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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


                        Prefácio

         A rotina do dia mascara os momentos, vivifica muitas
pedras ociosas no caminho, deglutindo o universo de
sentimentos e sonhos reencarnado no eterno. Eu sei que às
vezes, a consciência se perde no vazio e o inconsciente
sobrevive na alma crucificada, mas temos de persistir em
nossos objetivos e realizar os pensamentos, abdicando os
medos e receios.
         A minha visão sobre os fatos presente abarca o
conceito da teologia não convencional, dando muito trabalho
aos psicólogos de final de semana, que por ventura, vir a
estarem de plantão. Eu pergunto a todos vocês, o que seria do
psicólogo se não existisse a doença psicológica ou
neurológica? O que seria do bem se não existisse o mal? O que
seria da vida se não houvesse a dualidade dos acontecimentos e
a liberdade de escolha?
         Há anos atrás um mestre me confidenciou: O que
realmente revela a beleza de uma visão não é a paisagem, mas
a forma que os olhos vêem e o coração sente. Uns observam
admirados todas as pétalas de uma flor, outros vão mais longe,
admiram os seus pontiagudos espinhos, aceitando a sua forma e
vendo o além das aparências, transformando-o num encantado
universo inédito.
         Muitas pessoas caminham pela vida sem nenhum
objetivo, somente sobrevivem às rotinas ociosas e incansáveis.
Outros tiram das Pedras no Caminho, a sabedoria de se tornar
uma experiência maravilhosa e única. O ser humano convive
num amontoado de medos e receios, evita pensar no

LUIZ ALVES                                           Página 2
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


sofrimento, mas outros tiram dele a razão de fazer a vida mais
bela... Mais humana.




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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


                 Raízes da Revolta

          Frente às seculares desavenças entre os reis de
Portugal e Espanha, aonde não chegam à conclusão dos limites
da Colônia de Sacramento. O imperador Napoleão força a
Espanha declarar guerra a Portugal, complicando mais a
situação na banda oriental. Em 1817, os capitães do Rio
Grande do Sul se apossam dos territórios: das sete missões,
Cerrito e terras hispano-platense.
          Em 1825, general João Antônio Lavalleja, consegue
anexar a Província Cisplatina sob domínio da Argentina,
tirando-a do Brasil. Em 1828, general Frutuoso Rivera liberta-a
e denomina República Oriental do Uruguai.
          A “Guerra da Cisplatina” levou ao completo caos
econômico nas estâncias e charqueadas no Rio Grandes do Sul,
encontrava-se com os seus rebanhos esgotados e o império,
sequer pensava em indenizá-los, devido a guerra. Complicando
mais a situação, as altas taxas de impostos na exportação de
gado vivo, na arroba de charque, erva mate, couros, sebo e
gordura. Aumentando também, a taxa da importação de sal,
produto vital na produção. O comércio, influenciado pelos
liberais no centro do país como represália, passa a comprar o
charque Cisplatino, por ser mais barato e porque o rio-
grandense usava trabalho escravo. Mas o que criou pavor na
província foi a falsificação de moedas do império, complicando
intensamente a economia rio-grandense.
          Na época, o Rio Grande do Sul era composto por 14
municípios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo, Santo
Antônio da Patrulha, Cachoeira do Sul, Pelotas, Piratini,

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Alegrete, Caçapava do Sul, São José do Norte, Triunfo,
Jaguarão, São Borja e Cruz Alta. Entre esses municípios
destacam-se: Porto Alegre como a capital, Rio Grande por ser
o porto de todo comércio, e Pelotas por ser o maior produtor de
charque. A sua população, eram aproximadamente
quatrocentas mil pessoas, entre brancos, índios e escravos.
Apesar de ser uma região massacrada pelo império, as guerras
passadas, ainda mantinha esperança de se erguer como tantas
outras vezes anteriores.
         A situação política era uma caldeira preste a explodir,
devido à inabilidade dos presidentes da província, nomeados
pelo império. Frente das altas taxas de impostos, o Rio Grande
do Sul fechava o ano sempre com superávit. Invés de todos os
recursos serem aplicados em obras e benefícios na própria
província, uma porcentagem transferiam a outras que fechavam
em déficit, e o restante enviavam ao império para pagar dívidas
com os ingleses e franceses. A instabilidade diplomática entre
os governos da Prata e do império brasileiro faz criticar mais o
clima no Rio Grande do Sul, pois foi proibido o fluxo de gado
para o Uruguai. Os estancieiros gaúchos compraram terras e
gados na banda oriental, e com independência daquele país,
não tinham mais acesso às pastagens platinas, somente
restando o constante contrabando de gado.
         As rixas militares eram outro ponto agravante, o
marechal do exército imperial, Sebastião Barreto Pinto, era um
ferrenho inimigo do coronel da guarda nacional, Bento
Gonçalves da Silva, devido às suas constantes promoções por
atos de coragem e bravura, proveniente das inúmeras vezes que
foi convocado em períodos de guerra.
         A onipresença da igreja católica nas províncias fez
que as sociedades secretas, Maçons e em seguida os
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Carbonários, excomungados e condenados à morte pelos
governos europeus, por suas filosofias de Liberdade, Igualdade,
União e Fraternidade, faz nascer o sonho republicano na
província, tendo como figura principal o cientista e intelectual,
Conde Tito Lívio Zambecari nas letras, e coronel Bento
Gonçalves da Silva como senhor da guerra, desencadeando a
Revolução Farroupilha, que levaria quase dez anos, à custa de
milhares de mortes e novamente trazendo o caos financeiro na
província.
         Março de 1817, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo
Caneca - frei Caneca e José Inácio de Abreu Lima - padre
Roma, líderes da Revolução Pernambucana, iniciam o
movimento que tinha cunho federalista e republicano. O
movimento conta com o apoio da Loja Maçônica, inclusive
emigrantes e descendentes europeus.
         Março de 1817, o general Caetano Pinto de Miranda
Montenegro, reúne todos os oficiais e soldados do império
português em Recife, dissolve o movimento e aprisiona os
revolucionários e seus líderes. Padre Roma é julgado por uma
comissão militar, e fuzilado sumariamente no Campo da
Pólvora na Bahia. Frei Caneca é enviado para uma prisão na
Bahia, onde permanece por quatro anos, mas sendo solto,
devido à pressão dos líderes da Loja Maçônica e nobres da
corte imperial.
         Janeiro de 1822, D. Pedro I decide retornar a Portugal,
mas ao conceder audiência à José Clemente Pereira, que traz
consigo um manifesto com oito mil assinaturas de nobres,
políticos, alto clero católico, comerciantes e fazendeiros. O
regente imperial dá imortal resposta histórica: “Como é para o
bem de todos e felicidade da nação, diga ao povo que fico”.

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


          Janeiro de 1822, a divisão auxiliadora no comando de
Jorge de Avilez, tenta se opor à decisão de D. Pedro I ficar no
Brasil. As forças portuguesas de Salvador, recebem ordens para
sufocar os rebeldes, depois de vários bombardeios e combates
contra o inimigo, o improvisado exército de libertação debanda
em completa desordem, deixam Salvador a mercê das forças
portuguesas. A partir desse momento histórico, desencadeia
uma seqüência de saques e uma desumana chacina contra a
população. O Convento da Lapa não escapa da sanha,
executam sumariamente a madre Joana Angélica de Jesus e as
demais freiras internas. O exército de libertação se organiza,
desencadeando novamente violentos combate com as forças
portuguesas, a divisão auxiliadora rende-se e retornam para
Portugal.
         Agosto de 1822 é lançado às cartas por Gonçalves
Ledo e José Bonifácio, onde D. Pedro I proclama à
independência do Brasil, e declara guerra contra o
desembarque de forças militares lusas.
         Setembro de 1822, D. Pedro I ao retornar de uma
viagem de Santos, com o objetivo de ver a sua amante:
Domitila de Castro e Melo - Marquesa de Santos, é abordado
por um mensageiro de José Bonifácio e D. Maria Leopoldina
de Habsburgo, relatam ao príncipe regente às ordens para
regressar a Lisboa, no prazo de um mês, indignado tira o tope
lusitano e lança longe, após dirige ao oficial de sua guarda
pessoal, determina: “Desde este momento estamos separados
de Portugal. E a nossa divisa de hoje em diante, será...
Independência ou Morte”.
         Outubro de 1822, em ato solene pelos senadores e
deputados do império, D. Pedro I, é aclamado imperador e
defensor perpétuo do Brasil. Essa comenda oficial, conta com o
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


apoio dos nobres da corte, cafeicultores, fazendeiros, ricos
comerciantes e empresários, inclusive a Loja América do
Brasil e a Loja Maçônica.
          Novembro de 1822, o general Pierre Labatut, no
comando de cinco mil oficiais e soldados imperiais, derrota as
forças portuguesas em Sergipe, monta o bloqueio militar em
Salvador por tempo indeterminado, derrota-os em Pirajá,
Itapoã, Conceição e concentra um ataque maciço às Ilhas da
Madeira. General Labatut ordena várias execuções de soldados
das tropas portuguesas, é deposto do cargo e preso na Ilha das
Cobras - Rio de Janeiro.
          Os líderes da cúpula independente, em sua totalidade
são compostos por emigrantes ou descendentes de europeus.
          Julho de 1823, general madeira, comandante das
tropas portuguesas contra a independência, é derrotado pelas
forças imperiais brasileiras e obrigado abandonar às pressas a
província da Bahia, retornando a Portugal.
          Julho de 1824, Frei Caneca e Manuel Carvalho Pais de
Andrade, lançam novamente manifesto com ideais Federalistas
e Republicanos, declaram Pernambuco e as demais províncias
vizinhas separadas do Rio de Janeiro, formando assim, a
Confederação do Equador. O movimento rebelde tinha apoio
da Loja América do Brasil e Loja Maçônica, principalmente de
emigrantes e descendentes de europeus.
          Janeiro de 1825, a Confederação do Equador teve a
participação de aproximadamente oito mil soldados
revolucionários, tendo o comando geral de Frei Caneca.
Enquanto do lado imperial, teve a participação ativa de dez mil
soldados, sob o comando geral de Lord Cochrane. O
movimento confederado é derrotado pelas forças imperiais, os
líderes são presos e enviados às prisões em diversas províncias,
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


enquanto os oficiais e soldados ingressam no exército imperial,
o restante retoma a sua rotina habitual. Tristão de Araripe é
assassinado em fuga, quando atravessava o Rio Jaguaribe. Frei
Caneca é condenado à forca na Bahia, mas todos os presos e
carrascos negam executá-lo, enviam para Recife e é
sumariamente fuzilado.
          A Revolta dos Cabanos, em 1834 a 1840, ocorrido na
província do Pará. O movimento era composto pelos
moradores em cabanas à beira do rio, devido ao seu grande
estado de pobreza e miséria. No decorrer dos anos e os
inúmeros confrontos dos cabanos e o exército imperial,
ocasiona a morte de quase metade da população na província.
O movimento é derrotado pelas forças legais em 1840,
enforcam os líderes: Malcher, Vinagre e Angelin. O exército
imperial contou como voluntário civil, o futuro general Hilário
Maximiano Antunes Gurjão.
          Aos poucos, os fazendeiros e comerciantes da
província do Rio Grande do Sul, recomeçam com o pouco que
lhes restam, enfrentam inúmeras adversidades, imposta pelos
governos provincianos, parlamentares e o imperador, D. Pedro
I, ficam anos pagando uma divida contraída com a França e
Inglaterra, devido ao auxilio militar na Guerra Cisplatina. O
jornalista Libero Badaró, escreve fortes criticas no
“Observador Constitucional” contra D. Pedro I, acusando-o de
não possuir pulso forte e nem moral para governar: Devido o
seu caso amoroso com a Marquesa de Santos, de pagar dois
milhões de libras esterlinas pela independência ao império
português, ser cúmplice do Marques de Barbacena em
empréstimos escusos e ilegais. E a mais grave das acusações,
que estava contratando um exército mercenário inglês, com o
objetivo de tirar D. Miguel do trono português, a favor de sua
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


filha Maria da Glória. D. Pedro I falece em setembro de 1834,
no Paço Queluz em Lisboa-Portugal.
         Badaró é assassinado por três asseclas do imperador
na Rua Nova São José. Aproveitando esse acontecimento,
políticos e jornalistas liberais, boa parte da nobreza da corte e
os mais diversificados desafetos, pressionam D. Pedro I para
abdicar o trono a favor de seu filho. O que acontece em Abril
de 1831, nomeia como tutor José Bonifácio de Andrada e
Silva, que veio abdicar o cargo, devido forte pressão dos
parlamentares e ministros. Os mesmos nomeiam Francisco de
Lima e Silva, Nicolau Pereira Campos Vergueiro, José
Joaquim Carneiro de Campos como tutores de D. Pedro II,
devido não possuir idade necessária para assumir o trono
imperial, que permanecem somente três meses. Ao amanhecer,
D. Pedro I e a família imperial, embarcam no navio inglês
Warspite para Portugal, visando retomar o trono conquistado
por seu irmão D. Miguel, derrubando do poder sua sobrinha D.
Maria da Glória, filha de D. Pedro I, assim contraindo todas as
regras sucessórias da monarquia. A regência provisória passa-
se ser permanente: 1831 - 1834, assumindo João Bráulio
Muniz, José da Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva. A
regência una: 1834 - 1837, assumida por Diogo Antônio Feijó.
1837 - 1840, assumida por Pedro Araújo Lima.
         Os regentes de D. Pedro II e parlamentares do império
impõem altas taxas sobre o charque, sebo, couro exportado e
taxas exageradas pelo sal importado. À frente desse injusto
panorama político, social econômico, a província do Rio
Grande do Sul nos anos seguintes, começa a fechar com
superávit. Os governos não utilizam os recursos para
melhorias, mas enviando a outras províncias e para pagar suas
dividas com a Inglaterra e França. Complicando mais a
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


situação, a regência imperial nomeia presidente desconhecido
ou antipático ao povo, que governa em causa própria, de
familiares e amigos, isso além de destituir vários comandantes
de armas bem quistos pelas forças militares, o que trouxe um
futuro clima de revolução republicana.




LUIZ ALVES                                         Página 11
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


       Revolta dos Farrapos – Parte I

          Setembro de 1835 explode a Revolução Farroupilha,
tendo como líderes rebeldes: Coronel Bento Gonçalves da
Silva, Coronel Bento Manuel Ribeiro, Coronel Onofre Pires,
Coronel Antônio de Souza Neto, Coronel David José Martins
Canabarro, Major João Manuel de Lima e Silva, Capitão
Domingos Crescêncio, Capitão José Gomes de Vasconcelos
Jardim, conde Tito Livio Zambecari, os jornalistas Pedro José
de Almeida - Pedro Boticário e Libero Badaró. O movimento
teve apoio de muitos comandantes da guarda nacional,
imprensa liberal, políticos provincianos, Loja Maçônica e
proscritos italianos.
          Na noite de 19 de Setembro de 1835, o coronel Bento
Gonçalves da Silva, o capitão José de Vasconcelos Jardim e o
coronel Onofre Pires, no comando de duzentos soldados
“Farrapos” tomam de assalto Porto Alegre. O presidente
Antônio R. Fernandes Braga e seus secretários fogem para Rio
Grande, estabelecendo ali a nova capital. Bento Gonçalves
proclama a República Rio-Grandense e nomeia como
presidente, Marciano Pereira Ribeiro, seguido por todos os seus
secretários, inclusive na pasta de finanças, incube o proscrito e
cientista Italiano, Conde Tito Lívio Zambecari.
          Outubro de 1835, o tenente coronel João Tavares no
comando de dezenas de soldados derrota um contingente de
rebeldes, acampados às margens de Arroio Grande. O violento
confronto tem inúmeras baixas de ambos os lados, tendo feito
muitos prisioneiros. Mas logo a seguir, são derrotados pelos
revolucionários sob o comando do coronel Antônio de Souza
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Neto, libertando todos os prisioneiros, obrigando o coronel
João Tavares e sua tropa a debandar desordenadamente.
         Outubro de 1835, o marechal Sebastião Barreto no
comando de um contingente de soldados imperial, é
surpreendido em São Gabriel pela tropa do coronel Bento
Ribeiro, havendo uma debanda geral entre os soldados. Não
tendo outra opção, o marechal Barreto foge para o Uruguai.
Barreto planejava conseguir apoio militar com o presidente em
Montevidéu, assim retornar e retomar São Gabriel ao império.
         Outubro de 1835, o coronel Bento Gonçalves da Silva,
no comando de duzentos soldados, em sua maioria lanceiros
escravos negros e índios Minuanos, atacam Rio Grande, capital
imperial. O coronel Onofre Pires, no comando de cem soldados
ataca São José do Norte, vendo que tudo estava perdido, o
presidente Antônio Braga, foge e embarca num navio de guerra
para o Rio de Janeiro. O poder imperial na província do Rio
Grande do Sul começa a desmoronar, os líderes dos Farrapos
tomam cidades importantes, revelando que não era um
movimento rebelde desordenado, pensado anteriormente pelo
presidente Braga.
         Novembro de 1835 chega ao Rio Grande, José Araújo
Ribeiro, o novo presidente enviado pelo regente imperial,
sendo muito bem recebido pela população. Imediatamente
manda um emissário com um bilhete, endereçado ao coronel
Bento Gonçalves e ao coronel Bento Manuel Ribeiro,
convidando-os para uma reunião pacífica em Pelotas.
         O motivo da reunião era que os dois se dirigissem a
Porto Alegre, para acalmar os ânimos dos rebeldes,
reconhecesse-o como novo presidente, e fosse empossado
perante a assembléia legislativa. Apesar de não estarem
inteiramente de acordo, mas julgaram uma longínqua esperança
LUIZ ALVES                                        Página 13
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


de paz, onde os seus direitos de cidadão rio-grandense fossem
completamente respeitados, acabam aceitando a incumbência
de José Ribeiro.
         Dezembro de 1835, a Fragata Francesa “Nautonnier”
sob o comando do capitão Beauregard, traz os Carbonários:
Giusepp Maria Garibaldi, Luighi Rossetti e os demais
proscritos da Itália dividida, que olham extasiados a visão do
“Gigante de Pedra” que assinalava a entrada da Baia da
Guanabara, a natureza selvagem ciclopicamente harmoniosa.
Os amigos firmam amizade com os comerciantes, Domingos
Torrisano e Castellini, que moram na esquina do Largo do
Paço com a rua direita. Por intermédio desses dois, mantiveram
contato com a Loja Maçônica no Rio de Janeiro, aonde vieram
receber ajuda no exílio.
         Dezembro de 1835, o presidente Araújo se retira para
o Rio Grande, onde busca apoio de Bento Ribeiro e proclama a
nova capital da província imperial. Em seu discurso à
assembléia provincial, promete que iria restabelecer a ordem e
justiça. Após certo tempo, é obrigado a pedir ao regente força
militares urgente, a fim de salvar o Rio Grande do perigo de
separação. A Revolução se prolonga dentro da diplomacia,
permanecendo na ociosidade até o inicio de Fevereiro de 1836.
         Fevereiro de 1836, coronel Bento Gonçalves reúne
todas as forças de que dispunha, traça planos para o ataque,
ordena ao Major João Manuel de Lima e Silva, deslocar com
sua divisão ao interior. A vanguarda dessas forças, continha
quatrocentos soldados sob o comando do coronel Afonso José
de Almeida Corte Real, que encontra no Arroio Canapé, o
contingente de Bento Ribeiro com duzentos soldados. Houve
um violento confronto, mas quando vê que a sua situação

LUIZ ALVES                                         Página 14
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


estava insustentável, o coronel ordena a retirada de seus
soldados.
         Março de 1836, Bento Ribeiro e os seus soldados
derrotam coronel Corte Real, fazendo-o prisioneiro. Em
seguida, ordena a sua tropa para marchar contra capital, mas
faz frente com a tropa do então promovido general Bento
Gonçalves, inclusive os temerários lanceiros, negros e índios
minuanos, que o faz se retirar para Caçapava. Porto Alegre
estava muito bem fortificado, enfim estavam livres dos
imperiais.
         Abril de 1836, o coronel Onofre Pires com sua tropa
marcham para atacar São José do Norte, fuzilando todos os
prisioneiros. O major Lima e Silva com sua tropa ataca Pelotas.
Nas vizinhanças a tropa do coronel Souza Neto consegue
desbaratar a cavalaria com duzentos homens, sob o comando
do coronel Albano de Oliveira da guarda nacional.
         No confronto, quase cem soldados imperiais obrigam
se refugiar em Pelotas, enquanto que a coluna do major Lima e
Silva faz o cerco da cidade. Em poucos dias, o major Manoel
Marques de Souza é preso e enviado para capital. As divisões
revolucionárias atacam pelo Sul, o general Bento Gonçalves
com sua coluna punha ao encalço do coronel Bento Ribeiro.
         Junho de 1836, o major Manoel Souza, feito
prisioneiro na capital, mediante suborno consegue fugir da
prisão com o apoio dos conservadores, se apoderam
surpreendentemente de Porto Alegre. O fato inesperado é tão
grande, que prendem Pedro Boticário e muitos outros membros
importantes do movimento.
         Ao saber da brusca mudança, general Bento
Gonçalves e os demais comandantes seguem para capital,
tentando reconquistá-la. Ao chegar com suas tropas, intima os
LUIZ ALVES                                          Página 15
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


legalistas a se render, como não recebeu resposta, decide atacar
a cidade, sendo repelido depois de três horas de intenso
combate, obrigando a se retirarem temporariamente. Mas
mantém o cerco à capital até Setembro, onde torna atacá-la,
sendo novamente repelido pelos imperialistas, decide levantar
acampamento, indo se reunir com a tropa do coronel Souza
Neto.
          Outubro de 1836, a coluna revolucionária do general
Bento Gonçalves estava à margem direita do Rio Jacuí, seguia
ao encontro do coronel Souza Neto. A tropa de coronel Bento
Ribeiro ocupa o morro da Ilha de Fanfa, enquanto a
esquadrilha de Greenfell impede a passagem dos rebeldes no
Rio Jacuí.
          Coronel Bento Ribeiro e Greenfell mantêm fogo
cerrado contra a tropa de Bento Gonçalves, deixando-o num
fogo cruzado, sem existir nenhuma possibilidade de retirada
imediata, sem à custa de muitas vidas, mesmo assim
permanece nessa posição de combate por três dias. Bento
Gonçalves, vendo que tinham chegado a seus limites, sem
qualquer chance de fuga, decide render-se, poupando a vida de
seus combatentes.
          Ele pede uma lança do lanceiro mais próximo, amarra
um lenço branco e sacode no ar, era uma trégua e sua rendição.
Os dois comandantes conversam sobre as condições da
rendição, onde o coronel aceita todas as condições do general:
Dar liberdade a todos os seus soldados, inclusive o liberal Tito
Livío, o coronel Onofre Pires, coronel Corte Real e o jornalista
Pedro Boticário.
          Invés de cumprir o acordo feito com o general Bento
Gonçalves, o coronel Bento Ribeiro e o presidente da província

LUIZ ALVES                                           Página 16
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


imperial, envia todos para um dos navios da esquadra de John
Pascoe Greenfell, levando-os ao Rio de Janeiro.
          Novembro de 1836, no Rio de Janeiro recebe ordem
do regente Feijó para levar o general Bento Gonçalves e Pedro
Boticário, à Fortaleza da Laje. Os outros três, Tito Livio,
Onofre Pires e Corte Real, levá-los para o velho forte de Santa
Cruz. Os prisioneiros começam a elaborar um plano de fuga,
assim retornar ao Sul e reiniciar a revolução. Visando
realizarem os seus objetivos, procuram avisar a Loja Maçônica,
solicitando que os auxiliassem em seus planos.
          Fevereiro de 1837, Bento Gonçalves já tinha cerrado
as grades da cela, saltando rapidamente pela abertura, mas
Pedro Boticário fica preso, devido a sua obesidade excessiva.
Bento procura ajudá-lo a sair, mas vê que era impossível. Viu
que o barulho que estavam fazendo tinha alertado as sentinelas,
manda Boticário se retirar da abertura, retornando a cela, onde
faz sinal ao pessoal da canoa para prosseguirem com a missão.
Eles se retiram rapidamente do local, temendo que tivesse
alertado as sentinelas da Fortaleza.
          Tito Livío, Onofre Pires e Corte Real tinham se
antecipado, se encontravam angustiados pelo resgate. No
momento que a canoa se aproximou da Fortaleza, é pressentido
pelas sentinelas que soaram o alarme. Onofre e Corte Real se
atiram no mar, acenando para Tito Livío fazer o mesmo, que
faz sinal que não iria porque não sabia nadar. Os dois em
longas braçadas chegam até a canoa, desaparecendo na
escuridão. Não tendo outra opção, Tito Livío retorna a sua cela,
só que dessa vez muito mais vigiada.
          Março de 1837, a Regência, os parlamentares e o
ministro do exército, decidem dividi-los e enviá-los
secretamente no brigue “Constança”. O general Bento
LUIZ ALVES                                           Página 17
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Gonçalves é encaminhado para o Forte do Mar em Salvador, na
Bahia de todos os Santos. Enquanto que Tito Livío é enviado
para um forte em Pernambuco. Ficando somente na Fortaleza
no Rio de Janeiro, o jornalista liberal Pedro Boticário.
         Março de 1837, Garibaldi, Rossetti, Carniglia e mais
treze companheiros de viagem, terminam os reparos e
adaptação de combate no veleiro “Mazzini”. No dia anterior, os
três amigos levam pessoalmente a bordo, o carregamento de
armas e munições, cobrindo-as com sacos de farinha. Só então,
decidem zarpar rumo ao Sul.
         A veleira passa lentamente pela polícia do porto, na
Ilha de Villegaignon, mostra que os seus papéis estavam em
ordem, sendo liberado imediatamente. Velejam tranqüilamente
pelo longo da Baia da Guanabara, dirigindo-se para as Ilhas de
Maricá.
         Quando se encontravam nas alturas da Ilha Grande,
surge ao sul um navio com a bandeira do Império. Garibaldi
grita para todos ficaram em seus postos, mandando aproar à
direita do barco, imediatamente os seus homens dominam o
capitão Guilherme Grann e toda a sua tripulação. O barco de
pesca com o nome “Luíza” era de propriedade da D. Felisbela
Stockmeyer, levava três mil e seiscentas arrobas de café.
         Garibaldi ordena para trazer as armas e munição para
o barco. Assim que terminam o serviço, manda incendiar o
veleiro “Mazzini”, pois não tinha pessoal suficiente para levar
os dois barcos. Um tripulante Português ao ver aquilo, oferece
um pequeno saco com pedras preciosas em troca de sua vida,
mas Garibaldi o acalma, explicando que fazia o Corso como
uma medida de guerra, não para saquear e matar, e manda
guardar as suas pedras, pois deixaria todos em terra, assim que
encontrasse um lugar seguro.
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


         Garibaldi substitui o nome de “Luíza” por
“Farroupilha”, hasteando a bandeira da República Rio-
Grandense. Após seis dias navegando ao Sul, já nas alturas de
Ipacoraí - costa de Santa Catarina se aproxima da terra, arriam
o único escaler e nele desembarcam todos os tripulantes, menos
os seis escravos, que seriam desembarcados no Uruguai como
homens livres. E continuam a viagem para a embocadura da
Prata, em direção ao Porto de Maldonado, onde pensava vender
a carga de café.
         Maio de 1837, Garibaldi ancora o “Farroupilha” no
Porto de Maldonado, sem ter nenhum problema com as
autoridades portuárias. Rossetti vai à procura de seus amigos
Carbonários, exilados em Montevidéu. Garibaldi providencia a
venda da carga do café, enquanto os restantes se reúnem com
marinheiros de um barco pesqueiro francês numa das tabernas
do porto.
         Por razões diplomáticas entre Brasil e Argentina, é
transmitidas a ordem de captura do barco e a prisão de seus
tripulantes. Mas o governador não tornou efetiva a prisão,
dava-lhes liberdade para ir e vir onde desejassem como se
fossem seus convidados. Ficam presos somente Garibaldi e
Carniglia, os demais são liberados.
         Na manhã de setembro de 1837, Bento Gonçalves se
dirige à praia para o seu rotineiro banho de mar, sendo
acompanhado pelos olhos desinteressados das sentinelas. O
instante em que o general vê uma pequena canoa a quase um
quilômetro, onde os pescadores jogam as suas redes no mar,
chega à conclusão de que tinha chegado o momento, em longas
braçadas segue em direção aos pescadores. As sentinelas da
torre vêem que o prisioneiro estava fugindo, iniciam a atirar
desesperadamente contra ele.
LUIZ ALVES                                          Página 19
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


          Bento Gonçalves ouve as balas zunir em seus ouvidos,
mergulha por diversas vezes e volta à tona mais adiante,
seguindo sempre em direção da canoa. Já dentro da canoa,
exausto e contente por sua fuga, podendo agora retomar o
comando da revolução.
          Setembro de 1837, a fuga do general Bento Gonçalves
do Forte do Mar em Salvador, cai como bomba em todos os
poderes do Império no Rio de Janeiro. Devido ao acontecido e
uma grande pressão dos parlamentares, acusando-o de ter
facilitado a fuga do prisioneiro, regente Diogo Feijó é obrigado
a renunciar o cargo. Assume a regência, Pedro de Araújo Lima,
que faz uma reforma ministerial quase total. O mestre
intelectual e cientista Italiano, Tito Lívio Zambecari, por se
encontrar muito doente, são solto com objetivo de retornar a
sua terra ou a Europa.
          Dois dias depois de Garibaldi e seus amigos tentarem
fugir, e ser capturado logo em seguida, Milan ordena para levá-
los à capital da província, sendo posto em liberdade
imediatamente por ordem do governador Echagüe.
          Na capital da província, compram passagem e viajam
num navio Genovês até embocadura do Paraná, depois
embarcam em outro navio e desembarcam no Porto de
Maldonado. Apesar de serem procurados pela polícia portuária,
decidem arriscar, visando se encontrarem com os amigos
Carbonários Rossetti, Cúneo e Castellini, informando da fuga
em Montevidéu e de suas prisões na província de Entre Rios.
          Outubro de 1837, pouco mais de um mês escondido
numa ilha, o general decide ir para a cidade, onde encontra um
amigo que estava partindo para Santa Catarina. Bento
Gonçalves, à bordo no barco do amigo, faz a barba e corta o
cabelo, enquanto fazia os preparativos para retomar a
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Revolução. O navio aporta em Desterro em Novembro de
1837, o amigo de Bento Gonçalves, arranja um cavalo e um
vaqueano para levá-lo em segurança ao Rio Grande do Sul.
         Alguns dias depois chega a Piratini, onde é recebido
como herói, pois todos já sabiam de sua fuga. Bento, reúne os
vereadores e os seus secretários, assumindo a presidência da
província e o coronel Souza Neto assume a vice-presidência.
         Novembro de 1837, Garibaldi, Carniglia, Rossetti,
Cúneo e Castellini chegam a Piratini, imediatamente procuram
o ministro do interior e fazenda, Domingos José de Almeida,
que os acolhe com cordialidade. Os cinco colocam as suas
espadas a favor da Revolução, sendo aceita por Almeida, que
ordena a se apresentassem ao general Bento Gonçalves.
Garibaldi fica surpreso ao saber que ele estava livre, pois pelas
últimas informações se encontrava preso em Salvador.
         Janeiro de 1838, O general Bento Gonçalves manda o
coronel Bento Ribeiro no comando de trezentos soldados,
combaterem os legalistas acampados às margens do Rio Caí
sob o comando do tenente Junqueira. Frente ao ataque surpresa
dos Farrapos tenta suportar o máximo possível, perdendo
dezenas de soldados. Quando vê que não restava alternativa, o
tenente Junqueira e os sobreviventes se obrigam a fugir a bordo
da canhoneira “Oceano”, mas deixam cair nas mãos dos
republicanos dois lanchões.
         Março de 1838, General Bento Gonçalves se dirige
com uma tropa de soldados para Lages, sabedor da revolta da
população contra o império. O contingente imperial sabendo do
ataque republicano decide abandonar a vila de Lages. Quando
o general chega com a sua tropa, são aclamados como heróis
pela população. O primeiro passo foi dado com a tomada da
vila de Lages, ponto de vital importante à República Rio-
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Grandense. A próxima meta era a tomada de Laguna, assim
teriam um porto para combater os imperiais, além de importar
e exportar mercadorias. O general nomeia o capitão-
comandante do município republicano, Antônio Inácio de
Oliveira Filho, deixando ao encargo dele nomear as demais
autoridades.
         Abril de 1838, o coronel Bento Ribeiro e o coronel
Souza Neto com uma expedição de quinhentos soldados,
entram em combate com a tropa legalista de quatrocentos
soldados no Rio Pardo, sob o comando do marechal Sebastião
Barreto Pereira Pinto, entreposto principal às margens do Jacuí.
O marechal à frente da perda do coronel Guilherme José
Lisboa e mais de cem soldados se obrigam recuarem por se
encontrar em situação desfavorável, e cede o terreno aos
republicanos. A vitória custa trezentas baixas aos republicanos
entre oficiais e soldados, mas conquistam um ponto
estrategicamente de vital importância.
         Maio de 1838, o coronel Souza Neto e coronel Bento
Ribeiro, no comando de quatrocentos soldados, cercam
novamente Porto Alegre, mas os legalistas resistem. Após
vários dias de combate, decidem recuar devido terem dezenas
de mortos e feridos no cerco. Os dois coronéis resolvem
acampar nos arredores da capital, assim não deixar nenhuma
mercadoria entrar, trazida pelos tropeiros de Sorocaba na
província de São Paulo.
         Maio de 1838, o general Bento Gonçalves e coronel
David José Canabarro, decidem enviar Garibaldi, Eduardo
Matru, Carniglia, vinte e oito amigos Carbonários para a
estância da Barra e do Brejo, de propriedade das irmãs do
general, Ana e Antônia. O grupo deveria se apresentar ao
capataz norte-americano, John Griggs (João Grande),
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


encarregado em construir dois lanchões e restaurar outros dois
no Camaquã. Nas estâncias se encontravam trinta escravos
negros e trinta índios Minuanos, no objetivo de auxiliar nos
trabalhos de construção e reparos. Ele e Griggs em seguida
formariam duas turmas de marinheiros experientes, onde
proclamariam em Laguna a República Catarinense.
         Os trabalhos de restauração dos lanchões ficam
prontos após de duas semanas. Griggs e Garibaldi deixam
Carniglia e Matru comandando a construção dos novos
lanchões, pois tinham recebido ordens do general Bento
Gonçalves para colocar os lanchões em ação na Lagoa dos
Patos, Mirim e rios confluentes, confiscando tudo o que servir
à Revolução. Garibaldi no comando do “Rio Pardo” com dez
marinheiros, Griggs no comando do “Republicano” com outros
dez marinheiros. Os dois lanchões partem rumo à Lagoa dos
Patos, onde fariam serviços de Corsários à República.
         Junho de 1838, o marechal Barreto em fuga
desordenada do confronto de Rio Pardo, vai à vila de Triunfo,
onde se encontrava o navio “Leopoldina” sob o comando do
capitão Guilherme Parker, e o incumbe de informar o
presidente Antônio Elisiário e o comandante chefe das forças
navais. Elisiário envia mais barcos para auxiliar o marechal
Greenfell na vigilância ao longo da costa, rios afluentes, que
desembocavam no oceano. Greenfell deixa quase a metade da
frota naval ancorado próximo de Porto Alegre, temendo outro
ataque violento dos republicanos.
         Junho de 1838, Garibaldi, vê que os cavalos se
encontram inquieto, indicava que teriam pressentido alguma
coisa estranha no vento. Manda o cozinheiro reunir todas as
armas e munições, carregando-as e deixá-las a beira da entrada
do estaleiro, enquanto verificaria os arredores. O seu sexto
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


sentido lhe dizia que, alguma coisa grave estava preste a
acontecer. Ao se aproximar da mata, aguça o seu sentido e
ouve o som de vários cavalos a galope. Garibaldi corre ao
estaleiro, acena ao cozinheiro para se esconder. Assim que
entra no estaleiro, o seu sombreiro é arrancado de sua cabeça
por uma lança.
          O cozinheiro tinha carregado setenta carabinas,
apanha a primeira e dispara, assim seguindo uma após outra,
sendo rapidamente recarregadas pelo cozinheiro. Moringue fica
temeroso em avançar contra o estaleiro, os disparos indicavam
ter muito mais de dois atiradores, devido às diversas baixas em
seu grupo. Ouvindo o barulho dos tiros, os companheiros
correm a seu auxilio imediatamente. Carniglia é o primeiro a
chegar ao estaleiro, seguido por Inácio Bilbau, Lorenzo, Matru,
o escravo Rafael, Procópio, Natale, Francisco Silva e mais
alguns outros.
          Moringue e os seus homens tinham ocupado as casas e
barracas de charqueada, enquanto o estaleiro continuava em
fogo cerrado. Ele manda alguns homens destelhar a casa
principal, buscando uma melhor visão e disparar contra os
Corsários. Garibaldi manda disparar contra os homens do
telhado, abatendo vários deles. O chefe de pesca, João da Mata
tenta constituir um segundo ponto de resistência nos barcos de
forquilha, mas é imediatamente abatido. Os seus homens
desorientados e querendo se salvar, uns ganham a mata e
outros se jogam na Lagoa.
          Aos meados da tarde, negro Procópio localiza o
Moringue, dispara uma bala certeira, acertando-o braço.
Marianito assume o comando e decide debandar, pois o seu
chefe era a alma e o incentivo dos homens. Ele manda ajudar o
Moringue e os demais feridos, chegando tempo depois ao Rio
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Capivari, onde embarcam num navio imperial que os levou até
Porto Alegre.
          O general Bento Gonçalves e o seu estado maior
chegam inesperadamente na manhã de sábado de 1839 à
fazenda do Camaquã, sendo recebidos com entusiasmo pelos
familiares e seus soldados. As irmãs providenciam rapidamente
os preparativos para a festa logo à noite, visando comemorar a
chegada do irmão. Bento e o seu estado maior se dirigem ao
estaleiro, vêem que os lanchões estão prontos para navegar a
serviço da República.
          Garibaldi sugere construir dois carretões com rodas de
quatro metros de diâmetro, que seria construído somente com
madeira encaixada, onde transportariam os lanchões com
duzentas juntas de boi. Bento acha arriscada a operação, mas
como não tinham outra idéia melhor, decide aceitar a sugestão
audaciosa do italiano.
          O general e sua comitiva retornam à Caçapava,
enquanto Garibaldi e Griggs iniciam o transporte dos lanchões,
auxiliado por mais cem homens, uns a cavalo e outros a pé, que
conduzem as juntas de bois e auxiliam nas enormes rodas dos
dois carretões. Outros abrem estradas na mata, tapando buracos
e fortalecendo os locais de areia mole.
          O estranho cortejo leva seis dias do estaleiro até a
Barra do Tramandaí, rodando oitenta quilômetros, onde
decidem descansar até o amanhecer do próximo dia. Ainda
estava escuro quando retomam os serviços, só que agora era
mais complicado, teria de lançar os lanchões na Lagoa, a
empreitada leva até as oito horas da noite do dia 11 de Julho de
1839.
          O lanchão “Farroupilha” fica sob o comando de
Garibaldi, com trinta tripulantes e um canhão de doze
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


polegadas. O lanchão “Seival” fica sob o comando de Griggs
com outros trinta tripulantes e um canhão de doze polegadas.
Quatro dias depois, Griggs vê que um temporal estava para
chegar até eles, decide ancorar na Barra da Lagoa do Camacho.
O “Farroupilha” é surpreendido nas proximidades da Foz do
Rio Mampituba, região com o seu fundo raso e repleto de
pedras, o local era mais conhecido por cemitério de navios.
         Garibaldi tenta usar toda a sua perícia de navegador,
mas os seus esforços foram em vão, o “Farroupilha” acaba
afundando. Ele tenta ajudar os seus companheiros, vê que
muitos são carregados pelas forças das ondas, outros nadam até
à praia. No acidente Garibaldi perde diversos amigos: Eduardo
Matru, Luighi Carniglia, Luighi Staderini, Navona, Giovanni e
mais outros nove companheiros.
         Garibaldi e os quinze sobreviventes caminham pela
praia, seguem rumo ao norte. Em seguida atravessam a Foz do
Mampituba, chegando à Barra da Lagoa do Camacho. Todos
ficam surpresos ao verem o “Seival” ancorado, pois julgavam
que também tinha naufragado. Já em terra, encontram Griggs e
sua tripulação conversando com o coronel Felipe José Sousa
Leão (Capote), que aguardava as tropas do coronel Canabarro.
Eles permanecem alguns dias ainda no local, tendo a promessa
dos habitantes de manter silêncio sobre a tropa republicana.




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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


                República Juliana

          Julho de 1839, ao saber do ataque republicano à
Laguna, as autoridades legalistas, inclusive o tenente coronel
Vicente Paulo Oliveira Vilas Boas, tentam reunir soldados para
defender a vila. O primeiro combate dá-se no canal do Rio
Tubarão, junto dos Campos da Carniça, cujo ataque é
desfechado pelos imperiais no barco “Catarinense”, sob o
comando de José de Jesus. Os imperiais vendo a situação
crítica fogem a esmo da embarcação, perdendo mais da metade
dos soldados. A notícia espalha rapidamente até vila e as
autoridades resolvem também debandar.
          Julho de 1839, o “Seival” chega ao Rio Tubarão e ao
Canal da Barra, onde surpreendem os navios imperiais
“Lagunense”, Itaparica e Santana, apreendendo todos eles
somente conseguem evadir o “Cometa”. Garibaldi e Jerônimo
Castilhos decidem desembarcar em Laguna, ambos no
comando de quarenta soldados. A tropa de Teixeira Nunes
chega após a tomada da vila, vindo de Lages, seguido por
Canabarro que veio com seus soldados de Viamão. As
autoridades imperiais tinham abandonado desordenadamente
Laguna, deixando o caminho livre para os rebeldes. Os
republicanos ao todo apreendem quatro escumas, quatorze
veleiros, quinze canhões, quatrocentos e sessenta e três
carabinas e trinta mil e seiscentos e vinte cartuchos.
          Garibaldi, Canabarro e os soldados republicanos são
recebidos em Laguna com festa e como heróis, pelas
autoridades e o vigário Francisco Vilela. O coronel Canabarro,
Garibaldi, os oficiais, soldados e simpatizantes se reúnem no

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Paço municipal, onde proclamam a República Catarinense ou
Juliana. Em seguida, convocam uma reunião extraordinária na
câmara, visando eleger todo o secretariado.
          Eleito presidente da República Juliana, o tenente
coronel Joaquim Xavier Neves - vice-presidente, o padre
Vicente Ferreira Santos Cardoso, antigo vigário da vila. A
pasta da guerra, marinha e do exterior, João Antônio Oliveira
Tavares. A pasta da fazenda, interior e justiça coube, Antônio
Claudino Souza Medeiros. Secretário do presidente é nomeado
Garibaldi, e a Rossetti couberam o cargo de conselheiro.
          O primeiro decreto redigido por Rossetti, foi usar o
lema Maçônico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Outro
criava a bandeira Catarinense, verde, branca e amarela, cujos
funcionários deveriam ostentar nos chapéus, como prova de
amor á República.
          Canabarro é nomeado general do exército Catarinense,
enquanto Garibaldi acumula também o cargo de comando
supremo das forças navais da República.
          No dia 24, é celebrada uma missa de ação de graças
pela vitória republicana, com a presença de republicanos e
simpatizante. A partir desse dia, o destino começa traçar a sua
teia no coração de dois amantes, que viria se eternizar no
tempo. Foi a primeira vez que o olhar de Ana Maria de Jesus se
cruza com o de Garibaldi, eletrizando a alma e corpo de ambos.
          Agosto de 1839, o parlamento teve uma sessão
extraordinária, devida à gravidade do problema no sul do País.
À frente de trocas de acusações, complicava mais ainda o clima
já tenso. O presidente Brigadeiro João Carlos Pardal é deposto,
mas era necessário nomear o seu substituto, mas quem seria o
novo Cristo? Até que um dos parlamentares sugere o nome do
marechal e deputado geral, Francisco José Souza Soares
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Andréia, o que é imediatamente aceito por todos os demais.
Andréia assumiu o governo do Pará, diante de métodos não
convencionais conseguiu impor a lei do império. Ele era
autoritário e extremamente vaidoso, possuía complexo de alta
superioridade.
          Marechal Andréia desembarca na praia de Fora,
porque o navio não consegue entrar na barra, chegando
inesperadamente em Desterro. Em pouco tempo, a população
sentiria na própria pele o seu pior defeito como ser humano. A
primeira medida extrema foi chamar o Xavier Neves, eleito
presidente da República. Andréia disse-lhe, que tinha trazido
um abraço enviado pelo regente, em seguida alerta-o de que
sua cabeça rolaria a qualquer subversão contra o império. E
para humilhá-lo mais ainda, envia-o à comissão dos Alemães.
Greenfell é afastado do comando geral naval do império, sendo
substituído pelo capitão Frederico Mariath, o contrário da vez
anterior.
          Setembro de 1839, o presidente Andréia, com a
chegada do reforço que pediu aos Regentes e ministro da
guerra, começa a organizar as forças em terra. O coronel José
Fernandes Santos Pereira com uma divisão sob o seu comando
tinha ordens de cooperar com Mariath que possuía sob o seu
comando treze navios, trezentas praças de guarnição, seiscentos
e um soldados de abordagem e trinta e três canhões.
          Mas como era uma operação de alto risco, deveriam
saber com exatidão das forças inimigas, os seus pontos fracos e
onde atacá-los, só então entrariam em ação na reconquista de
Laguna. Andréia decide usar a batalha psicológica, coloca um
espião acima de qualquer suspeita entre os rebeldes, um
verdadeiro malandro e aventureiro, na intenção de colocar uns
contra os outros, políticos republicanos e a população.
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


         Nesse instante entra em seu gabinete, o espanhol José
Guasque, que conheceu na Rua da Alfândega - Rio de Janeiro,
onde aplicava golpes junto com dois ingleses, em inocentes
comerciantes da capital, e de outros estados na compra e venda
de mercadorias, que após ter o dinheiro em suas mãos, a
mercadoria nunca chegaria ao seu comprador ou vendedor. Ele
seria o pivô das intrigas, enfraquecendo os republicanos, assim
seria muito mais fácil derrotá-los.
         Agosto de 1839, Garibaldi já prevendo um ataque das
forças imperiais, passa a organizar a defesa da capital Juliana,
reconstruindo as fortalezas, coloca dezesseis canhões nos
navios republicanos. O povoado é cercado de fossos e
trincheiras, onde os contingentes muitos bem armados estariam
prontos a qualquer emergência.
         Na fronteira da vila, encontrava-se general Canabarro
no comando de mil e duzentos soldados experientes, prontos
para evitar um ataque de surpresa dos imperiais. Ainda por
garantia, Garibaldi pede a Rossetti enviar um navio com
Napoleão Castellini a Montevidéu, onde deveria procurar a
Irmandade Maçônica, requisitando a sua valiosa ajuda em
seguida se incumbiria de trazer armas e munições, recrutando
bons marinheiros.
         Canabarro convoca para uma reunião todos os oficiais
de terra e mar, que se apresentam imediatamente na barraca de
campanha do general. Ao coronel Teixeira Nunes incube-o de
limpar a província de todo e qualquer imperialista
(Caramurus), determina-o que ocupasse São José e Desterro, só
para abaixar a crista daquele engomadinho, que se dizia
presidente do império.
         Canabarro fala a Garibaldi: Quanto a você capitão,
para agradar Mazzini e aquela linda morena que você está
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


enrabichado. Quero que tomem de assalto alguns barcos de
Mariath. Parta o quanto antes para um cruzeiro até a altura de
Santos, ou até a Baía de Guanabara, só para deixar aqueles
imperiais de uma figa putos de raiva. Procure espalhar o terror
por estes lados, assim teremos um pouco de sossego por aqui.
         Garibaldi toma uma decisão de repente, convida-a
para viver com ele no “Rio Pardo”, não prometia uma vida de
conforto, mas teria com certeza todo o seu amor, faria tudo
para dar o melhor a ela. Anita não pensa duas vezes, aceita o
convite. Naquela noite, os dois amantes conhecem a verdadeira
força do amor, o poder da sedução, a intensidade das emoções
descobre juntos os segredos dos amantes.
         Os dois acordam bem cedo, Garibaldi vai coordenar os
preparativos para viagem, enquanto Anita fica na cama por uns
momentos, com a dúvida se era um sonho ou uma realidade. Só
então ela sobe as escadas do porão, procura tapar o sol com as
mãos, pois tinha escurecido suas vistas, assim pode ver dezenas
de marinheiros trabalhando nos preparativos para viagem, que
aconteceria no início da noite.
         Os marinheiros ficam surpresos ao verem uma mulher
a bordo, ainda mais com a inesquecível beleza de Anita.
Garibaldi chama todos e apresenta-a: Esta é dona Anita, minha
mulher, vai para o mar conosco. Todos se apresentam à mulher
do chefe, recebendo-a com carinho e um sorriso nos lábios. Ela
passa quase o dia inteiro observando o serviço de cada um dos
marinheiros, inclusive de seu amado. Garibaldi se divertia com
a curiosidade de Anita, e passa uns longos momentos ensinado-
a em detalhes, a função de cada um dos aparelhos de
navegação, o que fazer e como proceder à frente de
imprevistos.

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


          No início da noite, Garibaldi envia um velho barco
carregado de mantimentos com destino ao sul, com a finalidade
de distrair os barcos imperiais, sob o comando do tenente
Romano da Silva, que faziam o bloqueio da entrada do porto.
Assim que avista o velho barco na costa de Laguna rumo ao
sul, os barcos imperiais partem em sua perseguição, deixando o
caminho livre a esquadrilha republicana. Garibaldi,
aproveitando a noite de lua cheia e a escuridão, navega
vagarosamente ao longo da baía. O barco “Rio Pardo” sob o
seu comando, “Seival” sob o comando de Griggs e o
“Caçapava” sob o comando de Lourenço Valerigini,
lentamente com cautela passam pelo canal.
          Ao passar a Barra na escuridão, Garibaldi toma o
leme, e de ouvido atento e os nervos tensos, orientando-se pela
arrebentação sobre o banco de areia e o som das ondas sobre o
costão de pedra da margem. Ao passar o ponto crítico, ele e o
restante dos tripulantes da esquadrilha republicana, sentem-se
mais aliviados e confiantes, agora já em pleno mar rumo á
costa Paulista. Garibaldi entrega novamente o leme ao
marinheiro, ele e Anita descem ao porão, e no embalo das
ondas, os dois usufruem as eternas delicias do amor e o êxtase
do corpo ardente pelo pecado da carne.
          Na madrugada é pego por uma tempestade formada de
inopino, Garibaldi afasta-se um pouco de Anita, com o fim de
dar ordens, visando saírem intactos e com segurança do
imprevisto. Anita vai atrás de seu amado, mesmo sendo jogada
de um lado a outro, enfim chega até o mastro, onde se segura
com força.
          A ventania machucava-lhe as faces, os cabelos
desdenhado e com o corpo todo encharcado, mesmo assim ela
teima em ficar, apesar dos gritos de Garibaldi pedindo para
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


voltar à cabine. A tempestade termina quase de madrugada.
Pela manhã vê que estavam costeando a província do Paraná,
ele verifica se o “Rio Pardo” ou se os outros barcos tinham
alguma avaria, quando teve a confirmação dos outros dois
capitães, continua a viagem. Ele ordena aos demais que
navegassem rente a praia, pelo menos até atingir a Ilha de
Queimadas, próximo ao porto de Santos.
          Dois dias à espera de uma presa, conseguem apoderar-
se sem nenhuma resistência de dois barcos. Garibaldi ordena a
três marinheiros ir até Laguna, aproveitando os tripulantes do
barco. Enquanto que o outro barco, já tinha colocado cinco
marinheiros seu no comando.
        Garibaldi e Anita passam uma semana de inteira paz,
prazer e felicidade. Ela estava vivendo um mundo novo, que
tantas vezes imaginou em suas caminhadas à beira mar, só que
junto com o seu amado, era o paraíso... Um sonho, que
desejaria não acordar nunca mais, viver eternamente. Garibaldi
estava ensinado à Anita os segredos de navegação, quando um
marinheiro gritou: Barco a vista... Tem a bandeira do império.
          A corveta imperial começa a persegui-los, se
aproxima aos poucos dos navios republicanos. O “Rio Pardo”
dispara contra a fragata, avariando o velacho e o traquete,
sendo obrigado a diminuir a velocidade, dando tempo à
esquadrilha naval republicana desaparecer de suas vistas, indo
abrigar-se atrás da Ilha de Bom Abrigo. Nos dias em que
permanecem escondidos, os cento e quinze marinheiros quase
devastam as plantações existentes.
          Final de Outubro, a esquadra naval republicana deixa
a Ilha, nas imediações abordam e confiscam os barcos “Elvira”
e a “Bizarro”, carregados de arroz com destino ao Rio de
Janeiro. A “Elvira”, “Bizarra” e os demais barcos prosseguem
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


cautelosamente até ao Porto de Paranaguá, onde soltam os
tripulantes dos barcos apreendidos, afundando os dois barcos
próximos ao Morro das Conchas, na entrada da Barra.
          No dia seguinte aprisionam o iate “Formiga” de
propriedade de tal Ramon, seguido pelo “Elisa” e “Monte
Real” nas proximidades de Camboriú. Na altura de Desterro
deu de encontro com o navio imperial “Andorinha”, onde se
trava intenso tiroteio. Garibaldi vendo-se em situação difícil,
solta os quatros navios confiscados, procurando ganhar tempo.
O que não acontece, o “Caçapava” é atingido por um tiro
certeiro, que quase o leva a pique. O “Seival” é avariado por
um tiro certeiro, avariando o seu costado. Ele aproveita um
descuido do “Andorinha” e procura refugio no Porto de
Imbituba, já que não poderia alcançar Laguna.
          Garibaldi aproveita o tempo que lhe restava, até que
os encontrassem, manda transportar o canhão do “Seival” ao
promontório próximo, sob os cuidados do artilheiro Manuel
Rodrigues, onde deveria lhe auxiliar na batalha. Enquanto ele
situa o “Rio Pardo” e os dois barcos no fundo da baía,
dispostos a morrer se preciso. Permanece nessa posição até o
início da manhã, quando surgiram os barcos imperiais
“Andorinha”, “Bella Americana” e a “Patagônia” carregados
com diversos canhões.
          Garibaldi julgou que o pior já tinha passado, mas os
problemas somente estavam começando. Nesse momento olha
constantemente a sua amada Anita, arrependendo-se por tê-la
trazido para aquele inferno no mar. Garibaldi manda-a aguardar
em terra, onde estaria muito mais segura. Anita responde com
veemência que tinha abandonado a família, para depois
abandoná-lo, morreria também junto com ele. Os navios
imperiais começam bombardear os barcos republicanos, que
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


respondem timidamente, pois não tinham muita opção de fogo.
Quando os barcos inimigos estavam próximos, começa a
fuzilaria de ambos os lados.
          Anita ao ver que os marinheiros estavam entrando em
pânico, pega por instinto uma carabina no convés e começa
atirar contra os inimigos, totalmente desprotegida e com uma
coragem inigualável. Garibaldi somente amava aquela mulher,
a partir daquele momento passaria a admirá-la como o mais
bravo de seus homens. Ela, para animar os marinheiros, gritava
desesperadamente para responderem o fogo. Eles ao verem a
valentia daquela frágil mulher, envergonham-se, passam a
combater como jamais haviam visto. Aos poucos o “Rio
Pardo” estava ficando cheia de cadáveres e muitos feridos, ela
passa exercer o papel de enfermeira, procurando animá-los.
Um tiro de canhão cai entre Anita e dois marinheiros,
despedaçando os seus corpos e jogando-a longe.
          Ao ver o acontecido, Garibaldi corre ao local, vê Anita
toda ensangüentada, julga que estava morta, mas levanta-se
rapidamente e informa que estava bem, o sangue era dos dois
marinheiros. Garibaldi temendo por sua vida grita para se
abrigar no porão. Anita responde-lhe com um olhar de raiva, só
se for para trazer aqueles covardes que se esconderam. Ela
pega a primeira carabina que encontra, desce rapidamente ao
porão, em seguida traz sob a mira três marinheiros, que tinham
ali se refugiado. O combate prolonga até quase ao anoitecer,
deixando muitos mortos e feridos. O líder dos capitães da
esquadra imperial, surpreso com o poder de fogo e a resistência
dos republicanos, também por ter perdido um capitão e dezenas
de marinheiros, decide retirar-se e buscar reforços.
          Garibaldi manda recolocar o canhão no “Seival”.
Agora protegidos pela escuridão da noite, partem para Laguna.
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Mas antes na curva da praia, fazem três enormes fogueiras,
dando impressão de três navios incendiados. Chegam em
Laguna ao amanhecer do outro dia, com todos os três navios
avariados e dezenas de feridos. Enquanto que os mortos
tiveram um funeral digno, os seus corpos foram entregues ao
mar.
         Setembro de 1839, o tempo que a esquadra naval de
Garibaldi se encontrava no serviço de Corsário, confiscando
barcos e mercadorias, mediante duros combates e a perda de
muitos amigos, o general Canabarro trocava os pés pelas mãos,
impôs um regime despótico, criando antipatia entre os políticos
e a população. Principalmente em seus próprios oficiais e
soldados, tratando-os com dureza e expondo-os a uma situação
humilhante.
         A coluna de Teixeira Nunes estabiliza-se um pouco
além de Massiambu, pequeno filete d’água que se despeja no
canal de Santa Catarina. Canabarro tinha prometido reforços da
vila de Lages, o que não aconteceu. Como ele não dispunha de
soldados suficientes para atacar Desterro, decide aguardar
novas ordens de Canabarro.
         Em Laguna, inicia o descontentamento com os ideais
republicanos, motivados pelas intrigas do espanhol José
Guasque, que alegava que tinha mudado o tipo de governo,
mas a situação se transformou muito pior, e a tendência era
piorar muito mais ainda. O comércio estava praticamente
parado, os comerciantes começam a conspirar contra os
próprios republicanos. Isso era somente o princípio, situação
pior explodiria dias depois. Lentamente Guasque solta o seu
veneno, trazendo confusão e discórdia entre os próprios
republicanos, principalmente aos habitantes de Laguna e
arredores.
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


         Ele sabedor que toda a província era muito
conservadora nos valores morais e familiares, usa o romance de
Anita e Garibaldi para exaltar mais os ânimos contra os
republicanos. Canabarro sabia do perigo que Guasque
representava, era muito conhecido e respeitado pela população,
nomeia-o a um cargo público com o intuito de trazê-lo para seu
lado. Foi outro erro imperdoável que Canabarro cometeu,
assim acabou dando mais veracidade aos seus comentários
maliciosos.
         O coronel José Fernandes e o capitão Mariath decidem
atacar a coluna de Teixeira Nunes, enquanto Mariath atacaria
pela barra de Massiambu, o coronel Fernandes com
quatrocentos e cinqüenta soldados atacaria por terra, assim
pegando os republicanos num fogo cruzado. O primeiro a
atacar os republicanos foi Mariath, que desembarca com
cinqüenta soldados, pegando-os completamente de surpresa.
Teixeira no desespero tenta organizar os soldados, que se
encontra em intensa fuzilaria, deixando-os mais perdidos ainda,
então se obriga dar ordens para recuar.
         Nesse momento, entra em cena a coluna do coronel
Fernandes, deixando os republicanos completamente perdidos.
Com a morte do capitão Henrique Marques Rocha e dois
soldados e dezenas de feridos, após uma hora e meia de
combate, Teixeira ordena para a coluna debandar. Na fuga em
direção a Laguna, são apreendidos pelos legalistas dezenas de
cavalos, armas, mochilas e munição.
         Novembro de 1839, motivados pelos comerciantes,
políticos e líderes locais, nasce na vila de Imaruí, fundos da
baía ha vinte quilômetros de Laguna, a primeira revolta anti-
republicana. General Canabarro, confia a Garibaldi o comando
de duzentos e cinqüenta soldados, a ingrata tarefa de agir com
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


rigor contra os revoltosos. Sentiu-se constrangido em cumprir
as ordens, devido o seu espírito democrático.
         Garibaldi leva três barcos no transporte dos soldados,
os oficiais receberam ordens explícitas de Canabarro de
executar todos os rebeldes, se necessário. Os habitantes
organizam a defesa ao lado da Lagoa. Garibaldi já esperava
isso, desembarca os soldados a três milhas de distância ao leste.
Ele realiza um ataque pelo morro, fazendo que os
sobreviventes debandassem desordenadamente, assim se
apoderando da vila, tendo somente a perda de um sargento e
diversos feridos.
         Com Imaruí no controle dos republicanos, os soldados
encontram um estoque de bebida alcoólica, passam a ingerir
descontroladamente. Quase todos já praticamente bêbados,
passam a saquear as casas e o comercio, degolar vários
habitantes, inclusive estupradas e depois degoladas as mulheres
que não tiveram tempo de fugir. Garibaldi e uns poucos oficiais
tentam impedi-los, mas todos estavam dominados pelo álcool,
restando se isolarem daquela barbárie. O que restou a Garibaldi
e os oficiais era pedir perdão a Deus, que lhes perdoassem
pelos atos desumanos de seus soldados.
         O coronel imperialista Alano consegue apoio dos
habitantes, inclusive de muitos soldados republicanos
revoltosos, consegue expulsá-los e retomar a vila de Lages para
as forças imperiais. O oficial republicano envia um mensageiro
a Laguna, requisitando soldados para tomar novamente a vila,
informando-os que ficariam nos arredores até a chegada de
reforço.
         Laguna - a capital da República Juliana tinha se
transformado num caos completo, o governo civil, o padre
presidente, os ministros, os conselheiros desaparecem por
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


estarem conscientes da possibilidade de um ataque maciço dos
imperialistas. General Canabarro incube Garibaldi de fazer o
bloqueio naval na entrada do Porto. Ele deixa o barco
“Itaparica” sob o comando de João Henrique, o “Caçapava”
sob o comando de Griggs, o “Seival” sob o comando de
Valerigini, o “Rio Pardo” sob o comando de Anita (Ana Maria
de Jesus), a “Lagunense” sob o comando de Manuel Rodrigues,
a “Santana” sob o comando de Inácio Bilbau, sendo apoiados
por cinco Lanchões com atiradores, além de vários canhões
deixados no Forte Atalaia e em outros pontos estratégicos.
         Enquanto Canabarro com quase mil soldados decide
mudar os planos iniciais, uma tropa acampa e monta defesa no
Camacho e a outra monta defesa em Campo Bom. O plano era
deixar uma tropa para combater os imperiais em terra, a outra
deveria auxiliar Garibaldi no confronto naval.
         O presidente Andréia e Mariath estacionado na
enseada de Imbituba já estava impaciente com a demora das
três colunas de apoio por terra, a 1ª sob o comando do coronel
Fernandes, a 2ª o comando do major Miguel Moreira e a 3ª sob
o comando do major Melam. Finalmente, recebem um
mensageiro do comando das tropas em terra, informando-os de
que já se encontravam próximos dos objetivos. Andréia manda
o mensageiro retornar com novas ordens, contando as
mudanças de planos de ataque ao coronel Fernandes,
ocasionado pelos planos de defesa dos republicanos.
         Mariath ordena a seus comandos levantar âncora,
todos deveriam agir conforme os planos iniciais. Ele manda o
barco sob o comando do tenente Manoel Moreira Silva
(Manoel Diabo), levar consigo quatro lanchões com cento e
cinqüenta marinheiros, que deveriam abordar o “Itaparica”. Em
seguida manda mais dois barcos sob os comandos dos tenentes
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Pereira Pinto e Gama Rosa, com a finalidade de distrair o fogo
dos canhões da Fortaleza, de outros pontos estratégicos e os
primeiros lanchões rebeldes. Seguidos pelos barcos “São José”
sob o comando de José de Jesus, a “Bella Americana” sob o
comando do tenente João Custódio Houdain, o “Desterro” sob
o comando do tenente Marcos José Evangelista, o “Cometa”
sob o comando do capitão Sena de Araújo, o “Bélico” sob o
comando do tenente Manuel José Vieira, enquanto Mariath
chefiaria a expedição no “Éolo”.
         Os barcos “Caliope” e a “Patagônia” sob os comandos
dos tenentes Castro Meneses e Jorge Otoni, com ordens de
desembarcar no Cabo de Santa Marta, a fim de distrair por
estes lados o inimigo.
         Garibaldi na Fortaleza com sua luneta consegue ver
melhor o poder de fogo dos imperiais, além das tropas com
quase três mil soldados que estavam vindos por terra, então
teve a certeza de que seria impossível derrotá-los, somente
ganhar tempo para uma inesperada retirada de Laguna. Os
barcos imperiais iniciam a entrada ao porto, a esquadra
republicana permanecia em completa inércia. No convés do
“Rio Pardo”, Anita vendo que todos estavam esperando as
ordens de Garibaldi, como já se encontrava em linha de fogo,
decide dar o primeiro tiro de canhão, assim desencadeando um
inferno na costa de Laguna.
         Garibaldi já estava preocupado com a demora da tropa
de apoio de Canabarro, pois toda a esquadra de Mariath se
encontrava na entrada, viu que estavam sozinhos naquele
combate. Ele passa ordens a Souza Leão (Capote) para manter
fogo intenso contra os imperiais, depois corre para assumir o
comando do “Rio Pardo”. Com o primeiro tiro de canhão,

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Anita ordena todos os marujos concentrar intensa fuzilaria
contra os navios imperiais.
         Mariath ordena para responder o fogo, contra os
barcos e as artilharias espalhadas pela costa. Nesse instante os
republicanos sentem o poder de fogo dos imperiais, tendo a
certeza de que o combate estava perdido, só restava retardá-lo o
máximo possível e rezar que chegassem logo os reforços de
Canabarro. Os barcos republicanos “Itaparica”, o “Seival”, o
“Caçapava”, o “Lagunense” e o “Santana” sob intenso
bombardeio, todos quase praticamente destruídos e centenas de
marinheiros mortos, mutilados ou outros feridos menos grave.
Os poucos sobreviventes jogam-se ao mar com esperança
alcançar à praia, mas todos são pegos com a maior facilidade
pela fuzilaria dos soldados imperiais.
         Enfrentando a fuzilaria intensa contra eles, Garibaldi
consegue chegar ao “Rio Pardo”, envia Anita ao general
Canabarro, pedindo que mandasse urgentemente reforços. Sem
muita demora, ela retorna com novas ordens de Canabarro,
pedia para salvar o que fosse possível, após incendiasse todos
os barcos e dirigissem ao Camacho. Os barcos inimigos
continuam a fulminar o “Rio Pardo” com sua artilharia pesada,
além de manter a fuzilaria com centenas de carabinas.
Garibaldi manda que Anita suba num escaler com dois
marinheiros, levando armas e munições, depois permanecesse
em terra. Ela cumpre a primeira ordem, mas não a segunda.
Anita faz o mesmo trajeto com o escaler lotado de armas e
munições por doze vezes, sob fuzilaria constante do inimigo.
Os marinheiros do escaler encolhiam-se o que podiam,
enquanto que ela permanecia em pé na popa da embarcação,
como tivesse desafiando os atiradores imperiais.

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


         Garibaldi presencia de perto a morte de seus
marinheiros e amigos, sem que pudesse fazer nada para evitá-
la. A sua vista o bravo João Henrique caído no convés do
“Itaparica”, um largo rombo em seu peito feito por uma bala de
canhão. Sobe a bordo, desce até o porão e derrama um pouco
de pólvora até a entrada, após toca fogo e se retira do barco.
Segue até o “Caçapava” avista o corpo de seu amigo Griggs,
que se encontrava partido em dois pedaços, o busto ficara em
pé contra a amurada, enquanto o membro inferior jazia no
chão. Sobe a bordo, fazendo o mesmo que fez com o anterior.
         Nesse instante explode o “Itaparica”, seguido pelo
“Caçapava”, “Seival”, “Lagunense” e o “Santana”. Já noite de
15 de Novembro de 1839, logo após incendeia o “Rio Pardo”,
cumprindo a tarefa macabra. Ele atravessa com Anita a
derradeira viagem no canal de Laguna, sendo acompanhados
com os poucos sobreviventes tomam o rumo do Camacho, ao
encontro de Canabarro, Teixeira Nunes e os demais
comandantes republicanos. No confronto naval os imperialistas
têm cinqüenta e um mortos e treze feridos. Já do lado dos
republicanos, quase duzentos mortos e aproximadamente cem
feridos.
         A coluna do coronel Fernandes, ataca a tropa do
coronel Teixeira Nunes, que a frente de quase meia hora de
combate se retira rumo ao sul. A coluna do major Miguel
Moreira e do major Melo se unem e atacam a tropa de
Canabarro, que também se retira rumo ao sul. Em seguida as
três colunas se unem e chegam ao anoitecer a vila de Laguna,
onde já se encontrava o presidente Andréia, o capitão Mariath e
os demais oficiais.
         Todos eles são recebidos como heróis pelas antigas
autoridades republicanas, agora transformadas em ferrenhos
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


imperialistas, inclusive parte de toda a população. Andréia
mantém nos cargos quase todos os funcionários da República,
exceto os que fugiram ou resolveram acompanhá-los. Com essa
atitude irresponsável, ele premiava a covardia, a duplicidade e
a traição.
          O Regente do imperador e os parlamentares recebem o
mensageiro enviado pelo presidente Andréia, informando-lhes
que a vila de Laguna se encontrava nesse momento em poder
de Vossa Majestade - o Imperador D. Pedro II. Em seguida,
informa-lhes que a vila de Lages foi retomada, à frente da
bravura inigualável do coronel Alano, que conseguiu motivar
populares e contar com o apoio de uns soldados republicanos.
Relata também que, a última noticia dos rebeldes indicavam,
que estavam retornando a província do Rio Grande do Sul.
          As noticias deixam o parlamento em êxtase, porque o
velho problema deles, agora retornava às origens, os senhores
do poder temiam que as ondas de rebeliões se alastrassem por
todas as províncias do império.
          General Canabarro permanece acampado por uma
semana no passo do Camacho, era preciso tomar cuidado,
observar o inimigo e esperar os retardatários. O primeiro a
chegar é a tropa de Capote, segundo a de Sousa Leão e por
último a reduzida de Garibaldi. Já Teixeira Nunes vai ao
encontro da tropa de Campo Bom, onde após se dirigem
também para o passo do Camacho.
          Garibaldi e os demais comandantes tentam convencer
Canabarro para retomar Laguna, mas depois uma calorosa
discussão entre os oficiais, Canabarro enfim consegue impor a
sua vontade na maioria. Enquanto ele retorna com uma parte da
tropa para Viamão, ficando a disposição do general Bento
Gonçalves, escala Garibaldi, Anita e Teixeira Nunes no
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


comando de cento e cinqüenta soldados, onde deveriam juntar-
se com as colunas do coronel Joaquim Mariano Aranha e
coronel José Gomes Portinho, que estavam a espera de reforços
para retomar a vila de Lages.
          Ainda em Novembro de 1839, o coronel Antônio
Mello de Albuquerque encontrava-se estacionado com sua
tropa imperial na vila de Cruz Alta - Rio Grande do Sul, no
mês anterior, recebe ordens do presidente Saturnino para se
juntar com a coluna do brigadeiro Cunha na vila de Lages.
Reúne os soldados, parte imediatamente para a vila, conforme
as ordens superiores. O objetivo era fundir as duas tropas
legalistas, e juntas marchar e levantar o cerco republicano de
Porto Alegre.
          Dezembro de 1839, a frente de vários dias de
cavalgada, enfim chegam até o ponto de encontro com muito
esforço e intenso cansaço, já no final da serra. Agora com as
colunas juntas, se dirigem pelo Passo de Santa Vitória.
          O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, no comando
da divisão de São Paulo, estacionada em Rio Negro, com mais
de dois mil soldados, se desloca para o planalto sob ordens do
ministro da guerra, com a finalidade de expulsar os
republicanos na vila de Lages. Soube por simpatizantes dos
republicanos que se encontravam no Passo de Santa Vitória,
engole a isca e se dirige ao local.
          Quando os republicanos avistam o inimigo, Teixeira
Nunes ordena a Antônio Inácio de Oliveira com os seus
cavalarianos atraíssem uma parte dos legalistas, enquanto que
os seus lanceiros negros e índios Minuanos atrairiam outra
parte da tropa do brigadeiro Cunha no sentido oposto. A sua
estratégia era dividir as forças do brigadeiro, assim teriam

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


grandes chances de pegá-los de surpresa e derrotá-los, mesmo
estando em menor número de soldados.
          O brigadeiro viu que tinha caído numa armadilha
ardilosa do inimigo, retrocede com a metade de seus soldados
até uma mangueira de pedra, que era usada antigamente para o
fisco alfandegário. Teixeira Nunes aproveita o momento,
ordena a seus lanceiros atacar os legalistas, combatendo no
corpo a corpo, trucidando-os quase por completo. O brigadeiro
vendo-se perdido e ferido na perna, auxiliado por alguns de
seus oficiais, procura fugir, mas ao cruzar o Rio Pelotas o seu
corpo é tragado pelas águas.
          Antônio e os seus cavalarianos levam uma parte à
outra armadilha, onde se encontrava a metade da coluna dos
coronéis Aranha e Portinho, escondidos num capão de mato a
quase um quilômetro do local. Quando os cavaleiros
republicanos estacionam em frente o capão, o capitão Hipólito
manda estender linha, julgando que todos iriam se entregar.
Mas ele e o restante da tropa ficam surpresos, ao ver que saiam
dezenas de soldados de ambos os lados do capão.
          As três frentes mantêm uma fuzilaria intensa contra os
legalistas, matando dezenas deles. Quando o capitão recupera-
se da surpresa, ordena a seus soldados debandar em sentido da
vila de Curitibanos. Os legalistas sobreviventes ouvem dezenas
de disparos e gritos horríveis de morte, vindos na direção onde
se encontrava a outra frente, deduzem que se encontrava em
situação pior do que a deles. Antônio ordena para perseguir os
legalistas, mas foram impedidos pelo coronel Aranha que os
conscientiza para que deixassem fugir.
          Espalha rapidamente a noticia da derrota dos dois mil
legalistas para quinhentos republicanos no Passo de Santa
Vitória corre rapidamente e chega até a vila de Lages. O
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


coronel Cândido Alano e os demais soldados que ajudaram a
retomar a vila, decide fugir às pressas o mais longe possível,
temendo represálias e por suas vidas.
      Quatro dias depois do confronto no Passo de Santa
Vitória, Garibaldi, Anita, Rossetti, Teixeira Nunes e os demais
republicanos, entram triunfantes na vila de Lages, sendo
recepcionados como heróis pelas poucas autoridades e seus
habitantes.
          Após a derrota pela esquadra de Mariath e o coronel
Fernandes em Laguna, a recente derrota dos legalistas no
Campo de Santa Vitória, enfim os republicanos têm um pouco
de paz e tranqüilidade. Assim que Anita e Garibaldi entram na
vila, é recebido com grande euforia pelo seu tio Antônio, que
imediatamente arruma uma pequena casa aconchegante aos
dois amantes. Garibaldi e Antônio simpatizam-se a primeira
vista, pois tinham os mesmos ideais de liberdade.
          Anita estava vivendo um paraíso com a sua sonhada
casinha e o amado ao seu lado, onde poderiam dividir
momentos de inteira paz e de amor infinito. Um dia antes do
natal, ela, sua família e Garibaldi assistem a missa do galo na
igreja local.
          Dezembro de 1839, o coronel Albuquerque e sua tropa
se encontravam no meio do caminho, recebe a inesperada
noticia da derrota e morte do brigadeiro Cunha no Passo de
Santa Vitória. Temendo um confronto com os republicanos,
decide contornar os campos de Lages, passando pela vila de
Campos Novos, seguindo sempre ao norte em direção a São
Paulo, procurando encontrar a coluna imperial sob o comando
do general Labatut, assim atacar e retomar a vila de Lages. O
coronel Albuquerque estranhamente erra em sua decisão, invés
de rumar a Porto Alegre, estava percorrendo a direção
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


contrária. Estava ele fazendo outro erro grave, evitar a tropa
dos Farrapos, se as ordens superiores era combatê-los.
          Teixeira Nunes é informado de que a tropa do coronel
Albuquerque encontrava-se pela região, temendo um ataque de
surpresa, forma duas colunas para vigiar os arredores. Uma
coluna com duzentos e cinqüenta soldados voluntários sob o
comando do coronel Aranha vigiaria o sul da região,
estacionando nas proximidades do Rio Pelotas. A outra com
quinhentos soldados, sob o comando de Teixeira Nunes,
inclusive Anita e Garibaldi vigiaria o norte da região,
estacionando nos campos de Palmas ou de Curitibanos. O
coronel Portinho fica com cem soldados voluntários, visando
defender a vila na ocorrência de um ataque surpresa dos
legalistas. As duas colunas partem da vila, conforme os planos.

            Combate de Curitibanos

         Janeiro de 1840, Teixeira Nunes fica no comando de
trezentos e trinta soldados, Garibaldi no comando de cento e
cinqüenta e cavalarianos, Anita fica encarregada do transporte
da munição com vinte soldados, que deveria ficar na retaguarda
guarnecendo a munição.
         Após três dias de caminhada forçada, Teixeira ordena
para acampar as margens do Rio Marombas, Campos das
Forquilhas, proximidades da vila de Curitibanos, onde julgava
que o inimigo cruzaria em direção de Lages.
         Teixeira pede a Garibaldi organizar a vigilância,
enquanto descansaria um pouco da viagem forçada. Garibaldi
forma quatro grupos com dez soldados e distribui nos

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


arredores, evitando assim um ataque surpresa do inimigo. Ele
manda Anita, as carroças e os vinte soldados se abrigarem no
Capão de Mato, enquanto a coluna do Teixeira ficaria no
campo, ele ficaria na retaguarda numa coxilha próxima.
         O coronel Albuquerque acampa dias antes nos
Campos das Forquilhas, a poucos quilômetros dos
republicanos. Escalam vários piquetes de soldados com o
objetivo de vasculhar os arredores na existência de Farrapos, o
que veio acontecer no dia 12 de janeiro, então começa a
organizar o plano de ataque com os seus oficiais. O coronel
Mello de Albuquerque não queria que acontecesse o mesmo
que em Rio Pardo, onde foi derrotado pelos republicanos.
         Coronel ordena que os piquetes, sob o comando do
sargento Gonçalves Padilha e do capitão Hipólito
aproveitassem a escuridão e fizessem ataques rápidos, em
seguida retornando ao acampamento, assim poderia saber com
exatidão sua localização. Com isso, o coronel poderia formar
duas colunas e pegá-los num fogo cruzado.
         Aproximadamente meia noite, o piquete do capitão
Hipólito se encontra com um dos grupos formado por
Garibaldi, com a finalidade de evitar um ataque surpresa,
trocam alguns tiros na escuridão do Capão de Mato e
desaparecem em seguida. Garibaldi e os demais ouvem os
tiros, se prepararam para contra-atacar os legalistas. Mas o
silêncio volta a reinar nos Campos da Forquilha, pelo menos
até o amanhecer.
         O coronel Melo Manso, reúne novamente os piquetes
e os coloca sob as ordens do sargento Padilha, tendo a missão
de dar combate frontal aos Farrapos, onde deveria trazê-los ao
Capão de Mato. O coronel informa que deixaria mais uns
soldados no local, tendo o objetivo de apoiá-los. Após
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


deveriam levá-los à margem do rio, onde estaria outro grupo de
soldados para lhes auxiliar no confronto. Os republicanos
estando à margem do Marombas, assim as duas colunas
pegariam num fogo cruzado, apoiado pelos sobreviventes do
grupo, os quais seriam as iscas.
          Teixeira Nunes e seus soldados ficam poucos minutos
sob fuzilaria dos piquetes, imediatamente se recompõem,
ordena que a cavalaria de Garibaldi persiga os legalistas, que
recuam até o Capão de Mato, onde entra em ação a tropa de
apoio, mesmo assim Garibaldi continua avançando contra os
legalistas. Teixeira ordena para seus soldados avançar contra o
inimigo, que empreendem fuga desordenada às margens do Rio
Marombas.
          No momento que o grupo de Teixeira se aproxima da
margem do Marombas, são pegos num fogo cruzado pelas duas
colunas do coronel Melo Manso. Teixeira viu que tinha caído
numa armadilha, não tendo outra opção senão ocupar o Capão
de Mato, localizado numa pequena elevação próxima.
          No Capão de Mato, Teixeira vendo-se perdido, grita a
seus soldados para atirar contra os legalistas, mas como eles
estavam em maior número, centenas de seus soldados caem à
frente da intensa fuzilaria das colunas do coronel Melo Manso.
          Anita ouve os primeiros tiros, ordena aos soldados
ficar em alerta, pois teriam de proteger a munição. Ela certa de
que os seus companheiros se encontravam cercados, ordena a
seus soldados avançar, julgando que estavam necessitando de
munição. Antes de chegar a seus companheiros cercados, são
surpreendidos por um destacamento imperial, mas ela e nem os
outros soldados se intimidam, revidam o ataque com coragem e
determinação.

LUIZ ALVES                                           Página 49
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


          Anita mesmo vendo os seus soldados caírem abatidos,
continua resistindo bravamente. Uma bala arranca o chapéu de
sua cabeça, cortando também uma mecha de cabelo, mesmo
assim não se amedronta, continua atirando contra os imperiais.
Quando decide evadir do local, outra bala abate o seu cavalo,
derrubando-a violentamente no chão. A se ver cercada pelos
soldados legalistas, sente que não tinha outra opção, decide se
entregar.
          Ao ver que era Ana de Jesus, a surpresa do sargento
João Gonçalves Padilha é enorme. Por mera casualidade ou
capricho do destino, ele era o segundo pretendente a casar com
Ana Maria de Jesus, recusado pela mãe Maria Antônia, devido
ele ser um soldado do exército imperial.
          Teixeira e aproximadamente dez soldados conseguem
romper o cerco, evadindo-se desordenadamente do local. Em
seguida se embrenham mata adentro, desaparecendo em
direção da vila de Lages. Os republicanos têm quatrocentos e
vinte e sete mortos, pois todos os feridos são sumariamente
executados. Segundo fontes não oficiais, os imperiais têm mais
de cem soldados mortos.
          Garibaldi e sessenta e três cavaleiros ainda continuam
cercados. Ele decide romper o cerco a tiro, forma três grupos.
Enquanto um grupo corre até um ponto, os outros dois protege
o recuo, assim consecutivamente, até estarem numa posição
mais favorável. Garibaldi estava completamente esgotado
fisicamente e o seu psicológico, em sua mente, povoava a
mesma pergunta: Onde estava Anita? Estava morta? Presa ou
se encontrava fora de perigo? Não podia sair a sua procura,
além de ser muito arriscado, tinha a responsabilidade com a
vida de seus soldados. Apesar de doer à alma e corroer o
coração, teria de retornar a vila de Lages. Garibaldi e seus
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


sessenta e três soldados embrenham mata adentro, chegando ao
destino quatro dias depois, o trajeto para ele foi um martírio...
O martírio da duvida.
          Anita pede ao sargento Padilha para ver se Garibaldi
não estava entre os mortos, mas ele recusa o pedido, informa-a
que somente o coronel Albuquerque poderia autorizá-la. Então
pede que a leve ao coronel, o que aceita imediatamente. As
perdas entre os legalistas não se têm uma conta precisa, sabe-se
que foram mais de cem soldados mortos.
          A surpresa do coronel Melo Manso é também enorme,
ao ver a sua frente uma mulher destemida. Tenta interrogá-la,
humilha-a, dizendo que tinha um completo desprezo pelos
rebeldes republicanos. Mas Anita permanece altiva,
respondendo todas as perguntas friamente, não deixa se
intimidar. O sargento Padilha vendo o sofrimento de Anita com
a possível perda do marido, pede ao coronel para deixá-la
confirmar, se acaso o seu corpo se encontrava entre os mortos
no campo de batalha. O sargento se oferece em acompanhá-la
com um grupo de soldados, assim evitando a sua fuga. Após
certa insistência, consegue convencê-lo.
          Sargento Padilha convoca seis soldados para
acompanhar a prisioneira. E sob a luz de lampiões, Anita passa
longas horas revolvendo os cadáveres espalhados pelos campos
e capões de mato, sempre com o medo de encontrá-lo entre
eles. A cada um que revolvia, crescia a sua esperança em
encontrá-lo com vida.
          Anita tinha muita esperança de Garibaldi ainda estar
vivo, na certa debandaram para a vila de Lages com o restante
dos soldados sobreviventes. Em sua mente povoa somente o
mesmo pensamento, esperar uma oportunidade e fugir daquele
lugar, se encontrando com seu amado. O que não demorou
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


muito a acontecer, devido a euforia pela vitória contra os
Farrapos, desencadeia uma incontrolável bebedeira entre eles,
que dormitavam desorganizados pelo chão completamente
bêbados. Anita encontrava-se amarrada numa barraca de
campanha, sendo vigiada por quatro soldados, esses na sua
visão era o pior dos obstáculos.
         Ela escuta alguém conversando animadamente com os
vigias, aguça os sentidos, querendo saber o que e com quem
falavam, reconhece a voz do sargento Padilha, estava tecendo
comentário sobre o combate com os Farrapos. Aos poucos
diminui a conversa, até parar por completo, escutava somente
os gritos ensandecidos de soldados bêbados.
         Sargento Padilha entra na barraca, faz sinal para ela
ficar quieta, corta a corda que prendem suas mãos, pede em
seguida para lhe acompanhar, cortando com sua faca a lona
traseira da barraca, entrando no Capão de Mato. Só então o
sargento a informa que logo adiante tinha um cavalo amarrado
numa árvore, com uma arma e um facão, pede para montá-lo e
desaparecer rapidamente daquele lugar. Alerta-a de que
cavalgue a beira do Rio Marombas, naquele lado era muito
mais seguro, por não existir nenhum soldado de vigia.
         Anita fica surpresa com atitude do sargento Padilha,
lhe pergunta por que ele estava ajudando a fugir. Ele responde
que sempre admirou o seu jeito rebelde, simplicidade e a sua
beleza, mas frente do que tinha visto naquele combate, passou
a admirá-la mais ainda, devido sua destreza de soldado e
valentia. Era o tipo de mulher que sempre sonhou ter, mas era
Garibaldi que amava, isso machucava muito o seu sentimento,
mesmo assim queria-a longe daquele local.
         Anita passa suavemente a mão áspera em seu rosto e
beija-o, como forma de agradecimento. Padilha ordena para
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


partir rápido, antes que descobrissem a sua fuga, então estaria
em sérias complicações com o coronel Melo Manso. Anita
caminha apressada por uns cinqüenta metros volta-se em
direção do sargento, olha-o por uns instantes com carinho, e
desaparece em seguida entre as árvores.
          O sargento retorna ao acampamento, começa beber até
ficar completamente bêbado, porque não tinha o coração
daquela mulher maravilhosa, também para ninguém desconfiar
da cúmplice na fuga. Padilha caminha com certa dificuldade
até uma árvore, mas não consegue chegar, desaba no meio do
caminho inconsciente pela bebida em demasia.
          No amanhecer do dia, coronel Melo Manso ordena ao
capitão Hipólito reunir os cem soldados mais sóbrios, cavar
uma vala grande no Capão de Mato, onde deveria enterrar os
Farrapos e os soldados imperiais mortos. Soube pelo sargento
Padilha que a prisioneira tinha fugido, ele informa-o que
pretendia soltá-la na primeira vila. Informa também que,
ficariam ali acampados por mais dois dias, após partiriam para
Rio Negro, onde aguardariam a coluna do general Labatut, em
seguida retornariam para expulsar os Farrapos da vila de Lages.
        Janeiro de 1840, Anita encontra diversos obstáculos
pelo caminho, devido não conhecer bem a região, tinha dúvidas
se estava indo na direção de Lages. Nos primeiros quilômetros
se aproxima de uma humilde casa, pede algo para beber e
comer. Imediatamente lhe oferecem um café e umas fatias de
pão, a qual come com vontade, aproveita para perguntar sobre
o exército dos Farrapos. O homem responde: Que tinham
pegado a direção do Rio Canoas, com certeza estavam indo
para vila de Lages. Anita vê o ponche de Garibaldi pendurado
na parede, oferece o seu que era novo em troca daquele, o que
foi aceito imediatamente pela mulher. Os camponeses pedem
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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


para pernoitar na casa, partindo ao amanhecer. Anita recusa,
alega porque queria estar o quanto antes com Garibaldi, se
realmente tivesse vivo. Agradece os camponeses, se despede e
desaparece na escuridão da mata. Acontecendo oito dias depois
nas proximidades do Rio Caveiras.
        No dia 18 de Março de 1840, coronel Teixeira ordena
para levantar acampamento, partem para Setembrina por não
ter nenhum contato com Canabarro, que com certeza estava
lutando em outra frente em solo rio-grandense. Chegam ao
destino em principio de abril com os cavalos estropiados,
mentes esgotadas e corpos completamente cansados.




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REVOLUÇÃO FARROUPILHA


      Revolta dos Farrapos – Parte II

          Em Setembrina, Anita e Garibaldi vive uma
temporada de paz. Ela já estava no quarto mês de gravidez, era
seu primeiro filho. Após muitas discussões em suas conversas,
chegam a um consenso, se fosse menino o seu nome seria
Menotti, ao contrário o nome seria Rosita.
          Maio de 1840, o general Bento Gonçalves com um
contingente de quase quatrocentos soldados, dirige-se às
proximidades de Taquari, onde se une com a tropa de quase
trezentos soldados do coronel Souza Neto. O comandante
legalista Jorge Rodrigues no comando de seis barcos sobe o rio
até as imediações da vila de Taquari, onde manda descer e
esconder alguns canhões à margem do rio, auxiliado por pouco
mais de mil soldados.
          O general e o coronel foram atraídos naquelas
imediações, onde são surpreendidos pelo fogo pesado e
fuzilaria intensa do inimigo. Mas seus soldados se não
intimidam, contra atacam os legalistas. O combate dura pouco
mais de uma hora, o general ao ver que não conseguiria
derrotá-los, decide recuar e se dirige para Setembrina, pois já
tinha perdido duzentos e setenta soldados e cento e cinqüenta
são feridos, enquanto que os legalistas têm duzentos e uma
mortes e cento e quinze feridos.
          General Bento, Domingos Crescêncio, Teixeira Nunes
e Garibaldi no comando oitocentos soldados, decidem tomar de
assalto em julho de 1840, a vila de São José do Norte, situado
às proximidades da Lagoa dos Patos.


LUIZ ALVES                                          Página 55
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


          O coronel Antônio Soares Paiva, no comando de
pouco mais de quinhentos soldados, sabedor do ataque por um
simpatizante, envia quatro soldados ao Rio Grande, pedindo
reforços, enquanto se concentra na defesa do próprio quartel.
          O combate dura até as primeiras horas da manhã, os
legalistas têm duzentos mortos e noventa feridos, enquanto que
os Farrapos têm cento e oitenta e quatro mortos e cento e
cinqüenta feridos. Assim que chega o reforço pedido pelo
coronel Paiva, os Farrapos se retiram rapidamente da vila,
retornam a Setembrina.
          Em 16 de Setembro de 1840, nasce em São Luiz de
Mostardas, Menotti Domingos Garibaldi. Ele parte com dois
soldados para Setembrina com a finalidade de emprestar algum
dinheiro de seu amigo Rossetti, depois comprar roupas para o
seu filho. Devido às fortes chuvas que caiam, eles esperam o
tempo melhorar por dois dias, junto à tropa do capitão
Máximo, acampados em Roça Grande. Quando vêem que não
tinha outro jeito, prosseguem a caminhada.
          Garibaldi vai imediatamente a casa de Rossetti, onde
soube a verdade sobre a Revolução, que ela não tinha nenhum
futuro. Rossetti prevê que não era necessário lutar pela
República Rio-Grandense, com o tempo os parlamentares e o
povo destruiriam o império. Rossetti parabeniza o amigo pelo
filho, deseja muita saúde e empresta o dinheiro pedido.
Garibaldi dirige-se ao armazém, onde compra tudo o que era
necessário ao menino, após retorna a casa do amigo Rossetti, se
despede e retorna a Mostardas.
          Outubro de 1840, o tenente Moringue no comando de
trezentos soldados, ataca sorrateiramente a tropa do capitão
Máximo, mata alguns soldados e aprisiona os demais.
Moringue é informado de que Anita tinha dado luz a um
LUIZ ALVES                                          Página 56
REVOLUÇÃO FARROUPILHA


menino, que Garibaldi se encontrava em Setembrina, onde
pretendia emprestar dinheiro de um amigo e comprar roupas ao
seu filho. No início da noite, ele parte para a casa dos Costa
com cem soldados, imaginando que encontraria resistência no
local. O pensamento de Moringue era fazer Anita prisioneira,
assim conseguindo prender o mais ardiloso de seus inimigos.
         Anita é avisada pelos Costa que os legalistas estavam
próximos, alertando-a para fugir imediatamente do local, senão
acabaria sendo presa. Anita vestida com uma camisola, enrola
Menotti num cobertor. Um dos Costa traz o seu cavalo e
deixa-o na porta da casa, ela monta em pêlo e desaparece entre
a mata, onde permanece escondida por vários dias, até ser
encontrado por Garibaldi, que gritava o seu nome na mata
como um louco.
         O general Bento ordena a retirada de todas as tropas
nos arredores de Porto Alegre, deveriam se retirar pelas serras
do Rio das Antas até Vacarias. Em 23 de Novembro de 1840,
quando os republicanos estavam fazendo os preparativos para
abandonar a vila de Setembrina, são atacados de surpresa pelo
tenente Moringue no comando de oitocentos soldados. Após
um rápido confronto, morre Rossetti, vários soldados e outra
dezena são feridos, houve uma fuga geral e desordenada de
Setembrina.
         General Canabarro no comando de mil e oitocentos
soldados, inclusive Garibaldi, Anita e o seu Menotti, se dirigem
ao encontro dos republicanos. General Bento no comando de
dois mil e quinhentos soldados encontram com a frente de
Canabarro em São Francisco de Paula. O caminho a frente até
São Gabriel, as colunas enfrentam dias de constantes chuvas,
rios transbordando, fome e intenso frio, que não era comum
para época do ano.
LUIZ ALVES                                           Página 57
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Revolução Farroupilha e sua origem

  • 1.
  • 2. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Prefácio A rotina do dia mascara os momentos, vivifica muitas pedras ociosas no caminho, deglutindo o universo de sentimentos e sonhos reencarnado no eterno. Eu sei que às vezes, a consciência se perde no vazio e o inconsciente sobrevive na alma crucificada, mas temos de persistir em nossos objetivos e realizar os pensamentos, abdicando os medos e receios. A minha visão sobre os fatos presente abarca o conceito da teologia não convencional, dando muito trabalho aos psicólogos de final de semana, que por ventura, vir a estarem de plantão. Eu pergunto a todos vocês, o que seria do psicólogo se não existisse a doença psicológica ou neurológica? O que seria do bem se não existisse o mal? O que seria da vida se não houvesse a dualidade dos acontecimentos e a liberdade de escolha? Há anos atrás um mestre me confidenciou: O que realmente revela a beleza de uma visão não é a paisagem, mas a forma que os olhos vêem e o coração sente. Uns observam admirados todas as pétalas de uma flor, outros vão mais longe, admiram os seus pontiagudos espinhos, aceitando a sua forma e vendo o além das aparências, transformando-o num encantado universo inédito. Muitas pessoas caminham pela vida sem nenhum objetivo, somente sobrevivem às rotinas ociosas e incansáveis. Outros tiram das Pedras no Caminho, a sabedoria de se tornar uma experiência maravilhosa e única. O ser humano convive num amontoado de medos e receios, evita pensar no LUIZ ALVES Página 2
  • 3. REVOLUÇÃO FARROUPILHA sofrimento, mas outros tiram dele a razão de fazer a vida mais bela... Mais humana. LUIZ ALVES Página 3
  • 4. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Raízes da Revolta Frente às seculares desavenças entre os reis de Portugal e Espanha, aonde não chegam à conclusão dos limites da Colônia de Sacramento. O imperador Napoleão força a Espanha declarar guerra a Portugal, complicando mais a situação na banda oriental. Em 1817, os capitães do Rio Grande do Sul se apossam dos territórios: das sete missões, Cerrito e terras hispano-platense. Em 1825, general João Antônio Lavalleja, consegue anexar a Província Cisplatina sob domínio da Argentina, tirando-a do Brasil. Em 1828, general Frutuoso Rivera liberta-a e denomina República Oriental do Uruguai. A “Guerra da Cisplatina” levou ao completo caos econômico nas estâncias e charqueadas no Rio Grandes do Sul, encontrava-se com os seus rebanhos esgotados e o império, sequer pensava em indenizá-los, devido a guerra. Complicando mais a situação, as altas taxas de impostos na exportação de gado vivo, na arroba de charque, erva mate, couros, sebo e gordura. Aumentando também, a taxa da importação de sal, produto vital na produção. O comércio, influenciado pelos liberais no centro do país como represália, passa a comprar o charque Cisplatino, por ser mais barato e porque o rio- grandense usava trabalho escravo. Mas o que criou pavor na província foi a falsificação de moedas do império, complicando intensamente a economia rio-grandense. Na época, o Rio Grande do Sul era composto por 14 municípios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Cachoeira do Sul, Pelotas, Piratini, LUIZ ALVES Página 4
  • 5. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Alegrete, Caçapava do Sul, São José do Norte, Triunfo, Jaguarão, São Borja e Cruz Alta. Entre esses municípios destacam-se: Porto Alegre como a capital, Rio Grande por ser o porto de todo comércio, e Pelotas por ser o maior produtor de charque. A sua população, eram aproximadamente quatrocentas mil pessoas, entre brancos, índios e escravos. Apesar de ser uma região massacrada pelo império, as guerras passadas, ainda mantinha esperança de se erguer como tantas outras vezes anteriores. A situação política era uma caldeira preste a explodir, devido à inabilidade dos presidentes da província, nomeados pelo império. Frente das altas taxas de impostos, o Rio Grande do Sul fechava o ano sempre com superávit. Invés de todos os recursos serem aplicados em obras e benefícios na própria província, uma porcentagem transferiam a outras que fechavam em déficit, e o restante enviavam ao império para pagar dívidas com os ingleses e franceses. A instabilidade diplomática entre os governos da Prata e do império brasileiro faz criticar mais o clima no Rio Grande do Sul, pois foi proibido o fluxo de gado para o Uruguai. Os estancieiros gaúchos compraram terras e gados na banda oriental, e com independência daquele país, não tinham mais acesso às pastagens platinas, somente restando o constante contrabando de gado. As rixas militares eram outro ponto agravante, o marechal do exército imperial, Sebastião Barreto Pinto, era um ferrenho inimigo do coronel da guarda nacional, Bento Gonçalves da Silva, devido às suas constantes promoções por atos de coragem e bravura, proveniente das inúmeras vezes que foi convocado em períodos de guerra. A onipresença da igreja católica nas províncias fez que as sociedades secretas, Maçons e em seguida os LUIZ ALVES Página 5
  • 6. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Carbonários, excomungados e condenados à morte pelos governos europeus, por suas filosofias de Liberdade, Igualdade, União e Fraternidade, faz nascer o sonho republicano na província, tendo como figura principal o cientista e intelectual, Conde Tito Lívio Zambecari nas letras, e coronel Bento Gonçalves da Silva como senhor da guerra, desencadeando a Revolução Farroupilha, que levaria quase dez anos, à custa de milhares de mortes e novamente trazendo o caos financeiro na província. Março de 1817, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca - frei Caneca e José Inácio de Abreu Lima - padre Roma, líderes da Revolução Pernambucana, iniciam o movimento que tinha cunho federalista e republicano. O movimento conta com o apoio da Loja Maçônica, inclusive emigrantes e descendentes europeus. Março de 1817, o general Caetano Pinto de Miranda Montenegro, reúne todos os oficiais e soldados do império português em Recife, dissolve o movimento e aprisiona os revolucionários e seus líderes. Padre Roma é julgado por uma comissão militar, e fuzilado sumariamente no Campo da Pólvora na Bahia. Frei Caneca é enviado para uma prisão na Bahia, onde permanece por quatro anos, mas sendo solto, devido à pressão dos líderes da Loja Maçônica e nobres da corte imperial. Janeiro de 1822, D. Pedro I decide retornar a Portugal, mas ao conceder audiência à José Clemente Pereira, que traz consigo um manifesto com oito mil assinaturas de nobres, políticos, alto clero católico, comerciantes e fazendeiros. O regente imperial dá imortal resposta histórica: “Como é para o bem de todos e felicidade da nação, diga ao povo que fico”. LUIZ ALVES Página 6
  • 7. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Janeiro de 1822, a divisão auxiliadora no comando de Jorge de Avilez, tenta se opor à decisão de D. Pedro I ficar no Brasil. As forças portuguesas de Salvador, recebem ordens para sufocar os rebeldes, depois de vários bombardeios e combates contra o inimigo, o improvisado exército de libertação debanda em completa desordem, deixam Salvador a mercê das forças portuguesas. A partir desse momento histórico, desencadeia uma seqüência de saques e uma desumana chacina contra a população. O Convento da Lapa não escapa da sanha, executam sumariamente a madre Joana Angélica de Jesus e as demais freiras internas. O exército de libertação se organiza, desencadeando novamente violentos combate com as forças portuguesas, a divisão auxiliadora rende-se e retornam para Portugal. Agosto de 1822 é lançado às cartas por Gonçalves Ledo e José Bonifácio, onde D. Pedro I proclama à independência do Brasil, e declara guerra contra o desembarque de forças militares lusas. Setembro de 1822, D. Pedro I ao retornar de uma viagem de Santos, com o objetivo de ver a sua amante: Domitila de Castro e Melo - Marquesa de Santos, é abordado por um mensageiro de José Bonifácio e D. Maria Leopoldina de Habsburgo, relatam ao príncipe regente às ordens para regressar a Lisboa, no prazo de um mês, indignado tira o tope lusitano e lança longe, após dirige ao oficial de sua guarda pessoal, determina: “Desde este momento estamos separados de Portugal. E a nossa divisa de hoje em diante, será... Independência ou Morte”. Outubro de 1822, em ato solene pelos senadores e deputados do império, D. Pedro I, é aclamado imperador e defensor perpétuo do Brasil. Essa comenda oficial, conta com o LUIZ ALVES Página 7
  • 8. REVOLUÇÃO FARROUPILHA apoio dos nobres da corte, cafeicultores, fazendeiros, ricos comerciantes e empresários, inclusive a Loja América do Brasil e a Loja Maçônica. Novembro de 1822, o general Pierre Labatut, no comando de cinco mil oficiais e soldados imperiais, derrota as forças portuguesas em Sergipe, monta o bloqueio militar em Salvador por tempo indeterminado, derrota-os em Pirajá, Itapoã, Conceição e concentra um ataque maciço às Ilhas da Madeira. General Labatut ordena várias execuções de soldados das tropas portuguesas, é deposto do cargo e preso na Ilha das Cobras - Rio de Janeiro. Os líderes da cúpula independente, em sua totalidade são compostos por emigrantes ou descendentes de europeus. Julho de 1823, general madeira, comandante das tropas portuguesas contra a independência, é derrotado pelas forças imperiais brasileiras e obrigado abandonar às pressas a província da Bahia, retornando a Portugal. Julho de 1824, Frei Caneca e Manuel Carvalho Pais de Andrade, lançam novamente manifesto com ideais Federalistas e Republicanos, declaram Pernambuco e as demais províncias vizinhas separadas do Rio de Janeiro, formando assim, a Confederação do Equador. O movimento rebelde tinha apoio da Loja América do Brasil e Loja Maçônica, principalmente de emigrantes e descendentes de europeus. Janeiro de 1825, a Confederação do Equador teve a participação de aproximadamente oito mil soldados revolucionários, tendo o comando geral de Frei Caneca. Enquanto do lado imperial, teve a participação ativa de dez mil soldados, sob o comando geral de Lord Cochrane. O movimento confederado é derrotado pelas forças imperiais, os líderes são presos e enviados às prisões em diversas províncias, LUIZ ALVES Página 8
  • 9. REVOLUÇÃO FARROUPILHA enquanto os oficiais e soldados ingressam no exército imperial, o restante retoma a sua rotina habitual. Tristão de Araripe é assassinado em fuga, quando atravessava o Rio Jaguaribe. Frei Caneca é condenado à forca na Bahia, mas todos os presos e carrascos negam executá-lo, enviam para Recife e é sumariamente fuzilado. A Revolta dos Cabanos, em 1834 a 1840, ocorrido na província do Pará. O movimento era composto pelos moradores em cabanas à beira do rio, devido ao seu grande estado de pobreza e miséria. No decorrer dos anos e os inúmeros confrontos dos cabanos e o exército imperial, ocasiona a morte de quase metade da população na província. O movimento é derrotado pelas forças legais em 1840, enforcam os líderes: Malcher, Vinagre e Angelin. O exército imperial contou como voluntário civil, o futuro general Hilário Maximiano Antunes Gurjão. Aos poucos, os fazendeiros e comerciantes da província do Rio Grande do Sul, recomeçam com o pouco que lhes restam, enfrentam inúmeras adversidades, imposta pelos governos provincianos, parlamentares e o imperador, D. Pedro I, ficam anos pagando uma divida contraída com a França e Inglaterra, devido ao auxilio militar na Guerra Cisplatina. O jornalista Libero Badaró, escreve fortes criticas no “Observador Constitucional” contra D. Pedro I, acusando-o de não possuir pulso forte e nem moral para governar: Devido o seu caso amoroso com a Marquesa de Santos, de pagar dois milhões de libras esterlinas pela independência ao império português, ser cúmplice do Marques de Barbacena em empréstimos escusos e ilegais. E a mais grave das acusações, que estava contratando um exército mercenário inglês, com o objetivo de tirar D. Miguel do trono português, a favor de sua LUIZ ALVES Página 9
  • 10. REVOLUÇÃO FARROUPILHA filha Maria da Glória. D. Pedro I falece em setembro de 1834, no Paço Queluz em Lisboa-Portugal. Badaró é assassinado por três asseclas do imperador na Rua Nova São José. Aproveitando esse acontecimento, políticos e jornalistas liberais, boa parte da nobreza da corte e os mais diversificados desafetos, pressionam D. Pedro I para abdicar o trono a favor de seu filho. O que acontece em Abril de 1831, nomeia como tutor José Bonifácio de Andrada e Silva, que veio abdicar o cargo, devido forte pressão dos parlamentares e ministros. Os mesmos nomeiam Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira Campos Vergueiro, José Joaquim Carneiro de Campos como tutores de D. Pedro II, devido não possuir idade necessária para assumir o trono imperial, que permanecem somente três meses. Ao amanhecer, D. Pedro I e a família imperial, embarcam no navio inglês Warspite para Portugal, visando retomar o trono conquistado por seu irmão D. Miguel, derrubando do poder sua sobrinha D. Maria da Glória, filha de D. Pedro I, assim contraindo todas as regras sucessórias da monarquia. A regência provisória passa- se ser permanente: 1831 - 1834, assumindo João Bráulio Muniz, José da Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva. A regência una: 1834 - 1837, assumida por Diogo Antônio Feijó. 1837 - 1840, assumida por Pedro Araújo Lima. Os regentes de D. Pedro II e parlamentares do império impõem altas taxas sobre o charque, sebo, couro exportado e taxas exageradas pelo sal importado. À frente desse injusto panorama político, social econômico, a província do Rio Grande do Sul nos anos seguintes, começa a fechar com superávit. Os governos não utilizam os recursos para melhorias, mas enviando a outras províncias e para pagar suas dividas com a Inglaterra e França. Complicando mais a LUIZ ALVES Página 10
  • 11. REVOLUÇÃO FARROUPILHA situação, a regência imperial nomeia presidente desconhecido ou antipático ao povo, que governa em causa própria, de familiares e amigos, isso além de destituir vários comandantes de armas bem quistos pelas forças militares, o que trouxe um futuro clima de revolução republicana. LUIZ ALVES Página 11
  • 12. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Revolta dos Farrapos – Parte I Setembro de 1835 explode a Revolução Farroupilha, tendo como líderes rebeldes: Coronel Bento Gonçalves da Silva, Coronel Bento Manuel Ribeiro, Coronel Onofre Pires, Coronel Antônio de Souza Neto, Coronel David José Martins Canabarro, Major João Manuel de Lima e Silva, Capitão Domingos Crescêncio, Capitão José Gomes de Vasconcelos Jardim, conde Tito Livio Zambecari, os jornalistas Pedro José de Almeida - Pedro Boticário e Libero Badaró. O movimento teve apoio de muitos comandantes da guarda nacional, imprensa liberal, políticos provincianos, Loja Maçônica e proscritos italianos. Na noite de 19 de Setembro de 1835, o coronel Bento Gonçalves da Silva, o capitão José de Vasconcelos Jardim e o coronel Onofre Pires, no comando de duzentos soldados “Farrapos” tomam de assalto Porto Alegre. O presidente Antônio R. Fernandes Braga e seus secretários fogem para Rio Grande, estabelecendo ali a nova capital. Bento Gonçalves proclama a República Rio-Grandense e nomeia como presidente, Marciano Pereira Ribeiro, seguido por todos os seus secretários, inclusive na pasta de finanças, incube o proscrito e cientista Italiano, Conde Tito Lívio Zambecari. Outubro de 1835, o tenente coronel João Tavares no comando de dezenas de soldados derrota um contingente de rebeldes, acampados às margens de Arroio Grande. O violento confronto tem inúmeras baixas de ambos os lados, tendo feito muitos prisioneiros. Mas logo a seguir, são derrotados pelos revolucionários sob o comando do coronel Antônio de Souza LUIZ ALVES Página 12
  • 13. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Neto, libertando todos os prisioneiros, obrigando o coronel João Tavares e sua tropa a debandar desordenadamente. Outubro de 1835, o marechal Sebastião Barreto no comando de um contingente de soldados imperial, é surpreendido em São Gabriel pela tropa do coronel Bento Ribeiro, havendo uma debanda geral entre os soldados. Não tendo outra opção, o marechal Barreto foge para o Uruguai. Barreto planejava conseguir apoio militar com o presidente em Montevidéu, assim retornar e retomar São Gabriel ao império. Outubro de 1835, o coronel Bento Gonçalves da Silva, no comando de duzentos soldados, em sua maioria lanceiros escravos negros e índios Minuanos, atacam Rio Grande, capital imperial. O coronel Onofre Pires, no comando de cem soldados ataca São José do Norte, vendo que tudo estava perdido, o presidente Antônio Braga, foge e embarca num navio de guerra para o Rio de Janeiro. O poder imperial na província do Rio Grande do Sul começa a desmoronar, os líderes dos Farrapos tomam cidades importantes, revelando que não era um movimento rebelde desordenado, pensado anteriormente pelo presidente Braga. Novembro de 1835 chega ao Rio Grande, José Araújo Ribeiro, o novo presidente enviado pelo regente imperial, sendo muito bem recebido pela população. Imediatamente manda um emissário com um bilhete, endereçado ao coronel Bento Gonçalves e ao coronel Bento Manuel Ribeiro, convidando-os para uma reunião pacífica em Pelotas. O motivo da reunião era que os dois se dirigissem a Porto Alegre, para acalmar os ânimos dos rebeldes, reconhecesse-o como novo presidente, e fosse empossado perante a assembléia legislativa. Apesar de não estarem inteiramente de acordo, mas julgaram uma longínqua esperança LUIZ ALVES Página 13
  • 14. REVOLUÇÃO FARROUPILHA de paz, onde os seus direitos de cidadão rio-grandense fossem completamente respeitados, acabam aceitando a incumbência de José Ribeiro. Dezembro de 1835, a Fragata Francesa “Nautonnier” sob o comando do capitão Beauregard, traz os Carbonários: Giusepp Maria Garibaldi, Luighi Rossetti e os demais proscritos da Itália dividida, que olham extasiados a visão do “Gigante de Pedra” que assinalava a entrada da Baia da Guanabara, a natureza selvagem ciclopicamente harmoniosa. Os amigos firmam amizade com os comerciantes, Domingos Torrisano e Castellini, que moram na esquina do Largo do Paço com a rua direita. Por intermédio desses dois, mantiveram contato com a Loja Maçônica no Rio de Janeiro, aonde vieram receber ajuda no exílio. Dezembro de 1835, o presidente Araújo se retira para o Rio Grande, onde busca apoio de Bento Ribeiro e proclama a nova capital da província imperial. Em seu discurso à assembléia provincial, promete que iria restabelecer a ordem e justiça. Após certo tempo, é obrigado a pedir ao regente força militares urgente, a fim de salvar o Rio Grande do perigo de separação. A Revolução se prolonga dentro da diplomacia, permanecendo na ociosidade até o inicio de Fevereiro de 1836. Fevereiro de 1836, coronel Bento Gonçalves reúne todas as forças de que dispunha, traça planos para o ataque, ordena ao Major João Manuel de Lima e Silva, deslocar com sua divisão ao interior. A vanguarda dessas forças, continha quatrocentos soldados sob o comando do coronel Afonso José de Almeida Corte Real, que encontra no Arroio Canapé, o contingente de Bento Ribeiro com duzentos soldados. Houve um violento confronto, mas quando vê que a sua situação LUIZ ALVES Página 14
  • 15. REVOLUÇÃO FARROUPILHA estava insustentável, o coronel ordena a retirada de seus soldados. Março de 1836, Bento Ribeiro e os seus soldados derrotam coronel Corte Real, fazendo-o prisioneiro. Em seguida, ordena a sua tropa para marchar contra capital, mas faz frente com a tropa do então promovido general Bento Gonçalves, inclusive os temerários lanceiros, negros e índios minuanos, que o faz se retirar para Caçapava. Porto Alegre estava muito bem fortificado, enfim estavam livres dos imperiais. Abril de 1836, o coronel Onofre Pires com sua tropa marcham para atacar São José do Norte, fuzilando todos os prisioneiros. O major Lima e Silva com sua tropa ataca Pelotas. Nas vizinhanças a tropa do coronel Souza Neto consegue desbaratar a cavalaria com duzentos homens, sob o comando do coronel Albano de Oliveira da guarda nacional. No confronto, quase cem soldados imperiais obrigam se refugiar em Pelotas, enquanto que a coluna do major Lima e Silva faz o cerco da cidade. Em poucos dias, o major Manoel Marques de Souza é preso e enviado para capital. As divisões revolucionárias atacam pelo Sul, o general Bento Gonçalves com sua coluna punha ao encalço do coronel Bento Ribeiro. Junho de 1836, o major Manoel Souza, feito prisioneiro na capital, mediante suborno consegue fugir da prisão com o apoio dos conservadores, se apoderam surpreendentemente de Porto Alegre. O fato inesperado é tão grande, que prendem Pedro Boticário e muitos outros membros importantes do movimento. Ao saber da brusca mudança, general Bento Gonçalves e os demais comandantes seguem para capital, tentando reconquistá-la. Ao chegar com suas tropas, intima os LUIZ ALVES Página 15
  • 16. REVOLUÇÃO FARROUPILHA legalistas a se render, como não recebeu resposta, decide atacar a cidade, sendo repelido depois de três horas de intenso combate, obrigando a se retirarem temporariamente. Mas mantém o cerco à capital até Setembro, onde torna atacá-la, sendo novamente repelido pelos imperialistas, decide levantar acampamento, indo se reunir com a tropa do coronel Souza Neto. Outubro de 1836, a coluna revolucionária do general Bento Gonçalves estava à margem direita do Rio Jacuí, seguia ao encontro do coronel Souza Neto. A tropa de coronel Bento Ribeiro ocupa o morro da Ilha de Fanfa, enquanto a esquadrilha de Greenfell impede a passagem dos rebeldes no Rio Jacuí. Coronel Bento Ribeiro e Greenfell mantêm fogo cerrado contra a tropa de Bento Gonçalves, deixando-o num fogo cruzado, sem existir nenhuma possibilidade de retirada imediata, sem à custa de muitas vidas, mesmo assim permanece nessa posição de combate por três dias. Bento Gonçalves, vendo que tinham chegado a seus limites, sem qualquer chance de fuga, decide render-se, poupando a vida de seus combatentes. Ele pede uma lança do lanceiro mais próximo, amarra um lenço branco e sacode no ar, era uma trégua e sua rendição. Os dois comandantes conversam sobre as condições da rendição, onde o coronel aceita todas as condições do general: Dar liberdade a todos os seus soldados, inclusive o liberal Tito Livío, o coronel Onofre Pires, coronel Corte Real e o jornalista Pedro Boticário. Invés de cumprir o acordo feito com o general Bento Gonçalves, o coronel Bento Ribeiro e o presidente da província LUIZ ALVES Página 16
  • 17. REVOLUÇÃO FARROUPILHA imperial, envia todos para um dos navios da esquadra de John Pascoe Greenfell, levando-os ao Rio de Janeiro. Novembro de 1836, no Rio de Janeiro recebe ordem do regente Feijó para levar o general Bento Gonçalves e Pedro Boticário, à Fortaleza da Laje. Os outros três, Tito Livio, Onofre Pires e Corte Real, levá-los para o velho forte de Santa Cruz. Os prisioneiros começam a elaborar um plano de fuga, assim retornar ao Sul e reiniciar a revolução. Visando realizarem os seus objetivos, procuram avisar a Loja Maçônica, solicitando que os auxiliassem em seus planos. Fevereiro de 1837, Bento Gonçalves já tinha cerrado as grades da cela, saltando rapidamente pela abertura, mas Pedro Boticário fica preso, devido a sua obesidade excessiva. Bento procura ajudá-lo a sair, mas vê que era impossível. Viu que o barulho que estavam fazendo tinha alertado as sentinelas, manda Boticário se retirar da abertura, retornando a cela, onde faz sinal ao pessoal da canoa para prosseguirem com a missão. Eles se retiram rapidamente do local, temendo que tivesse alertado as sentinelas da Fortaleza. Tito Livío, Onofre Pires e Corte Real tinham se antecipado, se encontravam angustiados pelo resgate. No momento que a canoa se aproximou da Fortaleza, é pressentido pelas sentinelas que soaram o alarme. Onofre e Corte Real se atiram no mar, acenando para Tito Livío fazer o mesmo, que faz sinal que não iria porque não sabia nadar. Os dois em longas braçadas chegam até a canoa, desaparecendo na escuridão. Não tendo outra opção, Tito Livío retorna a sua cela, só que dessa vez muito mais vigiada. Março de 1837, a Regência, os parlamentares e o ministro do exército, decidem dividi-los e enviá-los secretamente no brigue “Constança”. O general Bento LUIZ ALVES Página 17
  • 18. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Gonçalves é encaminhado para o Forte do Mar em Salvador, na Bahia de todos os Santos. Enquanto que Tito Livío é enviado para um forte em Pernambuco. Ficando somente na Fortaleza no Rio de Janeiro, o jornalista liberal Pedro Boticário. Março de 1837, Garibaldi, Rossetti, Carniglia e mais treze companheiros de viagem, terminam os reparos e adaptação de combate no veleiro “Mazzini”. No dia anterior, os três amigos levam pessoalmente a bordo, o carregamento de armas e munições, cobrindo-as com sacos de farinha. Só então, decidem zarpar rumo ao Sul. A veleira passa lentamente pela polícia do porto, na Ilha de Villegaignon, mostra que os seus papéis estavam em ordem, sendo liberado imediatamente. Velejam tranqüilamente pelo longo da Baia da Guanabara, dirigindo-se para as Ilhas de Maricá. Quando se encontravam nas alturas da Ilha Grande, surge ao sul um navio com a bandeira do Império. Garibaldi grita para todos ficaram em seus postos, mandando aproar à direita do barco, imediatamente os seus homens dominam o capitão Guilherme Grann e toda a sua tripulação. O barco de pesca com o nome “Luíza” era de propriedade da D. Felisbela Stockmeyer, levava três mil e seiscentas arrobas de café. Garibaldi ordena para trazer as armas e munição para o barco. Assim que terminam o serviço, manda incendiar o veleiro “Mazzini”, pois não tinha pessoal suficiente para levar os dois barcos. Um tripulante Português ao ver aquilo, oferece um pequeno saco com pedras preciosas em troca de sua vida, mas Garibaldi o acalma, explicando que fazia o Corso como uma medida de guerra, não para saquear e matar, e manda guardar as suas pedras, pois deixaria todos em terra, assim que encontrasse um lugar seguro. LUIZ ALVES Página 18
  • 19. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Garibaldi substitui o nome de “Luíza” por “Farroupilha”, hasteando a bandeira da República Rio- Grandense. Após seis dias navegando ao Sul, já nas alturas de Ipacoraí - costa de Santa Catarina se aproxima da terra, arriam o único escaler e nele desembarcam todos os tripulantes, menos os seis escravos, que seriam desembarcados no Uruguai como homens livres. E continuam a viagem para a embocadura da Prata, em direção ao Porto de Maldonado, onde pensava vender a carga de café. Maio de 1837, Garibaldi ancora o “Farroupilha” no Porto de Maldonado, sem ter nenhum problema com as autoridades portuárias. Rossetti vai à procura de seus amigos Carbonários, exilados em Montevidéu. Garibaldi providencia a venda da carga do café, enquanto os restantes se reúnem com marinheiros de um barco pesqueiro francês numa das tabernas do porto. Por razões diplomáticas entre Brasil e Argentina, é transmitidas a ordem de captura do barco e a prisão de seus tripulantes. Mas o governador não tornou efetiva a prisão, dava-lhes liberdade para ir e vir onde desejassem como se fossem seus convidados. Ficam presos somente Garibaldi e Carniglia, os demais são liberados. Na manhã de setembro de 1837, Bento Gonçalves se dirige à praia para o seu rotineiro banho de mar, sendo acompanhado pelos olhos desinteressados das sentinelas. O instante em que o general vê uma pequena canoa a quase um quilômetro, onde os pescadores jogam as suas redes no mar, chega à conclusão de que tinha chegado o momento, em longas braçadas segue em direção aos pescadores. As sentinelas da torre vêem que o prisioneiro estava fugindo, iniciam a atirar desesperadamente contra ele. LUIZ ALVES Página 19
  • 20. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Bento Gonçalves ouve as balas zunir em seus ouvidos, mergulha por diversas vezes e volta à tona mais adiante, seguindo sempre em direção da canoa. Já dentro da canoa, exausto e contente por sua fuga, podendo agora retomar o comando da revolução. Setembro de 1837, a fuga do general Bento Gonçalves do Forte do Mar em Salvador, cai como bomba em todos os poderes do Império no Rio de Janeiro. Devido ao acontecido e uma grande pressão dos parlamentares, acusando-o de ter facilitado a fuga do prisioneiro, regente Diogo Feijó é obrigado a renunciar o cargo. Assume a regência, Pedro de Araújo Lima, que faz uma reforma ministerial quase total. O mestre intelectual e cientista Italiano, Tito Lívio Zambecari, por se encontrar muito doente, são solto com objetivo de retornar a sua terra ou a Europa. Dois dias depois de Garibaldi e seus amigos tentarem fugir, e ser capturado logo em seguida, Milan ordena para levá- los à capital da província, sendo posto em liberdade imediatamente por ordem do governador Echagüe. Na capital da província, compram passagem e viajam num navio Genovês até embocadura do Paraná, depois embarcam em outro navio e desembarcam no Porto de Maldonado. Apesar de serem procurados pela polícia portuária, decidem arriscar, visando se encontrarem com os amigos Carbonários Rossetti, Cúneo e Castellini, informando da fuga em Montevidéu e de suas prisões na província de Entre Rios. Outubro de 1837, pouco mais de um mês escondido numa ilha, o general decide ir para a cidade, onde encontra um amigo que estava partindo para Santa Catarina. Bento Gonçalves, à bordo no barco do amigo, faz a barba e corta o cabelo, enquanto fazia os preparativos para retomar a LUIZ ALVES Página 20
  • 21. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Revolução. O navio aporta em Desterro em Novembro de 1837, o amigo de Bento Gonçalves, arranja um cavalo e um vaqueano para levá-lo em segurança ao Rio Grande do Sul. Alguns dias depois chega a Piratini, onde é recebido como herói, pois todos já sabiam de sua fuga. Bento, reúne os vereadores e os seus secretários, assumindo a presidência da província e o coronel Souza Neto assume a vice-presidência. Novembro de 1837, Garibaldi, Carniglia, Rossetti, Cúneo e Castellini chegam a Piratini, imediatamente procuram o ministro do interior e fazenda, Domingos José de Almeida, que os acolhe com cordialidade. Os cinco colocam as suas espadas a favor da Revolução, sendo aceita por Almeida, que ordena a se apresentassem ao general Bento Gonçalves. Garibaldi fica surpreso ao saber que ele estava livre, pois pelas últimas informações se encontrava preso em Salvador. Janeiro de 1838, O general Bento Gonçalves manda o coronel Bento Ribeiro no comando de trezentos soldados, combaterem os legalistas acampados às margens do Rio Caí sob o comando do tenente Junqueira. Frente ao ataque surpresa dos Farrapos tenta suportar o máximo possível, perdendo dezenas de soldados. Quando vê que não restava alternativa, o tenente Junqueira e os sobreviventes se obrigam a fugir a bordo da canhoneira “Oceano”, mas deixam cair nas mãos dos republicanos dois lanchões. Março de 1838, General Bento Gonçalves se dirige com uma tropa de soldados para Lages, sabedor da revolta da população contra o império. O contingente imperial sabendo do ataque republicano decide abandonar a vila de Lages. Quando o general chega com a sua tropa, são aclamados como heróis pela população. O primeiro passo foi dado com a tomada da vila de Lages, ponto de vital importante à República Rio- LUIZ ALVES Página 21
  • 22. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Grandense. A próxima meta era a tomada de Laguna, assim teriam um porto para combater os imperiais, além de importar e exportar mercadorias. O general nomeia o capitão- comandante do município republicano, Antônio Inácio de Oliveira Filho, deixando ao encargo dele nomear as demais autoridades. Abril de 1838, o coronel Bento Ribeiro e o coronel Souza Neto com uma expedição de quinhentos soldados, entram em combate com a tropa legalista de quatrocentos soldados no Rio Pardo, sob o comando do marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, entreposto principal às margens do Jacuí. O marechal à frente da perda do coronel Guilherme José Lisboa e mais de cem soldados se obrigam recuarem por se encontrar em situação desfavorável, e cede o terreno aos republicanos. A vitória custa trezentas baixas aos republicanos entre oficiais e soldados, mas conquistam um ponto estrategicamente de vital importância. Maio de 1838, o coronel Souza Neto e coronel Bento Ribeiro, no comando de quatrocentos soldados, cercam novamente Porto Alegre, mas os legalistas resistem. Após vários dias de combate, decidem recuar devido terem dezenas de mortos e feridos no cerco. Os dois coronéis resolvem acampar nos arredores da capital, assim não deixar nenhuma mercadoria entrar, trazida pelos tropeiros de Sorocaba na província de São Paulo. Maio de 1838, o general Bento Gonçalves e coronel David José Canabarro, decidem enviar Garibaldi, Eduardo Matru, Carniglia, vinte e oito amigos Carbonários para a estância da Barra e do Brejo, de propriedade das irmãs do general, Ana e Antônia. O grupo deveria se apresentar ao capataz norte-americano, John Griggs (João Grande), LUIZ ALVES Página 22
  • 23. REVOLUÇÃO FARROUPILHA encarregado em construir dois lanchões e restaurar outros dois no Camaquã. Nas estâncias se encontravam trinta escravos negros e trinta índios Minuanos, no objetivo de auxiliar nos trabalhos de construção e reparos. Ele e Griggs em seguida formariam duas turmas de marinheiros experientes, onde proclamariam em Laguna a República Catarinense. Os trabalhos de restauração dos lanchões ficam prontos após de duas semanas. Griggs e Garibaldi deixam Carniglia e Matru comandando a construção dos novos lanchões, pois tinham recebido ordens do general Bento Gonçalves para colocar os lanchões em ação na Lagoa dos Patos, Mirim e rios confluentes, confiscando tudo o que servir à Revolução. Garibaldi no comando do “Rio Pardo” com dez marinheiros, Griggs no comando do “Republicano” com outros dez marinheiros. Os dois lanchões partem rumo à Lagoa dos Patos, onde fariam serviços de Corsários à República. Junho de 1838, o marechal Barreto em fuga desordenada do confronto de Rio Pardo, vai à vila de Triunfo, onde se encontrava o navio “Leopoldina” sob o comando do capitão Guilherme Parker, e o incumbe de informar o presidente Antônio Elisiário e o comandante chefe das forças navais. Elisiário envia mais barcos para auxiliar o marechal Greenfell na vigilância ao longo da costa, rios afluentes, que desembocavam no oceano. Greenfell deixa quase a metade da frota naval ancorado próximo de Porto Alegre, temendo outro ataque violento dos republicanos. Junho de 1838, Garibaldi, vê que os cavalos se encontram inquieto, indicava que teriam pressentido alguma coisa estranha no vento. Manda o cozinheiro reunir todas as armas e munições, carregando-as e deixá-las a beira da entrada do estaleiro, enquanto verificaria os arredores. O seu sexto LUIZ ALVES Página 23
  • 24. REVOLUÇÃO FARROUPILHA sentido lhe dizia que, alguma coisa grave estava preste a acontecer. Ao se aproximar da mata, aguça o seu sentido e ouve o som de vários cavalos a galope. Garibaldi corre ao estaleiro, acena ao cozinheiro para se esconder. Assim que entra no estaleiro, o seu sombreiro é arrancado de sua cabeça por uma lança. O cozinheiro tinha carregado setenta carabinas, apanha a primeira e dispara, assim seguindo uma após outra, sendo rapidamente recarregadas pelo cozinheiro. Moringue fica temeroso em avançar contra o estaleiro, os disparos indicavam ter muito mais de dois atiradores, devido às diversas baixas em seu grupo. Ouvindo o barulho dos tiros, os companheiros correm a seu auxilio imediatamente. Carniglia é o primeiro a chegar ao estaleiro, seguido por Inácio Bilbau, Lorenzo, Matru, o escravo Rafael, Procópio, Natale, Francisco Silva e mais alguns outros. Moringue e os seus homens tinham ocupado as casas e barracas de charqueada, enquanto o estaleiro continuava em fogo cerrado. Ele manda alguns homens destelhar a casa principal, buscando uma melhor visão e disparar contra os Corsários. Garibaldi manda disparar contra os homens do telhado, abatendo vários deles. O chefe de pesca, João da Mata tenta constituir um segundo ponto de resistência nos barcos de forquilha, mas é imediatamente abatido. Os seus homens desorientados e querendo se salvar, uns ganham a mata e outros se jogam na Lagoa. Aos meados da tarde, negro Procópio localiza o Moringue, dispara uma bala certeira, acertando-o braço. Marianito assume o comando e decide debandar, pois o seu chefe era a alma e o incentivo dos homens. Ele manda ajudar o Moringue e os demais feridos, chegando tempo depois ao Rio LUIZ ALVES Página 24
  • 25. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Capivari, onde embarcam num navio imperial que os levou até Porto Alegre. O general Bento Gonçalves e o seu estado maior chegam inesperadamente na manhã de sábado de 1839 à fazenda do Camaquã, sendo recebidos com entusiasmo pelos familiares e seus soldados. As irmãs providenciam rapidamente os preparativos para a festa logo à noite, visando comemorar a chegada do irmão. Bento e o seu estado maior se dirigem ao estaleiro, vêem que os lanchões estão prontos para navegar a serviço da República. Garibaldi sugere construir dois carretões com rodas de quatro metros de diâmetro, que seria construído somente com madeira encaixada, onde transportariam os lanchões com duzentas juntas de boi. Bento acha arriscada a operação, mas como não tinham outra idéia melhor, decide aceitar a sugestão audaciosa do italiano. O general e sua comitiva retornam à Caçapava, enquanto Garibaldi e Griggs iniciam o transporte dos lanchões, auxiliado por mais cem homens, uns a cavalo e outros a pé, que conduzem as juntas de bois e auxiliam nas enormes rodas dos dois carretões. Outros abrem estradas na mata, tapando buracos e fortalecendo os locais de areia mole. O estranho cortejo leva seis dias do estaleiro até a Barra do Tramandaí, rodando oitenta quilômetros, onde decidem descansar até o amanhecer do próximo dia. Ainda estava escuro quando retomam os serviços, só que agora era mais complicado, teria de lançar os lanchões na Lagoa, a empreitada leva até as oito horas da noite do dia 11 de Julho de 1839. O lanchão “Farroupilha” fica sob o comando de Garibaldi, com trinta tripulantes e um canhão de doze LUIZ ALVES Página 25
  • 26. REVOLUÇÃO FARROUPILHA polegadas. O lanchão “Seival” fica sob o comando de Griggs com outros trinta tripulantes e um canhão de doze polegadas. Quatro dias depois, Griggs vê que um temporal estava para chegar até eles, decide ancorar na Barra da Lagoa do Camacho. O “Farroupilha” é surpreendido nas proximidades da Foz do Rio Mampituba, região com o seu fundo raso e repleto de pedras, o local era mais conhecido por cemitério de navios. Garibaldi tenta usar toda a sua perícia de navegador, mas os seus esforços foram em vão, o “Farroupilha” acaba afundando. Ele tenta ajudar os seus companheiros, vê que muitos são carregados pelas forças das ondas, outros nadam até à praia. No acidente Garibaldi perde diversos amigos: Eduardo Matru, Luighi Carniglia, Luighi Staderini, Navona, Giovanni e mais outros nove companheiros. Garibaldi e os quinze sobreviventes caminham pela praia, seguem rumo ao norte. Em seguida atravessam a Foz do Mampituba, chegando à Barra da Lagoa do Camacho. Todos ficam surpresos ao verem o “Seival” ancorado, pois julgavam que também tinha naufragado. Já em terra, encontram Griggs e sua tripulação conversando com o coronel Felipe José Sousa Leão (Capote), que aguardava as tropas do coronel Canabarro. Eles permanecem alguns dias ainda no local, tendo a promessa dos habitantes de manter silêncio sobre a tropa republicana. LUIZ ALVES Página 26
  • 27. REVOLUÇÃO FARROUPILHA República Juliana Julho de 1839, ao saber do ataque republicano à Laguna, as autoridades legalistas, inclusive o tenente coronel Vicente Paulo Oliveira Vilas Boas, tentam reunir soldados para defender a vila. O primeiro combate dá-se no canal do Rio Tubarão, junto dos Campos da Carniça, cujo ataque é desfechado pelos imperiais no barco “Catarinense”, sob o comando de José de Jesus. Os imperiais vendo a situação crítica fogem a esmo da embarcação, perdendo mais da metade dos soldados. A notícia espalha rapidamente até vila e as autoridades resolvem também debandar. Julho de 1839, o “Seival” chega ao Rio Tubarão e ao Canal da Barra, onde surpreendem os navios imperiais “Lagunense”, Itaparica e Santana, apreendendo todos eles somente conseguem evadir o “Cometa”. Garibaldi e Jerônimo Castilhos decidem desembarcar em Laguna, ambos no comando de quarenta soldados. A tropa de Teixeira Nunes chega após a tomada da vila, vindo de Lages, seguido por Canabarro que veio com seus soldados de Viamão. As autoridades imperiais tinham abandonado desordenadamente Laguna, deixando o caminho livre para os rebeldes. Os republicanos ao todo apreendem quatro escumas, quatorze veleiros, quinze canhões, quatrocentos e sessenta e três carabinas e trinta mil e seiscentos e vinte cartuchos. Garibaldi, Canabarro e os soldados republicanos são recebidos em Laguna com festa e como heróis, pelas autoridades e o vigário Francisco Vilela. O coronel Canabarro, Garibaldi, os oficiais, soldados e simpatizantes se reúnem no LUIZ ALVES Página 27
  • 28. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Paço municipal, onde proclamam a República Catarinense ou Juliana. Em seguida, convocam uma reunião extraordinária na câmara, visando eleger todo o secretariado. Eleito presidente da República Juliana, o tenente coronel Joaquim Xavier Neves - vice-presidente, o padre Vicente Ferreira Santos Cardoso, antigo vigário da vila. A pasta da guerra, marinha e do exterior, João Antônio Oliveira Tavares. A pasta da fazenda, interior e justiça coube, Antônio Claudino Souza Medeiros. Secretário do presidente é nomeado Garibaldi, e a Rossetti couberam o cargo de conselheiro. O primeiro decreto redigido por Rossetti, foi usar o lema Maçônico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Outro criava a bandeira Catarinense, verde, branca e amarela, cujos funcionários deveriam ostentar nos chapéus, como prova de amor á República. Canabarro é nomeado general do exército Catarinense, enquanto Garibaldi acumula também o cargo de comando supremo das forças navais da República. No dia 24, é celebrada uma missa de ação de graças pela vitória republicana, com a presença de republicanos e simpatizante. A partir desse dia, o destino começa traçar a sua teia no coração de dois amantes, que viria se eternizar no tempo. Foi a primeira vez que o olhar de Ana Maria de Jesus se cruza com o de Garibaldi, eletrizando a alma e corpo de ambos. Agosto de 1839, o parlamento teve uma sessão extraordinária, devida à gravidade do problema no sul do País. À frente de trocas de acusações, complicava mais ainda o clima já tenso. O presidente Brigadeiro João Carlos Pardal é deposto, mas era necessário nomear o seu substituto, mas quem seria o novo Cristo? Até que um dos parlamentares sugere o nome do marechal e deputado geral, Francisco José Souza Soares LUIZ ALVES Página 28
  • 29. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Andréia, o que é imediatamente aceito por todos os demais. Andréia assumiu o governo do Pará, diante de métodos não convencionais conseguiu impor a lei do império. Ele era autoritário e extremamente vaidoso, possuía complexo de alta superioridade. Marechal Andréia desembarca na praia de Fora, porque o navio não consegue entrar na barra, chegando inesperadamente em Desterro. Em pouco tempo, a população sentiria na própria pele o seu pior defeito como ser humano. A primeira medida extrema foi chamar o Xavier Neves, eleito presidente da República. Andréia disse-lhe, que tinha trazido um abraço enviado pelo regente, em seguida alerta-o de que sua cabeça rolaria a qualquer subversão contra o império. E para humilhá-lo mais ainda, envia-o à comissão dos Alemães. Greenfell é afastado do comando geral naval do império, sendo substituído pelo capitão Frederico Mariath, o contrário da vez anterior. Setembro de 1839, o presidente Andréia, com a chegada do reforço que pediu aos Regentes e ministro da guerra, começa a organizar as forças em terra. O coronel José Fernandes Santos Pereira com uma divisão sob o seu comando tinha ordens de cooperar com Mariath que possuía sob o seu comando treze navios, trezentas praças de guarnição, seiscentos e um soldados de abordagem e trinta e três canhões. Mas como era uma operação de alto risco, deveriam saber com exatidão das forças inimigas, os seus pontos fracos e onde atacá-los, só então entrariam em ação na reconquista de Laguna. Andréia decide usar a batalha psicológica, coloca um espião acima de qualquer suspeita entre os rebeldes, um verdadeiro malandro e aventureiro, na intenção de colocar uns contra os outros, políticos republicanos e a população. LUIZ ALVES Página 29
  • 30. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Nesse instante entra em seu gabinete, o espanhol José Guasque, que conheceu na Rua da Alfândega - Rio de Janeiro, onde aplicava golpes junto com dois ingleses, em inocentes comerciantes da capital, e de outros estados na compra e venda de mercadorias, que após ter o dinheiro em suas mãos, a mercadoria nunca chegaria ao seu comprador ou vendedor. Ele seria o pivô das intrigas, enfraquecendo os republicanos, assim seria muito mais fácil derrotá-los. Agosto de 1839, Garibaldi já prevendo um ataque das forças imperiais, passa a organizar a defesa da capital Juliana, reconstruindo as fortalezas, coloca dezesseis canhões nos navios republicanos. O povoado é cercado de fossos e trincheiras, onde os contingentes muitos bem armados estariam prontos a qualquer emergência. Na fronteira da vila, encontrava-se general Canabarro no comando de mil e duzentos soldados experientes, prontos para evitar um ataque de surpresa dos imperiais. Ainda por garantia, Garibaldi pede a Rossetti enviar um navio com Napoleão Castellini a Montevidéu, onde deveria procurar a Irmandade Maçônica, requisitando a sua valiosa ajuda em seguida se incumbiria de trazer armas e munições, recrutando bons marinheiros. Canabarro convoca para uma reunião todos os oficiais de terra e mar, que se apresentam imediatamente na barraca de campanha do general. Ao coronel Teixeira Nunes incube-o de limpar a província de todo e qualquer imperialista (Caramurus), determina-o que ocupasse São José e Desterro, só para abaixar a crista daquele engomadinho, que se dizia presidente do império. Canabarro fala a Garibaldi: Quanto a você capitão, para agradar Mazzini e aquela linda morena que você está LUIZ ALVES Página 30
  • 31. REVOLUÇÃO FARROUPILHA enrabichado. Quero que tomem de assalto alguns barcos de Mariath. Parta o quanto antes para um cruzeiro até a altura de Santos, ou até a Baía de Guanabara, só para deixar aqueles imperiais de uma figa putos de raiva. Procure espalhar o terror por estes lados, assim teremos um pouco de sossego por aqui. Garibaldi toma uma decisão de repente, convida-a para viver com ele no “Rio Pardo”, não prometia uma vida de conforto, mas teria com certeza todo o seu amor, faria tudo para dar o melhor a ela. Anita não pensa duas vezes, aceita o convite. Naquela noite, os dois amantes conhecem a verdadeira força do amor, o poder da sedução, a intensidade das emoções descobre juntos os segredos dos amantes. Os dois acordam bem cedo, Garibaldi vai coordenar os preparativos para viagem, enquanto Anita fica na cama por uns momentos, com a dúvida se era um sonho ou uma realidade. Só então ela sobe as escadas do porão, procura tapar o sol com as mãos, pois tinha escurecido suas vistas, assim pode ver dezenas de marinheiros trabalhando nos preparativos para viagem, que aconteceria no início da noite. Os marinheiros ficam surpresos ao verem uma mulher a bordo, ainda mais com a inesquecível beleza de Anita. Garibaldi chama todos e apresenta-a: Esta é dona Anita, minha mulher, vai para o mar conosco. Todos se apresentam à mulher do chefe, recebendo-a com carinho e um sorriso nos lábios. Ela passa quase o dia inteiro observando o serviço de cada um dos marinheiros, inclusive de seu amado. Garibaldi se divertia com a curiosidade de Anita, e passa uns longos momentos ensinado- a em detalhes, a função de cada um dos aparelhos de navegação, o que fazer e como proceder à frente de imprevistos. LUIZ ALVES Página 31
  • 32. REVOLUÇÃO FARROUPILHA No início da noite, Garibaldi envia um velho barco carregado de mantimentos com destino ao sul, com a finalidade de distrair os barcos imperiais, sob o comando do tenente Romano da Silva, que faziam o bloqueio da entrada do porto. Assim que avista o velho barco na costa de Laguna rumo ao sul, os barcos imperiais partem em sua perseguição, deixando o caminho livre a esquadrilha republicana. Garibaldi, aproveitando a noite de lua cheia e a escuridão, navega vagarosamente ao longo da baía. O barco “Rio Pardo” sob o seu comando, “Seival” sob o comando de Griggs e o “Caçapava” sob o comando de Lourenço Valerigini, lentamente com cautela passam pelo canal. Ao passar a Barra na escuridão, Garibaldi toma o leme, e de ouvido atento e os nervos tensos, orientando-se pela arrebentação sobre o banco de areia e o som das ondas sobre o costão de pedra da margem. Ao passar o ponto crítico, ele e o restante dos tripulantes da esquadrilha republicana, sentem-se mais aliviados e confiantes, agora já em pleno mar rumo á costa Paulista. Garibaldi entrega novamente o leme ao marinheiro, ele e Anita descem ao porão, e no embalo das ondas, os dois usufruem as eternas delicias do amor e o êxtase do corpo ardente pelo pecado da carne. Na madrugada é pego por uma tempestade formada de inopino, Garibaldi afasta-se um pouco de Anita, com o fim de dar ordens, visando saírem intactos e com segurança do imprevisto. Anita vai atrás de seu amado, mesmo sendo jogada de um lado a outro, enfim chega até o mastro, onde se segura com força. A ventania machucava-lhe as faces, os cabelos desdenhado e com o corpo todo encharcado, mesmo assim ela teima em ficar, apesar dos gritos de Garibaldi pedindo para LUIZ ALVES Página 32
  • 33. REVOLUÇÃO FARROUPILHA voltar à cabine. A tempestade termina quase de madrugada. Pela manhã vê que estavam costeando a província do Paraná, ele verifica se o “Rio Pardo” ou se os outros barcos tinham alguma avaria, quando teve a confirmação dos outros dois capitães, continua a viagem. Ele ordena aos demais que navegassem rente a praia, pelo menos até atingir a Ilha de Queimadas, próximo ao porto de Santos. Dois dias à espera de uma presa, conseguem apoderar- se sem nenhuma resistência de dois barcos. Garibaldi ordena a três marinheiros ir até Laguna, aproveitando os tripulantes do barco. Enquanto que o outro barco, já tinha colocado cinco marinheiros seu no comando. Garibaldi e Anita passam uma semana de inteira paz, prazer e felicidade. Ela estava vivendo um mundo novo, que tantas vezes imaginou em suas caminhadas à beira mar, só que junto com o seu amado, era o paraíso... Um sonho, que desejaria não acordar nunca mais, viver eternamente. Garibaldi estava ensinado à Anita os segredos de navegação, quando um marinheiro gritou: Barco a vista... Tem a bandeira do império. A corveta imperial começa a persegui-los, se aproxima aos poucos dos navios republicanos. O “Rio Pardo” dispara contra a fragata, avariando o velacho e o traquete, sendo obrigado a diminuir a velocidade, dando tempo à esquadrilha naval republicana desaparecer de suas vistas, indo abrigar-se atrás da Ilha de Bom Abrigo. Nos dias em que permanecem escondidos, os cento e quinze marinheiros quase devastam as plantações existentes. Final de Outubro, a esquadra naval republicana deixa a Ilha, nas imediações abordam e confiscam os barcos “Elvira” e a “Bizarro”, carregados de arroz com destino ao Rio de Janeiro. A “Elvira”, “Bizarra” e os demais barcos prosseguem LUIZ ALVES Página 33
  • 34. REVOLUÇÃO FARROUPILHA cautelosamente até ao Porto de Paranaguá, onde soltam os tripulantes dos barcos apreendidos, afundando os dois barcos próximos ao Morro das Conchas, na entrada da Barra. No dia seguinte aprisionam o iate “Formiga” de propriedade de tal Ramon, seguido pelo “Elisa” e “Monte Real” nas proximidades de Camboriú. Na altura de Desterro deu de encontro com o navio imperial “Andorinha”, onde se trava intenso tiroteio. Garibaldi vendo-se em situação difícil, solta os quatros navios confiscados, procurando ganhar tempo. O que não acontece, o “Caçapava” é atingido por um tiro certeiro, que quase o leva a pique. O “Seival” é avariado por um tiro certeiro, avariando o seu costado. Ele aproveita um descuido do “Andorinha” e procura refugio no Porto de Imbituba, já que não poderia alcançar Laguna. Garibaldi aproveita o tempo que lhe restava, até que os encontrassem, manda transportar o canhão do “Seival” ao promontório próximo, sob os cuidados do artilheiro Manuel Rodrigues, onde deveria lhe auxiliar na batalha. Enquanto ele situa o “Rio Pardo” e os dois barcos no fundo da baía, dispostos a morrer se preciso. Permanece nessa posição até o início da manhã, quando surgiram os barcos imperiais “Andorinha”, “Bella Americana” e a “Patagônia” carregados com diversos canhões. Garibaldi julgou que o pior já tinha passado, mas os problemas somente estavam começando. Nesse momento olha constantemente a sua amada Anita, arrependendo-se por tê-la trazido para aquele inferno no mar. Garibaldi manda-a aguardar em terra, onde estaria muito mais segura. Anita responde com veemência que tinha abandonado a família, para depois abandoná-lo, morreria também junto com ele. Os navios imperiais começam bombardear os barcos republicanos, que LUIZ ALVES Página 34
  • 35. REVOLUÇÃO FARROUPILHA respondem timidamente, pois não tinham muita opção de fogo. Quando os barcos inimigos estavam próximos, começa a fuzilaria de ambos os lados. Anita ao ver que os marinheiros estavam entrando em pânico, pega por instinto uma carabina no convés e começa atirar contra os inimigos, totalmente desprotegida e com uma coragem inigualável. Garibaldi somente amava aquela mulher, a partir daquele momento passaria a admirá-la como o mais bravo de seus homens. Ela, para animar os marinheiros, gritava desesperadamente para responderem o fogo. Eles ao verem a valentia daquela frágil mulher, envergonham-se, passam a combater como jamais haviam visto. Aos poucos o “Rio Pardo” estava ficando cheia de cadáveres e muitos feridos, ela passa exercer o papel de enfermeira, procurando animá-los. Um tiro de canhão cai entre Anita e dois marinheiros, despedaçando os seus corpos e jogando-a longe. Ao ver o acontecido, Garibaldi corre ao local, vê Anita toda ensangüentada, julga que estava morta, mas levanta-se rapidamente e informa que estava bem, o sangue era dos dois marinheiros. Garibaldi temendo por sua vida grita para se abrigar no porão. Anita responde-lhe com um olhar de raiva, só se for para trazer aqueles covardes que se esconderam. Ela pega a primeira carabina que encontra, desce rapidamente ao porão, em seguida traz sob a mira três marinheiros, que tinham ali se refugiado. O combate prolonga até quase ao anoitecer, deixando muitos mortos e feridos. O líder dos capitães da esquadra imperial, surpreso com o poder de fogo e a resistência dos republicanos, também por ter perdido um capitão e dezenas de marinheiros, decide retirar-se e buscar reforços. Garibaldi manda recolocar o canhão no “Seival”. Agora protegidos pela escuridão da noite, partem para Laguna. LUIZ ALVES Página 35
  • 36. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Mas antes na curva da praia, fazem três enormes fogueiras, dando impressão de três navios incendiados. Chegam em Laguna ao amanhecer do outro dia, com todos os três navios avariados e dezenas de feridos. Enquanto que os mortos tiveram um funeral digno, os seus corpos foram entregues ao mar. Setembro de 1839, o tempo que a esquadra naval de Garibaldi se encontrava no serviço de Corsário, confiscando barcos e mercadorias, mediante duros combates e a perda de muitos amigos, o general Canabarro trocava os pés pelas mãos, impôs um regime despótico, criando antipatia entre os políticos e a população. Principalmente em seus próprios oficiais e soldados, tratando-os com dureza e expondo-os a uma situação humilhante. A coluna de Teixeira Nunes estabiliza-se um pouco além de Massiambu, pequeno filete d’água que se despeja no canal de Santa Catarina. Canabarro tinha prometido reforços da vila de Lages, o que não aconteceu. Como ele não dispunha de soldados suficientes para atacar Desterro, decide aguardar novas ordens de Canabarro. Em Laguna, inicia o descontentamento com os ideais republicanos, motivados pelas intrigas do espanhol José Guasque, que alegava que tinha mudado o tipo de governo, mas a situação se transformou muito pior, e a tendência era piorar muito mais ainda. O comércio estava praticamente parado, os comerciantes começam a conspirar contra os próprios republicanos. Isso era somente o princípio, situação pior explodiria dias depois. Lentamente Guasque solta o seu veneno, trazendo confusão e discórdia entre os próprios republicanos, principalmente aos habitantes de Laguna e arredores. LUIZ ALVES Página 36
  • 37. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Ele sabedor que toda a província era muito conservadora nos valores morais e familiares, usa o romance de Anita e Garibaldi para exaltar mais os ânimos contra os republicanos. Canabarro sabia do perigo que Guasque representava, era muito conhecido e respeitado pela população, nomeia-o a um cargo público com o intuito de trazê-lo para seu lado. Foi outro erro imperdoável que Canabarro cometeu, assim acabou dando mais veracidade aos seus comentários maliciosos. O coronel José Fernandes e o capitão Mariath decidem atacar a coluna de Teixeira Nunes, enquanto Mariath atacaria pela barra de Massiambu, o coronel Fernandes com quatrocentos e cinqüenta soldados atacaria por terra, assim pegando os republicanos num fogo cruzado. O primeiro a atacar os republicanos foi Mariath, que desembarca com cinqüenta soldados, pegando-os completamente de surpresa. Teixeira no desespero tenta organizar os soldados, que se encontra em intensa fuzilaria, deixando-os mais perdidos ainda, então se obriga dar ordens para recuar. Nesse momento, entra em cena a coluna do coronel Fernandes, deixando os republicanos completamente perdidos. Com a morte do capitão Henrique Marques Rocha e dois soldados e dezenas de feridos, após uma hora e meia de combate, Teixeira ordena para a coluna debandar. Na fuga em direção a Laguna, são apreendidos pelos legalistas dezenas de cavalos, armas, mochilas e munição. Novembro de 1839, motivados pelos comerciantes, políticos e líderes locais, nasce na vila de Imaruí, fundos da baía ha vinte quilômetros de Laguna, a primeira revolta anti- republicana. General Canabarro, confia a Garibaldi o comando de duzentos e cinqüenta soldados, a ingrata tarefa de agir com LUIZ ALVES Página 37
  • 38. REVOLUÇÃO FARROUPILHA rigor contra os revoltosos. Sentiu-se constrangido em cumprir as ordens, devido o seu espírito democrático. Garibaldi leva três barcos no transporte dos soldados, os oficiais receberam ordens explícitas de Canabarro de executar todos os rebeldes, se necessário. Os habitantes organizam a defesa ao lado da Lagoa. Garibaldi já esperava isso, desembarca os soldados a três milhas de distância ao leste. Ele realiza um ataque pelo morro, fazendo que os sobreviventes debandassem desordenadamente, assim se apoderando da vila, tendo somente a perda de um sargento e diversos feridos. Com Imaruí no controle dos republicanos, os soldados encontram um estoque de bebida alcoólica, passam a ingerir descontroladamente. Quase todos já praticamente bêbados, passam a saquear as casas e o comercio, degolar vários habitantes, inclusive estupradas e depois degoladas as mulheres que não tiveram tempo de fugir. Garibaldi e uns poucos oficiais tentam impedi-los, mas todos estavam dominados pelo álcool, restando se isolarem daquela barbárie. O que restou a Garibaldi e os oficiais era pedir perdão a Deus, que lhes perdoassem pelos atos desumanos de seus soldados. O coronel imperialista Alano consegue apoio dos habitantes, inclusive de muitos soldados republicanos revoltosos, consegue expulsá-los e retomar a vila de Lages para as forças imperiais. O oficial republicano envia um mensageiro a Laguna, requisitando soldados para tomar novamente a vila, informando-os que ficariam nos arredores até a chegada de reforço. Laguna - a capital da República Juliana tinha se transformado num caos completo, o governo civil, o padre presidente, os ministros, os conselheiros desaparecem por LUIZ ALVES Página 38
  • 39. REVOLUÇÃO FARROUPILHA estarem conscientes da possibilidade de um ataque maciço dos imperialistas. General Canabarro incube Garibaldi de fazer o bloqueio naval na entrada do Porto. Ele deixa o barco “Itaparica” sob o comando de João Henrique, o “Caçapava” sob o comando de Griggs, o “Seival” sob o comando de Valerigini, o “Rio Pardo” sob o comando de Anita (Ana Maria de Jesus), a “Lagunense” sob o comando de Manuel Rodrigues, a “Santana” sob o comando de Inácio Bilbau, sendo apoiados por cinco Lanchões com atiradores, além de vários canhões deixados no Forte Atalaia e em outros pontos estratégicos. Enquanto Canabarro com quase mil soldados decide mudar os planos iniciais, uma tropa acampa e monta defesa no Camacho e a outra monta defesa em Campo Bom. O plano era deixar uma tropa para combater os imperiais em terra, a outra deveria auxiliar Garibaldi no confronto naval. O presidente Andréia e Mariath estacionado na enseada de Imbituba já estava impaciente com a demora das três colunas de apoio por terra, a 1ª sob o comando do coronel Fernandes, a 2ª o comando do major Miguel Moreira e a 3ª sob o comando do major Melam. Finalmente, recebem um mensageiro do comando das tropas em terra, informando-os de que já se encontravam próximos dos objetivos. Andréia manda o mensageiro retornar com novas ordens, contando as mudanças de planos de ataque ao coronel Fernandes, ocasionado pelos planos de defesa dos republicanos. Mariath ordena a seus comandos levantar âncora, todos deveriam agir conforme os planos iniciais. Ele manda o barco sob o comando do tenente Manoel Moreira Silva (Manoel Diabo), levar consigo quatro lanchões com cento e cinqüenta marinheiros, que deveriam abordar o “Itaparica”. Em seguida manda mais dois barcos sob os comandos dos tenentes LUIZ ALVES Página 39
  • 40. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Pereira Pinto e Gama Rosa, com a finalidade de distrair o fogo dos canhões da Fortaleza, de outros pontos estratégicos e os primeiros lanchões rebeldes. Seguidos pelos barcos “São José” sob o comando de José de Jesus, a “Bella Americana” sob o comando do tenente João Custódio Houdain, o “Desterro” sob o comando do tenente Marcos José Evangelista, o “Cometa” sob o comando do capitão Sena de Araújo, o “Bélico” sob o comando do tenente Manuel José Vieira, enquanto Mariath chefiaria a expedição no “Éolo”. Os barcos “Caliope” e a “Patagônia” sob os comandos dos tenentes Castro Meneses e Jorge Otoni, com ordens de desembarcar no Cabo de Santa Marta, a fim de distrair por estes lados o inimigo. Garibaldi na Fortaleza com sua luneta consegue ver melhor o poder de fogo dos imperiais, além das tropas com quase três mil soldados que estavam vindos por terra, então teve a certeza de que seria impossível derrotá-los, somente ganhar tempo para uma inesperada retirada de Laguna. Os barcos imperiais iniciam a entrada ao porto, a esquadra republicana permanecia em completa inércia. No convés do “Rio Pardo”, Anita vendo que todos estavam esperando as ordens de Garibaldi, como já se encontrava em linha de fogo, decide dar o primeiro tiro de canhão, assim desencadeando um inferno na costa de Laguna. Garibaldi já estava preocupado com a demora da tropa de apoio de Canabarro, pois toda a esquadra de Mariath se encontrava na entrada, viu que estavam sozinhos naquele combate. Ele passa ordens a Souza Leão (Capote) para manter fogo intenso contra os imperiais, depois corre para assumir o comando do “Rio Pardo”. Com o primeiro tiro de canhão, LUIZ ALVES Página 40
  • 41. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Anita ordena todos os marujos concentrar intensa fuzilaria contra os navios imperiais. Mariath ordena para responder o fogo, contra os barcos e as artilharias espalhadas pela costa. Nesse instante os republicanos sentem o poder de fogo dos imperiais, tendo a certeza de que o combate estava perdido, só restava retardá-lo o máximo possível e rezar que chegassem logo os reforços de Canabarro. Os barcos republicanos “Itaparica”, o “Seival”, o “Caçapava”, o “Lagunense” e o “Santana” sob intenso bombardeio, todos quase praticamente destruídos e centenas de marinheiros mortos, mutilados ou outros feridos menos grave. Os poucos sobreviventes jogam-se ao mar com esperança alcançar à praia, mas todos são pegos com a maior facilidade pela fuzilaria dos soldados imperiais. Enfrentando a fuzilaria intensa contra eles, Garibaldi consegue chegar ao “Rio Pardo”, envia Anita ao general Canabarro, pedindo que mandasse urgentemente reforços. Sem muita demora, ela retorna com novas ordens de Canabarro, pedia para salvar o que fosse possível, após incendiasse todos os barcos e dirigissem ao Camacho. Os barcos inimigos continuam a fulminar o “Rio Pardo” com sua artilharia pesada, além de manter a fuzilaria com centenas de carabinas. Garibaldi manda que Anita suba num escaler com dois marinheiros, levando armas e munições, depois permanecesse em terra. Ela cumpre a primeira ordem, mas não a segunda. Anita faz o mesmo trajeto com o escaler lotado de armas e munições por doze vezes, sob fuzilaria constante do inimigo. Os marinheiros do escaler encolhiam-se o que podiam, enquanto que ela permanecia em pé na popa da embarcação, como tivesse desafiando os atiradores imperiais. LUIZ ALVES Página 41
  • 42. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Garibaldi presencia de perto a morte de seus marinheiros e amigos, sem que pudesse fazer nada para evitá- la. A sua vista o bravo João Henrique caído no convés do “Itaparica”, um largo rombo em seu peito feito por uma bala de canhão. Sobe a bordo, desce até o porão e derrama um pouco de pólvora até a entrada, após toca fogo e se retira do barco. Segue até o “Caçapava” avista o corpo de seu amigo Griggs, que se encontrava partido em dois pedaços, o busto ficara em pé contra a amurada, enquanto o membro inferior jazia no chão. Sobe a bordo, fazendo o mesmo que fez com o anterior. Nesse instante explode o “Itaparica”, seguido pelo “Caçapava”, “Seival”, “Lagunense” e o “Santana”. Já noite de 15 de Novembro de 1839, logo após incendeia o “Rio Pardo”, cumprindo a tarefa macabra. Ele atravessa com Anita a derradeira viagem no canal de Laguna, sendo acompanhados com os poucos sobreviventes tomam o rumo do Camacho, ao encontro de Canabarro, Teixeira Nunes e os demais comandantes republicanos. No confronto naval os imperialistas têm cinqüenta e um mortos e treze feridos. Já do lado dos republicanos, quase duzentos mortos e aproximadamente cem feridos. A coluna do coronel Fernandes, ataca a tropa do coronel Teixeira Nunes, que a frente de quase meia hora de combate se retira rumo ao sul. A coluna do major Miguel Moreira e do major Melo se unem e atacam a tropa de Canabarro, que também se retira rumo ao sul. Em seguida as três colunas se unem e chegam ao anoitecer a vila de Laguna, onde já se encontrava o presidente Andréia, o capitão Mariath e os demais oficiais. Todos eles são recebidos como heróis pelas antigas autoridades republicanas, agora transformadas em ferrenhos LUIZ ALVES Página 42
  • 43. REVOLUÇÃO FARROUPILHA imperialistas, inclusive parte de toda a população. Andréia mantém nos cargos quase todos os funcionários da República, exceto os que fugiram ou resolveram acompanhá-los. Com essa atitude irresponsável, ele premiava a covardia, a duplicidade e a traição. O Regente do imperador e os parlamentares recebem o mensageiro enviado pelo presidente Andréia, informando-lhes que a vila de Laguna se encontrava nesse momento em poder de Vossa Majestade - o Imperador D. Pedro II. Em seguida, informa-lhes que a vila de Lages foi retomada, à frente da bravura inigualável do coronel Alano, que conseguiu motivar populares e contar com o apoio de uns soldados republicanos. Relata também que, a última noticia dos rebeldes indicavam, que estavam retornando a província do Rio Grande do Sul. As noticias deixam o parlamento em êxtase, porque o velho problema deles, agora retornava às origens, os senhores do poder temiam que as ondas de rebeliões se alastrassem por todas as províncias do império. General Canabarro permanece acampado por uma semana no passo do Camacho, era preciso tomar cuidado, observar o inimigo e esperar os retardatários. O primeiro a chegar é a tropa de Capote, segundo a de Sousa Leão e por último a reduzida de Garibaldi. Já Teixeira Nunes vai ao encontro da tropa de Campo Bom, onde após se dirigem também para o passo do Camacho. Garibaldi e os demais comandantes tentam convencer Canabarro para retomar Laguna, mas depois uma calorosa discussão entre os oficiais, Canabarro enfim consegue impor a sua vontade na maioria. Enquanto ele retorna com uma parte da tropa para Viamão, ficando a disposição do general Bento Gonçalves, escala Garibaldi, Anita e Teixeira Nunes no LUIZ ALVES Página 43
  • 44. REVOLUÇÃO FARROUPILHA comando de cento e cinqüenta soldados, onde deveriam juntar- se com as colunas do coronel Joaquim Mariano Aranha e coronel José Gomes Portinho, que estavam a espera de reforços para retomar a vila de Lages. Ainda em Novembro de 1839, o coronel Antônio Mello de Albuquerque encontrava-se estacionado com sua tropa imperial na vila de Cruz Alta - Rio Grande do Sul, no mês anterior, recebe ordens do presidente Saturnino para se juntar com a coluna do brigadeiro Cunha na vila de Lages. Reúne os soldados, parte imediatamente para a vila, conforme as ordens superiores. O objetivo era fundir as duas tropas legalistas, e juntas marchar e levantar o cerco republicano de Porto Alegre. Dezembro de 1839, a frente de vários dias de cavalgada, enfim chegam até o ponto de encontro com muito esforço e intenso cansaço, já no final da serra. Agora com as colunas juntas, se dirigem pelo Passo de Santa Vitória. O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, no comando da divisão de São Paulo, estacionada em Rio Negro, com mais de dois mil soldados, se desloca para o planalto sob ordens do ministro da guerra, com a finalidade de expulsar os republicanos na vila de Lages. Soube por simpatizantes dos republicanos que se encontravam no Passo de Santa Vitória, engole a isca e se dirige ao local. Quando os republicanos avistam o inimigo, Teixeira Nunes ordena a Antônio Inácio de Oliveira com os seus cavalarianos atraíssem uma parte dos legalistas, enquanto que os seus lanceiros negros e índios Minuanos atrairiam outra parte da tropa do brigadeiro Cunha no sentido oposto. A sua estratégia era dividir as forças do brigadeiro, assim teriam LUIZ ALVES Página 44
  • 45. REVOLUÇÃO FARROUPILHA grandes chances de pegá-los de surpresa e derrotá-los, mesmo estando em menor número de soldados. O brigadeiro viu que tinha caído numa armadilha ardilosa do inimigo, retrocede com a metade de seus soldados até uma mangueira de pedra, que era usada antigamente para o fisco alfandegário. Teixeira Nunes aproveita o momento, ordena a seus lanceiros atacar os legalistas, combatendo no corpo a corpo, trucidando-os quase por completo. O brigadeiro vendo-se perdido e ferido na perna, auxiliado por alguns de seus oficiais, procura fugir, mas ao cruzar o Rio Pelotas o seu corpo é tragado pelas águas. Antônio e os seus cavalarianos levam uma parte à outra armadilha, onde se encontrava a metade da coluna dos coronéis Aranha e Portinho, escondidos num capão de mato a quase um quilômetro do local. Quando os cavaleiros republicanos estacionam em frente o capão, o capitão Hipólito manda estender linha, julgando que todos iriam se entregar. Mas ele e o restante da tropa ficam surpresos, ao ver que saiam dezenas de soldados de ambos os lados do capão. As três frentes mantêm uma fuzilaria intensa contra os legalistas, matando dezenas deles. Quando o capitão recupera- se da surpresa, ordena a seus soldados debandar em sentido da vila de Curitibanos. Os legalistas sobreviventes ouvem dezenas de disparos e gritos horríveis de morte, vindos na direção onde se encontrava a outra frente, deduzem que se encontrava em situação pior do que a deles. Antônio ordena para perseguir os legalistas, mas foram impedidos pelo coronel Aranha que os conscientiza para que deixassem fugir. Espalha rapidamente a noticia da derrota dos dois mil legalistas para quinhentos republicanos no Passo de Santa Vitória corre rapidamente e chega até a vila de Lages. O LUIZ ALVES Página 45
  • 46. REVOLUÇÃO FARROUPILHA coronel Cândido Alano e os demais soldados que ajudaram a retomar a vila, decide fugir às pressas o mais longe possível, temendo represálias e por suas vidas. Quatro dias depois do confronto no Passo de Santa Vitória, Garibaldi, Anita, Rossetti, Teixeira Nunes e os demais republicanos, entram triunfantes na vila de Lages, sendo recepcionados como heróis pelas poucas autoridades e seus habitantes. Após a derrota pela esquadra de Mariath e o coronel Fernandes em Laguna, a recente derrota dos legalistas no Campo de Santa Vitória, enfim os republicanos têm um pouco de paz e tranqüilidade. Assim que Anita e Garibaldi entram na vila, é recebido com grande euforia pelo seu tio Antônio, que imediatamente arruma uma pequena casa aconchegante aos dois amantes. Garibaldi e Antônio simpatizam-se a primeira vista, pois tinham os mesmos ideais de liberdade. Anita estava vivendo um paraíso com a sua sonhada casinha e o amado ao seu lado, onde poderiam dividir momentos de inteira paz e de amor infinito. Um dia antes do natal, ela, sua família e Garibaldi assistem a missa do galo na igreja local. Dezembro de 1839, o coronel Albuquerque e sua tropa se encontravam no meio do caminho, recebe a inesperada noticia da derrota e morte do brigadeiro Cunha no Passo de Santa Vitória. Temendo um confronto com os republicanos, decide contornar os campos de Lages, passando pela vila de Campos Novos, seguindo sempre ao norte em direção a São Paulo, procurando encontrar a coluna imperial sob o comando do general Labatut, assim atacar e retomar a vila de Lages. O coronel Albuquerque estranhamente erra em sua decisão, invés de rumar a Porto Alegre, estava percorrendo a direção LUIZ ALVES Página 46
  • 47. REVOLUÇÃO FARROUPILHA contrária. Estava ele fazendo outro erro grave, evitar a tropa dos Farrapos, se as ordens superiores era combatê-los. Teixeira Nunes é informado de que a tropa do coronel Albuquerque encontrava-se pela região, temendo um ataque de surpresa, forma duas colunas para vigiar os arredores. Uma coluna com duzentos e cinqüenta soldados voluntários sob o comando do coronel Aranha vigiaria o sul da região, estacionando nas proximidades do Rio Pelotas. A outra com quinhentos soldados, sob o comando de Teixeira Nunes, inclusive Anita e Garibaldi vigiaria o norte da região, estacionando nos campos de Palmas ou de Curitibanos. O coronel Portinho fica com cem soldados voluntários, visando defender a vila na ocorrência de um ataque surpresa dos legalistas. As duas colunas partem da vila, conforme os planos. Combate de Curitibanos Janeiro de 1840, Teixeira Nunes fica no comando de trezentos e trinta soldados, Garibaldi no comando de cento e cinqüenta e cavalarianos, Anita fica encarregada do transporte da munição com vinte soldados, que deveria ficar na retaguarda guarnecendo a munição. Após três dias de caminhada forçada, Teixeira ordena para acampar as margens do Rio Marombas, Campos das Forquilhas, proximidades da vila de Curitibanos, onde julgava que o inimigo cruzaria em direção de Lages. Teixeira pede a Garibaldi organizar a vigilância, enquanto descansaria um pouco da viagem forçada. Garibaldi forma quatro grupos com dez soldados e distribui nos LUIZ ALVES Página 47
  • 48. REVOLUÇÃO FARROUPILHA arredores, evitando assim um ataque surpresa do inimigo. Ele manda Anita, as carroças e os vinte soldados se abrigarem no Capão de Mato, enquanto a coluna do Teixeira ficaria no campo, ele ficaria na retaguarda numa coxilha próxima. O coronel Albuquerque acampa dias antes nos Campos das Forquilhas, a poucos quilômetros dos republicanos. Escalam vários piquetes de soldados com o objetivo de vasculhar os arredores na existência de Farrapos, o que veio acontecer no dia 12 de janeiro, então começa a organizar o plano de ataque com os seus oficiais. O coronel Mello de Albuquerque não queria que acontecesse o mesmo que em Rio Pardo, onde foi derrotado pelos republicanos. Coronel ordena que os piquetes, sob o comando do sargento Gonçalves Padilha e do capitão Hipólito aproveitassem a escuridão e fizessem ataques rápidos, em seguida retornando ao acampamento, assim poderia saber com exatidão sua localização. Com isso, o coronel poderia formar duas colunas e pegá-los num fogo cruzado. Aproximadamente meia noite, o piquete do capitão Hipólito se encontra com um dos grupos formado por Garibaldi, com a finalidade de evitar um ataque surpresa, trocam alguns tiros na escuridão do Capão de Mato e desaparecem em seguida. Garibaldi e os demais ouvem os tiros, se prepararam para contra-atacar os legalistas. Mas o silêncio volta a reinar nos Campos da Forquilha, pelo menos até o amanhecer. O coronel Melo Manso, reúne novamente os piquetes e os coloca sob as ordens do sargento Padilha, tendo a missão de dar combate frontal aos Farrapos, onde deveria trazê-los ao Capão de Mato. O coronel informa que deixaria mais uns soldados no local, tendo o objetivo de apoiá-los. Após LUIZ ALVES Página 48
  • 49. REVOLUÇÃO FARROUPILHA deveriam levá-los à margem do rio, onde estaria outro grupo de soldados para lhes auxiliar no confronto. Os republicanos estando à margem do Marombas, assim as duas colunas pegariam num fogo cruzado, apoiado pelos sobreviventes do grupo, os quais seriam as iscas. Teixeira Nunes e seus soldados ficam poucos minutos sob fuzilaria dos piquetes, imediatamente se recompõem, ordena que a cavalaria de Garibaldi persiga os legalistas, que recuam até o Capão de Mato, onde entra em ação a tropa de apoio, mesmo assim Garibaldi continua avançando contra os legalistas. Teixeira ordena para seus soldados avançar contra o inimigo, que empreendem fuga desordenada às margens do Rio Marombas. No momento que o grupo de Teixeira se aproxima da margem do Marombas, são pegos num fogo cruzado pelas duas colunas do coronel Melo Manso. Teixeira viu que tinha caído numa armadilha, não tendo outra opção senão ocupar o Capão de Mato, localizado numa pequena elevação próxima. No Capão de Mato, Teixeira vendo-se perdido, grita a seus soldados para atirar contra os legalistas, mas como eles estavam em maior número, centenas de seus soldados caem à frente da intensa fuzilaria das colunas do coronel Melo Manso. Anita ouve os primeiros tiros, ordena aos soldados ficar em alerta, pois teriam de proteger a munição. Ela certa de que os seus companheiros se encontravam cercados, ordena a seus soldados avançar, julgando que estavam necessitando de munição. Antes de chegar a seus companheiros cercados, são surpreendidos por um destacamento imperial, mas ela e nem os outros soldados se intimidam, revidam o ataque com coragem e determinação. LUIZ ALVES Página 49
  • 50. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Anita mesmo vendo os seus soldados caírem abatidos, continua resistindo bravamente. Uma bala arranca o chapéu de sua cabeça, cortando também uma mecha de cabelo, mesmo assim não se amedronta, continua atirando contra os imperiais. Quando decide evadir do local, outra bala abate o seu cavalo, derrubando-a violentamente no chão. A se ver cercada pelos soldados legalistas, sente que não tinha outra opção, decide se entregar. Ao ver que era Ana de Jesus, a surpresa do sargento João Gonçalves Padilha é enorme. Por mera casualidade ou capricho do destino, ele era o segundo pretendente a casar com Ana Maria de Jesus, recusado pela mãe Maria Antônia, devido ele ser um soldado do exército imperial. Teixeira e aproximadamente dez soldados conseguem romper o cerco, evadindo-se desordenadamente do local. Em seguida se embrenham mata adentro, desaparecendo em direção da vila de Lages. Os republicanos têm quatrocentos e vinte e sete mortos, pois todos os feridos são sumariamente executados. Segundo fontes não oficiais, os imperiais têm mais de cem soldados mortos. Garibaldi e sessenta e três cavaleiros ainda continuam cercados. Ele decide romper o cerco a tiro, forma três grupos. Enquanto um grupo corre até um ponto, os outros dois protege o recuo, assim consecutivamente, até estarem numa posição mais favorável. Garibaldi estava completamente esgotado fisicamente e o seu psicológico, em sua mente, povoava a mesma pergunta: Onde estava Anita? Estava morta? Presa ou se encontrava fora de perigo? Não podia sair a sua procura, além de ser muito arriscado, tinha a responsabilidade com a vida de seus soldados. Apesar de doer à alma e corroer o coração, teria de retornar a vila de Lages. Garibaldi e seus LUIZ ALVES Página 50
  • 51. REVOLUÇÃO FARROUPILHA sessenta e três soldados embrenham mata adentro, chegando ao destino quatro dias depois, o trajeto para ele foi um martírio... O martírio da duvida. Anita pede ao sargento Padilha para ver se Garibaldi não estava entre os mortos, mas ele recusa o pedido, informa-a que somente o coronel Albuquerque poderia autorizá-la. Então pede que a leve ao coronel, o que aceita imediatamente. As perdas entre os legalistas não se têm uma conta precisa, sabe-se que foram mais de cem soldados mortos. A surpresa do coronel Melo Manso é também enorme, ao ver a sua frente uma mulher destemida. Tenta interrogá-la, humilha-a, dizendo que tinha um completo desprezo pelos rebeldes republicanos. Mas Anita permanece altiva, respondendo todas as perguntas friamente, não deixa se intimidar. O sargento Padilha vendo o sofrimento de Anita com a possível perda do marido, pede ao coronel para deixá-la confirmar, se acaso o seu corpo se encontrava entre os mortos no campo de batalha. O sargento se oferece em acompanhá-la com um grupo de soldados, assim evitando a sua fuga. Após certa insistência, consegue convencê-lo. Sargento Padilha convoca seis soldados para acompanhar a prisioneira. E sob a luz de lampiões, Anita passa longas horas revolvendo os cadáveres espalhados pelos campos e capões de mato, sempre com o medo de encontrá-lo entre eles. A cada um que revolvia, crescia a sua esperança em encontrá-lo com vida. Anita tinha muita esperança de Garibaldi ainda estar vivo, na certa debandaram para a vila de Lages com o restante dos soldados sobreviventes. Em sua mente povoa somente o mesmo pensamento, esperar uma oportunidade e fugir daquele lugar, se encontrando com seu amado. O que não demorou LUIZ ALVES Página 51
  • 52. REVOLUÇÃO FARROUPILHA muito a acontecer, devido a euforia pela vitória contra os Farrapos, desencadeia uma incontrolável bebedeira entre eles, que dormitavam desorganizados pelo chão completamente bêbados. Anita encontrava-se amarrada numa barraca de campanha, sendo vigiada por quatro soldados, esses na sua visão era o pior dos obstáculos. Ela escuta alguém conversando animadamente com os vigias, aguça os sentidos, querendo saber o que e com quem falavam, reconhece a voz do sargento Padilha, estava tecendo comentário sobre o combate com os Farrapos. Aos poucos diminui a conversa, até parar por completo, escutava somente os gritos ensandecidos de soldados bêbados. Sargento Padilha entra na barraca, faz sinal para ela ficar quieta, corta a corda que prendem suas mãos, pede em seguida para lhe acompanhar, cortando com sua faca a lona traseira da barraca, entrando no Capão de Mato. Só então o sargento a informa que logo adiante tinha um cavalo amarrado numa árvore, com uma arma e um facão, pede para montá-lo e desaparecer rapidamente daquele lugar. Alerta-a de que cavalgue a beira do Rio Marombas, naquele lado era muito mais seguro, por não existir nenhum soldado de vigia. Anita fica surpresa com atitude do sargento Padilha, lhe pergunta por que ele estava ajudando a fugir. Ele responde que sempre admirou o seu jeito rebelde, simplicidade e a sua beleza, mas frente do que tinha visto naquele combate, passou a admirá-la mais ainda, devido sua destreza de soldado e valentia. Era o tipo de mulher que sempre sonhou ter, mas era Garibaldi que amava, isso machucava muito o seu sentimento, mesmo assim queria-a longe daquele local. Anita passa suavemente a mão áspera em seu rosto e beija-o, como forma de agradecimento. Padilha ordena para LUIZ ALVES Página 52
  • 53. REVOLUÇÃO FARROUPILHA partir rápido, antes que descobrissem a sua fuga, então estaria em sérias complicações com o coronel Melo Manso. Anita caminha apressada por uns cinqüenta metros volta-se em direção do sargento, olha-o por uns instantes com carinho, e desaparece em seguida entre as árvores. O sargento retorna ao acampamento, começa beber até ficar completamente bêbado, porque não tinha o coração daquela mulher maravilhosa, também para ninguém desconfiar da cúmplice na fuga. Padilha caminha com certa dificuldade até uma árvore, mas não consegue chegar, desaba no meio do caminho inconsciente pela bebida em demasia. No amanhecer do dia, coronel Melo Manso ordena ao capitão Hipólito reunir os cem soldados mais sóbrios, cavar uma vala grande no Capão de Mato, onde deveria enterrar os Farrapos e os soldados imperiais mortos. Soube pelo sargento Padilha que a prisioneira tinha fugido, ele informa-o que pretendia soltá-la na primeira vila. Informa também que, ficariam ali acampados por mais dois dias, após partiriam para Rio Negro, onde aguardariam a coluna do general Labatut, em seguida retornariam para expulsar os Farrapos da vila de Lages. Janeiro de 1840, Anita encontra diversos obstáculos pelo caminho, devido não conhecer bem a região, tinha dúvidas se estava indo na direção de Lages. Nos primeiros quilômetros se aproxima de uma humilde casa, pede algo para beber e comer. Imediatamente lhe oferecem um café e umas fatias de pão, a qual come com vontade, aproveita para perguntar sobre o exército dos Farrapos. O homem responde: Que tinham pegado a direção do Rio Canoas, com certeza estavam indo para vila de Lages. Anita vê o ponche de Garibaldi pendurado na parede, oferece o seu que era novo em troca daquele, o que foi aceito imediatamente pela mulher. Os camponeses pedem LUIZ ALVES Página 53
  • 54. REVOLUÇÃO FARROUPILHA para pernoitar na casa, partindo ao amanhecer. Anita recusa, alega porque queria estar o quanto antes com Garibaldi, se realmente tivesse vivo. Agradece os camponeses, se despede e desaparece na escuridão da mata. Acontecendo oito dias depois nas proximidades do Rio Caveiras. No dia 18 de Março de 1840, coronel Teixeira ordena para levantar acampamento, partem para Setembrina por não ter nenhum contato com Canabarro, que com certeza estava lutando em outra frente em solo rio-grandense. Chegam ao destino em principio de abril com os cavalos estropiados, mentes esgotadas e corpos completamente cansados. LUIZ ALVES Página 54
  • 55. REVOLUÇÃO FARROUPILHA Revolta dos Farrapos – Parte II Em Setembrina, Anita e Garibaldi vive uma temporada de paz. Ela já estava no quarto mês de gravidez, era seu primeiro filho. Após muitas discussões em suas conversas, chegam a um consenso, se fosse menino o seu nome seria Menotti, ao contrário o nome seria Rosita. Maio de 1840, o general Bento Gonçalves com um contingente de quase quatrocentos soldados, dirige-se às proximidades de Taquari, onde se une com a tropa de quase trezentos soldados do coronel Souza Neto. O comandante legalista Jorge Rodrigues no comando de seis barcos sobe o rio até as imediações da vila de Taquari, onde manda descer e esconder alguns canhões à margem do rio, auxiliado por pouco mais de mil soldados. O general e o coronel foram atraídos naquelas imediações, onde são surpreendidos pelo fogo pesado e fuzilaria intensa do inimigo. Mas seus soldados se não intimidam, contra atacam os legalistas. O combate dura pouco mais de uma hora, o general ao ver que não conseguiria derrotá-los, decide recuar e se dirige para Setembrina, pois já tinha perdido duzentos e setenta soldados e cento e cinqüenta são feridos, enquanto que os legalistas têm duzentos e uma mortes e cento e quinze feridos. General Bento, Domingos Crescêncio, Teixeira Nunes e Garibaldi no comando oitocentos soldados, decidem tomar de assalto em julho de 1840, a vila de São José do Norte, situado às proximidades da Lagoa dos Patos. LUIZ ALVES Página 55
  • 56. REVOLUÇÃO FARROUPILHA O coronel Antônio Soares Paiva, no comando de pouco mais de quinhentos soldados, sabedor do ataque por um simpatizante, envia quatro soldados ao Rio Grande, pedindo reforços, enquanto se concentra na defesa do próprio quartel. O combate dura até as primeiras horas da manhã, os legalistas têm duzentos mortos e noventa feridos, enquanto que os Farrapos têm cento e oitenta e quatro mortos e cento e cinqüenta feridos. Assim que chega o reforço pedido pelo coronel Paiva, os Farrapos se retiram rapidamente da vila, retornam a Setembrina. Em 16 de Setembro de 1840, nasce em São Luiz de Mostardas, Menotti Domingos Garibaldi. Ele parte com dois soldados para Setembrina com a finalidade de emprestar algum dinheiro de seu amigo Rossetti, depois comprar roupas para o seu filho. Devido às fortes chuvas que caiam, eles esperam o tempo melhorar por dois dias, junto à tropa do capitão Máximo, acampados em Roça Grande. Quando vêem que não tinha outro jeito, prosseguem a caminhada. Garibaldi vai imediatamente a casa de Rossetti, onde soube a verdade sobre a Revolução, que ela não tinha nenhum futuro. Rossetti prevê que não era necessário lutar pela República Rio-Grandense, com o tempo os parlamentares e o povo destruiriam o império. Rossetti parabeniza o amigo pelo filho, deseja muita saúde e empresta o dinheiro pedido. Garibaldi dirige-se ao armazém, onde compra tudo o que era necessário ao menino, após retorna a casa do amigo Rossetti, se despede e retorna a Mostardas. Outubro de 1840, o tenente Moringue no comando de trezentos soldados, ataca sorrateiramente a tropa do capitão Máximo, mata alguns soldados e aprisiona os demais. Moringue é informado de que Anita tinha dado luz a um LUIZ ALVES Página 56
  • 57. REVOLUÇÃO FARROUPILHA menino, que Garibaldi se encontrava em Setembrina, onde pretendia emprestar dinheiro de um amigo e comprar roupas ao seu filho. No início da noite, ele parte para a casa dos Costa com cem soldados, imaginando que encontraria resistência no local. O pensamento de Moringue era fazer Anita prisioneira, assim conseguindo prender o mais ardiloso de seus inimigos. Anita é avisada pelos Costa que os legalistas estavam próximos, alertando-a para fugir imediatamente do local, senão acabaria sendo presa. Anita vestida com uma camisola, enrola Menotti num cobertor. Um dos Costa traz o seu cavalo e deixa-o na porta da casa, ela monta em pêlo e desaparece entre a mata, onde permanece escondida por vários dias, até ser encontrado por Garibaldi, que gritava o seu nome na mata como um louco. O general Bento ordena a retirada de todas as tropas nos arredores de Porto Alegre, deveriam se retirar pelas serras do Rio das Antas até Vacarias. Em 23 de Novembro de 1840, quando os republicanos estavam fazendo os preparativos para abandonar a vila de Setembrina, são atacados de surpresa pelo tenente Moringue no comando de oitocentos soldados. Após um rápido confronto, morre Rossetti, vários soldados e outra dezena são feridos, houve uma fuga geral e desordenada de Setembrina. General Canabarro no comando de mil e oitocentos soldados, inclusive Garibaldi, Anita e o seu Menotti, se dirigem ao encontro dos republicanos. General Bento no comando de dois mil e quinhentos soldados encontram com a frente de Canabarro em São Francisco de Paula. O caminho a frente até São Gabriel, as colunas enfrentam dias de constantes chuvas, rios transbordando, fome e intenso frio, que não era comum para época do ano. LUIZ ALVES Página 57