1. a2 DIÁRIO DA SERRA
TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2015Saúde
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Hepatites Virais: uma epidemia silenciosa
Ambulatório de
Hepatites Virais
do Hospital
das Clínicas
de Botucatu,
referência na
região, realiza
aproximadamente
400 atendimentos
por mês
Dia 28 de julho é o dia
Mundial de Luta Contra as
Hepatites Virais, doenças
consideradas por muitos
especialistas uma epide-
mia silenciosa. A hepatite é
uma inflamação no fígado,
que pode se agravar se não
cuidada. Pode ser causada
por vírus, bactérias, pro-
tozoários, fungos, uso de
alguns remédios, álcool e
outras drogas, além de do-
enças autoimunes, meta-
bólicas e genéticas. Alguns
tipos de hepatites não dão
sinais de existir, ficam ca-
mufladas por muitos anos,
degradando o órgão e po-
dendo ocasionar cirrose e
até câncer de fígado.
Segundo o médico gas-
troenterologista Giovanni
Faria Silva, professor e res-
ponsável pela Disciplina
de Gastroenterologia Clí-
nica da Faculdade de Me-
dicina da Unesp - Câmpus
de Botucatu (FMB) e pelo
Ambulatório de Hepatites
Virais do Hospital das Clí-
nicas da FMB (HCFMB), só
o Brasil tem, em média, 2
milhões de pessoas conta-
minadas com alguma das
tipagens do vírus da hepa-
tite, e muitas delas não sa-
bem que estão infectadas.
Só no ambulatório que ele
coordena, são de 350 a 400
atendimentos médicos por
mês de pessoas que têm a
doença.
Existe uma orientação
da Sociedade Brasileira de
Hepatologia e Infectologia,
para que todos os adultos
acima de 45 anos se sub-
metam ao exame de de-
tecção da doença. O teste
pode ser feito em qualquer
Unidade Básica de Saúde
(UBS). Se o resultado for
positivo, o paciente deverá
ser encaminhado para am-
bulatório especifico para
confirmação da infecção e
tipagem do vírus.
TRATAMENTO SERÁ
REDUZIDO DE 48
PARA 12 SEMANAS
O tratamento dos pa-
cientes atendidos no am-
bulatório de hepatites
virais do HCFMB tende
ficar ainda melhor, pois
o Ministério da Saúde
anunciou recentemente
que vai adotar um novo
coquetel de remédios
para tratamento das he-
patites na rede pública
de saúde, que diminuirá
o tempo de tratamento
de 48 para 12 semanas,
além de minimizar as re-
ações adversas pelo uso
dos medicamentos. Além
disso, o índice de cura da
doença nas pessoas trata-
das saltará de 40% a 60%
para um índice de 90% ou
mais.
"Estamos aguardando
as novas drogas serem
liberadas pelo Ministério
da Saúde, possivelmente
em agosto. O tratamento
será sem Interferon, com
altas taxas de cura e mí-
nimos efeitos colaterais.
A aceitação do tratamen-
to com as novas drogas
será ótima", explica Silva.
COMO OCORRE
O CONTÁGIO?
UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA,
COM SINTOMAS NEM SEMPRE EVIDENTES
HEPATITE C ATINGE 2,1 MILHÕES
DE PESSOAS, MAS MENOS
DE 20% TÊM DIAGNÓSTICO
Os vírus da hepatite po-
dem ser classificados em
A, B, C, D e E. As hepatites
do tipo A e do tipo E são
transmitidas por consumo
de alimentos ou água con-
taminados, ou por contato
direto via secreções. Já nos
outros tipos, a transmissão
acontece por contato com
sangue contaminado, com-
partilhamento de seringas e
agulhas, compartilhamento
de objetos de uso pessoal,
como alicates e tesouras
de unha, escova de dentes,
piercings, agulhas de ta-
tuagem, objetos utilizados
em cirurgias que não foram
esterilizados e sexo sem
preservativo. Também pode
acontecer a transmissão
materno-fetal (de mãe para
o filho ainda no útero) dos
vírus das Hepatites B, C e D.
As hepatites são um
problema de saúde públi-
ca e a população precisa
se conscientizar sobre
sua prevenção, pois nem
sempre os sintomas da
doença vão ser evidentes.
Conforme esclarece o in-
fectologista da FMB, a po-
pulação não se cuida por
dois principais fatores:
Doença Assintomáti-
ca: ao adquirir o vírus,
o paciente não tem qual-
quer sintoma na maio-
ria dos casos, e infecção
passa desapercebida por
décadas, tempo durante
o qual a lesão hepática
vai aumentando, poden-
do chegar na cirrose.
2. Ausência de Fatores
de Risco Óbvios: apesar
das vias de transmissão
do vírus da Hepatite C
serem bem conhecidas,
em cerca de 40%-50% das
pessoas infectadas não é
possível identificar qual
a rota de contaminação.
"Fica, portanto, o aler-
ta para que, neste dia
Mundial de Luta Contra
as Hepatites e em todos
os outros dias, as pesso-
as evitem situações de
risco de contaminação
e, caso desconfiem que
possam ter sido con-
taminadas, se encami-
nhem às UBS para fazer
o exame para confirmar
se tem ou não a doença",
salienta Naime.
Segundo Naime, todas
as vertentes da doença pre-
ocupam, mas a Hepatite C
é a mais delicada. "Todas
as hepatites podem ser
muito agressivas, mas no
Brasil a Hepatite C é a que
causa maior preocupação,
pois é estimado que cer-
ca de 2,1 milhões de pes-
soas são portadoras do
vírus, mas menos de 20%
tem diagnóstico, o que re-
presenta um perigo para
as pessoas infectadas e
que não sabem disso, por
evoluírem para as formas
mais avançadas da doen-
ça", alerta. O especialista
ainda comenta que as he-
patites matam milhões de
pessoas em todo o mundo,
pois os tipos B e C podem
levar o doente a desenvol-
ver cirrose ou câncer, caso
a doença não seja tratada.
Para as hepatites dos ti-
pos A e E, na maioria das
vezes nem é necessário o
tratamento, pois elas são
autolimitadas, ou seja: têm
um período determinado
e desaparecem sozinhas.
Já na hepatite B, a maioria
dos casos também é auto-
limitada, porém cerca de
5% dos infectados desen-
volvem a forma crônica da
doença, que deve receber
acompanhamento médico.
Já a hepatite C deve ser tra-
tada e é possível a cura.
CUIDADOS SIMPLES PODEM EVITAR A
CONTAMINAÇÃO PELOS VÍRUS DA HEPATITE
As hepatites virais são as
mais comuns e as que mais
geram preocupação na comu-
nidade médica. Segundo o
médico infectologista e profes-
sor da FMB/Unesp, Alexandre
Naime Barbosa, são atitudes
comuns que evitam o contá-
gio. "As principais formas de
se evitar a contaminação pe-
las hepatites virais são: uso
do preservativo sexual (cami-
sinha), evitar o compartilha-
mento de objetos de uso pes-
soal (escova de dente, tesoura
e alicate de unha, brincos, pir-
cieng), evitar o compartilha-
mento de seringas e agulhas,
nunca usar seringas e agulhas
não descartáveis, além de cui-
dados com o tipo de água e
alimentos ingeridos", observa.
"Todas as hepatites
podem ser muito
agressivas,
mas no Brasil a
Hepatite C é a
que causa maior
preocupação.”
Segundo o médico gastroenterologista, Giovanni Faria Silva, só o Brasil tem,
em média, 2 milhões de pessoas contaminadas com alguma das tipagens
do vírus da hepatite, e muitas delas não sabem que estão infectadas
Alexandre Naime Barbosa