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VI Encontro Nacional de Ação Popular Socialista
Análise da conjuntura brasileira
Há 515 anos exportando
bens primários: a saga
da superexploração do
trabalho no Brasil
Nelson Araújo Filho
“Saber para onde vai, mesmo
não sabendo por onde”
(A Queimada, filme)
“Árvores não demoram pra crescer, nos
é que atrasamos o plantio”
(Henrique Souza)
Julho de 2015
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Roteiro
1. Apresentação
2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura.
2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta
2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais
3. Elementos da crise da economia capitalista
3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista?
3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”?
3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental.
3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro”
3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho
3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima
3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro
3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação
3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação
3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e desvios dos recursos públicos.
3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual
3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países
3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda
3.5.3 Mercado do petróleo
3.5.4 Mercado de armas
3.5.5 Mercado de drogas
3.5.6 Mercado financeiro
3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra.
3.7 Quadro síntese dos elementos e fluxos da crise do capitalismo
4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho
4.1 O agronegócio
4.2 A mineração
4.3 O mercado do petróleo
4.4 O modelo industrial
4.5 A geração de energia
4.6 O mercado de drogas
4.7 O mercado financeiro
4.7.1 Para onde vão as divisas oriundas da exportação de bens primários
4.7.2 Divida Pública da União
4.7.3 A contabilidade nacional com ferramenta de luta dos trabalhadores
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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5. Elementos para fazer a análise da conjuntura política
(FALTA DESENVOLVER)
6. Plataforma de lutas
(FALTA COMPLETAR)
7. Bibliografia
(FALTA DESENVOLVER)
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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1. Apresentação
Companheiros, e como está na moda, companheiras (isto começou com Sarney com
seu “brasileiras e brasileiros” no início dos discursos) tenho muita satisfação de
apresentar este texto para a discussão nesse VI ENAPS.
Considero que esta tribuna se constitui mais como um roteiro para discutir e
construir a revolução socialista brasileira do que propriamente um texto. Tenho
dificuldade de tratá-la como um texto, pois reconheço as lacunas e falhas em função
da falta de estudos e pesquisas em muitos pontos, mas fico tranquilo, pois a tese
que defendo fica expressa não no tratamento de cada ponto, mas na compreensão
do significado do conjunto dos pontos para construir um programa capaz de agregar
amplas massas e a intelectualidade para alcançar os objetivos que interessam aos
trabalhadores sejam alcançados.
As base para escrever este texto é uma espécies de equação cujas variáveis são:
sonho por um mundo socialistas + constante quebra de paradigma +
realidade brasileira + aprendizagem com o trabalho manual.
O sonho por um mundo socialista decorre de minhas superficiais e inconclusas
leituras dos clássicos Marx, Engels, Lenin e Gramsci, Kalecki e Benjamim que me
inspiram e ajudam organizar meus pensamentos para construir a estratégia para
alcançarmos a revolução socialista no Brasil.
A constante quebra de paradigma me foi estimulado por alguns autores que me
apresentaram ideias completamente diferentes do que está estabelecido como
verdade, a exemplo do médico José Roiz com o seu “O Esporte Mata” que diz que
ao praticarmos esporte adoecemos e morremos mais cedo, ou Décio Antônio
Colombo com o “Desmitificando o coração-bomba” que diz que não é o coração
que bombeia o sangue no corpo. Assim como as palestras e conversas com o
médico Jea Myung Yoo que trabalha com a medicina genômica e diz que o câncer
não doença é uma defesa do corpo contra a morte. Também palestras, aulas e
trabalhos práticos com Henrique Souza, Ernst Gostch, Adoniel Amparo e Zuzi
Theodoro que me ensinaram a observar e reproduzir as relações e os fenômenos
que ocorrem na Natureza e nas florestas naturais.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Quanto à realidade brasileira, tive a sorte de morar e trabalhar na Amazônia, na
Mata Atlântica e na Caatinga e conhecer o Cerrado, trabalhar na cadeia do petróleo
e com implantação de sistemas florestais. Tive a felicidade de ler Câmara Cascudo,
Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Machado de
Assis, Lima Barreto, Drummond, Bandeira e Cora e outros. Organizou meus
pensamento acerca da realidade brasileira três importantes textos de Fernando
Pedrão, Luis Filgueiras e Hilton Coelho . Agora, muito tardiamente, quase no fim de
carreira, com muito pesar pelo atraso, mas com uma profunda felicidade por ter
encontrado os rumos teóricos e conceituais para a revolução socialista brasileira, me
foi mostrado Nildo Ouriques e Ruy Mauro Marini. Se panfletarmos as escolas, as
fábricas e fazendas com esses dois autores, acho que a revolução brasileira estará
salva.
Quanto à aprendizagem com o trabalho manual, gostaria de explicitar aos
companheiros a importância que o trabalho manual tem no meu processo de
formação, pois me ofereceu os elementos que possibilitam o aperfeiçoamento da
minha capacidade de observação, reflexão e elaboração teórica.
Tomo como objetivo central desta tribuna traçar um fio condutor para a construção
de argumentos que dê base a uma plataforma que possa sustentar um arco de
alianças com forças suficientes para de enfrentar e derrotar a burguesia e assim
potencializar a riqueza natural e produzida em favor dos povos brasileiros.
Para isso, e correndo risco, tento levantar elementos para contribuir com a
compreensão da dinâmica da economia brasileira e sua relação com o mundo e
identificar como os agentes econômicos se comportam diante dessa dinâmica,
particularmente os trabalhadores e a esquerda organizada.
Em seguida, busco, com muito poucas informações, elaborar uma análise da
política brasileira conectada com a economia tendo como foco principal o povo
na política, depois os demais os agentes organizados. Observo que temos uma
cultura de trabalhar separadamente a economia da política, construímos a
desconexão entre as análises da política e da economia e adotamos a política como
único fator de mobilização e organização da esquerda e dos trabalhadores.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Na conclusão, apresento uma plataforma de lutas que elaboro não a partir da
minha vontade e desejo comunista revolucionário, mas a partir da análise econômica
e politica, que deve servir para alicerçar a construção de um movimento com um
leque de alianças capaz de alterar a relação das forças presentes na vida
brasileira.
Quem conseguir avançar na leitura verá que faltam estudos e pesquisas sobre
diversos temas abordados. Falta apresentação de dados comprobatórios ou
explicativos. Faltam referências, citações e, principalmente, aspas. Tenho
consciência dessas falhas, mas entre lançar o texto para o VI ENAPS ou só daqui a
uns três ou quatros anos optei de fazer agora com todos os erros e lacunas. Peço
aos companheiros que não releguem os erros ou lacunas, os aponte se valer a
pena, escreva algo. Isso só me ajudará. Mas não deixem de procurar formulações
importantes para fazermos o debate da revolução brasileira, pois sei, desculpem-me
a falta de modéstia, estão perdidas dentro do texto.
Por fim, peço, ainda, que os adjetivos que possam servir para me enquadrar em
algum modelo de pensamento ou ação política ou caráter ou personalidade sejam
trocados por análises e argumentação críticas sobre os temas e, em particular, sobre
os erros e lacunas do texto.
Obrigado!
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura.
Compreendo que a função de uma análise de conjuntura seja buscar identificar os
padrões econômicos, sociais e políticos, conhecer as forças e aprender a
caminhar entre elas para chegar ao objetivo desejado. O discurso não deve ser o
da denúncia, propaganda ou promessa, se for assim é só o relato do óbvio, é lugar
comum. Isto não empolga nem agrega, ainda mais quando o discurso é dirigido a
pessoas com razoável esclarecimento político e intelectual.
O discurso deve ser uma peça científica, um estudo, para descobrir o velado,
enxergar o que se encontra escondido, deve identificar os agentes, as categorias, as
classes e subclasses dos jogos econômicos e políticos próprios da conjuntura
presente, tá perdendo com a crise cíclica do capitalismo. Dessa forma, não apenas
polariza as pessoas, mas, também, esclarece, envolve e tornas as pessoas
militantes.
Mesmo correndo o risco de não atender a estes pressupostos, busco na primeira
parte desse texto trazer a debate a análise estrutural da atual crise do
capitalismo, como e porque ocorre e as suas consequências e, em especial, a
participação do Brasil nessa crise. Depois tentaremos trazer a discussão das
relações políticas para identificar os espaços e as oportunidades de lutas para as
classes trabalhadoras brasileiras neste contexto de crise econômica e reordenação
das forças políticas no país. A conclusão desse debate deve ser a definição de uma
plataforma de lutas que deve guardar coerência com a análise feita. Essas análises
e propostas devem ser a base para iniciar a discussão do projeto de construção
partidária.
2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta
Os fatos, lutas e embates ocorrem não pela vontade ou ação ou trabalho de um
agente da política, mas sim pelo fato daquele agente ter conseguido enxergar ou
perceber os fluxos das forças e ter conseguido atuar, mesmo que não tenha
consciência disso, para influir na direção dessas forças. Em outras palavras, não é
apenas o desejo ou a vontade política, mesmo associadas a propostas justas e
corretas, que vão levar às conquistas, mas sim, a resultante da movimentação das
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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forças políticas. Para conseguir mexer nas posições das forças para alcançar a
resultante desejada, é necessário uma grande capacidade para ler e influir na
movimentação de forças. Marx e Gramsci não conseguiram mexer na direção das
forças nos seus tempos e não dirigiram nenhuma revolução. Mas Lenine e Fidel sim.
Porque uns conseguiram e outros não? Aqueles que conseguiram viveram a
oportunidade de enxergar as forças e atuar para direcioná-las para os seus
objetivos.
Que lição poderá ser tirada disso? Que a luta política revolucionaria é, mais do que
qualquer outro jogo, um jogo xadrez, ou seja, ganha quem tiver a capacidade de
perceber a movimentação das forças adversárias com bastante antecedência e se
movimentar para surpreendê-las e derrotá-las. No jogo da dominação versus a
libertação, as forças atuam em dois universos que se fundem ou se confundem
permanentemente: o universo da política e o universo da economia.
O que é o universo da política? E o lugar promíscuo, aberto, público, onde todos
devem e podem participar, é o palco onde a sociedade encena o teatro sob o olhar
da plateia formada pelos mandantes. É no universo da política onde se cria a
ilusão da democracia e da liberdade e participação. Quando a encenação da peça
ocorre dentro do script, tudo é conduzido em paz. Qualquer coisa que ocorra fora do
roteiro, a plateia intervém. Quando os atores aperfeiçoam sua capacidade de atuar e
passam a criar e a fazer um script diferente, a plateia analisa e intervém. Se
perceber que vai sair alguma coisa que não seja do seu gosto, interrompe a peça.
Mas se perceber que não vai perder nada ou até ganhar, a peça continua.
No universo da política, as forças que disputam os rumos da sociedade são mais
claramente enxergadas. É nesse universo que elas se diferenciam, se mesclam ou
se mimetizam.
E o universo da economia, é o que? É o sagrado lugar privado onde ocorre a
produção dos bens necessários para a satisfação psicológica do burguês de se
impor como superior social. Para garantir o funcionamento desse mecanismo, ele
apenas destina uma muito pequena parte da produção para os trabalhadores. Este
lugar chamado economia é real, concreto, material, tem domínio, não é aleatório, e
tem só um mandante: o burguês.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Quanto os trabalhadores tentam uma mínima ampliação na participação no universo
da economia através da busca de melhores salários, melhora no consumo, ou posse
da terra ou desvio de recursos públicos para fins sociais, a burguesia utiliza de todos
os recursos disponíveis para mostrar aos trabalhadores que no sagrado universo da
economia não há espaço além do que já ocupa o trabalhador como fornecedor de
força de trabalho e consumidores limitados
É importante observar que a burguesia, magistralmente, apresenta ao público esses
dois universos (economia e a política) como se fossem dois mundos que não tem
nada a ver um com outro, apresenta de forma separada e independente. As forças
dominantes atuam com muita eficiência para mostrar a aparente separação entre o
universo político e o universo econômico. Nas disputas e confrontos entre as
classes, a burguesia empurra o tempo todo o jogo para o universo da política, e
fazem com tal maestria que os trabalhadores de uma forma geral e a esquerda em
particular se entusiasmam tanto com isto e daí não consegue sair.
Enquanto isso, nos salões inexpugnáveis, a burguesia trata esses dois universos,
literalmente, como as faces de uma mesma moeda.
2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais
Sendo os movimentos das forças sociais uma dinâmica de ultracomplexidade, só
métodos complexos podem oferecer as condições para enxergar esses movimentos.
O uso de recursos simplificados, fragmentados, ou é resultado de ignorância,
desconhecimento, ou tem como objetivo a manipulação. É interessante como a
burguesia usa o complexo como método de dominação. Mas divulga o uso do
simples como recurso da produção. Ai o senso comum se apega ao simples e deixa
o complexo com a burguesia. Pior, a esquerda não foge dessa regra!
Numa análise que interessa aos trabalhadores, deve primeiro tentar ver as forças no
universo da economia, depois vê-las no universo da política e, em seguida, para
concluir, ver as forças atuando simultaneamente nos dois universos.
É importante notar que para enxergar as forças nos universos separados deve se ter
muito cuidado, pois pode tanto deformar a análise como desenvolver práticas não
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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coerente com o propósito original. Esse perigo decorre do fato de que a análise
separada tem como base a metodologia da fragmentação da realidade, ou seja,
simplifica um fato complexo para permitir a análise. Quando isto é utilizado como
recurso metodológico, torna-se aceitável, pois se considera que a análise não esteja
concluída. Mas quando transforma este recurso metodológico numa base conceitual
para análise definitiva, chega onde a burguesia quer. Este querer é tão forte que é
aplicado como modelo na academia, tornando os cursos superiores meros
formadores de mão de obra para as empresas de exportação de bens primários ou
capital. Este conceito da fragmentação tem como base a física mecânica
newtoniana.
A análise que interessa aos trabalhadores é a análise complexa, sem fragmentação,
que tem como base a dialética. E uma análise que não é focada no fato, mas na
relação entre os fatos, ou seja, reconhece que o fato, a realidade, é uma coisa do
passado, que já se deu. Nada pode ser feito para alterá-lo. O fato presente é uma
mera apresentação do que já ocorreu na relação entre as coisas, os agentes, os
fatores geradores desse fato. Para se alterar o fato deve-se, obrigatoriamente,
mexer nas relações. Diferente disso, permanece na ilusão de que esteja mudando
alguma coisa. A análise complexa tem com base a física quântica.
A apresentação desses conceitos visa levantar algumas das tantas questões que
necessitamos responder:
a) Porque a APS não discute economia?
b) Porque a APS só discute política?
c) Porque a APS não consegue juntar os dois temas numa discussão única?
d) Porque a consigna da APS é restrita ao universo da política?
e) Porque as ações e campanhas da APS são sempre no universo da política?
f) Porque tem tanta garra só para mergulhar só no universo da política?
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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3. Elementos dacrise da economia capitalista
O principal elemento da atual conjuntura é a crise da economia capitalista que vem
se desenrolando desde a década de 70 do século passado e agora alcança um
patamar bastante elevando, porém, ainda, não é o mais grave.
O sistema capitalista tem como padrão de funcionamento o caos organizado,
também visto como liberalismo econômico. O sistema usa de total liberdade para
funcionar, para colocar em prática sua essência que é a maximização das vendas e
lucros. Para isso não há regras, não há limites. Cinco características representam
bem essa condição de caos organizado: concorrência, eliminação da concorrência,
tendência ao monopólio, crescimento constante e curto prazo. Sendo a evolução
tecnológica a peça fundamental para operar esse caos organizado. Através da
evolução tecnológica busca-se aumentar a produtividade, reduzir custos, diminuir os
preços e ampliar cada vez mais as vendas para eliminar concorrentes e compensar
a queda da taxa de lucro.
A organização empresarial tem como princípio de funcionamento a eliminação do
outro concorrente, tanto num período virtuoso de crescimento da acumulação como
num período de crise. A crise é vista, portanto, como oportunidade para eliminar o
concorrente.
Outro aspecto importante do caos organizado é que economia capitalista opera
sempre no curto prazo. O balanço anual contabiliza aos resultados e respectivas
premiações em caso de sucesso naquele ano. Mesmo quando os indicadores são
de longo prazo, como as taxas de longo prazo, depreciação de capital, amortização
do capital, o acompanhamento contábil é no curto prazo. Tudo que interessa ao
capitalista é o resultado no curto prazo, a sobrevivência no imediato.
Pouco importa o que acontece ou acontecerá com as pessoas, com a família, com a
cidade, com o campo, com as reservas naturais ou com o meio ambiente. Aos
mecanismos de trabalho e renda, só interessa que ele permaneça existindo
incorporando valor ao produto e comercializando para transferir e acumular renda
deixando uma pequena parte para promover a satisfação do trabalhador que passa
a raciocinar “ruim com ele, pior sem ele”.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista?
Ocorre quando começa a diminuir a venda da produção das indústrias. O capitalista
investe o capital anteriormente acumulado, ou usa o crédito oferecido pelo capital
financeiro para adquirir tecnologia, máquinas, matéria prima, insumos e trabalho
para fabricar um produto e coloca-lo à venda, mas não consegue vende-lo, não acha
comprador. Com isso, o capitalista não tem seu capital de volta com o lucro
esperado, não realiza o capital, quebra o ciclo esperado de transferir e acumular
renda através da comercialização de um produto. O sistema perde sua razão de ser
e existir, a crise se instala.
No universo da política, a crise oferece aos socialistas a oportunidade de debater
com a sociedade a solução da crise sob a ótica da maioria da sociedade. Mas essa
oportunidade é perdida quando os socialistas, ao invés de discutir com a sociedade
um projeto de solução da crise, concentra o discurso nas chamadas incompetências
dos governos e na ruindade dos capitalistas. E importante lembrar que nem os
governos burgueses são incompetentes nem os capitalistas são ruins. Quando se
discursa classificando um governo burguês como incompetente, a exemplo do
governo Dilma, pressupõe a possibilidade de competência para resolver os
problemas sob a ótica dos trabalhadores. O governo burguês nunca se propôs a
resolver o problema da crise em favor dos trabalhadores. Da mesma forma, quando
se faz o discurso falando da perversidade, da ruindade do capitalista, pressupõe a
possibilidade de existir um capitalista bom ou alguma medida boa dentro do sistema
capitalista. Os socialistas devem parar de fazer discurso moral e reformista e,
aproveitar a crise (econômica, social, ambiental, moral etc.) para discutir com a
sociedade um projeto de organização social que possam apresentar solução para os
problemas da humanidade.
Seguindo com os elementos para analisar a crise, observar que a crise vigente não
se caracteriza por uma queda violenta ou extinção do consumo, é apenas uma
queda relativa do consumo, portanto, uma redução da curva de transferência e
acumulação. Em outras palavras, é a diminuição proporcional dos lucros da
economia capitalista. Para cada dólar investido existe um retorno menor que do
período anterior.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Portanto, vai ocorrendo a “queda da taxa de lucro” que pode ser representada
numa curva descendente, própria do funcionamento do sistema de produção
capitalista. Não tem como não ocorrer a “queda da taxa de lucro” e, portanto, não
tem como a crise não ocorrer, não existe remédio para esta “doença”, é fruto da
própria contradição do sistema.
3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”?
Para compreender a conjuntura é importante compreender como ocorre o elemento
central da crise que é a “queda da taxa de lucro”.
A acirrada concorrência e a necessidade do crescimento constante (caos
organizado do capital) obrigam as empresas a investir cada vez mais em
máquinas, equipamentos e automação (crescimento do capital fixo, capital
morto) e, como decorrência dessa modernização da indústria, o número de
trabalhadores participando da produção vai sendo reduzido (redução trabalho, do
capital variável). Como reduz a mão de obra, o trabalho humano, isto leva,
necessariamente, à redução da “mais valia” coletiva, origem do lucro do capitalista,
pois o capitalista deixa de se apropriar de um novo valor em função de ter menos
pessoas trabalhando. A mecanização não produzir esse novo valor que o
capitalismo necessita para manter sua trajetória de crescimento constante, ocorre,
apenas, a transferência paulatina do valor da máquina (depreciação do bem de
produção), para o novo bem produzido, não há, portanto, a geração de um novo
valor. Em outras palavras, não havendo um novo valor, não ocorre a produção da
“mais-valia”, não ocorre excedente novo para ser apropriado pelo empresário
capitalista. Com a mecanização e evolução tecnológica, apenas ocorre a
simplificação do processo de produção que leva ao “aumento da produtividade”.
Portanto, a dinâmica geradora de novo valor na economia, a exploração da “mais
valia” fica, em grande parte, sobre os ombros dos trabalhadores alocados no setor
de fabricação de bens de produção (máquinas, equipamentos, robôs, informática) e
no setor produtor de bens primários (agricultura e mineração), principalmente neste
último que e formado por atividades intensivas em mão de obra de qualificação mais
baixa e de menores salários.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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No atual estágio de produção e acumulação de capital, o sistema capitalista,
necessariamente, produz uma grande parcela de cidadãos empobrecidos que perde
a condição de consumir a produção industrial. Esta parcela são os trabalhadores
que não acharam emprego, somados aos que foram demitidos e aos que tiveram
seus salários reduzidos e direitos cancelados. Diante deste quadro, parte da
capacidade de produção instalada, tanto no “setor primário” (minas e agricultura)
como o “setor secundário” (indústria), torna-se inútil devido à falta de mercado
suficiente para comercializar a produção num patamar de valor que remunere o
capital. Portanto, a capacidade de produção social de bens e serviços é maior que a
capacidade social de consumo: a crise está instalada, pois não existem condições
de fazer a “circulação da mercadoria” (a comercialização) em função da
concentração da riqueza produzida nas mãos dos capitalistas por um lado, e por
outro, a precarização do emprego, desemprego e pobreza dos trabalhadores.
Como o fenômeno da mecanização e novas tecnologias se difundem por empresas
e países, e como o sistema funciona sob a lógica do caos organizativo (liberdade
para produzir e comercializar), acaba ocorrendo uma maior oferta de produtos. Mas,
paralelo a esse crescimento da produção, ocorre a redução de empregos, portanto
de menor quantidade de compradores. Ao tempo em que a oferta vai sendo
aumentada a procura diminui, o que leva a uma queda do preço pela lei da oferta e
procura.
Portanto, a “queda da taxa de lucro” e a consequente “crise cíclica econômica”,
é constante no capitalismo.
No universo da política isto reflete no desemprego, o que faz aumentar a força de
trabalho disponível, o “exército de reserva”, dando oportunidade ao capitalista
promover o arrocho salarial e eliminação das conquistas trabalhistas e sociais.
Pelo lado das forças de esquerda, a iniquidade intelectual e a incapacidade de
análise e elaboração de propostas leva a formulação de propostas superficiais e
reformistas sem nenhuma capacidade de apresentar à sociedade um projeto para
discutir a solução da crise sob a ótica da maioria da população.
Reforma por reforma, o capitalista sabe fazer muito bem, e tem muito interesse
nisso, é só ocorrer uma nova faze de excedente que possa melhorar a remuneração
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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do trabalho e as condições de vida para controlar os conflitos sociais e assegurar a
não ocorrência de revoltas.
Para os socialistas é a oportunidade de apresentarem para sociedade a única
solução para o problema da crise que é a eliminação do próprio sistema capitalista.
Acabar com o sistema de produção que visa à acumulação e implantar outro sistema
que tem como objetivo o atendimento das necessidades humanas. Mas pela
plataforma de lutas da esquerda, e da APS em particular, esse debate será
postergado, pois a APS continua apresentado à burguesia uma lista de
reivindicações em nome dos trabalhadores em lugar de organizar uma plataforma
que seja capaz de mobilizar a sociedade sobe o comanado dos interesses dos
trabalhadores para acuar as burgueses nos seus discursos
3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental.
A crise social
Como decorrência da crise econômica, surge a crise social que começa com a
superexploração do trabalho, passa pelo desemprego, falta de distribuição de terras,
a falta de habitação, saneamento, transporte, saúde e educação, fazendo explodir a
violência urbana e o consumo de droga que, por sua vez, é um dos mais importantes
meios de transferência de renda e acumulação de capital.
No universo da política, estes reflexos da crise é o que mais envolve as forças de
esquerda ou oposição ao capitalismo, pois é o que atinge a pessoa, o individuo, a
família. A dor do outro é a dor do socialista. Os sentimentos de amor e solidariedade
de tão fortes nos corações socialistas que impedem a necessária expressão da
razão e levam ao desenvolvimento de conceitos humanitários como fundamento da
luta contra o capitalista.
Mais uma vez, perde-se a oportunidade de discutir com a maioria da população a
conexão entre a crise sistêmica do capitalismo com as condições sociais da
população. O debate reivindicatório pressupõe a possibilidade de que os capitalistas
se sujeitarão às pressões das categorias organizadas nas lutas reivindicatórias e
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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abrirão mão dos mecanismos de recuperação da “queda da taxa de lucro”. Ou seja,
os capitalistas abrirão mão da mais valia e das leis do capitalismo.
A condução das reivindicações sociais e humanitárias feitas dissociadas do combate
aos mecanismos naturais de funcionamento do capitalismo, leva à luta reformista em
busca de melhorias dentro do capitalismo. Mesmo que a organização se declare e
façam o discurso comunista, socialista, acaba assumindo na prática posições
reformistas. Quando um setor, uma categoria tem uma conquista, como o sistema
funciona em cadeia e a luta combativa atua sobre um elo, com certeza vai melhorar
a situação desse setor ou categoria. Mas fica a pergunta para os socialistas: para
onde será transferida a extração da mais valia para compensar as conquistas da
categoria festejada pela esquerda? No caso da Petrobras e outras empresas de
produção, a exploração recai sobre os terceirizados.
A crise ambiental
A outra consequência da crise da economia capitalista (lembrar que ela é constante
e permanente) é o esgotamento dos recursos primários a exemplo das florestas,
minas, terra agrícola, espaços e áreas verdes urbanas, água, ou seja, a famosa
crise ambiental que está levando à desertificação do solo, falta de água, poluição
dos solos, rios e oceanos, destruição dos mangues, poluição urbana,
engarrafamentos, generalização e surgimento de novas doenças e a gigantesca
emissão de gases de efeito estufa que tem levado ao tão falado aquecimento global
com alto risco para a própria existência da humanidade. Todos estes problemas
ambientais ou são fontes de transferência de renda e acumulação de capital ou são
consequência da produção e uso dos produtos que servem como canais de
transferência de renda e acumulação de capital. Todos, absolutamente todos, os
problemas ambientais decorrem da ação da empresa capitalista, havendo dúvida, e
só fazer uma analise regressiva do problema que vai encontrar na ponta uma
empresa capitalista. Mais uma vez, como o sistema capitalista é caótico e
concorrencial, para o burguês não pode ter limite para ter acesso às fontes de
recursos primários nem cota para produção, pois se ele aceitar algum limite o outro
burguês toma o espaço e ganha a concorrência. Em função disso, não há solução
para essa crise ambiental. A força de funcionamento do capitalismo é maior que a
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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capacidade de lutas e protestos dos defensores do meio ambiente. E, como se fosse
uma grande hipocrisia, os capitalistas apresentam aparentes soluções para os
problemas ambientais apenas com o intuito de também ganhar dinheiro com os
problemas ambientais decorrentes das próprias ações dos capitalistas.
O mundo e a humanidade não se sustentam com esses graves problemas na cidade
e no campo. É incontestável a necessidade de solução. As condições ambientais
que esta geração deixa para gerações futuras não permitirão a produção de
alimentos saudáveis nem a existência de água de qualidade para o consumo
humano, nem haverá peixe nos mares e nos rios, além da Terra ter sua temperatura
aumentada.
Existe solução para os problemas de emissões, efluentes, venenos, esgotos, lixos,
degradação do solo e fome por que passam a cidade e o campo. A Natureza é sábia
e é grande a disponibilidade das energias primárias: irradiação solar, chuva, ar e
minerais do solo. No entanto, para que isso ocorra, a sociedade deve adotar outros
modelos de consumo fundados na eficiência energética, sustentabilidade e
atendimentos às necessidades humanas para estruturar nova organização social e
um novo mercado. Atender as necessidades da população é não comercializar
produtos desnecessários e prejudicais a vida humana visando apenas a acumulação
de riqueza sob o domínio e o controle de poucos empresários. Será que a maioria
da sociedade abraçaria um discurso desses?
No universo da política, as forças de esquerda ou oposição ao capitalismo não
fazem nenhuma conexão entre os problemas sociais com problemas ambientais,
muito menos, traduzirem em suas plataformas a conexão entre o capitalismo e a
destruição ambiental. A questão ambiental não é pauta das esquerdas que estão
profundamente envolvidos na salvação das vitimas diretas e explicitas dos
capitalistas. Deixa a luta ambiental para os jovens e ONG que fazem os trabalhos
ambientais com recursos dos próprios capitalistas cujo objetivo é construir reserva
em local onde não exista nenhum interesse econômico, preservando, portanto, as
condições de exploração capitalista do meio ambiente.
Enquanto isso os socialistas dormem com suas consciências tranquilas por estarem
lutando pelos índios, negros, mulheres, jovens negros, homossexuais, demitidos,
desalojados, sem terra, sem teto etc.
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3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro”?
O capitalista atua para apenas mitigar a “queda da taxa de lucro”, pois sabe que
não pode parar essa queda, tenta apenas reduzir a velocidade ou compensar com
outras operações. O capitalista estudou Marx e deu razão a ele, mas como está no
comando e tirando proveito da situação, vai lutar até a morte para manter a “taxa de
lucro” por menor que ela seja e continuar reinando sem entregar os pontos.
O capitalista toma decisões sábias para a sua manutenção: estabelece o curto prazo
e o imediatismo como base de vida e transfere para os outros tudo o que for
problema decorrente do atendimento da sua satisfação.
Vejamos como o capitalista enfrenta a “queda da taxa de lucro” e todas as demais
consequências, cuja expressão central é a “crise cíclica do sistema de produção
capitalista”. A sequência de apresentação dos recursos utilizados pelos capitalistas
para enfrentar a crise não representa nem importância nem prioridade, a utilização
dos recursos ocorre de forma sistêmica e interligada, cada elemento é
simultaneamente causa e consequência dentro do processo. Deve-se buscar
enxergar e analisar as situações tendo como base conceitual os padrões que a
Física Quântica ou a Natureza utilizam para construírem seus gigantescos sistemas,
ou seja, a tão famosa Dialética entre os socialistas.
3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho
Para tentar diminuir a queda da taxa de lucro, aumenta-se a exploração do
trabalhador reduzindo os salários e retirando as suas conquistas trabalhistas e
sociais alcançadas no período anterior de evolução da acumulação capitalista
quando o índice da exploração recaia sobre os trabalhadores de outros setores a
exemplo da produção da matéria prima ou de alguns países. A desoneração da folha
(baixo reajuste salarial; precarização do transporte, alimentação assistência médica
etc.) são as primeiras ações tomadas pelo capitalista diante da crise, pois são ações
diretas, sob o controle e mando do capitalista, cujo impacto alcança diretamente a
desorganizada parcela dos trabalhadores regidos pelos gerentes a administrados
contratados pelo capitalista.
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Os capitalistas têm a necessidade de avançar nas medidas que aumentam a
exploração do trabalho para assegurar seus lucros, ai passa a reduzir os postos de
trabalho, transferindo as tarefas para os que continuarem empregados que, por sua
vez, ficam satisfeitos por manterem seus empregos. A isto se dá o nome de
reorganização produtiva, mas que pode ser chamada de precarização do trabalho.
No universo político, os trabalhadores reagem, lutam e busca alterar a situação.
Ter conquista ou não, depende das condições de oferta e procura de mão de obra
ou do produto ofertado; depende do grau de subordinação do governo local aos
interesses da corporação capitalista; assim como depende da ampliação da
capacidade de luta que possa envolver a sociedade como um todo. Em outras
palavras, mesmo as lutas trabalhistas devem estar associadas a um projeto social e
econômico de sociedade conduzido aos interesses dos trabalhadores, se não se
torna uma luta apenas por reforma que também satisfazem os capitalistas, pois
podem significar uma ampliação do mercado consumidor, que é o sonho de todo
capitalista. Lutar por melhoria, estará simultaneamente lutando pelo sonho capitalista
e pela reivindicações dos trabalhadores, tudo dependerá da relação com o projeto
para a sociedade sair da crise.
3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima
Diante da “queda da taxa de lucro” as corporações capitalistas, com poderes
instalados na área de produção de matéria prima, impõem políticas e decisões que
reduzem o preço da matéria prima diretamente através da precarização do trabalho
ou através da aplicação de recursos públicos para aplicar em melhoria das
condições de produção para reduzir os custos operacionais.
Os setores industriais fornecedores dessa matéria prima sofrem pela redução do
preço da matéria prima independente do custo de produção. Por sua vez, para não
sair perdendo, o ônus mais uma vez é transferido para os trabalhadores
aumentando mais ainda a taxa de exploração, ou seja, aumentando a “mais valia”.
Portanto, aumenta a exploração nos países periféricos tanto na produção de matéria
prima como no aumento do fluxo de renda de capital.
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No universo político, o capitalista estrangeiro se junta ao capitalista local para
influenciar os poderes públicos para estabelecer uma política cambial e fiscal que
transfira renda para o setor exportador e com isso melhore a renda da do capitalista
local. A decorrência dessa política é que o investimento do estado é focado na
melhora da infraestrutura e na área de educação, pesquisa e produção de tecnologia
que atenda o setor exportador da matéria prima. Por outro lado, promove o
desinvestimento nas áreas que favorecem o desenvolvimento autônomo do país e,
mais imediatamente, nas áreas das melhorias das condições sociais dos
trabalhadores e preservação ambiental.
O negócio da matéria prima não pode ser desprezado pela a esquerda, pelos
socialistas. Chama a atenção como àqueles que combatem o capitalismo não
conseguem colocar nas suas agendas este tema que, alem de ser a base
acumulação, é dos mais importantes fatores promotor da na redução da velocidade
da curva da “queda da taxa de lucro”, ou seja, o controle da matéria prima também
contribui para alongar a vida da crise e permitir que o capitalista, mesmos recebendo
menos pelo dólar investido, continue com sua máquina exploradora azeitada.
3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro
O circulo vicioso da produção capitalista (concorrência, desenvolvimento
tecnológico, aumento do capital financeiro, redução do capital variável, aumento da
produtividade, aumento da oferta, redução do consumo, queda do preço final) que
resulta na queda da taxa de lucro, leva a cada vez o capital produtivo se voltar
para o mercado financeiro para buscar retorno imediato e seguro para o capital
original.
Esta situação chegou a um patamar de alto risco para o próprio sistema, pois a
imensa vantagem do lucro financeiro está criando uma economia fictícia baseada
nesse capital fictício que atua apenas na especulação, não cria nenhum produto,
nenhum “valor de uso”, nem agrega a valor a outro valor criado. A equação
representativa da produção e acumulação D – M – D’ está dando lugar a uma
anomalia econômica D – D ’ quem tem forte poder no universo da política.
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Também aqui, como na área da matéria prima, a esquerda nutre um desprezo
especial pelo tema que é o centro do modelo capitalista. As questões de juros,
especulação financeira, divida pública etc. o financiamento de projetos contrários
aos interesses dos trabalhadores em geral e dos povos nativos e quilombolas em
particular é uma constante. A esquerda defende os interesses dos povos nativos e
quilombolas, mas não relacionam com os interesses dos bancos.
3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação.
Diante da crise instalada, a queda do preço chega a patamar que não remunera o
capital investido, busca-se então a venda a crédito onde o ganho deixa de ser sobre
a venda da mercadoria e passa a ser sobre o financiamento da venda da
mercadoria, ou seja, sobre o crédito. Torna-se mais importante para a remuneração
do capital a venda a prazo que a venda a vista. A venda a prazo é uma venda
casada: de um lado um produto com baixo retorno financeiro e do outro o crédito
com bom retorno financeiro em função dos juros. O crescimento das vendas
(circulação) através da oferta de crédito faz com que os juros cobrados pelo crédito
oferecido sejam mais significativos na comercialização que o produto em si.
Essa condição faz crescer o endividamento da família voltando a impactar na
comercialização da produção (circulação). Este endividamento leva à crise crédito,
crise de excesso de oferta de crédito. Existe o crédito, mas o endividamento da
família não permite o uso do crédito. O que resulta na baixa circulação e faz
expandir a crise econômica. Como o endividamento da família tem limite, se
reinstala a mesma crise decorrente do excesso de produtos sem possibilidade de
comercialização.
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3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação
O capitalista descobriu e usa intensamente três importantes fatores para aumentar a
venda da produção, para permitir que maior quantidade de produtos seja
comercializada: a obsolescência programada, a moda e a propagada.
Esses fatores representam muito bem o maior dos objetivos do sistema capitalista:
produzir para acumular e não para atender às necessidades humanas. Esses fatores
criam a necessidade ou condições para a aquisição de um novo produto.
A obsolescência programada é um recurso tecnológico embutido nos produtos que
faz com o produto tenha baixa durabilidade e fique danificado ou superado
tecnologicamente levando à necessidade do usuário adquirir um novo produto. Em
especial, isto acontece com as lâmpadas, eletrônicos, linha branca, automóveis etc.
Este recurso é menos perigoso, apesar de eficiente, por se caracterizar como de
imposição ao consumidor, a sua aplicação encontra resistência e promove a
insatisfação.
Já a moda é altamente perigosa por ser uma imposição por convencimento
psicológico e de aculturação, apesar de ser subordinante, e até por isso, tanto é
desejado pelo consumidor como causa satisfação e prazer. O recurso da moda é tão
danoso como os outros recursos de imposição ao consumo, pois contribui com o
esgotamento dos recursos naturais, a poluição e com a produção de lixo.
A propagada é o recurso de estimulo ao consumo mais danoso por que dá
sustentação ao domínio psicológico e cultural, leva a renúncia de valores nativos e
locais, cria um mundo falso e desorganiza a sociedade, ou melhor organiza a
sociedade como canal de consumo dos produtos divulgados pelas propagandas que
não passa de instrumento de transferência de rendas para o capitalismo central.
3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e os desvios dos recursos
públicos.
Em todo o processo de implantação e desenvolvimento capitalista, nunca existiu
autonomia do estado em relação às corporações capitalistas, tanto na proteção
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jurídica policial, como na produção de leis e políticas fiscais e alfandegária e,
principalmente, no direcionamento dos recursos arrecadados pelo estado para
atender aos interesses da empesa capitalista na construção de infraestrutura para
baratear os custos operacionais, na definição de conforme o interesse das
corporações capitalistas, investimentos em empreendimentos intensos em capital e
longa maturação e, em especial, na transferência direta de renda através de
empréstimos do capital financeiro onde hoje é a grande sangria dos recursos dos
países pobres, e o do Brasil em particular.
Síntese da relação das empresas com o estado: desviar os recursos públicos que
deveriam ser destinados para fins sociais para auxiliar os investimentos produtivos
ou para auxiliar os investimentos privados produtivos ou especulativos. O discurso
para a justificativa pública da operação é falar em geração de trabalho, inclusive com
muita propaganda de governo.
3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual
Na conjuntura de crise do capitalismo e grandes disputas internacionais envolvendo
grandes corporações empresariais e governos, alguns pontos de destacam e
merecem estudos para que sejam reveladas as movimentações das forças
comandantes do capitalismo.
O fundamento da análise de quem quer alterar os rumos das forças sociais e
econômicas deve sair da contemplação da foto e procurar enxergar a tendência do
fato, ou seja, para onde aquele fato está sendo empurrado e quem tirará proveito
dessa tendência. Deve-se, então, buscar ver o comportamento do gráfico
representativo da movimentação do fato.
O grupo ou pessoas cujo objetivo não seja o de tirar proveito pessoal da política,
fazer política de esquerda revolucionária sem conseguir ler a tendência da
conjuntura, passa a ser apenas uma ocupação bem intencionada, porém
passageira. Inclusive, esse é dos motivos da intensa rotatividade na esquerda: muita
gente adere às lutas enquanto são jovens, mas depois são arrastados pelas
obrigações do trabalho, estudo, família, enfim, de volta à vida...
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Dos tantos eventos que dinamizam a economia capitalista atualmente, seis são
importantes para serem analisados pelo peso que tem no jogo de poder, ou seja, no
universo político, mesmo não se constituindo nenhuma novidade na história, pois
sempre foram recursos fundamentais para a acumulação capitalista: a) a passagem
de poder de um país para outro; b) a evolução do processo de fluxo e acumulação
da renda; c) a disputa por energia (no presente, o petróleo); d) o comércio de armas
por razões óbvias; e) o comércio de drogas ilícitas pelo volume e não controle dos
recursos gerados; f) e a agiotagem (juros).
3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países
Os impérios para serem impérios precisam construir a expansão territorial e dominar
grande população.
Pouco antes do início da implantação do sistema capitalista, Portugal, Espanha eram
o centro mais desenvolvidos realizaram as grandes navegações que levaram a
dominar e saquear grandes territórios bastante habitados. Mas encontraram os
limites de desenvolvimento em função dos seus próprios territórios e suas
populações serem pequenas a acabaram perdendo a hegemonia os saques foram
transferidos para a Inglaterra que iniciava a revolução industrial.
Inglaterra, França e Holanda, passam a ser os grandes centros econômicos, tinham
população, território, organização empresarial e governo que sustentavam a
expansão interna. O processo de desenvolvimento é endógeno com busca de
recursos e insumos externo. Dessa forma sustentaram a expansão colonizadora
para o resto do mundo quando tinham esgotadas as condições de crescimento
interno. O processo de hegemonização começa a cair quando começa a perder
bases colonizadas reduzindo seus territórios e populações de domínios.
A Alemanha, Itália e Japão, mesmo sendo grandes economias, nunca assumiram
condições de serem centros da economia mundial, pois esses países não têm
territórios nem populações grandes capazes de dinamizar suas economias ao ponto
de hegemonizarem o mundo e chegaram tarde na partilha das colônias no mundo.
Não por outro motivo, estiveram juntos nas duas guerras mundiais.
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Os EUA tornou-se a maior economia do mundo em função da grande população
com objetivos assemelhados e hegemônicos e um grande território resultante da
ocupação de grandes extensões territoriais tomadas dos povos nativos, e depois da
França, do México e da Rússia. E sempre tiveram uma política de estado e governo
voltada para o interesse da população original e para a empresa produtora
hegemonizando a população em torno do projeto e nação que foi estabelecido. Por
nova forma de colonização, passou a dominar completamente o mundo.
É o mesmo que está acontecendo com a China que tem efetivas condições de
crescer e tornar-se um grande império em função da sua grande extensão territorial
e grande população que vem sendo coesionada pelo seu forte governo e empresas
altamente competitivas. Interessante notar mesmo com a crise, só a China mantém
o crescimento do PIB, mesmo tendo caído de 14% para 7%. Isto é fruto da decisão
governamental de incluir a imensa população no mercado, tornado uma imensa
frente de expansão do capital, ou seja, promove a integração combinada dos fatores
população e território através do trabalho e consumo.
O observar que a Rússia só tem condições de ser país muito respeitado nas
relações internacionais, mas nunca será um pais imperialistas, pois o território é
grande mas a densidade demográfica é muito baixa.
Já o Brasil e a Índia não ocupará posição de destaque, apesar das grandes
populações e territórios ricos, pois a desagregação das suas população é grande e
os governos e empresas trabalham para desorganizar essa população.
Observar que a Suíça, Dinamarca, Noruega, Japão etc. não têm condições de
expandir suas economias a não ser pela acumulação financeira em função de suas
empresas que atuam no mundo. Esses países têm pequenos territórios e suas
populações estão com alto nível de vida, consumo e ocupação, não havendo mais
espaço para a expansão do capital internamente.
3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda
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Aos poucos foram sendo montados em todo o mundo os mecanismos do fluxo e
concentração da riqueza que resultou tanto no poder dos EUA com na grande
expansão do mercado financeiro.
Primeiro, ocorreu a acumulação primitiva de capital com os saques, roubos e
assaltos aos povos nativos ou através da comercialização de especiarias e
madeiras. Isto ocorreu na fase das grandes navegações estando à frente as
empresas portuguesas, espanholas, inglesas, francesas e holandesas.
Depois a acumulação passou pela montagem da indústria que conquistou com
guerras, opressões e ditadura, mercados fornecedores de matéria prima e
consumidores de industrializados. Esta é a fase da revolução industrial estando à
frente, principalmente, as empresas inglesas, mas também as francesas,
holandesas, as alemãs e japonesas. Desse rol já não participou as portuguesas,
espanholas.
Vivemos agora a terceira fase da acumulação caracterizada pela expansão do
capital. Melhor, mais fácil e menos dispendioso circular capital do que circular
mercadoria.
Esta terceira fase se dá em função de diversos fatores como o montante de capital
acumulado, evolução da tecnologia e, em particular, pelo o esgotamento da
possibilidade de expansão no próprio território, onde as necessidades materiais,
culturais e de lazer da população local estão atendidas e o nível do preço da
economia local é bastante elevado em função da alta acumulação local de capital.
Portanto, a alternativa para o crescimento econômico foi sair da circulação de
mercadoria para a circulação de capital financeiro, assim o capital se expande para
áreas e países produtores de matéria prima e consumidores de industrializados,
tornando mais fácil, seguro, e rentável o fluxo e acumulação de capital.
Acompanhado a evolução dos modelos de acumulação, vê-se que a duração de
cada modelo vai sendo mais breve é a faixa de transição entre um e outro modelo
vai ficando mais larga e com presença de elementos do modelo anterior e do modelo
subsequente fazendo com que as características passam a conviver dentro da
mesma faixa de transição, tornando-as menos nítidas e mais difíceis de identificar.
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Os EUA dão o grande golpe nos concorrentes ao dominar completamente todos os
negócios da 2ª Guerra. Depois, ainda no auge da acumulação por circulação de
mercadoria, respirando os gases da 2ª Guerra, no início dos anos 60, os EUA dão o
segundo grande golpe no mundo ao romper unilateralmente com o tratado Bretton
Wood. Dão golpe de mestre e surrupia o ouro dos tolos, obrigando a todos a utilizar
o dólar como divisa internacional, passa a reinar subordinando todos os demais
países de amigos a inimigos. Fica instalada de vez a fase da acumulação por
circulação de capital, sai do modelo D – M – D’ dá lugar para a anomalia D – D’.
Ficou fácil para os EUA pagarem suas contas, basta imprimir papel. Hoje o mundo
está abarrotado de papel pintado com esfinge de ditador mundial, cujo valor não é
mais estabelecido pela produção econômica do país, mas sim pela força da máquina
de guerra.
Circula na economia mundial sete vezes mais dólares do que suporta o lastro
econômico dos EUA. O pior ataque que os EUA poderiam sofrer seria se os
possuidores de dólares no mundo resolvessem fazer uma breve e inocente viagem
de turismo aos EUA e lá consumisse normalmente alimentos, bebidas, roupas,
eletrônicos fosse ao teatro, cinema, museus etc. Isso quebraria o EUA, pois sua
economia não teria condições de fornecer esses produtos para todos os turistas
mais a população local. Alem do profundo descrédito que a moeda passaria a ter,
Para controlar a saúde do dólar, os EUA dificultam o visto de passaporte e monta um
esquema mundial para abarrotar os bancos centrais dos países periféricos com os
dólares que recebem e colocam o pomposo apelido de reserva, transformando
esses países nos principais defensores do valor desses estoques. Inteligentemente,
como que joga xadrez e contra com a imbecilidade do parceiro do jogo, os EUA
amarraram a bomba no corpo do outro: se explodir, o pais perde o dinheiro e os
EUA ganham pelo enxugamento e valorização da moeda.
Enquanto a bomba não explode, o país que detém reservas paga aos EUA para
guardar dólares. Para entender isso basta fazer as contas entre os juros pagos pelos
dólares guardados e a inflação do período, a inflação é sempre maior. Como isso, os
países guardadores financiam os EUA. Mais um dado para reflexão: nenhum país do
centro do capitalismo tem reserva substancial em dólar, a única exceção é o Japão.
Todos negociam ou com sua moeda ou com euro.
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Principais PIB da economia mundial
Em trilhões de US$
Pais PIB
EUA 14,0
China 5,7
Japão 5,3
Alemanha 3,3
França 2,5
Brasil 2,3
Inglaterra 2,2
Itália 2,0
Principais reserva de divisas da
economia mundial
Em bilhões de US$
Pais PIB
China 3.040
Japão 1.140
Rússia 526
Arábia Saudita 456
Taiwan 398
Brasil 353
Índia 312
Coréia Sul 305
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3.5.3 Mercado de Petróleo
Outro destaque na conjuntura é o mercado do petróleo. O gráfico do preço do
petróleo tem trazidos boas interrogações para quem quer compreender a dinâmica
econômica do mundo e a identificação dos principais agentes envolvidos. Na década
70 a Venezuela e países árabes produtores impuseram preços elevados para a
época, produziu uma profunda crise que logo se recuperou quando foram
repatriados os petrodólares através de grandes investimentos no centro econômico,
pois nos países produtores não tem dinâmica econômica para incorporar o volume
de dólares decorrentes da exportação de petróleo.
Em seguida, o preço do petróleo desaba. É dada como explicação a entrada em
produção de novas descobertas a exemplo do Mar do Norte. No entanto, percebe-se
que essa queda foi articulada pelo próprio EUA para quebrar a União Soviética, que
desde o século XIX sempre foi um dos maiores exportador de petróleo do mundo.
Após a quebra da URSS e com os preços do petróleo baixo, por mais paradoxal que
parece, foi os EUA, maior importador e consumidor de petróleo do mundo, que
interviu junto aos principais exportadores (OPPEP) para elevar o preço o petróleo. E
que o preço baixo inviabiliza a indústria de petróleo dos EUA e deixa esse país ainda
mais nas mãos da OPPEP.
Depois o preço do petróleo começa a subir de forma que vai sendo absorvido pelo
nível de preço da economia. Sem causar maiores danos no imediato. Até que chega
ao extremo de 140 dólares na pré-crise de 2008. Com a crise, cai para 38 dólares,
depois se recupera e volta à casa dos 100, para em seguida cair para faixa de 60 e
perdura num zig-zag em torno disso. O que motiva a queda do preço do petróleo
para o atual patamar? Esse preço inviabiliza a indústria do shale gás nos EUA.
Como inviabiliza a própria Rússia e o a exploração do pré-sal no Brasil.
A explicação dada é que a Arábia Saudita mantém sua produção elevada,
impactando negativamente os preços. Comenta-se que esta atitude é justamente
para inviabilizar a indústria do shale gás. Será que é esse aumento unilateral da
oferta que está mantendo os preços baixos? Como um pequeno país criado e
dominado como propriedade de uma família e exportador de um único produto tem
poder para mexer em toda a economia global? Mesmo sendo este país, desde a sua
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origem, um grande aliado dos EUA e sendo o maior exportador de petróleo do
mundo.
Na discussão do preço do petróleo, tomam-se como base mercado dos combustíveis
para fundamentar as argumentações e pouco se fala da petroquímica. Em razão do
amplo espectro de utilização dos derivados petroquímicos, a crise de produção do
sistema capitalista (queda da taxa de lucro e queda da circulação) não seria uma
explicação melhor? A crise de produção por que passa o sistema capitalista não
estaria levando a queda de consumos dos derivados petroquímicos e, com isso,
refletindo na permanência do baixo preço petróleo?
Pontos de conflitos no mundo
Um primeiro destaque importante na conjuntura é a localização das áreas de
conflitos armados. A América Latina está em paz, tudo sob controle! Uma pequena
reação na Bolívia sob o Evo Morales, país de economia e relações políticas
secundarias, e na Venezuela, segunda maior reserva de petróleo do mundo, porém
dominado pelas petroleiras estrangeiras e sofre agudamente de “doença holandesa”.
Os países africanos completamente controlados, ainda pagando caro pelo sequestro
escravagista e pelo imenso saque colonialista que perdura até hoje. As guerras,
genocídios e destruições, são problemas lá de cada povo, basta se preocupar com o
problema da imigração clandestina para a Europa. Na Ásia, também, tudo em paz.
Os países ou se industrializam integrado à economia capitalista a exemplo do Japão,
Korea, Taiwan, Singapura ou sofre ainda as consequências das guerras de
ocupação colonial a exemplo do Vietnam, Camboja, Laos, Maynmar. Tudo sobe
controle na maior parte do globo.
Problema mesmo só no Oriente Médio, maior concentração de petróleo no mundo. E
também nos Bálcãs, secular caminho de escoamento do petróleo russo. Por que a
guerra e disputas tão acirradas nos Bálcãs? Por que a bola da vez na região é a
Ucrânia? Quais os interesses dos EUA na região? Porque a Rússia defende tanto
suas posições naquele país/região? Outro ponto de conflito é o Afeganistão que,
como os Bálcãs, é vizinho da bacia petrolífera da Rússia.
Quais os interesses dos EUA com a Primavera Árabe? Continuam existindo
mobilizações locais para enfrentar os ditadores locais? A Primavera Árabe continua?
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Porque após a chacina da Líbia não ocorreu mais nenhuma manifestação da
Primavera Árabe? Qual a função da Síria na região? Porque os EUA investem tanto
na derrubada do governo de Bashar al-Assad?
Já o resto do mundo está em paz, alguma manifestação local em decorrência dos
ajustes da crise, a exemplo do que acontece na Europa, EUA, mas tudo sob
controle, faz parte do jogo.
3.5.4 Mercado de armas
Os folhetins econômicos da imprensa falam muito em mercados de insumos, matéria
prima e consumo. Parece que a economia é feita somente desses produtos. Nunca
se fala do mercado de armas, de quem está fabricando, das ações das empresas
dessa indústria, apenas saiu a notícia que o Vaticano tem ações em fábrica de
aviões de guerra. Deve ser somente o Vaticano que comente esse mal, mais
ninguém! Muito menos se fala de quem está comprando. É falado que o principal
desse mercado é para atender as necessidades de Estado dos países, ou seja, um
mercado direto da relação das empresas produtores para o Estado. Pouco sabemos
desse universo, mas é dito ser este o principal mercado econômico da atualidade, o
de maior valor de circulação financeira.
3.5.5 Marcado de drogas
Outro mercado mais secreto ainda, ou melhor, totalmente secreto, que nada aparece
nos folhetins econômicos é o mercado das drogas. Aparece apenas um forte e
consistente marketing patrocinado pela indústria da droga tanto para deixar livre e
desimpedido os caminhos para a instalação dos fluxos e acumulação decorrente,
como para subordinar mais ainda as forças policiais aos interesses das elites e,
ainda, execrar a população negra, pobre e moradores das áreas abandonadas pela
indústria mobiliarias do período de ocupação dessas áreas.
O marketing consiste em divulgar para a população em geral que o negócio de
droga é coisa de pobre, preto e favelado. Nas áreas ricas, brancas e nobres da
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cidade não ocorre o comércio da droga, no máximo, os pobres consumidores vítimas
das ações de criminosos negros, pobre e favelados.
Sendo um dos produtos mais caros do mercando de consumo, como os pobres
podem alimentar esse mercado se precisam de muito dinheiro para a aquisição do
produto? Então, se o mercado é bilionário, paro onde estão indo os resultados
financeiros deste mercado? Será que a poupança desse mercado está debaixo dos
colchões dos favelados?
Os recursos não estão indo para os grandes esquemas de lavagens gerenciados
pelos grandes s bancos? Como por exemplo, do mercado do futebol? O mercado
imobiliário? As privatizações dos países periféricos?
Fala-se, também, que este mercado é o segundo do mundo em movimentação
financeira, só perde para o de armas.
3.5.6 Marcado financeiro
Para enfrentar a saga destruidora da burguesia é fundamental conhecer, ver de
perto e dominar o funcionamento e a representação do mercado financeiro.
O mercado financeiro é o principal desaguadouro de toda a produção econômica,
passou da romântica tarefa de agente facilitador da circulação financeira para o
controle direto ou indireto da produção. É o centro da economia capitalista. A
esquerda ainda vive a imagem das pinturas realistas da União Soviética e não se
debruça ao estudo desse setor econômico.
Para ilustrar as atuais dificuldades do jogo dos capitalistas, basta ver a velocidade
da evolução da razão entre o capital financeiro (fictício) e o capital produtivo (real).
Os dados estão disponíveis para a esquerda instrumentalizar seu discurso, basta
querer.
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Nas figuras a seguir pode ser visto a evolução da razão entre o capital financeiro
(fictício) e o capital produtivo (real) entre os anos de 1980 a 2006.
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Que setor ou parcela dos capitalistas está disposto a abrir mão desse capital fictício
para o sistema recuperar sua saúde e sua dinâmica de crescimento? Se eles
discutirem isto nos seus banquetes a festa vai terminar em sangue, pois jamais
chegarão a qualquer acordo. De tão violento será este debate que a casa vai ficar
destruída com todos os empregados e serviçais dentro. No fim da briga, os
capitalistas que ficarem vivos contratarão outros empregados para restaurar a casa.
A vida segue .......
3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra.
Por fim, com o esgotamento das possibilidades de soluções no universo da
economia formal e no universo da política, tendo também falhado os recursos do
golpes e contragolpes, a burguesia leva ao extremo a imposição de seus interesse e
promovem a guerra que, necessariamente, destrói o capital, e leva junto nessa
destruição vidas e o meio ambiente. Mas o burguês arranja um desculpa social tipo
derrubar uma ditadura, implantar uma democracia, libertar um povo, livrar os povos
do sanguinário Hitler etc. a e faz dessa desculpa uma razão histórica e toda a
sociedade acredita.
Com o agravamento da “queda da taxa de lucro”, aumento da razão entre capital
produtivo e capital fictício e restrição do mercado consumidor ao ponto de inviabilizar
grande número de empresas capitalistas e quando as tentativas de compensação
(remédios) não tiverem fazendo mais efeito, ou melhor, quando as medidas não
solucionam a crise, mas estivem elas próprias aprofundando a crise em função de
intensificar promovem a concentração da riqueza de um lado e a pobreza do outro, a
burguesia usará do seu último e desesperado recurso: a “destruição do capital”
via uma intensa e radical disputa entre si, a exemplo da 1ª e 2ª Guerra Mundial,
quando o capital foi destruído e o ciclo de progressão e crescimento foi retomado.
Não existe como interromper este processo de construção da crise do sistema
capitalista, não ser na condição conflito profundo inter classes burguesas, ou seja,
na condição de destruição do capital para recomeçar o ciclo de acumulação.
Esta 3ª guerra será adiada ao máximo em função dos EUA não ter a segurança de
que poderá permanecer no comando do mundo diante da condição de agravamento
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Análise da conjuntura brasileira
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profundo da crise, gerando o total descontrole da situação. Um novo conflito em
proporções mundiais poderá levar a China como novo centro da imperialista da
economia mundial. O nível de inimigos que tem os EUA e as fragilidades das
relações hoje fundada no peso das armas e imposição do desvalorizado dólar pode
deixar em risco essa hegemonia. A China também não tem pressa de resolver esse
problema, a paciência oriental prepara o kung-fu para o golpe final.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Comportamento e relações de eventos no sistema capitalista de produção
Observações para a leitura: Quadro 1
a) Cada quadro é diferente, mas tem
elementos comuns e total conexão
com os outros;
b) As linhas em negritos são a base de
toda a crise e conflito de classe
c) Ler os quadros na sequência dos
números observando que o seguinte
e sempre consequência do anterior;
d) A linha 2 é um fator totalmente aceito
e desejado pela sociedade, inclusive
a esquerda, sob a lógica da
modernização, da evolução da
sociedade humana. Pode-se concluir,
então, que o capitalismo é benéfico
para a humanidade.
e) A última linha é a manifestação
aparente do problema.
1 Aumenta a concorrência
2 Aumenta a tecnologia
3 Aumenta o capital fixo
4 Diminui capital variável
5 Aumenta o desemprego
6 Aumenta a mais valia individual
7 Diminui mais valia coletiva
8 Queda da taxa de lucro do sistema
9 Redução do lucro
10 Crise econômica
Quadro 2 Quadro 3
1. Aumenta a concorrência
2. Aumenta a tecnologia
3. Aumenta o capital fixo
4. Diminui capital variável
5. Aumenta a exploração do trabalho
6. Diminui os salários
7. Diminui as conquistas trabalhistas
8. Crise social
1. Aumenta a concorrência
2. Aumenta a tecnologia
3. Aumenta o capital fixo
4. Diminui capital variável
5. Diminui o capital industrial, produtivo.
6. Aumenta o capital financeiro
7. Diminui o recurso público para o social
8. Aumenta o recurso público para a
produção
9. Crise social
Quadro 4 Quadro 5
1. Aumenta a concorrência
2. Aumenta a tecnologia
3. Aumenta o capital fixo
4. Diminui capital variável
5. Aumenta a produção
6. Aumenta a produtividade
7. Aumenta a oferta de produto
8. Diminui o consumo
9. Aumenta o excedente de produção
10. Diminui o preço
11. Diminui o lucro
12. Aumenta o crédito
13. Aumenta a venda à crédito
14. Aumenta a dívida do indivíduo
15. Crise social
1. Aumenta a concorrência
2. Aumenta a tecnologia
3. Aumenta o capital fixo
4. Diminui capital variável
5. Aumenta a produção
6. Aumenta a produtividade
7. Aumenta a oferta de produto
8. Aumenta a procura por matéria prima
9. Diminui os recursos naturais
10. Aumenta a poluição
11. Aumenta a produção de lixo
12. Aumenta a destruição ambiental
13. Crise ambiental
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Análise da conjuntura brasileira
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Síntese da análise e consequências da crise da economia capitalista
A capacidade de produção
instalada é maior que a
possibilidade de consumo.
Produção sem circulação
Desemprego e pobreza
em crescimento.
Baixo consumo
Concentração de
riqueza
.
Desenvolvimento do capital fictício.
Reestruturação produtiva.
Reformas no mercado de trabalho.
Transferência de recursos dos países periféricos
(dívida, lucros, royalties, bens primários, expansão de mercado)
Maior produtividade
Mais produção (mais fábricas)
Mais oferta (concorrência)
Preço mais baixo
Queda da Mais-valia
Funcionamento e crise do modelo capitalista
D - M - D’ (Acumulação)
Elevação constante da produção. Redução da circulação e consumo.
Ações de curto prazo e concorrência que tende ao monopólio
Sociedade de consumo
Crise econômica
Aumento da demanda
por matéria prima,
insumos.
Esgotamento e extinção
de recursos e da
biodiversidade
Queda da taxa de lucro
(CV / CF)
Cresce o capital fixo (CF)
(Máquinas e novas tecnologias)
Decresce o capital variável (CV)
(Desemprego)
Sociedade de ciclo aberto
Crise ambiental
Sociedade Assimétrica
Crise social
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Análise da conjuntura brasileira
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4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho
Desde o inicio, as subordinadas elites brasileiras impõe aos povos do Brasil a
função de fornecer matéria prima ao mundo
Desde a era das grandes navegações, quando começou a globalização da
economia, os países centrais, onde o capitalismo se desenvolvia, transformaram as
outras regiões e países em fornecedores de matéria prima e importadores de
produtos industrializados e, depois, em importadores de capital, instalado assim a
divisão internacional do trabalho que até hoje perdura sem indicação de alteração
enquanto durar o sistema capitalista.
A entrada do Brasil na economia mundial se deu pela porta dos fundos como mero
fornecedor de pau-brasil saqueado pelos invasores de então. Dessa forma o Brasil
inaugura sua participação na divisão internacional do trabalho como fornecedores de
matéria prima e assim consolida essa posição que permanece nos seus 515 anos de
existência. Depois, foi o ouro e diamante, cana de açúcar, que fez do Brasil o
principal produtor mundial com mão de obra escrava, cuja realização da mais valia
ocorria fora do país. Assim aconteceu com diversos outros produtos que foram
determinantes para os rumos econômicos e políticos do Brasil a exemplo do café,
cacau, borracha, carnaúba que formaram os grandes coronéis regionais a serviço
das cadeias produtivas dos respectivos produtos cujas indústrias estavam instaladas
nos países centro do capitalismo. Hoje, este mesmo mecanismo continua em
operação chamando o processo de moderna e avançada agricultura. Mas a
modernidade não trouxe para dentro do país uma fatia maior da participação na
cadeia produtiva, não internalizou capital para as regiões produtoras, a mais valia
não se realiza dentro do país, não modificou o caráter das tecnologias desenvolvidas
e estruturas implantadas que são de restrita aplicação na produção especifica.
Quanto a fonte se esgota a quebradeira é geral, ficam só os passivos ambientais e
sociais, os pobre ficam e os ricos saem para armarem seus circos em outras praças.
Fica com os pobres a tristeza e a solidão, até os capitalistas encontrarem diferente
forma de acumular: Chapada Diamantina na Bahia, Recôncavo na Bahia, Ilhéus e
Itabuna na Bahia, Pelourinho em Salvador, cidades e portos da carnaúba no Ceara e
Rio Grande do Norte, cidades e portos da borracha na Amazônia e tantos outros
locais no Brasil fornecedor de matéria prima. Agora, a vez do sucesso, produção de
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Análise da conjuntura brasileira
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“tecnologia avançada” e base de poder na política brasileira é a produção de soja,
algodão, milho, celulose, madeira, laranja, carnes e minerais diversos.
O governo comemora cada tonelada de produto primário exportado, pois significa
dizer que a moderna engrenagem montada em 1500 está funcionamento muito bem
sem nenhum problema, valendo a pena, então, a mais recente decisão de aumentar
as verbas para modernizar a infraestrutura e financiar e subsidiar a produção e
exportação desses produtos que são o orgulho do Brasil e geradores de mais vagas
de trabalho com carteira assinada.
A academia também se subordina e auxilia a exploração dos povos brasileiros
A economia brasileira existe para exportar de matéria prima e renda de capital. A
gestão e planejamento públicos e a gestão empresarial têm como objetivo direcionar
as forças e recursos para o desenvolvimento dos setores exportadores de bens
primários. A educação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que contam com a
subordinação da universidade e empobrecimento intelectual da juventude,
asseguram o fornecimento de tecnologia e mão de obra. Mesmo as ações ou
trabalhos que estiverem fora dessa lógica, acabam fazendo parte em função da
hegemonização da sociedade, pois cumpre o papel de contenção política e social
para que fique assegurado a continuidade do papel do Brasil na divisão internacional
do trabalho do mundo capitalista.
O sistema educacional não forma nem cientista nem pensadores que estude os
problemas brasileiros e apresentem soluções. As grades curriculares em todos os
níveis não permitem a discussão dos problemas dos povos brasileiros, muito menos
a discussão de um projeto de Brasil fora do atual esquema da divisão internacional
do trabalho. As profissões estão sob o controle dos interesses da empresa
capitalista. Todos estão focados em tornar-se mão de obra especializada para as
empresas ou laboratórios, são preparados para trabalhar na cadeia de produção de
algum ramo da economia na função correspondente ao nível educacional alcançado.
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Análise da conjuntura brasileira
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A indústria como fator de empobrecimento da nação e elo frágil da luta
revolucionaria
O conflito central entre o capital e o trabalho no Brasil se manifesta na
superexploração do trabalho, particularmente, nos setores de produção de matéria
prima agrícola e mineral. Os próprios operários do setor industrial mais intenso em
tecnologia, a exemplo da cadeia do petróleo, da metalúrgica e outros, se consideram
superiores aos demais trabalhadores. E a esquerda contribui para construir a ideia
da superioridade da dessa parcela dos trabalhadores em relação aos demais,
inclusive com definição de prioridade de construção pelo significado na construção
da revolução socialista. Se este é o caminho para a estratégia, para a tática se faz
necessário uma adequação à realidade brasileira.
Vejamos numa hipotética situação de greve numa indústria comum. Uma greve de
uma determinada indústria brasileira é uma coisa de efeito local, no máximo na
região, não tem efeito sistêmico, não repercute negativamente além da indústria que
estiver sofrendo a greve, e mesmo que seja uma longa greve que possa até fechar a
fábrica, a economia brasileira não se resentirá da greve, a não ser o efeito político,
pois os substitutos econômicos estarão batendo à porta até para esvaziar a própria
greve.
Já uma greve na produção de bens primários agrícolas e minerais o efeito é
completamente diferente, o efeito é sistêmico. O mundo capitalista necessita da
matéria prima produzida no Brasil e para interromper esse fluxo de exportação de
matéria prima será necessária muita energia, muito trabalho e união e muita força na
decisão política por querer fazer. Por este motivo pode surgir um novo golpe militar
com já aconteceu em momentos da historia do Brasil e dos países da América Latina
e África.
No caso da revolução socialista no Brasil, a esquerda não pode centrar o foco na
classe operária e secundar o papel dos outros segmentos de trabalhadores, pois o
setor industrial além de ser secundário em comparação com o setor primário da
economia ainda se caracteriza pela precariedade de uma parte ser de baixa
tecnologia e outra parte ser mera expansão do capital central.
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Análise da conjuntura brasileira
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Os conceitos clássicos do papel da classe operária na construção das lutas dos
trabalhadores e da revolução socialista no Brasil não podem ser aplicados
acriticamente para elaborar as teorias revolucionárias no Brasil. Isto não quer dizer
que o Brasil não seja capitalista ou que tem um capitalismo atrasado que necessita
passa primeiro pela revolução burguesa para permitir o desenvolvimento da classe
operária para posterior organização da luta pelo socialismo, nada dessas
formulações.
O capitalismo no Brasil é e bastante avançado no seu modelo e relação com o
capitalismo central. Necessitamos entender que modelo capitalista é esse, para
permitir a elaboração da plataforma de luta para os trabalhadores te assumirem o
poder no Brasil.
Os estudos e as teorias desenvolvidas pelos clássicos para compreender o
funcionamento do sistema capitalista ou para discutir a experiência da revolução na
Rússia, por exemplo, não deve prejudicar o processo de desenvolvimento da teoria
revolucionária e da acumulação de forças e formação do bloco de aliança para
enfrentar e quebrar os interesses capitalistas no Brasil.
A melhor forma dos trabalhadores brasileiros contribuírem para aprofundar a crise do
capitalismo e encontrar uma saída para a crise atendendo aos interesses dos povos
brasileiros é se organizando politicamente para implantar um projeto que acabe com
a exportação a preço vil de matéria prima e a consumi-la internamente para atender
às necessidades da população e só exportar bens com valor agregado, ou seja, para
o consumo direto. Se isto acontecer, quebra muitas empresas do capitalismo central.
Para elaborar a teoria revolucionária brasileira deve-se conhecer o sistema de
produção capitalista brasileiro e as razões pelas quais ele existe. Para isso, é de
fundamental importância conhecer a geografia brasileira, conhecer os biomas, saber
como funcionam e compreender por que estão sendo destruídos, quem se apropria
dos produtos da destruição e quais as consequências dessa destruição.
Como fazer uma plataforma de lutas para o Brasil a partir da realidade industrial de
São Paulo? Como não conhecer a realidade brasileira chamada pelo paulistismo de
Brasil profundo, rincões, sertões, sempre despersonalizando, retirando a feição do
individuo e elevando o folclore ou como queiram, a cultura. Não dá para deixar a
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Análise da conjuntura brasileira
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indústria de São Paulo comandar os passos da esquerda no Brasil. O Brasil não é
São Paulo.
Quando a esquerda foca na classe operária da indústria de São Paulo para elaborar
as teorias políticas é mesmo que tratar exclusivamente de São Paulo desprezando o
resto do Brasil e ainda desconsidera o peso do setor primário na formação do PIB
paulista. Fora de São Paulo, Minas e Rio, a participação da indústria de consumo e
de bens de produção no PIB é bastante pequena.
Escrever a teoria revolucionaria com dados da realidade brasileira
Sem sentir como é o tamanho e a diversidade é impossível elaborar uma teoria
revolucionária que dê certo no Brasil. A melhor forma de pensar o Brasil é conhecer
seus biomas e entender a lógica de substituição das florestas em commodities
destruindo o sistema hidrológico e solos agrícolas de sustentação das relações
sociais e econômicas no Brasil.
O sistema hidrológico brasileiro que permite a existência de grandes rios, em
particular, os da Caatinga, está sendo trocado principalmente por soja, milho, gado e
carvão. A Floresta Amazônica que garante a vazão de 17 trilhões de litros de água
por dia na foz do Rio Amazonas, transfere simultaneamente 20 trilhões de litros para
o resto da America do Sul em forma de vapor que se transforma em gelo nos Andes
e em chuvas no Cerrado, Caatinga e Sudeste.
O potencial produtivo de todos os biomas brasileiros para a sustentação de uma
indústria endógena de interesse dos trabalhadores voltada para o atendimento das
necessidades humanas vem sendo trocado, até a exaustão, por uns poucos
produtos de interesse dos capitalistas.
Conhecer os biomas não deve ser só dominar os dados das suas fisiologias ou
registrar as belezas das faunas e floras, é deixar os biomas influenciar na
elaboração das teorias revolucionárias sob pena de não ocorrer a revolução no
Brasil.
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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Conhecer os biomas é ir a fundo, é mergulhar no solo para entender fenômenos
históricos importante. Par isso a esquerda vai ter que conhecer áreas estratégicas
para a estruturação e sustentação da sociedade socialista a ser construída no Brasil.
O que tem a ver a ocupação do Recôncavo Baiano com o massapé da região que
vem sendo destruído pela ocupação urbana e industrial? E o processo de ocupação
de Irecê na Caatinga da Bahia e do Vale do Açu na Caatinga do Rio Grande do
Norte cujos solos estão sendo destruído por venenos, tratores e irrigação.
Para se libertar de São Paulo, a esquerda dever compreender o comportamento das
forças empresariais brasileiras e identificar as fragilidades dela e os caminhos para
alimentar o debate na sociedade contra a atuação desses empresários. Esse estudo
das forças empresariais vai nos revelar a linha da histórica de como a elite brasileira
se consolida e revelar suas fragilidades.
Estudos comparativos entre fatos históricos do Brasil com Paraguai e EUA
Podemos utilizar um estudo comparativo de fatos da historia do Brasil com três fatos
históricos determinantes nos rumos da economia mundial: Colonização dos EUA;
Guerra de Secessão dos EUA e a Guerra ao Paraguai.
Colonização ocupação nos EUA e de exploração no Brasil
Dois pais que nascem próximos, nas mesmas circunstâncias históricas, com
ocupação de território alheio, usam das mesmas tecnologias, assassinam os povos
nativos e escravizam povos africanos, acabam tendo rumos completamente opostos.
Os EUA desenvolvem a colonização de ocupação, famílias são transferidas para
reduzir as tensões sociais na Inglaterra e recebem ordem de construírem lá sua
nova vida. Acaba dando num povo e numa dinâmica econômica apegado ao
território, tendo um sentimento de nacionalidade e pertencimento ultra forte. O
preconceito racial é para com os de fora, no caso o negro. O negro é de fora, veio
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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trazido à força e não desejados pelos locais, acabou sendo intrometido no espaço
que não lhe pertence. Os EUA tem o processo de consolidação do povo a partir dos
direitos da família e do individuo
No caso do Brasil, a colonização foi de exploração, e persiste ate hoje o modelo.
Não foram transferidas famílias, e sim pessoas para instalar os processos de
exploração e transferência dos produtos para Portugal, cuja vontade era voltar à
civilização. Ser transferido para o Brasil era punição e o objetivo era ou perdão ou a
autorização para o retorno. No inicio vieram só homens degredados que depois
solicitaram ao reino um envio de mulheres. O rei atendeu mandando um navio de
vadias. Uma das funções era escravizar ou matar os povos nativos. Para os
serviços, vieram os povos africanos escravizados sem direito a terra. Acaba
resultado numa dinâmica social com um povo e uma dinâmica econômica
desapegada do território, sem nenhum sentimento de nacionalidade e
pertencimento. O preconceito racial aqui é para com os de dentro, os nativos e os
negros. O negro aqui é de dentro, pois o ser de fora a referência é Portugal. Aqui o
povo se consolida sem família, sem individuo, sem alma ou personalidade e,
fundamentalmente, sem nenhum direito. O que persiste ate hoje nos 515 anos de
Brasil.
No Brasil a conciliação de capital, nos EUA o revolucionário conflito de
capitais.
Os livros de história e filmes registram que a Guerra de Secessão dos EUA foi para
acabar com a escravidão. Como a esquerda só pensa em política, não pensa em
economia, acredita nisso. Gostaria de ver um texto da esquerda revolucionaria
buscando esclarecer a gêneses do poder dos EUA.
Os EUA começa sua economia como qualquer lugar do mundo promovendo a
acumulação primária de capital a partir da produção agrícola, tornado este setor da
economia como o mais forte e de maior influência política. Os produtos pertenciam
aos produtores, o gado, o ouro e a produção agrícola eram apenas taxados pela
Inglaterra. Vêm nas famílias transferidas profissionais diversos, combinação perfeita
para o desenvolvimento da educação e da indústria local. Quem faz a independência
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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dos EUA é a suas elites e seu povo em guerra contra o domínio da Inglaterra. Por
um século segue o crescimento da educação, da indústria e da agricultura, mas a
economia segue na encruzilhada do futuro: as normas alfandegárias, cambiais e
fiscais vão favorecer a indústria ou a agricultura? Foram quase 100 anos para
encontrar a resposta que não conseguiu sair dos lobbies no congresso. Resultado: o
conflito entre o capital agrário (do Sul agrícola) e o capital industrial (do Norte
industrializado) acabou sendo resolvido na bala para decidir quem manda no
Congresso, ou seja, quais as leis que o Congresso deveria aprovar. O congresso
passou a legislar em favor da indústria subordinando a agricultura aos interesses da
nação industrializada. Assim foram criadas as condições para os EUA chegar à
posição em que se encontra.
Como se dá o processo brasileiro? Aqui também começa no campo a acumulação
do capital, com uma primeira diferença em relação aos EUA: a remuneração é
mínima, pois apenas produzia matéria prima para exportação para alimentar uma
indústria no exterior. Mas, como internamente existe a super-ultra-exploração do
trabalho, a remuneração acaba permitindo a formação do capital agrário primitivo.
Isto acontece em todas as regiões brasileiras a exemplo da cana de açúcar,
borracha, carnaúba, cacau e, principalmente, café. Como o modelo brasileiro foi
composto com a ausência da família acumuladora, com o não investimento em
educação e com o impedimento da industrialização, esse capital agrário foi
tardiamente transformado em capital industrial no Sudeste e em capital comercial no
resto do Brasil. Se dá, portanto a primeira grande conciliação de capital formando
uma aliança de altamente conservadora e reacionária. As indústrias de São Paulo
poderiam utilizar a rede de lojas montadas no resto do país para comercializar sua
produção. Em função disso, principalmente nas regiões de Norte e Nordeste não
existem indústria, apenas comércio. Não tem como melhorar nem a taxa nem a
qualidade do emprego.
Para agravar a situação da nação, outra conciliação que vai sendo preparada
paralelamente que é entre o capital industrial nacional e capital industrial
estrangeiro. Nessa conciliação prevaleceu a covardia, a pequinesa do empresário
nacional de aceitar a condição imposta de se restringir à produção de bens de baixa
tecnologia tanto para o mercado consumidor como fornecedor de peças para a
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Análise da conjuntura brasileira
- 46 -
indústria de capital estrangeiro de alta tecnologia. Este acordo impõe ao Estado
conduzir a educação, a academia e os institutos de pesquisa como meros
preparadores de mão de obra para atender a essa indústria.
Enquanto nos EUA instalou-se o conflito de interesse entre o capital industrial e o
capital agrário levando o setor industrial a dominar e comandar o setor agrário, aqui
no Brasil, a elite, historicamente passiva e escravagista, subordinada e obediente
aos interesses estrangeiro, promove a conciliação entre o capital agrário e o
industrial fazendo esses dois setores darem as mãos para compensar seus parcos
ganhos decorrentes da participação na cadeia de produção internacional na
superexploração dos trabalhadores locais.
Dessas conciliações sai a conta a ser paga pelos trabalhadores, meio ambiente e,
principalmente, pela destruição do potencial do desenvolvimento futuro da nação.
Como o Brasil agrário se alia com a Argentina e Uruguai também agrários para
destruir a maior experiência industrial da America Latina de todos os tempos,
ou, a conhecida guerra ao Paraguai para salvar o povo paraguaio e o Brasil do
ditador Francisco Solano Lopes.
Paraguai era uma potência econômica, independente das nações europeias, cuja
industrialização foi decorrente de um governo forte e decisivo mandava jovens
estudar na Europa e voltar para implantar no país os conhecimentos adquiridos.
Teve que enfrentar a ira do império britânico através dos imbecis e subjugados
governos do Brasil, Argentina e Uruguai que tomaram dinheiro emprestado da
Inglaterra para fazer uma guerra de interesses da indústrias inglesas.
O Paraguai teve toda sua indústria destruída e cerca de 70% da população assinada
com consequências que sofre até hoje 145 anos depois.
Já o Brasil se orgulha do genocídio promovido por Caxias e lhe dá a honra de ser
patrono do Exército além de nomes de ruas, avenidas e cidades e, de quebra, ainda
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Análise da conjuntura brasileira
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trás a dívida elevada decorrentes dos gastos da guerra que foram custeados com
empréstimos estrangeiros para ser paga até hoje pelos trabalhadores brasileiros.
Não me lembro de ter visto um só discurso da esquerda se referir a grandeza da
obra de Francisco Lopes a quem aprendemos odiar nas nossas aulas de história por
ser o ditador que queria tomar o Brasil.
As conexões da economia brasileira com a divisão internacional do trabalho.
Vamos discutir as principais conexões entre economia brasileira e a economia
mundial que constitui a subordinação do Brasil à divisão internacional do trabalho
impostas pelos países centrais da economia capitalista e aceita pela elite
empresarial e escravagista brasileira: o agronegócio, a mineração. O mercado do
petróleo, o modelo industrial, a geração de energia, o mercado de droga e o
mercado financeiro.
4.1 O agronegócio
A agricultura e a pecuária no Brasil são atividades ultradiversificadas e altamente
complexas por cumprir diversas funções e tantos parâmetros quanto se queira
analisar: tamanho, tecnologia aplicada, produção, objetivos etc.
Como temos como objetivo deste debate identificar como as forças e os fluxos
econômicos se movimentam, vamos concentrar no agronegócio e tomar as outras
áreas da agricultura como referência, mas que dever ficar a obrigação do
aprofundamento deste debate, pois ai encontra-se as soluções social, econômica e
ambiental para diversos problemas por que passam os povos brasileiros.
Grosso modo, atendendo os objetivos desse texto, podemos classificar o setor
agrícola e pecuário do Brasil em três segmentos apresentados pela ordem de
tratamento neste texto, todos por si muito diversificados, particularmente os da
VI ENAPS / 2015
Análise da conjuntura brasileira
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agricultura familiar: agricultura e pecuária familiar convencional, agricultura
familiar e pecuária agroecológica e o agronegócio empresarial,.
Agricultura e pecuária familiar convencional
A agricultura mesmo sendo de pequeno porte, controlada e conduzida pela família,
com muito baixa divisão de trabalho, utiliza tecnologias industriais e pratica o modelo
de produção focado no monocultivo convencionado pela chamada “revolução verde”.
Trabalha com sistemas de monocultivos e de consorcio com baixa diversidade nas
propriedades, porém alcança grande diversidade no conjunto. O leque de situações
em que se encontram as propriedades é muito grande, varia de bem sucedidas até
extrema pobreza, de muita tecnologia e recurso até a ausência completa de
tecnologias, com organização de cooperativas, a exemplo da região Sul, a ausência
de cooperativas, região Norte e Nordeste. Ainda tem os coletores que atuam
individualmente ou cooperativados, a exemplo dos coletores de castanha de
Amazônia, babaçu, mangaba, licuri, umbu, piaçaba etc.
A agricultura familiar é vítima da demagogia política dos governos e da academia e
institutos de pesquisas. A academia e cientistas da área orientam o agricultor familiar
com tecnologia e procedimentos próprios do agronegócio de grande escala e alta
tecnologia, o que os torna escravos dos bancos e da indústria.
A agricultura familiar fornece quase 80% da alimentação consumida pelas famílias
brasileiras.
A contradição central é copiar o modelo empresarial para se inserir na cadeia
produtiva de alguma indústria com uma produção única ou consorciada, ou seja,
utiliza tecnologia própria da agricultura de larga escala em agricultura de pequena
escala, utiliza recursos de alto valor agregado para produzir bens de baixo valor
agregado.
O agricultor da agricultura familiar de forma geral é hegemonizado pelo conceito do
agronegócio e não se expressa como classe, se dilui no conjunto das lutas sociais
não buscam sua independência e vive de buscar apoio, subsidio e financiamento
oficiais.
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Análise da conjuntura brasileira
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Agricultura e pecuária familiar agroecológica
Se caracteriza por práticas agrícolas não atreladas ou subordinadas às cadeias
produtivas da indústria, busca uma produção diversificada, próximas aos modelos
naturais sem uso de venenos, tem o caráter preservacionistas e conservadoras dos
recursos naturais. Este modelo se aproxima da agricultura tradicional praticada pelos
povos originais e quilombolas e seus descendentes. Busca, também, atuar de forma
independente do mercado industrial e financeiro.
A agricultura florestal dentro desse grupo aprofunda mais ainda os conceitos de
independência e intensa diversidade. Busca reinstalar a dinâmica florestal a partir do
aproveitamento da irradiação solar nos diversos níveis alcançáveis pelas as diversas
espécies vegetais.
Este modelo se caracteriza, também, pela permanente evolução da produção e
ainda tendo como saldo a melhoria e enriquecimento do solo com redução dos
custos operacionais da produção.
Esse tipo de agricultura ainda tem pouca abrangência, pois, de forma geral, grande
parte dos agricultores familiares permanece hegemonizado pelo pacote tecnológico
da “revolução verde” da burguesia industrial, desenvolvido pela academia e instituto
de pesquisa e difundido pelos órgãos de extensão.
O sistema capitalista não tem interesse nesse modelo, pois quebra os paradigmas
da acumulação.
O agronegócio, fator de transferência de renda para a indústria e o banco
A produção do chamado agronegócio (agricultura e a pecuária empresarial)
brasileiro tem como função precípua assegurar saldo positivo da balança comercial e
fornecer matéria para diversos ramos industriais no Brasil. E na função econômica,
está estruturada para transferir renda para a indústria e para o banco.
A agricultura e a pecuária do agronegócio se caracterizam por serem produtoras de
matéria prima em monocultivos para uso industrial. Convencionadas como
modernas, totalmente tecnificadas e de alto custo financeiro. Geralmente é
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Análise da conjuntura brasileira
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controlada e conduzida por organização empresarial com intensa divisão de
trabalho.
O modelo agropecuário hegemônico combinado com a necessidade de ampliação
do mercado consumidor vem deslocando, de forma acelerada, imensa parcela da
população do campo para as cidades.
As concentrações urbanas tornam-se completamente dependentes da indústria. A
manutenção da vida nas cidades depende do campo como exclusivo fornecedor de
energia, água, alimentos e das matérias primas para fabricação de alimentos
industrializados e todos os demais bens comercializados na cidade. Para isso foi
montado um modelo de agronegócio que tornou-se hegemônico, focado na
produção de matéria prima para as diversas indústrias.
A agricultura e a pecuária deixam de ser uma atividade voltada para atender as
necessidades alimentares da população e passa a ser uma atividade produtora de
matéria prima que deve ser padronizada, de baixa variabilidade genética e em
grande escala para abastecer a linha de produção da indústria química, metalúrgica,
farmacêutica, têxtil, papel e, em particular, a de alimentos. Passou a ser uma
atividade de alta concentração, a exemplo do mercado do trigo onde apenas uma
empresa, a Cargil, controla 32% do mercado no mundo. Sete corporações industriais
controlam 80% da indústria de alimentos do mundo. O Brasil vem sendo chamado
de “celeiro do mundo” e a história da agricultura brasileira se confunde com a história
mundial. A começar com o pau-brasil que dá origem ao nome e a economia do país
que se caracteriza deste então como exportadora de matéria prima agrícola.
A agricultura e a pecuária tornam-se um importante elo da cadeia da produção da
indústria capitalista e passam a adotar o objetivo central dessa indústria que é a
acumulação de capital e não no atendimento das necessidades humanas.
Com o crescimento do mercado acumulador (capitalista), promove-se intensa
demanda por matéria prima, o que impacta diretamente a agricultura e a pecuária
que concentram suas atividades na produção em escala de matéria prima. Este
modelo é uma atividade de elevado impacto ambiental para desenvolver os
monocultivos, faz parte do cotidiano das atividades a eliminação das florestas, o uso
do fogo, destruição da flora, fauna e biodiversidade; arar e gradear o solo;
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Análise da conjuntura e caminhos para a revolução socialista no Brasil

  • 1. VI Encontro Nacional de Ação Popular Socialista Análise da conjuntura brasileira Há 515 anos exportando bens primários: a saga da superexploração do trabalho no Brasil Nelson Araújo Filho “Saber para onde vai, mesmo não sabendo por onde” (A Queimada, filme) “Árvores não demoram pra crescer, nos é que atrasamos o plantio” (Henrique Souza) Julho de 2015
  • 2. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 2 - Roteiro 1. Apresentação 2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura. 2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta 2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais 3. Elementos da crise da economia capitalista 3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista? 3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”? 3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental. 3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro” 3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho 3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima 3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro 3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação 3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação 3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e desvios dos recursos públicos. 3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual 3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países 3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda 3.5.3 Mercado do petróleo 3.5.4 Mercado de armas 3.5.5 Mercado de drogas 3.5.6 Mercado financeiro 3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra. 3.7 Quadro síntese dos elementos e fluxos da crise do capitalismo 4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho 4.1 O agronegócio 4.2 A mineração 4.3 O mercado do petróleo 4.4 O modelo industrial 4.5 A geração de energia 4.6 O mercado de drogas 4.7 O mercado financeiro 4.7.1 Para onde vão as divisas oriundas da exportação de bens primários 4.7.2 Divida Pública da União 4.7.3 A contabilidade nacional com ferramenta de luta dos trabalhadores
  • 3. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 3 - 5. Elementos para fazer a análise da conjuntura política (FALTA DESENVOLVER) 6. Plataforma de lutas (FALTA COMPLETAR) 7. Bibliografia (FALTA DESENVOLVER)
  • 4. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 4 - 1. Apresentação Companheiros, e como está na moda, companheiras (isto começou com Sarney com seu “brasileiras e brasileiros” no início dos discursos) tenho muita satisfação de apresentar este texto para a discussão nesse VI ENAPS. Considero que esta tribuna se constitui mais como um roteiro para discutir e construir a revolução socialista brasileira do que propriamente um texto. Tenho dificuldade de tratá-la como um texto, pois reconheço as lacunas e falhas em função da falta de estudos e pesquisas em muitos pontos, mas fico tranquilo, pois a tese que defendo fica expressa não no tratamento de cada ponto, mas na compreensão do significado do conjunto dos pontos para construir um programa capaz de agregar amplas massas e a intelectualidade para alcançar os objetivos que interessam aos trabalhadores sejam alcançados. As base para escrever este texto é uma espécies de equação cujas variáveis são: sonho por um mundo socialistas + constante quebra de paradigma + realidade brasileira + aprendizagem com o trabalho manual. O sonho por um mundo socialista decorre de minhas superficiais e inconclusas leituras dos clássicos Marx, Engels, Lenin e Gramsci, Kalecki e Benjamim que me inspiram e ajudam organizar meus pensamentos para construir a estratégia para alcançarmos a revolução socialista no Brasil. A constante quebra de paradigma me foi estimulado por alguns autores que me apresentaram ideias completamente diferentes do que está estabelecido como verdade, a exemplo do médico José Roiz com o seu “O Esporte Mata” que diz que ao praticarmos esporte adoecemos e morremos mais cedo, ou Décio Antônio Colombo com o “Desmitificando o coração-bomba” que diz que não é o coração que bombeia o sangue no corpo. Assim como as palestras e conversas com o médico Jea Myung Yoo que trabalha com a medicina genômica e diz que o câncer não doença é uma defesa do corpo contra a morte. Também palestras, aulas e trabalhos práticos com Henrique Souza, Ernst Gostch, Adoniel Amparo e Zuzi Theodoro que me ensinaram a observar e reproduzir as relações e os fenômenos que ocorrem na Natureza e nas florestas naturais.
  • 5. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 5 - Quanto à realidade brasileira, tive a sorte de morar e trabalhar na Amazônia, na Mata Atlântica e na Caatinga e conhecer o Cerrado, trabalhar na cadeia do petróleo e com implantação de sistemas florestais. Tive a felicidade de ler Câmara Cascudo, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Machado de Assis, Lima Barreto, Drummond, Bandeira e Cora e outros. Organizou meus pensamento acerca da realidade brasileira três importantes textos de Fernando Pedrão, Luis Filgueiras e Hilton Coelho . Agora, muito tardiamente, quase no fim de carreira, com muito pesar pelo atraso, mas com uma profunda felicidade por ter encontrado os rumos teóricos e conceituais para a revolução socialista brasileira, me foi mostrado Nildo Ouriques e Ruy Mauro Marini. Se panfletarmos as escolas, as fábricas e fazendas com esses dois autores, acho que a revolução brasileira estará salva. Quanto à aprendizagem com o trabalho manual, gostaria de explicitar aos companheiros a importância que o trabalho manual tem no meu processo de formação, pois me ofereceu os elementos que possibilitam o aperfeiçoamento da minha capacidade de observação, reflexão e elaboração teórica. Tomo como objetivo central desta tribuna traçar um fio condutor para a construção de argumentos que dê base a uma plataforma que possa sustentar um arco de alianças com forças suficientes para de enfrentar e derrotar a burguesia e assim potencializar a riqueza natural e produzida em favor dos povos brasileiros. Para isso, e correndo risco, tento levantar elementos para contribuir com a compreensão da dinâmica da economia brasileira e sua relação com o mundo e identificar como os agentes econômicos se comportam diante dessa dinâmica, particularmente os trabalhadores e a esquerda organizada. Em seguida, busco, com muito poucas informações, elaborar uma análise da política brasileira conectada com a economia tendo como foco principal o povo na política, depois os demais os agentes organizados. Observo que temos uma cultura de trabalhar separadamente a economia da política, construímos a desconexão entre as análises da política e da economia e adotamos a política como único fator de mobilização e organização da esquerda e dos trabalhadores.
  • 6. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 6 - Na conclusão, apresento uma plataforma de lutas que elaboro não a partir da minha vontade e desejo comunista revolucionário, mas a partir da análise econômica e politica, que deve servir para alicerçar a construção de um movimento com um leque de alianças capaz de alterar a relação das forças presentes na vida brasileira. Quem conseguir avançar na leitura verá que faltam estudos e pesquisas sobre diversos temas abordados. Falta apresentação de dados comprobatórios ou explicativos. Faltam referências, citações e, principalmente, aspas. Tenho consciência dessas falhas, mas entre lançar o texto para o VI ENAPS ou só daqui a uns três ou quatros anos optei de fazer agora com todos os erros e lacunas. Peço aos companheiros que não releguem os erros ou lacunas, os aponte se valer a pena, escreva algo. Isso só me ajudará. Mas não deixem de procurar formulações importantes para fazermos o debate da revolução brasileira, pois sei, desculpem-me a falta de modéstia, estão perdidas dentro do texto. Por fim, peço, ainda, que os adjetivos que possam servir para me enquadrar em algum modelo de pensamento ou ação política ou caráter ou personalidade sejam trocados por análises e argumentação críticas sobre os temas e, em particular, sobre os erros e lacunas do texto. Obrigado!
  • 7. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 7 - 2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura. Compreendo que a função de uma análise de conjuntura seja buscar identificar os padrões econômicos, sociais e políticos, conhecer as forças e aprender a caminhar entre elas para chegar ao objetivo desejado. O discurso não deve ser o da denúncia, propaganda ou promessa, se for assim é só o relato do óbvio, é lugar comum. Isto não empolga nem agrega, ainda mais quando o discurso é dirigido a pessoas com razoável esclarecimento político e intelectual. O discurso deve ser uma peça científica, um estudo, para descobrir o velado, enxergar o que se encontra escondido, deve identificar os agentes, as categorias, as classes e subclasses dos jogos econômicos e políticos próprios da conjuntura presente, tá perdendo com a crise cíclica do capitalismo. Dessa forma, não apenas polariza as pessoas, mas, também, esclarece, envolve e tornas as pessoas militantes. Mesmo correndo o risco de não atender a estes pressupostos, busco na primeira parte desse texto trazer a debate a análise estrutural da atual crise do capitalismo, como e porque ocorre e as suas consequências e, em especial, a participação do Brasil nessa crise. Depois tentaremos trazer a discussão das relações políticas para identificar os espaços e as oportunidades de lutas para as classes trabalhadoras brasileiras neste contexto de crise econômica e reordenação das forças políticas no país. A conclusão desse debate deve ser a definição de uma plataforma de lutas que deve guardar coerência com a análise feita. Essas análises e propostas devem ser a base para iniciar a discussão do projeto de construção partidária. 2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta Os fatos, lutas e embates ocorrem não pela vontade ou ação ou trabalho de um agente da política, mas sim pelo fato daquele agente ter conseguido enxergar ou perceber os fluxos das forças e ter conseguido atuar, mesmo que não tenha consciência disso, para influir na direção dessas forças. Em outras palavras, não é apenas o desejo ou a vontade política, mesmo associadas a propostas justas e corretas, que vão levar às conquistas, mas sim, a resultante da movimentação das
  • 8. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 8 - forças políticas. Para conseguir mexer nas posições das forças para alcançar a resultante desejada, é necessário uma grande capacidade para ler e influir na movimentação de forças. Marx e Gramsci não conseguiram mexer na direção das forças nos seus tempos e não dirigiram nenhuma revolução. Mas Lenine e Fidel sim. Porque uns conseguiram e outros não? Aqueles que conseguiram viveram a oportunidade de enxergar as forças e atuar para direcioná-las para os seus objetivos. Que lição poderá ser tirada disso? Que a luta política revolucionaria é, mais do que qualquer outro jogo, um jogo xadrez, ou seja, ganha quem tiver a capacidade de perceber a movimentação das forças adversárias com bastante antecedência e se movimentar para surpreendê-las e derrotá-las. No jogo da dominação versus a libertação, as forças atuam em dois universos que se fundem ou se confundem permanentemente: o universo da política e o universo da economia. O que é o universo da política? E o lugar promíscuo, aberto, público, onde todos devem e podem participar, é o palco onde a sociedade encena o teatro sob o olhar da plateia formada pelos mandantes. É no universo da política onde se cria a ilusão da democracia e da liberdade e participação. Quando a encenação da peça ocorre dentro do script, tudo é conduzido em paz. Qualquer coisa que ocorra fora do roteiro, a plateia intervém. Quando os atores aperfeiçoam sua capacidade de atuar e passam a criar e a fazer um script diferente, a plateia analisa e intervém. Se perceber que vai sair alguma coisa que não seja do seu gosto, interrompe a peça. Mas se perceber que não vai perder nada ou até ganhar, a peça continua. No universo da política, as forças que disputam os rumos da sociedade são mais claramente enxergadas. É nesse universo que elas se diferenciam, se mesclam ou se mimetizam. E o universo da economia, é o que? É o sagrado lugar privado onde ocorre a produção dos bens necessários para a satisfação psicológica do burguês de se impor como superior social. Para garantir o funcionamento desse mecanismo, ele apenas destina uma muito pequena parte da produção para os trabalhadores. Este lugar chamado economia é real, concreto, material, tem domínio, não é aleatório, e tem só um mandante: o burguês.
  • 9. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 9 - Quanto os trabalhadores tentam uma mínima ampliação na participação no universo da economia através da busca de melhores salários, melhora no consumo, ou posse da terra ou desvio de recursos públicos para fins sociais, a burguesia utiliza de todos os recursos disponíveis para mostrar aos trabalhadores que no sagrado universo da economia não há espaço além do que já ocupa o trabalhador como fornecedor de força de trabalho e consumidores limitados É importante observar que a burguesia, magistralmente, apresenta ao público esses dois universos (economia e a política) como se fossem dois mundos que não tem nada a ver um com outro, apresenta de forma separada e independente. As forças dominantes atuam com muita eficiência para mostrar a aparente separação entre o universo político e o universo econômico. Nas disputas e confrontos entre as classes, a burguesia empurra o tempo todo o jogo para o universo da política, e fazem com tal maestria que os trabalhadores de uma forma geral e a esquerda em particular se entusiasmam tanto com isto e daí não consegue sair. Enquanto isso, nos salões inexpugnáveis, a burguesia trata esses dois universos, literalmente, como as faces de uma mesma moeda. 2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais Sendo os movimentos das forças sociais uma dinâmica de ultracomplexidade, só métodos complexos podem oferecer as condições para enxergar esses movimentos. O uso de recursos simplificados, fragmentados, ou é resultado de ignorância, desconhecimento, ou tem como objetivo a manipulação. É interessante como a burguesia usa o complexo como método de dominação. Mas divulga o uso do simples como recurso da produção. Ai o senso comum se apega ao simples e deixa o complexo com a burguesia. Pior, a esquerda não foge dessa regra! Numa análise que interessa aos trabalhadores, deve primeiro tentar ver as forças no universo da economia, depois vê-las no universo da política e, em seguida, para concluir, ver as forças atuando simultaneamente nos dois universos. É importante notar que para enxergar as forças nos universos separados deve se ter muito cuidado, pois pode tanto deformar a análise como desenvolver práticas não
  • 10. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 10 - coerente com o propósito original. Esse perigo decorre do fato de que a análise separada tem como base a metodologia da fragmentação da realidade, ou seja, simplifica um fato complexo para permitir a análise. Quando isto é utilizado como recurso metodológico, torna-se aceitável, pois se considera que a análise não esteja concluída. Mas quando transforma este recurso metodológico numa base conceitual para análise definitiva, chega onde a burguesia quer. Este querer é tão forte que é aplicado como modelo na academia, tornando os cursos superiores meros formadores de mão de obra para as empresas de exportação de bens primários ou capital. Este conceito da fragmentação tem como base a física mecânica newtoniana. A análise que interessa aos trabalhadores é a análise complexa, sem fragmentação, que tem como base a dialética. E uma análise que não é focada no fato, mas na relação entre os fatos, ou seja, reconhece que o fato, a realidade, é uma coisa do passado, que já se deu. Nada pode ser feito para alterá-lo. O fato presente é uma mera apresentação do que já ocorreu na relação entre as coisas, os agentes, os fatores geradores desse fato. Para se alterar o fato deve-se, obrigatoriamente, mexer nas relações. Diferente disso, permanece na ilusão de que esteja mudando alguma coisa. A análise complexa tem com base a física quântica. A apresentação desses conceitos visa levantar algumas das tantas questões que necessitamos responder: a) Porque a APS não discute economia? b) Porque a APS só discute política? c) Porque a APS não consegue juntar os dois temas numa discussão única? d) Porque a consigna da APS é restrita ao universo da política? e) Porque as ações e campanhas da APS são sempre no universo da política? f) Porque tem tanta garra só para mergulhar só no universo da política?
  • 11. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 11 - 3. Elementos dacrise da economia capitalista O principal elemento da atual conjuntura é a crise da economia capitalista que vem se desenrolando desde a década de 70 do século passado e agora alcança um patamar bastante elevando, porém, ainda, não é o mais grave. O sistema capitalista tem como padrão de funcionamento o caos organizado, também visto como liberalismo econômico. O sistema usa de total liberdade para funcionar, para colocar em prática sua essência que é a maximização das vendas e lucros. Para isso não há regras, não há limites. Cinco características representam bem essa condição de caos organizado: concorrência, eliminação da concorrência, tendência ao monopólio, crescimento constante e curto prazo. Sendo a evolução tecnológica a peça fundamental para operar esse caos organizado. Através da evolução tecnológica busca-se aumentar a produtividade, reduzir custos, diminuir os preços e ampliar cada vez mais as vendas para eliminar concorrentes e compensar a queda da taxa de lucro. A organização empresarial tem como princípio de funcionamento a eliminação do outro concorrente, tanto num período virtuoso de crescimento da acumulação como num período de crise. A crise é vista, portanto, como oportunidade para eliminar o concorrente. Outro aspecto importante do caos organizado é que economia capitalista opera sempre no curto prazo. O balanço anual contabiliza aos resultados e respectivas premiações em caso de sucesso naquele ano. Mesmo quando os indicadores são de longo prazo, como as taxas de longo prazo, depreciação de capital, amortização do capital, o acompanhamento contábil é no curto prazo. Tudo que interessa ao capitalista é o resultado no curto prazo, a sobrevivência no imediato. Pouco importa o que acontece ou acontecerá com as pessoas, com a família, com a cidade, com o campo, com as reservas naturais ou com o meio ambiente. Aos mecanismos de trabalho e renda, só interessa que ele permaneça existindo incorporando valor ao produto e comercializando para transferir e acumular renda deixando uma pequena parte para promover a satisfação do trabalhador que passa a raciocinar “ruim com ele, pior sem ele”.
  • 12. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 12 - 3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista? Ocorre quando começa a diminuir a venda da produção das indústrias. O capitalista investe o capital anteriormente acumulado, ou usa o crédito oferecido pelo capital financeiro para adquirir tecnologia, máquinas, matéria prima, insumos e trabalho para fabricar um produto e coloca-lo à venda, mas não consegue vende-lo, não acha comprador. Com isso, o capitalista não tem seu capital de volta com o lucro esperado, não realiza o capital, quebra o ciclo esperado de transferir e acumular renda através da comercialização de um produto. O sistema perde sua razão de ser e existir, a crise se instala. No universo da política, a crise oferece aos socialistas a oportunidade de debater com a sociedade a solução da crise sob a ótica da maioria da sociedade. Mas essa oportunidade é perdida quando os socialistas, ao invés de discutir com a sociedade um projeto de solução da crise, concentra o discurso nas chamadas incompetências dos governos e na ruindade dos capitalistas. E importante lembrar que nem os governos burgueses são incompetentes nem os capitalistas são ruins. Quando se discursa classificando um governo burguês como incompetente, a exemplo do governo Dilma, pressupõe a possibilidade de competência para resolver os problemas sob a ótica dos trabalhadores. O governo burguês nunca se propôs a resolver o problema da crise em favor dos trabalhadores. Da mesma forma, quando se faz o discurso falando da perversidade, da ruindade do capitalista, pressupõe a possibilidade de existir um capitalista bom ou alguma medida boa dentro do sistema capitalista. Os socialistas devem parar de fazer discurso moral e reformista e, aproveitar a crise (econômica, social, ambiental, moral etc.) para discutir com a sociedade um projeto de organização social que possam apresentar solução para os problemas da humanidade. Seguindo com os elementos para analisar a crise, observar que a crise vigente não se caracteriza por uma queda violenta ou extinção do consumo, é apenas uma queda relativa do consumo, portanto, uma redução da curva de transferência e acumulação. Em outras palavras, é a diminuição proporcional dos lucros da economia capitalista. Para cada dólar investido existe um retorno menor que do período anterior.
  • 13. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 13 - Portanto, vai ocorrendo a “queda da taxa de lucro” que pode ser representada numa curva descendente, própria do funcionamento do sistema de produção capitalista. Não tem como não ocorrer a “queda da taxa de lucro” e, portanto, não tem como a crise não ocorrer, não existe remédio para esta “doença”, é fruto da própria contradição do sistema. 3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”? Para compreender a conjuntura é importante compreender como ocorre o elemento central da crise que é a “queda da taxa de lucro”. A acirrada concorrência e a necessidade do crescimento constante (caos organizado do capital) obrigam as empresas a investir cada vez mais em máquinas, equipamentos e automação (crescimento do capital fixo, capital morto) e, como decorrência dessa modernização da indústria, o número de trabalhadores participando da produção vai sendo reduzido (redução trabalho, do capital variável). Como reduz a mão de obra, o trabalho humano, isto leva, necessariamente, à redução da “mais valia” coletiva, origem do lucro do capitalista, pois o capitalista deixa de se apropriar de um novo valor em função de ter menos pessoas trabalhando. A mecanização não produzir esse novo valor que o capitalismo necessita para manter sua trajetória de crescimento constante, ocorre, apenas, a transferência paulatina do valor da máquina (depreciação do bem de produção), para o novo bem produzido, não há, portanto, a geração de um novo valor. Em outras palavras, não havendo um novo valor, não ocorre a produção da “mais-valia”, não ocorre excedente novo para ser apropriado pelo empresário capitalista. Com a mecanização e evolução tecnológica, apenas ocorre a simplificação do processo de produção que leva ao “aumento da produtividade”. Portanto, a dinâmica geradora de novo valor na economia, a exploração da “mais valia” fica, em grande parte, sobre os ombros dos trabalhadores alocados no setor de fabricação de bens de produção (máquinas, equipamentos, robôs, informática) e no setor produtor de bens primários (agricultura e mineração), principalmente neste último que e formado por atividades intensivas em mão de obra de qualificação mais baixa e de menores salários.
  • 14. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 14 - No atual estágio de produção e acumulação de capital, o sistema capitalista, necessariamente, produz uma grande parcela de cidadãos empobrecidos que perde a condição de consumir a produção industrial. Esta parcela são os trabalhadores que não acharam emprego, somados aos que foram demitidos e aos que tiveram seus salários reduzidos e direitos cancelados. Diante deste quadro, parte da capacidade de produção instalada, tanto no “setor primário” (minas e agricultura) como o “setor secundário” (indústria), torna-se inútil devido à falta de mercado suficiente para comercializar a produção num patamar de valor que remunere o capital. Portanto, a capacidade de produção social de bens e serviços é maior que a capacidade social de consumo: a crise está instalada, pois não existem condições de fazer a “circulação da mercadoria” (a comercialização) em função da concentração da riqueza produzida nas mãos dos capitalistas por um lado, e por outro, a precarização do emprego, desemprego e pobreza dos trabalhadores. Como o fenômeno da mecanização e novas tecnologias se difundem por empresas e países, e como o sistema funciona sob a lógica do caos organizativo (liberdade para produzir e comercializar), acaba ocorrendo uma maior oferta de produtos. Mas, paralelo a esse crescimento da produção, ocorre a redução de empregos, portanto de menor quantidade de compradores. Ao tempo em que a oferta vai sendo aumentada a procura diminui, o que leva a uma queda do preço pela lei da oferta e procura. Portanto, a “queda da taxa de lucro” e a consequente “crise cíclica econômica”, é constante no capitalismo. No universo da política isto reflete no desemprego, o que faz aumentar a força de trabalho disponível, o “exército de reserva”, dando oportunidade ao capitalista promover o arrocho salarial e eliminação das conquistas trabalhistas e sociais. Pelo lado das forças de esquerda, a iniquidade intelectual e a incapacidade de análise e elaboração de propostas leva a formulação de propostas superficiais e reformistas sem nenhuma capacidade de apresentar à sociedade um projeto para discutir a solução da crise sob a ótica da maioria da população. Reforma por reforma, o capitalista sabe fazer muito bem, e tem muito interesse nisso, é só ocorrer uma nova faze de excedente que possa melhorar a remuneração
  • 15. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 15 - do trabalho e as condições de vida para controlar os conflitos sociais e assegurar a não ocorrência de revoltas. Para os socialistas é a oportunidade de apresentarem para sociedade a única solução para o problema da crise que é a eliminação do próprio sistema capitalista. Acabar com o sistema de produção que visa à acumulação e implantar outro sistema que tem como objetivo o atendimento das necessidades humanas. Mas pela plataforma de lutas da esquerda, e da APS em particular, esse debate será postergado, pois a APS continua apresentado à burguesia uma lista de reivindicações em nome dos trabalhadores em lugar de organizar uma plataforma que seja capaz de mobilizar a sociedade sobe o comanado dos interesses dos trabalhadores para acuar as burgueses nos seus discursos 3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental. A crise social Como decorrência da crise econômica, surge a crise social que começa com a superexploração do trabalho, passa pelo desemprego, falta de distribuição de terras, a falta de habitação, saneamento, transporte, saúde e educação, fazendo explodir a violência urbana e o consumo de droga que, por sua vez, é um dos mais importantes meios de transferência de renda e acumulação de capital. No universo da política, estes reflexos da crise é o que mais envolve as forças de esquerda ou oposição ao capitalismo, pois é o que atinge a pessoa, o individuo, a família. A dor do outro é a dor do socialista. Os sentimentos de amor e solidariedade de tão fortes nos corações socialistas que impedem a necessária expressão da razão e levam ao desenvolvimento de conceitos humanitários como fundamento da luta contra o capitalista. Mais uma vez, perde-se a oportunidade de discutir com a maioria da população a conexão entre a crise sistêmica do capitalismo com as condições sociais da população. O debate reivindicatório pressupõe a possibilidade de que os capitalistas se sujeitarão às pressões das categorias organizadas nas lutas reivindicatórias e
  • 16. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 16 - abrirão mão dos mecanismos de recuperação da “queda da taxa de lucro”. Ou seja, os capitalistas abrirão mão da mais valia e das leis do capitalismo. A condução das reivindicações sociais e humanitárias feitas dissociadas do combate aos mecanismos naturais de funcionamento do capitalismo, leva à luta reformista em busca de melhorias dentro do capitalismo. Mesmo que a organização se declare e façam o discurso comunista, socialista, acaba assumindo na prática posições reformistas. Quando um setor, uma categoria tem uma conquista, como o sistema funciona em cadeia e a luta combativa atua sobre um elo, com certeza vai melhorar a situação desse setor ou categoria. Mas fica a pergunta para os socialistas: para onde será transferida a extração da mais valia para compensar as conquistas da categoria festejada pela esquerda? No caso da Petrobras e outras empresas de produção, a exploração recai sobre os terceirizados. A crise ambiental A outra consequência da crise da economia capitalista (lembrar que ela é constante e permanente) é o esgotamento dos recursos primários a exemplo das florestas, minas, terra agrícola, espaços e áreas verdes urbanas, água, ou seja, a famosa crise ambiental que está levando à desertificação do solo, falta de água, poluição dos solos, rios e oceanos, destruição dos mangues, poluição urbana, engarrafamentos, generalização e surgimento de novas doenças e a gigantesca emissão de gases de efeito estufa que tem levado ao tão falado aquecimento global com alto risco para a própria existência da humanidade. Todos estes problemas ambientais ou são fontes de transferência de renda e acumulação de capital ou são consequência da produção e uso dos produtos que servem como canais de transferência de renda e acumulação de capital. Todos, absolutamente todos, os problemas ambientais decorrem da ação da empresa capitalista, havendo dúvida, e só fazer uma analise regressiva do problema que vai encontrar na ponta uma empresa capitalista. Mais uma vez, como o sistema capitalista é caótico e concorrencial, para o burguês não pode ter limite para ter acesso às fontes de recursos primários nem cota para produção, pois se ele aceitar algum limite o outro burguês toma o espaço e ganha a concorrência. Em função disso, não há solução para essa crise ambiental. A força de funcionamento do capitalismo é maior que a
  • 17. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 17 - capacidade de lutas e protestos dos defensores do meio ambiente. E, como se fosse uma grande hipocrisia, os capitalistas apresentam aparentes soluções para os problemas ambientais apenas com o intuito de também ganhar dinheiro com os problemas ambientais decorrentes das próprias ações dos capitalistas. O mundo e a humanidade não se sustentam com esses graves problemas na cidade e no campo. É incontestável a necessidade de solução. As condições ambientais que esta geração deixa para gerações futuras não permitirão a produção de alimentos saudáveis nem a existência de água de qualidade para o consumo humano, nem haverá peixe nos mares e nos rios, além da Terra ter sua temperatura aumentada. Existe solução para os problemas de emissões, efluentes, venenos, esgotos, lixos, degradação do solo e fome por que passam a cidade e o campo. A Natureza é sábia e é grande a disponibilidade das energias primárias: irradiação solar, chuva, ar e minerais do solo. No entanto, para que isso ocorra, a sociedade deve adotar outros modelos de consumo fundados na eficiência energética, sustentabilidade e atendimentos às necessidades humanas para estruturar nova organização social e um novo mercado. Atender as necessidades da população é não comercializar produtos desnecessários e prejudicais a vida humana visando apenas a acumulação de riqueza sob o domínio e o controle de poucos empresários. Será que a maioria da sociedade abraçaria um discurso desses? No universo da política, as forças de esquerda ou oposição ao capitalismo não fazem nenhuma conexão entre os problemas sociais com problemas ambientais, muito menos, traduzirem em suas plataformas a conexão entre o capitalismo e a destruição ambiental. A questão ambiental não é pauta das esquerdas que estão profundamente envolvidos na salvação das vitimas diretas e explicitas dos capitalistas. Deixa a luta ambiental para os jovens e ONG que fazem os trabalhos ambientais com recursos dos próprios capitalistas cujo objetivo é construir reserva em local onde não exista nenhum interesse econômico, preservando, portanto, as condições de exploração capitalista do meio ambiente. Enquanto isso os socialistas dormem com suas consciências tranquilas por estarem lutando pelos índios, negros, mulheres, jovens negros, homossexuais, demitidos, desalojados, sem terra, sem teto etc.
  • 18. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 18 - 3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro”? O capitalista atua para apenas mitigar a “queda da taxa de lucro”, pois sabe que não pode parar essa queda, tenta apenas reduzir a velocidade ou compensar com outras operações. O capitalista estudou Marx e deu razão a ele, mas como está no comando e tirando proveito da situação, vai lutar até a morte para manter a “taxa de lucro” por menor que ela seja e continuar reinando sem entregar os pontos. O capitalista toma decisões sábias para a sua manutenção: estabelece o curto prazo e o imediatismo como base de vida e transfere para os outros tudo o que for problema decorrente do atendimento da sua satisfação. Vejamos como o capitalista enfrenta a “queda da taxa de lucro” e todas as demais consequências, cuja expressão central é a “crise cíclica do sistema de produção capitalista”. A sequência de apresentação dos recursos utilizados pelos capitalistas para enfrentar a crise não representa nem importância nem prioridade, a utilização dos recursos ocorre de forma sistêmica e interligada, cada elemento é simultaneamente causa e consequência dentro do processo. Deve-se buscar enxergar e analisar as situações tendo como base conceitual os padrões que a Física Quântica ou a Natureza utilizam para construírem seus gigantescos sistemas, ou seja, a tão famosa Dialética entre os socialistas. 3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho Para tentar diminuir a queda da taxa de lucro, aumenta-se a exploração do trabalhador reduzindo os salários e retirando as suas conquistas trabalhistas e sociais alcançadas no período anterior de evolução da acumulação capitalista quando o índice da exploração recaia sobre os trabalhadores de outros setores a exemplo da produção da matéria prima ou de alguns países. A desoneração da folha (baixo reajuste salarial; precarização do transporte, alimentação assistência médica etc.) são as primeiras ações tomadas pelo capitalista diante da crise, pois são ações diretas, sob o controle e mando do capitalista, cujo impacto alcança diretamente a desorganizada parcela dos trabalhadores regidos pelos gerentes a administrados contratados pelo capitalista.
  • 19. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 19 - Os capitalistas têm a necessidade de avançar nas medidas que aumentam a exploração do trabalho para assegurar seus lucros, ai passa a reduzir os postos de trabalho, transferindo as tarefas para os que continuarem empregados que, por sua vez, ficam satisfeitos por manterem seus empregos. A isto se dá o nome de reorganização produtiva, mas que pode ser chamada de precarização do trabalho. No universo político, os trabalhadores reagem, lutam e busca alterar a situação. Ter conquista ou não, depende das condições de oferta e procura de mão de obra ou do produto ofertado; depende do grau de subordinação do governo local aos interesses da corporação capitalista; assim como depende da ampliação da capacidade de luta que possa envolver a sociedade como um todo. Em outras palavras, mesmo as lutas trabalhistas devem estar associadas a um projeto social e econômico de sociedade conduzido aos interesses dos trabalhadores, se não se torna uma luta apenas por reforma que também satisfazem os capitalistas, pois podem significar uma ampliação do mercado consumidor, que é o sonho de todo capitalista. Lutar por melhoria, estará simultaneamente lutando pelo sonho capitalista e pela reivindicações dos trabalhadores, tudo dependerá da relação com o projeto para a sociedade sair da crise. 3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima Diante da “queda da taxa de lucro” as corporações capitalistas, com poderes instalados na área de produção de matéria prima, impõem políticas e decisões que reduzem o preço da matéria prima diretamente através da precarização do trabalho ou através da aplicação de recursos públicos para aplicar em melhoria das condições de produção para reduzir os custos operacionais. Os setores industriais fornecedores dessa matéria prima sofrem pela redução do preço da matéria prima independente do custo de produção. Por sua vez, para não sair perdendo, o ônus mais uma vez é transferido para os trabalhadores aumentando mais ainda a taxa de exploração, ou seja, aumentando a “mais valia”. Portanto, aumenta a exploração nos países periféricos tanto na produção de matéria prima como no aumento do fluxo de renda de capital.
  • 20. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 20 - No universo político, o capitalista estrangeiro se junta ao capitalista local para influenciar os poderes públicos para estabelecer uma política cambial e fiscal que transfira renda para o setor exportador e com isso melhore a renda da do capitalista local. A decorrência dessa política é que o investimento do estado é focado na melhora da infraestrutura e na área de educação, pesquisa e produção de tecnologia que atenda o setor exportador da matéria prima. Por outro lado, promove o desinvestimento nas áreas que favorecem o desenvolvimento autônomo do país e, mais imediatamente, nas áreas das melhorias das condições sociais dos trabalhadores e preservação ambiental. O negócio da matéria prima não pode ser desprezado pela a esquerda, pelos socialistas. Chama a atenção como àqueles que combatem o capitalismo não conseguem colocar nas suas agendas este tema que, alem de ser a base acumulação, é dos mais importantes fatores promotor da na redução da velocidade da curva da “queda da taxa de lucro”, ou seja, o controle da matéria prima também contribui para alongar a vida da crise e permitir que o capitalista, mesmos recebendo menos pelo dólar investido, continue com sua máquina exploradora azeitada. 3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro O circulo vicioso da produção capitalista (concorrência, desenvolvimento tecnológico, aumento do capital financeiro, redução do capital variável, aumento da produtividade, aumento da oferta, redução do consumo, queda do preço final) que resulta na queda da taxa de lucro, leva a cada vez o capital produtivo se voltar para o mercado financeiro para buscar retorno imediato e seguro para o capital original. Esta situação chegou a um patamar de alto risco para o próprio sistema, pois a imensa vantagem do lucro financeiro está criando uma economia fictícia baseada nesse capital fictício que atua apenas na especulação, não cria nenhum produto, nenhum “valor de uso”, nem agrega a valor a outro valor criado. A equação representativa da produção e acumulação D – M – D’ está dando lugar a uma anomalia econômica D – D ’ quem tem forte poder no universo da política.
  • 21. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 21 - Também aqui, como na área da matéria prima, a esquerda nutre um desprezo especial pelo tema que é o centro do modelo capitalista. As questões de juros, especulação financeira, divida pública etc. o financiamento de projetos contrários aos interesses dos trabalhadores em geral e dos povos nativos e quilombolas em particular é uma constante. A esquerda defende os interesses dos povos nativos e quilombolas, mas não relacionam com os interesses dos bancos. 3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação. Diante da crise instalada, a queda do preço chega a patamar que não remunera o capital investido, busca-se então a venda a crédito onde o ganho deixa de ser sobre a venda da mercadoria e passa a ser sobre o financiamento da venda da mercadoria, ou seja, sobre o crédito. Torna-se mais importante para a remuneração do capital a venda a prazo que a venda a vista. A venda a prazo é uma venda casada: de um lado um produto com baixo retorno financeiro e do outro o crédito com bom retorno financeiro em função dos juros. O crescimento das vendas (circulação) através da oferta de crédito faz com que os juros cobrados pelo crédito oferecido sejam mais significativos na comercialização que o produto em si. Essa condição faz crescer o endividamento da família voltando a impactar na comercialização da produção (circulação). Este endividamento leva à crise crédito, crise de excesso de oferta de crédito. Existe o crédito, mas o endividamento da família não permite o uso do crédito. O que resulta na baixa circulação e faz expandir a crise econômica. Como o endividamento da família tem limite, se reinstala a mesma crise decorrente do excesso de produtos sem possibilidade de comercialização.
  • 22. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 22 - 3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação O capitalista descobriu e usa intensamente três importantes fatores para aumentar a venda da produção, para permitir que maior quantidade de produtos seja comercializada: a obsolescência programada, a moda e a propagada. Esses fatores representam muito bem o maior dos objetivos do sistema capitalista: produzir para acumular e não para atender às necessidades humanas. Esses fatores criam a necessidade ou condições para a aquisição de um novo produto. A obsolescência programada é um recurso tecnológico embutido nos produtos que faz com o produto tenha baixa durabilidade e fique danificado ou superado tecnologicamente levando à necessidade do usuário adquirir um novo produto. Em especial, isto acontece com as lâmpadas, eletrônicos, linha branca, automóveis etc. Este recurso é menos perigoso, apesar de eficiente, por se caracterizar como de imposição ao consumidor, a sua aplicação encontra resistência e promove a insatisfação. Já a moda é altamente perigosa por ser uma imposição por convencimento psicológico e de aculturação, apesar de ser subordinante, e até por isso, tanto é desejado pelo consumidor como causa satisfação e prazer. O recurso da moda é tão danoso como os outros recursos de imposição ao consumo, pois contribui com o esgotamento dos recursos naturais, a poluição e com a produção de lixo. A propagada é o recurso de estimulo ao consumo mais danoso por que dá sustentação ao domínio psicológico e cultural, leva a renúncia de valores nativos e locais, cria um mundo falso e desorganiza a sociedade, ou melhor organiza a sociedade como canal de consumo dos produtos divulgados pelas propagandas que não passa de instrumento de transferência de rendas para o capitalismo central. 3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e os desvios dos recursos públicos. Em todo o processo de implantação e desenvolvimento capitalista, nunca existiu autonomia do estado em relação às corporações capitalistas, tanto na proteção
  • 23. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 23 - jurídica policial, como na produção de leis e políticas fiscais e alfandegária e, principalmente, no direcionamento dos recursos arrecadados pelo estado para atender aos interesses da empesa capitalista na construção de infraestrutura para baratear os custos operacionais, na definição de conforme o interesse das corporações capitalistas, investimentos em empreendimentos intensos em capital e longa maturação e, em especial, na transferência direta de renda através de empréstimos do capital financeiro onde hoje é a grande sangria dos recursos dos países pobres, e o do Brasil em particular. Síntese da relação das empresas com o estado: desviar os recursos públicos que deveriam ser destinados para fins sociais para auxiliar os investimentos produtivos ou para auxiliar os investimentos privados produtivos ou especulativos. O discurso para a justificativa pública da operação é falar em geração de trabalho, inclusive com muita propaganda de governo. 3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual Na conjuntura de crise do capitalismo e grandes disputas internacionais envolvendo grandes corporações empresariais e governos, alguns pontos de destacam e merecem estudos para que sejam reveladas as movimentações das forças comandantes do capitalismo. O fundamento da análise de quem quer alterar os rumos das forças sociais e econômicas deve sair da contemplação da foto e procurar enxergar a tendência do fato, ou seja, para onde aquele fato está sendo empurrado e quem tirará proveito dessa tendência. Deve-se, então, buscar ver o comportamento do gráfico representativo da movimentação do fato. O grupo ou pessoas cujo objetivo não seja o de tirar proveito pessoal da política, fazer política de esquerda revolucionária sem conseguir ler a tendência da conjuntura, passa a ser apenas uma ocupação bem intencionada, porém passageira. Inclusive, esse é dos motivos da intensa rotatividade na esquerda: muita gente adere às lutas enquanto são jovens, mas depois são arrastados pelas obrigações do trabalho, estudo, família, enfim, de volta à vida...
  • 24. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 24 - Dos tantos eventos que dinamizam a economia capitalista atualmente, seis são importantes para serem analisados pelo peso que tem no jogo de poder, ou seja, no universo político, mesmo não se constituindo nenhuma novidade na história, pois sempre foram recursos fundamentais para a acumulação capitalista: a) a passagem de poder de um país para outro; b) a evolução do processo de fluxo e acumulação da renda; c) a disputa por energia (no presente, o petróleo); d) o comércio de armas por razões óbvias; e) o comércio de drogas ilícitas pelo volume e não controle dos recursos gerados; f) e a agiotagem (juros). 3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países Os impérios para serem impérios precisam construir a expansão territorial e dominar grande população. Pouco antes do início da implantação do sistema capitalista, Portugal, Espanha eram o centro mais desenvolvidos realizaram as grandes navegações que levaram a dominar e saquear grandes territórios bastante habitados. Mas encontraram os limites de desenvolvimento em função dos seus próprios territórios e suas populações serem pequenas a acabaram perdendo a hegemonia os saques foram transferidos para a Inglaterra que iniciava a revolução industrial. Inglaterra, França e Holanda, passam a ser os grandes centros econômicos, tinham população, território, organização empresarial e governo que sustentavam a expansão interna. O processo de desenvolvimento é endógeno com busca de recursos e insumos externo. Dessa forma sustentaram a expansão colonizadora para o resto do mundo quando tinham esgotadas as condições de crescimento interno. O processo de hegemonização começa a cair quando começa a perder bases colonizadas reduzindo seus territórios e populações de domínios. A Alemanha, Itália e Japão, mesmo sendo grandes economias, nunca assumiram condições de serem centros da economia mundial, pois esses países não têm territórios nem populações grandes capazes de dinamizar suas economias ao ponto de hegemonizarem o mundo e chegaram tarde na partilha das colônias no mundo. Não por outro motivo, estiveram juntos nas duas guerras mundiais.
  • 25. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 25 - Os EUA tornou-se a maior economia do mundo em função da grande população com objetivos assemelhados e hegemônicos e um grande território resultante da ocupação de grandes extensões territoriais tomadas dos povos nativos, e depois da França, do México e da Rússia. E sempre tiveram uma política de estado e governo voltada para o interesse da população original e para a empresa produtora hegemonizando a população em torno do projeto e nação que foi estabelecido. Por nova forma de colonização, passou a dominar completamente o mundo. É o mesmo que está acontecendo com a China que tem efetivas condições de crescer e tornar-se um grande império em função da sua grande extensão territorial e grande população que vem sendo coesionada pelo seu forte governo e empresas altamente competitivas. Interessante notar mesmo com a crise, só a China mantém o crescimento do PIB, mesmo tendo caído de 14% para 7%. Isto é fruto da decisão governamental de incluir a imensa população no mercado, tornado uma imensa frente de expansão do capital, ou seja, promove a integração combinada dos fatores população e território através do trabalho e consumo. O observar que a Rússia só tem condições de ser país muito respeitado nas relações internacionais, mas nunca será um pais imperialistas, pois o território é grande mas a densidade demográfica é muito baixa. Já o Brasil e a Índia não ocupará posição de destaque, apesar das grandes populações e territórios ricos, pois a desagregação das suas população é grande e os governos e empresas trabalham para desorganizar essa população. Observar que a Suíça, Dinamarca, Noruega, Japão etc. não têm condições de expandir suas economias a não ser pela acumulação financeira em função de suas empresas que atuam no mundo. Esses países têm pequenos territórios e suas populações estão com alto nível de vida, consumo e ocupação, não havendo mais espaço para a expansão do capital internamente. 3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda
  • 26. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 26 - Aos poucos foram sendo montados em todo o mundo os mecanismos do fluxo e concentração da riqueza que resultou tanto no poder dos EUA com na grande expansão do mercado financeiro. Primeiro, ocorreu a acumulação primitiva de capital com os saques, roubos e assaltos aos povos nativos ou através da comercialização de especiarias e madeiras. Isto ocorreu na fase das grandes navegações estando à frente as empresas portuguesas, espanholas, inglesas, francesas e holandesas. Depois a acumulação passou pela montagem da indústria que conquistou com guerras, opressões e ditadura, mercados fornecedores de matéria prima e consumidores de industrializados. Esta é a fase da revolução industrial estando à frente, principalmente, as empresas inglesas, mas também as francesas, holandesas, as alemãs e japonesas. Desse rol já não participou as portuguesas, espanholas. Vivemos agora a terceira fase da acumulação caracterizada pela expansão do capital. Melhor, mais fácil e menos dispendioso circular capital do que circular mercadoria. Esta terceira fase se dá em função de diversos fatores como o montante de capital acumulado, evolução da tecnologia e, em particular, pelo o esgotamento da possibilidade de expansão no próprio território, onde as necessidades materiais, culturais e de lazer da população local estão atendidas e o nível do preço da economia local é bastante elevado em função da alta acumulação local de capital. Portanto, a alternativa para o crescimento econômico foi sair da circulação de mercadoria para a circulação de capital financeiro, assim o capital se expande para áreas e países produtores de matéria prima e consumidores de industrializados, tornando mais fácil, seguro, e rentável o fluxo e acumulação de capital. Acompanhado a evolução dos modelos de acumulação, vê-se que a duração de cada modelo vai sendo mais breve é a faixa de transição entre um e outro modelo vai ficando mais larga e com presença de elementos do modelo anterior e do modelo subsequente fazendo com que as características passam a conviver dentro da mesma faixa de transição, tornando-as menos nítidas e mais difíceis de identificar.
  • 27. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 27 - Os EUA dão o grande golpe nos concorrentes ao dominar completamente todos os negócios da 2ª Guerra. Depois, ainda no auge da acumulação por circulação de mercadoria, respirando os gases da 2ª Guerra, no início dos anos 60, os EUA dão o segundo grande golpe no mundo ao romper unilateralmente com o tratado Bretton Wood. Dão golpe de mestre e surrupia o ouro dos tolos, obrigando a todos a utilizar o dólar como divisa internacional, passa a reinar subordinando todos os demais países de amigos a inimigos. Fica instalada de vez a fase da acumulação por circulação de capital, sai do modelo D – M – D’ dá lugar para a anomalia D – D’. Ficou fácil para os EUA pagarem suas contas, basta imprimir papel. Hoje o mundo está abarrotado de papel pintado com esfinge de ditador mundial, cujo valor não é mais estabelecido pela produção econômica do país, mas sim pela força da máquina de guerra. Circula na economia mundial sete vezes mais dólares do que suporta o lastro econômico dos EUA. O pior ataque que os EUA poderiam sofrer seria se os possuidores de dólares no mundo resolvessem fazer uma breve e inocente viagem de turismo aos EUA e lá consumisse normalmente alimentos, bebidas, roupas, eletrônicos fosse ao teatro, cinema, museus etc. Isso quebraria o EUA, pois sua economia não teria condições de fornecer esses produtos para todos os turistas mais a população local. Alem do profundo descrédito que a moeda passaria a ter, Para controlar a saúde do dólar, os EUA dificultam o visto de passaporte e monta um esquema mundial para abarrotar os bancos centrais dos países periféricos com os dólares que recebem e colocam o pomposo apelido de reserva, transformando esses países nos principais defensores do valor desses estoques. Inteligentemente, como que joga xadrez e contra com a imbecilidade do parceiro do jogo, os EUA amarraram a bomba no corpo do outro: se explodir, o pais perde o dinheiro e os EUA ganham pelo enxugamento e valorização da moeda. Enquanto a bomba não explode, o país que detém reservas paga aos EUA para guardar dólares. Para entender isso basta fazer as contas entre os juros pagos pelos dólares guardados e a inflação do período, a inflação é sempre maior. Como isso, os países guardadores financiam os EUA. Mais um dado para reflexão: nenhum país do centro do capitalismo tem reserva substancial em dólar, a única exceção é o Japão. Todos negociam ou com sua moeda ou com euro.
  • 28. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 28 - Principais PIB da economia mundial Em trilhões de US$ Pais PIB EUA 14,0 China 5,7 Japão 5,3 Alemanha 3,3 França 2,5 Brasil 2,3 Inglaterra 2,2 Itália 2,0 Principais reserva de divisas da economia mundial Em bilhões de US$ Pais PIB China 3.040 Japão 1.140 Rússia 526 Arábia Saudita 456 Taiwan 398 Brasil 353 Índia 312 Coréia Sul 305
  • 29. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 29 - 3.5.3 Mercado de Petróleo Outro destaque na conjuntura é o mercado do petróleo. O gráfico do preço do petróleo tem trazidos boas interrogações para quem quer compreender a dinâmica econômica do mundo e a identificação dos principais agentes envolvidos. Na década 70 a Venezuela e países árabes produtores impuseram preços elevados para a época, produziu uma profunda crise que logo se recuperou quando foram repatriados os petrodólares através de grandes investimentos no centro econômico, pois nos países produtores não tem dinâmica econômica para incorporar o volume de dólares decorrentes da exportação de petróleo. Em seguida, o preço do petróleo desaba. É dada como explicação a entrada em produção de novas descobertas a exemplo do Mar do Norte. No entanto, percebe-se que essa queda foi articulada pelo próprio EUA para quebrar a União Soviética, que desde o século XIX sempre foi um dos maiores exportador de petróleo do mundo. Após a quebra da URSS e com os preços do petróleo baixo, por mais paradoxal que parece, foi os EUA, maior importador e consumidor de petróleo do mundo, que interviu junto aos principais exportadores (OPPEP) para elevar o preço o petróleo. E que o preço baixo inviabiliza a indústria de petróleo dos EUA e deixa esse país ainda mais nas mãos da OPPEP. Depois o preço do petróleo começa a subir de forma que vai sendo absorvido pelo nível de preço da economia. Sem causar maiores danos no imediato. Até que chega ao extremo de 140 dólares na pré-crise de 2008. Com a crise, cai para 38 dólares, depois se recupera e volta à casa dos 100, para em seguida cair para faixa de 60 e perdura num zig-zag em torno disso. O que motiva a queda do preço do petróleo para o atual patamar? Esse preço inviabiliza a indústria do shale gás nos EUA. Como inviabiliza a própria Rússia e o a exploração do pré-sal no Brasil. A explicação dada é que a Arábia Saudita mantém sua produção elevada, impactando negativamente os preços. Comenta-se que esta atitude é justamente para inviabilizar a indústria do shale gás. Será que é esse aumento unilateral da oferta que está mantendo os preços baixos? Como um pequeno país criado e dominado como propriedade de uma família e exportador de um único produto tem poder para mexer em toda a economia global? Mesmo sendo este país, desde a sua
  • 30. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 30 - origem, um grande aliado dos EUA e sendo o maior exportador de petróleo do mundo. Na discussão do preço do petróleo, tomam-se como base mercado dos combustíveis para fundamentar as argumentações e pouco se fala da petroquímica. Em razão do amplo espectro de utilização dos derivados petroquímicos, a crise de produção do sistema capitalista (queda da taxa de lucro e queda da circulação) não seria uma explicação melhor? A crise de produção por que passa o sistema capitalista não estaria levando a queda de consumos dos derivados petroquímicos e, com isso, refletindo na permanência do baixo preço petróleo? Pontos de conflitos no mundo Um primeiro destaque importante na conjuntura é a localização das áreas de conflitos armados. A América Latina está em paz, tudo sob controle! Uma pequena reação na Bolívia sob o Evo Morales, país de economia e relações políticas secundarias, e na Venezuela, segunda maior reserva de petróleo do mundo, porém dominado pelas petroleiras estrangeiras e sofre agudamente de “doença holandesa”. Os países africanos completamente controlados, ainda pagando caro pelo sequestro escravagista e pelo imenso saque colonialista que perdura até hoje. As guerras, genocídios e destruições, são problemas lá de cada povo, basta se preocupar com o problema da imigração clandestina para a Europa. Na Ásia, também, tudo em paz. Os países ou se industrializam integrado à economia capitalista a exemplo do Japão, Korea, Taiwan, Singapura ou sofre ainda as consequências das guerras de ocupação colonial a exemplo do Vietnam, Camboja, Laos, Maynmar. Tudo sobe controle na maior parte do globo. Problema mesmo só no Oriente Médio, maior concentração de petróleo no mundo. E também nos Bálcãs, secular caminho de escoamento do petróleo russo. Por que a guerra e disputas tão acirradas nos Bálcãs? Por que a bola da vez na região é a Ucrânia? Quais os interesses dos EUA na região? Porque a Rússia defende tanto suas posições naquele país/região? Outro ponto de conflito é o Afeganistão que, como os Bálcãs, é vizinho da bacia petrolífera da Rússia. Quais os interesses dos EUA com a Primavera Árabe? Continuam existindo mobilizações locais para enfrentar os ditadores locais? A Primavera Árabe continua?
  • 31. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 31 - Porque após a chacina da Líbia não ocorreu mais nenhuma manifestação da Primavera Árabe? Qual a função da Síria na região? Porque os EUA investem tanto na derrubada do governo de Bashar al-Assad? Já o resto do mundo está em paz, alguma manifestação local em decorrência dos ajustes da crise, a exemplo do que acontece na Europa, EUA, mas tudo sob controle, faz parte do jogo. 3.5.4 Mercado de armas Os folhetins econômicos da imprensa falam muito em mercados de insumos, matéria prima e consumo. Parece que a economia é feita somente desses produtos. Nunca se fala do mercado de armas, de quem está fabricando, das ações das empresas dessa indústria, apenas saiu a notícia que o Vaticano tem ações em fábrica de aviões de guerra. Deve ser somente o Vaticano que comente esse mal, mais ninguém! Muito menos se fala de quem está comprando. É falado que o principal desse mercado é para atender as necessidades de Estado dos países, ou seja, um mercado direto da relação das empresas produtores para o Estado. Pouco sabemos desse universo, mas é dito ser este o principal mercado econômico da atualidade, o de maior valor de circulação financeira. 3.5.5 Marcado de drogas Outro mercado mais secreto ainda, ou melhor, totalmente secreto, que nada aparece nos folhetins econômicos é o mercado das drogas. Aparece apenas um forte e consistente marketing patrocinado pela indústria da droga tanto para deixar livre e desimpedido os caminhos para a instalação dos fluxos e acumulação decorrente, como para subordinar mais ainda as forças policiais aos interesses das elites e, ainda, execrar a população negra, pobre e moradores das áreas abandonadas pela indústria mobiliarias do período de ocupação dessas áreas. O marketing consiste em divulgar para a população em geral que o negócio de droga é coisa de pobre, preto e favelado. Nas áreas ricas, brancas e nobres da
  • 32. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 32 - cidade não ocorre o comércio da droga, no máximo, os pobres consumidores vítimas das ações de criminosos negros, pobre e favelados. Sendo um dos produtos mais caros do mercando de consumo, como os pobres podem alimentar esse mercado se precisam de muito dinheiro para a aquisição do produto? Então, se o mercado é bilionário, paro onde estão indo os resultados financeiros deste mercado? Será que a poupança desse mercado está debaixo dos colchões dos favelados? Os recursos não estão indo para os grandes esquemas de lavagens gerenciados pelos grandes s bancos? Como por exemplo, do mercado do futebol? O mercado imobiliário? As privatizações dos países periféricos? Fala-se, também, que este mercado é o segundo do mundo em movimentação financeira, só perde para o de armas. 3.5.6 Marcado financeiro Para enfrentar a saga destruidora da burguesia é fundamental conhecer, ver de perto e dominar o funcionamento e a representação do mercado financeiro. O mercado financeiro é o principal desaguadouro de toda a produção econômica, passou da romântica tarefa de agente facilitador da circulação financeira para o controle direto ou indireto da produção. É o centro da economia capitalista. A esquerda ainda vive a imagem das pinturas realistas da União Soviética e não se debruça ao estudo desse setor econômico. Para ilustrar as atuais dificuldades do jogo dos capitalistas, basta ver a velocidade da evolução da razão entre o capital financeiro (fictício) e o capital produtivo (real). Os dados estão disponíveis para a esquerda instrumentalizar seu discurso, basta querer.
  • 33. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 33 - Nas figuras a seguir pode ser visto a evolução da razão entre o capital financeiro (fictício) e o capital produtivo (real) entre os anos de 1980 a 2006.
  • 34. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 34 - Que setor ou parcela dos capitalistas está disposto a abrir mão desse capital fictício para o sistema recuperar sua saúde e sua dinâmica de crescimento? Se eles discutirem isto nos seus banquetes a festa vai terminar em sangue, pois jamais chegarão a qualquer acordo. De tão violento será este debate que a casa vai ficar destruída com todos os empregados e serviçais dentro. No fim da briga, os capitalistas que ficarem vivos contratarão outros empregados para restaurar a casa. A vida segue ....... 3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra. Por fim, com o esgotamento das possibilidades de soluções no universo da economia formal e no universo da política, tendo também falhado os recursos do golpes e contragolpes, a burguesia leva ao extremo a imposição de seus interesse e promovem a guerra que, necessariamente, destrói o capital, e leva junto nessa destruição vidas e o meio ambiente. Mas o burguês arranja um desculpa social tipo derrubar uma ditadura, implantar uma democracia, libertar um povo, livrar os povos do sanguinário Hitler etc. a e faz dessa desculpa uma razão histórica e toda a sociedade acredita. Com o agravamento da “queda da taxa de lucro”, aumento da razão entre capital produtivo e capital fictício e restrição do mercado consumidor ao ponto de inviabilizar grande número de empresas capitalistas e quando as tentativas de compensação (remédios) não tiverem fazendo mais efeito, ou melhor, quando as medidas não solucionam a crise, mas estivem elas próprias aprofundando a crise em função de intensificar promovem a concentração da riqueza de um lado e a pobreza do outro, a burguesia usará do seu último e desesperado recurso: a “destruição do capital” via uma intensa e radical disputa entre si, a exemplo da 1ª e 2ª Guerra Mundial, quando o capital foi destruído e o ciclo de progressão e crescimento foi retomado. Não existe como interromper este processo de construção da crise do sistema capitalista, não ser na condição conflito profundo inter classes burguesas, ou seja, na condição de destruição do capital para recomeçar o ciclo de acumulação. Esta 3ª guerra será adiada ao máximo em função dos EUA não ter a segurança de que poderá permanecer no comando do mundo diante da condição de agravamento
  • 35. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 35 - profundo da crise, gerando o total descontrole da situação. Um novo conflito em proporções mundiais poderá levar a China como novo centro da imperialista da economia mundial. O nível de inimigos que tem os EUA e as fragilidades das relações hoje fundada no peso das armas e imposição do desvalorizado dólar pode deixar em risco essa hegemonia. A China também não tem pressa de resolver esse problema, a paciência oriental prepara o kung-fu para o golpe final.
  • 36. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 36 - Comportamento e relações de eventos no sistema capitalista de produção Observações para a leitura: Quadro 1 a) Cada quadro é diferente, mas tem elementos comuns e total conexão com os outros; b) As linhas em negritos são a base de toda a crise e conflito de classe c) Ler os quadros na sequência dos números observando que o seguinte e sempre consequência do anterior; d) A linha 2 é um fator totalmente aceito e desejado pela sociedade, inclusive a esquerda, sob a lógica da modernização, da evolução da sociedade humana. Pode-se concluir, então, que o capitalismo é benéfico para a humanidade. e) A última linha é a manifestação aparente do problema. 1 Aumenta a concorrência 2 Aumenta a tecnologia 3 Aumenta o capital fixo 4 Diminui capital variável 5 Aumenta o desemprego 6 Aumenta a mais valia individual 7 Diminui mais valia coletiva 8 Queda da taxa de lucro do sistema 9 Redução do lucro 10 Crise econômica Quadro 2 Quadro 3 1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia 3. Aumenta o capital fixo 4. Diminui capital variável 5. Aumenta a exploração do trabalho 6. Diminui os salários 7. Diminui as conquistas trabalhistas 8. Crise social 1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia 3. Aumenta o capital fixo 4. Diminui capital variável 5. Diminui o capital industrial, produtivo. 6. Aumenta o capital financeiro 7. Diminui o recurso público para o social 8. Aumenta o recurso público para a produção 9. Crise social Quadro 4 Quadro 5 1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia 3. Aumenta o capital fixo 4. Diminui capital variável 5. Aumenta a produção 6. Aumenta a produtividade 7. Aumenta a oferta de produto 8. Diminui o consumo 9. Aumenta o excedente de produção 10. Diminui o preço 11. Diminui o lucro 12. Aumenta o crédito 13. Aumenta a venda à crédito 14. Aumenta a dívida do indivíduo 15. Crise social 1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia 3. Aumenta o capital fixo 4. Diminui capital variável 5. Aumenta a produção 6. Aumenta a produtividade 7. Aumenta a oferta de produto 8. Aumenta a procura por matéria prima 9. Diminui os recursos naturais 10. Aumenta a poluição 11. Aumenta a produção de lixo 12. Aumenta a destruição ambiental 13. Crise ambiental
  • 37. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 37 - Síntese da análise e consequências da crise da economia capitalista A capacidade de produção instalada é maior que a possibilidade de consumo. Produção sem circulação Desemprego e pobreza em crescimento. Baixo consumo Concentração de riqueza . Desenvolvimento do capital fictício. Reestruturação produtiva. Reformas no mercado de trabalho. Transferência de recursos dos países periféricos (dívida, lucros, royalties, bens primários, expansão de mercado) Maior produtividade Mais produção (mais fábricas) Mais oferta (concorrência) Preço mais baixo Queda da Mais-valia Funcionamento e crise do modelo capitalista D - M - D’ (Acumulação) Elevação constante da produção. Redução da circulação e consumo. Ações de curto prazo e concorrência que tende ao monopólio Sociedade de consumo Crise econômica Aumento da demanda por matéria prima, insumos. Esgotamento e extinção de recursos e da biodiversidade Queda da taxa de lucro (CV / CF) Cresce o capital fixo (CF) (Máquinas e novas tecnologias) Decresce o capital variável (CV) (Desemprego) Sociedade de ciclo aberto Crise ambiental Sociedade Assimétrica Crise social
  • 38. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 38 - 4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho Desde o inicio, as subordinadas elites brasileiras impõe aos povos do Brasil a função de fornecer matéria prima ao mundo Desde a era das grandes navegações, quando começou a globalização da economia, os países centrais, onde o capitalismo se desenvolvia, transformaram as outras regiões e países em fornecedores de matéria prima e importadores de produtos industrializados e, depois, em importadores de capital, instalado assim a divisão internacional do trabalho que até hoje perdura sem indicação de alteração enquanto durar o sistema capitalista. A entrada do Brasil na economia mundial se deu pela porta dos fundos como mero fornecedor de pau-brasil saqueado pelos invasores de então. Dessa forma o Brasil inaugura sua participação na divisão internacional do trabalho como fornecedores de matéria prima e assim consolida essa posição que permanece nos seus 515 anos de existência. Depois, foi o ouro e diamante, cana de açúcar, que fez do Brasil o principal produtor mundial com mão de obra escrava, cuja realização da mais valia ocorria fora do país. Assim aconteceu com diversos outros produtos que foram determinantes para os rumos econômicos e políticos do Brasil a exemplo do café, cacau, borracha, carnaúba que formaram os grandes coronéis regionais a serviço das cadeias produtivas dos respectivos produtos cujas indústrias estavam instaladas nos países centro do capitalismo. Hoje, este mesmo mecanismo continua em operação chamando o processo de moderna e avançada agricultura. Mas a modernidade não trouxe para dentro do país uma fatia maior da participação na cadeia produtiva, não internalizou capital para as regiões produtoras, a mais valia não se realiza dentro do país, não modificou o caráter das tecnologias desenvolvidas e estruturas implantadas que são de restrita aplicação na produção especifica. Quanto a fonte se esgota a quebradeira é geral, ficam só os passivos ambientais e sociais, os pobre ficam e os ricos saem para armarem seus circos em outras praças. Fica com os pobres a tristeza e a solidão, até os capitalistas encontrarem diferente forma de acumular: Chapada Diamantina na Bahia, Recôncavo na Bahia, Ilhéus e Itabuna na Bahia, Pelourinho em Salvador, cidades e portos da carnaúba no Ceara e Rio Grande do Norte, cidades e portos da borracha na Amazônia e tantos outros locais no Brasil fornecedor de matéria prima. Agora, a vez do sucesso, produção de
  • 39. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 39 - “tecnologia avançada” e base de poder na política brasileira é a produção de soja, algodão, milho, celulose, madeira, laranja, carnes e minerais diversos. O governo comemora cada tonelada de produto primário exportado, pois significa dizer que a moderna engrenagem montada em 1500 está funcionamento muito bem sem nenhum problema, valendo a pena, então, a mais recente decisão de aumentar as verbas para modernizar a infraestrutura e financiar e subsidiar a produção e exportação desses produtos que são o orgulho do Brasil e geradores de mais vagas de trabalho com carteira assinada. A academia também se subordina e auxilia a exploração dos povos brasileiros A economia brasileira existe para exportar de matéria prima e renda de capital. A gestão e planejamento públicos e a gestão empresarial têm como objetivo direcionar as forças e recursos para o desenvolvimento dos setores exportadores de bens primários. A educação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que contam com a subordinação da universidade e empobrecimento intelectual da juventude, asseguram o fornecimento de tecnologia e mão de obra. Mesmo as ações ou trabalhos que estiverem fora dessa lógica, acabam fazendo parte em função da hegemonização da sociedade, pois cumpre o papel de contenção política e social para que fique assegurado a continuidade do papel do Brasil na divisão internacional do trabalho do mundo capitalista. O sistema educacional não forma nem cientista nem pensadores que estude os problemas brasileiros e apresentem soluções. As grades curriculares em todos os níveis não permitem a discussão dos problemas dos povos brasileiros, muito menos a discussão de um projeto de Brasil fora do atual esquema da divisão internacional do trabalho. As profissões estão sob o controle dos interesses da empresa capitalista. Todos estão focados em tornar-se mão de obra especializada para as empresas ou laboratórios, são preparados para trabalhar na cadeia de produção de algum ramo da economia na função correspondente ao nível educacional alcançado.
  • 40. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 40 - A indústria como fator de empobrecimento da nação e elo frágil da luta revolucionaria O conflito central entre o capital e o trabalho no Brasil se manifesta na superexploração do trabalho, particularmente, nos setores de produção de matéria prima agrícola e mineral. Os próprios operários do setor industrial mais intenso em tecnologia, a exemplo da cadeia do petróleo, da metalúrgica e outros, se consideram superiores aos demais trabalhadores. E a esquerda contribui para construir a ideia da superioridade da dessa parcela dos trabalhadores em relação aos demais, inclusive com definição de prioridade de construção pelo significado na construção da revolução socialista. Se este é o caminho para a estratégia, para a tática se faz necessário uma adequação à realidade brasileira. Vejamos numa hipotética situação de greve numa indústria comum. Uma greve de uma determinada indústria brasileira é uma coisa de efeito local, no máximo na região, não tem efeito sistêmico, não repercute negativamente além da indústria que estiver sofrendo a greve, e mesmo que seja uma longa greve que possa até fechar a fábrica, a economia brasileira não se resentirá da greve, a não ser o efeito político, pois os substitutos econômicos estarão batendo à porta até para esvaziar a própria greve. Já uma greve na produção de bens primários agrícolas e minerais o efeito é completamente diferente, o efeito é sistêmico. O mundo capitalista necessita da matéria prima produzida no Brasil e para interromper esse fluxo de exportação de matéria prima será necessária muita energia, muito trabalho e união e muita força na decisão política por querer fazer. Por este motivo pode surgir um novo golpe militar com já aconteceu em momentos da historia do Brasil e dos países da América Latina e África. No caso da revolução socialista no Brasil, a esquerda não pode centrar o foco na classe operária e secundar o papel dos outros segmentos de trabalhadores, pois o setor industrial além de ser secundário em comparação com o setor primário da economia ainda se caracteriza pela precariedade de uma parte ser de baixa tecnologia e outra parte ser mera expansão do capital central.
  • 41. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 41 - Os conceitos clássicos do papel da classe operária na construção das lutas dos trabalhadores e da revolução socialista no Brasil não podem ser aplicados acriticamente para elaborar as teorias revolucionárias no Brasil. Isto não quer dizer que o Brasil não seja capitalista ou que tem um capitalismo atrasado que necessita passa primeiro pela revolução burguesa para permitir o desenvolvimento da classe operária para posterior organização da luta pelo socialismo, nada dessas formulações. O capitalismo no Brasil é e bastante avançado no seu modelo e relação com o capitalismo central. Necessitamos entender que modelo capitalista é esse, para permitir a elaboração da plataforma de luta para os trabalhadores te assumirem o poder no Brasil. Os estudos e as teorias desenvolvidas pelos clássicos para compreender o funcionamento do sistema capitalista ou para discutir a experiência da revolução na Rússia, por exemplo, não deve prejudicar o processo de desenvolvimento da teoria revolucionária e da acumulação de forças e formação do bloco de aliança para enfrentar e quebrar os interesses capitalistas no Brasil. A melhor forma dos trabalhadores brasileiros contribuírem para aprofundar a crise do capitalismo e encontrar uma saída para a crise atendendo aos interesses dos povos brasileiros é se organizando politicamente para implantar um projeto que acabe com a exportação a preço vil de matéria prima e a consumi-la internamente para atender às necessidades da população e só exportar bens com valor agregado, ou seja, para o consumo direto. Se isto acontecer, quebra muitas empresas do capitalismo central. Para elaborar a teoria revolucionária brasileira deve-se conhecer o sistema de produção capitalista brasileiro e as razões pelas quais ele existe. Para isso, é de fundamental importância conhecer a geografia brasileira, conhecer os biomas, saber como funcionam e compreender por que estão sendo destruídos, quem se apropria dos produtos da destruição e quais as consequências dessa destruição. Como fazer uma plataforma de lutas para o Brasil a partir da realidade industrial de São Paulo? Como não conhecer a realidade brasileira chamada pelo paulistismo de Brasil profundo, rincões, sertões, sempre despersonalizando, retirando a feição do individuo e elevando o folclore ou como queiram, a cultura. Não dá para deixar a
  • 42. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 42 - indústria de São Paulo comandar os passos da esquerda no Brasil. O Brasil não é São Paulo. Quando a esquerda foca na classe operária da indústria de São Paulo para elaborar as teorias políticas é mesmo que tratar exclusivamente de São Paulo desprezando o resto do Brasil e ainda desconsidera o peso do setor primário na formação do PIB paulista. Fora de São Paulo, Minas e Rio, a participação da indústria de consumo e de bens de produção no PIB é bastante pequena. Escrever a teoria revolucionaria com dados da realidade brasileira Sem sentir como é o tamanho e a diversidade é impossível elaborar uma teoria revolucionária que dê certo no Brasil. A melhor forma de pensar o Brasil é conhecer seus biomas e entender a lógica de substituição das florestas em commodities destruindo o sistema hidrológico e solos agrícolas de sustentação das relações sociais e econômicas no Brasil. O sistema hidrológico brasileiro que permite a existência de grandes rios, em particular, os da Caatinga, está sendo trocado principalmente por soja, milho, gado e carvão. A Floresta Amazônica que garante a vazão de 17 trilhões de litros de água por dia na foz do Rio Amazonas, transfere simultaneamente 20 trilhões de litros para o resto da America do Sul em forma de vapor que se transforma em gelo nos Andes e em chuvas no Cerrado, Caatinga e Sudeste. O potencial produtivo de todos os biomas brasileiros para a sustentação de uma indústria endógena de interesse dos trabalhadores voltada para o atendimento das necessidades humanas vem sendo trocado, até a exaustão, por uns poucos produtos de interesse dos capitalistas. Conhecer os biomas não deve ser só dominar os dados das suas fisiologias ou registrar as belezas das faunas e floras, é deixar os biomas influenciar na elaboração das teorias revolucionárias sob pena de não ocorrer a revolução no Brasil.
  • 43. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 43 - Conhecer os biomas é ir a fundo, é mergulhar no solo para entender fenômenos históricos importante. Par isso a esquerda vai ter que conhecer áreas estratégicas para a estruturação e sustentação da sociedade socialista a ser construída no Brasil. O que tem a ver a ocupação do Recôncavo Baiano com o massapé da região que vem sendo destruído pela ocupação urbana e industrial? E o processo de ocupação de Irecê na Caatinga da Bahia e do Vale do Açu na Caatinga do Rio Grande do Norte cujos solos estão sendo destruído por venenos, tratores e irrigação. Para se libertar de São Paulo, a esquerda dever compreender o comportamento das forças empresariais brasileiras e identificar as fragilidades dela e os caminhos para alimentar o debate na sociedade contra a atuação desses empresários. Esse estudo das forças empresariais vai nos revelar a linha da histórica de como a elite brasileira se consolida e revelar suas fragilidades. Estudos comparativos entre fatos históricos do Brasil com Paraguai e EUA Podemos utilizar um estudo comparativo de fatos da historia do Brasil com três fatos históricos determinantes nos rumos da economia mundial: Colonização dos EUA; Guerra de Secessão dos EUA e a Guerra ao Paraguai. Colonização ocupação nos EUA e de exploração no Brasil Dois pais que nascem próximos, nas mesmas circunstâncias históricas, com ocupação de território alheio, usam das mesmas tecnologias, assassinam os povos nativos e escravizam povos africanos, acabam tendo rumos completamente opostos. Os EUA desenvolvem a colonização de ocupação, famílias são transferidas para reduzir as tensões sociais na Inglaterra e recebem ordem de construírem lá sua nova vida. Acaba dando num povo e numa dinâmica econômica apegado ao território, tendo um sentimento de nacionalidade e pertencimento ultra forte. O preconceito racial é para com os de fora, no caso o negro. O negro é de fora, veio
  • 44. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 44 - trazido à força e não desejados pelos locais, acabou sendo intrometido no espaço que não lhe pertence. Os EUA tem o processo de consolidação do povo a partir dos direitos da família e do individuo No caso do Brasil, a colonização foi de exploração, e persiste ate hoje o modelo. Não foram transferidas famílias, e sim pessoas para instalar os processos de exploração e transferência dos produtos para Portugal, cuja vontade era voltar à civilização. Ser transferido para o Brasil era punição e o objetivo era ou perdão ou a autorização para o retorno. No inicio vieram só homens degredados que depois solicitaram ao reino um envio de mulheres. O rei atendeu mandando um navio de vadias. Uma das funções era escravizar ou matar os povos nativos. Para os serviços, vieram os povos africanos escravizados sem direito a terra. Acaba resultado numa dinâmica social com um povo e uma dinâmica econômica desapegada do território, sem nenhum sentimento de nacionalidade e pertencimento. O preconceito racial aqui é para com os de dentro, os nativos e os negros. O negro aqui é de dentro, pois o ser de fora a referência é Portugal. Aqui o povo se consolida sem família, sem individuo, sem alma ou personalidade e, fundamentalmente, sem nenhum direito. O que persiste ate hoje nos 515 anos de Brasil. No Brasil a conciliação de capital, nos EUA o revolucionário conflito de capitais. Os livros de história e filmes registram que a Guerra de Secessão dos EUA foi para acabar com a escravidão. Como a esquerda só pensa em política, não pensa em economia, acredita nisso. Gostaria de ver um texto da esquerda revolucionaria buscando esclarecer a gêneses do poder dos EUA. Os EUA começa sua economia como qualquer lugar do mundo promovendo a acumulação primária de capital a partir da produção agrícola, tornado este setor da economia como o mais forte e de maior influência política. Os produtos pertenciam aos produtores, o gado, o ouro e a produção agrícola eram apenas taxados pela Inglaterra. Vêm nas famílias transferidas profissionais diversos, combinação perfeita para o desenvolvimento da educação e da indústria local. Quem faz a independência
  • 45. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 45 - dos EUA é a suas elites e seu povo em guerra contra o domínio da Inglaterra. Por um século segue o crescimento da educação, da indústria e da agricultura, mas a economia segue na encruzilhada do futuro: as normas alfandegárias, cambiais e fiscais vão favorecer a indústria ou a agricultura? Foram quase 100 anos para encontrar a resposta que não conseguiu sair dos lobbies no congresso. Resultado: o conflito entre o capital agrário (do Sul agrícola) e o capital industrial (do Norte industrializado) acabou sendo resolvido na bala para decidir quem manda no Congresso, ou seja, quais as leis que o Congresso deveria aprovar. O congresso passou a legislar em favor da indústria subordinando a agricultura aos interesses da nação industrializada. Assim foram criadas as condições para os EUA chegar à posição em que se encontra. Como se dá o processo brasileiro? Aqui também começa no campo a acumulação do capital, com uma primeira diferença em relação aos EUA: a remuneração é mínima, pois apenas produzia matéria prima para exportação para alimentar uma indústria no exterior. Mas, como internamente existe a super-ultra-exploração do trabalho, a remuneração acaba permitindo a formação do capital agrário primitivo. Isto acontece em todas as regiões brasileiras a exemplo da cana de açúcar, borracha, carnaúba, cacau e, principalmente, café. Como o modelo brasileiro foi composto com a ausência da família acumuladora, com o não investimento em educação e com o impedimento da industrialização, esse capital agrário foi tardiamente transformado em capital industrial no Sudeste e em capital comercial no resto do Brasil. Se dá, portanto a primeira grande conciliação de capital formando uma aliança de altamente conservadora e reacionária. As indústrias de São Paulo poderiam utilizar a rede de lojas montadas no resto do país para comercializar sua produção. Em função disso, principalmente nas regiões de Norte e Nordeste não existem indústria, apenas comércio. Não tem como melhorar nem a taxa nem a qualidade do emprego. Para agravar a situação da nação, outra conciliação que vai sendo preparada paralelamente que é entre o capital industrial nacional e capital industrial estrangeiro. Nessa conciliação prevaleceu a covardia, a pequinesa do empresário nacional de aceitar a condição imposta de se restringir à produção de bens de baixa tecnologia tanto para o mercado consumidor como fornecedor de peças para a
  • 46. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 46 - indústria de capital estrangeiro de alta tecnologia. Este acordo impõe ao Estado conduzir a educação, a academia e os institutos de pesquisa como meros preparadores de mão de obra para atender a essa indústria. Enquanto nos EUA instalou-se o conflito de interesse entre o capital industrial e o capital agrário levando o setor industrial a dominar e comandar o setor agrário, aqui no Brasil, a elite, historicamente passiva e escravagista, subordinada e obediente aos interesses estrangeiro, promove a conciliação entre o capital agrário e o industrial fazendo esses dois setores darem as mãos para compensar seus parcos ganhos decorrentes da participação na cadeia de produção internacional na superexploração dos trabalhadores locais. Dessas conciliações sai a conta a ser paga pelos trabalhadores, meio ambiente e, principalmente, pela destruição do potencial do desenvolvimento futuro da nação. Como o Brasil agrário se alia com a Argentina e Uruguai também agrários para destruir a maior experiência industrial da America Latina de todos os tempos, ou, a conhecida guerra ao Paraguai para salvar o povo paraguaio e o Brasil do ditador Francisco Solano Lopes. Paraguai era uma potência econômica, independente das nações europeias, cuja industrialização foi decorrente de um governo forte e decisivo mandava jovens estudar na Europa e voltar para implantar no país os conhecimentos adquiridos. Teve que enfrentar a ira do império britânico através dos imbecis e subjugados governos do Brasil, Argentina e Uruguai que tomaram dinheiro emprestado da Inglaterra para fazer uma guerra de interesses da indústrias inglesas. O Paraguai teve toda sua indústria destruída e cerca de 70% da população assinada com consequências que sofre até hoje 145 anos depois. Já o Brasil se orgulha do genocídio promovido por Caxias e lhe dá a honra de ser patrono do Exército além de nomes de ruas, avenidas e cidades e, de quebra, ainda
  • 47. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 47 - trás a dívida elevada decorrentes dos gastos da guerra que foram custeados com empréstimos estrangeiros para ser paga até hoje pelos trabalhadores brasileiros. Não me lembro de ter visto um só discurso da esquerda se referir a grandeza da obra de Francisco Lopes a quem aprendemos odiar nas nossas aulas de história por ser o ditador que queria tomar o Brasil. As conexões da economia brasileira com a divisão internacional do trabalho. Vamos discutir as principais conexões entre economia brasileira e a economia mundial que constitui a subordinação do Brasil à divisão internacional do trabalho impostas pelos países centrais da economia capitalista e aceita pela elite empresarial e escravagista brasileira: o agronegócio, a mineração. O mercado do petróleo, o modelo industrial, a geração de energia, o mercado de droga e o mercado financeiro. 4.1 O agronegócio A agricultura e a pecuária no Brasil são atividades ultradiversificadas e altamente complexas por cumprir diversas funções e tantos parâmetros quanto se queira analisar: tamanho, tecnologia aplicada, produção, objetivos etc. Como temos como objetivo deste debate identificar como as forças e os fluxos econômicos se movimentam, vamos concentrar no agronegócio e tomar as outras áreas da agricultura como referência, mas que dever ficar a obrigação do aprofundamento deste debate, pois ai encontra-se as soluções social, econômica e ambiental para diversos problemas por que passam os povos brasileiros. Grosso modo, atendendo os objetivos desse texto, podemos classificar o setor agrícola e pecuário do Brasil em três segmentos apresentados pela ordem de tratamento neste texto, todos por si muito diversificados, particularmente os da
  • 48. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 48 - agricultura familiar: agricultura e pecuária familiar convencional, agricultura familiar e pecuária agroecológica e o agronegócio empresarial,. Agricultura e pecuária familiar convencional A agricultura mesmo sendo de pequeno porte, controlada e conduzida pela família, com muito baixa divisão de trabalho, utiliza tecnologias industriais e pratica o modelo de produção focado no monocultivo convencionado pela chamada “revolução verde”. Trabalha com sistemas de monocultivos e de consorcio com baixa diversidade nas propriedades, porém alcança grande diversidade no conjunto. O leque de situações em que se encontram as propriedades é muito grande, varia de bem sucedidas até extrema pobreza, de muita tecnologia e recurso até a ausência completa de tecnologias, com organização de cooperativas, a exemplo da região Sul, a ausência de cooperativas, região Norte e Nordeste. Ainda tem os coletores que atuam individualmente ou cooperativados, a exemplo dos coletores de castanha de Amazônia, babaçu, mangaba, licuri, umbu, piaçaba etc. A agricultura familiar é vítima da demagogia política dos governos e da academia e institutos de pesquisas. A academia e cientistas da área orientam o agricultor familiar com tecnologia e procedimentos próprios do agronegócio de grande escala e alta tecnologia, o que os torna escravos dos bancos e da indústria. A agricultura familiar fornece quase 80% da alimentação consumida pelas famílias brasileiras. A contradição central é copiar o modelo empresarial para se inserir na cadeia produtiva de alguma indústria com uma produção única ou consorciada, ou seja, utiliza tecnologia própria da agricultura de larga escala em agricultura de pequena escala, utiliza recursos de alto valor agregado para produzir bens de baixo valor agregado. O agricultor da agricultura familiar de forma geral é hegemonizado pelo conceito do agronegócio e não se expressa como classe, se dilui no conjunto das lutas sociais não buscam sua independência e vive de buscar apoio, subsidio e financiamento oficiais.
  • 49. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 49 - Agricultura e pecuária familiar agroecológica Se caracteriza por práticas agrícolas não atreladas ou subordinadas às cadeias produtivas da indústria, busca uma produção diversificada, próximas aos modelos naturais sem uso de venenos, tem o caráter preservacionistas e conservadoras dos recursos naturais. Este modelo se aproxima da agricultura tradicional praticada pelos povos originais e quilombolas e seus descendentes. Busca, também, atuar de forma independente do mercado industrial e financeiro. A agricultura florestal dentro desse grupo aprofunda mais ainda os conceitos de independência e intensa diversidade. Busca reinstalar a dinâmica florestal a partir do aproveitamento da irradiação solar nos diversos níveis alcançáveis pelas as diversas espécies vegetais. Este modelo se caracteriza, também, pela permanente evolução da produção e ainda tendo como saldo a melhoria e enriquecimento do solo com redução dos custos operacionais da produção. Esse tipo de agricultura ainda tem pouca abrangência, pois, de forma geral, grande parte dos agricultores familiares permanece hegemonizado pelo pacote tecnológico da “revolução verde” da burguesia industrial, desenvolvido pela academia e instituto de pesquisa e difundido pelos órgãos de extensão. O sistema capitalista não tem interesse nesse modelo, pois quebra os paradigmas da acumulação. O agronegócio, fator de transferência de renda para a indústria e o banco A produção do chamado agronegócio (agricultura e a pecuária empresarial) brasileiro tem como função precípua assegurar saldo positivo da balança comercial e fornecer matéria para diversos ramos industriais no Brasil. E na função econômica, está estruturada para transferir renda para a indústria e para o banco. A agricultura e a pecuária do agronegócio se caracterizam por serem produtoras de matéria prima em monocultivos para uso industrial. Convencionadas como modernas, totalmente tecnificadas e de alto custo financeiro. Geralmente é
  • 50. VI ENAPS / 2015 Análise da conjuntura brasileira - 50 - controlada e conduzida por organização empresarial com intensa divisão de trabalho. O modelo agropecuário hegemônico combinado com a necessidade de ampliação do mercado consumidor vem deslocando, de forma acelerada, imensa parcela da população do campo para as cidades. As concentrações urbanas tornam-se completamente dependentes da indústria. A manutenção da vida nas cidades depende do campo como exclusivo fornecedor de energia, água, alimentos e das matérias primas para fabricação de alimentos industrializados e todos os demais bens comercializados na cidade. Para isso foi montado um modelo de agronegócio que tornou-se hegemônico, focado na produção de matéria prima para as diversas indústrias. A agricultura e a pecuária deixam de ser uma atividade voltada para atender as necessidades alimentares da população e passa a ser uma atividade produtora de matéria prima que deve ser padronizada, de baixa variabilidade genética e em grande escala para abastecer a linha de produção da indústria química, metalúrgica, farmacêutica, têxtil, papel e, em particular, a de alimentos. Passou a ser uma atividade de alta concentração, a exemplo do mercado do trigo onde apenas uma empresa, a Cargil, controla 32% do mercado no mundo. Sete corporações industriais controlam 80% da indústria de alimentos do mundo. O Brasil vem sendo chamado de “celeiro do mundo” e a história da agricultura brasileira se confunde com a história mundial. A começar com o pau-brasil que dá origem ao nome e a economia do país que se caracteriza deste então como exportadora de matéria prima agrícola. A agricultura e a pecuária tornam-se um importante elo da cadeia da produção da indústria capitalista e passam a adotar o objetivo central dessa indústria que é a acumulação de capital e não no atendimento das necessidades humanas. Com o crescimento do mercado acumulador (capitalista), promove-se intensa demanda por matéria prima, o que impacta diretamente a agricultura e a pecuária que concentram suas atividades na produção em escala de matéria prima. Este modelo é uma atividade de elevado impacto ambiental para desenvolver os monocultivos, faz parte do cotidiano das atividades a eliminação das florestas, o uso do fogo, destruição da flora, fauna e biodiversidade; arar e gradear o solo;