Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Apresentação cespeb 2016 - A inserção da EA nas escolas e a tensão público-privado
1. Desenvolvendo projetos de
Educação Ambiental e Educação em
Ciências a partir da escola
Leonardo Kaplan (EDU/UERJ)
Maria Jacqueline Girão S. Lima (FE/UFRJ)
Natalia Rios (CAp/UFRJ)
2. A inserção da educação ambiental
nas escolas e a questão da
interdisciplinaridade
3. • LOUREIRO, C. F. B.; LIMA, M. J. G. S. A educação ambiental e a
escola: uma tentativa de (re)conciliação. In: Paz, R. J. (Org.).
Fundamentos, reflexões e experiências em Educação
Ambiental. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 2006
• LIMA, M. J. S. Reflexões sobre a prática interdisciplinar da
educação ambiental no contexto escolar. In: Anais da 29ª
Reunião Anual da ANPEd: Educação, Cultura e Conhecimento
na contemporaneidade: desafios e compromissos, v. 1, pp. 1-
6, 2006
• LOUREIRO, C. F. B.; LIMA, M. J. G. S. Hegemonia do discurso
empresarial de sustentabilidade nos projetos de educação
ambiental no contexto escolar: nova estratégia do capital.
Revista Contemporânea de Educação, vol. 7, n. 14, pp. 289-
303, agosto/dezembro 2012.
4. EA como campo de pesquisas
• Pesquisadores oriundos de diferentes áreas
• EA como linha de pesquisa em muitos
programas de pós, GTs em associações de
pesquisa, diversos grupos de pesquisa pelo
país
• Dissertações de mestrado e teses de
doutorado
5.
6. EA nos contextos escolares
• Censo Escolar 2003: 65% das escolas do EF inserem a
temática ambiental em suas disciplinas de 1ª à 4ª série; 27%
tem projetos específicos
• Apesar das pesquisas e investimentos públicos e privados, a
EA praticada nas escolas não tem atendido às expectativas
de pesquisadores, alunos e professores, encontrando-se
fragilizada (Guimarães, 2004)
• Cabem, portanto, reflexões sobre problemas identificados na
EA como atividade escolar
• Perspectiva adotada aqui: EA Escolar Crítica, Transformadora
e Emancipatória
7. EA Crítica, Transformadora e Emancipatória
“Em uma Educação Ambiental que se afirme como emancipatória ou a
transformação que se busca é plena, o que significa englobar as
múltiplas esferas da vida planetária e social, inclusive individual, ou o
processo educativo não pode ser subentendido como transformador.
Podemos afirmar que a prática educativa que ignora tal entendimento
do sentido transformador, a problematização crítica da realidade e a
possibilidade de atuação consciente nesta, se configura como
politicamente compatibilista, socialmente reprodutora e
metodologicamente não dialógica, adequando sujeitos a padrões,
modelos idealizados de natureza, dogmas e relações opressoras de
poder. Essa é a conotação pseudotransformadora da educação
hegemônica, que prega a mutabilidade das coisas pelo movimento
progressivo e linear de conhecimento da realidade, numa atividade
individual-atomística isenta de condicionamento social.”
(Loureiro, C. F. B. Educar, participar e transformar em Educação
Ambiental, 2004, pp. 92-93).
8. Identificação de problemas na EA nas escolas
• Existiriam limitações discursivas e epistemológicas (“armadilhas
paradigmáticas”) evidenciadas por currículos disciplinares,
ultrapassados e distanciados da realidade dos alunos
• Contradições entre discursos e práticas de professores que, mesmo
bem intencionados, não conseguem realizar uma EA interdisciplinar
e transformadora
• Grün, 1996; Viégas, 2002; Guimarães, 2004; Carvalho, 2004;
Layrargues, 2004; Fracalanza, s.d.
9. Visão hegemônica sobre currículos escolares
• Escola, saberes escolares e currículos são vistos como
engessados, mecanicistas e reprodutivistas
• Aos professores são apontadas limitações diversas, sem
situar suas contradições no escopo das contradições da
sociedade como uma totalidade historicamente
construída
• Muitos destes autores críticos raramente buscam seus
referenciais teóricos no campo da Educação, o que faz
com que nem sempre sejam consideradas as
especificidades da escola definidas por seus objetivos,
características da profissão docente, espaço físico,
clientela e políticas públicas educacionais
10. Visão hegemônica sobre currículos escolares
• Nesta conjuntura, é comum que se atribua à escola um grau de
responsabilidade no processo de formação de valores e
comportamentos que só é cabível se a imaginarmos ou como algo
cuja dinâmica independa da sociedade da qual é uma prática social,
ou como sendo a reprodução direta e fiel da sociedade
• Pesquisas que apontam problemas e erros da EA nas escolas, mas
não dialogam com as mesmas, não trazendo grande contribuições
para a sua melhoria
11. Relação escola-sociedade
Adaptado de Cortella, M. S. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e
políticos. São Paulo: Cortez, 2003.
12.
13. Expansão para menos da escolas públicas
no Brasil
Escola pública e pobreza no Brasil: a ampliação para menos – Eveline Algebaile
(2005)
A expansão da oferta de vagas nas escolas públicas para atender a entrada dos
pobres se deu com a precarização das condições (físicas, de trabalho, de
currículo, etc) das escolas públicas
14. Expansão da educação ambiental nas
escolas
Censo escolar 2001: 61,2% das escolas ofereciam EA (25,3 mi de matr.)
Censo escolar 2004: 94% das escolas ofereciam EA (32,3 mi de matr.)
Como se insere a educação ambiental nas escolas?
2005-2006: Pesquisa do MEC/INEP/Universidades “O que fazem as escolas que dizem que
fazem educação ambiental?”
418 escolas públicas e privadas de 10 estados (4 municípios por estado, 10 escolas por
município)
Norte: PA; AP -> UFPA
Nordeste: Ceará; RN -> UFRN
Centro-Oeste: MS (38 escolas); MT -> UFMS
Sudeste: MG; RJ; SP (2 municípios) -> UFRJ
Sul: SC; RS -> FURG
RJ: Rio de Janeiro, Niterói, Macaé e Maricá
15. Perfil da EA nas escolas
Modalidades de Inserção da EA: projetos, disciplinas especiais e inserção da temática
ambiental nas disciplinas (MEC/INEP, 2006, p. 34)
21. Na escola...
discurso empresarial preocupado com o ambiente e com a
sociedade: empresa socialmente responsável ou “marketing
verde” (LAMOSA, 2010).
Empresas passaram a investir nas escolas, reforçando a
ideologia do cada um faz a sua parte.
Ambientalização do currículo escolar promovida pela iniciativa
das empresas: cursos de formação continuada e materiais
didáticos.
22. Cabe perguntar que concepções
de ambiente, sociedade, ciência,
cultura e educação têm sido
difundidas nestes cursos e
materiais e quais as implicações
destas concepções na prática do
professor e, acima de tudo, na
formação da consciência
ambiental dos alunos (BAGNOLO,
2009:588).
23. 23
Projetos empresarias nas escolas
públicas
Rede Municipal de Teresópolis/RJ: projetos de responsabilidade social com temas (água, energia,
reciclagem) e materiais didáticos definidos pelas empresas (Nova Cedae, Indústria Comary, Ampla) –
(Lamosa, 2010)
Programa “Agronegócio na escola”: redes municipais e estadual de SP
Escola Sustentável (C. E. Erich Walter
Heine): parceria entre governo estadual RJ e
TKCSA, Santa Cruz/RJ
25. O Caso “Escolas sustentáveis TKCSA-Governo do
estado do RJ
Contexto geral da TKCSA (instalação na Baía de Sepetiba)
Conflitos socioambientais:
– Expulsão de assentados (MST) – 75 famílias;
– Impactos a saúde (doenças de pele, irratações nos olhos e vias respiratórias);
– Impactos ao meio ambiente 76% CO2 na cidade do Rio de Janeiro;
– “Chuva de prata” (folhigens de grafite);
– Ressupensão de metais pesados no mar;
Batalha jurídica:
– Auto de infração (IEF);
– Embargo da obra e multa (IBAMA);
– Interdição e embargo (MPT);
– 9 ações civis públicas;
– Inquérito no MPF;
– Multa de 1,8 milhão (Inea);
Manifestações e denúncias (moradores, pescadores, pesquisadores, movimentos
sociais)
“Desenvolvimento a ferro e fogo”
26. Colégio Estadual Erich Walter Heine:
– Primeira escola sustentável da América Latina;
– Início: 2011;
– 200 alunos;
– Horário integral – 7 as 17h;
– Investimento da TKCSA: 11 milhões de reais
– Ensino Médio Integrado:
Curso técnico em administração
Parceria público-privada: formar mão-de-obra para TKCSA
– Selo LEED (118 nos EUA, 1 Noruega, 1 Indonésia):
Certificação de edifícios sustentáveis (ONG US Green Building Council;)
Ecotelhado, reaproveitamento de água da chuva, ecopiso, ar-
condicionado (40% -), sensores de luz nas salas, lâmpadas led, captação
de luz solar e ventos, coleta seletiva de lixo, sistema acústico,
acessibilidade para cadeirantes, plantio de espécies nativas, etc.
– Simulação de ambiente empresarial:
Empresa júnior
– Formação (Ciclos Consultoria Ambiental):
Programa de Comunicação e Educação Ambiental;
Reportagem CNT
Protesto dos alunos
27. Hegemonia do discurso empresarial
em projetos de EA nas escolas públicas
• Noção de desenvolvimento sustentável
• Leitura idealizada das relações sociais,
pragmática e instrumentalizadora
• Ideologia da sustentabilidade no interior da
EA: ex. -> discurso da UNESCO
28. Hegemonia do discurso empresarial
em projetos de EA nas escolas públicas
• Qual é o discurso hegemônico nas práticas
escolares em EA?
• De que forma professores e professoras vêm
lidando com o mesmo?
• Práticas escolares vêm sendo crescentemente
promovidas por empresas e ONGs que prestam
serviços a essas e reproduzem um discurso de
capitalismo verde (“economia verde”)
29. Hegemonia do discurso empresarial
em projetos de EA nas escolas públicas
• Até o final dos anos 1990, a disputa por
hegemonia discursiva no campo da EA dava-
se, principalmente, entre conservacionista e
socioambientalistas
• Nos anos 2000, a disputa passou a ser entre
conservacionistas, pragmáticos e críticos, com
predomínio de proposta de EA dentro da
perspectiva do “capitalismo verde”
30. “Capitalismo verde”
• Defende o “uso mais racional” dos recursos naturais
(sem refletir e buscar romper com as relações
econômicas de mercado e o processo de
acumulação de riqueza material)
• Ênfase nos aspectos comportamentais, técnico-
gerenciais e éticos da relação humana com a
natureza dita não humana
• Caráter instrumental e de aplicação imediata na vida
de cada indivíduo: poderoso meio de reprodução
ampliada de ideologias compatibilistas entre
sustentabilidade e capitalismo que veicula
31. “Capitalismo verde”
• Naturalização do modo de produção e
organização social dominante
• Abordagem tangencial e estritamente moral,
quando se fala, a questão das desigualdades
sociais que determina o acesso assimétrico ao
que a natureza dispõe, ao saneamento, à
habitação e outros fatores associados à
sobrevivência das sociedades humanas.
(LAYRARGUES e LIMA, 2011)
32. EA hegemônica e mudança social
• Criou-se uma expectativa de que cabe à EA “conscientizar” e
“sensibilizar” sobre questões como consumo, uso de energia,
mudanças climáticas, biodiversidade, conservação, etc
• Isso levaria a uma transformação em direção a uma “sociedade
sustentável”
• O indivíduo é fetichizado, com ações pontuais e
comportamentais, muitas vezes confundidas com políticas
públicas
• Temas como modo de produção, distribuição de bens
materiais, acesso à terra e à cidade ou não são tratado ou são
secundarizados
33. EA hegemônica e mudança social
• Propagação da ideia falaciosa de “salvação
planetária” fundada em uma concepção não-
conflitiva de sociedade (“todos no mesmo
barco”)
• Discurso harmonioso de parceria entre
sujeitos e concialiação de classe na promoção
da sustentabilidade de fácil assimilação
34. EA hegemônica nas escolas públicas
• Novo padrão de sociabilidade promovido pelo
empresariado e por ONGs
• Lógica de prestação de serviços, dissociadas das lutas
sociais e ligadas a setores empresariais
• Movimento vinculado à atuação crescente do
empresariado nas escolas públicas por meio de projetos
de responsabilidade social
• Atuação de agentes de fora para dentro da escola que
afirmam o diálogo e o consenso, negando os conflitos
estruturais
35. Hegemonia do discurso empresarial de
sustentabilidade nas escolas
• Sustentabilidade como premissa, mas sem
aprofundamento da polissemia do termo
• Principal meio de difusão do discurso de
sustentabilidade do capital via relação escola-
empresa (Bagnolo, 2009)
• Grande entusiasmo e ampla aceitação a esses
projetos empresariais e relação dependente de
professores aos recursos das empresas
36. Hegemonia do discurso empresarial de
sustentabilidade nas escolas
• Ambientalização curricular das escolas por
iniciativa das empresas: cursos de formação
continuada e materiais didáticos
• “Cabe perguntar que concepções de ambiente,
sociedade, ciência, cultura e educação têm sido
difundidas nestes cursos e materiais e quais as
implicações destas concepções na prática do
professor e, acima de tudo, na formação da
consciência ambiental dos alunos”
(Bagnolo, 2009, p. 588).
37. Hegemonia do discurso empresarial de
sustentabilidade nas escolas
• Claro que também há rejeição a esses
projetos, mas a presença de empresas nas
escolas não é inócua
• Pesquisa de Lamosa (2010) na rede municipal
de Teresópolis: projetos unilateralmente
formulados pelas empresas
38. Parcerias público-privadas nas escolas
“(...) com a parceria público/privada e o
fortalecimento do terceiro setor, o privado
acaba influenciando ou definindo o público,
não mais apenas na agenda, mas na execução
das políticas, definindo o conteúdo e a gestão
da educação” (Peroni, 2009, p. 139)
39. Estudo sobre PPPs no Rio
(Monteiro, 2009)
• Algumas conclusões:
1) Normalmente são os parceiros privados que procuram
as instâncias de ensino público;
2) As propostas acabam refletindo o perfil e os interesses
do financiador ou executor privado;
3) Poucos projetos iniciam com um diagnóstico de
problemas da rede de ensino ou da escola;
4) Há indícios de que as ofertas de parceria são desiguais
entre as CREs e relacionadas à localização ou ao desejo da
organização parceira;
40. Estudo sobre PPPs no Rio
(Monteiro, 2009)
• Algumas conclusões:
5) 81% das parcerias têm um projeto escrito, porém
em 60% dos casos a escola não participaram de sua
elaboração;
6) As organizações parceiras já chegam até as
escolas com o projeto financiado e nem sempre a
escola localiza o papel do agente financiador;
7) Não se verificou correlação significativa entre a
existência de parcerias e a melhora dos indicadores
educacionais, como a Prova Brasil e o IDEB.
41. Estudo sobre PPPs no Rio
(Monteiro, 2009)
• Por sua vez, as escolas investigadas justificaram
o estabelecimento das parcerias face à carência
das redes de ensino e diante da possibilidade de
os trabalhos desenvolvidos na escola ganharem
visibilidade dentro da rede.
• Muitos defendem que os projetos se adequem
às necessidades da escola, mas essa é uma
premissa que vem sendo descumprida
sistematicamente (MONTEIRO, 2009).
42. Estudo sobre PPPs no Rio
(Monteiro, 2009)
• Tanto pode haver adesão aos projetos
empresariais quanto resistência a eles
• Mas faltam condições para as escolas exercerem
sua função crítica e desenvolverem um trabalho
autônomo de qualidade considerando a
ausência de recursos para isto
43. Concluindo
• Disputas no campo da EA: necessidade de explicitação das
perspectivas teóricas, desfazendo supostos consensos em torno de
objetivos, conceitos, pressupostos e práticas
• Crítica ao discurso hegemônico de sustentabilidade do capital
• Crescente número de pesquisas sobre as graves consequências da
entrada do discurso empresarial nas escolas em projetos de EA
• Recomendação que essas vozes de resistência e crítica sejam
ouvidas e potencializadas nos contextos de elaboração de políticas
educacionais
• Se não para impedir, pelo menos para criar rigorosos processos de
seleção e avaliação desses projetos no interior de cada escola.
44. • A partir da leitura do texto “reflexões sobre a
prática interdisciplinar da educação ambiental
no contexto escolar”, em grupo, responda à
questão para debate:
• Quais são as possibilidades e os limites da
interdisciplinaridade na educação ambiental
escolar?
• A interdisciplinaridade é fundamental para uma
boa prática de EA?