O documento discute fundamentos da argumentação. Ele começa definindo o que é um argumento e como ele envolve fornecer razões para justificar ou criticar uma afirmação. Em seguida, discute conceitos úteis para entender argumentos, como diálogos argumentativos, dedução versus indução, e esquemas de argumentação como apelo à autoridade e analogia. Por fim, aborda tipos de diálogos e como características como teses, pontos de vista e uso de argumentos são importantes para um diálogo contendo argumentação.
2. Roteiro
1. O que é um argumento ?
2. Conceitos úteis para entender argumentos
3. Esquemas de argumentação
4. Tipos de diálogos
5. Sobre a falação de bobagens (On Bullshit)
4. Argumento
AFIRMAÇÃO
RAZÕES
ARGUMENTO
Um ARGUMENTO é o fornecimento de razões para justificar
ou criticar uma afirmação.
5. Controvérsia
1. Há uma discordância entre as partes;
2. A discordância é não trivial;
3. Deseja-se atingir concordância voluntária;
4. Não há uma forma direta simples para a resolução da
discordância.
6. Diálogo Argumentativo
Participante
Participante
2
1
1. Os participantes assumem posições contrárias e claras sobre
o tema central da controvérsia;
2. Colaboram na busca do consenso;
3. Concordam em respeitar o turno de argumentação do
adversário;
4. Ambos aceitam o risco de estarem errados.
7. Diálogo sobre o pagamento de gorjetas
Maria (1): Um problema sério com o pagamento de gorjetas é que
às vezes é difícil saber o quanto pagar.
João (1): Não é tão difícil assim. Se o serviço que você recebeu foi
bom, você deve dar gorjeta, se não foi, você não deve pagar
nada.
Maria (2): Mas quanto você deveria pagar ? E como julgar se o
serviço merece ou não uma gorjeta?
João (2): Apenas use o bom senso !
Maria(3): Isso não é resposta! O bom senso varia de pessoa para
pessoa e muitas vezes está errado !
João (3): Você tem que usar o bom senso na maioria das coisas na
vida! Use o bom senso para julgar se o serviço é ou não digno
de gorjeta.
8. Diálogo sobre o pagamento de gorjetas
Maria (4): O bom senso é muito vago e variável. Por causa de
diferenças de interpretação as pessoas envolvidas podem acabar
ofendidas. Se a gorjeta for muito baixa, quem recebe acaba
contrariado. Se for muito alta, quem acaba contrariado é quem
paga. O pagamento de gorjeta cria desconforto
desnecessariamente.
João (4): Muitas pessoas dependem das gorjetas como
complemento de sua renda. Se paramos de pagar estas pessoas
passarão necessidades.
Maria (5): Isso não é problema, basta aumentar o salário mínimo.
João (5): Isso somente aumentaria os custos de mão-de-obra e
acabaria causando desemprego. O que seria ainda pior !
9. Características de um diálogo contendo argumentação
1. Teses: Há sempre um par central de proposições em discussão.
Tese 1:”Dar gorjeta é uma má idéia e não deveria continuar”
Tese 2: “Dar gorjeta é uma boa idéia e deveria continuar”
2. Pontos de vista: Cada participante defende uma das teses
Maria defende a tese 1. João defende a tese 2.
3. Cooperação: Os participantes se alternam.
4. Oposição: As teses não podem ser verdadeiras
simultaneamente.
5. Uso de argumentos: Os participantes utilizam várias estratégias
no diálogo. Fazem e respondem perguntas e, principalmente,
formulam argumentos que têm por objetivo mudar o ponto de vista
do adversário.
10. Argumentos
João (4): Muitas pessoas dependem de gorjetas como complemento de sua
renda. Se paramos de pagar, estas pessoas passarão necessidades.
Maria (5): Isso não é problema, basta aumentar o salário mínimo.
João (5): Isso somente aumentaria os custos de mão-de-obra e acabaria
causando desemprego. O que seria ainda pior !
Argumento de João
Premissa: É moralmente correto que as pessoas tenham como
arcar com os custos de suas necessidades básicas.
Premissa: Milhares de pessoas dependem das gorjetas para suprir
suas necessidades básicas.
Premissa: O fim da gorjeta implicaria em renda insuficiente.
Conclusão: A gorjeta é uma boa idéia que deve continuar
11. Argumentos
João (4): Muitas pessoas dependem de gorjetas como complemento de sua
renda. Se paramos de pagar, estas pessoas passarão necessidades.
Maria (5): Isso não é problema, basta aumentar o salário mínimo.
João (5): Isso somente aumentaria os custos de mão-de-obra e acabaria
causando desemprego. O que seria ainda pior !
Argumento de Maria
Premissa: Se aumentarmos o salário mínimo, as pessoas
ganharam o suficiente.
Premissa: Se as pessoas ganharem o suficiente, não dependerão
de gorjetas.
Conclusão: As pessoas poderiam arcar com suas necessidades
básicas mesmo se as gorjetas acabassem.
12. Argumentos
Premissas: Razões para sustentar uma conclusão.
Conclusão: Afirmação feita por uma das partes no diálogo em
resposta a uma questão ou proposição da outra parte.
Maria
João
O salário não precisa de
Gorjetas devem complemento e gorjetas
continuar podem parar
Complemento de Aumenta salário
salário mínimo
14. Ataques a um argumento
CONTRA-ARGUMENTO DÚVIDAS SOBRE O
ARGUMENTO
Ex: A proposta de Maria de Ex: Maria pergunta: Como
aumento do salário mínimo. julgar se o serviço merece ou
não gorjeta?
PROPOSIÇÃO
COMPROMISSO QUESTÃO
ÔNUS DA PROVA INFORMAÇÃO
16. Inconsistência: Princípio da Explosão
1. Morcegos são pássaros.
2. Então, Morcegos são pássaros ou vacas voam.
3. Morcegos não são pássaros.
C. Portanto, vacas voam.
17. Tipos de Argumentos
FORMAIS
1. Dedutivo: a verdade da conclusão segue necessariamente
se as premissas forem verdadeiras. Conclusão definitiva.
2. Indutivo: premissas verdadeiras tornam provável a verdade
da conclusão. Conclusão provável.
INFORMAL
1. Plausível: assumidos pressupostos de normalidade,
premissas verdadeiras tornam a conclusão é plausível.
Conclusão provisória.
18. Argumentos Dedutivos
MODUS PONENS (Afirmação do Antecedente)
Premissa: Se A, então B
Premissa: A
Conclusão: B
Se estudar TADI, então serei aprovado. Estudei, portanto fui
aprovado.
MODUS TOLLENS (Negação do Conseqüente)
Premissa: Se A, então B
Premissa: não-B
Conclusão: não-A
Se estudar TADI, então serei aprovado. Não fui aprovado,
portanto, não estudei.
19. Argumentos Dedutivos
SILOGISMO HIPOTÉTICO
Premissa: Se A, então B.
Premissa: Se B, então C.
Conclusão: Portanto, se A, então C.
Se estudar, serei aprovado em TADI. Se for aprovado em
TADI, poderei me formar na USP.
Portanto, se estudar, poderei me formar na USP.
20. Argumentos Indutivos
Premissa 1: Cães têm RNA.
Premissa 2: Humanos têm RNA.
Premissa 3: Orangotangos têm RNA.
Premissa 4: Samambaias têm RNA.
Premissa 5: Cangurus têm RNA.
Premissa 6: HIV têm RNA.
Conclusão: Todos os seres vivos têm RNA
21. Dedução, Indução, o Geral e o Particular
Dedução vai do geral para o particular.
Usualmente, mas não sempre!
Premissa: Aquele particular cachorro está correndo.
Conclusão: É possível que um cachorro corra.
Indução vai do particular para o geral.
Nem sempre !
Premissa: 85 % dos que cursaram TADI no ano passado
foram aprovados
Premissa: Conheci um colega do segundo ano.
Conclusão: É provável que ele tenha sido aprovado em
TADI no ano passado.
22. Argumentos Plausíveis
Premissa: Normalmente, um homem mais baixo e fraco não
ataca um outro maior e mais forte.
Premissa: Eu sou mais baixo e mais fraco.
Premissa: O outro é mais forte e mais alto.
Conclusão: Não é plausível que eu o tenha atacado
23. Argumentos Plausíveis
Premissa 1: Normalmente, um homem mais alto e mais forte
não atacaria um outro mais baixo e mais fraco, especialmente
se ele estiver consciente de que o caso poderia custar-lhe um
processo judicial.
Premissa 2: Eu sou mais alto e mais forte.
Premissa 3: O outro é mais fraco e mais baixo.
Premissa 4: Eu tinha consciência de que o caso poderia
custar-me um processo judicial.
Conclusão: Não é plausível que eu o tenha atacado
25. Condição de Conhecimento
Premissa 1: a está em condições que permitem saber se A é
falsa ou verdadeira.
Premissa 2: a afirma que A é verdadeira (falsa).
Conclusão: É plausível que A seja verdadeira (falsa).
Questões críticas:
1. a realmente tem condições de saber se A é falsa ou
verdadeira?
2. A fonte a é honesta e confiável?
3. a realmente afirmou que A é verdadeira (falsa) ?
26. Apelo à Opinião de um Especialista
Premissa 1: A fonte E é especialista no domínio D, que contém
a proposição A.
Premissa 2: E afirma que A é verdadeira (falsa) no domínio D.
Conclusão: É plausível que A possa ser considerada verdadeira
(falsa).
Questões críticas:
1. E é realmente um especialista?
2. E é mesmo um especialista num domínio D que contenha A ?
3. A afirmação de E realmente implica A?
4. E é uma fonte honesta e confiável?
5. A afirmação A é consistente com o que outros especialistas
afirmam?
6. A afirmação E é baseada em evidências experimentais?
27. Apelo ao Senso Comum
Premissa 1: A é geralmente aceita como verdadeira.
Premissa 2: Se A é geralmente aceita como verdadeira, então há
uma razão a favor de A.
Conclusão: Há uma razão a favor de A.
Questões críticas:
1. Que evidência há que justifique a afirmação de que “A é
geralmente aceita como verdadeira”?
2. Mesmo que A seja geralmente aceita como verdadeira, há
alguma boa razão para duvidarmos da veracidade de A?
28. Apelo à Prática Popular
Premissa 1: A é uma prática popular.
Premissa 2: Se A é uma prática popular, então há uma razão a
favor de A.
Conclusão: Há uma razão a favor de A.
29. Argumento por Analogia
Premissa 1: Geralmente, caso C1 é semelhante ao caso C2.
Premissa 2: A é verdadeira (falsa) no caso C1.
Conclusão: A é verdadeira(falsa) no caso C2.
Questões críticas:
1. Há diferenças entre C1 e C2 que poderiam enfraquecer a
semelhança adotada como premissa?
2. A é realmente verdadeira (falsa) em C1?
3. Existe algum outro caso C3, que também é semelhante a C1,
mas no qual A seja falsa (verdadeira)?
30. Argumento por Correlação
Premissa: Há uma correlação positiva entre A e B.
Conclusão: A é a causa de B.
Questões críticas:
1. Há realmente uma correlação entre A e B ?
2. Há alguma razão para acreditarmos que a correlação seja
mais do que mera coincidência?
3. Seria possível que um terceiro fator C estivesse causando
tanto A quanto B ?
31. Argumento por Conseqüências
Premissa: Se A ocorrer, é plausível que traga conseqüências
positivas (negativas).
Conclusão: A deve ser implementado (evitado).
Questões críticas:
1. Qual é a probabilidade ou quão plausíveis são as
conseqüências adotadas como premissa caso A ocorra?
2. Que evidências sustentam a conexão entre as conseqüências e
a ocorrência de A?
3. Há também conseqüência de natureza oposta que devam ser
levadas em conta?
32. Argumento por Reação em Cadeia
Premissa: A0 é a linha de ação em consideração.
Premissa: É plausível que a implementação de A0 nas
circunstâncias do momento leve a A1. É também plausível que
A1 leve a A2 e assim por diante em seqüência até An.
Premissa: An é desastroso.
Conclusão: A0 deve ser evitado.
Questões críticas:
1. As conexões entre cada passo na seqüência estão
explicitadas?
2. Que outros passos teriam que ser adicionados para tornar a
seqüência plausível?
3. Quais são os elos mais fracos na seqüência? Que questões
poderiam ser levantadas sobre estes elos?
33. Argumento por Sinalização
Premissa: A é verdadeira (foi observada como tal).
Premissa: A é geralmente um sinal de que B é também
verdadeira.
Conclusão: B é verdadeira
Questões críticas:
1. Qual é a intensidade da correlação entre A e B?
2. O sinal é indicador da veracidade de outras proposições que
não B?
34. Argumento por Comprometimento
Premissa: Pelo que diz ou faz, a está comprometido com a
proposição A.
Premissa: Geralmente, quando alguém está comprometido com
A também está com B.
Conclusão: a está comprometido com B
Questões críticas:
1. Que evidência temos de que a esteja realmente comprometido
com a proposição A?
2. Poderia haver exceções à regra geral de que quem esteja
comprometido com A também o está com B?
35. Argumento por Comprometimento
Inconsistente
Premissa: a afirma que está comprometido com A.
Premissa: Outras evidências indicam que em casos particulares
a não está realmente comprometido com A.
Conclusão: a é inconsistente em seus comprometimentos.
Questões críticas:
1. Que evidência temos de que a esteja realmente comprometido
com A?
2. Que evidências há que indiquem que a não esteja
comprometido com A?
3. Como as evidências de 1 e 2 provam que há inconsistência de
comprometimentos ?
36. Argumento Ad Hominem Direto
Premissa: a não é de caráter duvidoso.
Conclusão: O argumento de A não deveria ser aceito.
Questões críticas:
1. O quão justificada é a premissa?
2. O julgamento de caráter é relevante no tipo de diálogo no
qual o argumento está sendo utilizado?
3. As conclusões do argumento apresentado por a deveriam
mesmo ser rejeitadas dado o conjunto de evidências
apresentado?
37. Argumento Ad Hominem Circunstancial
Premissa: a defende o argumento α, que apresenta a proposição
A como conclusão.
Premissa: a é pessoalmente contrário a A, como é demonstrado
por suas ações e afirmações.
Premissa: A credibilidade de a como uma pessoa sincera que
acredita em seus próprios argumentos é questionável.
Conclusão: A plausibilidade do argumento α de a está reduzida
ou destruída.
38. Argumento Ad Hominem Circunstancial
Questões críticas:
1. Há algum par de compromissos que podem se sustentados por
evidência como sendo compromissos de a e que sejam
inconsistentes na prática?
2. É possível explicar esta inconsistência?
3. O argumento de a depende de sua credibilidade?
4. A conclusão mais importante é que a credibilidade de a está
abalada ou que a conclusão do argumento α é falsa?
39. Argumento por Classificação Verbal
Premissa: a tem a propriedade F
Premissa: Todo x que tem a propriedade F também pode ser
classificado como tendo a propriedade G.
Conclusão: a tem a propriedade G.
Questões críticas:
1. Que evidências temos de que a tenha a propriedade F?
2. A classificação proposta é clara o suficiente? Há algum viés
na classificação ou dúvidas sobre sua implementação?
40. Argumentum ad baculum
Premissa: Se você não fizer A, B irá ocorrer com você.
Premissa: Eu garantirei a implementação de B.
Conclusão: Você deve implementar A.
Questões críticas:
1. Quão ruins são as conseqüências?
2. Quão prováveis são as conseqüências?
3. A ameaça tem credibilidade?
4. A ameaça é relevante para o diálogo?
41. Apelo ao medo
Premissa: Aqui está uma situação que te causa medo.
Premissa: Se você fizer A, então a situação que te assusta se
concretizará.
Conclusão: Você não deve fazer A.
Questões críticas:
1. A situação realmente me amedronta?
2. Se não fizer A, isso realmente evitará a ocorrência da
situação?
3. Se fizer A qual é a probabilidade que mesmo assim a situação
ocorra?
4. A situação é relevante para o diálogo?
42. Viés e Linguagem Emocional
Eu sou firme, você é obstinado, ele é um idiota cabeça de bagre.
Eu tenho razões para estar indignado, você está chateado, ele
está fazendo muito barulho por nada.
Eu reconsiderei o assunto, você mudou de idéia, ele faltou com
sua palavra.
Bertrand Russell, Programa Brain Trust, Rádio BBC 1948
44. Tipos de Diálogos
Tipo Situação Inicial Objetivo dos Objetivo do diálogo
participantes
Persuasão Controvérsia Persuadir o Consenso
adversário
Investigação Necessidade Encontrar e Aceitação ou não
de prova verificar de uma hipótese
evidências
Negociação Conflito de interesses Conseguir o Acordo razoável
que se deseja para as partes
Busca de Necessidade de Adquirir ou Troca de
Informação informação fornecer informação
informação
Deliberação Dilema de escolha Coordenar Tomar a melhor
prático objetivos e decisão possível
ações
Erístico Conflito pessoal Atacar o Externalizar as
oponente origens mais
verbalmente profundas do
conflito
46. Falando Bobagem
Impostura: “Embuste enganador próximo da mentira, em especial por
meio de palavra ou ato pretencioso, em relação aos próprios pensamentos,
sentimentos ou atitudes” M. Black em The Prevalence of Humbug
Mentira: Mantém com parâmetro a verdade sobre aquilo que trata. Ou
seja, o mentiroso respeita a verdade, ou aquilo que crê ser a verdade, e busca
construir sua versão negativa. H. Frankfurt em On Bullshit
Bullshit: O indivíduo ignora completamente a distinção entre o
verdadeiro e falso, seu intento único é causar uma impressão no interlocutor.
O bullshiter não se submete às mesmas restrições do mentiroso já que não
conhece ou não se importa com a verdade e distingue-se do impostor pois
não possui crenças específicas sobre as quais, deliberadamente, planeja
enganar a audiência. H. Frankfurt em On Bullshit
47. Resumindo
1. O que é um argumento ?
2. Conceitos úteis para entender argumentos
3. Esquemas de argumentação
4. Tipos de diálogos
5. Sobre a falação de bobagens (On Bullshit)