A Carta da Amazônia Brasileira, documento discutido durante os três dias do encontro, que reúne cerca de 400 participantes dos nove Estados da Amazônia Legal, entre membros dos grupos majoritários reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), secretários de Meio Ambiente e representantes da sociedade, será aprovada pelos governadores. A carta será entregue para o Governo Federal, na pessoa da presidenta Dilma Rousseff e ministros de Estado, assim como para representantes do alto escalão das Nações Unidas.
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
Carta dos governadores
1. Carta dos Governadores da Amazônia
Os Governadores dos Estados da Amazônia Legal abaixo subscritos, reunidos
durante o Fórum dos Governadores, realizado no dia 01 de junho de 2012, na cidade
de Manaus – AM, após uma série de encontros e debates acerca do desenvolvimento
sustentável e redução da pobreza na região amazônica, questões também vinculadas
aos temas centrais da Conferência das Nações Unidas, tem a manifestar as seguintes
considerações e recomendações perante a Presidência da República:
Considerando a extensa e valiosa discussão que envolveu a Carta do
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Brasileira (Carta da Amazônia),
elaborada por representantes da sociedade Brasileira, neste ato reconhecida pelos
Governadores dos Estados Amazônicos;
Considerando que a Amazônia é dotada de rico patrimônio social, cultural, e de
recursos naturais, exercendo, ainda, papel estratégico de expressão planetária;
Considerando o apoio dos Governadores a Política Energética da Presidenta da
República, que tem ampliado os investimentos na região, especialmente os relacionados
às fontes de energia hídrica e demais fontes de energia renovável;
Considerando que o Plano Amazônia Sustentável – PAS, lançado em 2008
pelo Governo Federal Brasileiro, elaborado em parceria com os estados da região
amazônica, deve ser revisto e utilizado como base estratégica para os diálogos futuros;
Considerando que os modelos de desenvolvimento, até hoje direcionados para a
Amazônia, tem resultado em baixos Índices de Desenvolvimento Humano - IDH (apenas
8% do PIB nacional, para uma região que representa 60% do território brasileiro),
fazendo-se necessário ampliar os investimentos do PAC para contemplar a inclusão
social;
Considerando que a Amazônia tem feito sua parte no esforço para evitar as
mudanças climáticas, reduzindo em 80% o desmatamento (média dos últimos cinco
anos), o que significa a maior contribuição registrada para a redução de gases do efeito
estufa, desde o Protocolo de Kyoto.
Diante do exposto, os Governadores propõem criar: 1) o Conselho de
Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia, composto pelo conjunto dos estados
amazônicos, em plena parceria com a União, municípios e representantes da sociedade
civil da região, para ser o espaço permanente de diálogo e compromissos com a região
amazônica e 2) o PAC Florestal - Programa de Aceleração do Crescimento da
Economia Florestal na Amazônia, com o objetivo de impulsionar o crescimento do setor
florestal.
As propostas a serem discutidas e priorizadas no Conselho de
Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia e no PAC Florestal estão explicitadas em
anexo, visando garantir recursos, políticas e ações concretas que, de fato, possibilitem a
2. diminuição das desigualdades sociais e econômicas da região subsidiando a formulação
de um Projeto Nacional para a Amazônia, pautado nos seguintes princípios:
1. Conhecer para melhor conservar;
2. Reconhecer os direitos humanos e o papel das populações amazônicas nas
decisões, benefícios e defesa do processo de desenvolvimento;
3. Valorizar os diferentes caminhos para o desenvolvimento sustentável, segundo
as condições históricas, geográficas e culturais da Amazônia;
4. Assegurar a reprodução do conhecimento tradicional e da conservação da
biodiversidade;
5. Estabelecer práticas produtivas de agregação de valor territorialmente
responsáveis, inovadoras e inclusivas;
6. Garantir, na Amazônia, a formação de recursos humanos e a produção de
novos conhecimentos científicos e tecnologias sobre a região, como base para
inovação;
7. Reconhecer o papel dos núcleos urbanos como irradiadores de serviços
sociais, de produção responsável e centros logísticos.
Manaus, 1º de junho de 2012.
Sebastião Afonso Viana M. Neves Carlos Camilo G. Capiberibe Omar Abdel Aziz
Governador do Estado do Governador do Estado do Governador do Estado do
Acre Amapá Amazonas
Simão Robison O. Jatene Roseana Sarney Murad Silval da Cunha Barbosa
Governador do Estado do Governadora do Estado do Governador do Estado do
Pará Maranhão Mato Grosso
José de Anchieta Júnior Confúcio Aires Moura José Wilson Siqueira Campos
Governador do Estado de Governador do Estado de Governador do Estado do
Roraima Rondônia Tocantins
3. ANEXO
PAC FLORESTAL - Programa de Aceleração do Crescimento da Economia
Florestal na Amazônia
O Programa objetiva impulsionar o crescimento do setor florestal na Amazônia,
através de:
Regularização fundiária e ambiental;
Incentivo ao Manejo Florestal de Uso Múltiplo;
Recuperação de passivos ambientais;
Implantação de sistemas agroflorestais, agrosilvipastoris e plantios florestais;
Industrialização dos produtos florestais e agregação de valor local;
Economia da floresta tendo como base para inovação, os conhecimentos
tradicional, científico e tecnológico;
A valoração e o pagamento por serviços ambientais;
Inclusão produtiva das famílias usuárias de florestas;
Fortalecimento da gestão e criação e/ou consolidação de Áreas Protegidas da
Amazônia e de assentamentos diferenciados (Projetos Agroextrativistas-PAE;
Projetos Agroflorestais-PAF e Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis-
PDS);
Apoiar a implementação das concessões florestais;
Fortalecer as cadeias da sociobiodiversidade;
Revisar a legislação, visando sua adequação para o favorecimento do uso
sustentável da floresta;
Intensificar a capacitação técnica multisetorial de recursos humanos.
Ações na Região de Fronteira
Fortalecer e implantar novas estratégias e planos de ação de inteligência nas
áreas fronteiriças da Amazônia, com ênfase no combate ao tráfico de drogas
e outros ilícitos;
Incluir os Estados da Amazônia nas discussões de fronteira, ambientais,
sanitárias e de defesa;
Melhorar os sistemas de saúde nas fronteiras da Amazônia contribuindo para
a integração das cidades e países sul-americanos.
4. Infraestrutura e Logística
Implantar programa de incentivo à aviação regional e hidroaviação, como
instrumento de integração dos estados amazônicos, interligando-os com
outras regiões brasileiras;
Incentivar a multimodalidade do transporte na região amazônica, priorizando
hidrovia, ferrovia, navegação de cabotagem e aviação, de acordo com a
diversidade regional.
Planejar a implementação do potencial energético (hidrelétrica, eólica, solar,
marés) da Amazônia de acordo com a diversidade regional;
Implantar programa de fortalecimento e atração de indústrias para agregar
valor aos produtos regionais, como base para a consolidação de cadeias
produtivas sustentáveis;
Estabelecer um Programa Espacial para a Amazônia que inclua participação
no desenvolvimento e gestão de satélite geoestacionário de banda larga,
comunicações, defesa das fronteiras e satélite de sensoriamento radar.
Regularização Fundiária e Gestão Territorial
Fortalecer e agilizar o processo de regularização fundiária, estabelecendo
parceria entre os Governos Estaduais e Federal para a busca de soluções
conjuntas que visem à implementação efetiva da regularização fundiária;
Fortalecimento do Macrozoneamento da Amazônia Legal, mediante o seu
detalhamento e consolidação institucional.
Saúde e Educação
Repactuar os compromissos das políticas públicas para a saúde e educação;
Estabelecer valor diferenciado para o interior da Amazônia nas ações de
saúde e educação;
Flexibilizar, através de Medida Provisória, o trabalho de médicos estrangeiros
para a região Amazônica;
Incluir conteúdo regionalizado sobre a diversidade cultural, histórica e
geográfica da Amazônia, assim como educação ambiental e o manejo
sustentável de recursos naturais nos programas de ensino, em todos os
níveis de formação;
Destinar parte dos recursos de pesquisa e desenvolvimento dos projetos de
geração de energia elétrica para Universidades Estaduais e/ou Federais do
Estado amazônico que abriga o empreendimento de energia;
Incentivar e apoiar a criação e manutenção de cursos de mestrado e
doutorado, nas universidades estaduais e federais dos estados da Amazônia,
5. voltados para áreas científicas, tecnológicas e de gestão de recursos da
sociobiodiversidade amazônica.
Incentivos Econômicos e Fiscais
Ampliar os recursos do Fundo de Participação dos Estados-FPE, com a
inclusão da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido-CSLL, na base da
distribuição;
Criar o Fundo de Estabilidade que garanta o ressarcimento de eventuais
perdas de receita em decorrência das novas normas de distribuição do FPE;
Criar o Fundo de Desenvolvimento Sustentável que garanta o cumprimento
do preceito constitucional de busca efetiva pelo equilíbrio socioeconômico
entre os entes federados (considerar redução do desmatamento ilegal,
percentual de áreas protegidas e terras indígenas);
Criar o Fundo de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Amazônia,
com foco na resposta a eventos climáticos extremos;
Promover a Reforma Tributária com ressarcimento das perdas em
decorrência da desoneração da Lei Kandir, regras mais justas de partilha
entre estados de origem e destino do ICMS nas vendas interestaduais ao
consumidor final, destinação de parte do ICMS de energia para os estados
produtores e distribuição equitativa dos royalties do petróleo;
Estabelecer Marco Regulatório que incorpore os ativos ambientais na
contabilidade dos estados;
Criar Fundo de Gestão Ambiental, destinado aos Estados e Municípios da
região Amazônica, a exemplo dos diversos fundos existentes nas áreas de
saúde e de educação;
Instituir royaties de uso da água na produção de energia elétrica.
Fundo Amazônia
Agilizar a análise e aprovação dos projetos, com ênfase em ações mais
estruturantes para os estados;
Incluir a aplicação dos recursos do Fundo da Amazônia para Amazônia Legal,
independente do conceito de Bioma.
Estratégia de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e Sistema Nacional
de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal-
REDD+
Criar marco legal e regulatório para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA),
com mecanismos concretos de transferência de recursos aos estados da Amazônia
que reduzirem as taxas de desmatamento, colocando em regime de urgência os
6. Projetos de Lei sobre a matéria que tramitam no Congresso, assim como elevar o
apoio aos estados que tem investido na conservação de seus estoques florestais;
Elaborar e implantar, em conjunto com os estados amazônicos, o Sistema Nacional
de REDD+, que contribua para uma redução consistente e efetiva das emissões de
Gases de Efeito Estufa - GEE oriundas do desmatamento e promova a
conservação florestal, benefícios climáticos e socioambientais, colocando em
regime de urgência os Projetos de Lei sobre a matéria que tramitam no Congresso.
Ciência e Tecnologia
Implementar um programa vigoroso (pesquisa básica e aplicada) para
fortalecimento da ciência, tecnologia e inovação na região, como forma de
traduzir a grande riqueza da biodiversidade em produtos competitivos e de
alto valor agregado, dinamizando a economia regional;
Discutir formas para ampliar o conhecimento na região;
Fortalecer e multiplicar centros de engenharia, adequados às condições
regionais (naval, portos, comunicação).
Centro de Biotecnologia da Amazônia-CBA
Criar uma solução para a gestão institucional do Centro de Biotecnologia da
Amazônia-CBA, que permita sua implementação e atuação de maneira
concreta, por meio da bioprospecção de produtos da sociobiodiversidade e o
desenvolvimento de novas tecnologias, patentes, produtos e cadeias
produtivas.
Agricultura Sustentável
Apoiar o desenvolvimento da agricultura da Amazônia, criando condições
para aumentar sua competitividade, ampliando os investimentos em
recuperação de áreas alteradas e o acesso aos recursos para a Agricultura de
Baixo Carbono-ABC pelos produtores rurais da Amazônia, agregando valor
aos produtos e melhorando a distribuição de renda e de benefícios auferidos
com o uso dos recursos naturais.
Manejo da Pesca e Aquicultura
Implantar arranjo institucional e políticas públicas que viabilizem o
fortalecimento da produção do manejo da pesca e a aquicultura.
Política Indígena
Assegurar a implantação da Política Nacional de Gestão Territorial e
Ambiental de Terras Indígenas-PNGATI;
Investir em programas sociais, especialmente saúde e educação, para as
populações indígenas.
7. Áreas Urbanas
Apoiar investimentos para a melhoria da infraestrutura, com ênfase em
mobilidade humana, energia, habitação e saneamento;
Desenvolver tecnologia adequada para saneamento ambiental e saúde
pública, considerando as dificuldades climáticas e logísticas da região, com
ênfase na construção de aterros sanitários, coleta seletiva, abastecimento de
água, de acordo com a realidade local.