O documento discute o mito da Moira na obra de Ésquilo e no romance Il Paradiso Terrestre. A Moira representa o destino na mitologia grega. Em Ésquilo, a Moira é mais flexível e pode ser influenciada pela justiça e autoconsciência, enquanto no romance ela é mais implacável e fatalista, determinando o destino trágico do protagonista.
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Um olhar brasileiro em Astrologia
Edição 90 :: Dezembro/2005 :: Segunda-feira, 15/06/2009 - 23h01
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Selecione um assunto O mito da Moira
Índices por autor: Eugenia Maria Magnavita Galeffi
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O tema da Moira no Paradiso Terrestre
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metamorfoseia em várias aparições: ora
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Cotidiano | Opine! | como tradição arcaizante das mulheres
Dicas & Eventos | vestidas de preto que caracterizam a
condição feminina no contexto insular; ora
como os cartazes fúnebres que atapetam os
muros das cidadezinhas, a fim de que aqueles
que se foram sejam a cada minuto
Cursos via internet com inscrição aberta lembrados; ora como o monumento aos
início: 9 de junho caídos de Dogali, batalha histórica em defesa da cidade de Agrigento (foto), com
Página de inscrição
cuja inscrição o romance se abre; ora como a "cialoma", cantilena que acompanha a
matança do atum e que se assemelha a uma trenódia grega; ora como a morte
Aspectos 3 funesta de dois dos filhos de Don Gaetano, proprietário de Villa Ibla: Nunzio, que ao
Um material único
em língua descobrir a verdadeira situação de filho ilegítimo, mata o irmão Luccio e se enforca
portuguesa, com a em seguida; ora no contraste estarrecedor entre a situação privilegiada dos usuários
chave da
interpretação dos
do paradisíaco hotel Villa Ibla, com piscina e parque verdíssimo, e a condição dos
aspectos menores ou habitantes da casbah que faziam filas quilométricas para encher suas vasilhas de
raros. água, distribuída por duas horas a cada quinze dias, quadro agravado pela seca que
Mais detalhes >> | assolava a região; ora no pisoteamento de uma criança durante a procissão de San
Inscrições >> Calò, cuja multidão, no afã de ver o milagre da multiplicação dos pães, corre
desenfreada, causando o acidente; na morte de Don Diego, pároco que procura
Trânsitos, o mapa desvendar o segredo da carta do Diabo, lenda que paira sobre a mítica cidade de
em movimento Agrigento. Enfim, a Moira se contextualiza no destino pessoal de Vanni Corvaia, que
Uma base sólida para
entender a qualidade sucumbe ao tentar resolver o velho problema hídrico de Agrigento. Havia a hipótese
única de cada de que debaixo da cidade existissem lençóis freáticos no Hipogeu do Purgatório.
momento da vida e
seus desafios de
Vanni, sozinho, e sem estar devidamente preparado, resolve embrenhar-se labirinto
crescimento. adentro, justamente após o dilúvio que se abatera sobre a cidade castigada pela
seca havia meses. O protagonista é atraído cegamente pela fatídica Moira, em busca
Mais detalhes >> |
Inscrições >> de uma solução para a sua vida. Ao perceber que ficara preso no Hipogeu do
Purgatório, pois a chuva provocara o fechamento da passagem, tenta pronunciar o
Trânsitos de nome de Penélope, aquela que lhe dedicara momentos de doçura e prazer no Vale
Saturno: lidando dos Templos, mas é Perséfone, a rainha do Hades, a deusa dos Infernos, que lhe sai
com o poder dos lábios. Reconhece ter armado sua própria sepultura e se compara ao tolo atum
Estes trânsitos
podem restringir ou que se deixa atrair para a câmara da morte.
libertar. A questão é
como lidarmos com
eles.
Na religião grega, o paraíso destinava-se a raros heróis que por feitos
extraordinários transformavam-se em semi-deuses. Todos os mortais destinavam-
Mais detalhes >> | se, após a morte, a uma existência obscura no Reino do Hades, das Sombras.
Inscrições >>
No romance em questão, o personagem perde sua mãe ao nascer. Sabemos que
quanto a esse aspecto "as Moiras influem sobre o nascimento de forma favorável ou
desfavorável" [7]. Por outro lado, sua mãe manifestara sempre um desejo de morte,
Cursos via internet com inscrição aberta de fato, nunca conseguira sustentar a própria criação: "...tinha medo da gravidez e
início: 23 de junho queria morrer... E tinha morrido" [8]. Esse fato imprime na personalidade de Vanni
Página de inscrição
Corvaia melancolia, tristeza e desorientação, e principalmente uma grande fraqueza:
"a necessidade de encontrar uma segurança originária, sua mãe, que nunca
Planetas Pessoais em Signos e Casas
Como funcionam Mercúrio, o fator de
conhecera e à qual queria de novo unir-se" [9]. Também uma ausência de vontade,
aprendizagem; Vênus, o fator afetivo; e para criar, para empreender um novo destino: "era um arquiteto falido". Em
Marte, o fator de ação. contrapartida, essa fraqueza de Vanni se opõe ao espírito empreendedor do seu pai
Mais detalhes >> | Inscrições >> Pietro Corvaia.
Interpretação, Método Clássico Il Paradiso Terrestre é uma narrativa estruturada segundo o modelo baixo-imitativo
A Teoria das Determinações, que constitui
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uma espécie de retomado de Aristóteles por Frye, cuja temática sugere uma iniciação fracassada do
"gramática" da
Astrologia, ponto de vista da elevação espiritual.
compreendida a
partir de um clássico Os símbolos referentes à tradição religiosa, mais precisamente, àqueles relacionados
genial: o francês
Jean-Baptiste Morin, com a mitologia grega, e mesmo com o cristianismo, estão amplamente conectados
maior astrólogo do com o destino de Vanni. A urdidura da trama está completa, o fio da vida de Vanni
século XVII.
Corvaia é cortado pela implacável Átropos, a inflexível Moira.
Mais detalhes >> |
Inscrições >> A figura da Moira em Sergio Campailla é
bastante fatalista e isso deve-se à
Astrologia e grecidade genética existente no autor
Recursos Humanos assim como no habitante da ilha. Em uma
O mais importante
fator de sucesso nas entrevista, ele diz que no seu romance
organizações é o "existe uma presença significativa da
capital humano. O
Moira, que é um signo de destino". Ele se
desafio é produzir,
mas sem trair o reconhece na tradição meridional,
próprio mapa. especificamente siciliana, "que é a
Mais detalhes >> | conseqüência de uma história milenar" da
Inscrições >> qual se sente filho e expressão, tanto do
ponto de vista histórico quanto do ponto
Novidades em As Moiras na visão do pintor Juan Medina, de vista familiar. Diz sentir e
mapas do Brasil nascido em Santo Domingo, República compreender através da sensibilidade " a
Dominicana, e atual diretor da Escola de experiência do homem da ilha que fica
Um link direto Belas Artes daquele país. separado, que faz um esforço para
para os vinte
pertencer, para integrar-se" o que
mapas mais
recentes considera "uma espécie de destino". Continua dizendo que "na cultura siciliana,
Joaquim Nabuco (Joaquim Aurélio
mediterrânea, ou de origem grega, desenvolveu-se um fatalismo", que na sua obra é
Barreto Nabuco de Araújo) um tema recorrente e fundamental. No seu caso específico esta fatalidade vem
Mônica Waldvogel sempre com uma 'joie de vivre'. Finaliza dizendo: "Eu sou um siciliano, sou um
Olavo de Carvalho (Olavo Luís Pimentel trágico".
de Carvalho)
Castro Alves (Antônio Frederico de Em comparação à concepção da Moira em Ésquilo, através das suas tragédias,
Castro Alves)
podemos dizer que a figura da Moira existente na obra de Campailla é muito mais
Adélia Prado (Adélia Luzia Prado
Freitas) arcaica do que a do próprio poeta eleusino, que se apresenta mais atual em certos
Graciliano Ramos (Graciliano Ramos de aspectos. Vejamos em que medida.
Oliveira)
Sérgio Buarque de Holanda O tema da Moira em Ésquilo
Em Ésquilo há um forte idealismo no sentido de acreditar que um dia a Justiça
(Díke) e a ordem suprema triunfarão, pois se o papel da Moira é regularizar o que
foi além da medida (Métron), uma vez estabelecido o equilíbrio, a Moira agirá
suavemente. Em outras palavras, quanto menor for o Pecado (Hamarthía), menor
será o Erro (Ate) e a Vingança (Nêmesis) só agirá de acordo com a situação.
Segundo Ésquilo, o antídoto contra a Moira seria a Temperança (Sofrosýne), pois
somente esta pode estar em consonância com a Lei Suprema do Universo, que é, em
outras palavras, o Divino.
Em suas tragédias, Ésquilo nos demonstra uma certa
evolução do pensamento mítico do seu tempo, pois
certamente tinha conhecimento da ligação entre
consciência e inconsciência da Moira, ou seja, entre
determinismo e livre-arbítrio. No Prometeu Acorrentado o
conceito de Moira era quase cego, assim como nos Sete
Contra Tebas, onde o determinismo impera. Já nos
Persas podemos dizer que há uma ligeira evolução do
livre-arbítrio. Xerxes não estava consciente da sua
hýbris, mas tendo visto o exemplo da morte de Dario,
seu pai, na Batalha de Maratona, achou-se no direito de
continuar a luta, apesar de ter sido admoestado para não
fazê-lo, pois acreditava-se mais poderoso do que os
deuses ao atravessar o Bósforo, sendo derrotado de
maneira humilhante pelos helenos. Na Oréstia parte-se
Ésquilo (525 a.C. - 456
a.C.) - Dramaturgo grego, de um conceito maior de determinismo que vai
deu à tragédia sua forma diminuindo em escala decrescente até chegar ao de livre-
definitiva, introduzindo a arbítrio. Orestes, consciente do seu erro, mesmo se a
figura de um antagonista e este foi forçado pelo oráculo, tem a dimensão da própria
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reduzindo a importância do
culpa e, após a expiação, através da dor, redime-se e, de
coro. Sua obra tem um tomfato, é absolvido. Não só o julgamento no Areópago em
dramático impressionante,que Palas Athena dá o voto do desempate beneficiando
mais arcaico do que em Orestes, liberando-o da culpa do crime de
Sófocles ou Eurípedes, e
consagüineidade, ou melhor, de matricídio, como
pleno de imagens
também a transformação das Erínias (Fúrias) em
simbólicas. De sua vasta
Eumênides (Benfazejas), mostram que o criador da
obra restaram apenas sete
tragédia idealizava um mundo melhor, resolvido nos seus
peças completas.
conflitos, balanceado pelo equilíbrio da Justiça, podendo
transmutar, assim, a atuação da Moira. Em outras palavras, o poeta eleusino
interpretou diversamente a implacabilidade do Destino, dando-lhe uma certa
flexibilidade.
Ésquilo, desse modo, realiza uma transfiguração da concepção da inexorabilidade da
fatalidade, melhor dizendo, do próprio determinismo, que consiste em elevar o
destino à categoria de Justiça, e pode ser identificado, simbolicamente com a era de
Zeus, incorporada nos ideais da pólis democrática. De fato, ele nos desvela, na sua
obra, um livre arbítrio que depende da responsabilidade ou da consciência de
cidadania dos membros da pólis, consciência essa que exige um respeito às leis das
tradições. Ele age como se estivesse profetizando a relação de harmonia com o
destino através da ação consciente do Homem.
A Moira em Ésquilo assume um papel totalmente novo para a época, pois a solução
achada por este para o julgamento de Orestes no Areópago, não só entre os deuses,
mas também entre os homens, faz com que aquele conceito antigo de determinismo
venha a ser transformado, pois, na sua obra, a mácula pode ser purificada ou
diminuida através da dor; o sofrimento é, pois, a chave para a redenção da culpa.
Este pode aplacar a Moira e o livre-arbítrio substitui-se ao cego determinismo [10].
Em Campailla, como podemos constatar, a Moira é ainda sinônimo de Fatalidade.
Arraigada nos costumes ancestrais do povo siciliano está a Moira campaillana, a
Moira primitiva e tautológica, ainda a Moira Ananké (Necessidade).
Vanni Corvaia precisava passar pelo labirinto e fazer a iniciação para poder ascender
espiritualmente, mas não estava preparado e o acesso lhe fora vedado. Preso ainda
ao determinismo instintivo, reconheceu ter agido como o atum, que
inconscientemente é atraído para a câmara da morte. Constatou ter chegado até ali
por suas próprias mãos. Pensou na nobre origem materna e lhe restou um consolo:
"Era um arquiteto e morria dentro de uma grande construção, digna de Dédalo,
arquiteto de Minos, digna de Feaz, arquiteto de Terão, digna de Imhotep, arquiteto
de Zoser" [11]. Tateando no chão, encontrou um seixo e, em vez do epitáfio que lhe
viera à mente, escreveu "Aiamola", grito de imolação entoado pelos pescadores ao
cantarem a "cialoma".
Sergio Campailla continua demonstrando que sua veia artística não se esgotou, pelo
contrário, ela está, mais do que nunca, rica de mitos e símbolos, seja que trate do
mito da Moira, sempre presente em sua obra, seja que trate de labirintos e figuras
mitológicas (Domani domani, romance ambientado em Roma e Interno, con gruppo,
conto claustrofóbico que se passa nas catacumbas romanas de Santa Inês), seja que
trate do mito da diáspora (Romanzo americano). Vanni Corvaia, adolescente ainda
na sua primeira obra narrativa, o longo conto Una stagione in Sicília fez-se homem
em Il Paradiso Terrestre, mas não suficientemente maduro para enfrentar o
labirinto. Mas quem sabe se no seu próximo romance Campailla encontra um
personagem enraizado e unificado com o seu próprio Eu? Seria um resgate de Vanni
do labirinto. Eu, pessoalmente, achei o meu "centro" nos passos de Vanni. Não por
acaso Campailla, na dedicatória do seu romance a mim, disse que a Moira nos tinha
ligado no Paradiso Terrestre. Ele, com seu personagem, me ajudou no meu processo
de compreensão interna, quem sabe, eu de algum modo possa ajudar o próximo
personagem a se encontrar? Esta é, pois, a questão. Só o tempo o dirá, ou melhor, a
Moira.
NOTAS
[7] A. Magris, op. cit., p. 48.
[8] S. Campailla. Il Paradiso Terrestre. Milano: Rusconi, 1988, p. 384. A
tradução é nossa.
[9] Ibidem, p. 286.
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4. Constelar Astrologia :: Mitologia e Literatura - O mito da Moira Page 4 of 4
[10] Cf. E.M. Galeffi.. O papel da Moira na tragédia esquiliana. In
Representações da Antiguidade. III Congresso Nacional de Estuidos
clássicos - IX Reunião da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, GT 11.
Rio de Janeiro, SBEC/ Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ,
1995. p. 39-40.
[11] S. Campailla, op. cit., p. 568.
BIBLIOGRAFIA
CAMPAILLA, Sergio. Abitare il Labirinto in Motivo, Archetipo, Parola. Per
una tipologia del mito in letteratura. A cura di Cristiana Lardo. Roma:
Vecchiarelli, 1998.
CAMPAILLA, Sergio. CAMPAILLA, Sergio. Il Paradiso Terrestre. Milano:
Rusconi, 1988.
ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES e ARISTÓFANES. Teatro Grego.
Seleção, intr., notas e trad. Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix.
FRYE, Northrop. Anatomia della Critica. Trad. di Paolo Rosa-Clot e
Sandro Stratta. Torino: Einaudi, 1969.
GALEFFI. Eugenia Maria. O papel da Moira na tragédia esquiliana. In
Representações da Antiguidade. III Congresso Nacional de Estudos
clássicos - IX Reunião da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, GT 11.
Rio de Janeiro: SBEC/ Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ,
1995.
HESÍODO, Teogonia. A origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São
Paulo: Iluminuras, 1991.
HORTA, Guida Nedda B. Parreiras. A luz da Hélade. Rio de Janeiro: Ed. J.
Di Giorgio, 1980.
MAGNAVITA, Flavio. A essência do drama em Ésquilo. Salvador, Bahia:
1961.
MAGRIS, Aldo. L'Idea del Destino nel Pensiero Antico. Trieste: Del
Bianco, vol. I, 1984, vol. II, 1985.
PLATÃO. A República. 7ª ed. São Paulo, Atena Editora.
UNTERSTEINER, Mario. La Fisiologia del Mito. Milano: Fratelli Bocca,
1946.
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