O documento descreve vários comportamentos humanos considerados esquisitos, incluindo o asseptico, que é obcessivo com higiene; o inseguro, que vive com medo constante; e o inconsequente, que não leva compromissos a sério.
1. Os Esquisitos Comportamentos Humanos
Carlos Del Niro
DEL NIRO, Carlos. OS ESQUISITOS COMPORTAMENTOS HUMANOS.
Câmara Brasileira do Livro: São Paulo, 1983
Os gregos são bastante imaginosos. Eram-no muito mais na chamada Grécia
Clássica. Então corria uma lenda, uma das muitas, cuja alegoria figurava pelo
seguinte feitio: em algum lugar da Hélade havia um lago de águas límpidas, ao
fundo do qual habitava uma donzela cuja formosura se vislumbrava através da
água. A essa linda mulher os helenos deram o nome de Verdade. A cada
passo aumentavam as romarias daqueles que desejavam ver da Verdade,
ainda que em meio obnubilada pela densidade do volume de água do lago. Um
dia, a multidão de peregrinos suplicou para que a jovem aflorasse à tona do
lado e tal foi a veemência da conclamação popular que a moça resolveu
mostrar-se, aparecendo em toda a sua exuberante nudez. Eis quando, ferindo
o pudor do povaréu pela circunstância de estar inteiramente despida, foi a
Verdade instada a voltar ao fundo do lago para não escandalizar a sociedade –
a mesma sociedade que tanto e sempre se obstina em conhecê-la...
O “Gramaticida”
É uma questã de menas importância para quem está ao par de tudo.
“...ao meio dia e meio”.
“...coloque apenas a sua rúbrica”
“...faço questã que lhe conheçam”
“...deveríamos gastar menas tinta”
“...maconha é um tóchico”
“...eu sou um tanto acético sobre isso”
“...nas moedas imperiais, dá gosto de ver a esfinge do Imperador”
“...quando ele iniciou seu curso de advogacia”
“...ele teve algumas complicações com a veia orta”
“... ela não foi apanhada em fragrante”;
“...deve ter ficado no local uma flagrância”;
2. O Asséptico
Assepsia a qualquer custo; prevenido contra infecções! Esse é o seu grande
ideal, isto é, sua grande batalha.
Este hábito está fundamentado no fato de que as mãos são mensageiros
certeiros de infecções e, praticamente, as únicas partes do corpo que têm
contato com a boca.
No caso de pegar em dinheiro, geralmente considera que somente o seu não
está sujo.
E como dizer das mãos dos outros? O comportamento desse tipo de pessoa
em festas é dos mais curiosos e dramáticos: fica a observar as mãos de todos.
O que elas pegam. Se as pessoas limpam-nas no guardanapo ou na toalha da
mesa; se apenas esfregam-nas à guisa de limpeza e isso, para ele não vale,
porque, ao contrario do ditado: “uma mão suja a outra”.
Outro ponto que sempre analisa são os copos. Chega até a pensar que os
copos deveriam ser numerados para que se evitasse o problema. Quem sabe,
cada um levar o seu próprio copo de casa?
Não usa o telefone público em hipótese alguma.
O clube serve somente para tomar sol. Todos os outros materiais estão
poluídos; bola, raquete, e o que dizer do baralho? Entrar na piscina? De jeito
nenhum. Se for jogado na água pelos companheiros, então a coisa se torna
trágica...
Quando aparece uma mosca errante em sua casa ele decreta um verdadeiro
estado de sítio e conseqüente mobilização geral, até que o inimigo seja
expulso, que após isso se dá inicio o processo de desinfecção e expurgo da
área.
O Inseguro
Se alguém o encara, ele finge que está olhando o chão.
Seus olhos estão sempre a se mover, para cima, para baixo, para os lados. Em
verdade eles não se fixam em qualquer ponto. São absolutamente móveis e
inquietos deixando transparecer que estão efetuando um constante
levantamento de todos os objetos e pessoas circundantes.
Toma sempre cuidados com a saúde e em relação à segurança de sua casa.
Trincos sofisticados, cadeados e travas nas janelas, cortinas revisadas
constantemente, talheres arredondados para evitar ferimentos, etc.
Caminha pensando: “por que aquela pessoa me olhou daquela maneira?”
E se mora em apartamento? Apartamento é mais seguro, mas e o elevador?
Qualquer tipo de esporte é evitado, porque os choques, quedas, revides, são
quase que inevitáveis. Sempre vê nas pessoas potenciais agressores.
É adepto fervoroso do “calar é ouro”, e em razão disso, concluiu que o melhor é
não emitir opiniões para não incidir em erro. Assim, quem afirma, pode estar
errado enquanto que, quem se cala não erra. E mais, quem se cala, não erra e
evita conflitos.
3. Alimenta sempre um medo de perder suas coisas, portanto, a todo momento
realiza “balanços” em seus pertences, tais como relógio, carteira, óculos, lenço,
livros, pastas, etc.
O mais imediato ruído ou barulho estranho causa-lhe de imediato, reação de
susto. O pior é que o barulho sequer chamou a atenção dos outros e, portanto,
sua reação de susto é que causa espanto porque os outros ficam sem saber a
razão de ele ter-se perturbado tanto.
O Instável
Em ultima análise, trata-se de um “pavio curto”.
Via de regra é pessoa de sensibilidade, altamente prestativa a ponto de não
medir esforços no sentido de colaborar, quando necessário. O problema é que
seu temperamento é difícil e instável. Não se trata de uma pessoa mal
humorada ou bem humorada, de certa forma, é possível até arriscar, a
classificação de pessoa sempre alegre e bem humorada.
Se a conversa se torna acalorada em função de conceito emitido por ele,
mesmo que errado, o “duelo” é elevado às alturas. Sim, porque o falar alto, dá
lugar ao gritar.
Seu circulo de relações está sempre de sobreaviso porque, que qualquer
momento, ou a propósito de alguma coisa sem importância, pode acontecer a
“explosão”.
De forma alguma esta pessoa pode estar incluída no rol das rancorosas,
simplesmente porque é incapaz de guardar rancor de quem quer que seja. O
que não consegue guardar, mesmo, são as tais “explosões”; esse rompantes
podem ocorrer em qualquer hora ou lugar.
O Subserviente
Ele não sabe e jamais aprendeu a dizer não
Sente uma estranha e incontrolável compulsão em agradar, de servir, de
elogiar, mas tudo isso, colocando-se sempre por baixo e sempre procurando
ver nos outros, qualidades, virtudes e posses que, em realidade, talvez nem as
tenham.
Durante a conversa, fica balançando a cabeça em sinal de aprovação a tudo
que se fala ou se comenta. Até que alguém lhe pede a opinião sobre qualquer
assunto e ele, por precaução e por formação, prefere, é claro, endossar a
opinião do dono da casa, mesmo que esta seja um grande disparate.
4. O Indiscreto
Súbito, abre-se a porta e ele chega. Todos se preparam para uma longa noite
de inconveniências.
Para se lembrar de qual sujeito estamos falando, lembre-se daquele que
aparece e, sutilmente, vai atrapalhando a linha de pensamento, com perguntas,
movimentos, mexendo nos papeis e querendo saber de que se trata.
Adora em reuniões sociais, interromper e, sempre em alto som, ou gritando,
costuma dizer suas opiniões para que todos ouçam.
Em festas por exemplo, após pererecar para lá e para cá, detém-se em algum
grupinho e dispara a seguinte pergunta: sobre o que vocês estão
conversando?...
Fica sempre mirando uma bolsa aberta para tentar ver seu conteúdo.
O Inconseqüente
Desde criança já manifestava sua acentuada tendência a não esquentar a
cabeça com nada e por nada.
Quantas e quantas vezes, tendo feito um trabalho importante e que demandara
tempo e esforço, simplesmente esquecia-se de entrega-lo. É claro que depois
que isso acontecia, colocava a culpa na intransigência do professor.
Quando perguntado pelo pai sobre onde estava o recibo de pagamento da
escola, sabia que o guardara em algum lugar, mas não conseguia lembrar-se
onde. É curioso que em muitas vezes em que ao procurar o recibo, acabava
encontrando o próprio cheque.
O Papo-furado
Apresenta uma gama bastante rica em nada. É aquele que promete para não
cumprir. Aqueles que o cercam já aprenderam a se defender de suas
investidas; simplesmente não dando critério ao que ele fala.
O Perdulário
Sua queda mesmo é por um equipamento completo. Pode se apresentar de
vários aspectos: aquele que gasta em excesso, aquele que dissipa, aquele que
esbanja, aquele que é gastador e, finalmente, o extravagante. E este é aquele
que gasta em necessidade, sem pensar, sem refletir. Gasta pelo fato de gastar,
apenas atendo aos impulsos momentâneos que o levam a adquirir coisas que,
em realidade, seriam perfeitamente dispensáveis. Compra porque achou
bonito.
Quantas e quantas vezes ele adquiriu roupas que achava interessantes, mas
logo estes deixam de ser interessantes e encosta-os.
5. O Pessimista
Costuma dizer: “Não que eu seja do contra, isso não, mas é que as coisas
acontecem mesmo, e vão acontecendo, sabe como é; por isso não é bom ter
ilusões ou fantasias porque, quando menos se espera ali está a coisa
acontecendo, sabe como é...”
Em verdade, seu espírito de companheirismo é dos mais precários, ele chega a
ser excessivamente chato e inconveniente.
Suas namoradas têm que andar num cortado daqueles se, porventura,
alimentam alguma aspiração ao casamento. Ele é arisco, não se compromete
por inteiro, ele coloca obstáculos em tudo.
Uma coisa é certa é uma pessoa muita esforçada, sempre se esforça em
objetivos expressivos: concursos, vestibular, etc. Porém mesmo conseguindo o
almejado objetivo, costuma dizer: “Quero ver se eu agüento essa!”.
O Espaçoso
Ele não está nem aí com os compromissos. É o folgado.
O Cacoete
Ele conta os automóveis. E a cada cem amarelos, puxa uma das orelhas.
Os tiques dessa pessoa muitas vezes a levam a situações vexatórias; são
assustadores e ridículos ao mesmo tempo. Rodopiar nos calcanhares, caretas
esdrúxulas, pular de leve em um pé, etc. Pode até passar pela casa passando
o dedo em todos os objetos que encontrar como se estivesse benzendo-os.
Outro interessante é a mania de piscar mais do que o normal. Mas, como
somente piscar acrescentando-lhe, até, um certo “ritual cabalístico”. É o
seguinte: pisca, puxa o canto da boca e completa o movimento tocando a ponta
do nariz com o dedo indicador. Quando escreve põe a língua para fora e fica
mordendo-a como se ela, a língua, fosse a “mola propulsora” da escrita.
Dobra-se sempre em locais públicos, costuma coçar a cintura com os
cotovelos. Sem contar as vezes que foi obrigado a se controlar um pouco,
porque várias vezes tropeçou nas próprias pernas e até chegou a se estatelar
no chão; para vergonha ou alegria dos outros. Pois é, porque enquanto
caminha, a cada número de passos, pára, levanta levemente o pé direito e
coça o tornozelo esquerdo com a ponta do pé direito, isso sem contar aquele
que rói as unhas furiosamente...