhe à consciência os registros
(lembranças) dessa última existência e de outras.
Como a Doutrina refuta a hipótese de céu e inferno, inclusive, por
questão de lógica, o desencarnado não vai desfrutar dos gozos
eternos e nem estará, irremediavelmente, condenado ao suplício
interminável. Aqueles que estiverem condicionados aos interesses
mundanos, materiais, que os prendiam, quando na Terra, continuam
a eles atraídos, na ilusão de, ainda, controlá-los; perturbados e
perturbando a quem eles se acercam. Assim, permanecem, até que
encontrem o esclarecimento fraterno, em nome do Amor.
O Dia de Finados, em si, não representa nada de especial, para
quem, daqui, já partiu. Nessa data, como em qualquer outra, eles são
mais tocados pela lembrança que deles se tenha. Os espíritas não
acendem velas para os mortos e sabem que o cemitério não é o lugar
dos Espíritos, a não ser que os evoquem, prática que, em princípio,
foge à sua orientação doutrinária.
Todavia, a Doutrina nos ensina a respeitar a crença e os
sentimentos alheios, como gostaríamos que respeitassem os nossos,
pois “coração dos outros é terra aonde ninguém anda”.
Na questão nº 212 de “O Livros dos Espíritos”, encontramos o
“porquê” que complementa o nosso parágrafo anterior: “Aquele que
visita um túmulo, apenas manifesta, por essa forma, que pensa no
Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um ato
íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato de
rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o
coração”.
Na de nº 934, Kardec indaga dos Mentores da Codificação a
respeito da perda de entes queridos, recebendo, como resposta, o
imenso bem da esperança e do consolo de que a vida continua: “Essa
causa de dor atinge, assim, o rico, como o pobre; representa uma
prova ou expiação e lei para todos. Tendes, porém, uma consolação,
10. em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos, pelos meios que
vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos
e mais acessíveis aos vossos sentidos”.
O próprio Jesus, o Mestre, por excelência, deu-nos o maior
exemplo de que a vida continua após a morte, aparecendo, como a
outras pessoas, em lugares diferentes.
“A vida não termina, onde a morte aparec e. Não transformes saudades, em fel,
nos que
se foram (...)” Emmanuel / Chico Xavier, Uberaba-MG, 11.10.78.
Tribuna Espírita - Setembro/Outubro de 2000
PARENTES MORTOS
Emmanuel
Não olvides que além da morte continua vivendo e lutando o
espírito amado que partiu...
Tuas lágrimas são gotas de fel em sua taça de esperança.
Tuas aflições são espinhos a se lhe implantarem no coração.
*
Tua mágoa destrutiva é como neve de angústia a congelar-lhe
os sonhos.
Tua tristeza é sombra a escurecer-lhe a nova senda.
*
Por mais que a separação te lacere a alma sensível , levanta-te
e segue para a frente, honrando-lhe a confiança com a fiel execução
das tarefas que o mundo te reservou.
*
Não vale a deserção do sofrimento, porque a fuga é sempre a
dilatação do labirinto que nos arroja à invigilancia, compelindo-nos a
despender longo tempo na recuperação do rumo certo.
*
Recorda que a lei de renovação atinge a todos e auxilia quem
te antecedeu na grande viagem com o valor de tua renuncia e com a
fortaleza de tua fé, sem esmorecer no trabalho – nosso invariável
caminho para o triunfo.
*
Converte a dor em lição e a saudade em consolo porque, de
outros domínios vibratórios, as afeições inesquecíveis te
acompanham os passos, regozijando-se com as outras tuas vitórias
solitárias, portas adentro de teu mundo interior.
*
Todas as provas objetivam o aperfeiçoamento do aprendize,
11. por enquanto, não passamos de meros aprendizes na Terra,
amealhando o conhecimento e a virtude, em gradativa e laboriosa
ascensão para a Vida Eterna.
Deus, a Suprema Sabedoria e a Suprema Bondade, não criaria
a inteligência e o amor, a beleza e a vida, para arremessá-la às
trevas.
*
Repara em torno dos teus próprios passos. A cada noite no
mundo, segue-se o esplendor do alvorecer.
O inverno áspero é sucedido pela primavera estuante de
renascimento e floração.
*
A lagarta, que hoje se arrasta no solo, amanhã librará em
pleno espaço com asas multicores de borboleta.
Nada perece.
Tudo se transforma na direção do Infinito Bem.
*
Compreendendo, desta forma, a Verdade, entesourando-lhe as
bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e
estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz
inextinguível da Gloriosa Imortalidade
Chico Xavier - Livro- Paz e Libertação.
DANÇANDO COM A SAUDADE
Amílcar Del Chiaro Filho
Foi no dia de finados. Seguimos a nossa opção de décadas e não
fomos ao cemitério que abrigou e abriga ainda os restos mortais de
pessoas tão queridas para mim. Fiz as minhas preces, logo pela
manhã, envolvendo todos aqueles que passaram pela minha vida,
deixando marcas profundas, iluminadas pela amizade e pelo amor.
À tarde, estava escrevendo textos para a Rádio Boa Nova e
resolvi ouvir música enquanto trabalhava. Era uma seleção de boleros
que amávamos muito, eu e ela, minha companheira que desencarnou
há um ano, deixando uma intensa saudade.
Parei de digitar e fechei os olhos. Imaginei-me dançando com ela
nas nuvens, entre flocos brancos de algodão, Vi-a jovem e feliz.
Eu a conduzia na contradança por um salão infinito, um vestido
branco, com
ligeiros tons rosa, amplamente rodado, envolvia seu corpo delicado.
Com uma das mãos ela segurava a minha mão e uma das pontas do
vestido, com a outra envolvia-me num carinhoso abraço. Eu sentia-me
jovem e saudável, vestindo um terno azul marinho.
Dançávamos enlevados, na marcação romântica do bolero, dois
pra lá, dois pra cá, como fizéramos muitas vezes na Terra. Tinha
12. tanta coisa a perguntar, mas não ousava falar com medo que tudo
aquilo se desvanecesse, como o cessar de um encantamento. Afastei-me
um passo e olhei sua perna que fora doente, reverberando luz.
Comecei a perceber que havia outras pessoas queridas presentes,
mas postavam-se distantes, como a dizer que aquele era o nosso
momento.
Quanto tempo rodopiamos pelo salão sem sentir e sem ver
nossos
pés, ou a orquestra, não sei. Mas senti que o meu tempo se escoava,
e pensei
em
escrever sobre esse encontro, mas tive receio. Olhei para ela, e
recebi um ligeiro sinal afirmativo da sua cabeça. Porque era o
momento de dizer, com o apóstolo Paulo: O último inimigo a ser
vencido é a morte.
A música foi cessando. Seu corpo desvaneceu em meus braços.
Meus olhos ficaram marejados de lágrimas, e a saudade pungente foi
balsamizada
por aqueles instantes encantadores.
Obrigado, meu Deus. Sinto-me mais fortalecido e sei, com
certeza, que ela me espera em algum lugar do infinito.
SOBRE FINADOS
Chico Xavier
“Em uma de nossas reuniões públicas foi ventilada a questão de
nossas homenagens aos irmãos desencarnados. Como se sentem eles
com as nossas comemorações e lembranças?
Em torno dessa pergunta foram entretecidos comentários
numerosos. E quando no início de nossas tarefas O Livro dos Espíritos
nos deu para estudo a questão n.º353, que se vincula ao assunto, as
explanações dos companheiros presentes foram as mais diversas.
No término da reunião o nosso caro Emmanuel escreveu a
página que lhe envio. É uma prece que nos sensibilizou e nos fez
recordar a todos o Dia de Finados.”
NOTA – O problema das comemorações do Dia de Finados, bem
como dos funerais e de homenagens prestadas aos mortos, mereceu
um tópico especial do capítulo VI de O Livro dos Espíritos. A posição
doutrinária, ao contrário do que geralmente se pensa, é favorável a
essas homenagens, desde que sinceras e não apenas convencionais.
Os Espíritos, respondendo a perguntas de Kardec a respeito,
mostraram que os laços de amor existentes entre os que partiram e
13. os que ficaram na Terra justificam esses atos. E declararam que no
Dia de Finados os cemitérios ficam repletos de Espíritos que se
alegram com a lembrança dos parentes e amigos.
ORAÇÃO PELOS QUASE MORTOS
Emmanuel
Senhor Jesus!...
Enquanto os irmãos da Terra procuram a nós outros - os
companheiros desencarnados - nas fronteiras de cinza, rogando-te
amparo em nosso favor, também nós, de coração reconhecido,
suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles, principalmente
considerando aqueles que correm o risco de se marginalizarem nas
trevas!... Pelos que perderam a fé, recusando o sentido real da vida,
e jazem quase mortos de desespero; pelos que desertaram das
responsabilidades próprias, anestesiando transitoriamente o próprio
raciocínio, e surgem quase mortos de inanição espiritual; pelos que
se entregaram à ambição desmesurada a se rodearem sem qualquer
proveito dos recursos da Terra, e repontam do cotidiano quase
mortos de penúria da alma; pelos que se hipertrofiaram na
supercultura da inteligência, gelando o coração para o serviço da
solidariedade, e aparecem quase mortos ao frio da indiferença; pelos
que acreditaram na força ilusória da violência, atirando-se ao fogo da
revolta, e se destacam quase mortos de angústia vazia; pelos que se
perturbaram por ausência de esperança, confiando-se ao
desequilíbrio, e se revelam quase mortos de aflição inútil; pelos que
abraçaram o desânimo por norma de ação, parando de trabalhar, e
repousam quase mortos de inércia; e pelos que se feriram ferindo aos
outros, encarcerando-se nas cadeias da culpa, e estão quase mortos
de arrependimento tardio!...
***
Senhor!...
Para todos os nossos irmãos que atravessam a experiência
humana quase mortos de sofrimentos e agravos, complicações e
problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos auxílio e
bênção!...
Ajuda-os a se libertarem do visco de sombra em que se
enredaram e traze-os de novo à luz da verdade e do amor, para que
a luz do amor e da verdade lhes revitalize a existência a fim de que
possam encontrar a felicidade real contigo, agora e para sempre.
O CREDIÁRIO DA MORTE
Irmão Saulo
A morte só existe para os que querem morrer. A necrofilia ou o
14. amor da morte – no sentido negativo da palavra – é uma doença
mental e psíquica, uma tendência mórbida de certos temperamentos,
hoje bem definida em Psicologia. Não se trata da aberração sexual a
que se aplicava a palavra tempos atrás, mas daquela “aberração da
inteligência”, a que se referia Kardec, que leva o indivíduo a negar a
sua própria capacidade de viver e de sentir a vida.
Todo aquele que gosta de destruir e se destrói a si mesmo,
aniquila as suas próprias forças vitais e mata as esperanças de vida
que os outros acalentam e defendem, é necrófilo. Sabemos que a
morte não existe, porque nada se acaba, tudo se transforma. O
aniquilamento total do ser pelo simples fenômeno da morte – um
fenômeno biológico de mutação – não pode mais ser admitido por
uma pessoa ilustrada, pois o avanço atual do conhecimento positivo
superou de muito as ilusões negativas do materialismo.
Apesar dessa inegável realidade nova os necrófilos se apegam à
idéia da morte como aniquilamento total do ser. E por isso se
desesperam, entregando-se à própria destruição, apressando a
própria morte “no visco de sombra em que se enredaram”, segundo a
expressão de Emmanuel. E entregando-se ao ceticismo
autodestruidor compram a morte por antecipação, no crediário “do
desespero e das aflições inúteis”. São esses os “quase mortos” pelos
quais os “mortos”, no Dia de Finados, oram do lado de lá da vi la
A oração de Emmanuel pelos “quase mortos” não é uma peça
de efeito religioso ou literário. É um sinal dos tempos, revelando-nos
que, do outro lado da vida, aqueles que em nossa ignorância
chamamos de mortos velam pelos “quase mortos” da Terra e pedem
a Deus por eles. O verdadeiro morto não é o que deixou o seu corpo
no túmulo, mas o que se serve do corpo para viver na Terra como um
morto ambulante. Que essa oração nos lembre, neste Finados, as
palavras de Isaías: “Os teus mortos viverão!”.
Do livro “Na Era do Espírito”. Psic ografia de Franc isc o C. Xavier e Herc ulano
Pires. Espíritos Diversos
CONVERSA NO CAMPO SANTO
Maria Dolores
Sim, alma irmã,
Teremos sempre um Dia de Finados,
Dia de sonhos mortos,
Supostamente mortos, porque todos eles
Ressurgem renovados,
No clima de outros portos,
Onde a vida,
Revelada em beleza indefinida,
15. É perene manhã.
Agradeço-te as preces,
Recamadas de flores,
E as doces vibrações nas quais me aqueces
Com pensamentos reconfortadores.
Olha, porém, comigo, alma querida e boa,
Este campo de mármores lavrados,
Quantas vezes mais belas
Que a mais formosa porcelana!...
Aqui, em miniaturas de castelos,
Gemem segredos de ternura humana...
Ali, os rendilhados
Criam lauréis no brilho das legendas;
Além, anjos parados de mãos postas,
Em lacrimosas oferendas,
Mostram cruzes depostas,
Vinculadas ao chão...
Ainda, além, primores de escultura,
Em lápides custosas,
São tesouros de amor e desventura,
Orvalhados de pranto e de aflição!...
Na triste majestade que se estampa,
Por traço de amargura, campa em campa,
Não vemos luxo e sim o sofrimento
De quem ficou a sós,
De coração entregue ao desalento...
Entretanto, alma boa,
Este reino de pedras lapidadas,
Quais lâminas de dor,
Quer largar-se da morte,
A fim de partilhar
A construção de um mundo superior...
Estas altas riquezas esquecidas
Ficariam mais nobres
Se pudessem levar sustentação
Às áreas de outras vidas,
As vidas que se vão apagando, ao relento,
Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento,
A sonharem amparo, teto e pão,
Livro, afeto, agasalho,
Proteção e trabalho,
Paz e renovação...
Nesses doces assuntos,
Oremos todos juntos...
E peçamos a Deus
Para que os mortos redivivos
Possam solicitar aos seus entres amados
A desejada alteração.
A fim de que o lugar dos supostos finados
Não precise brilhar entre fortunas mortas,
16. Pois, todos nós, na vida, em sentido profundo,
Queremos mais conforto e alegria no mundo!...
Para que nos lembremos uns dos outros,
Bastam as nossas dores como são,
Uma pequena cruz, um nome e a relva verde e mansa,
Que nos falem de paz e de esperança
Na saudade sem fim do coração.
FINADOS E REENCARNADOS
Cornélio Pires
Caro Armando, recebi
Os bilhetes e os recados;
Você deseja notícias
De alguns dos nossos finados.
Entendo. Finados hoje
Para nós, é a comitiva
Dos irmãos fora da Terra,
Gente morta sendo viva.
Não posso dar muitas notas
De sentido mais profundo,
Falarei de alguns amigos
Já reencarnados no mundo.
As vezes, nos cemitérios,
A gente chora na campa
De amados que já voltaram
Para a Terra, em nova estampa.
Você recorda Nhô Zeca
Que liquidou João Matula?
João voltou à casa dele,
É o netinho que ele adula.
Por causa de Frederico,
Suicidou-se o Tonho Prata,
Tonho, porém, renasceu...
É o bisneto que o maltrata.
Outro suicídio, o de Délio
Que morreu por Lia Benta...
Délio tomou novo berço,
É o filho que ela amamenta.
Por ambição, Carlomanho
17. Arrasou com Dona Luna;
Ela nasceu neta dele,
A fim de herdar-lhe a fortuna.
Tino e Rita promoveram
A morte de Adão Ramalho;
Adão renasceu com eles,
Trazendo imenso trabalho.
Nhô Téo acabou com Joana
Ao não querê-la por nora,
Mas Joana já reencarnou...
É anetinha que ele adora.
Morreram dois inimigos:
Tião e Juca da Barra...
Agora nasceram Gêmeos,
Vieram irmãos na marra.
Desencarnado, Nhô Gino
Que falava mal de tudo,
Pediu corrigenda a Deus,
Em seguida, nasceu mudo.
Nosso assunto é isto aí...
Recordação de finados
É a vida em torno da vida
Que se expressa por dois lados.
Enquanto estamos na Terra,
Para dizer o que posso,
Muita vez, a gente reza
Em campo que já foi nosso.
Livro "Baú de Casos" - Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Espírito Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier. Da obra: Dádivas de Amor. Ditado pelo Espírito Maria Dolores
Digitado por: Lúcia Aydir
NO DIA DE FINADOS
INÊS SABINO Pinho Maia *
1. Agradeço, meu filho, a glória que me deste,
O mármore custoso, o imponente jazigo,
18. A legenda piedosa, as flores que bendigo,
A oração da saudade, a sombra do cipreste...
Mas afasta de nós a pompa que me veste!
6. Este luxo no chão é miséria comigo...
Quero apenas o amor por sacrossanto abrigo,
Dá-me teu coração por tesouro celeste.
Não me busques, em vão, na gelidez das
lousas!
Transfunde-me a lembrança em pão que
reconforte
A quem viva de fel na aflição que te espia...
Procura-me na dor do caminho em que pousas
E esparze em tudo o bem, porque a bênção da
morte,
14. Que me acordou na luz, há-de acordar-me um
dia...
______
(*) Poetisa, jornalista e romancista. Domingos Carvalho da Silva, em sua
obra Vozes Fem. da Poesia Brás., pág. 22, considerou-a merecedora de figurar
num seleto grupo de poetisas da fase pós-romântica e parnasiana. Iniciou a sua
educação literária na Inglaterra. Regressando ao Brasil ainda bem jovem, pouco
depois dava a público as suas primeiras poesias e traduzia, para o português,
contos, novelas e pequenos romances ingleses e franceses. Foi uma das escritoras
que no Nordeste , em fins do século XIX, lutou pela participação da mulher nas
lides literárias, contra um meio adverso nesse sentido. No prefácio à sua obra
Impressões, Inês Sabino Pinho Maia fez esta judiciosa observaç ão: “Retirem-se do
manto estrelado da poesia os salpicos do ideal, que um livro de versos não passará
de um compêndio enjoativo das verdades amargas que nos rodeiam acremente por
todas a parte”. O Jornal do Commércio, do Rio, em seu úmero de 14 de
setembro de 1911, destacou-lhe a “grande nobreza de sentimento”, o “espírito
c aridoso e esmoler” e a real educ aç ão”. (Bahia (**), 31 de dezembro de 1853 – Rio
de Janeiro, GB, 13 de setembro de 1911).
BIBLIOGRAFIA; Ave Libertas, poemeto; Rosas Pálidas, versos (1ª série):
Impressões, versos (2ª série); Contos e Lapidações; etc.
____
(**) Affonso Costa em “Poetas de outro Sexo”, p. III, afirma ter ela nasc ido
na Bahia e não em Pernambuco.
____
1. Enumeração
6. Antítese
14. Poliptoto: “Que me ac ordou..., há de acordar-te...”
Livro: “Antologia dos Imortais” - Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira
19. DIANTE DA ATUALIDADE
Francisco Cândido Xavier
As presentes ocorrências do mundo nos levaram, antes da reunião, a longas
conversações sobre os problemas da preservação do homem, no tocante à paz.
Lembrávamos as guerras do passado e os conflitos da nossa época, imaginando como
deve ser o nosso comportamento diante das grandes lutas da atualidade.
Como agir contra a insegurança? De que modo assegurar a tranquilidade e os
valores da existência? Com semelhantes perguntas em nossa mente fomos aos estudos
programados. O Livro dos Espíritos nos ofereceu a questão 738 a exame. E vários
comentaristas se expressaram sobre o tema.
Ao final das atividades o nosso caro Emmanuel escreveu a página que lhe envio
em nome dos companheiros e em meu próprio nome, rogando a. sua cooperação para
que seja lançada com os seus comentários em nossas publicações conjuntas.
NOTA – A questão 738, acima referida, trata do problema da guerra, dos flagelos destruidores e
da situação do homem diante desses Acontecimentos. Os espíritos lembram a natureza espiritual do
homem, que é imortal, e por isso mesmo não é afetada por essas destruições materiais.
ABRIGO
Emmanuel
Nas grandes calamidades que irrompem na Terra, cada criatura pode construir o
seu próprio refúgio.
Comumente no mundo interpretamos por abrigo a fatia de espaço fechado que
destinamos aos serviços de proteção e segurança.
Entretanto, embora respeitemos os redutos a que se acolhem as multidões nas
horas de crise, buscando a preservação própria, consideramos que ainda mesmo
segregada em forte redoma, do ponto de vista material, a pessoa humana não está livre
da trombose ou da parada cardíaca, do colapso nervoso ou da tensão emocional. Isso
nos induz a reconhecer que em qualquer situação difícil, muito acima dos lugares de
privilégio, precisamos de apoio íntimo que nos faculte serenidade e discernimento. Uma
fortaleza na qual possamos colaborar dignamente na supressão do tumulto por fora,
conservando a paz por dentro.
Não obteremos isso, porém, fugindo da realidade, mas enfrentando-a através da
ação construtiva, de modo a descortinar-lhe todas as lições e aproveitá-las.
Nunca disporemos de asilo seguro, escondendo-nos em praias desertas, bojos
metálicos, covas de pedra ou furnas da natureza.
O abrigo real de cada um está no íntimo de si mesmo.
A certeza de que não nos achamos sós nos campos do Universo, a confiança na
sobrevivência do espírito além da morte, a fé na sabedoria da vida, a aceitação do dever
de praticar o bem e a dedicação à ordem são materiais dos mais importantes com que se
constrói a cidadela da consciência tranqüila.
À frente de semelhante verdade, não temas a ventania das paixões
desencadeadas, quando as tempestades da renovação agitam a Terra.
20. Conserva a calma e confia no Poder Maior que te insuflou a força da vida.
Calma, no entanto, não significa inércia. Define i estado íntimo de quem se prepara, a
fim de fazer o melhor, sejam quais forem as circunstâncias.
Ora trabalhando e espera construindo.
E, convençamo-nos todos, em todas as eventualidades, de que o abrigo
invulnerável está sempre em nós mesmos, quando aceitamos a responsabilidade de
viver com base na justiça e na misericórdia de Deus.
OS RESTOS MORTAIS
Irmão Saulo
Há muitas expressões impróprias na linguagem humana. Quando falamos dos
finados, daqueles que morreram, damos à morte um sentido absoluto que ela jamais
possui. O que se finda com a morte não é o ser humano, mas apenas uma existência do
ser imortal, numa breve passagem pelo plano físico. Mas a intuição da eternidade da
vida gerou também algumas expressões acertadas. Ao falar de restos mortais,
colocamos o problema da morte em seus devidos termos. Restos, nada mais do que
restos de um processo biológico pelo qual o ser humano real se liberta do seu envoltório
animal.
Que segurança queremos ter no frágil escafandro do corpo? Que abrigo nos pode
dar a garantia de preservação diante do perigo? Em que espécie de refúgio poderemos
escapar da morte? Não obstante, essa garantia que procuramos no Exterior está em nós
mesmos, em nossa própria natureza de seres imortais. A vida aparente extingue-se com
a morte, mas a vida real nunca se extingue.
Geração e corrupção constituem os pólos da existência física. Aquém de um e
além de outro, a verdadeira vida se mantém inalterável Trazemos essa verdade em nós
como potência, mas precisamos transformá-la em ato na nossa consciência para
podermos superar as ilusões do efêmero. Inútil querermos agarrar-nos a uma vida que se
esvai a cada minuto que passa. E chamamos a isso atitude positiva, quando a
positividade está precisa-mente no contrário, na certeza de que nada nos pode livrar da
morte corporal.
Mas temos urna tarefa a cumprir nesta breve existência. Temos de aprender a
confiar no espírito. E para isso precisamos desenvolver as nossas faculdades espirituais.
O egocentrismo exagera o instinto de conservação. Mas as guerras, os flagelos, os
cataclismos esmagam o nosso egoísmo e nos obrigam a sair de nós mesmos e nos
tornarmos capazes das virtudes heróicas que nos elevam acima de nós mesmos. Foi isso
que o Cristo ensinou ao dizer que os que se apegam à vida perdê-la-ão, mas os que a
perderem por amor à verdade a encontrarão.
A morte não é o fim. Nunca seremos finados. A morte é apenas a passagem de
uma condição perecível para a incondição da verdadeira vida.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
21. REFORMADOR - NOVEMBRO 1993
Editorial - O Dom da Vida
Defendendo a vida - JUVANIR BORGES DE SOUZA
Vida - Edmundo Xavier de Barros
O Culto de Finados - Inaldo Lacerda Lima
A síndrome de Carolina - Richard Simonetti
Gostar do que se faz: Uma maneira de Prevenção - Jacob Melo
Notícias do Mundo - Hernani T. Sant'Anna
Dia de Finados?
ALÉM DA MORTE
Cumprida mais uma jornada na terra, seguem os espíritos para a
pátria espiritual, conduzindo a bagagem dos feitos acumulados em suas
existências físicas.
Aportam no plano espiritual, nem anjos, nem demônios.
São homens, almas em aprendizagem despojadas da carne.
São os mesmos homens que eram antes da morte.
A desencarnação não lhes modifica hábitos, nem costumes.
Não lhes outorga títulos, nem conquistas.
Não lhes retira méritos, nem realizações.
Cada um se apresenta após a morte como sempre viveu.
Não ocorre nenhum milagre de transformação para aqueles que
atingem o grande porto.
Raros são aqueles que despertam com a consciência livre, após a
inevitável travessia.
A grande maioria, vinculada de forma intensa às sensações da
matéria, demora-se, infeliz, ignorando a nova realidade.
Muitos agem como turistas confusos em visita à grande cidade,
buscando incessantemente endereços que não conseguem localizar.
Sentem a alma visitada por aflições e remorsos, receios e
ansiedades.
Se refletissem um pouco perceberiam que a vida prossegue sem
grandes modificações.
22. Os escravos do prazer prosseguem inquietos.
Os servos do ódio demoram-se em aflição.
Os companheiros da ilusão permanecem enganados.
Os aficionados da mentira dementam-se sob imagens
desordenadas.
Os amigos da ignorância continuam perturbados.
Além disso, a maior parte dos seres não é capaz de perceber o
apoio dispensado pelos espíritos superiores.
Sim, porque mesmo os seres mais infelizes e voltados ao mal não
são esquecidos ou abandonados pelo auxílio divino.
Em toda parte e sem cessar, amigos espirituais amparam todos os
seus irmãos, refletindo a paternal providência divina.
Morrer, longe de ser o descansar nas mansões celestes ou o
expurgar sem remissão nas zonas infelizes, é, pura e simplesmente,
recomeçar a viver.
A morte a todos aguarda.
Preparar-se para tal acontecimento é tarefa inadiável.
Apenas as almas esclarecidas e experimentadas na batalha
redentora serão capazes de transpor a barreira do túmulo e caminhar em
liberdade.
A reencarnação é uma bendita oportunidade de evolução.
A matéria em que nos encontramos imersos, por ora, é abençoado
campo de luta e de aprimoramento pessoal.
Cada dia de que dispomos na carne é nova chance de recomeço.
Tal benefício deve ser aproveitado para aquisição dos verdadeiros
valores que resistem à própria morte.
Na contabilidade divina a soma de ações nobres anula a coletânea
equivalente de atos indignos.
Todo amor dedicado ao próximo, em serviço educativo à
humanidade, é degrau de ascensão.
***
Quando o véu da morte fechar os nossos olhos nesta existência,
23. continuaremos vivendo, em outro plano e em condições diversas.
Estaremos, no entanto, imbuídos dos mesmos defeitos e das
mesmas qualidades que nos movimentavam antes do transe da morte.
A adaptação a essa nova realidade dependerá da forma como nos
tivermos preparado para ela.
Semeamos a partir de hoje a colheita de venturas, ou de desdita, do
amanhã.
Pense nisso.
MORTOS AMADOS – Emmanuel
Na Terra, quando perdemos a companhia de seres
amados, ante a visitação da morte sentimo-nos como
se nos arrancassem o coração para que se faça
alvejado fora do peito.
Ânsia de rever sorrisos que se extinguiram, fome de
escutar palavras que emudeceram.
E bastas vezes tudo o que nos resta no mundo íntimo
é um veio de lágrimas estanques, sem recursos de
evasão pelas fontes dos olhos.
Compreendemos, sim, neste Outro Lado da Vida, o
suplício dos que vagueiam entre as paredes do lar ou
se imobilizam no espaço exíguo de um túmulo,
indagando porquê...
Se varas semelhantes sombras de saudade e distância,
se o vazio te atormenta o espírito, asserena-te e ora,
como saibas e como possas, desejando a paz e a
segurança dos entes inesquecíveis que te
antecederam na Vida Maior.
Lembra a criatura querida que não mais te compartilha
as experiências no Plano Físico, não por pessoa que
24. desapareceu para sempre e sim à feição de criatura
invisível, mas não de todo ausente.
Os que rumaram para outros caminhos, além das
fronteiras que marcam a desencarnação, também
lutam e amam, sofrem e se renovam.
Enfeita-lhes a memória com as melhores lembranças
que consigas enfileirar e busca tranqülizá-los com o
apoio de tua conformidade e de teu amor.
Se te deixas vencer pela angústia, ao recordar-lhes a
imagem, sempre que se vejam em sintonia mental
contigo, ei-los que suportam angústia maior, de vez
que passam a carregar as próprias aflições
sobretaxadas com as tuas.
Compadece-te dos entes amados que te precederam
na romagem da Grande Renovação.
Chora, quando não possas evitar o pranto que se te
derrama da alma; no entanto, converte quanto possível
as próprias lágrimas em bênçãos de trabalho e preces
de esperança, porquanto eles todos te ouvem o
coração na Vida Superior, sequiosos de se reunirem
contigo para o reencontro no trabalho do próprio
aperfeiçoamento, à procura do amor sem adeus.
Aos corações que
ficaram...Scheilla
Teu coração amoroso sofre com a partida do ser amado, que te antecedeu na
grande viagem para o Além.
Recordações te torturam; emoções dolorosas te abatem.
Entretanto, raciocina um pouco.
A morte física não separa os afetos, que seguem unidos além do tempo e do
espaço.
O ente querido, a quem aspiras reencontrar, segue o próprio caminho na
espiritualidade, preparando o momento em que teus corações se tornarão a
unir.
Assim, reergue-te da dor e segue para frente.
25. Tua vontade de viver e servir se refletirá no mais além, preenchendo de ânimo
e tranqüilidade o coração que partiu.
Ora a Deus, rogando serenidade, a fim de que a dor de agora se converta em
ensinamento importante, convidando-te à certeza na imortalidade espiritual.
Do Plano Maior, o coração amado prosseguirá ligado a ti, construindo o próprio
destino, sob o amparo de Deus.
Scheilla / Clayton B. Levy - Novas mensagens
O Culto a Finados
O culto aos mortos, precisamente àqueles que se
encontravam no purgatório, à espera do dia do
julgamento final, foi estabelecido inicialmente por
Odilon, Abade de Cluny, da Ordem dos Beneditinos, no
final do século X e, em seguida decretado pela Igreja
de Roma com o nome de Finados, a ser comemorado no
dia 2 de novembro de cada ano, logo após o dia de
Todos os Santos.
É, portanto, um convencionalismo que, em princípio,
não foi determinado que ocorresse nos cemitérios. Só
com o tempo é que a prática adquiriu sofisticação e se
fez acompanhar com velas e lágrimas, no local das
catacumbas e dos mausoléus. Também não possui o
culto dos mortos nenhum amparo escriturístico,
embora ele se tenha verificado de maneiras
diversificadas no seio de todos os povos das eras mais
remotas.
Um dos exemplos curiosos de manifestação do homem
diante da morte é mencionado por Heródoto, o pai da
História, conforme referência de Almerindo Martins de
Castro, em REFORMADOR de novembro de 1950, no
artigo intitulado "O Dois de Novembro". Informa
Heródoto que na antiga Trácia o falecimento de um
26. ente querido era saudado jubilosamente, em face da
significação da morte como uma libertação venturosa;
enquanto isso, o nascimento de uma criança era
recebido com lágrimas de tristeza, tendo em vista as
possíveis provações a que deveria estar destinado o
recém-nascido.
O Espiritismo, que é o Consolador prometido por Jesus
(Evangelho de João, Capítulos XIV, XV e XVI), não
sugere o chamado culto a Finados, mas elucida que a
morte não existe, porquanto o túmulo constitui apenas
uma forma de dar-se sepultamento ao corpo de carne
depois que o Espírito o abandona.
Assim, verdadeiramente inspirado esteve o apóstolo
Paulo quando, dirigindo-se aos companheiros de
Corinto, esclarecia-lhes que o último inimigo a ser
vencido seria a morte. Isto é, quando os homens
estivessem em condição de compreender o verdadeiro
sentido da vida, deixariam de ver na morte uma
inimiga, uma vez que não existe morte. O que se
habituou o homem a chamar morte nada mais é do que
o afastamento do Espírito do corpo carnal. Temos a
convicção de que virá o dia (e não está longe!) em que
o dois de novembro será comemorado nos templos
religiosos e com elucidações evangélicas.
Pois a função dos cemitérios é muito mais digna e
muito mais consentânea com sociedades mais
esclarecidas e religiosamente bem formadas. Há duas
razões para assim pensarmos. Em primeiro lugar, já o
dissemos, não há morte, há vida. E esta não é do corpo
mas do Espírito. E, em segundo lugar, não é nos
cemitérios que os Espíritos devem ser procurados para
recebimento das preces que, em seu favor, devem ser
proferidas.
Os cemitérios são os laboratórios de transformação
das vestes carnais das almas que as abandonaram. Os
27. cemitérios devem ser visitados, sim, como um
ambiente de respeito se ali vamos em
acompanhamento ao corpo de alguém que deve ser
sepultado ou se os procuramos com o objetivo sincero
de meditação sobre a grandeza e sabedoria de nosso
Criador e Pai.
Aproveitemos a oportunidade para elucidar aos que
nos lerem, mormente se esta Revista vier a cair em
mãos não-espíritas, que a chamada morte só atinge
aquele que se deixou perder nos caminhos do
materialismo comportamental dos vícios e das paixões
e que, assim, esqueceu de Deus, o Pai que nos criou a
todos não para a morte mas para a vida eterna.
Há efetivamente os indiferentes ao verdadeiro sentido
da vida, que nunca têm tempo para pensar no bem,
realizar uma ação nobre de amor e caridade e edificar-se
espiritualmente. Esses se colocam na posição de
mortos-vivos, porque espiritualmente nulos.
Respeitar o sentimento e a fé dos que se fazem reter
nos cemitérios em pranto e oração pelos seus "mortos"
é um dever a que temos de submeter-nos por
compreensão, mas em hipótese alguma devemos deixar
perder-se a oportunidade (quando realmente oportuna)
de esclarecer, elucidar e consolar aqueles que sofrem
convencidos de que seus entes mais queridos
realmente morreram, afirmando-lhes carinhosa e
fraternalmente que a morte do corpo não é a morte do
Espírito, e que, ao contrário, inanimado o corpo, o
Espírito, agora, está mais vivo do que nunca.
Fonte: Reformador nº1976 – Novembro/1993
Madrugada Exuberante – Joanna de Ângelis (muito
lindo)
28. A noite esplendente de círios estrelares banhava-se de suave luar, que se refletia sobre
as águas tranqüilas do mar espelho.
O dia havia sido caracterizado por amena temperatura, enriquecido simultaneamente por
incontáveis emoções.
Sucediam-se as experiências no convívio com as massas humanas, incessantes, com
suas aflições que recordavam ondas contínuas espraiando-se nas areias imensas
salpicadas de seixos e conchas variadas.
O hinário da Boa Nova era cantado na região por quase todas as bocas, mas, as
interpretações variavam de acordo com as necessidades de cada qual.
Tinha-se a impressão que os Céus haviam descido a Terra e se fundiram umas nas
outras as canções de amor e os lamentos clamorosos, que logo após silenc iaram suas
vozes desesperadas.
Jesus constituía, sem dúvida, o divisor das águas e daqueles dias turbulentos...
Os discípulos haviam acompanhado o Mestre durante o aconselhamento a uma
desesperada mãe, que Lhe buscara o socorro, face à perda do filho amado que o anjo da
morte arrebatara.
O desespero da suplicante logo se transformara em tranqüila e dúlcida alegria que lhe
colocara luz brilhante nos olhos antes amortecidos pela aflição.
Como a morte, sempre, era temida e certamente detestada, utilizando-se da noite
harmoniosa, na qual o Amigo parecia aguardar as inquietações dos discípulos, sentado
diante do mar ornado da luz da lua, musicada pelos ventos suaves, e pelo espreguiçar
das vagas macias nas areias úmidas, formou-se o grupo gentil, cujo silêncio foi
quebrado pela voz de João, o jovem que O amava com arrebatamento.
Havia uma doce magia no ar, que bailava no velário das sombras salpicadas de
pingentes de prata...
— Como entender a morte, Mestre querido – indagou o discípulo ansioso – que sempre
nos ameaça e apavora? Ante a sua inexorável fatalidade, nossos dias perdem a cor e a
beleza, quase tirando-nos a razão de existir. Como entender a hedionda mensageira da
sombra?
O nobre Guia desenhou tranqüilo sorriso na face banhada pelo argênteo luar, e
respondeu com doçura:
“A morte não é mensageira da sombra, nem do pavor, mas a missionária da vida
imperecível. É a incompreendida intermediária entre Deus e os seres sencientes,
encarregada de reconduzir os homens ao verdadeiro lar, após terem encerrado os seus
compromissos na escola terrestre. Suavemente ou mediante ação abrupta, sem agressão
nem receio, convoca reis e vassalos, mendigos e poderosos, crianças e anciãos, sadios
ou enfermos ao despertar do sono fisiológico, fazendo-os volver ao país da consciência
desperta, ao Grande Lar.
Portadora de alta responsabilidade, apresenta-se com a mesma nobreza a todos os seres,
desvestindo-os das pesadas roupagens da ilusão, para a vivência da realidade inevitável.
Sem o seu árduo trabalho a vida não teria qualquer sentido e o corpo se decomporia
durante a existência, que se alongaria sem limite com tormentos inimagináveis... Para
uns, todavia, é a misericórdia que chega em momento máximo, para outros, trata-se da
libertação do cativeiro. Alguns a tomam como cruel inimiga, enquanto diversos a
odeiam com rebeldia. Não obstante, impávida, faz-se instrumento da Vida para a
grandeza do ser indestrutível.
— E o sofrimento, Senhor, que ela impõe – voltou, à carga, o discípulo receoso -, não
dilacera a alma daqueles que ficam?! Morrer, afinal, dói?
O incomparável Benfeitor alongou o olhar pela noite feliz, e após breve reflexão,
29. elucidou:
— A Casa de meu Pai tem infinitas moradas. Cada flor de luz que brilha ao longe é um
pouso feliz que nos aguarda, após, vencidas as batalhas terrenas. Para alcançá-lo é
necessário descer aos vales humanos nas roupas densas da matéria, a fim de tecer as
delicadas asas de luz que nos erguerão aos seus planos quase divinos. Sem a morte
compassiva e misericordiosa, isso não seria possível. Passo a passo, o viajante vence as
distâncias no mundo físico. Da mesma forma, graças à morte-vida, à vida-após-a-morte
desaparecem os abismos que medeiam entre os sublimes lares que voam na amplidão e
a pequenina Terra onde nos encontramos.
Silenciando novamente por breves segundos, com específica entonação de voz,
prosseguiu:
— Morrer não dói. O desprendimento é suave para os justos e inquietante para aqueles
que são portadores de consciência culpada. O trânsito que leva à liberdade entre o
cárcere e o horizonte largo, sem barreira, é sempre rico de expectativa e não de
sofrimento. A marcha, porém, de cada qual, é resultado da conduta vivenciada no
período do cativeiro. Quem considera o corpo como a única realidade, sofre decepção e
angústia, medo de o abandonar e apego à forma em decomposição, fenômeno que se
alonga por largo período, enquanto dure a alucinação. No entanto, quem o utilizou como
educandário de iluminação para o espírito, deixa-o, qual borboleta ditosa que abandona
o casulo pesado para flutuar na leve brisa do dia... A morte após o dever cumprido
transforma-se em madrugada iridescente, que é o pórtico da imortalidade ditosa, onde o
amor inunda o recém-liberto de alegria, sem dor nem saudade da caminhada terrestre.
É necessário viver de maneira que a morte lhe signifique prosseguimento, sem qualquer
interrupção, conduzindo o ser no rumo da plenitude, da paz inefável.
Fez novo silêncio repassado de emoção, que igualmente dominava os ouvintes, logo
dando continuidade:
— Eu vim para que todos tenhais vida em abundância no meu reino, que se amplia além
das fronteiras da morte. Sem ela, não o alcançareis. Superando os desafios e vencidas as
paixões, o ser se sutiliza e passa a habitar em mundo feliz, sem angústia ou ansiedade
alguma.... A fim de o conseguir, torna-se indispensável que o amor e o dever diluam as
sombras da ignorância que encarceram nas masmorras da carne o desavisado, sem
permitir-lhe os vôos libertadores que anela realizar.
Quando se calou, os amigos tinham lágrimas que não se atreviam a descer da comporta
dos olhos. Saudades de seres amados e gratidão pelo que lhes haviam oferecido,
esperanças de vitórias futuras sobre as pesadas algemas dos desejos, das falsas
necessidades e sonhos de felicidade, mesclavam-se nos seus sentimentos, e eles
entenderam que o corpo é meio, é veículo de condução, mas o Espírito é o imperecível
instrumento do Pai Criador, que nos aguarda nos penetrais do Infinito, e que a morte
libera da injunção penosa.
A noite harmônica e perfumada, então dominada pelo lucilar dos astros e as ânsias da
Natureza, insculpiu no ádito daqueles corações a mensagem da imortalidade, enquanto o
Mestre os preparava para a madrugada resplandecente do futuro reino dos Céus.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 14 de
março de 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 2001)
30. A Importância Em Ser Pequeno - Amélia Rodrigues
- Que vínheis discutindo pelo caminho?
– Indagou sereno, Jesus, aos amigos, que chegaram esfogueados e
suarentos à casa de Simão, filhos de Jonas, o pescador, onde os
aguardava.
Tomados de surpresa, os discípulos aturdidos entreolharam-se, sem
coragem de responder.
Eles conviviam com o Mestre, mas não O conheciam; partilhavam as Suas
idéias, porém não haviam penetrado na sua profunda lição; ouviam,
deslumbrados, os anúncios do reino de Deus, e permitiam-se anelar pelos
triunfos humanos.
Homens simples e toscos, comportavam-se, às vezes, como crianças
desatentas em relação aos deveres, entregando-se a contendas inúteis e
pelejas rudes por questões irrisórias...
Assim sempre eram admoestados carinhosamente, mas com energia pelo
Amigo, que lhes trabalhava o amadurecimento espiritual.
A jornada que ali encerravam, havia sido traçada com segurança,
significando-lhes o primeiro desafio a enfrentar, como preparação para os
dias porvindouros.
O Mestre aguardava-os com a habitual generosidade, feita de misericórdia
e de compaixão.
Amava-os com dúlcida ternura. Entregara-se-lhes com dedicação total,
embora sabendo das suas dubiedades e dificuldades interiores. Por isso,
convocara-os para o ministério, reconhecendo-lhes todos os problemas
emocionais e debilidades morais. Alguns eram Espíritos nobres, que se
emboscaram no corpo, que lhes amortecia a elevação, a fim de O
seguirem, espalhando a Notícia...
As suas inexperiências facultavam aprendizagem mais segura para os
testemunhos do futuro. Por tal razão, tateavam nas sombras dos
labirintos da insegurança até encontrarem o caminho que iriam percorrer
com invulgar grandeza de alma.
Não, porém, naqueles momentos iniciais.
Arrancados das fainas simples e repetitivas do cotidiano monótono, a
súbita mudança não conseguiu alçá-los de imediato à altura
correspondente.
Esse resultado se faria, somente, a pouco e pouco.
É sempre assim que se dá o amadurecimento moral, que faz do pigmeu
um gigante e do ser simples, que a fornalha do sofrimento modela, um
verdadeiro herói.
Aquele era o material humano disponível para a construção da Era do
Espírito Imortal e se tornava necessário trabalhá-lo com carinho e
firmeza.
A pergunta permaneceu no ar, sem resposta.
A princípio, sentiram-se constrangidos, embaraçados. Deram-se conta da
pouca importância da questão do debate, mas constatavam novamente o
poder de penetração do Mestre no insondável dos seus pensamentos e
31. atos.
Por fim, vencendo o conflito, sem agastamento, responderam alguns:
- Vínhamos discutindo em torno de quem de nós era o maior, o mais
amado, o de importância mais significativa.
“Todos reconhecemos que João é distinguido pelo vosso amor; Pedro é
merecedor da mais expressiva confiança; Judas guarda as moedas e se
encarrega do controle das nossas modestas finanças... E os demais? Que
somos e que papel desempenhamos no grupo?
“Afinal, qual de nós é o maior?”
Certamente se sentiam contristados pela disputa, mas como houve-a, era
justo serem honestos, libertando-se das dúvidas.
Jesus envolveu-os na luz da compaixão, e com a sabedoria habitual,
respondeu-lhes:
- O grão de mostarda, menor e mais insignificante que qualquer outra
semente, reverdece com o mesmo tom o solo abençoado pelo trigo
vigoroso. A bolota do carvalho desenvolve a árvore grandiosa que nela
jaz, assim como o pólen quase invisível de todas as flores se encarrega
de transmitir beleza e perpetuar a espécie em outras plantas... Todos são
importantes na paisagem terrestre.
“O grão de areia se anula ante outro para construir a praia imensa que
recebe o carinhoso movimento das ondas arrebentando-se no seu leito
reluzente.
“Tudo é importante diante de meu Pai, não pela grandeza, mas pelo
significado de que cada coisa se reveste para a utilidade da vida.
“Entre os homens, o maior é sempre aquele que se esquece de si mesmo,
tornando-se o melhor servidor, aquele que não se cansa de ajudar, que se
encontra sempre disposto para cooperar e servir sem outra preocupação,
qual não seja a de beneficiar... Quem se apaga para que outro brilhe,
torna-se o combustível, sem o qual a luminosidade desaparece.
“Há uma grande importância em ser pequeno, graças a cuja contribuição
se apresenta o conjunto grandioso.”
Fez um oportuno silêncio, a fim de ensejar aos amigos maior reflexão
para que nunca mais se esquecessem do enunciado, e prosseguiu:
- Aquele que, dentre vós, desejar ser o maior, o mais importante, o mais
amado, torne-se o melhor servidor, o mais atento amigo, sempre vigilante
para ajudar e desculpar, porque esse, sim, fará falta, será notado quando
ausente, se tornará alicerce para a construção do edifício do Bem.
No silêncio que se fez natural, os viajantes dispersaram-se pelas diversas
peças da casa de Simão, enquanto lá fora, o Sol de verão dardejava os
seus raios de fogo sobre a terra que se abrasava.
· Lucas 9-46.
Nota da Autora espiritual
ESTAMOS EM PAZ – Francisco C.
Xavier
32. Rujam as tempestades em torno do teu caminho, tranqüiliza o coração e segue
em paz na direção do bem.
Não carregues no pensamento o peso da aflição inútil.
Refugia-te na cidadela interior do dever retamente cumprido e entrega à
Sabedoria Divina a ansiedade que te procura à feição de labareda invisível.
Se alguém te acusa, aquieta-te e ora em favor dos irmãos desorientados e
infelizes.
Se alguma circunstância te contraria, asserena tua alma e espera que os
acontecimentos te favoreçam.
Lembra-te de que és chamado a viver um só dia de cada vez, sempre que o
Sol se levante.
E por mais amplas que te façam as possibilidades, tomarás uma só refeição e
vestirás um só traje de cada vez nas tarefas de cada dia.
Embora te atormentes pela claridade diurna, a alvorada não brilhará antes da
hora prevista, e embora te interesses pelo fruto de determinada árvore, não
chegarás a colhê-lo, antes do justo momento.
A pretexto, porém, de garantir a própria serenidade,não te demores na inércia.
Mentaliza o bem e prossegue na construção do melhor, como quem sabe que a
colheita farta pede terra abençoada pela chuva.
Sejam quais forem as tuas dificuldades, lembra-te de que a paz é a segurança
da vida.
Não nos esqueçamos de que, na hora da Manjedoura, as vozes celestiais,
após o louvor a Deus, expressaram votos de paz à Terra, e depois da
ressurreição, voltando, gloriosamente, ao convívio das criaturas, antes de
qualquer plano de trabalho, disse Jesus ao discípulos espantados:
"A PAZ SEJA CONVOSCO".
Bem-aventurados os
aflitos
Que as bênçãos do Alto caiam sobre vós. Falar-vos-ei hoje sobre
o assunto tratado no estudo do Evangelho: os motivos de
resignação. Desde que o Mestre Francês desceu ao orbe com a
missão de trazer aos homens uma nova visão de vida, as
33. interpretações dos textos bíblicos ficaram mais acessíveis às
pessoas comuns. O capítulo das bem-aventuranças é um trecho
dos Evangelhos que demanda uma maior sabedoria para ser
compreendido em espírito. A Doutrina Espírita trouxe a chave do
entendimento explicando a razão do sofrimento e a necessidade
da alma passar pelas experiências dolorosas na matéria, se
houver a necessidade do resgate das suas dívidas. A lei de causa
e efeito explica todas essas questões alusivas à maioria das
situações de dificuldades pelas quais o Espírito passa. A
reencarnação coroou esta realidade.
Quando o homem sofre sem saber a razão, suas amarguras são
centuplicadas e exacerbadas pela revolta e sensação de
impotência diante dos fatos que a ele parecem intermináveis. A
dor que experimenta lhe parece injusta e se pára para pensar em
seus problemas, logo culpa a Deus por não dar-lhe a devida
atenção. Entretanto se tem em si o sentido da imortalidade da
alma e principalmente se acreditar na transitoriedade de tudo,
logo antevê naquele sofrimento uma forma de se libertar-se de
sua prisão no futuro.
Se examina a própria consciência com sincera humildade, quase
sempre encontra lá a razão de suas dificuldades. Não se
amargura diante das provas porque vê nelas uma válvula de
escape para o gozo de uma felicidade em dias futuros. Se é
atingido por uma injúria ou por qualquer situação que lhe exija
maturidade para suportar, logo evoca suas convicções na
assistência espiritual que a Providência Divina vos premia a todo
instante. Portanto, este homem experimenta a felicidade, mesmo
nas situações de sofrimento porque compreende que as suas
aflições têm uma razão de ser e que quanto maior a doença mais
amargo será o remédio. Para uma grande falta, uma grande
correção.
Bem-aventurados, portanto, são os aflitos que bem suportarem
as suas provas com resignação, pois em breve estarão livres de
suas amarras terrenas e poderão viver na vida verdadeira em
companhia dos justos e dos felizes que um dia passaram pelas
mesmas dificuldades de compreensão.
34. Lutai, pois, caros irmãos, para terem com urgência o fio da
verdadeira sabedoria que vos foi trazida por Allan Kardec, a fim
de que possais adentrar no Reino dos Céus, que está reservado
aos que souberem fazer bom uso das oportunidades oferecidas
pelo Pai Celestial. Colocai em vossos corações as doces palavras
do Mestre Maior, quando vos chama com extrema compaixão:
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados
e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim
que sou manso e humilde de coração porque o meu jugo é suave
e meu fardo e leve”. - João de Arimatéia
Espírito: João de Arimatéia
Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec
São Luís – MA
COMPANHIA DO
AMOR
Somente vive acompanhado realmente, aquele que ama.
*
O amor, à semelhança do conhecimento, é um tesouro que mais se tem
quanto mais se reparte.
*
Ninguém fica em carência quando ama, quando ensina.
*
O amor, é igual a um espelho que reflete aquele que ama e, ao infinito,
reflete todas as expressões de vida pujante.
*
Não obstante as experiências do amor são solidárias, por isso que, ao
expandir-se, primeiro felicita a quem o irradia, sem que tenha a pretensão
de colher o retorno.
*
Na área do amor, quanto em todos os campos da ação nobre da vida, é
35. necessário primeiro dar, a fim de um dia receber.
*
O amor é, por conseqüência, o mais precioso investimento até hoje
conhecido.
Antes que dê os resultados a que se propõe, produz, no nascedouro, as
excelências de que se reveste: bem-estar, paz e alegria.
*
O amor não se queixa, não se impõe; é paciente e promissor.
Apesar de todos os seus predicados, não impede que o homem experimente
os métodos que propiciam a evolução, dentre os quais o sofrimento, em
forma de testemunhos, assim logrando atrair os indecisos e inseguros.
*
Ninguém deve temer a experiência gratificante de amar, não se deixando
impedir pelos obstáculos que se levantam de todo lado.
*
Dize uma palavra gentil a alguém; expressa solidariedade com um gesto a
outrem; coopera com um sorriso cordial em qualquer realização digna...
*
Demonstra vida e sê afável com todos. Far-te-á um grande bem o ato de
amar. Não aguardes, porém que os outros te compartam as dores e provas,
que são sempre pessoais, intransferíveis.
O melhor amigo e mais caro afeto, por mais participem da tua aflição, não
conseguirão diminuir a sua profundidade e crueza.
*
Uma chama pintada, por mais perfeita, jamais terá o poder de atear o
incêndio que uma insignificante fagulha produz.
*
Na cruz, Jesus estava acompanhado por dois delinqüentes. No entanto, cada
um dos crucificados experimentava emoção própria...
*
A bala que vitimou Gandhi, alcançou-o, embora a multidão que o cercava.
*
O veneno que Sócrates sorveu mataria qualquer um, todavia ele o tomou a
sós.
*
Os estigmas em Francisco de Assis, provocavam comoção em todos, mas ele
os sofria em solidão.
*
O processo de ascensão libertadora é pessoal...
*
Há os que carregam cruzes invisíveis, cercados de amigos e solitários na
36. dor.
*
Ama, desse modo, a fim de que se faças solidário com esses corações
solitários que avançam no rumo da felicidade, por enquanto sofridos e
amorosos ou carentes e necessitados.
*
Sê tu aquele que ama e nada espera, felicitado pelo próprio amor que de ti
se irradia abençoado.
(De “Viver e amar”, de Divaldo P. Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis)
CONQUISTAR E CONQUISTAR-SE
Emmanuel
"Não procures os cimos do mundo ao preço de mentira
e astúcia, porque ninguém trai os imperativos da
vida."
Conquistar não é conquistar-se.
Muitos conquistam o ouro da Terra e adquirem a
miséria espiritual.
Muitos conquistam a beleza corpórea e acabam no
envilecimento da alma.
Muitos conquistam o poder humano e perdem a paz de
si mesmos.
Necessário que o espírito se acrisole na experiência e
na luta, valendo-se delas para modelar o caráter,
senhoreando a própria vida.
37. Para possuirmos algo com acerto e segurança, é
indispensável não sejamos possuídos pelas forças
deprimentes que nos inclinam sentimento e raciocínio
aos desequilíbrios da sombra.
Indubitavelmente, todos podemos usufruir os
patrimônios terrestres, nesse ou naquele setor do
cotidiano, mas é preciso caminhar com sabedoria
para que o abuso não nos infelicite a existência.
É por isso que sofrimento e dificuldade, obstáculo e
provação constituem para nós preciosos recursos de
superação e engrandecimento.
Todos os valores externos concedidos à personalidade,
em trânsito no mundo, são posses precárias que a
enfermidade e a morte arrancam de improviso, mas
todos os valores que entesouramos no próprio ser
representam posses eternas que brilharão conosco, aqui
e além, hoje e amanhã. .
Na esfera espiritual, cada criatura é aproveitada na
posição em que se coloca somente aqueles que
conquistaram a si mesmos, nos reiterados labores da
educação, através do suor ou da lágrima, do trabalho
ou da lágrima, são capazes de cooperar na extensão
do amor e da luz, cujo crescimento na Terra exige,
invariavelmente, o coração e o cérebro, as ações e as
atitudes daqueles que aprenderam na lei do próprio
sacrifício a conquista da vida imperecível.
"Reflete naquilo que te falam, antes de te entregares
psicologicamente ao que se te diga. . ."
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
38. "... Se eu aceito o sol,
o calor e o arco-íris....
preciso aceitar também
o trovão, o raio e
a tempestade..."
Gibran Khalil Gibran
NOTAS BREVES
Não perca tempo
Não fuja ao dever
Respeite os compromissos
Sirva quanto possa
Ame intensamente
Trabalhe com ardor
Ore com fé
Fale com bondade
Não critique
Observe construindo
Estude sempre
Não se queixe
Plante alegria
39. Semeie paz
Ajude sem exigências
Compreenda e beneficie
Perdoe quaisquer ofensas
Atenda à pontualidade
Conserve a consciência tranquila
Auxilie generosamente
Esqueça o mal
Cultive sinceridade, aceitando-se como é e
acolhendo os outros comos os outros são,
procurando, porém, fazer sempre o melhor ao
seu alcance
Espírito André Luiz
Livro :"Sinal Verde"
(psicografia :Francisco C. Xavier)
40. FONTE:
O dia de finados para o
Espírita
Por: Christina Nunes
A propósito do dia de finados, é interessante
discorrer sobre questionamentos com os quais de
vez em quando somos colhidos por parte de
conhecidos, curiosos ou interessados em se iniciar
nos assuntos relativos à espiritualidade.
De vez em quando alguém pergunta "por que o
espírita não vai ao cemitério" (no dia de finados,
mais especificamente). Cabe aqui, portanto, um
esclarecimento útil.
Primeiro: nenhum espírita, em virtude de ideologia
41. religiosa, ou limitação de qualquer tipo imposta
pela doutrina, "não pode" ir ao cemitério em
qualquer época. Efetivamente conheço muitos,
simpatizantes, ou espiritualistas convictos, que
narram de suas visitas a túmulos de parentes ou
conhecidos.
Segundo: o que ocorre mais amiúde é que, em
detendo o espírita a tranqüila convicção de que
seu ente querido não mais se demora por estas
bandas, tendo demandado estâncias outras, mais
ricas, de vida, guarda a consciência clara de que
tudo o que ficou na sepultura foi a "roupagem
gasta", e não mais, portanto, a pessoa com quem
compartilhou experiências e afeto.
Terceiro: isto não implica em que o espírita sincero
condene ou critique o posicionamento dos demais
semelhantes que, de todo o coração, prestam com
sinceridade as suas homenagens aos seus
afeiçoados que se anteciparam na viagem deste
para o outro lado da vida. Aliás, reza no próprio
conhecimento da doutrina que muitos
desencarnados visitam, efetivamente, os
cemitérios por ocasião da data, em consideração
às demonstração de amor com que ali são
distinguidos. E muitos outros ainda, afeitos aos
costumes dentro dos quais desenvolveram suas
experiências na matéria, conferem ainda subida
importância a este gesto, ressentindo-se, de fato,
daqueles que não o prestem nas datas de molde a
serem lembrados.
Vistas estas considerações, é sensata a conclusão
de que jamais cabe padrão algum de conduta no
que toca ao sagrado universo íntimo humano.
Cada agrupamento familiar terreno é único e
peculiar, e ninguém melhor do que os seus
42. componentes para estarem inteirados do que
atinge ou não atinge mais de perto a cada um; o
que convém ou o que não convém em matéria de
sentimento e dedicação, cujos estágios e
características se multiplicam ao infinito
correspondente do número de habitantes do vasto
universo humano.
Efetivamente, somos do lado de "lá" o que fomos
aqui. É dever comezinho não só do espírita, quanto
de qualquer pessoa que se diga civilizada,
respeitar a diversidade dos caminhos escolhidos
que, destarte, haverão de conduzir a cada ser, no
tempo certo, ao mesmo ponto de encontro comum
na intimidade das luzes divinas. Questão de
temperamento, de agrupamento humano, de fé e
de hábitos, o ir ou não ir ao cemitério, de vez que
é na sinceridade do gesto, e não no gesto em si,
que se vislumbra a verdadeira homenagem aos
desencarnados, de forma que, amor pelos
mesmos, podemos dirigir-lhes tanto do recesso
abençoado do nosso recanto de meditação no lar,
quanto do ambiente de qualquer templo religioso,
ou ainda diariamente, no movimento tumultuado
das ruas, ou também no cemitério, a qualquer dia
do ano.
De forma que aqueles que partiram nos amando de
todo o coração haverão de valorizar e entender a
nossa melhor intenção ao seu respeito, seja de
onde for que se irradie, colhendo-os de pronto,
pela linguagem instantânea do coração e do
pensamento. Os que foram afeitos aos hábitos
costumeiros do dia de finados, na medida de suas
possibilidades espirituais após a transição lá
estarão, junto à sepultura física, colhendo com
sincera afeição os votos de paz e as preces que
lhes estejam sendo dirigidas. Os provenientes dos
lares espiritualistas na Terra receberão as mesmas
43. demonstrações de amor a qualquer tempo, em
qualquer data que faça emergir naqueles que
ficaram para trás no aprendizado físico as gratas
lembranças com que são evocados.
O importante é que espíritas e não espíritas têm
em comum, em relação aos seus amados que já se
foram, à qualquer época, a linguagem
inconfundível do amor entre as almas.
Enxerguemos acima dos horizontes das limitações
de visão humanas para alcançarmos com clareza a
compreensão de que é assunto individual a forma
como celebramos o nosso afeto para com os
nossos entes queridos, e que o fator da
sinceridade e da intenção é o que de fato conta, na
hora da certeza de que nossas preces e votos de
paz serão bem recebidos por aqueles que
prosseguem nos amando de igual forma na
continuidade pura e simples da vida, que a todos
aguarda para além das portas da sepultura, sob as
bênçãos de Jesus.
Dia de Finados?
Passos Lírio
44. O Cristianismo é, por excelência, a Doutrina do Espírito,
fundada em fatos que demonstram, à evidência, a sua
presença e atuação, em qualquer circunstância, sempre que
necessário.
Seus ensinamentos primam pela tese comprobatória da
realidade da existência da alma e de sua faculdade de entrar
em relação conosco, em estado de vigília ou durante o sono,
como que a mostrar-nos à saciedade que há entre os dois
planos, material e espiritual, corpóreo e incorpóreo, estreito
entrosamento.
Maria de Nazaré recebe a visita do Anjo Gabriel, que lhe
anuncia a maternidade de agraciada do Senhor.
José, em se propondo deixar a esposa secretamente, é
avisado em sonho de que não faça tal, porque o que nela fora
gerado era do Espírito Santo.
Isabel, visitada pela gestante eleita, recebe o impacto de
poderoso influxo magnético, que faz que a criança - ela
também estava para ser mãe -, lhe estremeça no ventre.
Os magos visualizam no Oriente uma estrela que os guia
em dois estafantes anos de viagem e os conduz, não à gruta,
mas à casa onde se achavam José e Maria e, de regresso,
são “por divina advertência prevenidos em sonho para não
voltarem à presença de Herodes”.
Em sonho ainda, “eis que aparece um anjo do Senhor a
José”, induzindo-o à fuga para o Egito a fim de salvar o
menino da sanha sanguinária de Herodes, ordenando-lhe que
retornasse à “terra de Israel” e aconselhando-o a que se
retirasse “para as regiões da Galilé ia”.
Uma entidade angelical, na calada da noite, aparece aos
pastores dando-lhes a boa nova do Nascimento do Salvador.
“Movido pelo Espírito”, Simeão foi ao templo, onde tomou
nos braços o Filho de Deus, bendizendo ao Pai pela bênção de
tê-Lo visto antes de partir e profetizando acerca do Seu
messianato.
Ana, a profetisa, mediunizada, “chegando naquela hora,
dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os
que esperavam a redenção de Jerusalém”.
45. Antes do Nascimento de Jesus, houve o de João,
caracterizado também por manifestações espirituais
ostensivas.
Quando Zacharias oficiava no templo, “na ordem do seu
turno”, surge-lhe um Emissário Celestial que lhe prediz o
nascimento do Precursor.
No Jordão, ao se processar o batismo de Jesus, uma voz
reboa pelo ar, dizendo: - “Este é o meu filho amado, em quem
me comprazo.
Este mesmo fenômeno de pneumatofonia repete-se quando
da transfiguração do Mestre no Monte Tabor, presentes os
Espíritos de Moisés e Elias, profetas da antiga dispensação.
Ressuscita, o Messias, a filha de Jairo, o filho da viúva de
Naim e o irmão de Marta e Maria.
Na parábola do rico e Lázaro, infunde-nos Ele a convicção
na realidade da comunicação dos Espíritos com os homens,
fazendo que Abraão ponderasse ao rico, que queria falar a
cinco irmãos seus, ser inútil aparecer-lhes porque eles não lhe
dariam crédito e não porque fosse impossível fazer-se-lhes
visível para adverti-los.
Liberta endemoninhados, cujos Espíritos impuros e
obsessores confessavam conhecê-Lo e reconhecer-Lhe a
autoridade de Filho do Altíssimo.
- “Porque buscais entre os e mortos ao que vive?” Foi a
pergunta que “dois varões com vestes resplandecentes”
fizeram às mulheres que levavam aromas e bálsamos para
depositar no túmulo de Jesus, cuja pedra encontraram
removida, sem o corpo no seu interior.
- “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão!” Assim se
expressavam os dois discípulos que, a caminho de Emaús,
tiveram a companhia do Mestre, com quem confabularam
durante toda a viagem e a quem pediram, ao término da
jornada: - “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina.”
“E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para
Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros com eles.
Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e
como fora por eles reconhecido no partir do pão.”
“O Espiritismo, que se funda estruturalmente no
46. Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a
plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da
alma, da eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço”.
- “Paz seja convosco.” -“Porque estais perturbados? E por
que sobem dúvidas aos vossos corações?” Foram palavras de
Jesus, na Sua primeira aparição aos Discípulos, no Cenáculo
de Jerusalém.
- “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não
viram, e creram.” Outras palavras de Jesus, em Sua segunda
aparição aos Discípulos, dirigidas especialmente a Tomé, que,
por não estar presente na primeira, não dera crédito à versão
divulgada pelos seus companheiros, de que o Senhor lhes
aparecera.
“Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos Discípulos
junto do mar de Tiberíades”, onde se desenrolam
acontecimentos de assinalada importância que culminam com
o famoso diálogo entre Ele e Simão Pedro, o Pescador de
Calarnaum.
Finalmente, apareceu o Nazareno, no monte, aos
quinhentos da Galiléia, a quem endereça, pela última vez, a
Sua Palavra de Vida Eterna, após o que ocorre a Ascensão
definitiva.
Isto sem falar de aparições, no cenário de Jerusalém, a
Maria Madalena; a Maria de Nazaré, em Éfeso, na casa de João
Evangelista; a Pedro, por algumas vezes; a Saulo de Tarso, às
portas de Damasco.
Onde, em tudo isso, a idéia de morte? Antes não
ressumbra, de todos esses sucessos, a noção de “vida
abundante”, de pensamento e ação por parte daqueles que
formam o mundo incorpóreo?
O Espiritismo, que se funda estruturalmente no
Cristianismo, cuja pureza primitiva restaura em toda a
plenitude, desfralda também a bandeira da imortalidade da
alma, da eternidade do ser no Infinito do Tempo e do Espaço.
Não há mortos e vivos, nem do lado de lá, nem do lado de
cá, embora possa haver, tanto num quanto noutro plano,
mortos-vivos e vivos-mortos. Ninguém vai, ninguém fica,
apenas alguns chegam e outros voltam, na longa caminhada
de poder subir para saber descer, ajudando os outros a fim de
ajudar-se a si próprio.
47. A mediunidade, disciplinada espiriticamente, nos
descortinou novas dimensões de vida, revelando ao mundo a
existência de outros mundos e à Humanidade a presença de
outras Humanidades disseminadas no turbilhão de astros que
gravitam nos arcanos do Universo.
2 de Novembro... Como os demais, dia de todos nós,
encarnados e desencarnados, que buscamos na Terra ou na
Erraticidade os valores do Espírito, a gloriosa realização de
nós mesmos em Deus, libertos e purificados por todo o
sempre, para empunhamos na destra a palma da vitória e
cingirmos à frente a coroa de louros de almas redimidas e
ressurrectas, integradas nas sublimes claridades dos cimos.
Fonte: Reformador nº1976 – Novembro/1993
Responsável pela transcrição: Wadi Ibrahim
Dia de Finados
Azamor Cirne
“A Morte é o veíc ulo c ondutor enc arregado de transferir a mec ânic a da vida de
um apara
outra vibraç ão”. - Joanna de Ângelis
Dizer que a existência dos Espíritos foi invenção de Allan Kardec,
não passe de uma inverdade formulada, a priori, sem conhecimento
de causa. Ora, não se inventa o que está na Natureza.
Newton não inventou a Lei da Gravitação. Esta lei já existia,
antes dele. Pasteur não inventou as bactérias; elas já
existiam. Estes cientistas, apenas, as descobriram. São muitos
os exemplos.
Allan Kardec nada julgou, a priori. As experimentações positivas,
por ele realizadas, vieram revelar os fatos e confirmar, a posteriori,
as teorias. Foram os próprios Espíritos que se revelaram, como sendo
as almas dos mortos.
Ao Espiritismo, isto sim, coube a honra de ter sido o primeiro a se
interessar, de maneira séria, e observar, cientificamente, a origem, a
natureza e o destino dos Espíritos, depois da morte do corpo físico,
além de comprovar as comunicações que podem estabelecer com os
encarnados.
Aliás, entre os fundamentos dessa Doutrina, quatro estão na base
48. de todas as religiões: Deus, alma, imortalidade e vida futura.
“A idéia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência
do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e, com isso,
precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à
idéia”- afirma o Codificador.
Após o fenômeno da morte a alma (Espírito) desprende-se do
corpo, com o rompimento do laço sutil que a prendia: o cordão
fluídico. No mundo dos Espíritos - que é o mundo normal, primitivo,
eterno, preexistente, e sobrevivente - o Espírito, ligado ao corpo
espiritual (perispírito) passa por um estado de perturbação, com
quem acorda de um sonho, em um outro lugar. Sua mente, já
desligada do cérebro, portanto, traz-lhe à consciência os registros
(lembranças) dessa última existência e de outras.
Como a Doutrina refuta a hipótese de céu e inferno, inclusive, por
questão de lógica, o desencarnado não vai desfrutar dos gozos
eternos e nem estará, irremediavelmente, condenado ao suplício
interminável. Aqueles que estiverem condicionados aos interesses
mundanos, materiais, que os prendiam, quando na Terra, continuam
a eles atraídos, na ilusão de, ainda, controlá-los; perturbados e
perturbando a quem eles se acercam. Assim, permanecem, até que
encontrem o esclarecimento fraterno, em nome do Amor.
O Dia de Finados, em si, não representa nada de especial, para
quem, daqui, já partiu. Nessa data, como em qualquer outra, eles são
mais tocados pela lembrança que deles se tenha. Os espíritas não
acendem velas para os mortos e sabem que o cemitério não é o lugar
dos Espíritos, a não ser que os evoquem, prática que, em princípio,
foge à sua orientação doutrinária.
Todavia, a Doutrina nos ensina a respeitar a crença e os
sentimentos alheios, como gostaríamos que respeitassem os nossos,
pois “coração dos outros é terra aonde ninguém anda”.
Na questão nº 212 de “O Livros dos Espíritos”, encontramos o
“porquê” que complementa o nosso parágrafo anterior: “Aquele que
visita um túmulo, apenas manifesta, por essa forma, que pensa no
Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um ato
íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato de
rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o
coração”.
Na de nº 934, Kardec indaga dos Mentores da Codificação a
respeito da perda de entes queridos, recebendo, como resposta, o
imenso bem da esperança e do consolo de que a vida continua: “Essa
causa de dor atinge, assim, o rico, como o pobre; representa uma
49. prova ou expiação e lei para todos. Tendes, porém, uma consolação,
em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos, pelos meios que
vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos
e mais acessíveis aos vossos sentidos”.
O próprio Jesus, o Mestre, por excelência, deu-nos o maior
exemplo de que a vida continua após a morte, aparecendo, como a
outras pessoas, em lugares diferentes.
“A vida não termina, onde a morte aparec e. Não transformes saudades, em fel,
nos que
se foram (...)” Emmanuel / Chic o Xavier, Uberaba-MG, 11.10.78.
Tribuna Espírita - Setembro/Outubro de 2000
PARENTES MORTOS
Emmanuel
Não olvides que além da morte continua vivendo e lutando o
espírito amado que partiu...
Tuas lágrimas são gotas de fel em sua taça de esperança.
Tuas aflições são espinhos a se lhe implantarem no coração.
*
Tua mágoa destrutiva é como neve de angústia a congelar-lhe
os sonhos.
Tua tristeza é sombra a escurecer-lhe a nova senda.
*
Por mais que a separação te lacere a alma sensível , levanta-te
e segue para a frente, honrando-lhe a confiança com a fiel execução
das tarefas que o mundo te reservou.
*
Não vale a deserção do sofrimento, porque a fuga é sempre a
dilatação do labirinto que nos arroja à invigilancia, compelindo-nos a
despender longo tempo na recuperação do rumo certo.
*
Recorda que a lei de renovação atinge a todos e auxilia quem
te antecedeu na grande viagem com o valor de tua renuncia e com a
fortaleza de tua fé, sem esmorecer no trabalho – nosso invariável
caminho para o triunfo.
*
Converte a dor em lição e a saudade em consolo porque, de
outros domínios vibratórios, as afeições inesquecíveis te
acompanham os passos, regozijando-se com as outras tuas vitórias
solitárias, portas adentro de teu mundo interior.
*
50. Todas as provas objetivam o aperfeiçoamento do aprendize,
por enquanto, não passamos de meros aprendizes na Terra,
amealhando o conhecimento e a virtude, em gradativa e laboriosa
ascensão para a Vida Eterna.
Deus, a Suprema Sabedoria e a Suprema Bondade, não criaria
a inteligência e o amor, a beleza e a vida, para arremessá-la às
trevas.
*
Repara em torno dos teus próprios passos. A cada noite no
mundo, segue-se o esplendor do alvorecer.
O inverno áspero é sucedido pela primavera estuante de
renascimento e floração.
*
A lagarta, que hoje se arrasta no solo, amanhã librará em
pleno espaço com asas multicores de borboleta.
Nada perece.
Tudo se transforma na direção do Infinito Bem.
*
Compreendendo, desta forma, a Verdade, entesourando-lhe as
bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e
estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz
inextinguível da Gloriosa Imortalidade
Chico Xavier - Livro- Paz e Libertação.
DANÇANDO COM A SAUDADE
Amílcar Del Chiaro Filho
Foi no dia de finados. Seguimos a nossa opção de décadas e não
fomos ao cemitério que abrigou e abriga ainda os restos mortais de
pessoas tão queridas para mim. Fiz as minhas preces, logo pela
manhã, envolvendo todos aqueles que passaram pela minha vida,
deixando marcas profundas, iluminadas pela amizade e pelo amor.
À tarde, estava escrevendo textos para a Rádio Boa Nova e
resolvi ouvir música enquanto trabalhava. Era uma seleção de boleros
que amávamos muito, eu e ela, minha companheira que desencarnou
há um ano, deixando uma intensa saudade.
Parei de digitar e fechei os olhos. Imaginei-me dançando com ela
nas nuvens, entre flocos brancos de algodão, Vi-a jovem e feliz.
Eu a conduzia na contradança por um salão infinito, um vestido
branco, com
ligeiros tons rosa, amplamente rodado, envolvia seu corpo delicado.
Com uma das mãos ela segurava a minha mão e uma das pontas do
vestido, com a outra envolvia-me num carinhoso abraço. Eu sentia-me
jovem e saudável, vestindo um terno azul marinho.
Dançávamos enlevados, na marcação romântica do bolero, dois
51. pra lá, dois pra cá, como fizéramos muitas vezes na Terra. Tinha
tanta coisa a perguntar, mas não ousava falar com medo que tudo
aquilo se desvanecesse, como o cessar de um encantamento. Afastei-me
um passo e olhei sua perna que fora doente, reverberando luz.
Comecei a perceber que havia outras pessoas queridas presentes,
mas postavam-se distantes, como a dizer que aquele era o nosso
momento.
Quanto tempo rodopiamos pelo salão sem sentir e sem ver
nossos
pés, ou a orquestra, não sei. Mas senti que o meu tempo se escoava,
e pensei
em
escrever sobre esse encontro, mas tive receio. Olhei para ela, e
recebi um ligeiro sinal afirmativo da sua cabeça. Porque era o
momento de dizer, com o apóstolo Paulo: O último inimigo a ser
vencido é a morte.
A música foi cessando. Seu corpo desvaneceu em meus braços.
Meus olhos ficaram marejados de lágrimas, e a saudade pungente foi
balsamizada
por aqueles instantes encantadores.
Obrigado, meu Deus. Sinto-me mais fortalecido e sei, com
certeza, que ela me espera em algum lugar do infinito.
SOBRE FINADOS
Chico Xavier
“Em uma de nossas reuniões públicas foi ventilada a questão de
nossas homenagens aos irmãos desencarnados. Como se sentem eles
com as nossas comemorações e lembranças?
Em torno dessa pergunta foram entretecidos comentários
numerosos. E quando no início de nossas tarefas O Livro dos Espíritos
nos deu para estudo a questão n.º353, que se vincula ao assunto, as
explanações dos companheiros presentes foram as mais diversas.
No término da reunião o nosso caro Emmanuel escreveu a
página que lhe envio. É uma prece que nos sensibilizou e nos fez
recordar a todos o Dia de Finados.”
NOTA – O problema das comemorações do Dia de Finados, bem
como dos funerais e de homenagens prestadas aos mortos, mereceu
um tópico especial do capítulo VI de O Livro dos Espíritos. A posição
doutrinária, ao contrário do que geralmente se pensa, é favorável a
essas homenagens, desde que sinceras e não apenas convencionais.
Os Espíritos, respondendo a perguntas de Kardec a respeito,
52. mostraram que os laços de amor existentes entre os que partiram e
os que ficaram na Terra justificam esses atos. E declararam que no
Dia de Finados os cemitérios ficam repletos de Espíritos que se
alegram com a lembrança dos parentes e amigos.
ORAÇÃO PELOS QUASE MORTOS
Emmanuel
Senhor Jesus!...
Enquanto os irmãos da Terra procuram a nós outros - os
companheiros desencarnados - nas fronteiras de cinza, rogando-te
amparo em nosso favor, também nós, de coração reconhecido,
suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles, principalmente
considerando aqueles que correm o risco de se marginalizarem nas
trevas!... Pelos que perderam a fé, recusando o sentido real da vida,
e jazem quase mortos de desespero; pelos que desertaram das
responsabilidades próprias, anestesiando transitoriamente o próprio
raciocínio, e surgem quase mortos de inanição espiritual; pelos que
se entregaram à ambição desmesurada a se rodearem sem qualquer
proveito dos recursos da Terra, e repontam do cotidiano quase
mortos de penúria da alma; pelos que se hipertrofiaram na
supercultura da inteligência, gelando o coração para o serviço da
solidariedade, e aparecem quase mortos ao frio da indiferença; pelos
que acreditaram na força ilusória da violência, atirando-se ao fogo da
revolta, e se destacam quase mortos de angústia vazia; pelos que se
perturbaram por ausência de esperança, confiando-se ao
desequilíbrio, e se revelam quase mortos de aflição inútil; pelos que
abraçaram o desânimo por norma de ação, parando de trabalhar, e
repousam quase mortos de inércia; e pelos que se feriram ferindo aos
outros, encarcerando-se nas cadeias da culpa, e estão quase mortos
de arrependimento tardio!...
***
Senhor!...
Para todos os nossos irmãos que atravessam a experiência
humana quase mortos de sofrimentos e agravos, complicações e
problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos auxílio e
bênção!...
Ajuda-os a se libertarem do visco de sombra em que se
enredaram e traze-os de novo à luz da verdade e do amor, para que
a luz do amor e da verdade lhes revitalize a existência a fim de que
possam encontrar a felicidade real contigo, agora e para sempre.
O CREDIÁRIO DA MORTE
Irmão Saulo
53. A morte só existe para os que querem morrer. A necrofilia ou o
amor da morte – no sentido negativo da palavra – é uma doença
mental e psíquica, uma tendência mórbida de certos temperamentos,
hoje bem definida em Psicologia. Não se trata da aberração sexual a
que se aplicava a palavra tempos atrás, mas daquela “aberração da
inteligência”, a que se referia Kardec, que leva o indivíduo a negar a
sua própria capacidade de viver e de sentir a vida.
Todo aquele que gosta de destruir e se destrói a si mesmo,
aniquila as suas próprias forças vitais e mata as esperanças de vida
que os outros acalentam e defendem, é necrófilo. Sabemos que a
morte não existe, porque nada se acaba, tudo se transforma. O
aniquilamento total do ser pelo simples fenômeno da morte – um
fenômeno biológico de mutação – não pode mais ser admitido por
uma pessoa ilustrada, pois o avanço atual do conhecimento positivo
superou de muito as ilusões negativas do materialismo.
Apesar dessa inegável realidade nova os necrófilos se apegam à
idéia da morte como aniquilamento total do ser. E por isso se
desesperam, entregando-se à própria destruição, apressando a
própria morte “no visco de sombra em que se enredaram”, segundo a
expressão de Emmanuel. E entregando-se ao ceticismo
autodestruidor compram a morte por antecipação, no crediário “do
desespero e das aflições inúteis”. São esses os “qua se mortos” pelos
quais os “mortos”, no Dia de Finados, oram do lado de lá da vila
A oração de Emmanuel pelos “quase mortos” não é uma peça
de efeito religioso ou literário. É um sinal dos tempos, revelando-nos
que, do outro lado da vida, aqueles que em nossa ignorância
chamamos de mortos velam pelos “quase mortos” da Terra e pedem
a Deus por eles. O verdadeiro morto não é o que deixou o seu corpo
no túmulo, mas o que se serve do corpo para viver na Terra como um
morto ambulante. Que essa oração nos lembre, neste Finados, as
palavras de Isaías: “Os teus mortos viverão!”.
Do livro “Na Era do Espírito”. Psic ografia de Franc isc o C. Xavier e Herc ulano
Pires. Espíritos Diversos
CONVERSA NO CAMPO SANTO
Maria Dolores
Sim, alma irmã,
Teremos sempre um Dia de Finados,
Dia de sonhos mortos,
Supostamente mortos, porque todos eles
Ressurgem renovados,
No clima de outros portos,
54. Onde a vida,
Revelada em beleza indefinida,
É perene manhã.
Agradeço-te as preces,
Recamadas de flores,
E as doces vibrações nas quais me aqueces
Com pensamentos reconfortadores.
Olha, porém, comigo, alma querida e boa,
Este campo de mármores lavrados,
Quantas vezes mais belas
Que a mais formosa porcelana!...
Aqui, em miniaturas de castelos,
Gemem segredos de ternura humana...
Ali, os rendilhados
Criam lauréis no brilho das legendas;
Além, anjos parados de mãos postas,
Em lacrimosas oferendas,
Mostram cruzes depostas,
Vinculadas ao chão...
Ainda, além, primores de escultura,
Em lápides custosas,
São tesouros de amor e desventura,
Orvalhados de pranto e de aflição!...
Na triste majestade que se estampa,
Por traço de amargura, campa em campa,
Não vemos luxo e sim o sofrimento
De quem ficou a sós,
De coração entregue ao desalento...
Entretanto, alma boa,
Este reino de pedras lapidadas,
Quais lâminas de dor,
Quer largar-se da morte,
A fim de partilhar
A construção de um mundo superior...
Estas altas riquezas esquecidas
Ficariam mais nobres
Se pudessem levar sustentação
Às áreas de outras vidas,
As vidas que se vão apagando, ao relento,
Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento,
A sonharem amparo, teto e pão,
Livro, afeto, agasalho,
Proteção e trabalho,
Paz e renovação...
Nesses doces assuntos,
Oremos todos juntos...
E peçamos a Deus
Para que os mortos redivivos
Possam solicitar aos seus entres amados
A desejada alteração.