O documento discute a infecção pelo HIV/AIDS como uma doença crônica e tratável. A terapia antirretroviral combinada aumentou significativamente a expectativa de vida de pessoas vivendo com HIV/AIDS. No entanto, o acesso limitado ao tratamento, especialmente na África Subsaariana, continua causando milhões de mortes anualmente. O documento também aborda temas como epidemiologia, diagnóstico, fisiopatologia e manifestações clínicas da AIDS.
PSORÍASE-Resumido.Diagnostico E Tratamento- aula.ppt
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
1. Revista Racine32
Panorama Geral
Infecção pelo HIV/Aids:
uma Doença Crônica e Tratável
Alexandre Naime Barbosa e Lenice do Rosário de Souza
“Uma das 6 das Metas de Desenvolvimento do
Milênio da Declaração do Milênio da Organização
das Nações Unidas é Combater o HIV/Aids, a
malária e outras doenças. Em várias regiões
do mundo, epidemias mortais vêm destruindo
gerações e ameaçando qualquer possibilidade
de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a
experiência de países como o Brasil, Senegal,
Tailândia e Uganda vem mostrando que pode-
se deter a expansão do HIV. Seja no caso da Aids
ou de outras doenças que ameaçam, acima de
tudo, as populações mais pobres e vulneráveis,
como a malária, a tuberculose e outras, parar
sua expansão e depois reduzir sua incidência
dependerá fundamentalmente do acesso da
população à informação, aos meios de prevenção
e aos meios de tratamento, sem descuidar da
criação de condições ambientais e nutritivas que
estanquem os ciclos de reprodução das doenças.”
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano 2003, Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD)
2. Perspectiva histórica
Passados mais de 25 anos da descrição do primeiro
caso, atualmente a Aids pode ser considerada uma
doença crônica e tratável. Popularmente conhecida como
coquetel, a estratégia de associação entre diferentes
drogas, denominada terapia anti-retroviral combinada e
potente (em inglês, highly active antiretroviral therapy, ou
HAART), aumentou de forma significativa a expectativa
de vida das pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA). Isso,
porque foi possível inibir de forma eficaz a reprodução do
vírus, sendo que os pacientes que usam o medicamento
de forma regular atingem a indetectabilidade da carga
viral plasmática do HIV (CV HIV), e, na maior parte das
vezes, conseguem aumentar os níveis de linfócitos T CD4
,
que antes estavam sendo constantemente destruídos. Com
isso, há recuperação parcial da imunidade e as infecções
oportunistas que levavam, invariavelmente, à morte na
era pré-HAART, antes de 1996, hoje são mais raras nos
indivíduos em tratamento, resultando em importante
aumento da sobrevida (Figura 1).
Figura 1 - População cumulativa de PVHA,
divididos pelo ano de diagnóstico (1)
(modificado)
tem outros números assustadores, como o de órfãos de
pais que morreram por Aids, que já somam mais de 10
milhões (2).
Figura 2 - Distribuição das PVHA em 2005
(2) (modificado)
Panorama Geral
Revista Racine 33
Ano do
diagnóstico
%desobreviventes
Meses pós o diagnóstico
Epidemiologia
Este cenário, porém, só ocorre em locais em que as
PVHA têm acesso à terapia HAART, o que não aconte-
ce na maioria dos países pobres, em especial na África
Sub-Saariana, região que concentra mais de 60% dos 40
milhões de casos em todo o mundo (Figura 2). Muitos
países africanos têm mais de 30% da população adulta
total infectada pelo HIV, sendo que o número anual de
casos novos nesse continente gira em torno de 2,5 mi-
lhões, e o de mortes atinge dois milhões. Essa tragédia
O Brasil concentra entre 600 a 700 mil PVHA, 1/3 do
total da América Latina. Desde o início da epidemia, em
1981, até junho de 2006, foram notificados 433.067 casos,
sendo que desses, 183.074 evoluíram para óbito (3). A
conclusão é que, atualmente, cerca de 400 mil brasileiros
desconhecem ser portadores do HIV. O número de casos
novos é estável desde 1998, com uma incidência nacio-
nal em torno de 34 mil por ano. A relação entre homens
e mulheres infectados, que já foi de mais de 25H:M em
1985, atualmente está em 1,5H:M, mostrando tendência
de feminização da epidemia.Amaior concentração ocorre
na faixa etária entre 20-49 anos, com mais de 80% dos
casos em ambos os sexos (3).
Porém, em indivíduos acima de 35 anos, as taxas de
incidência continuam crescendo, especialmente entre
as mulheres entre 40-49 anos. Há também aumento
proporcional do número de infectados entre a população
parda, decrescendo nos brancos. Em relação ao modo de
aquisição do HIV, historicamente houve uma importante
queda da transmissão vertical (mãe-filho), bem como
pelo uso de drogas ilícitas injetáveis, pela utilização
de sangue e hemoderivados e entre os homens que fa-
zem sexo com homens (HSH), sendo que o modo mais
comum, atualmente, é a relação sexual heterossexual
desprotegida (3).
Testagem anti-HIV
A testagem anti-HIV deve ser realizada em todos os
indivíduos com dúvidas em relação ao seu status quanto ao
HIV, ou que se expuseram a situações de risco de infecção,
como relações sexuais desprotegidas, parceiros sexuais de
América do Norte
1,3 milhões
Caribe
330.000
América Latina
1,6 milhões
Europa Ocidentale Central
720.000
Norte da África
e Oriente Médio
440.000
África Sub-Saariana
24,5 milhões
Europa Oriental
e Ásia Central
1,5 milhões
Sudeste Asiático
680.000
Sul e Sudeste Asiático
7,6 milhões
Oceania
78.000
Total: 38,6 (33,4 - 46,0) milhões
3. pessoassabidamenteportadorasdoHIV,usuáriosdedrogas
ilícitas injetáveis ou acidentes ocupacionais com sangue ou
outros materiais biológicos. A investigação também está
indicada em gestantes acompanhadas em pré-natal ou no
momento do parto, e em doadores de sangue ou de órgão e
tecidos (4).Acritério médico, a testagem também deve ser
solicitada em pacientes com sinais e sintomas sugestivos
de Aids (Figura 3).
Entretanto,adecisãodefazerounãootestenemsempre
é fácil, principalmente em indivíduos assintomáticos, em
função das responsabilidades e conseqüências psicológi-
cas, sociais e éticas que o resultado traz. O preconceito e
a discriminação afastam muitas pessoas da possibilidade e
dosbenefíciosdediagnósticoprecocedainfecção,alémde,
em muitos casos, contribuir para a manutenção da cadeia
de transmissão do vírus (4).
Por todos esses motivos, não basta simplesmente que o
teste seja realizado.Além da necessidade do consentimento
do indivíduo, é essencial que o exame seja acompanhado
por profissionais especializados, capazes de oferecer acon-
selhamento adequado, interpretar os resultados e orientar
sobre as implicações em relação à sua própria vida, além
de, frente a uma possível confirmação de infecção pelo
HIV,informarsobreasalternativasterapêuticasexistentese
encaminhá-lo para um serviço de referência (4). No Brasil,
o Programa Nacional de DST/Aids (PN DST/Aids) tem
uma rede de mais de 300 Centros de Testagem e Aconse-
lhamento espalhados pelo País, com exames e orientações
gratuitos (Figura 3).
Figura 3 - Quem deve ser testado para HIV
Diagnóstico laboratorial
Para confirmação laboratorial do diagnóstico de in-
fecção pelo HIV, o PN DST/Aids propõe que, em uma
mesma amostra de sangue sejam reagentes dois testes
imunoenzimáticos, Enzyme-linked immunosorbent assay
(ELISA), com princípio metodológico e, ou antígeno
diferentes e mais um teste confirmatório por imuno-
fluorescência indireta ou por Imunoblot. Em casos de
discordância de resultados, é necessário realizar teste por
Western-Blot (5). É importante lembrar que há algumas
situações de testes falso-negativos, conhecidas como
janela sorológica ou imunológica, quando o contágio foi
muito recente. Nesse caso, é necessário aguardar de um a
três meses, dependendo do kit utilizado, para que ocorra
viragem sorológica, ou, então, proceder imediatamente
um teste de detecção direta do HIV, como a amplificação
do material genético viral por reação da polimerase em
cadeia (PCR).
Fisiopatologia e diagnóstico clínico
Logo após o contágio, o HIV invade algumas células
especiais, que apresentam em sua superfície um receptor
conhecido como CD4
. Na sua maioria, essas células são
linfócitos T helper, agentes fundamentais na ativação
e regulação da resposta imune contra microorganismos
intra-celulares, tais como, vírus, fungos, protozoários,
micobactérias e algumas bactérias. Posteriormente, o vírus
migra para o tecido retículo endotelial, em especial para os
linfonodos, onde ocorre uma grande reprodução inicial.A
quantidade de vírus no sangue periférico então aumenta à
razão de milhões por mm3
, e como resultado dessa intensa
atividade replicativa, há uma grande destruição da popula-
ção dos linfócitos T CD4
(Figura 4, na página seguinte).
Nessa fase, conhecida como infecção primária pelo HIVou
síndrome de soro-conversão ou, ainda, síndrome retroviral
aguda, o paciente pode apresentar sintomas inespecíficos,
como febre, linfoadenomegalia, faringite, exantema e
mialgia, entre outros, que se confundem com uma gripe ou
outras doenças infecciosas como a mononucleose, a cito-
megalovirose e a toxoplasmose (síndromes mononucleose-
like).Além disso, muitas vezes a sorologia anti-HIV nessa
etapa é falso negativo. Por esses motivos, o diagnóstico de
infecção aguda pelo HIV é evento raro.
Subseqüentemente, há uma resposta imunológica
natural contra o HIV, com diminuição importante da
Revista Racine34 Revista Racine34
Panorama Geral
1. Dúvidas quanto ao status anti-HIV
2. Exposição à situação de risco
3. Gestantes
4. Doadores de sangue ou de órgãos
5. Sinais e sintomas de Aids
*O aconselhamento pré e pós testagem realizado por profissional qualificado é fundamental
para a correta interpretação dos resultados, e está disponível nos centros de testagem e
Aconselhamentos e nos Centros de Referência em HIV/Aids.
4. viremia plasmática e recuperação parcial na contagem
de linfócitos T CD4
. Essa resposta tem grande variação
individual, e quanto mais potente for, maior o tempo de
evolução para uma situação de imunodepressão grave.
Alguns poucos pacientes, conhecidos como progressores
lentos, conseguem persistentemente manter taxas altas de
linfócitos T CD4
, mesmo sem tratamento anti-retroviral.
Porém, a grande maioria evolui lenta e gradativamente
com redução de CD4
e aumento da viremia plasmática,
sendo que em média, após 8 a 10 anos, a contagem de
CD4
está menor que 200 cels/mm3
(Figura 4).
Figura 4 - Fases clínicas da Aids e relação
com a contagem de linfócitos T CD4 e
viremia plasmática (6)
Quadro 1 - Correlação entre a contagem
de CD4
e manifestações clínicas mais
freqüentes da Aids (7) (Modificado)
Revista Racine36 Revista Racine36
Panorama GeralLinifócitosTCD4
/mm3
TítulodaViremiaPlasmática
Semanas Anos
Apesar de ser um método quantitativo e não avaliar de
forma qualitativa os diferentes componentes da resposta
imune celular, há forte correlação entre a contagem de
linfócitos T CD4
e as manifestações clínicas da Aids.
Assim, para cada faixa de CD4
existem infecções
oportunistas (IO) e outras complicações não infecciosas
mais freqüentes, o que permite orientar o diagnóstico e
o tratamento (Quadro 1). As infecções listadas abaixo
de 200 cels/mm3
são muito específicas do indivíduo com
Aids, e, portanto, são denominas doenças oportunistas
definidoras. Em pacientes não tratados, a sobrevida
média após a contagem inferior a 200 cels/mm3
é de 3,7
anos e após a primeira infecção definidora de Aids é de
1,3 anos (7).
CD4
(mm3
)
500 - 200
200 - 100
< 100
Infecções
- Pneumonias bacterianas
- Tuberculose pulmonar
- Herpes zoster
- Candidiase oral
- Pneumonia por
Pneumocystis jiroveci
- Neurotoxoplasmose
- Tuberculose disseminada
- Leucoencefalopatia
multifocal progressiva
- Candidose esofágica
- Sarcoma de Kaposi
- Histoplasmose disseminada
- Neurocriptococose
- Citomegalovirose
- Criptosporidiose
- Micobacteriose atípica
Outras complicações
- Linfoadenomegalia persistente
- Câncer de útero
- Linfomas de células B e de Hodgkin
- Anemia
- Síndrome consumptiva
- Neuropatia periférica
- Demência associada ao HIV
- Mielopatias
- Linfomas não-Hodgkin
- Miocardiopatia
- Linfoma de sistema nervoso
central
Dessa forma, nos indivíduos assintomáticos, após
a confirmação do diagnóstico de infecção pelo HIV, é
necessário proceder à contagem de linfócitos T CD4
para
estimar o risco de manifestação de IOs, e decidir sobre
a necessidade de tratamento e de profilaxia das mesmas.
Muitas vezes, porém, não há testagem precoce e o indi-
víduo chega ao serviço médico apresentando uma IO.
Nessa situação, a testagem anti-HIV deve ser realizada
para confirmar o diagnóstico de Aids.
Aqueles indivíduos que nunca apresentaram sintomas
e têm contagem de CD4
sempre maiores que 200 cels/mm3
são classificados como infecção assintomática pelo HIV,
enquanto que, em outro pólo, tem-se como definição de
Aids aqueles pacientes que já apresentaram IOs definido-
ras, ou mesmo aqueles assintomáticos com CD4 menor
que 200 cels/mm3.
Tratamento anti-retroviral e profilaxia das
infecções oportunistas
As drogas que compõe a HAART inibem diferentes
pontos do ciclo de reprodução do HIV (Figura 5), sendo
que o objetivo principal e mais imediato é a redução da
CV a níveis indetectáveis, tanto nos pacientes virgens
de tratamento, quanto naqueles que já utilizaram algum
esquema anti-retroviral. Para evitar a proliferação de
cepas virais que surgem naturalmente resistentes à
determinada droga, utiliza-se a combinação de três ou mais
medicamentos que atuem em pontos distintos do ciclo.
5. Atualmente existem quatro classes de drogas dispo-
níveis no Brasil: a) inibidores da transcriptase reversa
análogos de nucleosídeo (ITRN), b) inibidores da trans-
criptase reversa não análogos de nucleosídeo (ITRNN), c)
inibidores da protease (IP), e d) inibidores de fusão (IF).
Drogas de duas novas classes estão em fases de estudo
avançadas e devem ser lançadas em breve: e) inibidores
de entrada e f) inibidores de integrase (Figura 5).
Figura 5 - Ciclo esquematizado da
reprodução do HIV e os pontos onde os anti-
retrovirais atuam respectivamente: inibição
da entrada, da fusão, da transcriptase
reversa, da integrase e da protease
te” pela lenta destruição dos linfócitos T CD4
. Com isso,
haveria não só a manutenção de contagens mais altas de
CD4
, como também melhor qualidade da recuperação
imunológica (11).
O esquema inicial deve ser composto por dois inibi-
dores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo
(ITRN) e um inibidor da transcriptase reversa não nucle-
osídeo (ITRNN), preferencialmente pela ótima eficácia,
facilidade posológica e melhor adesão, além de risco me-
nor de efeitos adversos. O uso de um inibidor de proteases
(IP) pode ser alternativo ao ITRNN (Quadro 2).
Quadro 2 - Esquemas iniciais para terapia
inicial (8) (modificado)
Revista Racine38 Revista Racine38
Panorama Geral
O PN DST/Aids e a maioria dos consensos internacio-
nais recomendam, atualmente, início de tratamento para
todos os pacientes com contagem de CD4
menor que 200
cels/mm3
e/ou que apresentem alguma IO definidora. Na
faixa entre 200 e 350 cels/mm3
, a indicação de HAART
depende de fatores como o valor da CV e sua tendência
de aumento em curto prazo, a motivação do paciente e a
probabilidade de adesão ao esquema. Já em indivíduos
com a contagem de CD4
maior que 350 cels/mm3
, não há
indicação de tratamento (8,9,10). É importante ressaltar
que essas recomendações têm como principal objetivo
reduzir a ocorrência de IOs, e conseqüentemente, a mor-
bi-mortalidade das PVHA, e também minimizar o tempo
de exposição à drogas com potenciais efeitos adversos a
curto e a longo prazo.
Porém, mais recentemente, alguns pesquisadores têm
sugerido que o início da HAART seja o mais precoce
possível, visando preservar o sistema imune do “desgas-
Classe
2 ITRN
+
ITRNN
OU
IP
1ª Escolha
Zidovudina (AZT)
+
Lamivudina (3TC)
+
Efavirenz (EFZ)
OU
Lopinavir/ritonavir (LPV/r)
ou
Atazanavir/ritonavir (ATV/r)
2ª Escolha
Abacavir (ABC) + 3TC
ou
Didanosina (ddI) + 3TC
ou
Tenofovir (TDF) + 3TC
+
Nevirapina (NVP)
OU
ATV
ou
Saquinavir/ritonavir (SQV/r)
O principal cuidado no início de qualquer esquema
anti-retroviral é com a compreensão da posologia e
da importância do uso regular do medicamento pelo
paciente, pois toda combinação irá falhar, em maior
ou menor tempo, se não houver boa adesão à terapia.
Isso ocorre porque na ausência de concentração plas-
mática adequada das drogas, cepas virais mutantes
naturalmente resistentes se multiplicam, e, quando o
medicamento volta à sua concentração ótima, os vírus
resistentes predominam, agora sem competição com a
cepa selvagem, que é, geralmente, multi-sensível. As
mutações vão sendo então acumuladas e o fármaco,
por vezes, mesmo toda a classe, torna-se resistente. É
um complexo mecanismo de seleção natural da cepa
viral mais adaptada ao meio. Portanto, o fator adesão é
fundamental para a eficácia da terapia. Facilidade po-
sológica, número e tamanho dos comprimidos, efeitos
adversos imediatos e tardios, interação com alimentos
e outros fármacos e teratogenicidade, além da eficácia,
são algumas das variáveis de avaliação indispensável
na escolha de esquema.
Fonte: figura dos autores
6. Revista Racine40
Panorama Geral
Na verificação da eficácia do esquema, o maior obje-
tivo é atingir a CV indectectável em um período de até
seis meses. Caso isso não ocorra, fatores como baixa
adesão, má absorção e resistência primária ao HIV devem
ser pesquisados. Outra situação possível é que, após um
período de indetectabilidade, a CV volte a ficar positiva,
o que caracteriza, excetuando o envolvimento dos fatores
descritos acima, falha terapêutica virológica. Posterior-
mente, a CV aumentará progressivamente e poderá causar
redução na contagem de células CD4
, denominada falha
terapêutica imunológica, e, finalmente, após a manifesta-
ção de IOs, caracteriza falha terapêutica clínica. Portanto,
o diagnóstico de falha exige pronta intervenção, ou seja,
a troca das drogas utilizadas, às quais, provavelmente, o
HIV já esteja resistente.
O modo mais seguro para a substituição do esquema é
a realização de genotipagem do HIV, teste que, de modo
indireto, revela quais drogas podem ser potencialmente
ativas ou não, pela determinação da presença de mutações
genéticas no vírus que são relacionadas à diminuição
da suscetibilidade às drogas. Se o teste de genotipagem
apontar sensibilidade, há possibilidade de alcançar, no-
vamente, a indetectabilidade da carga viral (CV) com
o novo esquema, porém, muitas vezes o paciente já foi
exposto a diversas drogas e suas combinações e não se
encontram opções terapêuticas viáveis. Por isso, é im-
portante reiterar a importância da adesão inicial, que vai
garantir a durabilidade do esquema.
Além do tratamento anti-retroviral, deve ser indi-
cada profilaxia primária das IOs mais freqüentes em
pacientes com Aids, quando a contagem de CD4
estiver
abaixo de 200 células/mm3
, conforme resumo abaixo
(Quadro 3). Após o primeiro episódio de algumas IOs,
tais como, pneumocistose, neurotoxoplasmose, citome-
galovirose, criptococose e micobacteriose atípica está
indicada profilaxia secundária, que deve ser mantida
por pelo menos seis meses, após contagem de CD4
sustentada acima de 200 células/mm3
, após o início do
esquema HAART.
Quadro 3 - Profilaxias primárias indicadas
nas PVHA (7)
Cuidados adicionais às PVHA
Após a introdução da HAART, é necessário fazer o mane-
jo dos possíveis efeitos adversos, que podem ser imediatos,
auto-limitadosouquecedemcomsintomáticos,comoprurido,
náuseas e vômitos, ou mesmo mais graves como reações de
hipersensibilidades sistêmicas, que impedem a reutilização da
droga. Também existem as complicações a médio e a longo
prazo como citopenias, hepatotoxicidade, dislipidemias, aci-
dose lática, neuropatia periférica, diabetes, necrose asséptica
de cabeças de fêmur e úmero e lipodistrofia, entre outras.
Exames laboratoriais para controle e diagnóstico de eventos
adversos, a cada quatro meses, juntamente com a contagem
de CD4
e CV são recomendados.
As vacinas devem estar atualizadas. PVHAsem alterações
imunológicasesemsinaisindicativosdeimunodeficiênciapo-
demrecebertodasasvacinasdocalendárionacional.Emcasos
de imunodepressão avançada, aumenta o risco de imunização
comagentesvivos,bemcomoapossibilidadederespostaimu-
nológica insuficiente ou inadequada. Nesse contexto, devem
ser consideradas individualmente as seguintes vacinas: DTP/
dT, Hib, Hepatites A e B, Influenza, Pneumococo 23, Raiva,
Poliomielite, Febre Amarela, Sarampo e Varicela (8).
Outras comorbidades como hepatite crônica pelos vírus
B e/ou C, neoplasias ginecológicas, de próstata e de cólon
devem ser rotineiramente rastreadas, além de cuidados e
atenção especial à saúde mental e bucal.
Finalmente, é importante ressaltar que o atendimento à
saúde das PVHA é atividade complexa e envolve aspectos
específicos que são abordados com maior efetividade por
umaequipemultiprofissionaltreinada,emambienteadequado
para este fim.
Infecção
Pneumocystis jiroveci
Neurotoxoplasmose
Micobacterim tuberculosis
Complexo M. Avium
Início
CD4
< 200
CD4
100 - 200
PPD > 5mm*
CD4
< 50
Droga de Escolha
Sulfametoxazol - Trimetropim
Sulfametoxazol - Trimetropim
Isoniazida
Claritromicina
Alexandre Naime Barbosa é médico infectologista assistente
do Serviço de Ambulatórios Especializados e Hospital Dia do
Complexo Médico e Hospitalar da Faculdade de Medicina da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) de
Botucatu (SP).
Lenice do Rosário de Souza é professora doutora do
Departamento de Doenças Tropicais e Diagnóstico por Imagem da
Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP) de Botucatu (SP).
Referências Bibliográficas
A lista contendo as referências bibliográficas deste artigo encontra-se
à disposição dos leitores da Revista Racine e pode ser solicitada pelo
e-mail revista@racine.com.br.
7. Revista Racine 41
Respostas:1-(F);2-(V);3-(V);4-(F);5-(F);6-(V);7-(V);8-(V);9-(F);10-(V).
Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as questões abaixo:
O aumento da expectativa de vida das pessoas vivendo com HIV/Aids deve-se à melhoria das condições sociais
e econômicas em todo o mundo, o que facilitou o atendimento médico dessa população ( )
Os indivíduos com dúvidas em relação ao seu status sorológico quanto ao HIV tem indicação de procurar um
centro com profissionais qualificados para realizar o anti-HIV e receber orientações ( )
Os linfócitos T CD4
são responsáveis pela ativação e regulação da resposta imune contra microorganismos intra-
celulares, como vírus, fungos, protozoários, microbactérias e algumas bactérias ( )
A epidemia de Aids se mantém até hoje, principalmente, devido às altas taxas de transmissão entre homens que
fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis ( )
A terapia anti-retroviral é composta pela associação de drogas que são isentas de efeitos adversos e que não
necessitam de uso regular para ter eficácia ( )
No Brasil, estima-se que a maioria dos portadores do HIV desconhece tal fato ( )
O fenômeno de resistência do HIV às drogas ocorre, porque na ausência de uma concentração plasmática
adequada, cepas virais mutantes resistentes emergem e são selecionadas posteriormente ( )
A motivação pessoal, a compreensão da posologia e a adesão ao tratamento estão entre os principais fatores
ligados ao sucesso do tratamento anti-retroviral ( )
Logo após o contágio pelo HIV, o indivíduo já começa a apresentar as manifestações específicas da Aids, ou
seja, as infecções oportunistas, que levam ao diagnóstico em poucas semanas ( )
O atendimento à saúde das PVHA é atividade complexa e envolve aspectos específicos que são abordados com
maior efetividade por uma equipe multiprofissional treinada, em um ambiente adequado para este fim ( )
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