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Ludonarrativa
Narrativas Lúdicas em abordagens qualitativas de pesquisa
Ludonarrative
playful narratives in qualitative research approaches
Rosemary L. Ramos
Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Departamento de Educação
Instituto Superior de Educação Ocidemnte – ISEO
Salvador/Bahia
rosel.ramos@gmail.com/ rosel.ramos@uol.com.br
Resumo — O presente artigo traz uma reflexão sobre a
Ludonarrativa, uma estratégia investigativa claramente
transgressora para o desenvolvimento de pesquisa autobiografica
com crianças e professores e apresenta o conceito de
Ludonarrativa para aproximar a experiencia estética do brincar
à narrativa das memórias lúdicas de docentes. Pretende-se, com
isto, contribuir com a consolidação e disseminação de uma
abordagem de pesquisa não convencional, alargando, ainda mais,
as fonteiras das abordagens de pesquisa qualitativa.
Notadamente, no campo da autobiografia, a linguagem oral e
escrita ainda são privilegiadas. Nesta proposição, destacamos e
fortalecemos uma forma diferenciada de narrar a si mesmo e as
memórias lúdicas, através de experiências ludicoestéticas.
Palavras Chave – ludonarrativa; pesquisa autobiográfica;
lúdico.
Abstract — This paper presents a reflection about the
Ludonarrative, an investigative strategy clearly transgressive for
the development of autobiographical research with children and
teatchers and presents the Ludonarrative concept to approximate
the aesthetic experience of playing to the narrative of teacher’s
ludic memories. It is intended to contribute with the
consolidation and dissemination of an unconventional approach
to research in order to extend even further the boundaries of
qualitative research approaches. The oral and written languages
are still notably privileged in the field of autobiography. In this
proposition we emphasize and strengthen a different way of
telling yourself and the ludic memories through ludicaesthetics
experiences.
Keywords - Ludonarrative; autobiographical research; ludic.
I. INTRODUÇÃO
Olhar para o passado nos auxilia a compreender o presente
e nos permite encontrar significados nas ações de hoje.
Recuperamos a memória individual e coletiva, ao tempo em
que criamos laços entre nossa história de vida e nossas escolhas
atuais.
Partindo desta premissa e com intenção de contribuir com
os estudos sobre abordagens qualitativas, o presente artigo
objetiva apresentar o conceito de ludonarrativa, tematizada a
partir do constructo teórico da pesquisa autobiográfica e da
ludicidade enquanto fenômeno do ser, especialmente no campo
da formação do professor. Com isto é possível aprofundar
reflexões sobre a importância das memórias lúdico-afetivas de
educadores e educadoras, em sua formação e constituição de
sua identidade.
A narrativa é tanto um fenômeno, quanto uma abordagem
de investigação e formação, porque parte das experiências e
dos fenômenos humanos advindos das mesmas. A
ludonarrativa, por sua vez, constitui-se em uma proposta para o
trabalho com as memórias de brincar dos indivíduos, como
estratégia de coleta e registro de dados sobre a constituição
identitária deste docente.
O diálogo sobre o conceito de ludonarrativa neste texto
parte de pesquisas realizadas com grupos de docentes em
formação, no percurso de 8 anos, aproximando a experiência
estética do brincar à narrativa das memórias lúdicas de
estudantes-docentes.
Na construção e proposição deste conceito, procedemos
uma significativa revisão bibliográfica quanto aos temas:
autobiografia e narrativas, com intenção de elucidar o conceito
de ludonarrativa. Pretendemos, com isto, contribuir com a
consolidação e disseminação de uma abordagem de pesquisa
não convencional, alargando, ainda mais, as fronteiras das
abordagens de pesquisa qualitativa.
Do ponto de vista metodológico, esta proposição é um
estudo de caráter teórico-reflexivo, deflagrada a partir de
experiências no campo da investigação sobre formação de
professores e ludicidade.
Este artigo organiza-se em 3 secções assim divididas: a
primeira denominada Abordagem autobiografica e pesquisa
faz uma breve reflexão sobre a autobiografia, categoria sobre a
qual se assenta a proposição do conceito de ludonarrativa. A
segunda, intitulada As narrativas como estratégia formativa
apresenta conceitos centrais do que seja narrativa, remetendo
ao conceito da autobiografia e a terceira, intitulada
Ludonarrativa: um conceito em discussão tematiza o objeto
central deste estudo, com intenção de contribuir com as
reflexões sobre abordagens qualitativas no processo
investigativo de formação de educadores.
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II. ABORDAGEM AUTOBIOGRÁFICA E PESQUISA
Qual a capacidade, do conjunto de referências teóricas e
metodológicas das ciências naturais para dar conta da
compreensão dos fenômenos sociais? Eis uma indagação feita
por muitos, contributiva para promover uma alteração
paradigmática favorecedora da utilização da memória e da
narrativa como fontes críveis de produção de conhecimento,
oferecendo campo para o surgimento da abordagem
autobiográfica, que, no campo da abordagem qualitativa,
cumpre o papel de renovar, metodologicamente, a pesquisa em
ciências humanas contrapondo-se, justamente, ao paradigma
dominante, que tem como pilares a objetividade e a
intencionalidade nomotética [1].
As potencialidades, contribuições e importância da
abordagem autobiográfica na perspectiva teórico-metodológica
vêm sendo tratadas, dentre diversos autores, por G. Pineau and
M. Marie, A. Nóvoa and M. Finger, P. Dominicé, F. Ferrarotti,
M-C. Josso, D. B. Catani e E.C. Souza. [2] [3] [4] [5] [6] [7].
Todos estes, salvaguardadas as especificidades de sua
construção teórica, abarcam como objeto de conhecimento e
fonte de formação a memória e a narrativa autobiográfica,
integrando, em suas construções teóricas, conhecimento,
narração, experiência e memória, defendendo, cada um em sua
própria perspectiva, seu uso como recurso de coleta e análise
de dados.
A pesquisa autobiográfica é uma modalidade discursiva
típica da modernidade, posicionando-se como um dos artefatos
culturais representantes da era moderna [8]. Ela
expressa o escrito da própria vida, caracterizando-se como
oposta à biografia, porque o sujeito desloca-se numa análise entre
o papel vivido de ator e autor de suas próprias experiências sem
que haja uma mediação externa de outros.[7]
Enquanto documento cultural, ao tempo em que revela o
indivíduo e sua formação cultural, constitui-se, também, uma
“estratégia de pesquisa” de campo na área das ciências
humanas.
Conhecer a si é uma etapa essencial para compreensão do
mundo, a partir de um processo de reflexão e (auto) formação.
Esta experiência é proporcionada pelas experiências
autobiográficas, quando o narrador conta suas experiências de
vida [4] e [5].
Comumente, as referências à autobiografia logo remetem
ao relato da vida da pessoa, a partir de sua memória individual.
Sobre isto há dois aspectos a considerar: primeiro, esta
memória não se encontra isolada ou fechada, pois na evocação
de seu passado o homem apoia-se em pontos de referências que
existem fora dele, na sociedade; segundo, as narrativas de
memórias revelam, na verdade, suas transformações através da
escrita e não a própria memória [9].
Multifacetada, viva, repleta de substância social,
teorizações, resíduos, perpassada pela dimensão temporal e de
experiências vividas, esta memória possui uma concretude
caleidoscópica, pois
lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com
imagens de hoje, as experiências do passado. A memória não é
sonho, é trabalho [10].
A autobiografia configura-se como um “campo”
significativo de expressão do indivíduo, constituído por
narrativas reveladoras e desveladoras das trajetórias de vida.
Esta narrativa, comumente designada narrativa autobiográfica,
favorece a autocompreensão, o conhecimento de si e do outro,
àquele que narra a história. Assim, nesta voz de rememoração
traz para o presente os fatos do passado, recompõe experiências
como indivíduo e manifesta a imagem que se tem e que se
deseja fixar de si. Para tal, apoia-se nas mais diversas
modalidades de textos - orais, escritos, audiovisuais - nos quais
o sujeito registra, reinventa e toma a si mesmo como objeto de
reflexão.
Depreendemos, pois, que trabalhar com metodologia e
fontes dessa natureza requer, do pesquisador, reconhecimento
da realidade multifacetária do viver humano, socialmente
construída por seres humanos que vivenciam a experiência de
modo integrado, em constante processo de autoconhecimento.
III. AS NARRATIVAS COMO ESTRATÉGIA DE PESQUISA E
FORMAÇÃO
A narrativa tem como objetivo superar a distância entre
compreender e explicar, caracterizando-se uma operação
mediadora da experiência viva e do discurso, a mediação entre
estrutura e acontecimento, representando um ponto de vista
particular [11].
Engana-se quem acredita que as narrativas se constituem
um trabalho solitário do narrador. A construção do
conhecimento de si carece do externo para ter sentido,
pressupondo a construção de relações tanto consigo, quanto
com os outros.
A adoção da “narrativa de si” como metodologia de
pesquisa significa reconhecer que “as experiências de vida
narradas constituem um referencial daquilo que foi apropriado
pelos sujeitos na sua história de vida” [11]. Compreende-se que
os relatos das próprias experiências impulsionam o narrador a
um processo de reflexão e (auto) formação.
A partir da narrativa de si, o narrador retoma sua história,
sua formação e sua atuação profissional para ressignificá-las.
Por tal especificidade, quer no ensino ou na pesquisa, tem sido
frequente o uso das narrativas como expediente para formação
docente (ou mesmo conhecimento, autoconhecimento, desta
formação.).
Tanto a linguagem oral, quanto a escrita tem sido
destacadas como estratégia narrativa. Comumente, a pesquisa
apropria-se da linguagem oral e o ensino, dos relatos escritos,
que se configuram memoriais de formação. Como afirmado, a
narrativa configura-se tanto como fenômeno, quanto uma
abordagem de investigação e formação, pois parte das
experiências e dos fenômenos humanos advindos dos mesmos
e se configuraram como técnica e procedimento de produção
de dados para investigação da formação e do trabalho docente.
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IV. LUDONARRATIVA: REVELANDO O CONCEITO
Neste trabalho, trazemos a proposição do conceito de
Ludonarrativa associado à pesquisa qualitativa, como um
conceito essencial vinculado a pesquisas autobiográficas, pois,
em nosso entendimento, e a partir de pesquisas já realizadas
com a formação docente para o trabalho com a ludicidade em
sala de aula da educação infantil e básica, constitui-se em uma
forma singular de contar e recontar sobre si mesmo.
O conceito de ludonarrativa é interfaceado por dois termos
lúdico e narrativa. O lúdico aqui é compreendido como “uma
experiência interna decorrente do envolvimento intenso, pleno
e integral dos seres humanos nos acontecimentos, que pode
existir em qualquer atividade humana — brincadeiras, jogos,
trabalho, etc., mediatizada por este sentimento de entrega à
ação” [12]. Narrativa compreende tanto o relato de si, quanto
ao que outros fazem de nós que se constituem a sua
representação da realidade e, como tal, estão abundantes de
significados e reinterpretações.
Ele surge a partir de experiências desenvolvidas no
percurso do doutoramento, em 2003, a partir do
questionamento sobre quais maneiras os jogos e brincadeiras
faziam-se presentes e se articulavam à prática educativa de
professores, identificamos uma “lacuna” da presença deste
lúdico no espaço escolar, especialmente educação infantil e
fundamental, o que nos remeteu a identificação de alguns
elementos deflagradores para este “furto do lúdico” [13].
Assim, difere do significado atribuído por C. Hocking [14].
As perguntas deflagradoras para o trabalho com a estratégia
que ora denomino ludonarrativa foram: como foi a infância
destas educadoras? Quais influencias da educação familiar em
suas experiências lúdicas da infância, antes da entrada na
escola? Quais vivenciou antes do ingresso a escola e em seu
percurso escolar? Qual a qualidade afetiva destas lembranças?
Diante da necessidade de compreender quais elementos
mobilizavam professores a favorecer (ou não) uma maior ou
menor aproximação, adoção, inserção e acolhimento das
experiências lúdicas em classes da educação básica,
desenvolvemos, no decorrer de 8 anos, um processo formativo
e investigativo com 16 grupos de docentes que cursavam o
componente curricular Ludologia, em cursos de graduação de
Pedagogia e Pós Graduação Lato Sensu (Especialização) de
Coordenação Pedagógica; Docência para o Ensino Superior e
Psicopedagogia.
Tais experiências revelou a necessidade e importância de
identificar e mobilizar os elementos motivadores para
acolhimento (ou não) do lúdico na classe destes docentes, a
partir do resgate das memórias das infâncias e do seu percurso
ludoformativo, ainda na educação básica. Assim, além de
estudar conceitualmente o brincar, construíamos artefatos
lúdicos, mas, sobretudo, trazíamos à tona as experiências da
infância através do que denomino ludonarrativas.
Dentre todas as experiências desenvolvidas em sala,
destacamos a redescoberta do lúdico escondido nas memórias
da infância destas estudantes-docentes ao revelarem
dificuldade em participar de certas brincadeiras e jogos, tais
como: barra manteiga e pula sela, por conta das lembranças de
sentimentos diversos, mobilizados durante a atividade, quando
era necessário que eu ficasse por perto, acolhendo o temor e
confrontando-o. Nisso, o calor das sensações de brincar e jogar
[15].
A riqueza de possibilidades que se põe quando há destaque
de situações, supressão de episódios, experiências sensoriais,
revela a tentativa de reforçar influências, negar etapas, lembrar
e esquecer, o que tem muito significado para a compreensão da
constituição da identidade docente e de sua prática.
À expressão das memórias de tais momentos, que
emergiam a partir de sons, texto, imagens, expressão corporal,
denominamos, inicialmente, de narrativas lúdicas e, neste
momento formativo, conceituo como ludonarrativas. Não se
trata de relatar oralmente o que sentiu a partir das experiências.
Mas, sim, de revelar sobre si, de contar sobre sua infância e
história com o brincar em seu percurso formativo através das
preferências lúdicas, do vazio da inexistência destas atividades,
das emoções reveladas enquanto brinca, canta, no percurso da
vivência estética com a ludicidade, agora enquanto adultos
[15].
O conceito ora tratado apoia-se na proposição
metodologicamente de uma “densificação” da narrativa [16]
que significa a possibilidade de explorá-la em variadas formas:
as micro-narrativas, as narrativas de frente para trás (inversão
da ordem cronológica) e as que apresentam os mesmos
acontecimentos de pontos de vista múltiplos, favorecendo a
construção de narrativas que permitam lidar, articuladamente,
com estruturas, sequência dos acontecimentos e intenções
conscientes dos atores.
Sem desconsiderar o valor do relato oral, mas, também,
apoiando-se nele, a ludonarrativa consiste no relato das
memórias lúdicas através do próprio brincar do indivíduo,
articulado às demais memórias da infância. Trata-se de contar
muito menos através do relato oral e, muito mais, a partir de
técnicas expressivas para contar e recontar sobre si, ouvir e
escutar o outro. O registro pode ser escrito ou desenhado, mas
também pode ser oral, corporal ou sonoro. O uso de recursos
imagéticos, como desenhos, objetos que mais gostam, permite
vislumbrar a riqueza e a história que reside em cada um de nós
e nos outros, concomitantemente, mantendo uma atmosfera
leve, desafiadora e divertida.
As ludonarrativas de professores que trabalham,
especialmente, com classes de educação infantil e primeiras
séries do ensino fundamental, inscrevem-se num campo
subjetivo e singular para compreender como a ludiciade se fez
presente em sua vida, a partir de sua memória individual, bem
como as marcas impressas através das experiências lúdicas
vividas no espaço escolar.
A experiência construída através das vivências lúdicas da
infância e no processo de escolarização [15] pode apresentar
contribuições significativas para a formação inicial deste
professor. A recuperação desta infância pode acontecer através
de diferentes modos e recursos: brinquedos, historias, cantigas,
participando (ou não) de jogos e brincadeiras, trazendo para o
grupo suas experiências lúdicas.
Como afirmado, o relato e partilha de tais memórias no
grupo acontecem a partir de múltiplas linguagens: o tipo de
brincadeira que recordava, o modo de jogar e ou brincar, as
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cantigas que se cantava em grupo, os brinquedos (alguns ainda
são guardados a sete chaves e doados aos filhos), revelando a
cultura lúdica de cada narrador. Estas “narrações lúdicas”, por
sua vez, podem ser registradas em diferentes formatos:
desenhos, pintura, linhas de tempo, livros da vida, diário de
brincadeiras, etc.).
Essas são experiências estéticas que permitem aos
partícipes o contato, de forma sensível e sentida, com suas
experiências com o brincar/jogar na infância, reveladas em
maior profundidade do que aquelas trazidas pelo relato oral.
Acreditamos que a utilização da ludonarrativa como
procedimento de expressão e recolha de fontes de informação
das memórias dos sujeitos e análise de dados favorece a
organização das experiências vividas através da preparação e
da construção que o ator faz para seu relato – oral ou escrito -,
configurando-se, também, uma prática reflexiva das
experiências, através da autoanálise empreendida enquanto
dispositivo de investigação e formação.
V. CONCLUSÕES
A potencialidade de se utilizar a ludonarrativa para o estudo
e pesquisa sobre o processo de constituição da identidade do
professor, bem como seu percurso formativo, revela-se a partir
da análise da presença do lúdico nas memórias e história de
vida, em situações nas quais interessem as mediações entre
experiência e memórias lúdicas, bem como formação e
experiência docente.
Um vasto corpo teórico já confirma a essencialidade da
presença do lúdico nos espaços educativos infantis. Porém,
acolher e assegurar sua presença significa muito mais do que
compreender conceitos, fatos e princípios. Implica desenvolver
a capacidade de compreensão do educador. E existem duas
formas de compreensão: a intelectual ou objetiva e a
compreensão humana intersubjetiva. Referimo-nos a segunda,
que implica e comporta empatia e identificação com o universo
infantil e lúdico.
E como desenvolver esta atitude empática e compreensiva?
Partindo da autorreflexão deflagradas pelas ludonarrativas, que
implicam a narrativa de si e a escuta do outro através de
múltiplos recursos lúdicos e permitem revisitar ideologias, e
reconhecer o lugar de suas escolhas pedagógicas, do
acolhimento ou não das atividades lúdicas em seu cotidiano.
A ludicidade se revela como uma experiência estética entre
o sujeito e o ato ou objeto de brincar. As ludonarrativas trazem
desde lembranças de brincadeiras e brinquedos associados a
experiências de gênero, espaços lúdicos e tempo para brincar,
até formas de compreensão dos educadores acerca da atividade
lúdica na infância contemporânea.
Não há como deixar de considerar a relevância do olhar
sobre as memórias lúdicas de infância de professores,
especialmente por considerar seu autopotencial formativo. Para
G. Bachelard [17] a infância é o poço do ser. Nesta ótica,
compreendemos que o adulto que escreve suas memórias
"inventadas" a partir de sua ludonarrativa, torna-se um
“caçador de achadouros de infância” [18].
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Instituto Superior de Educação Ocidemnte
e demais instituições de ensino, bem como às estudantes-
discentes, por acolherem e acreditarem na realização do
trabalho de formação e investigação, na disciplina Ludologia,
contribuindo para o deflagrar da proposição tematizada neste
artigo. Destacamos, em especial, a importância do mergulho e
participação das estudantes-docentes na experiência de
formação e investigação, revelando seus “tesouros e
achadouros da infância” e trazendo muito de si para o grupo.
Contribuíram de forma significativa com o desenvolvimento da
abordagem metodológica que ora se apresenta, denominada por
nós, Ludonarrativa.
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