SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 14
DOCE
DE
TEREZA
“25 SINOS DE ACORDAR NATAL”,
de Flávia Savary, ilustrações da
autora, Editora Salesiana, São Paulo,
SP, 2001
DOCE DE TERESA
Teresa, não. As outras não sei, mas ela, com
certeza, não. Nunca reclama. Parece um
doce que não desanda. Sentada na varanda
da sua casinha modesta, mas limpinha,
casinha branca de janelas azuis, tão de
brinquedo que parece uma pintura.
Florezinhas plantadas em latas de óleo
vazias, um gato malhado que dorme no
primeiro degrau. Borboletas voando que
estalam as asas, feito quem diz: “Ai, que bom
viver! Ai, que delícia”. Ali não é um lugar, é
uma lembrança de infância.
Será por isso que os filhos nunca
aparecem? Nem para as festas? As
comadres falam “que absurdo!” e outras
exclamações cheias de vogais. Teresa, não.
Nunca reclama. Ao invés, faz mais doces,
mais e mais. E tão difícil que é, veja só: num
fogão de lenha! Tem que catar graveto, que
ela não tem dinheiro para encomendar lenha
já cortada, como a vizinha Salete,
aposentada do Correio. Que quê tem?
Graveto dá no chão, graveto dá de graça. É
só pegar.
Teresa pega as coisas do ar. Com seus
olhinhos de jabuticaba, só faz sonhar. Por
isso que a vida não dói. Fazendo beiradas
de paninhos de copa, vai cabeceando,
cabeceando até cochilar. Entra no sonho,
toma um sorvete com o primeiro namorado,
brinca de roda com as amigas de longas
tranças, banho de rio, rouba goiaba e faz
doce de tacho... Acorda com o cheiro do
doce de verdade. Quase passou da hora de
tirar do fogo!
Teresa gostava muito de filme de banguebangue. Perdia tempo escrevendo cartas
compridas para uma sua prima do interior
mais interior que o dela. E tendo já uma
queda para o doce, ia matando menos
índios, dando menos tiros, amansando os
gritos, aumentando os romances e suspiros,
terminando por fazer do tal filme, um melado.
Mas agradava. A prima sempre respondia
agradecida, dizendo que não perderia de
jeito nenhum o tal filme quando passasse em
sua cidade. Que nunca ia ser: no interior do
interior ninguém nem sabia o que era filme,
que dirá cinema.
Isso quando era menina-moça. Depois, o
marido largou dela e teve de pelejar para
criar os sete filhos. Só. Com doce. O que
ficava de menino com o nariz espetado na
janela, que nem pardal querendo roubar pão
da mesa de gente, nem te conto. Um mundo!
Esqueceu dos filmes. E o doce? Levado em
potes para as casas com mais abastança.
Nem por isso acabava de brotar do seu
coração, mais doce, mais e mais. Quem não
tem vocação para amarga, venha a onda que
for — não arrasta. Nem salga.
Nesse meio tempo, teve de botar as
cartas, as letras, os filmes, histórias de
lado. Para depois. Mas depois sempre
vem. Os sete filhos criados foram cada
um para um lado. Nenhum puxou o
jeito doce, todos traziam o selo do pai:
sério, preocupado com essa coisa de
fazer dinheiro. Os filhos, iguais, foram
buscar o ouro no pote do final do arcoíris. Teresa queria era o pote. E o arcoíris. O ouro, se tivesse, botava de
enfeite num bolo.
Um dia, procurando cortes de fazenda
para fazer um vestido novo de Natal,
deu com as cartas da prima. Que
saudade de escrever! A prima, já
morta, escrever para quem? Os filhos
trabalhavam tanto, os netos e bisnetos
nunca iriam responder...
— Pra mim, ué. Então, eu não sou
alguém?
A mão, treinada de doce, buscava um gosto
de começar. Com canela ou sem? Pitada de
baunilha, sim ou não? E foi soltando a
imaginação, brotando o caldo em calda. Uma
vida toda para contar, bem temperada. Doce
que nem ela. Feito compotas guardadas em
porões secretos, coisas simplezinhas que,
envelhecidas, se tornam finas iguarias que
adoçam a mesa dos reis. Escreveu,
escreveu, escreveu. Depois amarrou o
monte de cadernos de espiral com uma tira
de chita florida. E deixou para lá.
Até que um dia... (sempre tem um dia
que as coisas mudam, sei lá por quê).
Um dia, os filhos disseram que vinham
para o Natal. Com a família completa.
Vai ver assistiram a um desses filmes
xaroposos na televisão, em que morre a
mãe velhinha, sofrendo da horrível dor
da solidão e do abandono. É verdade
que é triste isso de passar borracha em
gente, mas Teresa... Teresa, não.
Nunca reclama. Achou boa a ideia. E foi
fazer doce.
Trabalhou que foi uma enormidade. Mas
quando se tem noventa e seis anos já
não se é mais uma menina. Vá
convencer Teresa disso! Arrumou a
casa, preparou tudo, os meninos
chegavam daí a pouco. Terminou,
guardou o avental e foi se sentar na
varanda, na hora da Ave-Maria. Que
pôr-de-sol bonito! Parecia um caldo de
goiabada esparramado num chão de
azulejo
azul.
Foi
cabeceando,
cabeceando até cochilar.
Nem o barulho das gentes chegando
acordou Teresa. Nem os beijos dos bebês,
cheios de lágrimas do medo de ver um rosto
tão marcado de rugas. Nem os presentes de
todo tamanho. Nem chamando pelo nome,
que fazia tempo ela não ouvia de boca outra
que não a própria. Nem balançando de leve
a cadeirinha. Nem sacudindo, sacudindo.
Teresa entrou no sonho e era um sonho tão
doce, doce, mais e mais. Não deu vontade
de sair. Parecia um sonho de verdade, não
como aqueles de padaria. Dos feitos em
casa.
Depois do enterro, a família voltou para casa
com pressa de ir embora. Não cabiam mais
ali. Distribuíram os muitos doces entre si,
arrumando as coisas igual quem quer fugir.
Quase iam deixando o principal para trás.
Porém, um menino se soltou do colo da mãe
e, andando por aí, deu com uma ponta de
chita florida embaixo da cama. Foram
abrindo os cadernos, um por um, lendo
devagar, sentando no chão para apreciar.
Aquilo é que era doce!
Não sei... É por essas e outras que
eu acho que a vida devia começar
pela sobremesa. O salgado vinha
depois. Porque, às vezes, quando o
doce chega, não tem mais espaço...
(in “25 SINOS DE ACORDAR NATAL”, de
Flávia Savary, ilustrações da autora, Editora
Salesiana, São Paulo, SP, 2001)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Sequencia didática semana da árvore
Sequencia didática semana da árvoreSequencia didática semana da árvore
Sequencia didática semana da árvoreEllen Rodrigues
 
6º dia de aula
6º dia de aula6º dia de aula
6º dia de auladeh_rn
 
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de texto
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de textoPráticas de Leitura e Práticas de Produção de texto
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de textoFernanda Tulio
 
Descritores de língua portuguesa 7° ano
Descritores de língua portuguesa 7° anoDescritores de língua portuguesa 7° ano
Descritores de língua portuguesa 7° anoMarcia Oliveira
 
Redação: Relato Pessoal
Redação: Relato PessoalRedação: Relato Pessoal
Redação: Relato Pessoal7 de Setembro
 
Atividade 26 produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...
Atividade 26  produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...Atividade 26  produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...
Atividade 26 produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...Nilda de Oliveira Campos
 
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aula
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aulaProjeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aula
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aulaMaria Cecilia Silva
 
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aula
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aulaOralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aula
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aulaDenise Oliveira
 
Trabalho em equipe
Trabalho em equipeTrabalho em equipe
Trabalho em equipeWelton Matos
 
O que ensinar na produção de texto
O que ensinar na produção de textoO que ensinar na produção de texto
O que ensinar na produção de textoCristina Baizi
 
Direitos de aprendizagem oralidade
Direitos de aprendizagem   oralidadeDireitos de aprendizagem   oralidade
Direitos de aprendizagem oralidademariaelidias
 
Sequência didática 1º ao 5º ano
Sequência didática 1º ao 5º anoSequência didática 1º ao 5º ano
Sequência didática 1º ao 5º anoAndré Moraes
 

Mais procurados (20)

Carta do leitor
Carta do leitorCarta do leitor
Carta do leitor
 
Conto - Casa de vô
Conto - Casa de vôConto - Casa de vô
Conto - Casa de vô
 
Sequencia didática semana da árvore
Sequencia didática semana da árvoreSequencia didática semana da árvore
Sequencia didática semana da árvore
 
A mãe na poesia
A mãe na poesiaA mãe na poesia
A mãe na poesia
 
Kelvia
KelviaKelvia
Kelvia
 
Atividades casa
Atividades casaAtividades casa
Atividades casa
 
6º dia de aula
6º dia de aula6º dia de aula
6º dia de aula
 
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de texto
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de textoPráticas de Leitura e Práticas de Produção de texto
Práticas de Leitura e Práticas de Produção de texto
 
Descritores de língua portuguesa 7° ano
Descritores de língua portuguesa 7° anoDescritores de língua portuguesa 7° ano
Descritores de língua portuguesa 7° ano
 
Capítulo i galinha ao molho pardo
Capítulo i  galinha ao molho pardoCapítulo i  galinha ao molho pardo
Capítulo i galinha ao molho pardo
 
Redação: Relato Pessoal
Redação: Relato PessoalRedação: Relato Pessoal
Redação: Relato Pessoal
 
Sequencia diática de alfabetização
Sequencia diática de alfabetizaçãoSequencia diática de alfabetização
Sequencia diática de alfabetização
 
Atividade 26 produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...
Atividade 26  produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...Atividade 26  produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...
Atividade 26 produção de texto - Plano de aula para aplicação no laboratorio...
 
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aula
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aulaProjeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aula
Projeto poemas em festa - Gêneros textuais na sala de aula
 
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aula
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aulaOralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aula
Oralidade e gêneros orais: um olhar sobre as práticas orais em sala de aula
 
Trabalho em equipe
Trabalho em equipeTrabalho em equipe
Trabalho em equipe
 
O que ensinar na produção de texto
O que ensinar na produção de textoO que ensinar na produção de texto
O que ensinar na produção de texto
 
Direitos de aprendizagem oralidade
Direitos de aprendizagem   oralidadeDireitos de aprendizagem   oralidade
Direitos de aprendizagem oralidade
 
Sequência didática 1º ao 5º ano
Sequência didática 1º ao 5º anoSequência didática 1º ao 5º ano
Sequência didática 1º ao 5º ano
 
Texto Reflexivo: Plante um Futuro
Texto Reflexivo: Plante um FuturoTexto Reflexivo: Plante um Futuro
Texto Reflexivo: Plante um Futuro
 

Destaque

2 reflexões sobre projetos didáticos
2 reflexões sobre projetos didáticos2 reflexões sobre projetos didáticos
2 reflexões sobre projetos didáticostaboao
 
4 apresentação planejando a alfabetização unidade 6
4 apresentação planejando  a alfabetização   unidade 64 apresentação planejando  a alfabetização   unidade 6
4 apresentação planejando a alfabetização unidade 6taboao
 
2 portfólio
2 portfólio2 portfólio
2 portfóliotaboao
 
Pauta formativa pnaic 7º encontro
Pauta formativa pnaic   7º encontroPauta formativa pnaic   7º encontro
Pauta formativa pnaic 7º encontrotaboao
 
1 pêssego, pera, ameixa no pomar
1 pêssego, pera, ameixa no pomar1 pêssego, pera, ameixa no pomar
1 pêssego, pera, ameixa no pomartaboao
 
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básico
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básicoAvaliacao nacional alfabetizacao documento básico
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básicotaboao
 
Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º anotaboao
 
Rotina 2º ano
Rotina 2º anoRotina 2º ano
Rotina 2º anotaboao
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidadestaboao
 
Pauta formativa pnaic 6º encontro
Pauta formativa pnaic   6º encontroPauta formativa pnaic   6º encontro
Pauta formativa pnaic 6º encontrotaboao
 
Pauta formativa pnaic 4º encontro
Pauta formativa pnaic   4º encontroPauta formativa pnaic   4º encontro
Pauta formativa pnaic 4º encontropnaicdertsis
 
Avaliacao nacional da_alfabetizacao
Avaliacao nacional da_alfabetizacaoAvaliacao nacional da_alfabetizacao
Avaliacao nacional da_alfabetizacaotaboao
 
Rotina 3º ano
Rotina 3º anoRotina 3º ano
Rotina 3º anotaboao
 
Pauta formativa pnaic 5º encontro
Pauta formativa pnaic   5º encontroPauta formativa pnaic   5º encontro
Pauta formativa pnaic 5º encontropnaicdertsis
 
Gêneros de discurso e gêneros de texto ppt
Gêneros de discurso e gêneros de texto pptGêneros de discurso e gêneros de texto ppt
Gêneros de discurso e gêneros de texto pptpnaicdertsis
 
Foram muitos os professores
Foram muitos os professoresForam muitos os professores
Foram muitos os professorespnaicdertsis
 
3ª pauta 17 de agosto
3ª pauta 17 de agosto3ª pauta 17 de agosto
3ª pauta 17 de agostopnaicdertsis
 
Análise de atividade
Análise de atividadeAnálise de atividade
Análise de atividadepnaicdertsis
 

Destaque (20)

2 reflexões sobre projetos didáticos
2 reflexões sobre projetos didáticos2 reflexões sobre projetos didáticos
2 reflexões sobre projetos didáticos
 
4 apresentação planejando a alfabetização unidade 6
4 apresentação planejando  a alfabetização   unidade 64 apresentação planejando  a alfabetização   unidade 6
4 apresentação planejando a alfabetização unidade 6
 
2 portfólio
2 portfólio2 portfólio
2 portfólio
 
Pauta formativa pnaic 7º encontro
Pauta formativa pnaic   7º encontroPauta formativa pnaic   7º encontro
Pauta formativa pnaic 7º encontro
 
1 pêssego, pera, ameixa no pomar
1 pêssego, pera, ameixa no pomar1 pêssego, pera, ameixa no pomar
1 pêssego, pera, ameixa no pomar
 
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básico
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básicoAvaliacao nacional alfabetizacao documento básico
Avaliacao nacional alfabetizacao documento básico
 
Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º ano
 
Rotina 2º ano
Rotina 2º anoRotina 2º ano
Rotina 2º ano
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidades
 
Pauta formativa pnaic 6º encontro
Pauta formativa pnaic   6º encontroPauta formativa pnaic   6º encontro
Pauta formativa pnaic 6º encontro
 
Pauta formativa pnaic 4º encontro
Pauta formativa pnaic   4º encontroPauta formativa pnaic   4º encontro
Pauta formativa pnaic 4º encontro
 
Avaliacao nacional da_alfabetizacao
Avaliacao nacional da_alfabetizacaoAvaliacao nacional da_alfabetizacao
Avaliacao nacional da_alfabetizacao
 
Rotina 3º ano
Rotina 3º anoRotina 3º ano
Rotina 3º ano
 
Pauta formativa pnaic 5º encontro
Pauta formativa pnaic   5º encontroPauta formativa pnaic   5º encontro
Pauta formativa pnaic 5º encontro
 
Gêneros de discurso e gêneros de texto ppt
Gêneros de discurso e gêneros de texto pptGêneros de discurso e gêneros de texto ppt
Gêneros de discurso e gêneros de texto ppt
 
Foram muitos os professores
Foram muitos os professoresForam muitos os professores
Foram muitos os professores
 
3ª pauta 17 de agosto
3ª pauta 17 de agosto3ª pauta 17 de agosto
3ª pauta 17 de agosto
 
Pauta formativa.doc pnaic 22 06 13
Pauta formativa.doc pnaic 22 06 13Pauta formativa.doc pnaic 22 06 13
Pauta formativa.doc pnaic 22 06 13
 
Apresentação pacto brasil
Apresentação pacto brasilApresentação pacto brasil
Apresentação pacto brasil
 
Análise de atividade
Análise de atividadeAnálise de atividade
Análise de atividade
 

Semelhante a 1 doce de tereza

By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vó
By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vóBy c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vó
By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vóRosa Silva
 
Um EspaçO, Uma EstóRia
Um EspaçO, Uma EstóRiaUm EspaçO, Uma EstóRia
Um EspaçO, Uma EstóRiaMaria Maló
 
Mario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de PretoMario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de PretoDani Bertollo
 
Corpo do livro
Corpo do livroCorpo do livro
Corpo do livroRosa Regis
 
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha   um conto da - victoria aveyardCancao da rainha   um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyardDaniel Carloni
 
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULO
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULORosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULO
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULOvitaliykolyesnik
 
Uma Estrela Atrás Da Porta
Uma Estrela Atrás Da PortaUma Estrela Atrás Da Porta
Uma Estrela Atrás Da PortaMaria Borges
 
Margarida rebelo pinto sei lá
Margarida rebelo pinto   sei láMargarida rebelo pinto   sei lá
Margarida rebelo pinto sei láRaquel Tavares
 
Cheiro De Feijao
Cheiro De FeijaoCheiro De Feijao
Cheiro De FeijaoTop Cat
 
Cheiro De Feijao, Estrelas E Sonhos
Cheiro De Feijao, Estrelas E SonhosCheiro De Feijao, Estrelas E Sonhos
Cheiro De Feijao, Estrelas E SonhosVVCX
 
Toda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoToda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoIsabel Martins
 
Cheiro de feijao, estrelas e sonhos
Cheiro de feijao, estrelas e sonhosCheiro de feijao, estrelas e sonhos
Cheiro de feijao, estrelas e sonhosLuciano Soares
 
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdf
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdfA_sorveteria_PNLD2020_PR.pdf
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdfRaquel da Silva
 
Dias de verão a4
Dias de verão a4Dias de verão a4
Dias de verão a4rgrecia
 

Semelhante a 1 doce de tereza (20)

Casa de vo
Casa de voCasa de vo
Casa de vo
 
By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vó
By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vóBy c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vó
By c guiomar-p_aiva_brandão-casa_de_vó
 
Casa de vo
Casa de voCasa de vo
Casa de vo
 
10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal
 
A carta
A carta A carta
A carta
 
Um EspaçO, Uma EstóRia
Um EspaçO, Uma EstóRiaUm EspaçO, Uma EstóRia
Um EspaçO, Uma EstóRia
 
Mario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de PretoMario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de Preto
 
Corpo do livro
Corpo do livroCorpo do livro
Corpo do livro
 
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha   um conto da - victoria aveyardCancao da rainha   um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
 
Voltapracasa
VoltapracasaVoltapracasa
Voltapracasa
 
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULO
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULORosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULO
Rosa minha irma rosa PRIMEIRO CAPITULO
 
Uma Estrela Atrás Da Porta
Uma Estrela Atrás Da PortaUma Estrela Atrás Da Porta
Uma Estrela Atrás Da Porta
 
Margarida rebelo pinto sei lá
Margarida rebelo pinto   sei láMargarida rebelo pinto   sei lá
Margarida rebelo pinto sei lá
 
Cheiro De Feijao
Cheiro De FeijaoCheiro De Feijao
Cheiro De Feijao
 
Cheiro De Feijao, Estrelas E Sonhos
Cheiro De Feijao, Estrelas E SonhosCheiro De Feijao, Estrelas E Sonhos
Cheiro De Feijao, Estrelas E Sonhos
 
Toda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoToda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabão
 
Cheiro de feijao, estrelas e sonhos
Cheiro de feijao, estrelas e sonhosCheiro de feijao, estrelas e sonhos
Cheiro de feijao, estrelas e sonhos
 
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdf
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdfA_sorveteria_PNLD2020_PR.pdf
A_sorveteria_PNLD2020_PR.pdf
 
Dias de verão a4
Dias de verão a4Dias de verão a4
Dias de verão a4
 
Estafeta de leitura de Natal
Estafeta de leitura de NatalEstafeta de leitura de Natal
Estafeta de leitura de Natal
 

Mais de taboao

Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º anotaboao
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidadestaboao
 
Rotina 3º ano
Rotina 3º anoRotina 3º ano
Rotina 3º anotaboao
 
Rotina 2º ano
Rotina 2º anoRotina 2º ano
Rotina 2º anotaboao
 
Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º anotaboao
 
Pauta formativa pnaic 6º encontro
Pauta formativa pnaic   6º encontroPauta formativa pnaic   6º encontro
Pauta formativa pnaic 6º encontrotaboao
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidadestaboao
 

Mais de taboao (7)

Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º ano
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidades
 
Rotina 3º ano
Rotina 3º anoRotina 3º ano
Rotina 3º ano
 
Rotina 2º ano
Rotina 2º anoRotina 2º ano
Rotina 2º ano
 
Rotina 1º ano
Rotina 1º anoRotina 1º ano
Rotina 1º ano
 
Pauta formativa pnaic 6º encontro
Pauta formativa pnaic   6º encontroPauta formativa pnaic   6º encontro
Pauta formativa pnaic 6º encontro
 
Ppt modalidades
Ppt modalidadesPpt modalidades
Ppt modalidades
 

Último

A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxfabiolalopesmartins1
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaaulasgege
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasillucasp132400
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfProva uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfArthurRomanof1
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 

Último (20)

A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdfProva uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
Prova uniasselvi tecnologias da Informação.pdf
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 

1 doce de tereza

  • 1. DOCE DE TEREZA “25 SINOS DE ACORDAR NATAL”, de Flávia Savary, ilustrações da autora, Editora Salesiana, São Paulo, SP, 2001
  • 2. DOCE DE TERESA Teresa, não. As outras não sei, mas ela, com certeza, não. Nunca reclama. Parece um doce que não desanda. Sentada na varanda da sua casinha modesta, mas limpinha, casinha branca de janelas azuis, tão de brinquedo que parece uma pintura. Florezinhas plantadas em latas de óleo vazias, um gato malhado que dorme no primeiro degrau. Borboletas voando que estalam as asas, feito quem diz: “Ai, que bom viver! Ai, que delícia”. Ali não é um lugar, é uma lembrança de infância.
  • 3. Será por isso que os filhos nunca aparecem? Nem para as festas? As comadres falam “que absurdo!” e outras exclamações cheias de vogais. Teresa, não. Nunca reclama. Ao invés, faz mais doces, mais e mais. E tão difícil que é, veja só: num fogão de lenha! Tem que catar graveto, que ela não tem dinheiro para encomendar lenha já cortada, como a vizinha Salete, aposentada do Correio. Que quê tem? Graveto dá no chão, graveto dá de graça. É só pegar.
  • 4. Teresa pega as coisas do ar. Com seus olhinhos de jabuticaba, só faz sonhar. Por isso que a vida não dói. Fazendo beiradas de paninhos de copa, vai cabeceando, cabeceando até cochilar. Entra no sonho, toma um sorvete com o primeiro namorado, brinca de roda com as amigas de longas tranças, banho de rio, rouba goiaba e faz doce de tacho... Acorda com o cheiro do doce de verdade. Quase passou da hora de tirar do fogo!
  • 5. Teresa gostava muito de filme de banguebangue. Perdia tempo escrevendo cartas compridas para uma sua prima do interior mais interior que o dela. E tendo já uma queda para o doce, ia matando menos índios, dando menos tiros, amansando os gritos, aumentando os romances e suspiros, terminando por fazer do tal filme, um melado. Mas agradava. A prima sempre respondia agradecida, dizendo que não perderia de jeito nenhum o tal filme quando passasse em sua cidade. Que nunca ia ser: no interior do interior ninguém nem sabia o que era filme, que dirá cinema.
  • 6. Isso quando era menina-moça. Depois, o marido largou dela e teve de pelejar para criar os sete filhos. Só. Com doce. O que ficava de menino com o nariz espetado na janela, que nem pardal querendo roubar pão da mesa de gente, nem te conto. Um mundo! Esqueceu dos filmes. E o doce? Levado em potes para as casas com mais abastança. Nem por isso acabava de brotar do seu coração, mais doce, mais e mais. Quem não tem vocação para amarga, venha a onda que for — não arrasta. Nem salga.
  • 7. Nesse meio tempo, teve de botar as cartas, as letras, os filmes, histórias de lado. Para depois. Mas depois sempre vem. Os sete filhos criados foram cada um para um lado. Nenhum puxou o jeito doce, todos traziam o selo do pai: sério, preocupado com essa coisa de fazer dinheiro. Os filhos, iguais, foram buscar o ouro no pote do final do arcoíris. Teresa queria era o pote. E o arcoíris. O ouro, se tivesse, botava de enfeite num bolo.
  • 8. Um dia, procurando cortes de fazenda para fazer um vestido novo de Natal, deu com as cartas da prima. Que saudade de escrever! A prima, já morta, escrever para quem? Os filhos trabalhavam tanto, os netos e bisnetos nunca iriam responder... — Pra mim, ué. Então, eu não sou alguém?
  • 9. A mão, treinada de doce, buscava um gosto de começar. Com canela ou sem? Pitada de baunilha, sim ou não? E foi soltando a imaginação, brotando o caldo em calda. Uma vida toda para contar, bem temperada. Doce que nem ela. Feito compotas guardadas em porões secretos, coisas simplezinhas que, envelhecidas, se tornam finas iguarias que adoçam a mesa dos reis. Escreveu, escreveu, escreveu. Depois amarrou o monte de cadernos de espiral com uma tira de chita florida. E deixou para lá.
  • 10. Até que um dia... (sempre tem um dia que as coisas mudam, sei lá por quê). Um dia, os filhos disseram que vinham para o Natal. Com a família completa. Vai ver assistiram a um desses filmes xaroposos na televisão, em que morre a mãe velhinha, sofrendo da horrível dor da solidão e do abandono. É verdade que é triste isso de passar borracha em gente, mas Teresa... Teresa, não. Nunca reclama. Achou boa a ideia. E foi fazer doce.
  • 11. Trabalhou que foi uma enormidade. Mas quando se tem noventa e seis anos já não se é mais uma menina. Vá convencer Teresa disso! Arrumou a casa, preparou tudo, os meninos chegavam daí a pouco. Terminou, guardou o avental e foi se sentar na varanda, na hora da Ave-Maria. Que pôr-de-sol bonito! Parecia um caldo de goiabada esparramado num chão de azulejo azul. Foi cabeceando, cabeceando até cochilar.
  • 12. Nem o barulho das gentes chegando acordou Teresa. Nem os beijos dos bebês, cheios de lágrimas do medo de ver um rosto tão marcado de rugas. Nem os presentes de todo tamanho. Nem chamando pelo nome, que fazia tempo ela não ouvia de boca outra que não a própria. Nem balançando de leve a cadeirinha. Nem sacudindo, sacudindo. Teresa entrou no sonho e era um sonho tão doce, doce, mais e mais. Não deu vontade de sair. Parecia um sonho de verdade, não como aqueles de padaria. Dos feitos em casa.
  • 13. Depois do enterro, a família voltou para casa com pressa de ir embora. Não cabiam mais ali. Distribuíram os muitos doces entre si, arrumando as coisas igual quem quer fugir. Quase iam deixando o principal para trás. Porém, um menino se soltou do colo da mãe e, andando por aí, deu com uma ponta de chita florida embaixo da cama. Foram abrindo os cadernos, um por um, lendo devagar, sentando no chão para apreciar. Aquilo é que era doce!
  • 14. Não sei... É por essas e outras que eu acho que a vida devia começar pela sobremesa. O salgado vinha depois. Porque, às vezes, quando o doce chega, não tem mais espaço... (in “25 SINOS DE ACORDAR NATAL”, de Flávia Savary, ilustrações da autora, Editora Salesiana, São Paulo, SP, 2001)