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FACULDADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA




      DONS E MINISTÉRIOS
  uma estrutura organizacional que
   visa a realizar a missão de Deus



                                    por




                      Paulo Dias Nogueira




Trabalho apresentado à Congregação da Faculdade de Teologia como requisito para
                  conclusão do Curso de Bacharel em Teologia
                   São Bernardo do Campo, outubro de 1994
A comissão tendo examinado o           presente
Trabalho Final de Curso, o considera


_________________




_______________________
Prof. Clovis Pinto de Castro
Orientador




_______________________
Prof. José Carlos de Souza




_______________________
Prof. Hélerson Bastos Rodrigues




                                             2
DEDICATÓRIA



À minha querida esposa Valéria Aparecida dos

Santos Nogueira, que com muito carinho e

compreensão compartilhou comigo os momentos

difíceis de minha formação teológico-pastoral. A

você todo o meu amor e gratidão pela amizade,

paciência,   tolerância,   companheirismo      e

colaboração em momentos de necessidade.


“As muitas águas não poderão apagar o nosso

amor, nem os rio afogá-lo”. Ct 7.8

Aos meus pais, Gildo Nogueira e Maria Dias

Nogueira, pelo carinho com que me educaram.

Sou grato por todo o vosso amor e apoio. A

vocês todo o meu amor e admiração.


Às minhas irmãs, Patrícia, Perla e Priscila, pelo

apoio e incentivo dispensados nestes anos.




                                               3
AGRADECIMENTOS



A Deus...


... pelo privilégio concedido ao me vocacionar

para o ministério pastoral;


... pelo sustento que me propiciou nestes anos de

formação.


À    Igreja   Metodista       na   Quinta   Região

Eclesiástica, que possibilitou minha vinda à
Faculdade de Teologia.


Ao meu orientador, professor Clovis Pinto de

Castro, pela disponibilidade e amizade.

Aos leitores, professor José Carlos de Souza e

professor Hélerson Bastos Rodrigues pelas

sugestões e orientações dispensadas.


À Rosilei Mantovani amiga e digitadora destas

páginas.




                                                4
ÍNDICE


Introdução ...................................................................................................................       07
Capítulo 1
Dons e Ministérios - Uma Igreja que busca realizar a Missão de Deus .....................                                            10
1. “De olho no retrovisor” ..........................................................................................                11
    1.1. Uma missão norte-americana..........................................................................                        11
    1.2. Em busca de autonomia ..................................................................................                    13
    1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a Missão .....                                                    15
    1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja ....                                                 18
          1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal 1974-1978) ............................                                       19
          1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas evangelizam (Plano Quadrienal
          1979-1982) ....................................................................................................            21
          1.4.3. Plano para a Vida e a Missão da Igreja - 1982 .....................................                                 24
          1.4.4. As práticas de algumas Igrejas .............................................................                        29
Capítulo 2
Dons e Ministérios - A Bíblia e a História como fontes inspiradoras .......................                                          32
1. Dons e Ministérios na Bíblia .................................................................................                    33
    1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios ................................................                                35
          1.1.1. Definição das fontes paulinas ...............................................................                       35
          1.1.2. O uso da palavra dom (charisma) .........................................................                           36
          1.1.3. O uso das palavras Ministério e Ministro ............................................                               39
          1.1.4. A estrutura carismática da eclesiologia paulina ...................................                                 43
                   1.1.4.a. As listas dos carismas em Paulo ..............................................                           45



                                                                                                                                 5
1.1.4.b. O carisma como “estrutura estruturante da comunidade” ........                                          47
                   1.1.4.c. Instruções paulinas à igreja de Corinto ....................................                            50
2. Dons e Ministérios na História da Igreja Cristã ....................................................                             52
    2.1. Dons e Ministérios na Reforma Protestante ...................................................                              53
          2.1.1. O povo participa ativamente do culto ...................................................                           55
          2.1.2. Tradução da Bíblia para o alemão ........................................................                          56
          2.1.3. O lar como espaço para a instrução religiosa .......................................                               56
          2.1.4. A igualdade dos cristãos diante de Deus. Todos são sacerdotes ..........                                           57
    2.2. Dons e Ministérios no Movimento Wesleyano do século XVIII ....................                                             60


Capítulo 3
Dons e Ministérios - Uma estrutura organizacional participativa e missionária .......                                               65


Conclusão ...................................................................................................................       75


Bibliografia ................................................................................................................       77




                                                                                                                                6
INTRODUÇÃO



         A Igreja Metodista tem por princípio administrativo reunir-se periodicamente

em concílios, para tratar de assuntos referentes à sua vida e missão. Os concílios são

"órgãos jurisdicionais",1 e constituem-se em três, a saber: Concílio Geral, Concílio

Regional e Concílio Local. O Concílio Geral é considerado "órgão superior de

unidade da Igreja e suas funções são legislativas, deliberativas e administrativas".2


         No mês de julho de 1987, a Igreja Metodista se reuniu na cidade de São

Bernardo do Campo (SP), para realizar o seu XIV Concílio Geral. Concílio este que

tomou algumas decisões visando a organizar a igreja em Dons e Ministérios, uma
sistemática que optou, explicitamente, por um novo modelo de igreja.


         No texto "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", vemos os Bispos

relembrarem algumas das decisões deste XIV Concílio Geral.


                  O Concílio Geral da Igreja Metodista em 1987 tomou
                  algumas decisões visando organizar a Igreja em Dons e
                  Ministérios. a) Reafirmou o princípio conciliar para todos
                  os níveis, inclusive igreja local e a descentralização do
                  poder; b) a igreja local deixou de ser vista como uma
                  unidade institucional, e sim como "Comunidade de fé"; c)
                  enfatizou o sacerdócio universal de todos os crentes e a
                  necessidade de todos se envolverem na Missão; d)
                  reafirmou o conceito de Igreja e Missão percebida nos

1IGREJA     METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992, p. 16.
2Idem,   p. 163 (artigo 54).


                                                                                               7
últimos anos e presente no "Plano para a vida e a missão da
                Igreja"; e) reafirmou a unidade da Igreja e o princípio
                Metodista de conexionalidade.
                A igreja local é, assim, desafiada a dar oportunidades iguais
                a seus membros, de modo que expressem seus dons através
                de serviços prestados à comunidade e circunvizinhanças.
                Esse é o objetivo da Igreja de Dons e Ministérios. Dons que
                habilitam para o serviço, práticas que correspondam ao
                evangelho que é pregado. Com isso, surge uma exigência
                de maior liberdade de organização, a fim de utilizar os dons
                presentes nas comunidades, e a fim de atender às
                necessidades de serviço ao povo.3


      Este Concílio Geral (1987), no que compete à sua capacidade de legislar,4

procurou ser mais enfático no que diz respeito à participação do laicato nos diferentes

ministérios, colocando entre os deveres dos membros:


                7. Reconhecer seu chamamento como ministro de Deus
                para as diversas áreas da missão.
                8. exercer seu ministério participando dos serviços da Igreja
                Metodista e da Comunidade.5

      Continuando a analisar os Cânones da Igreja Metodista, aprovados pelo XIV

Concílio Geral, vemos que um grupo é reconhecido como Igreja, entre outras coisas,

"no exercício de Dons e Ministérios do Espírito Santo" (art. 121 b); compete ao

Concílio Local “reconhecer os dons das pessoas que se apresentam para exercê-los

nos ministérios da Igreja Local" (art. 128, nº 21); sendo que “o trabalho desenvolvido

nas Igrejas Locais toma a forma de ministérios por ela reconhecidos" (art. 135). Este

Concílio Geral estabeleceu a organização da Igreja Local, tendo como ponto de

partida os dons concedidos pelo Espírito Santo, os ministérios de seus membros e as

necessidades do serviço na comunidade.


      Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por

um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios",

3COLÉGIO    EPISCOPAL, "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", in: Igreja: Comunidade
Missionária a serviço do Povo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991, p. 13-14.
4IGREJA METODISTA, op. cit., p. 163.
5Idem, p. 130.



                                                                                                 8
não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou mágico.

Por isso, este trabalho procura mostrar que esta decisão (opção) não aconteceu por

acaso.


      O primeiro capítulo indica que esta decisão é conseqüência da luta da Igreja

Metodista brasileira por tornar-se “verdadeiramente” autônoma da Igreja Metodista

Episcopal do Sul. E também que ela tem suas raízes mais fortes nos planos

quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da

Igreja de 1982.


      O segundo capítulo apresenta a Bíblia e a História da Igreja Cristã como fontes

inspiradoras deste novo modelo organizacional. A releitura da Bíblia e da História é

apresentada como sendo uma das motivações que levou a Igreja Metodista a optar por

Dons e Ministérios em 1987.


      O terceiro capítulo apresenta Dons e Ministérios como uma estrutura

organizacional participativa e missionária. A Igreja, que se organizara por muito

tempo dentro de uma estrutura excessivamente burocrática de manutenção, optou em

1987 por uma estrutura organizacional mais flexível e condizente com sua proposta
ministerial.




                                                                                   9
CAPÍTULO I



                              "DONS E MINISTÉRIOS"
                uma igreja que busca realizar a missão de Deus




      Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por

um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios",

não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou "mágico".6

Podemos afirmar, sim, que as decisões tomadas neste concílio (1987), principalmente

no que se refere ao movimento "Dons e Ministérios", são resultantes "de um longo

processo de avanços e retrocessos, que tem suas raízes mais fortes nos Planos
Quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da

Igreja de 1982".7


      Se queremos entender o movimento "Dons e Ministérios” da Igreja Metodista

brasileira, não devemos nos limitar apenas na análise das decisões do XIV Concílio

Geral. Devemos, sim, dar crédito à história da Igreja Metodista no Brasil,

principalmente no que diz respeito à sua luta por tornar-se "verdadeiramente"

autônoma da Igreja Metodista Episcopal do Sul, procurando, assim, criar uma

6Termo   utilizado pelo professor Clovis Pinto de Castro em sua dissertação de mestrado. Vejamos o que
ele nos diz: "Na verdade, essa opção não pode ser vista como algo mágico". Ele refere-se à opção por
Dons e Ministérios feita pelo XIV Concílio Geral da Igreja Metodista.
7CASTRO, Clovis Pinto de, Igreja Metodista: Ação pedagógica do Colégio Episcopal na implantação
de um novo modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios (1987-1991), Piracicaba, Unimep,
1992, p. 23. (Dissertação de Mestrado).


                                                                                                   10
estrutura organizacional que respondesse à sua realidade de Igreja brasileira. Outro

ponto fundamental (que não trataremos neste trabalho) é que Dons e Ministérios

surgiu na década de oitenta, em meio a um contexto político bem diferente do

anterior. O crescimento do partido dos trabalhadores, o projeto Nova República, a

mobilização popular em torno do movimento das “diretas já” e a instalação do

Congresso Nacional Constituinte foram fatores que certamente influenciaram o

surgimento de um projeto de igreja mais democrática, participativa e descentralizada.

Para se falar de "Dons e Ministérios", devemos estar com os "olhos no retrovisor ", ou

seja, estarmos olhando para o que já se passou.




1. "DE OLHO NO RETROVISOR"


Um breve histórico do metodismo no Brasil




1.1. Uma missão norte-americana

     O Metodismo chegou ao Brasil como fruto das missões da Igreja Metodista

norte-americana. Vejamos um breve resumo feito pelo professor Reily:


              A primeira tentativa de vinda e fixação do Metodismo ao
              Brasil, naufragou diante da grande recessão econômica nos
              Estados Unidos, a qual inviabilizava a manutenção da
              pequena missão. Só depois da guerra civil americana é que
              os metodistas vieram para ficar. O primeiro núcleo
              metodista foi montado em Santa Bárbara D'Oeste, interior
              de São Paulo, onde , através de trabalho do Rev. Junias
              Gastham Newman, foi organizada uma paróquia Metodista
              entre norte-americanos que para ali tinham imigrado após a
              guerra. Por solicitação destes imigrantes vieram
              missionários metodistas para trabalhar junto aos brasileiros,
              utilizando o nosso idioma. O primeiro a chegar foi o Rev. J.


                                                                                   11
J. Ransom. A Igreja Metodista no Brasil tem se destacado
                 pelo seu trabalho educativo. A primeira de suas escolas foi
                 fundada em 1881 em Piracicaba por miss Martha Hit Watts,
                 gerando, com o crescimento, a atual “UNIMEP.8


      Durante os anos de 1867 à 1930 (sessenta e três anos) o território brasileiro foi

considerado campo missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos. “A obra

missionária era desenvolvida sob o domínio quase absoluto da presença e ação dos

missionários nos pontos chave e de poder da Igreja”.9


      A estrutura organizacional e administrativa montada pelos missionários era uma

cópia fiel do modelo utilizado na igreja norte-americana.


      O metodismo era na realidade uma micro-sociedade, onde havia todos os

componentes necessários para a construção de uma nova vida cultural, era uma

extensão da sociedade norte-americana. Toda a ideologia apresentada aos brasileiros

serviu para conduzí-los a “uma profunda admiração e dependência do sistema

político-social norte-americano, e a um total alheamento da cultura e realidade

brasileiras”.10 Esta mentalidade norte-americana fez com que o metodista brasileiro

fosse indiferente à sua própria cultura; “sacralizando”, assim, o modo de viver destes

missionários.


                 Os missionários não hesitaram em pressionar e mandar de
                 volta colegas que não concebiam a missão como o
                 prolongamento dos usos e costumes americanos no Brasil.
                 Dentre eles eu cito dois: - o pioneiro do metodismo no
                 Brasil, que foi o rev. Ranson, foi pressionado a ir embora,
                 precisamente por este motivo; e mais tarde o rev. Lee.11


8 REILY, Duncan Alexander, Igreja Metodista em 3 Tempos, Folheto distribuído pela Pastoral
Universitária do Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, sd. Para um melhor
aprofundamento deste assunto, ler: SALVADOR, José Gonçalves, História do Metodismo no Brasil,
São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982.
9OLIVEIRA, Clory Trindade, Cem anos de Igreja Metodista do Brasil, in: Situações Missionárias na
História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p.26.
10 Idem, p. 27.
11 Transcrição da palestra apresentada na 43ª Semana Wesleyana, na Faculdade de Teologia da Igreja
Metodista, pelo professor Peri Mesquida, com o tema: “Estruturas Práticas do Poder na Igreja
Metodista: da Inglaterra até o Brasil”, realizada em 25 de maio de 1994, às 14.00 horas, no Salão de


                                                                                                  12
Durante este período o metodismo brasileiro era totalmente submisso à Igreja

Metodista norte-americana.




1.2. Em busca de autonomia12

       Num esforço para tornar a Igreja Metodista no Brasil, ou melhor, Igreja

Metodista Episcopal do Sul no Brasil, em Igreja independente da Igreja Metodista

norte-americana (ou seja, Igreja Metodista Episcopal do Sul), acontecerão três

conferências em 1929 (divididas por região), de onde sairá uma proposta de

autonomia da Igreja brasileira. Queria-se que:


                  as conferências anuais do Brasil fossem organizadas em
                  Igreja autônoma, para que, tendo plena liberdade de se
                  desenvolver como instituição nacional continuasse,
                  contudo, em união com a Igreja Metodista Episcopal do
                  Sul.13


       A Igreja Metodista Episcopal do Sul (em sua conferência Geral, reunida em

maio de 1930 na cidade de Dallas, Texas, Estados Unidos da América), após ter

estudado a proposta enviada pela Igreja no Brasil, aprovou-a decretando assim a

autonomia da mesma.




Leitura da Faculdade de Teologia. Para um maior aprofundamento desta questão, pesquisar:
MESQUIDA, Peri, Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil, Juiz de Fora/SBC,
UFJF/Editeo, 1994.
12 Este é um tema um tanto quanto vasto e complexo, que não queremos problematizar neste trabalho.
Nos restringiremos a apresentar este acontecimento histórico a partir da análise dos seguintes textos: 1-
IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. Cit., p. 9; 2- OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura
organizacional e administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista da Igreja
Metodista, São Bernardo do Campo, 1982, p. 35-46; e 3- SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-
se na Missão Hoje, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo,
Imprensa Metodista/ Editeo, 1991, p. 49-55. Para um estudo mais aprofundado e crítico sobre este
assunto, ler: 1- JOSGRILBERG, Rui de souza, O movimento da autonomia. Perspectiva dos nacionais,
in: História, Metodismo, Liberações, São Bernardo do Campo, Editeo, 1990, p. 92-133; 2- REILY, D.
A., Metodismo Brasileiro e Wesleyano, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1981, p. 21-46;
3- ROCHA, Isnard, Histórias da história do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa
Metodista, sd, p. 129-142.
13 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. cit, p. 9.



                                                                                                       13
Ainda que a Igreja Metodista do Brasil tenha se tornado autônoma com respeito

à Igreja Metodista Episcopal do Sul, ela continuará a organizar-se como um reflexo da

estrutura norte-americana.


                 A estrutura com a qual se organiza o metodismo autônomo
                 no Brasil é a mesma, com pequenas modificações, usada
                 pelo metodismo norte-americano conforme estabelecida na
                 sua disciplina (cânones) de 1922.14


      A Igreja que recebeu sua autonomia em 1930 continuou ainda sendo dirigida por

um bispo americano aposentado, que seguia a legislação da Igreja norte-americana.

“Só em 1934 é que surge uma legislação da Igreja brasileira e a eleição do primeiro

bispo nacional”.15


      No decorrer dos trinta e cinco anos após a autonomia (1930-1965), a Igreja

Metodista do Brasil vai amadurecendo sua autonomia, embora recebendo uma

influência muito grande da Igreja norte-americana.


      A forma organizacional da Igreja brasileira durante estes anos é descrita pelo

professor Clory Trindade, da seguinte maneira:


                 A estrutura organizacional e administrativa implantada no
                 metodismo autônomo era uma estrutura de manutenção e
                 não missionária, isto é, a estrutura representava uma
                 maquinária pesada exigindo cuidados permanentes e
                 recursos crescentes, desviando a dinâmica do trabalho da
                 evangelização e ação social. A necessidade da jovem Igreja
                 Metodista no Brasil era de ordem missionária e não de
                 manutenção.16




14OLIVEIRA,     Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
in: Caminhando, Revista Teológica da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista,
1982, p.36.
15SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações missionárias na história
do metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p. 49.
16OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
op. cit., p.36.


                                                                                                  14
1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a missão.

      Em 1965, a Igreja Metodista do Brasil revelava os primeiros sinais de uma

Igreja a caminho de sua plena autonomia. No Concílio Geral deste ano se farão

algumas alterações na carta constitucional, em relação a 1960, principalmente nas

sessões: das ordens, do ministério, do episcopado, das responsabilidades morais e

administrativas. Podemos dizer que este concílio refletiu um pouco da crise que o país

enfrentava, com as conseqüências da Revolução de 1964. O Bispo Paulo Ayres nos

apresenta, ainda que sucintamente, uma análise de conjuntura da Igreja Metodista do

final dos anos cinqüenta e anos sessenta, destacando os seguintes aspectos ocorridos:


                ... incidente (não devidamente explicado) da renúncia do
                bispo César em 1955, a pressão para o estabelecimento de
                novas regiões (em parte devida ao regionalismo xenófobo
                crescente na Igreja), a crise na Faculdade de Teologia em
                1962 (exoneração do reitor Natanael I. do Nascimento;
                eleição e renúncia do professor Almir dos Santos), a
                esquerdização do movimento da juventude Metodista (“ser
                cristão é ser da esquerda” Richard Shaull), o movimento da
                direita denominado “Esquema” em 1965, os impasses do
                Concílio Geral de 1965.17

      O Concílio Geral de 1970 vai receber o impacto de todas estas crises. O Rev.

Clory Trindade diz o seguinte: “O Concílio Geral de 1970/71 é o mais tumultuado da

história do metodismo no Brasil. Pela primeira vez um Concílio é suspenso, voltando

sua continuidade seis meses após, em janeiro de 1971”.18 Já o professor Geoval

Jacinto da Silva (atual bispo da 3ª Região Eclesiástica) nos diz o seguinte com

respeito à década de setenta: “A década de setenta surge como esperança e

possibilidade de articular e elaborar as bases para uma igreja que esteja comprometida

com a missão”.19


17 MATTOS, Paulo Ayres, A Questão da unidade Metodista (ou da Unidade que temos à Unidade que
precisamos), in: Luta pela Vida e Evangelização, São Paulo, Paulinas, 1985, p. 299.
18OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
op. cit., p.37.
19SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, op. cit., p. 50.



                                                                                             15
Como vimos até agora, a Igreja Metodista no Brasil viveu por muito tempo

organizada dentro de uma estrutura proposta pelo metodismo norte-americano. A

década de setenta é considerada a década de mudanças (podemos dizer, mudanças

“radicais”). A Igreja enfatiza mais a missão, e por isso quer deixar a estrutura de

manutenção e organiza-se numa estrutura missionária. Uma estrutura que permita

responder ao chamado de Deus, para a implantação de Seu Reino no mundo, e em

particular na América Latina.


      Esse Concílio Geral (1970/71) promoveu grandes modificações no que diz

respeito à estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista. Se

compararmos esta nova estrutura aprovada com a antiga (1930-1965), veremos quão

profundas foram estas modificações.20 O objetivo maior destas modificações era o de

construir uma estrutura organizacional e administrativa que fosse mais brasileira.

Pensava-se que, com o abrasileiramento da estrutura, seria possível exercer-se o

verdadeiro papel da Igreja, que é promover a Missão de Deus.


      Uma das coisas que se pretendia alcançar com estas modificações era a de

“enxugar-se a máquina”. Como já dissemos acima, a estrutura norte americana, com a

qual o metodismo brasileiro se organizava, era de manutenção, uma estrutura pesada,

burocrática e sem fins missionários. Tendo em vista “enxugar” um pouco a máquina,

esse Concílio Geral (1970/71) aprovou a eliminação de “um” dos “cinco” níveis de

estrutura da Igreja. O nível eliminado foi o Paroquial, permanecendo então apenas os

níveis Local, Distrital, Regional e Geral.

      Outro ponto que se pretendia era o de dar um espaço maior ao leigo.

Examinando todas as modificações estruturais, nos vários níveis da Igreja, vemos que

“há um processo de laicização do poder”.21 Alguns órgãos passam a ser dirigidos por



20Isto pode ser comprovado se compararmos os Cânones de 1970/71 com o anterior.
21OLIVEIRA,     Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
op. cit., p.39.


                                                                                                 16
leigos, em outros, ainda que não estejam presidindo, eles terão espaço como os

clérigos.


      Foi neste Concílio também que a denominação deixou de ser “IGREJA

METODISTA DO BRASIL” passando a ser chamada apenas por “IGREJA

METODISTA”.


      Analisando os Cânones da Igreja Metodista de 1971, vemos que uma outra

alteração básica foi a modificação da seção sobre Fins da Igreja, em Missão da

Igreja.22 O rev. Clory afirma que esta alteração significa que a Igreja passa “de uma

filosofia empresarial, secular, para uma filosofia missionária, de um enfoque

individual para um enfoque mais amplo, de caráter social”.23


      Houve outras modificações tanto na Carta Constitucional quanto nas Leis

Adjetivas, mas não nos referiremos a elas.24


      Podemos afirmar que o Concílio Geral de 1970/71 marcou profundamente o

metodismo brasileiro. Ele apresentou alguns novos rumos para a atuação da Igreja. O

Rev. Clory Trindade nos diz: “A mudança da estrutura organizacional e

administrativa, foi o meio usado para dar forma concreta às aspirações”.25 A Igreja

Metodista do Brasil por muito tempo aspirava uma Igreja mais brasileira e mais

missionária. Julgava que certas estruturas estavam envelhecidas, e os resultados já não

satisfaziam mais. Este Concílio (1970/71) tornou-se assim o momento de se realizar

essas mudanças aspiradas por muitos.



22IGREJA    METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, p. 11.
23OLIVEIRA,   Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
idem, p.41.
24 Para um maior aprofundamento com respeito a estas modificações da estrutura organizacional e
administrativa da Igreja, na Carta Constitucional e também nas Leis Adjetivas (todas citadas acima),
ler: OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-
1982), op. cit. & IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa
Metodista, 1971, op. cit., comparando com o Cânones de 1978.
25OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
idem, p.44.


                                                                                                  17
Ainda que tenham sido feitas modificações na estrutura organizacional e

administrativa da Igreja Metodista, neste Concílio Geral, “faltava, ainda, um plano

que pudesse aprofundar esse processo”.26 Nasce então em 1974 o primeiro Plano

Quadrienal, realmente brasileiro, com propostas renovadoras e missionárias.


                Desencadeado o processo, com as modificações estruturais,
                logo mais a nova filosofia subjacente busca sua expressão,
                o que vai acontecer em 1974, com a elaboração do primeiro
                plano quadrienal, realmente brasileiro, e que representava
                uma nova teologia, numa nova visão missionária,
                chamando por mais renovadas formas institucionais. A
                missão é a fonte, o reino de Deus é o ponto de chegada, a
                libertação e o ministério de todos são a dinâmica, o Brasil e
                a sua cultura são o lugar e a forma da missão libertadora do
                evangelho de Cristo.27




1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja e a

     prática de algumas igrejas

      Como já vimos, no Concílio Geral de 1974 nasce o primeiro Plano Quadrienal

plenamente brasileiro. Seu título é: “Missão e Ministério”. Seguindo a mesma linha do
plano anterior, o Plano Quadrienal de 1978, com o título: “Unidos pelo Espírito,

Metodistas Evangelizam”, foi aprovado pelo Concílio Geral deste ano (1978). O plano

posterior ao de 1978 foi o de 1982. Um plano que “apesar de dar seqüência aos

Planos Quadrienais, é um documento com características diferentes”.28


      Se afirmamos que “Dons e Ministérios” tem suas raízes mais fortes nestes

documentos,29 devemos então, neste momento, analisar um pouco a história e o

conteúdo dos mesmos.


26CASTRO,     Clovis Pinto de, op. cit., p. 48.
27 OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982),
idem, p.44.
28CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 50.
29 Verificar a página 10 deste trabalho.



                                                                                             18
1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal - 1975-1978)

         A Igreja Metodista reuniu-se em Concílio Geral nos dias 4 a 14 de julho de

1974, no Instituto Bennett de Ensino, na cidade do Rio de Janeiro. Tal Concílio

aprovou um documento chamado Plano Quadrienal (1975-1978), que trazia o seguinte

título: Missão e Ministério”. O rev. Geoval Jacinto da Silva afirma que “desde o

início dos anos setenta havia uma preocupação por parte do Conselho Geral em

formar um grupo para elaborar um Plano de Trabalho para a Igreja”.30 Com respeito à

elaboração e aprovação deste Plano Quadrienal, o prof. Clovis faz a seguinte

ponderação:


                    A elaboração do Plano foi bastante participativa. Houve um
                    envolvimento de vários setores e segmentos da Igreja. A
                    sua aprovação no Concílio Geral só aconteceu após quatro
                    dias de muitas reuniões em grupos, para um estudo mais
                    aprofundado.31


         Podemos dizer que este Plano Quadrienal é o fruto da vontade da própria Igreja.

Se no Concílio Geral de 1970/71 ela havia aprovado mudanças estruturais na

organização e administração, em 1974 ela irá aprovar um Plano que venha a

aprofundar este processo. A Igreja está em busca de realizar a missão de Deus. Quer

conscientizar seus membros da necessidade de se envolverem na obra missionária. Por

isso, entre outros elementos existentes no Plano, encontramos os seguintes:


                    Reconhecemos ainda: 1) Que ministério é a Igreja Total,
                    todos os seus membros; 2) que pastor e membro da igreja
                    completam-se e completam a Igreja para o desempenho da
                    sua Missão; 3) Que o ministério pastoral carece de uma
                    reavaliação...; 4) que o ministério do crente não tem sido
                    devidamente compreendido pela Igreja como essencial à
                    Missão, e por isso carece de presença e ação no corpo de
                    Cristo; 5) que a missão implica em testemunho, nas

30   SILVA, Geoval Jacinto da, op. cit., p. 50.
31CASTRO,    Clovis Pinto de, op. cit., p. 47.


                                                                                     19
diferentes áreas da vida, que indivíduos e grupos dão da
               obra de Deus em Jesus Cristo e em apelo para que os
               homens participem dessa obra, pela fé, e se comprometam
               com ela, sendo para isso equipados pelo Espírito Santo.32


      Após apresentar suas considerações, reconhecendo as necessidades de mudança

da Igreja, teremos algumas propostas apresentadas neste plano. Podemos ver, tanto

nas considerações acima, quanto nas propostas abaixo, que este plano apresenta

realmente o início de um processo, que levaria a Igreja Metodista brasileira a optar,

em 1987, por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios.

Vejamos as propostas do Plano:


               Propomos, portanto: A) Que tudo na Igreja Metodista
               (ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas
               locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio
               patrimônio) passe a existir em função da Missão e do
               testemunho cristão, em todas as áreas de ação da Igreja; B)
               Que a primeira tarefa da Igreja Metodista., agora, seja a de
               despertar o povo de Deus (pastor e laicato) para descobrir o
               seu lugar na Missão; C) Que esse despertamento se faça
               através do preparo devocional, teológico e doutrinário do
               pastor, primeiramente, e a seguir, do laicato (pastor
               preparado prepara para a Missão); D) Que todos (Bispo,
               pastor e membro da Igreja) zelem para que a Missão se
               cumpra fielmente, nas suas respectivas áreas de ação; E)
               Que o culto a Deus seja o “momento”, no espaço, para onde
               converge o povo e de onde emerge a Missão.33

      Podemos também afirmar que este Plano (1975-1978) tinha uma direção clara,

pois prosseguia rumo a uma igreja mais participativa e ministerial. Tinha como alvo

envolver todos os membros da Igreja (leigos e clérigos) na obra missionária. Vejamos

o que ele diz com respeito a seus objetivos:


               O objetivo do presente trabalho é conscientizar-nos do
               programa de ação da Igreja, como serva de Jesus Cristo,
               para libertar totalmente o Homem, através do poder do
               Evangelho, do pecado, do sofrimento, do medo e da morte,

32IGREJA    METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1975-1978, São Bernardo do Campo,
Imprensa Metodista, 1974, p. 8.
33 Idem, p. 8-9.



                                                                                            20
dando-lhes a paz da fé mediante a nova vida em Cristo
                Jesus. Será um guia para a aplicação docente da Igreja nas
                igrejas locais, instituições de ensino e outras organizações
                que a Comunidade Metodista possui. Orientará o ministério
                no exercício da Missão em sua totalidade de leigos e
                clérigos. Conscientizará a todos para o alistamento nesta
                grande obra ministerial durante o quadriênio e,
                futuramente, até o tempo que for da vontade do Senhor.34


      Reconhecemos, tendo em mente principalmente a parte final desta citação, que a

vontade de Deus foi além deste quadriênio (1975-1978), e que este Plano foi apenas o

início de uma nova caminhada. Podemos afirmar que, em 1974, a Igreja Metodista

começa a traçar algumas linhas mestras, que trilhará futuramente. Analisando este

Plano, encontramos claramente a “semente” de onde brotará a opção por Dons e

Ministérios (1987).




      1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam (Plano Quadrienal

1979-1982)

      No ano de 1977 o Conselho Geral35 constituiu um Grupo de Trabalho para

elaborar o anteprojeto do Plano Quadrienal para o período 1979-1982. O anteprojeto,

elaborado pelo Grupo de Trabalho, foi aprovado pelo Conselho Geral, que o

encaminhou ao XIII Concílio Geral da Igreja Metodista em 1978.

      O documento enviado teve “a aprovação do plenário do Concílio Geral da Igreja

Metodista no Brasil, realizado de 23 à 30 de julho na cidade de Piracicaba, estado de

São Paulo”;36 tendo o seguinte título: Unidos pelo Espírito, Metodistas

Evangelizam.




34 Idem, p. 6.
35 Conforme o artigo 73, 1 dos Cânones da Igreja Metodista de 1974, “compete ao Conselho Geral
formular as linhas de ação, submetidas à aprovação do Concílio Geral”.
36 IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1979-1982, São Bernardo do Campo,
Imprensa Metodista, 1978, p. 3.


                                                                                                 21
Após uma pesquisa, reconheceu-se que o Plano Quadrienal de 1975-1978 foi em

seu todo considerado bom. Seguindo então o mesmo pensamento que o Plano anterior,

o Plano Quadrienal de 1979-1982, continuará caminhando rumo a uma Igreja

missionária, onde todos os seus membros (clérigos e leigos) participam desta obra

evangelizante. Continua-se a caminho de uma Igreja ministerial, onde todos são

considerados ministros.


         Antes mesmo de expor seus objetivos, o Plano nos apresentará algumas

afirmativas que julga ser importantes. Estaremos citando algumas:


                   1- O propósito de Deus é salvar o ser humano, concedendo-
                   lhe nova vida à imagem de Jesus Cristo, integrando-o no
                   seu reino, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim
                   de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste
                   momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus. 2-
                   A missão da Igreja é participar da ação de Deus nesse
                   propósito (...) 10- O viver humano, nestes dias, é altamente
                   condicionado pela técnica, pelo consumismo imediato,
                   pelos falsos valores do materialismo, pela massificação,
                   pelo esquema de uma sociedade mercantilista. Sente-se a
                   imperiosa necessidade de permitir ao ser humano a criação
                   de situações nas quais ele tenha um confronto com a pessoa
                   salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Urge anunciar uma
                   notícia boa no meio de tantas más notícias. Urge
                   evangelizar. (...) 13- Tudo na Igreja Metodista: ministérios,
                   instituições educacionais e de serviço, igrejas locais,
                   congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio,
                   existe em função da Missão, isto é, do testemunho, serviço
                   e evangelização. 14- Todos os membros da Igreja pelo fato
                   de pertencerem ao povo de Deus através do batismo, são
                   ministros do evangelho. São chamados por Deus,
                   preparados pela Igreja para, sob a ação do Espírito Santo,
                   cumprirem a missão, em testemunho, serviço e
                   evangelização.37



         Somente então, após apresentar estas afirmativas (dentre as quais citamos

apenas algumas), é que serão expostos os objetivos deste Plano. Como veremos, este



37   Idem, p. 13-14.


                                                                                   22
Plano continuará insistindo na conscientização da Igreja em participar plenamente na

obra missionária. Vejamos o objetivo geral do Plano:


                   Objetivo Geral: orientar o povo metodista na sua vivência
                   cristã sob a dinâmica do Espírito Santo que, em unidade,
                   crescimento e serviço, promove a evangelização, em meio à
                   realidade concreta do mundo.38


         Quando afirmava isto, estava preocupado em levar o povo metodista a alguns

objetivos operacionais, tais como:


                   1- A compreensão de que a evangelização é uma atitude
                   natural e necessária de todo o cristão que esteja vivendo a
                   nova vida em Cristo, vitalizada pela ação poderosa do
                   Espírito Santo. Isto é o que aprendemos na Palavra de
                   Deus, especialmente em Atos 2.42-47, 4.32-35, 9.32, entre
                   muitos outros textos (...) 5- À consciência de que o Espírito
                   Santo é a presença, o poder e ação na vida da Igreja (...) 9-
                   À ação evangelizadora e pessoal e comunitária, através dos
                   mais diversos meios de expressão e comunicação. 10- Ao
                   conhecimento da problemática social, econômica e cultural
                   do mundo contemporâneo. 11- À vida de serviço cristão
                   (...) 13- À reconsagração de todo o povo metodista como
                   ministros de Deus.39


         Não podemos deixar de reconhecer que neste Plano também encontramos alguns
vestígios de um movimento que culminaria na opção por Dons e Ministérios. Temos

aqui, então, um pequeno desenvolvimento da “semente” lançada pelo Plano

Quadrienal de 1974.




         1.4.3. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (1982)




38   Idem, p. 16.
39   Idem, p. 16-17.


                                                                                   23
O XIII Concílio Geral da Igreja Metodista foi realizado em Belo Horizonte -

MG, no período de 18 a 28 de julho de 1982, nas dependências do Instituto Isabela

Hendrix. Este Concílio Geral aprovou um documento denominado “Plano para a

Vida e a Missão da Igreja”, reconhecendo ser este um Plano que dava continuidade

aos dois Planos anteriores.


      Este Plano (PVMI) surgiu como resultado da Consulta Nacional de 1981. Uma

consulta realizada no Rio de Janeiro, que visava a avaliar a vida e a missão da Igreja, e

que também é reconhecida como o principal evento da celebração de 50º aniversário

da autonomia da Igreja Metodista brasileira. O professor Clovis afirma: “os resultados

desta consulta não agradaram aos setores mais conservadores e carismáticos da Igreja;

por outro lado, marcaram um avanço significativo dos setores mais progressistas da

IM”.40


      Ainda que este Plano (PVMI) seja uma continuidade dos dois Planos anteriores,

ele terá algumas características particulares que o diferenciará dos anteriores.


      Um dos pontos que o diferencia dos dois “Planos Quadrienais” anteriores (1974

e 1978) é que este não propõe um programa de ação para um quadriênio, mas sim
apresenta algumas linhas gerais que visam a orientar a ação da Igreja por um período

indeterminado. Na própria introdução deste documento (PVMI), vemos descrito

porquê seria importante aprovar um plano que não se limitasse a um quadriênio:


                 A experiência do Colégio Episcopal e de vários segmentos
                 da Igreja Metodista nestes últimas anos indica que o
                 metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de
                 identidade que abalou nossa Igreja após a primeira metade
                 da década de sessenta. Estas experiências nos têm mostrado
                 que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire sua
                 vida e programação, e que não será dentro do curto espaço
                 de um quadriênio, que corrigiremos os antigos vícios que
                 nos impedem caminhar. Esse fato esteve claro na semana
                 da consulta Vida e Missão, e no documento que ela

40CASTRO,   Clovis Pinto de, op. cit., p. 51.


                                                                                      24
produziu. Ao adotarmos aquele documento como a base do
                 novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais um
                 programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que
                 deverão orientar toda a ação da Igreja nos próximos anos,
                 enquanto     necessário,     devendo      ser    avaliado
                 periodicamente. 41



      O rev. Ely Éser Barreto César42 faz uma introdução do Plano, na segunda sessão

regular do XIII Concílio Geral da Igreja Metodista, onde apresenta como sendo três as

fontes que fundamentam o novo Plano (PVMI).


                 O documento está fundamentado em três fontes: a) Texto
                 básico da consulta Vida e Missão, realizada pelo Conselho
                 Geral como parte das comemorações do Jubileu de Ouro da
                 autonomia da Igreja Metodista. b) documento enviado pelo
                 Colégio Episcopal ao Conselho Geral, contendo objetivos,
                 bases, metas e prioridades para o próximo quadriênio; c)
                 texto do atual Plano Quadrienal, especialmente a parte
                 relativa às áreas da Missão e sua estruturação.43


      O “Plano para a Vida e a Missão da Igreja” foi exaustivamente examinado pelo

conciliares, que se dividiram em onze grupos para discutir este documento antes de

levá-lo ao plenário. Ainda que houvesse alguns pontos polêmicos em torno deste

documento, após sofrer algumas alterações em sua redação, foi aprovado pela maioria

do plenário. Vejamos a redação da Ata, no que diz respeito à aprovação deste

documento em 1982:


                 APROVAÇÃO GLOBAL DO “PLANO PARA A VIDA E
                 A MISSÃO DA IGREJA”: O presidente declara em ordem,
                 como matéria para ser aprovada globalmente, depois de
                 exaustivamente examinada, o “Plano para a Vida e a
                 Missão da Igreja”. Setenta e oito conciliares votam a favor,
                 dois, contrariamente e um em branco. Aprovado
                 (documento nove).44


41IGREJA    METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista,
in: Cânones 1992, p. 61.
42 O rev. Ely Éser Barreto César fazia parte do Conselho Geral, e por isso apresentou ao Concílio o
Plano para a Vida e a Missão da Igreja que eles haviam elaborado, através do Grupo de Trabalho.
43 IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Atas e Documentos, Belo Horizonte, p. 10.
44 Idem, p. 28.



                                                                                                25
Em sua dissertação de mestrado, o professor Clovis Pinto de Castro nos

relembra que este Concílio Geral de 1982 foi um tanto quanto conturbado, em virtude

de estar discutindo questões muito polêmicas.


               É bom lembrar que o XIII Concílio Geral foi marcado
               também por outras questões mais polêmicas, entre elas a
               integração da Igreja Metodista no Conselho Nacional de
               Igrejas Cristãs (CONIC), que foi aprovada só com cinco
               votos de diferença - 45 a favor e 40 contrários, e a
               transferência da administração do Instituto Metodista de
               Ensino superior (IMS), da Área Geral para a 3ª RE, com 44
               votos favoráveis e 33 votos contra.45


      Neste momento queremos passar para uma análise deste plano. Não estaremos

preocupados em analisá-lo em seu geral, mas apenas algumas partes que estejam

apontando na direção de uma Igreja Ministerial.


      Como já dissemos, e queremos relembrar neste momento, o “Plano para a Vida

e a Missão da Igreja é continuação dos Plano Quadrienais de 1974 e 1978”.46 Como
continuidade, ele enfatizará a necessidade de se envolver tudo e todos da Igreja na

Missão de Deus. Não há um rompimento com os dois planos anteriores (1974-1978),

mas sim, uma continuidade do processo iniciado no plano de 1974. A Igreja continua

preocupada em direcionar todos os seus esforços para a missão.


      Preocupado com a má interpretação que poderia surgir a respeito da palavra

Missão, este plano apresentará uma definição da mesma.


               O que é Missão? Missão é a construção do Reino de Deus,
               sob o poder do Espírito Santo, através da ação da
               comunidade cristã e de pessoas, visando o surgimento da
               nova vida trazida por Jesus Cristo para a renovação do ser




45CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 52.
46IGREJA    METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista,
op. cit, p. 61.


                                                                                         26
humano e das estruturas sociais, marcados pelos sinais da
                  morte.47


       O Documento (PVMI) convoca a Igreja Metodista a “experimentar de modo

cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o que

ela de graça recebe do seu Senhor”.48 A Missão de Deus no mundo é o

estabelecimento do Seu Reino. A tarefa da Igreja é a de participar deste ato, realizando

assim sua principal tarefa, a evangelização.


       Para a realização desta obra, a Igreja deve reconhecer, entre outras necessidades,

a de um auto-conhecimento. A Igreja precisa “descobrir suas possibilidades e seus

Dons e valorizar seus ministérios para alcançar a participação total do povo na Missão

de Deus”.49 Vemos aqui que a semente lançada, em 1974, começa a desenvolver-se
com maior intensidade. A Igreja sabe que, para realizar a Missão de Deus, ela precisa

valorizar os Dons existentes no seu meio. Seus membros são chamados a trabalhar na

Missão de Deus, participando com seus dons, realizando seus ministérios. Vejamos o

que o documento nos apresenta sobre o ato de trabalhar na Missão de Deus:


                  -é trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido
                  pelas forças do pecado e da morte, participando, como
                  comunidade, com dons e serviços para o nascer da vida (Jr
                  1.4-10; Fp 1.18-26, 3.10-11; II Tm 1.10; Jo 3.14); - É
                  somar esforços com outras pessoas e grupos que também
                  trabalham na promoção da vida (Mc 9.38-41; At 10.28,
                  15.8-11).50


       Para que a Igreja venha a realizar esta missão, este plano reconhece também a

necessidade de se utilizar ferramentas e métodos adequados. Entre algumas das

ferramentas, ele nos apresenta a seguinte:


                  Na Igreja e na comunidade hoje encontramos novos
                  desafios que exigem ferramentas adequadas. Uma destas,

47 Idem, p. 74.
48 Idem, p. 74.
49 Idem, p. 69.
50 Idem, p. 50.



                                                                                      27
por exemplo, é a participação de todos os membros da
                 Igreja, homens e mulheres, nos diferentes níveis de
                 decisão.51


        Como vimos, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja não interrompeu o

processo iniciado em 1974. Ele preservou a linha de pensamento, rumo a uma Igreja

missionária., onde todos os membros desta Igreja são convocados a participar da

Missão de Deus.


        Podemos dizer que este plano não é apenas uma fonte, mas sim uma parte

integrante do Movimento Dons e Ministérios. Pois ainda que em 1987 a Igreja

Metodista tenha optado por um novo modelo de ser Igreja, ou seja, uma Igreja

organizada em Dons e Ministérios, ela não abandonará o Plano para a Vida e a Missão

da Igreja. Os Cânones, em nota explicativa sobre o Concílio Geral de 1987, fazem a

seguinte ponderação:


                 Passados cinco anos, o XIV Concílio Geral aprovou que os
                 dons e ministérios, exercidos nos diferentes níveis da vida
                 da Igreja, fossem tomados como elementos básicos para a
                 sua estruturação. A organização da igreja, portanto, deve
                 ser conseqüência da descoberta das necessidades e dos
                 desafios missionários e do exercício dos dons e ministérios
                 suscitados pelo Espírito Santo como resposta a tais
                 desafios. Dentro deste novo contexto estrutural eclesiástico,
                 o Plano para a Vida e a Missão da Igreja continua sendo
                 instrumento básico para a prática missionária da Igreja
                 Metodista.52


        O Plano para a Vida e a Missão da Igreja é o ideário que leva esta Igreja,

organizada em Dons e Ministérios, a realizar uma prática missionária (estaremos

falando mais sobre isto no 3º capítulo).




51   Idem p. 73.
52   IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992.


                                                                                        28
1.4.4. As Práticas de algumas Igrejas

      Se afirmamos que “Dons e Ministérios” não nasceu do nada, mas que é fruto

histórico de uma Igreja que busca realizar a missão, devemos então reconhecer que,

além das influências dos planos anteriores,53 este plano será resultado de uma prática

já existente em algumas igrejas metodistas, vejamos o que os Bispos afirmam no

relatório prestado ao XIV Concílio Geral:


                 Em formas mais diversas possíveis motivados por
                 circunstâncias diferentes, regiões, igrejas locais, lideranças
                 leigas e pastorais têm sido inspiradas e mobilizadas, na
                 direção dos Dons e Ministérios. Cremos ser uma ação do
                 Espírito presente, de forma dinâmica, na vida da IM.
                 Devemos estar atentos a esta manifestação e procurar na
                 vivência da igreja local, da região e da área geral,
                 estabelecer nova configuração para a igreja, fundada não
                 em cargos e poderes, mas em Dons e ministérios.54


      Podemos afirmar que esta prática, já existente nas igrejas locais, em organizar-se
em ministérios, seja resultado da implantação do Plano para a Vida e a Missão da

Igreja. Ainda que este plano tivesse apresentado uma nova linha de pensamento para a

igreja, ele não mexia nas estruturas organizacionais. Seria necessário uma nova
maneira de organizar-se, se é que a igreja queria cumprir as exigências deste Plano.


      Veremos que é na Quinta Região que encontramos o maior núcleo de Igrejas se

organizando desta maneira, ou seja, em ministérios alternativos. Este fato se deu

devido ao projeto regional denominado Agentes da Missão. Este projeto tinha como

seu principal objetivo “permitir que cada metodista se decida por um ministério e

receba a nutrição para exercê-lo no mundo, fora das quatro paredes do templo”.55



53 Os Planos referidos são: Plano Quadrienal (1975-1978), Plano Quadrienal (1979-1982), Plano para a
Vida e Missão da Igreja (1982).
54IGREJA METODISTA XIV CONCÍLIO GERAL, Relatório do Colégio Episcopal, São Bernardo do
Campo, julho de 1987, p. 10.
55CÉSAR, Ely Éser Barreto, Uso da Bíblia na prática de nosso Ministério, Piracicaba, Agentes da
Missão, 1988, p. 03.


                                                                                                 29
No Relatório da Execução do projeto integrado “Agentes da Missão”,

apresentado ao XII Concílio Regional da Quinta Região, vemos que essa experiência

foi de grande importância no planejamento do Programa Dons e Ministérios da Igreja

Nacional.


                Todos os secretários de área da 5ª Região e os presidentes
                de federações e a Diretoria das crianças participaram, em
                março, na Sede Geral da Igreja Metodista, do Encontro
                Nacional de líderes para se planejar a implantação do
                Projeto Dons e Ministérios em todo o país. A contribuição
                da 5ª Região, dada a nossa experiência na primeira etapa
                recém-finda, foi decisiva.56


      No próximo Concílio da Quinta Região Eclesiástica (XVIII), o Bispo Messias

Andrino apresenta a Quinta Região como sendo uma região que já havia

experimentado o exercício dos Dons e Ministérios, mesmo antes da deliberação do

XIV Concílio Geral.


                A Quinta Região Eclesiástica é, reconhecidamente, uma das
                regiões metodistas que vem acumulando muita experiência
                no exercício dos Dons e Ministérios, em seu programa
                “Agentes da Missão”. Aqui ele não foi criado ou
                desenvolvido de modo isolado. A prova disso é que agora o
                XIV Concílio Geral o consagra como programa nacional. O
                positivo é que ele tem dado vários frutos na nossa Região.
                As poucas igrejas locais que o adotaram estão
                demonstrando muita vitalidade. Desta forma devemos
                reconhecer como positivo, podemos iniciar o quadriênio, e
                uma nova administração, com um programação para a qual,
                e de muitas maneiras, já estamos preparados. Esperamos
                que este fato contribua para o crescimento, em unidade, de
                todas as forças vivas da Região. Assim como o
                compromisso missionário uniu os cristãos do passado,
                temos razões para esperar que este mesmo fato se repita
                entre nós.57




56IGREJA METODISTA, XVIII Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e
Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 57.
57 IGREJA METODISTA, XIX Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e
Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 131.


                                                                                           30
Como já vimos nas afirmações citadas, a prática da Igreja também foi um dos

motivos que levaram o Concílio Geral de 1987 a optar por um modelo de Igreja

organizada em Dons e Ministérios.


     Podemos concluir este capítulo relembrando a afirmação feita no início do

mesmo: as decisões tomadas no XIV Concílio Geral (1987), principalmente no que se

refere ao novo modelo de igreja, são resultantes deste longo processo (movimento)

que descrevemos no decorrer deste capítulo. Dons e Ministérios é o fruto histórico de

uma Igreja que visa a realizar a Missão de Deus.




                                                                                  31
CAPÍTULO II



                          “DONS E MINISTÉRIOS”
              a Bíblia e a História como fontes inspiradoras



     Afirmamos, no primeiro capítulo deste trabalho, que a Igreja Metodista, reunida

em Concílio Geral em 1987, havia feito a opção por um novo modelo de igreja. Ou

seja, uma igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. Há duas perguntas que

podemos fazer neste momento: 1. Será que este modelo de igreja organizada segundo

os Dons e Ministérios é realmente algo novo, inédito? 2. Será que este modelo nasceu

apenas como fruto “ocasional” da História da Igreja Metodista brasileira?

     Não. Pois o modelo de igreja organizada em Dons e Ministérios é uma estrutura

organizacional muito antiga, já utilizada por algumas comunidades cristãs do primeiro

século. De fato, a estrutura carismática da igreja faz parte de um movimento

conduzido pelo Espírito Santo que, desde o início do cristianismo até hoje esteve

presente em alguns grupos e comunidades cristãs.


     Por isso, apresentaremos, neste capítulo, a Bíblia e a História da Igreja Cristã,

principalmente a Reforma Protestante e o Metodismo Inglês do século XVIII, como

sendo duas, entre outras, fontes inspiradoras que levaram a Igreja Metodista brasileira

a optar por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. A

releitura da Bíblia e da História foi uma das motivações que levou a IM a optar por

Dons e Ministérios.


                                                                                    32
1. DONS E MINISTÉRIOS NA BÍBLIA

      Em primeiro lugar queremos descartar a afirmação de que Dons e Ministérios

seja “O”58 modelo bíblico de organização da igreja. Podemos afirmar, sim, que ele

seja “UM”59 dos modelos, dentre outros, apresentados pelo Novo Testamento.


      Ao estudarmos os escritos neotestamentários, descobrimos que não há uma

unidade doutrinária entre os mesmos. Ao contrário, encontramos uma variedade de

grupos, com teologias e maneiras de se organizarem bem diferentes. Querer legitimar

a VERDADE EXCLUSIVA de um destes grupos, é ser muito pretensioso e também

um mau intérprete do texto bíblico.


      Durante muito tempo a igreja cristã esqueceu-se, teórica e praticamente, da

possibilidade de organizar-se segundo os Dons e Ministérios. Isto se deu devido ao

fato de a eclesiologia cristã “se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das cartas

pastorais (e os atos dos apóstolos), tendo esquecido a eclesiologia especificamente

paulina das epístolas indiscutidas de São Paulo”.60

      No final do primeiro século, o cristianismo iniciou um processo de definição de

comportamento social e religioso.


                 Este processo de uniformização teológica, de opção por
                 uma ética e uma praxis política mais harmônica com a
                 sociedade e da exclusão da autoridade carismática e
                 feminina em favor de cargos hierárquicos, recebe o nome
                 pelos exegetas e historiadores de Formação do Catolicismo
                 Primitivo ou da Grande Igreja.61



58 Artigo definido - o único - individualiza o substantivo.
59 Artigo indefinido - um entre outros - generaliza o substantivo. Estas anotações gramaticais foram
retiradas de: SACONI, Luiz Antonio, Nossa Gramática, São Paulo, Atual Editora, sd., p. 61.
60 KÜNG, Hans, A Igreja, Lisboa, Moraes Editora, 1969, p. 256, volume 1.
61 NOGUEIRA, Paulo A. S., Multiplicidade Teológica e a Formação do Catolicismo Primitvo na Ásia
Menor, in: Igreja e Seita - Estudos da Religião nº 8, São Bernardo do Campo, Edims, 1992, p. 36.


                                                                                                  33
Como vimos, a formação do Catolicismo Primitivo é um processo de exclusão e

limitação. E é bem neste momento que a igreja faz uma opção pelas epístolas

pastorais, pois este modelo lhe permitia uma melhor harmonia para com a sociedade

da época. Na verdade, o que aconteceu foi que um certo grupo, utilizando-se de poder,

estabeleceu-se como norma e ponto de referência. Bultmann diz o seguinte: “A grande

igreja é unicamente a heresia que teve mais êxito”.62


        Hans Küng, teólogo católico contemporâneo, discorre a respeito deste abandono

e esquecimento da estrutura carismática, afirmando:


                  Por muito tempo, a Teologia Católica e a Igreja Católica
                  desconheceram, teórica e praticamente, a estrutura
                  carismática da igreja. Isso teve seu fundamento, em
                  primeiro lugar naquele clericalismo e juridicismo que nos
                  últimos tempos, tanto tem sido criticado mesmo dentro da
                  Igreja Católica. A atitude clerical só pode aceitar no clero a
                  atitude e a iniciativa propriamente ditas e decisivas, nunca
                  em todos os membros do Povo de Deus. Pensamento
                  juridicista é aquele que se mostra profundamente
                  desconfiado em face da dinâmica antecipadamente não
                  regulamentável do livre Espírito de Deus, que na Igreja
                  sopra onde e quando quer. O desconhecimento da estrutura
                  carismática da Igreja acha ainda o seu segundo fundamento
                  especial no fato de a eclesiologia dos livros católicos de
                  escola se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das
                  Epístolas pastorais (e dos Atos dos Apóstolos), tendo
                  esquecido a eclesiologia especificamente paulina das
                  Epístolas indiscutidas de São Paulo, isto mesmo quando
                  freqüentemente fazia citações formais de textos de São
                  Paulo. A variedade e a tensão interna no Novo Testamento
                  ou não eram notadas ou eram harmonizadas de maneira
                  ilegítima.63

        Percebe-se que a igreja cristã por muito tempo se esqueceu da possibilidade de

organizar-se dentro de uma estrutura carismática, preferindo, assim, a organização

hierárquica: Epíscopo - Presbítero - Diácono. E é tendo isto em mente que

apresentaremos a organização carismática, ensinada pelo apóstolo Paulo, como uma

62   BULTMANN, R., Teologia Del Nuevo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1980, p. 563.
63KÜNG,   Hans, op. Cit., p. 256.


                                                                                      34
das fontes onde o modelo de igreja organizado em Dons e Ministérios inspira-se

biblicamente.


         Para isso estaremos nos restringindo somente ao estudo das cartas que são

consideradas fontes do pensamento paulino e não ao estudo de toda a Bíblia. Nosso

objetivo é bem específico; apresentaremos a estrutura carismática da igreja,

apresentada por Paulo, como uma maneira bíblica da igreja atual organizar-se. Em sua

obra A Igreja, Hans Küng apresenta esta estrutura carismática como sendo a forma

mais antiga da igreja se organizar.64




1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios



         1.1.1. Definição das Fontes Paulinas65

         Ao lermos o Novo Testamento, encontramos várias epístolas que citam o

Apóstolo Paulo como autor. São elas: I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I

Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Romanos, Filipenses, Colossenses, Filemon, Efésios, I

Timóteo, II Timóteo e Tito.

         Com o aperfeiçoamento das pesquisas neotestamentárias, a autoria destas cartas

recebeu muitos questionamentos. Não iremos aqui apresentar os problemas que

marcam estas epístolas, mesmo porque este não é o nosso objetivo neste trabalho.

Estaremos seguindo a opinião da maioria dos estudiosos do Novo Testamento, que

preferem definir os seguintes escritos como fonte segura do pensamento paulino:

Romanos, I Coríntios, II Coríntios, I Tessalonicenses, Filipenses, Gálatas e Filemon.




64   Idem, p. 257.


                                                                                    35
1.1.2. O uso da palavra Dom (charisma)

      Com exceção de I Pd 4,10, somente Paulo e os escritos dependentes dele

empregam a palavra dom (charisma). Esta “palavra é rara na literatura profana e

também véterotestamentária, onde ocorre duas vezes, ainda assim em variantes”.66

                A palavra carisma está decalcada no grego charisma que
                significa “dom gratuito” e se relaciona com a mesma raiz
                que CHÁRIS, “graça”. No NT esse termo nem sempre tem
                sentido técnico. Pode designar todos os dons de Deus, que
                são irrevogáveis (Rm 11,29), notadamente o “dom da
                graça” que nos vem por Cristo (Rm 5,15s) e que
                desabrocha com vida eterna (Rm 6,28). Com efeito, em
                Cristo Deus nos “cumulou de graça” (Ef 1,6: charitoo) e
                “nos concederá toda a espécie de dons” (Rm 8,32: charizo).
                Mas o primeiro de seus dons é o próprio Espírito Santo, que
                foi infundido em nossos corações e põe neles a caridade
                (Rm 5,5; Cf 8,15). O emprego técnico do termo charisma
                se entende essencialmente na perspectiva dessa presença do
                Espírito, que se manifesta por toda sorte de “dons
                gratuitos” (I Cor 12,1-4).67


      Introduzir o termo CHARISMA num contexto de organização da comunidade foi

um mérito unicamente do apóstolo Paulo. Ao discorrer sobre as igrejas paulinas, Ph.

H. Menoud:

                O apóstolo teve o cuidado de organizar as igrejas que
                fundou. A esperança viva no retorno do Senhor não lhe é
                pretexto para negligenciar a ordem a reinar na casa de Deus
                (Cf I Cor 14,93), tanto que esta espera não deve encorajar
                os fiéis a não suprir suas necessidades pelo trabalho (Cf II
                Ts 3.6-12). Mas o apóstolo não consagra uma epístola
                especial à questão dos ministérios. Ele se limita a dar a
                cada igreja prescrições em harmonia com as circunstâncias
                locais.68

      O termo charisma (geralmente usado no plural: charismata) aparece dezessete

vezes no Novo Testamento; dessas, quatorze vezes em I e II Coríntios e Romanos

65 Para um maior aprofundamento com respeito a este assunto, pesquisar: KÜMMEL, W. Georg,
Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1982, p. 319-506.
66 BOFF, Leonardo, Igreja, Carisma e Poder, Petrópolis, Vozes, 1981, p. 237.
67 LEON-DUFOUR, Xavier, Vocabulário de Teologia Bíblica, Petrópolis, Vozes, 1972, p. 124.
68 VON ALLMEN, J. J., Vocabulário Bíblico, São Paulo, Aste, 1972, p. 254.



                                                                                            36
(fontes incontestáveis do pensamento paulino), duas em I e II Timóteo (pós-paulinas)

e uma em I Pedro.


       Vejamos a ocorrência deste termo nas fontes paulinas:69


       Rm 1,11 - Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum DOM

espiritual, para que sejais confirmados;...


       Rm 5,15 - Todavia, não é assim o DOM gratuito como a ofensa; porque se pela

ofensa de um só morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom (doorea) pela

graça de um só homem, Jesus Cristo, foi abundante sobre muitos.


       Rm 5,16 - O DOM, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;

porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça

transcorre de muitas ofensas, para a justificação.


       Rm 6,23 - Porque o salário do pecado é a morte, mas o DOM gratuito de Deus

é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.


       Rm 11,29 - Porque os DONS e a vocação de Deus são irrevogáveis.

       Rm 12,6 - Tendo, porém, diferentes DONS segundo a graça que nos foi dada: se

profecia, seja segundo a proporção da fé;


       I Cor 1,7 - De maneira que não falte nenhum DOM, aguardando vós a revelação

de nosso Senhor Jesus Cristo;

       I Cor 7,7 - Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou, no

entanto cada um tem de Deus o seu próprio DOM; um, na verdade, de um modo,

outro de outro.


       I Cor 12,4 - Ora, os DONS são diversos, mas o Espírito é o mesmo.

69Os versículos citados abaixo, foram retirados de 1. Bíblia Sagrada, edição revista e atualizada no
Brasil, Brasília, 1969. 2. Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, São Paulo, Paulinas, 1986.


                                                                                                       37
I Cor 12,9 - A outro, no mesmo Espírito, Fé; e a outro no mesmo Espírito,

DONS de curar;


      I Cor 12,28 - A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em

segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres,

depois DONS de curar, socorros, governos, variedade de línguas.


      I Cor 12, 30 - Tem todos DONS de curar? Falam todos em outras línguas?

Interpretam-nas todos?


      I Cor 12,31 - Entretanto, procurai, com zelo, os melhores DONS.


      II Cor 1,11 - Ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor,

para que, por muitos sejam dadas graças a nosso respeito, pelo BENEFÍCIO que nos

foi concedido por meio de muitos.


      Para o apóstolo Paulo os Dons têm sua fonte na CHARIS (graça), no favor e na

bondade de Deus. Com toda liberdade (I cor 12,11) Deus distribui esses “dons”, ou

“serviços”, ou “realizações” (I Cor 12,4-6), mas tem sempre em vista as diferentes

necessidades da igreja, bem como a situação e a capacidade de cada um.




1.1.3. O uso das palavras ministério e ministro

      As palavras gregas que traduzidas em português podem significar ministério,

ministro e ministrar são as seguintes: DIAKONIA (ministério), DIAKONO (ministro),

LEITOURGÉOO (ministrar, servir), LEITOURGIA (serviço, ministério) LEITURGÓS

(ministros).


               As palavras “ministro” e “ministério”, decalcadas no latim
               da Vulgata, correspondem ao grego diakonos e diakonia.


                                                                               38
Esses dois termos não pertencem à linguagem religiosa dos
                setenta, que os emprega, raramente, em sentido profano
                (Est 1,10; 6,1-5). Na vulgata, minister traduz o hebraico
                mesaret (cf. Ex 24,13: Josué, servidor de Moisés), que pode
                designar os sacerdotes, ministros do culto (Is 61,6; Ez
                44,11; Jl 1,9). Entretanto, desde o AT, o fato dum
                ministério religioso exercido no povo de Deus pelos
                titulares de certas funções sagradas é coisa bem atestada: os
                reis, os profetas, os depositários do sacerdócio, são servos
                de Deus, que exercem uma mediação entre Ele e seu povo.
                Assim São Paulo dirá que Moisés era ministro da primeira
                aliança (I Cor 3,7.7). No NT, Cristo é o único mediador
                entre Deus e os homens, o único sacerdote que oferece o
                sacrifício da salvação, o portador único da revelação porque
                ele é a Palavra feita carne. Mas na igreja que ele fundou se
                exerce um ministério de novo gênero, que está a serviço de
                sua Palavra e de sua graça.70


      Em geral, as listas e referências a ministérios, nas fontes paulinas, acompanham

os mesmos critérios dos Dons.


                Assim como os dons, todos os ministérios, enquanto
                ministérios do Senhor, são espirituais e assistidos
                extraordinariamente pelo Espírito Santo. Além dos
                ministérios serem assistidos pelo Espírito em sua repartição
                e diversidade, também a igreja de Cristo, como um todo e
                em sua unidade do corpo, é assistida extraordinariamente
                pelo Espírito.71


      Vejamos o uso das palavras que podem ser traduzidas em português por
ministro, ministério e ministrar; nas epístolas que são consideradas fontes

incontestáveis do pensamento paulino:

      DIACONIA (ministério - serviço)

      Rm 11,13-14 - dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou

apóstolo dos gentios, glorifico o meu MINISTÉRIO para ver se de algum modo

posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles.


70BORN, A. Van Den,Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Petrópolis, Vozes, 1871, p. 591.
71JOSGRILBERG, Rui de Souza, Dons e Ministérios na Bíblia, in: Dons e Ministérios Fontes e
Desafios, Piracicaba, Agentes da Missão, 1991, p. 28.


                                                                                             39
Rm 12,7 - se MINISTÉRIO, dediquemo-nos ao MINISTÉRIO; ou o que

ensina, esmere-se no fazê-lo;


      Rm 15,31 - para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que

este meu SERVIÇO em Jerusalém seja bem aceito pelo santos;


      I Cor 12,5 - E também há diversidade nos SERVIÇOS, mas o senhor é o

mesmo.


      I Cor 16,15 - ... (sabeis que a casa de Estefanas é as primícias da Acaia, e que se

consagraram ao SERVIÇO dos santos).


      II Cor 3,7 - E se o MINISTÉRIO da morte, gravado com letras, se revestiu de

glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da

glória do seu rosto, ainda que desvanecente.


      II Cor 3,8 - como não será de maior glória o MINISTÉRIO do Espírito.


      II Cor 3,9 - Porque se o MINISTÉRIO da condenação foi a gloria, em muito

maior proporção será glorioso o MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos foi

feita, não desfalecemos;

      II Cor 4,1 - Pelo que tendo este MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos

foi feita, não desfalecemos;


      II Cor 5,18 - Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por

meio de Cristo, e nos deu o MINISTÉRIO da reconciliação,

      II Cor 6,3 - não dando nós nenhum motivo de escândalo em cousa alguma, para

que o MINISTÉRIO não seja censurado.


      II Cor 8,4 - pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem nesse

SERVIÇO em favor dos santos.




                                                                                      40
II Cor 9,1 - Quanto ao SERVIÇO em favor dos santos, é desnecessário

escrever-vos;


      II Cor 9,12 - Porque o SERVIÇO desta assistência não só cumpre a necessidade

dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus.


      II Cor 9,13 - Tal SERVIÇO será para eles uma prova; e eles agradecerão a Deus

pela obediência que vocês professam ao Evangelho de Cristo e pela generosidade com

que vocês repartem os bens com eles e com todos.


      II Cor 11,8 - Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder

SERVIR.


      DIÁKONOS (ministro-servo).


      Rm 13,4 - visto que a autoridade é MINISTRO de Deus para teu bem.

Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada;

pois é MINISTRO de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.


      Rm 15,8 - digo, pois que Cristo foi constituído MINISTRO da circuncisão, em

prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais;

      Rm 16,1 - Recomendo-vos a nossa irmã Febe, DIACONISA da Igreja de

Cencréia.


      I Cor 3,5 - Quem é Apolo? E quem é Paulo? SERVOS por meio de quem

crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um,

      II Cor 3,6 - o qual nos habilitou para sermos MINISTROS de uma nova

aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.


      II Cor 6,4 - Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como

MINISTROS de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas provações, mas

angústias,


                                                                                        41
II Cor 11,15 - não é muito, pois, os seus próprios MINISTROS se transformem

em MINISTROS de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.


       II Cor 11,23 - São MINISTROS de Cristo? (Falo como fora de mim) eu ainda

mais; em trabalho, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em

perigos de morte, muitas vezes.


       Gl 2,17 - Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós também

achados pecadores, dar-se o caso de ser Cristo MINISTRO do pecado? Certo que

não.


       Fl 1,1 - Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo

Jesus, inclusive bispos e DIÁCONOS, que vivem em Filipos.


       I Ts 3,2 - e enviamos nosso irmão Timóteo, MINISTRO de Deus no Evangelho

de Cristo, para, em benefício de vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos.


       LEITURGÉOO (servir).


       Rm 15,27 - Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque se os

gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também

SERVÍ-LOS com bens materiais.

       LEITOURGÍA (serviço).


       Fl 2,17 - Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício

e SERVIÇO da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo.

       Fl 2,30 - Visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte, e

se dispôs a dar sua própria vida para SERVIR-ME de socorro.


       LEITOURGÓS (ministro-servo)




                                                                                      42
Rm 13,6 - Por esse motivo pagais tributos; porque são MINISTROS de Deus,

atendendo constantemente a este serviço.


      Rm 15,16 - para que eu seja MINISTRO de Cristo Jesus entre os gentios, no

sagrado encargo de anunciar o Evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja

aceitável, uma vez santificada pelo Espírito.


      Fl 2,25 - No momento, achei necessário enviar a vocês Epafrodito, este nosso

irmão que é também meu companheiro de TRABALHO e de luta, que vocês mesmos

mandaram SERVIR às minhas necessidades




1.1.4. A Estrutura Carismática da Eclesiologia Paulina

      Como já verificamos nos dois itens anteriores (1.1.2 e 1.1.3), o Apóstolo Paulo

utilizou-se muito dos termos dons (charisma) e ministérios (diakonia, leitourgia) em

seus escritos. Observando-os mais atentamente, percebemos o uso da palavra dom

(carisma), algumas vezes em sentido genérico e outras vezes em sentido específico e

técnico.


      Em sentido genérico, carisma significa “um dom generoso”, “uma graça ou

bênção do amor de Deus”. Em sua carta aos Romanos 5,15-16, por exemplo, o termo

carisma designa o “dom divino da redenção, realizada por Cristo”. Em Rm 6,23,

carisma é aplicado a uma realidade ainda mais genérica: “Porque o salário do pecado é

a morte; enquanto o dom de Deus (Carisma) é a vida eterna, em união com Cristo

Jesus, nosso Senhor”.

      Em Rm 11,29 lemos: “Pois os Dons (carisma) e o chamamento de Deus são

irrevogáveis”. Carisma é usado, pois, de forma muito geral para designar todos os

Dons de Deus. Na segunda carta aos Coríntios 1,10-11, São Paulo escreve: “Ele nos

livrará de tamanhos perigos de morte... se nos ajudardes, também vós, com vossas



                                                                                  43
orações. Assim esta graça (carisma) obtida por intervenção de muitos...”. Carisma

significa, aqui, a graça de ser libertado dos perigos de morte.


      Poderíamos buscar ainda outros textos em que o apóstolo Paulo usa a palavra

carisma em sentido genérico.


      Em outros escritos o apóstolo usa o termo carisma em sentido específico,

técnico. Sentido que ele mesmo define como “manifestação do Espírito para proveito

comum” (I Cor 12,7). Encontramos, de modo especial, a palavra carisma usada em

sentido específico nos textos clássicos de I Cor 12,1-11; 12,12-31; 13,1-8; 14,1-25;

14,26-40 e Rm 12,6-9.


      Em sentido específico, carisma designa os dons espirituais dados pelo Espírito

Santo a quem lhe apraz, para o serviço (ministério) em favor da comunidade ou de

algum membro da mesma.


      Para entendermos melhor a dinâmica do pensamento paulino, com respeito a

organização carismática da igreja local, devemos deter-nos um pouco no estudo das

listas de carismas apresentadas pelo apóstolo.




      1.1.4a - As listas dos Carismas em Paulo

      Em duas de suas cartas, São Paulo faz uma listagem de carismas. Ao todo

encontramos seis listas, sendo cinco em I Coríntios e uma em Romanos.


      Percebe-se que a intenção do apóstolo não era a de apresentar uma enumeração

precisa, sistemática, mas a de ensinar, orientar, exortar para a realidade da existência,

da diversidade, da origem, da função, da hierarquia e do uso correto dos carismas.


                                                                                      44
Com certeza, ele poderia ter enumerado muitos outros carismas que havia constatado

em suas comunidades cristãs.


                   Carisma... Partindo do caráter orgânico da Igreja, São Paulo
                   insiste em I Cor 12 na grande diversidade dos c.s. As
                   enumerações em I Cor 12,8.-11.28.30; Rm 12,6-8, ao que
                   tudo indica, não pretendem ser completas. Nem tampouco
                   pode-se delas reduzir uma divisão, pois algumas dessas
                   denominações são genéricas (milagres), outras específicas
                   (curas); algumas referem-se ao conteúdo (sabedoria,
                   ciência), outras ao exercício concreto (profecia, governo,
                   instrução, falar línguas). Em I Cor 12,28 (Cf Ef. 4,11)
                   encontramos uma certa hierarquia: apóstolos (em sentido
                   mais largo), profetas, doutores e depois os demais. Aqui
                   trata-se de ofícios com carisma permanente.72


         Uma visão de conjunto das listas, auxilia a análise e distinção das diversas

funções e espécies de carismas. Observemos as seis listas de carismas apresentadas

nos escritos paulinos.

             Rm 12,6-9                         I Cor 12,1-11               I Cor 12,12-31
1. profecia                          1. sabedoria                   1. (ser) apóstolo
2. serviço                           2. conhecimento                2. (ser) profeta
3. ensino                            3. fé                          3. (ser) doutor
4. exortação                         4. cura                        4. milagres
5. distribuição de seus bens         5. operação de milagre         5. curas
6. presidência                       6. profecias                   6. assistência
7. misericórdia                      7. discernimento de Espírito   7. governo
                                     8. variedade de línguas        8. falar línguas
                                     9. interpretação de línguas
            I Cor 13,1-8                       I Cor 14,1-25               I Cor 14,16-40
1. falar línguas                     1. falar línguas               1. profecia
2. profecia                          2. profecia                    2. revelação
3. conhecimento                                                     3. falar línguas
4. fé                                                               4. interpretar línguas


72   BORN, A. Van Den, op. Cit., p. 245.


                                                                                             45
5. distribuição de seus bens



                Paulo não se preocupou em dar-nos uma classificação
                racional dos carismas, embora os enumere diversas vezes.
                É, contudo, possível reconhecer os diversos domínios de
                aplicação em que os dons do Espírito têm lugar. Em
                primeiro lugar, certos carismas são relativos às funções do
                ministério (cf. Ef 4,12): os dos apóstolos, dos profetas, dos
                doutores, dos evangelistas, dos pastores (I Cor 12,28; Ef
                4,11). Outros concernem às diversas atividades úteis à
                comunidade: serviço, ensinamento, exortação, obras de
                misericórdia (Rm 12,75), palavra de sabedoria ou de
                ciência. Fé eminente, dom de cura ou de operar milagres,
                falar em línguas, discernimento dos espíritos, ...73


      Analisando as listas citadas no quadro acima, vemos que o apóstolo Paulo

apresenta uma hierarquia entre os carismas. Esta classificação hierárquica não é

estabelecida de maneira igual para as duas comunidades.


      Com respeito a esta hierarquização diferenciada dos carismas, entre a

comunidade Corintiana e a Romana, Roberto Alves Viana nos diz o seguinte:


                Aos Coríntios, Paulo estabelece que o maior e mais
                importante carisma (dom) é a profecia. Os carismas
                chamados espirituais, como o de falar em línguas, devem
                ficar em segundo plano. Aos Romanos, o apóstolo
                demonstra que eles devem procurar os carismas de
                profetizar, ensinar e presidir, bem como os carismas de
                servir, distribuir seus bens e exercer misericórdia... Torna-
                se claro que, para Paulo, a hierarquia de carismas é
                determinada pela conjuntura vivida na comunidade que fará
                uso destes carismas.74

      Paulo escreveu para comunidades que viviam em contextos diferentes, e por isso

apresenta hierarquias diferentes ao relacionar as listas de dons. Apesar das diferenças,

há um ponto fundamental que coincide nestes ensinamentos: tanto na carta aos


73LÉON-DOFOUR, Xavier, op. Cit., p. 125.
74VIANA, Roberto Alves, Os carismas em Paulo, Faculdade de Teologia, São Bernardo do Campo,
1993, p. 114 (monografia final do Curso de Bacharel em Teologia).


                                                                                              46
Corintios, quanto na carta aos Romanos, “os carismas devem ser usados para o

serviço, edificação, ensino e exortação da comunidade”.75 Ou seja, o carisma não tem

um fim em si mesmo, é antes o meio pelo qual Deus atua na comunidade, a qual,

movida pelo Espírito de Deus, atua na sociedade. Lenardo Boff afirma que em Paulo:

“o carisma significa simplesmente a função concreta que cada qual desempenha

dentro da comunidade a bem de todos”.76




       1.1.4b - O carisma como “Estrutura estruturante da comunidade”.77

       Hans Küng, teólogo sistemático, afirma que “a redescoberta dos carismas é uma

redescoberta da eclesiologia especificamente paulina”.78 Como fruto de seu trabalho
teológico, consegue descobrir que em sua origem a igreja não possuía estrutura

hierárquica, mas sim uma estrutura carismática.


                 A I Cor, como todas as Espístolas indiscutidas de São
                 Paulo, não fala nem de “presbíteros” nem de “Episcopos” (
                 a única exceção tardia é Filip 1:1: “Episcopos” e
                 “diáconos”), nem de ordenações ou de imposição das mãos;
                 é esta Epístola que, repetidamente, nomeia os “carismas”
                 ou os “dons espirituais” que, correspondentemente à
                 medida da graça, são dados a cada cristão, assim como é
                 esta Epístola que traz largos capítulos sobre a estrutura
                 carismática da Igreja que, por toda parte nas Epístolas
                 paulinas, transparece e é pressuposta.79


       Para detalhar este modelo de igreja organizada segundo os dons e ministérios,

Paulo apresentará a igreja como um corpo que possui muitos membros, todos estes

vivificados pelo mesmo espírito e cada qual com sua função.




75 Idem, p. 120.
76BOFF,  Leonardo, op. cit., p. 238.
77 Expressão utilizada por Leonardo Boff em seu livro Igreja Carisma e Poder, op. Cit., 238.
78 KÜNG, Hans, op. cit., p. 258.
79 Idem, p. 257.



                                                                                               47
A pluralidade e a diversidade dos carismas e a sua
                   finalidade eclesial convergente têm desenvolvimento
                   adequado no paralelo com o organismo humano,
                   constituído de muitos e diferentes membros, empenhados
                   no seu crescimento e no seu bem. A comunidade cristã
                   local é como um corpo; por isso, no seu interior vale a regra
                   da pluralidade e da multiplicidade, ou da diferenciação, mas
                   também da interdependência e da solidariedade.80


         Na estrutura carismática apresentada pelo pensamento paulino, é impossível

existir um membro não carismático no seio da comunidade.


                   Não existe nenhum membro não carismático. Vale dizer
                   ocioso, sem ocupar um determinado lugar na comunidade:
                   “cada membro está a serviço do outro membro” (Rm 12,5).
                   Todos gozam de igual dignidade, não cabem privilégios
                   que desestruturam a unidade do todo: “o olho não pode
                   dizer à mão: não preciso de ti; nem tampouco a cabeça aos
                   pés: não necessito de vós” (I Cor 12,21). A regra de ouro
                   que salvaguarda a sanidade do modelo, sua circularidade
                   fraterna foi assim formulada por Paulo: “todos os membros
                   tenham igual solicitude uns com os outros” (I Cor 12,25).81


         Grabner-Hainder, ao discorrer sobre o vocábulo carismático, afirma o seguinte:


                   Pablo da este nombre a los hombres dotados de especiales
                   dones en beneficio de la comunidad. El carácter
                   sobrenatural de estos dones del Espiritu y su procedencia
                   del Espíritu Santo se reconoce por el hecho de que se
                   ordenan al servicio de todos (I Cor 12,7). Este criterio
                   alude, por un lado, a los excesos de los exaltados y de los
                   entusiastas (cf. I Cor 14,22) y, por otro, sitúa a los
                   carismáticos dentro de la historia, porque bajo diferentes
                   circunstancias y en diferentes épocas pueden ser muy
                   variadas las necesidades de la comunidad, e por
                   consiguiente también los servicios que necesita. Los
                   carismas mencionados en el Nuevo Testamento (palabra de
                   sabiduria, palabra de ciencia, fé en el Espíritu, don de
                   curaciones, poder de milagros, profecia, dicernimento de
                   espíritus, diversidade de lenguas, don de interpretárlas, cf. I
                   Cor 12,8-10) no son en modo alguno una enumeracion
                   exclusiva. Al contrário, debe considerar-se carismático a


80   BARBAGLIO, Giuseppe, 1-2 Coríntios, São Paulo, Paulinas, 1993, p. 51.
81BOFF,  Leonardo, op. Cit., p. 238.


                                                                                      48
todo hombre que se compromete en Cristo para bien de la
                Iglesia, aun en el caso (y precisamente en el caso) de que su
                actuación se salga del esquema de lo acostumbrado,
                tradicional y convencional. Mientras que en la primitiva
                Iglesia los encargados del ministério eram casi siempre a la
                vez carismáticos, hoy, debido a la evolucion del ministério,
                el campo de acción conjunta de los carismáticos y ministros
                oficiales en el sentido de I Cor 12,11 ayudaria a ebitar
                desagradables incidentes en la vida actual de la Iglesia.82


      O apóstolo Paulo nos apresenta um modelo alternativo de organização

comunitária. Um modelo bem diferente daquele apresentado pelas Epístolas Pastorais,

onde tudo gira em torno da tríade: BISPO - PRESBÍTERO - DIÁCONO.


                ... os três são portadores privilegiados do Espírito e sobre
                eles se constrói a comunidade, estabelecendo, de entrada,
                uma divisão entre membros que deixam de ser iguais.83

      Para o modelo carismático do apóstolo Paulo, não há distinção entre os

membros. Todos são iguais. Nele não vemos uma hierarquia que acumula todo o

poder sagrado e todos os meios de produção religiosa, ou mesmo um grupo de

membros passivos ou desinteressados. Ou seja, não vemos uma separação entre os

clérigos e os leigos. A hierarquia é considerada apenas um “estado carismático na

igreja que não pode recalcar, como as vezes ocorre, outros carismas que o Espírito

suscita na comunidade”.84

      Os carismas recebidos pela comunidade são revertidos em ministérios, ou seja,

em serviços prestados para o bem comum. A estrutura carismática paulina é aquela

que valoriza os dons de cada um, proporcionando a eles a oportunidade de transformá-

los em ministérios (serviços). É Deus quem capacita a cada membro, visando um fim

proveitoso.




82 GRABNER-HAIDER, Anton, Vocabulário Prático de la Bíblia, Barcelona, Herder, 1975, p. 194.
83BOFF,  Leonardo, op. Cit., p. 236.
84 Idem, p. 239.



                                                                                               49
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Dons e Ministérios na Igreja Metodista

  • 1. FACULDADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA DONS E MINISTÉRIOS uma estrutura organizacional que visa a realizar a missão de Deus por Paulo Dias Nogueira Trabalho apresentado à Congregação da Faculdade de Teologia como requisito para conclusão do Curso de Bacharel em Teologia São Bernardo do Campo, outubro de 1994
  • 2. A comissão tendo examinado o presente Trabalho Final de Curso, o considera _________________ _______________________ Prof. Clovis Pinto de Castro Orientador _______________________ Prof. José Carlos de Souza _______________________ Prof. Hélerson Bastos Rodrigues 2
  • 3. DEDICATÓRIA À minha querida esposa Valéria Aparecida dos Santos Nogueira, que com muito carinho e compreensão compartilhou comigo os momentos difíceis de minha formação teológico-pastoral. A você todo o meu amor e gratidão pela amizade, paciência, tolerância, companheirismo e colaboração em momentos de necessidade. “As muitas águas não poderão apagar o nosso amor, nem os rio afogá-lo”. Ct 7.8 Aos meus pais, Gildo Nogueira e Maria Dias Nogueira, pelo carinho com que me educaram. Sou grato por todo o vosso amor e apoio. A vocês todo o meu amor e admiração. Às minhas irmãs, Patrícia, Perla e Priscila, pelo apoio e incentivo dispensados nestes anos. 3
  • 4. AGRADECIMENTOS A Deus... ... pelo privilégio concedido ao me vocacionar para o ministério pastoral; ... pelo sustento que me propiciou nestes anos de formação. À Igreja Metodista na Quinta Região Eclesiástica, que possibilitou minha vinda à Faculdade de Teologia. Ao meu orientador, professor Clovis Pinto de Castro, pela disponibilidade e amizade. Aos leitores, professor José Carlos de Souza e professor Hélerson Bastos Rodrigues pelas sugestões e orientações dispensadas. À Rosilei Mantovani amiga e digitadora destas páginas. 4
  • 5. ÍNDICE Introdução ................................................................................................................... 07 Capítulo 1 Dons e Ministérios - Uma Igreja que busca realizar a Missão de Deus ..................... 10 1. “De olho no retrovisor” .......................................................................................... 11 1.1. Uma missão norte-americana.......................................................................... 11 1.2. Em busca de autonomia .................................................................................. 13 1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a Missão ..... 15 1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja .... 18 1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal 1974-1978) ............................ 19 1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas evangelizam (Plano Quadrienal 1979-1982) .................................................................................................... 21 1.4.3. Plano para a Vida e a Missão da Igreja - 1982 ..................................... 24 1.4.4. As práticas de algumas Igrejas ............................................................. 29 Capítulo 2 Dons e Ministérios - A Bíblia e a História como fontes inspiradoras ....................... 32 1. Dons e Ministérios na Bíblia ................................................................................. 33 1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios ................................................ 35 1.1.1. Definição das fontes paulinas ............................................................... 35 1.1.2. O uso da palavra dom (charisma) ......................................................... 36 1.1.3. O uso das palavras Ministério e Ministro ............................................ 39 1.1.4. A estrutura carismática da eclesiologia paulina ................................... 43 1.1.4.a. As listas dos carismas em Paulo .............................................. 45 5
  • 6. 1.1.4.b. O carisma como “estrutura estruturante da comunidade” ........ 47 1.1.4.c. Instruções paulinas à igreja de Corinto .................................... 50 2. Dons e Ministérios na História da Igreja Cristã .................................................... 52 2.1. Dons e Ministérios na Reforma Protestante ................................................... 53 2.1.1. O povo participa ativamente do culto ................................................... 55 2.1.2. Tradução da Bíblia para o alemão ........................................................ 56 2.1.3. O lar como espaço para a instrução religiosa ....................................... 56 2.1.4. A igualdade dos cristãos diante de Deus. Todos são sacerdotes .......... 57 2.2. Dons e Ministérios no Movimento Wesleyano do século XVIII .................... 60 Capítulo 3 Dons e Ministérios - Uma estrutura organizacional participativa e missionária ....... 65 Conclusão ................................................................................................................... 75 Bibliografia ................................................................................................................ 77 6
  • 7. INTRODUÇÃO A Igreja Metodista tem por princípio administrativo reunir-se periodicamente em concílios, para tratar de assuntos referentes à sua vida e missão. Os concílios são "órgãos jurisdicionais",1 e constituem-se em três, a saber: Concílio Geral, Concílio Regional e Concílio Local. O Concílio Geral é considerado "órgão superior de unidade da Igreja e suas funções são legislativas, deliberativas e administrativas".2 No mês de julho de 1987, a Igreja Metodista se reuniu na cidade de São Bernardo do Campo (SP), para realizar o seu XIV Concílio Geral. Concílio este que tomou algumas decisões visando a organizar a igreja em Dons e Ministérios, uma sistemática que optou, explicitamente, por um novo modelo de igreja. No texto "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", vemos os Bispos relembrarem algumas das decisões deste XIV Concílio Geral. O Concílio Geral da Igreja Metodista em 1987 tomou algumas decisões visando organizar a Igreja em Dons e Ministérios. a) Reafirmou o princípio conciliar para todos os níveis, inclusive igreja local e a descentralização do poder; b) a igreja local deixou de ser vista como uma unidade institucional, e sim como "Comunidade de fé"; c) enfatizou o sacerdócio universal de todos os crentes e a necessidade de todos se envolverem na Missão; d) reafirmou o conceito de Igreja e Missão percebida nos 1IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992, p. 16. 2Idem, p. 163 (artigo 54). 7
  • 8. últimos anos e presente no "Plano para a vida e a missão da Igreja"; e) reafirmou a unidade da Igreja e o princípio Metodista de conexionalidade. A igreja local é, assim, desafiada a dar oportunidades iguais a seus membros, de modo que expressem seus dons através de serviços prestados à comunidade e circunvizinhanças. Esse é o objetivo da Igreja de Dons e Ministérios. Dons que habilitam para o serviço, práticas que correspondam ao evangelho que é pregado. Com isso, surge uma exigência de maior liberdade de organização, a fim de utilizar os dons presentes nas comunidades, e a fim de atender às necessidades de serviço ao povo.3 Este Concílio Geral (1987), no que compete à sua capacidade de legislar,4 procurou ser mais enfático no que diz respeito à participação do laicato nos diferentes ministérios, colocando entre os deveres dos membros: 7. Reconhecer seu chamamento como ministro de Deus para as diversas áreas da missão. 8. exercer seu ministério participando dos serviços da Igreja Metodista e da Comunidade.5 Continuando a analisar os Cânones da Igreja Metodista, aprovados pelo XIV Concílio Geral, vemos que um grupo é reconhecido como Igreja, entre outras coisas, "no exercício de Dons e Ministérios do Espírito Santo" (art. 121 b); compete ao Concílio Local “reconhecer os dons das pessoas que se apresentam para exercê-los nos ministérios da Igreja Local" (art. 128, nº 21); sendo que “o trabalho desenvolvido nas Igrejas Locais toma a forma de ministérios por ela reconhecidos" (art. 135). Este Concílio Geral estabeleceu a organização da Igreja Local, tendo como ponto de partida os dons concedidos pelo Espírito Santo, os ministérios de seus membros e as necessidades do serviço na comunidade. Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios", 3COLÉGIO EPISCOPAL, "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", in: Igreja: Comunidade Missionária a serviço do Povo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991, p. 13-14. 4IGREJA METODISTA, op. cit., p. 163. 5Idem, p. 130. 8
  • 9. não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou mágico. Por isso, este trabalho procura mostrar que esta decisão (opção) não aconteceu por acaso. O primeiro capítulo indica que esta decisão é conseqüência da luta da Igreja Metodista brasileira por tornar-se “verdadeiramente” autônoma da Igreja Metodista Episcopal do Sul. E também que ela tem suas raízes mais fortes nos planos quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da Igreja de 1982. O segundo capítulo apresenta a Bíblia e a História da Igreja Cristã como fontes inspiradoras deste novo modelo organizacional. A releitura da Bíblia e da História é apresentada como sendo uma das motivações que levou a Igreja Metodista a optar por Dons e Ministérios em 1987. O terceiro capítulo apresenta Dons e Ministérios como uma estrutura organizacional participativa e missionária. A Igreja, que se organizara por muito tempo dentro de uma estrutura excessivamente burocrática de manutenção, optou em 1987 por uma estrutura organizacional mais flexível e condizente com sua proposta ministerial. 9
  • 10. CAPÍTULO I "DONS E MINISTÉRIOS" uma igreja que busca realizar a missão de Deus Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios", não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou "mágico".6 Podemos afirmar, sim, que as decisões tomadas neste concílio (1987), principalmente no que se refere ao movimento "Dons e Ministérios", são resultantes "de um longo processo de avanços e retrocessos, que tem suas raízes mais fortes nos Planos Quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da Igreja de 1982".7 Se queremos entender o movimento "Dons e Ministérios” da Igreja Metodista brasileira, não devemos nos limitar apenas na análise das decisões do XIV Concílio Geral. Devemos, sim, dar crédito à história da Igreja Metodista no Brasil, principalmente no que diz respeito à sua luta por tornar-se "verdadeiramente" autônoma da Igreja Metodista Episcopal do Sul, procurando, assim, criar uma 6Termo utilizado pelo professor Clovis Pinto de Castro em sua dissertação de mestrado. Vejamos o que ele nos diz: "Na verdade, essa opção não pode ser vista como algo mágico". Ele refere-se à opção por Dons e Ministérios feita pelo XIV Concílio Geral da Igreja Metodista. 7CASTRO, Clovis Pinto de, Igreja Metodista: Ação pedagógica do Colégio Episcopal na implantação de um novo modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios (1987-1991), Piracicaba, Unimep, 1992, p. 23. (Dissertação de Mestrado). 10
  • 11. estrutura organizacional que respondesse à sua realidade de Igreja brasileira. Outro ponto fundamental (que não trataremos neste trabalho) é que Dons e Ministérios surgiu na década de oitenta, em meio a um contexto político bem diferente do anterior. O crescimento do partido dos trabalhadores, o projeto Nova República, a mobilização popular em torno do movimento das “diretas já” e a instalação do Congresso Nacional Constituinte foram fatores que certamente influenciaram o surgimento de um projeto de igreja mais democrática, participativa e descentralizada. Para se falar de "Dons e Ministérios", devemos estar com os "olhos no retrovisor ", ou seja, estarmos olhando para o que já se passou. 1. "DE OLHO NO RETROVISOR" Um breve histórico do metodismo no Brasil 1.1. Uma missão norte-americana O Metodismo chegou ao Brasil como fruto das missões da Igreja Metodista norte-americana. Vejamos um breve resumo feito pelo professor Reily: A primeira tentativa de vinda e fixação do Metodismo ao Brasil, naufragou diante da grande recessão econômica nos Estados Unidos, a qual inviabilizava a manutenção da pequena missão. Só depois da guerra civil americana é que os metodistas vieram para ficar. O primeiro núcleo metodista foi montado em Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo, onde , através de trabalho do Rev. Junias Gastham Newman, foi organizada uma paróquia Metodista entre norte-americanos que para ali tinham imigrado após a guerra. Por solicitação destes imigrantes vieram missionários metodistas para trabalhar junto aos brasileiros, utilizando o nosso idioma. O primeiro a chegar foi o Rev. J. 11
  • 12. J. Ransom. A Igreja Metodista no Brasil tem se destacado pelo seu trabalho educativo. A primeira de suas escolas foi fundada em 1881 em Piracicaba por miss Martha Hit Watts, gerando, com o crescimento, a atual “UNIMEP.8 Durante os anos de 1867 à 1930 (sessenta e três anos) o território brasileiro foi considerado campo missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos. “A obra missionária era desenvolvida sob o domínio quase absoluto da presença e ação dos missionários nos pontos chave e de poder da Igreja”.9 A estrutura organizacional e administrativa montada pelos missionários era uma cópia fiel do modelo utilizado na igreja norte-americana. O metodismo era na realidade uma micro-sociedade, onde havia todos os componentes necessários para a construção de uma nova vida cultural, era uma extensão da sociedade norte-americana. Toda a ideologia apresentada aos brasileiros serviu para conduzí-los a “uma profunda admiração e dependência do sistema político-social norte-americano, e a um total alheamento da cultura e realidade brasileiras”.10 Esta mentalidade norte-americana fez com que o metodista brasileiro fosse indiferente à sua própria cultura; “sacralizando”, assim, o modo de viver destes missionários. Os missionários não hesitaram em pressionar e mandar de volta colegas que não concebiam a missão como o prolongamento dos usos e costumes americanos no Brasil. Dentre eles eu cito dois: - o pioneiro do metodismo no Brasil, que foi o rev. Ranson, foi pressionado a ir embora, precisamente por este motivo; e mais tarde o rev. Lee.11 8 REILY, Duncan Alexander, Igreja Metodista em 3 Tempos, Folheto distribuído pela Pastoral Universitária do Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, sd. Para um melhor aprofundamento deste assunto, ler: SALVADOR, José Gonçalves, História do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982. 9OLIVEIRA, Clory Trindade, Cem anos de Igreja Metodista do Brasil, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p.26. 10 Idem, p. 27. 11 Transcrição da palestra apresentada na 43ª Semana Wesleyana, na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, pelo professor Peri Mesquida, com o tema: “Estruturas Práticas do Poder na Igreja Metodista: da Inglaterra até o Brasil”, realizada em 25 de maio de 1994, às 14.00 horas, no Salão de 12
  • 13. Durante este período o metodismo brasileiro era totalmente submisso à Igreja Metodista norte-americana. 1.2. Em busca de autonomia12 Num esforço para tornar a Igreja Metodista no Brasil, ou melhor, Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil, em Igreja independente da Igreja Metodista norte-americana (ou seja, Igreja Metodista Episcopal do Sul), acontecerão três conferências em 1929 (divididas por região), de onde sairá uma proposta de autonomia da Igreja brasileira. Queria-se que: as conferências anuais do Brasil fossem organizadas em Igreja autônoma, para que, tendo plena liberdade de se desenvolver como instituição nacional continuasse, contudo, em união com a Igreja Metodista Episcopal do Sul.13 A Igreja Metodista Episcopal do Sul (em sua conferência Geral, reunida em maio de 1930 na cidade de Dallas, Texas, Estados Unidos da América), após ter estudado a proposta enviada pela Igreja no Brasil, aprovou-a decretando assim a autonomia da mesma. Leitura da Faculdade de Teologia. Para um maior aprofundamento desta questão, pesquisar: MESQUIDA, Peri, Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil, Juiz de Fora/SBC, UFJF/Editeo, 1994. 12 Este é um tema um tanto quanto vasto e complexo, que não queremos problematizar neste trabalho. Nos restringiremos a apresentar este acontecimento histórico a partir da análise dos seguintes textos: 1- IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. Cit., p. 9; 2- OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura organizacional e administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, 1982, p. 35-46; e 3- SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar- se na Missão Hoje, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/ Editeo, 1991, p. 49-55. Para um estudo mais aprofundado e crítico sobre este assunto, ler: 1- JOSGRILBERG, Rui de souza, O movimento da autonomia. Perspectiva dos nacionais, in: História, Metodismo, Liberações, São Bernardo do Campo, Editeo, 1990, p. 92-133; 2- REILY, D. A., Metodismo Brasileiro e Wesleyano, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1981, p. 21-46; 3- ROCHA, Isnard, Histórias da história do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 129-142. 13 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. cit, p. 9. 13
  • 14. Ainda que a Igreja Metodista do Brasil tenha se tornado autônoma com respeito à Igreja Metodista Episcopal do Sul, ela continuará a organizar-se como um reflexo da estrutura norte-americana. A estrutura com a qual se organiza o metodismo autônomo no Brasil é a mesma, com pequenas modificações, usada pelo metodismo norte-americano conforme estabelecida na sua disciplina (cânones) de 1922.14 A Igreja que recebeu sua autonomia em 1930 continuou ainda sendo dirigida por um bispo americano aposentado, que seguia a legislação da Igreja norte-americana. “Só em 1934 é que surge uma legislação da Igreja brasileira e a eleição do primeiro bispo nacional”.15 No decorrer dos trinta e cinco anos após a autonomia (1930-1965), a Igreja Metodista do Brasil vai amadurecendo sua autonomia, embora recebendo uma influência muito grande da Igreja norte-americana. A forma organizacional da Igreja brasileira durante estes anos é descrita pelo professor Clory Trindade, da seguinte maneira: A estrutura organizacional e administrativa implantada no metodismo autônomo era uma estrutura de manutenção e não missionária, isto é, a estrutura representava uma maquinária pesada exigindo cuidados permanentes e recursos crescentes, desviando a dinâmica do trabalho da evangelização e ação social. A necessidade da jovem Igreja Metodista no Brasil era de ordem missionária e não de manutenção.16 14OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista Teológica da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982, p.36. 15SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações missionárias na história do metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p. 49. 16OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.36. 14
  • 15. 1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a missão. Em 1965, a Igreja Metodista do Brasil revelava os primeiros sinais de uma Igreja a caminho de sua plena autonomia. No Concílio Geral deste ano se farão algumas alterações na carta constitucional, em relação a 1960, principalmente nas sessões: das ordens, do ministério, do episcopado, das responsabilidades morais e administrativas. Podemos dizer que este concílio refletiu um pouco da crise que o país enfrentava, com as conseqüências da Revolução de 1964. O Bispo Paulo Ayres nos apresenta, ainda que sucintamente, uma análise de conjuntura da Igreja Metodista do final dos anos cinqüenta e anos sessenta, destacando os seguintes aspectos ocorridos: ... incidente (não devidamente explicado) da renúncia do bispo César em 1955, a pressão para o estabelecimento de novas regiões (em parte devida ao regionalismo xenófobo crescente na Igreja), a crise na Faculdade de Teologia em 1962 (exoneração do reitor Natanael I. do Nascimento; eleição e renúncia do professor Almir dos Santos), a esquerdização do movimento da juventude Metodista (“ser cristão é ser da esquerda” Richard Shaull), o movimento da direita denominado “Esquema” em 1965, os impasses do Concílio Geral de 1965.17 O Concílio Geral de 1970 vai receber o impacto de todas estas crises. O Rev. Clory Trindade diz o seguinte: “O Concílio Geral de 1970/71 é o mais tumultuado da história do metodismo no Brasil. Pela primeira vez um Concílio é suspenso, voltando sua continuidade seis meses após, em janeiro de 1971”.18 Já o professor Geoval Jacinto da Silva (atual bispo da 3ª Região Eclesiástica) nos diz o seguinte com respeito à década de setenta: “A década de setenta surge como esperança e possibilidade de articular e elaborar as bases para uma igreja que esteja comprometida com a missão”.19 17 MATTOS, Paulo Ayres, A Questão da unidade Metodista (ou da Unidade que temos à Unidade que precisamos), in: Luta pela Vida e Evangelização, São Paulo, Paulinas, 1985, p. 299. 18OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.37. 19SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, op. cit., p. 50. 15
  • 16. Como vimos até agora, a Igreja Metodista no Brasil viveu por muito tempo organizada dentro de uma estrutura proposta pelo metodismo norte-americano. A década de setenta é considerada a década de mudanças (podemos dizer, mudanças “radicais”). A Igreja enfatiza mais a missão, e por isso quer deixar a estrutura de manutenção e organiza-se numa estrutura missionária. Uma estrutura que permita responder ao chamado de Deus, para a implantação de Seu Reino no mundo, e em particular na América Latina. Esse Concílio Geral (1970/71) promoveu grandes modificações no que diz respeito à estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista. Se compararmos esta nova estrutura aprovada com a antiga (1930-1965), veremos quão profundas foram estas modificações.20 O objetivo maior destas modificações era o de construir uma estrutura organizacional e administrativa que fosse mais brasileira. Pensava-se que, com o abrasileiramento da estrutura, seria possível exercer-se o verdadeiro papel da Igreja, que é promover a Missão de Deus. Uma das coisas que se pretendia alcançar com estas modificações era a de “enxugar-se a máquina”. Como já dissemos acima, a estrutura norte americana, com a qual o metodismo brasileiro se organizava, era de manutenção, uma estrutura pesada, burocrática e sem fins missionários. Tendo em vista “enxugar” um pouco a máquina, esse Concílio Geral (1970/71) aprovou a eliminação de “um” dos “cinco” níveis de estrutura da Igreja. O nível eliminado foi o Paroquial, permanecendo então apenas os níveis Local, Distrital, Regional e Geral. Outro ponto que se pretendia era o de dar um espaço maior ao leigo. Examinando todas as modificações estruturais, nos vários níveis da Igreja, vemos que “há um processo de laicização do poder”.21 Alguns órgãos passam a ser dirigidos por 20Isto pode ser comprovado se compararmos os Cânones de 1970/71 com o anterior. 21OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.39. 16
  • 17. leigos, em outros, ainda que não estejam presidindo, eles terão espaço como os clérigos. Foi neste Concílio também que a denominação deixou de ser “IGREJA METODISTA DO BRASIL” passando a ser chamada apenas por “IGREJA METODISTA”. Analisando os Cânones da Igreja Metodista de 1971, vemos que uma outra alteração básica foi a modificação da seção sobre Fins da Igreja, em Missão da Igreja.22 O rev. Clory afirma que esta alteração significa que a Igreja passa “de uma filosofia empresarial, secular, para uma filosofia missionária, de um enfoque individual para um enfoque mais amplo, de caráter social”.23 Houve outras modificações tanto na Carta Constitucional quanto nas Leis Adjetivas, mas não nos referiremos a elas.24 Podemos afirmar que o Concílio Geral de 1970/71 marcou profundamente o metodismo brasileiro. Ele apresentou alguns novos rumos para a atuação da Igreja. O Rev. Clory Trindade nos diz: “A mudança da estrutura organizacional e administrativa, foi o meio usado para dar forma concreta às aspirações”.25 A Igreja Metodista do Brasil por muito tempo aspirava uma Igreja mais brasileira e mais missionária. Julgava que certas estruturas estavam envelhecidas, e os resultados já não satisfaziam mais. Este Concílio (1970/71) tornou-se assim o momento de se realizar essas mudanças aspiradas por muitos. 22IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, p. 11. 23OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.41. 24 Para um maior aprofundamento com respeito a estas modificações da estrutura organizacional e administrativa da Igreja, na Carta Constitucional e também nas Leis Adjetivas (todas citadas acima), ler: OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965- 1982), op. cit. & IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, op. cit., comparando com o Cânones de 1978. 25OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44. 17
  • 18. Ainda que tenham sido feitas modificações na estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista, neste Concílio Geral, “faltava, ainda, um plano que pudesse aprofundar esse processo”.26 Nasce então em 1974 o primeiro Plano Quadrienal, realmente brasileiro, com propostas renovadoras e missionárias. Desencadeado o processo, com as modificações estruturais, logo mais a nova filosofia subjacente busca sua expressão, o que vai acontecer em 1974, com a elaboração do primeiro plano quadrienal, realmente brasileiro, e que representava uma nova teologia, numa nova visão missionária, chamando por mais renovadas formas institucionais. A missão é a fonte, o reino de Deus é o ponto de chegada, a libertação e o ministério de todos são a dinâmica, o Brasil e a sua cultura são o lugar e a forma da missão libertadora do evangelho de Cristo.27 1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja e a prática de algumas igrejas Como já vimos, no Concílio Geral de 1974 nasce o primeiro Plano Quadrienal plenamente brasileiro. Seu título é: “Missão e Ministério”. Seguindo a mesma linha do plano anterior, o Plano Quadrienal de 1978, com o título: “Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam”, foi aprovado pelo Concílio Geral deste ano (1978). O plano posterior ao de 1978 foi o de 1982. Um plano que “apesar de dar seqüência aos Planos Quadrienais, é um documento com características diferentes”.28 Se afirmamos que “Dons e Ministérios” tem suas raízes mais fortes nestes documentos,29 devemos então, neste momento, analisar um pouco a história e o conteúdo dos mesmos. 26CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 48. 27 OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44. 28CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 50. 29 Verificar a página 10 deste trabalho. 18
  • 19. 1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal - 1975-1978) A Igreja Metodista reuniu-se em Concílio Geral nos dias 4 a 14 de julho de 1974, no Instituto Bennett de Ensino, na cidade do Rio de Janeiro. Tal Concílio aprovou um documento chamado Plano Quadrienal (1975-1978), que trazia o seguinte título: Missão e Ministério”. O rev. Geoval Jacinto da Silva afirma que “desde o início dos anos setenta havia uma preocupação por parte do Conselho Geral em formar um grupo para elaborar um Plano de Trabalho para a Igreja”.30 Com respeito à elaboração e aprovação deste Plano Quadrienal, o prof. Clovis faz a seguinte ponderação: A elaboração do Plano foi bastante participativa. Houve um envolvimento de vários setores e segmentos da Igreja. A sua aprovação no Concílio Geral só aconteceu após quatro dias de muitas reuniões em grupos, para um estudo mais aprofundado.31 Podemos dizer que este Plano Quadrienal é o fruto da vontade da própria Igreja. Se no Concílio Geral de 1970/71 ela havia aprovado mudanças estruturais na organização e administração, em 1974 ela irá aprovar um Plano que venha a aprofundar este processo. A Igreja está em busca de realizar a missão de Deus. Quer conscientizar seus membros da necessidade de se envolverem na obra missionária. Por isso, entre outros elementos existentes no Plano, encontramos os seguintes: Reconhecemos ainda: 1) Que ministério é a Igreja Total, todos os seus membros; 2) que pastor e membro da igreja completam-se e completam a Igreja para o desempenho da sua Missão; 3) Que o ministério pastoral carece de uma reavaliação...; 4) que o ministério do crente não tem sido devidamente compreendido pela Igreja como essencial à Missão, e por isso carece de presença e ação no corpo de Cristo; 5) que a missão implica em testemunho, nas 30 SILVA, Geoval Jacinto da, op. cit., p. 50. 31CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 47. 19
  • 20. diferentes áreas da vida, que indivíduos e grupos dão da obra de Deus em Jesus Cristo e em apelo para que os homens participem dessa obra, pela fé, e se comprometam com ela, sendo para isso equipados pelo Espírito Santo.32 Após apresentar suas considerações, reconhecendo as necessidades de mudança da Igreja, teremos algumas propostas apresentadas neste plano. Podemos ver, tanto nas considerações acima, quanto nas propostas abaixo, que este plano apresenta realmente o início de um processo, que levaria a Igreja Metodista brasileira a optar, em 1987, por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. Vejamos as propostas do Plano: Propomos, portanto: A) Que tudo na Igreja Metodista (ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio) passe a existir em função da Missão e do testemunho cristão, em todas as áreas de ação da Igreja; B) Que a primeira tarefa da Igreja Metodista., agora, seja a de despertar o povo de Deus (pastor e laicato) para descobrir o seu lugar na Missão; C) Que esse despertamento se faça através do preparo devocional, teológico e doutrinário do pastor, primeiramente, e a seguir, do laicato (pastor preparado prepara para a Missão); D) Que todos (Bispo, pastor e membro da Igreja) zelem para que a Missão se cumpra fielmente, nas suas respectivas áreas de ação; E) Que o culto a Deus seja o “momento”, no espaço, para onde converge o povo e de onde emerge a Missão.33 Podemos também afirmar que este Plano (1975-1978) tinha uma direção clara, pois prosseguia rumo a uma igreja mais participativa e ministerial. Tinha como alvo envolver todos os membros da Igreja (leigos e clérigos) na obra missionária. Vejamos o que ele diz com respeito a seus objetivos: O objetivo do presente trabalho é conscientizar-nos do programa de ação da Igreja, como serva de Jesus Cristo, para libertar totalmente o Homem, através do poder do Evangelho, do pecado, do sofrimento, do medo e da morte, 32IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1975-1978, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1974, p. 8. 33 Idem, p. 8-9. 20
  • 21. dando-lhes a paz da fé mediante a nova vida em Cristo Jesus. Será um guia para a aplicação docente da Igreja nas igrejas locais, instituições de ensino e outras organizações que a Comunidade Metodista possui. Orientará o ministério no exercício da Missão em sua totalidade de leigos e clérigos. Conscientizará a todos para o alistamento nesta grande obra ministerial durante o quadriênio e, futuramente, até o tempo que for da vontade do Senhor.34 Reconhecemos, tendo em mente principalmente a parte final desta citação, que a vontade de Deus foi além deste quadriênio (1975-1978), e que este Plano foi apenas o início de uma nova caminhada. Podemos afirmar que, em 1974, a Igreja Metodista começa a traçar algumas linhas mestras, que trilhará futuramente. Analisando este Plano, encontramos claramente a “semente” de onde brotará a opção por Dons e Ministérios (1987). 1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam (Plano Quadrienal 1979-1982) No ano de 1977 o Conselho Geral35 constituiu um Grupo de Trabalho para elaborar o anteprojeto do Plano Quadrienal para o período 1979-1982. O anteprojeto, elaborado pelo Grupo de Trabalho, foi aprovado pelo Conselho Geral, que o encaminhou ao XIII Concílio Geral da Igreja Metodista em 1978. O documento enviado teve “a aprovação do plenário do Concílio Geral da Igreja Metodista no Brasil, realizado de 23 à 30 de julho na cidade de Piracicaba, estado de São Paulo”;36 tendo o seguinte título: Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam. 34 Idem, p. 6. 35 Conforme o artigo 73, 1 dos Cânones da Igreja Metodista de 1974, “compete ao Conselho Geral formular as linhas de ação, submetidas à aprovação do Concílio Geral”. 36 IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1979-1982, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1978, p. 3. 21
  • 22. Após uma pesquisa, reconheceu-se que o Plano Quadrienal de 1975-1978 foi em seu todo considerado bom. Seguindo então o mesmo pensamento que o Plano anterior, o Plano Quadrienal de 1979-1982, continuará caminhando rumo a uma Igreja missionária, onde todos os seus membros (clérigos e leigos) participam desta obra evangelizante. Continua-se a caminho de uma Igreja ministerial, onde todos são considerados ministros. Antes mesmo de expor seus objetivos, o Plano nos apresentará algumas afirmativas que julga ser importantes. Estaremos citando algumas: 1- O propósito de Deus é salvar o ser humano, concedendo- lhe nova vida à imagem de Jesus Cristo, integrando-o no seu reino, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus. 2- A missão da Igreja é participar da ação de Deus nesse propósito (...) 10- O viver humano, nestes dias, é altamente condicionado pela técnica, pelo consumismo imediato, pelos falsos valores do materialismo, pela massificação, pelo esquema de uma sociedade mercantilista. Sente-se a imperiosa necessidade de permitir ao ser humano a criação de situações nas quais ele tenha um confronto com a pessoa salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Urge anunciar uma notícia boa no meio de tantas más notícias. Urge evangelizar. (...) 13- Tudo na Igreja Metodista: ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio, existe em função da Missão, isto é, do testemunho, serviço e evangelização. 14- Todos os membros da Igreja pelo fato de pertencerem ao povo de Deus através do batismo, são ministros do evangelho. São chamados por Deus, preparados pela Igreja para, sob a ação do Espírito Santo, cumprirem a missão, em testemunho, serviço e evangelização.37 Somente então, após apresentar estas afirmativas (dentre as quais citamos apenas algumas), é que serão expostos os objetivos deste Plano. Como veremos, este 37 Idem, p. 13-14. 22
  • 23. Plano continuará insistindo na conscientização da Igreja em participar plenamente na obra missionária. Vejamos o objetivo geral do Plano: Objetivo Geral: orientar o povo metodista na sua vivência cristã sob a dinâmica do Espírito Santo que, em unidade, crescimento e serviço, promove a evangelização, em meio à realidade concreta do mundo.38 Quando afirmava isto, estava preocupado em levar o povo metodista a alguns objetivos operacionais, tais como: 1- A compreensão de que a evangelização é uma atitude natural e necessária de todo o cristão que esteja vivendo a nova vida em Cristo, vitalizada pela ação poderosa do Espírito Santo. Isto é o que aprendemos na Palavra de Deus, especialmente em Atos 2.42-47, 4.32-35, 9.32, entre muitos outros textos (...) 5- À consciência de que o Espírito Santo é a presença, o poder e ação na vida da Igreja (...) 9- À ação evangelizadora e pessoal e comunitária, através dos mais diversos meios de expressão e comunicação. 10- Ao conhecimento da problemática social, econômica e cultural do mundo contemporâneo. 11- À vida de serviço cristão (...) 13- À reconsagração de todo o povo metodista como ministros de Deus.39 Não podemos deixar de reconhecer que neste Plano também encontramos alguns vestígios de um movimento que culminaria na opção por Dons e Ministérios. Temos aqui, então, um pequeno desenvolvimento da “semente” lançada pelo Plano Quadrienal de 1974. 1.4.3. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (1982) 38 Idem, p. 16. 39 Idem, p. 16-17. 23
  • 24. O XIII Concílio Geral da Igreja Metodista foi realizado em Belo Horizonte - MG, no período de 18 a 28 de julho de 1982, nas dependências do Instituto Isabela Hendrix. Este Concílio Geral aprovou um documento denominado “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”, reconhecendo ser este um Plano que dava continuidade aos dois Planos anteriores. Este Plano (PVMI) surgiu como resultado da Consulta Nacional de 1981. Uma consulta realizada no Rio de Janeiro, que visava a avaliar a vida e a missão da Igreja, e que também é reconhecida como o principal evento da celebração de 50º aniversário da autonomia da Igreja Metodista brasileira. O professor Clovis afirma: “os resultados desta consulta não agradaram aos setores mais conservadores e carismáticos da Igreja; por outro lado, marcaram um avanço significativo dos setores mais progressistas da IM”.40 Ainda que este Plano (PVMI) seja uma continuidade dos dois Planos anteriores, ele terá algumas características particulares que o diferenciará dos anteriores. Um dos pontos que o diferencia dos dois “Planos Quadrienais” anteriores (1974 e 1978) é que este não propõe um programa de ação para um quadriênio, mas sim apresenta algumas linhas gerais que visam a orientar a ação da Igreja por um período indeterminado. Na própria introdução deste documento (PVMI), vemos descrito porquê seria importante aprovar um plano que não se limitasse a um quadriênio: A experiência do Colégio Episcopal e de vários segmentos da Igreja Metodista nestes últimas anos indica que o metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de identidade que abalou nossa Igreja após a primeira metade da década de sessenta. Estas experiências nos têm mostrado que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire sua vida e programação, e que não será dentro do curto espaço de um quadriênio, que corrigiremos os antigos vícios que nos impedem caminhar. Esse fato esteve claro na semana da consulta Vida e Missão, e no documento que ela 40CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 51. 24
  • 25. produziu. Ao adotarmos aquele documento como a base do novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais um programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que deverão orientar toda a ação da Igreja nos próximos anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado periodicamente. 41 O rev. Ely Éser Barreto César42 faz uma introdução do Plano, na segunda sessão regular do XIII Concílio Geral da Igreja Metodista, onde apresenta como sendo três as fontes que fundamentam o novo Plano (PVMI). O documento está fundamentado em três fontes: a) Texto básico da consulta Vida e Missão, realizada pelo Conselho Geral como parte das comemorações do Jubileu de Ouro da autonomia da Igreja Metodista. b) documento enviado pelo Colégio Episcopal ao Conselho Geral, contendo objetivos, bases, metas e prioridades para o próximo quadriênio; c) texto do atual Plano Quadrienal, especialmente a parte relativa às áreas da Missão e sua estruturação.43 O “Plano para a Vida e a Missão da Igreja” foi exaustivamente examinado pelo conciliares, que se dividiram em onze grupos para discutir este documento antes de levá-lo ao plenário. Ainda que houvesse alguns pontos polêmicos em torno deste documento, após sofrer algumas alterações em sua redação, foi aprovado pela maioria do plenário. Vejamos a redação da Ata, no que diz respeito à aprovação deste documento em 1982: APROVAÇÃO GLOBAL DO “PLANO PARA A VIDA E A MISSÃO DA IGREJA”: O presidente declara em ordem, como matéria para ser aprovada globalmente, depois de exaustivamente examinada, o “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”. Setenta e oito conciliares votam a favor, dois, contrariamente e um em branco. Aprovado (documento nove).44 41IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, in: Cânones 1992, p. 61. 42 O rev. Ely Éser Barreto César fazia parte do Conselho Geral, e por isso apresentou ao Concílio o Plano para a Vida e a Missão da Igreja que eles haviam elaborado, através do Grupo de Trabalho. 43 IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Atas e Documentos, Belo Horizonte, p. 10. 44 Idem, p. 28. 25
  • 26. Em sua dissertação de mestrado, o professor Clovis Pinto de Castro nos relembra que este Concílio Geral de 1982 foi um tanto quanto conturbado, em virtude de estar discutindo questões muito polêmicas. É bom lembrar que o XIII Concílio Geral foi marcado também por outras questões mais polêmicas, entre elas a integração da Igreja Metodista no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que foi aprovada só com cinco votos de diferença - 45 a favor e 40 contrários, e a transferência da administração do Instituto Metodista de Ensino superior (IMS), da Área Geral para a 3ª RE, com 44 votos favoráveis e 33 votos contra.45 Neste momento queremos passar para uma análise deste plano. Não estaremos preocupados em analisá-lo em seu geral, mas apenas algumas partes que estejam apontando na direção de uma Igreja Ministerial. Como já dissemos, e queremos relembrar neste momento, o “Plano para a Vida e a Missão da Igreja é continuação dos Plano Quadrienais de 1974 e 1978”.46 Como continuidade, ele enfatizará a necessidade de se envolver tudo e todos da Igreja na Missão de Deus. Não há um rompimento com os dois planos anteriores (1974-1978), mas sim, uma continuidade do processo iniciado no plano de 1974. A Igreja continua preocupada em direcionar todos os seus esforços para a missão. Preocupado com a má interpretação que poderia surgir a respeito da palavra Missão, este plano apresentará uma definição da mesma. O que é Missão? Missão é a construção do Reino de Deus, sob o poder do Espírito Santo, através da ação da comunidade cristã e de pessoas, visando o surgimento da nova vida trazida por Jesus Cristo para a renovação do ser 45CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 52. 46IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, op. cit, p. 61. 26
  • 27. humano e das estruturas sociais, marcados pelos sinais da morte.47 O Documento (PVMI) convoca a Igreja Metodista a “experimentar de modo cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o que ela de graça recebe do seu Senhor”.48 A Missão de Deus no mundo é o estabelecimento do Seu Reino. A tarefa da Igreja é a de participar deste ato, realizando assim sua principal tarefa, a evangelização. Para a realização desta obra, a Igreja deve reconhecer, entre outras necessidades, a de um auto-conhecimento. A Igreja precisa “descobrir suas possibilidades e seus Dons e valorizar seus ministérios para alcançar a participação total do povo na Missão de Deus”.49 Vemos aqui que a semente lançada, em 1974, começa a desenvolver-se com maior intensidade. A Igreja sabe que, para realizar a Missão de Deus, ela precisa valorizar os Dons existentes no seu meio. Seus membros são chamados a trabalhar na Missão de Deus, participando com seus dons, realizando seus ministérios. Vejamos o que o documento nos apresenta sobre o ato de trabalhar na Missão de Deus: -é trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido pelas forças do pecado e da morte, participando, como comunidade, com dons e serviços para o nascer da vida (Jr 1.4-10; Fp 1.18-26, 3.10-11; II Tm 1.10; Jo 3.14); - É somar esforços com outras pessoas e grupos que também trabalham na promoção da vida (Mc 9.38-41; At 10.28, 15.8-11).50 Para que a Igreja venha a realizar esta missão, este plano reconhece também a necessidade de se utilizar ferramentas e métodos adequados. Entre algumas das ferramentas, ele nos apresenta a seguinte: Na Igreja e na comunidade hoje encontramos novos desafios que exigem ferramentas adequadas. Uma destas, 47 Idem, p. 74. 48 Idem, p. 74. 49 Idem, p. 69. 50 Idem, p. 50. 27
  • 28. por exemplo, é a participação de todos os membros da Igreja, homens e mulheres, nos diferentes níveis de decisão.51 Como vimos, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja não interrompeu o processo iniciado em 1974. Ele preservou a linha de pensamento, rumo a uma Igreja missionária., onde todos os membros desta Igreja são convocados a participar da Missão de Deus. Podemos dizer que este plano não é apenas uma fonte, mas sim uma parte integrante do Movimento Dons e Ministérios. Pois ainda que em 1987 a Igreja Metodista tenha optado por um novo modelo de ser Igreja, ou seja, uma Igreja organizada em Dons e Ministérios, ela não abandonará o Plano para a Vida e a Missão da Igreja. Os Cânones, em nota explicativa sobre o Concílio Geral de 1987, fazem a seguinte ponderação: Passados cinco anos, o XIV Concílio Geral aprovou que os dons e ministérios, exercidos nos diferentes níveis da vida da Igreja, fossem tomados como elementos básicos para a sua estruturação. A organização da igreja, portanto, deve ser conseqüência da descoberta das necessidades e dos desafios missionários e do exercício dos dons e ministérios suscitados pelo Espírito Santo como resposta a tais desafios. Dentro deste novo contexto estrutural eclesiástico, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja continua sendo instrumento básico para a prática missionária da Igreja Metodista.52 O Plano para a Vida e a Missão da Igreja é o ideário que leva esta Igreja, organizada em Dons e Ministérios, a realizar uma prática missionária (estaremos falando mais sobre isto no 3º capítulo). 51 Idem p. 73. 52 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992. 28
  • 29. 1.4.4. As Práticas de algumas Igrejas Se afirmamos que “Dons e Ministérios” não nasceu do nada, mas que é fruto histórico de uma Igreja que busca realizar a missão, devemos então reconhecer que, além das influências dos planos anteriores,53 este plano será resultado de uma prática já existente em algumas igrejas metodistas, vejamos o que os Bispos afirmam no relatório prestado ao XIV Concílio Geral: Em formas mais diversas possíveis motivados por circunstâncias diferentes, regiões, igrejas locais, lideranças leigas e pastorais têm sido inspiradas e mobilizadas, na direção dos Dons e Ministérios. Cremos ser uma ação do Espírito presente, de forma dinâmica, na vida da IM. Devemos estar atentos a esta manifestação e procurar na vivência da igreja local, da região e da área geral, estabelecer nova configuração para a igreja, fundada não em cargos e poderes, mas em Dons e ministérios.54 Podemos afirmar que esta prática, já existente nas igrejas locais, em organizar-se em ministérios, seja resultado da implantação do Plano para a Vida e a Missão da Igreja. Ainda que este plano tivesse apresentado uma nova linha de pensamento para a igreja, ele não mexia nas estruturas organizacionais. Seria necessário uma nova maneira de organizar-se, se é que a igreja queria cumprir as exigências deste Plano. Veremos que é na Quinta Região que encontramos o maior núcleo de Igrejas se organizando desta maneira, ou seja, em ministérios alternativos. Este fato se deu devido ao projeto regional denominado Agentes da Missão. Este projeto tinha como seu principal objetivo “permitir que cada metodista se decida por um ministério e receba a nutrição para exercê-lo no mundo, fora das quatro paredes do templo”.55 53 Os Planos referidos são: Plano Quadrienal (1975-1978), Plano Quadrienal (1979-1982), Plano para a Vida e Missão da Igreja (1982). 54IGREJA METODISTA XIV CONCÍLIO GERAL, Relatório do Colégio Episcopal, São Bernardo do Campo, julho de 1987, p. 10. 55CÉSAR, Ely Éser Barreto, Uso da Bíblia na prática de nosso Ministério, Piracicaba, Agentes da Missão, 1988, p. 03. 29
  • 30. No Relatório da Execução do projeto integrado “Agentes da Missão”, apresentado ao XII Concílio Regional da Quinta Região, vemos que essa experiência foi de grande importância no planejamento do Programa Dons e Ministérios da Igreja Nacional. Todos os secretários de área da 5ª Região e os presidentes de federações e a Diretoria das crianças participaram, em março, na Sede Geral da Igreja Metodista, do Encontro Nacional de líderes para se planejar a implantação do Projeto Dons e Ministérios em todo o país. A contribuição da 5ª Região, dada a nossa experiência na primeira etapa recém-finda, foi decisiva.56 No próximo Concílio da Quinta Região Eclesiástica (XVIII), o Bispo Messias Andrino apresenta a Quinta Região como sendo uma região que já havia experimentado o exercício dos Dons e Ministérios, mesmo antes da deliberação do XIV Concílio Geral. A Quinta Região Eclesiástica é, reconhecidamente, uma das regiões metodistas que vem acumulando muita experiência no exercício dos Dons e Ministérios, em seu programa “Agentes da Missão”. Aqui ele não foi criado ou desenvolvido de modo isolado. A prova disso é que agora o XIV Concílio Geral o consagra como programa nacional. O positivo é que ele tem dado vários frutos na nossa Região. As poucas igrejas locais que o adotaram estão demonstrando muita vitalidade. Desta forma devemos reconhecer como positivo, podemos iniciar o quadriênio, e uma nova administração, com um programação para a qual, e de muitas maneiras, já estamos preparados. Esperamos que este fato contribua para o crescimento, em unidade, de todas as forças vivas da Região. Assim como o compromisso missionário uniu os cristãos do passado, temos razões para esperar que este mesmo fato se repita entre nós.57 56IGREJA METODISTA, XVIII Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 57. 57 IGREJA METODISTA, XIX Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 131. 30
  • 31. Como já vimos nas afirmações citadas, a prática da Igreja também foi um dos motivos que levaram o Concílio Geral de 1987 a optar por um modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios. Podemos concluir este capítulo relembrando a afirmação feita no início do mesmo: as decisões tomadas no XIV Concílio Geral (1987), principalmente no que se refere ao novo modelo de igreja, são resultantes deste longo processo (movimento) que descrevemos no decorrer deste capítulo. Dons e Ministérios é o fruto histórico de uma Igreja que visa a realizar a Missão de Deus. 31
  • 32. CAPÍTULO II “DONS E MINISTÉRIOS” a Bíblia e a História como fontes inspiradoras Afirmamos, no primeiro capítulo deste trabalho, que a Igreja Metodista, reunida em Concílio Geral em 1987, havia feito a opção por um novo modelo de igreja. Ou seja, uma igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. Há duas perguntas que podemos fazer neste momento: 1. Será que este modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios é realmente algo novo, inédito? 2. Será que este modelo nasceu apenas como fruto “ocasional” da História da Igreja Metodista brasileira? Não. Pois o modelo de igreja organizada em Dons e Ministérios é uma estrutura organizacional muito antiga, já utilizada por algumas comunidades cristãs do primeiro século. De fato, a estrutura carismática da igreja faz parte de um movimento conduzido pelo Espírito Santo que, desde o início do cristianismo até hoje esteve presente em alguns grupos e comunidades cristãs. Por isso, apresentaremos, neste capítulo, a Bíblia e a História da Igreja Cristã, principalmente a Reforma Protestante e o Metodismo Inglês do século XVIII, como sendo duas, entre outras, fontes inspiradoras que levaram a Igreja Metodista brasileira a optar por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. A releitura da Bíblia e da História foi uma das motivações que levou a IM a optar por Dons e Ministérios. 32
  • 33. 1. DONS E MINISTÉRIOS NA BÍBLIA Em primeiro lugar queremos descartar a afirmação de que Dons e Ministérios seja “O”58 modelo bíblico de organização da igreja. Podemos afirmar, sim, que ele seja “UM”59 dos modelos, dentre outros, apresentados pelo Novo Testamento. Ao estudarmos os escritos neotestamentários, descobrimos que não há uma unidade doutrinária entre os mesmos. Ao contrário, encontramos uma variedade de grupos, com teologias e maneiras de se organizarem bem diferentes. Querer legitimar a VERDADE EXCLUSIVA de um destes grupos, é ser muito pretensioso e também um mau intérprete do texto bíblico. Durante muito tempo a igreja cristã esqueceu-se, teórica e praticamente, da possibilidade de organizar-se segundo os Dons e Ministérios. Isto se deu devido ao fato de a eclesiologia cristã “se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das cartas pastorais (e os atos dos apóstolos), tendo esquecido a eclesiologia especificamente paulina das epístolas indiscutidas de São Paulo”.60 No final do primeiro século, o cristianismo iniciou um processo de definição de comportamento social e religioso. Este processo de uniformização teológica, de opção por uma ética e uma praxis política mais harmônica com a sociedade e da exclusão da autoridade carismática e feminina em favor de cargos hierárquicos, recebe o nome pelos exegetas e historiadores de Formação do Catolicismo Primitivo ou da Grande Igreja.61 58 Artigo definido - o único - individualiza o substantivo. 59 Artigo indefinido - um entre outros - generaliza o substantivo. Estas anotações gramaticais foram retiradas de: SACONI, Luiz Antonio, Nossa Gramática, São Paulo, Atual Editora, sd., p. 61. 60 KÜNG, Hans, A Igreja, Lisboa, Moraes Editora, 1969, p. 256, volume 1. 61 NOGUEIRA, Paulo A. S., Multiplicidade Teológica e a Formação do Catolicismo Primitvo na Ásia Menor, in: Igreja e Seita - Estudos da Religião nº 8, São Bernardo do Campo, Edims, 1992, p. 36. 33
  • 34. Como vimos, a formação do Catolicismo Primitivo é um processo de exclusão e limitação. E é bem neste momento que a igreja faz uma opção pelas epístolas pastorais, pois este modelo lhe permitia uma melhor harmonia para com a sociedade da época. Na verdade, o que aconteceu foi que um certo grupo, utilizando-se de poder, estabeleceu-se como norma e ponto de referência. Bultmann diz o seguinte: “A grande igreja é unicamente a heresia que teve mais êxito”.62 Hans Küng, teólogo católico contemporâneo, discorre a respeito deste abandono e esquecimento da estrutura carismática, afirmando: Por muito tempo, a Teologia Católica e a Igreja Católica desconheceram, teórica e praticamente, a estrutura carismática da igreja. Isso teve seu fundamento, em primeiro lugar naquele clericalismo e juridicismo que nos últimos tempos, tanto tem sido criticado mesmo dentro da Igreja Católica. A atitude clerical só pode aceitar no clero a atitude e a iniciativa propriamente ditas e decisivas, nunca em todos os membros do Povo de Deus. Pensamento juridicista é aquele que se mostra profundamente desconfiado em face da dinâmica antecipadamente não regulamentável do livre Espírito de Deus, que na Igreja sopra onde e quando quer. O desconhecimento da estrutura carismática da Igreja acha ainda o seu segundo fundamento especial no fato de a eclesiologia dos livros católicos de escola se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das Epístolas pastorais (e dos Atos dos Apóstolos), tendo esquecido a eclesiologia especificamente paulina das Epístolas indiscutidas de São Paulo, isto mesmo quando freqüentemente fazia citações formais de textos de São Paulo. A variedade e a tensão interna no Novo Testamento ou não eram notadas ou eram harmonizadas de maneira ilegítima.63 Percebe-se que a igreja cristã por muito tempo se esqueceu da possibilidade de organizar-se dentro de uma estrutura carismática, preferindo, assim, a organização hierárquica: Epíscopo - Presbítero - Diácono. E é tendo isto em mente que apresentaremos a organização carismática, ensinada pelo apóstolo Paulo, como uma 62 BULTMANN, R., Teologia Del Nuevo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1980, p. 563. 63KÜNG, Hans, op. Cit., p. 256. 34
  • 35. das fontes onde o modelo de igreja organizado em Dons e Ministérios inspira-se biblicamente. Para isso estaremos nos restringindo somente ao estudo das cartas que são consideradas fontes do pensamento paulino e não ao estudo de toda a Bíblia. Nosso objetivo é bem específico; apresentaremos a estrutura carismática da igreja, apresentada por Paulo, como uma maneira bíblica da igreja atual organizar-se. Em sua obra A Igreja, Hans Küng apresenta esta estrutura carismática como sendo a forma mais antiga da igreja se organizar.64 1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios 1.1.1. Definição das Fontes Paulinas65 Ao lermos o Novo Testamento, encontramos várias epístolas que citam o Apóstolo Paulo como autor. São elas: I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Romanos, Filipenses, Colossenses, Filemon, Efésios, I Timóteo, II Timóteo e Tito. Com o aperfeiçoamento das pesquisas neotestamentárias, a autoria destas cartas recebeu muitos questionamentos. Não iremos aqui apresentar os problemas que marcam estas epístolas, mesmo porque este não é o nosso objetivo neste trabalho. Estaremos seguindo a opinião da maioria dos estudiosos do Novo Testamento, que preferem definir os seguintes escritos como fonte segura do pensamento paulino: Romanos, I Coríntios, II Coríntios, I Tessalonicenses, Filipenses, Gálatas e Filemon. 64 Idem, p. 257. 35
  • 36. 1.1.2. O uso da palavra Dom (charisma) Com exceção de I Pd 4,10, somente Paulo e os escritos dependentes dele empregam a palavra dom (charisma). Esta “palavra é rara na literatura profana e também véterotestamentária, onde ocorre duas vezes, ainda assim em variantes”.66 A palavra carisma está decalcada no grego charisma que significa “dom gratuito” e se relaciona com a mesma raiz que CHÁRIS, “graça”. No NT esse termo nem sempre tem sentido técnico. Pode designar todos os dons de Deus, que são irrevogáveis (Rm 11,29), notadamente o “dom da graça” que nos vem por Cristo (Rm 5,15s) e que desabrocha com vida eterna (Rm 6,28). Com efeito, em Cristo Deus nos “cumulou de graça” (Ef 1,6: charitoo) e “nos concederá toda a espécie de dons” (Rm 8,32: charizo). Mas o primeiro de seus dons é o próprio Espírito Santo, que foi infundido em nossos corações e põe neles a caridade (Rm 5,5; Cf 8,15). O emprego técnico do termo charisma se entende essencialmente na perspectiva dessa presença do Espírito, que se manifesta por toda sorte de “dons gratuitos” (I Cor 12,1-4).67 Introduzir o termo CHARISMA num contexto de organização da comunidade foi um mérito unicamente do apóstolo Paulo. Ao discorrer sobre as igrejas paulinas, Ph. H. Menoud: O apóstolo teve o cuidado de organizar as igrejas que fundou. A esperança viva no retorno do Senhor não lhe é pretexto para negligenciar a ordem a reinar na casa de Deus (Cf I Cor 14,93), tanto que esta espera não deve encorajar os fiéis a não suprir suas necessidades pelo trabalho (Cf II Ts 3.6-12). Mas o apóstolo não consagra uma epístola especial à questão dos ministérios. Ele se limita a dar a cada igreja prescrições em harmonia com as circunstâncias locais.68 O termo charisma (geralmente usado no plural: charismata) aparece dezessete vezes no Novo Testamento; dessas, quatorze vezes em I e II Coríntios e Romanos 65 Para um maior aprofundamento com respeito a este assunto, pesquisar: KÜMMEL, W. Georg, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1982, p. 319-506. 66 BOFF, Leonardo, Igreja, Carisma e Poder, Petrópolis, Vozes, 1981, p. 237. 67 LEON-DUFOUR, Xavier, Vocabulário de Teologia Bíblica, Petrópolis, Vozes, 1972, p. 124. 68 VON ALLMEN, J. J., Vocabulário Bíblico, São Paulo, Aste, 1972, p. 254. 36
  • 37. (fontes incontestáveis do pensamento paulino), duas em I e II Timóteo (pós-paulinas) e uma em I Pedro. Vejamos a ocorrência deste termo nas fontes paulinas:69 Rm 1,11 - Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum DOM espiritual, para que sejais confirmados;... Rm 5,15 - Todavia, não é assim o DOM gratuito como a ofensa; porque se pela ofensa de um só morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom (doorea) pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foi abundante sobre muitos. Rm 5,16 - O DOM, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação. Rm 6,23 - Porque o salário do pecado é a morte, mas o DOM gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. Rm 11,29 - Porque os DONS e a vocação de Deus são irrevogáveis. Rm 12,6 - Tendo, porém, diferentes DONS segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; I Cor 1,7 - De maneira que não falte nenhum DOM, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo; I Cor 7,7 - Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou, no entanto cada um tem de Deus o seu próprio DOM; um, na verdade, de um modo, outro de outro. I Cor 12,4 - Ora, os DONS são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 69Os versículos citados abaixo, foram retirados de 1. Bíblia Sagrada, edição revista e atualizada no Brasil, Brasília, 1969. 2. Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, São Paulo, Paulinas, 1986. 37
  • 38. I Cor 12,9 - A outro, no mesmo Espírito, Fé; e a outro no mesmo Espírito, DONS de curar; I Cor 12,28 - A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois DONS de curar, socorros, governos, variedade de línguas. I Cor 12, 30 - Tem todos DONS de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos? I Cor 12,31 - Entretanto, procurai, com zelo, os melhores DONS. II Cor 1,11 - Ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos sejam dadas graças a nosso respeito, pelo BENEFÍCIO que nos foi concedido por meio de muitos. Para o apóstolo Paulo os Dons têm sua fonte na CHARIS (graça), no favor e na bondade de Deus. Com toda liberdade (I cor 12,11) Deus distribui esses “dons”, ou “serviços”, ou “realizações” (I Cor 12,4-6), mas tem sempre em vista as diferentes necessidades da igreja, bem como a situação e a capacidade de cada um. 1.1.3. O uso das palavras ministério e ministro As palavras gregas que traduzidas em português podem significar ministério, ministro e ministrar são as seguintes: DIAKONIA (ministério), DIAKONO (ministro), LEITOURGÉOO (ministrar, servir), LEITOURGIA (serviço, ministério) LEITURGÓS (ministros). As palavras “ministro” e “ministério”, decalcadas no latim da Vulgata, correspondem ao grego diakonos e diakonia. 38
  • 39. Esses dois termos não pertencem à linguagem religiosa dos setenta, que os emprega, raramente, em sentido profano (Est 1,10; 6,1-5). Na vulgata, minister traduz o hebraico mesaret (cf. Ex 24,13: Josué, servidor de Moisés), que pode designar os sacerdotes, ministros do culto (Is 61,6; Ez 44,11; Jl 1,9). Entretanto, desde o AT, o fato dum ministério religioso exercido no povo de Deus pelos titulares de certas funções sagradas é coisa bem atestada: os reis, os profetas, os depositários do sacerdócio, são servos de Deus, que exercem uma mediação entre Ele e seu povo. Assim São Paulo dirá que Moisés era ministro da primeira aliança (I Cor 3,7.7). No NT, Cristo é o único mediador entre Deus e os homens, o único sacerdote que oferece o sacrifício da salvação, o portador único da revelação porque ele é a Palavra feita carne. Mas na igreja que ele fundou se exerce um ministério de novo gênero, que está a serviço de sua Palavra e de sua graça.70 Em geral, as listas e referências a ministérios, nas fontes paulinas, acompanham os mesmos critérios dos Dons. Assim como os dons, todos os ministérios, enquanto ministérios do Senhor, são espirituais e assistidos extraordinariamente pelo Espírito Santo. Além dos ministérios serem assistidos pelo Espírito em sua repartição e diversidade, também a igreja de Cristo, como um todo e em sua unidade do corpo, é assistida extraordinariamente pelo Espírito.71 Vejamos o uso das palavras que podem ser traduzidas em português por ministro, ministério e ministrar; nas epístolas que são consideradas fontes incontestáveis do pensamento paulino: DIACONIA (ministério - serviço) Rm 11,13-14 - dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu MINISTÉRIO para ver se de algum modo posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles. 70BORN, A. Van Den,Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Petrópolis, Vozes, 1871, p. 591. 71JOSGRILBERG, Rui de Souza, Dons e Ministérios na Bíblia, in: Dons e Ministérios Fontes e Desafios, Piracicaba, Agentes da Missão, 1991, p. 28. 39
  • 40. Rm 12,7 - se MINISTÉRIO, dediquemo-nos ao MINISTÉRIO; ou o que ensina, esmere-se no fazê-lo; Rm 15,31 - para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu SERVIÇO em Jerusalém seja bem aceito pelo santos; I Cor 12,5 - E também há diversidade nos SERVIÇOS, mas o senhor é o mesmo. I Cor 16,15 - ... (sabeis que a casa de Estefanas é as primícias da Acaia, e que se consagraram ao SERVIÇO dos santos). II Cor 3,7 - E se o MINISTÉRIO da morte, gravado com letras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente. II Cor 3,8 - como não será de maior glória o MINISTÉRIO do Espírito. II Cor 3,9 - Porque se o MINISTÉRIO da condenação foi a gloria, em muito maior proporção será glorioso o MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; II Cor 4,1 - Pelo que tendo este MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; II Cor 5,18 - Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o MINISTÉRIO da reconciliação, II Cor 6,3 - não dando nós nenhum motivo de escândalo em cousa alguma, para que o MINISTÉRIO não seja censurado. II Cor 8,4 - pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem nesse SERVIÇO em favor dos santos. 40
  • 41. II Cor 9,1 - Quanto ao SERVIÇO em favor dos santos, é desnecessário escrever-vos; II Cor 9,12 - Porque o SERVIÇO desta assistência não só cumpre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus. II Cor 9,13 - Tal SERVIÇO será para eles uma prova; e eles agradecerão a Deus pela obediência que vocês professam ao Evangelho de Cristo e pela generosidade com que vocês repartem os bens com eles e com todos. II Cor 11,8 - Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder SERVIR. DIÁKONOS (ministro-servo). Rm 13,4 - visto que a autoridade é MINISTRO de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é MINISTRO de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. Rm 15,8 - digo, pois que Cristo foi constituído MINISTRO da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais; Rm 16,1 - Recomendo-vos a nossa irmã Febe, DIACONISA da Igreja de Cencréia. I Cor 3,5 - Quem é Apolo? E quem é Paulo? SERVOS por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um, II Cor 3,6 - o qual nos habilitou para sermos MINISTROS de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica. II Cor 6,4 - Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como MINISTROS de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas provações, mas angústias, 41
  • 42. II Cor 11,15 - não é muito, pois, os seus próprios MINISTROS se transformem em MINISTROS de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras. II Cor 11,23 - São MINISTROS de Cristo? (Falo como fora de mim) eu ainda mais; em trabalho, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Gl 2,17 - Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós também achados pecadores, dar-se o caso de ser Cristo MINISTRO do pecado? Certo que não. Fl 1,1 - Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e DIÁCONOS, que vivem em Filipos. I Ts 3,2 - e enviamos nosso irmão Timóteo, MINISTRO de Deus no Evangelho de Cristo, para, em benefício de vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos. LEITURGÉOO (servir). Rm 15,27 - Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também SERVÍ-LOS com bens materiais. LEITOURGÍA (serviço). Fl 2,17 - Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e SERVIÇO da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo. Fl 2,30 - Visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte, e se dispôs a dar sua própria vida para SERVIR-ME de socorro. LEITOURGÓS (ministro-servo) 42
  • 43. Rm 13,6 - Por esse motivo pagais tributos; porque são MINISTROS de Deus, atendendo constantemente a este serviço. Rm 15,16 - para que eu seja MINISTRO de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o Evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito. Fl 2,25 - No momento, achei necessário enviar a vocês Epafrodito, este nosso irmão que é também meu companheiro de TRABALHO e de luta, que vocês mesmos mandaram SERVIR às minhas necessidades 1.1.4. A Estrutura Carismática da Eclesiologia Paulina Como já verificamos nos dois itens anteriores (1.1.2 e 1.1.3), o Apóstolo Paulo utilizou-se muito dos termos dons (charisma) e ministérios (diakonia, leitourgia) em seus escritos. Observando-os mais atentamente, percebemos o uso da palavra dom (carisma), algumas vezes em sentido genérico e outras vezes em sentido específico e técnico. Em sentido genérico, carisma significa “um dom generoso”, “uma graça ou bênção do amor de Deus”. Em sua carta aos Romanos 5,15-16, por exemplo, o termo carisma designa o “dom divino da redenção, realizada por Cristo”. Em Rm 6,23, carisma é aplicado a uma realidade ainda mais genérica: “Porque o salário do pecado é a morte; enquanto o dom de Deus (Carisma) é a vida eterna, em união com Cristo Jesus, nosso Senhor”. Em Rm 11,29 lemos: “Pois os Dons (carisma) e o chamamento de Deus são irrevogáveis”. Carisma é usado, pois, de forma muito geral para designar todos os Dons de Deus. Na segunda carta aos Coríntios 1,10-11, São Paulo escreve: “Ele nos livrará de tamanhos perigos de morte... se nos ajudardes, também vós, com vossas 43
  • 44. orações. Assim esta graça (carisma) obtida por intervenção de muitos...”. Carisma significa, aqui, a graça de ser libertado dos perigos de morte. Poderíamos buscar ainda outros textos em que o apóstolo Paulo usa a palavra carisma em sentido genérico. Em outros escritos o apóstolo usa o termo carisma em sentido específico, técnico. Sentido que ele mesmo define como “manifestação do Espírito para proveito comum” (I Cor 12,7). Encontramos, de modo especial, a palavra carisma usada em sentido específico nos textos clássicos de I Cor 12,1-11; 12,12-31; 13,1-8; 14,1-25; 14,26-40 e Rm 12,6-9. Em sentido específico, carisma designa os dons espirituais dados pelo Espírito Santo a quem lhe apraz, para o serviço (ministério) em favor da comunidade ou de algum membro da mesma. Para entendermos melhor a dinâmica do pensamento paulino, com respeito a organização carismática da igreja local, devemos deter-nos um pouco no estudo das listas de carismas apresentadas pelo apóstolo. 1.1.4a - As listas dos Carismas em Paulo Em duas de suas cartas, São Paulo faz uma listagem de carismas. Ao todo encontramos seis listas, sendo cinco em I Coríntios e uma em Romanos. Percebe-se que a intenção do apóstolo não era a de apresentar uma enumeração precisa, sistemática, mas a de ensinar, orientar, exortar para a realidade da existência, da diversidade, da origem, da função, da hierarquia e do uso correto dos carismas. 44
  • 45. Com certeza, ele poderia ter enumerado muitos outros carismas que havia constatado em suas comunidades cristãs. Carisma... Partindo do caráter orgânico da Igreja, São Paulo insiste em I Cor 12 na grande diversidade dos c.s. As enumerações em I Cor 12,8.-11.28.30; Rm 12,6-8, ao que tudo indica, não pretendem ser completas. Nem tampouco pode-se delas reduzir uma divisão, pois algumas dessas denominações são genéricas (milagres), outras específicas (curas); algumas referem-se ao conteúdo (sabedoria, ciência), outras ao exercício concreto (profecia, governo, instrução, falar línguas). Em I Cor 12,28 (Cf Ef. 4,11) encontramos uma certa hierarquia: apóstolos (em sentido mais largo), profetas, doutores e depois os demais. Aqui trata-se de ofícios com carisma permanente.72 Uma visão de conjunto das listas, auxilia a análise e distinção das diversas funções e espécies de carismas. Observemos as seis listas de carismas apresentadas nos escritos paulinos. Rm 12,6-9 I Cor 12,1-11 I Cor 12,12-31 1. profecia 1. sabedoria 1. (ser) apóstolo 2. serviço 2. conhecimento 2. (ser) profeta 3. ensino 3. fé 3. (ser) doutor 4. exortação 4. cura 4. milagres 5. distribuição de seus bens 5. operação de milagre 5. curas 6. presidência 6. profecias 6. assistência 7. misericórdia 7. discernimento de Espírito 7. governo 8. variedade de línguas 8. falar línguas 9. interpretação de línguas I Cor 13,1-8 I Cor 14,1-25 I Cor 14,16-40 1. falar línguas 1. falar línguas 1. profecia 2. profecia 2. profecia 2. revelação 3. conhecimento 3. falar línguas 4. fé 4. interpretar línguas 72 BORN, A. Van Den, op. Cit., p. 245. 45
  • 46. 5. distribuição de seus bens Paulo não se preocupou em dar-nos uma classificação racional dos carismas, embora os enumere diversas vezes. É, contudo, possível reconhecer os diversos domínios de aplicação em que os dons do Espírito têm lugar. Em primeiro lugar, certos carismas são relativos às funções do ministério (cf. Ef 4,12): os dos apóstolos, dos profetas, dos doutores, dos evangelistas, dos pastores (I Cor 12,28; Ef 4,11). Outros concernem às diversas atividades úteis à comunidade: serviço, ensinamento, exortação, obras de misericórdia (Rm 12,75), palavra de sabedoria ou de ciência. Fé eminente, dom de cura ou de operar milagres, falar em línguas, discernimento dos espíritos, ...73 Analisando as listas citadas no quadro acima, vemos que o apóstolo Paulo apresenta uma hierarquia entre os carismas. Esta classificação hierárquica não é estabelecida de maneira igual para as duas comunidades. Com respeito a esta hierarquização diferenciada dos carismas, entre a comunidade Corintiana e a Romana, Roberto Alves Viana nos diz o seguinte: Aos Coríntios, Paulo estabelece que o maior e mais importante carisma (dom) é a profecia. Os carismas chamados espirituais, como o de falar em línguas, devem ficar em segundo plano. Aos Romanos, o apóstolo demonstra que eles devem procurar os carismas de profetizar, ensinar e presidir, bem como os carismas de servir, distribuir seus bens e exercer misericórdia... Torna- se claro que, para Paulo, a hierarquia de carismas é determinada pela conjuntura vivida na comunidade que fará uso destes carismas.74 Paulo escreveu para comunidades que viviam em contextos diferentes, e por isso apresenta hierarquias diferentes ao relacionar as listas de dons. Apesar das diferenças, há um ponto fundamental que coincide nestes ensinamentos: tanto na carta aos 73LÉON-DOFOUR, Xavier, op. Cit., p. 125. 74VIANA, Roberto Alves, Os carismas em Paulo, Faculdade de Teologia, São Bernardo do Campo, 1993, p. 114 (monografia final do Curso de Bacharel em Teologia). 46
  • 47. Corintios, quanto na carta aos Romanos, “os carismas devem ser usados para o serviço, edificação, ensino e exortação da comunidade”.75 Ou seja, o carisma não tem um fim em si mesmo, é antes o meio pelo qual Deus atua na comunidade, a qual, movida pelo Espírito de Deus, atua na sociedade. Lenardo Boff afirma que em Paulo: “o carisma significa simplesmente a função concreta que cada qual desempenha dentro da comunidade a bem de todos”.76 1.1.4b - O carisma como “Estrutura estruturante da comunidade”.77 Hans Küng, teólogo sistemático, afirma que “a redescoberta dos carismas é uma redescoberta da eclesiologia especificamente paulina”.78 Como fruto de seu trabalho teológico, consegue descobrir que em sua origem a igreja não possuía estrutura hierárquica, mas sim uma estrutura carismática. A I Cor, como todas as Espístolas indiscutidas de São Paulo, não fala nem de “presbíteros” nem de “Episcopos” ( a única exceção tardia é Filip 1:1: “Episcopos” e “diáconos”), nem de ordenações ou de imposição das mãos; é esta Epístola que, repetidamente, nomeia os “carismas” ou os “dons espirituais” que, correspondentemente à medida da graça, são dados a cada cristão, assim como é esta Epístola que traz largos capítulos sobre a estrutura carismática da Igreja que, por toda parte nas Epístolas paulinas, transparece e é pressuposta.79 Para detalhar este modelo de igreja organizada segundo os dons e ministérios, Paulo apresentará a igreja como um corpo que possui muitos membros, todos estes vivificados pelo mesmo espírito e cada qual com sua função. 75 Idem, p. 120. 76BOFF, Leonardo, op. cit., p. 238. 77 Expressão utilizada por Leonardo Boff em seu livro Igreja Carisma e Poder, op. Cit., 238. 78 KÜNG, Hans, op. cit., p. 258. 79 Idem, p. 257. 47
  • 48. A pluralidade e a diversidade dos carismas e a sua finalidade eclesial convergente têm desenvolvimento adequado no paralelo com o organismo humano, constituído de muitos e diferentes membros, empenhados no seu crescimento e no seu bem. A comunidade cristã local é como um corpo; por isso, no seu interior vale a regra da pluralidade e da multiplicidade, ou da diferenciação, mas também da interdependência e da solidariedade.80 Na estrutura carismática apresentada pelo pensamento paulino, é impossível existir um membro não carismático no seio da comunidade. Não existe nenhum membro não carismático. Vale dizer ocioso, sem ocupar um determinado lugar na comunidade: “cada membro está a serviço do outro membro” (Rm 12,5). Todos gozam de igual dignidade, não cabem privilégios que desestruturam a unidade do todo: “o olho não pode dizer à mão: não preciso de ti; nem tampouco a cabeça aos pés: não necessito de vós” (I Cor 12,21). A regra de ouro que salvaguarda a sanidade do modelo, sua circularidade fraterna foi assim formulada por Paulo: “todos os membros tenham igual solicitude uns com os outros” (I Cor 12,25).81 Grabner-Hainder, ao discorrer sobre o vocábulo carismático, afirma o seguinte: Pablo da este nombre a los hombres dotados de especiales dones en beneficio de la comunidad. El carácter sobrenatural de estos dones del Espiritu y su procedencia del Espíritu Santo se reconoce por el hecho de que se ordenan al servicio de todos (I Cor 12,7). Este criterio alude, por un lado, a los excesos de los exaltados y de los entusiastas (cf. I Cor 14,22) y, por otro, sitúa a los carismáticos dentro de la historia, porque bajo diferentes circunstancias y en diferentes épocas pueden ser muy variadas las necesidades de la comunidad, e por consiguiente también los servicios que necesita. Los carismas mencionados en el Nuevo Testamento (palabra de sabiduria, palabra de ciencia, fé en el Espíritu, don de curaciones, poder de milagros, profecia, dicernimento de espíritus, diversidade de lenguas, don de interpretárlas, cf. I Cor 12,8-10) no son en modo alguno una enumeracion exclusiva. Al contrário, debe considerar-se carismático a 80 BARBAGLIO, Giuseppe, 1-2 Coríntios, São Paulo, Paulinas, 1993, p. 51. 81BOFF, Leonardo, op. Cit., p. 238. 48
  • 49. todo hombre que se compromete en Cristo para bien de la Iglesia, aun en el caso (y precisamente en el caso) de que su actuación se salga del esquema de lo acostumbrado, tradicional y convencional. Mientras que en la primitiva Iglesia los encargados del ministério eram casi siempre a la vez carismáticos, hoy, debido a la evolucion del ministério, el campo de acción conjunta de los carismáticos y ministros oficiales en el sentido de I Cor 12,11 ayudaria a ebitar desagradables incidentes en la vida actual de la Iglesia.82 O apóstolo Paulo nos apresenta um modelo alternativo de organização comunitária. Um modelo bem diferente daquele apresentado pelas Epístolas Pastorais, onde tudo gira em torno da tríade: BISPO - PRESBÍTERO - DIÁCONO. ... os três são portadores privilegiados do Espírito e sobre eles se constrói a comunidade, estabelecendo, de entrada, uma divisão entre membros que deixam de ser iguais.83 Para o modelo carismático do apóstolo Paulo, não há distinção entre os membros. Todos são iguais. Nele não vemos uma hierarquia que acumula todo o poder sagrado e todos os meios de produção religiosa, ou mesmo um grupo de membros passivos ou desinteressados. Ou seja, não vemos uma separação entre os clérigos e os leigos. A hierarquia é considerada apenas um “estado carismático na igreja que não pode recalcar, como as vezes ocorre, outros carismas que o Espírito suscita na comunidade”.84 Os carismas recebidos pela comunidade são revertidos em ministérios, ou seja, em serviços prestados para o bem comum. A estrutura carismática paulina é aquela que valoriza os dons de cada um, proporcionando a eles a oportunidade de transformá- los em ministérios (serviços). É Deus quem capacita a cada membro, visando um fim proveitoso. 82 GRABNER-HAIDER, Anton, Vocabulário Prático de la Bíblia, Barcelona, Herder, 1975, p. 194. 83BOFF, Leonardo, op. Cit., p. 236. 84 Idem, p. 239. 49