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Crítica Revolução da América do Sul de Augusto Boal.
Peça assistida no teatro-escola Macunaíma, dirigida pelo professor-diretor Lineu
Constantino, atuada pelos alunos do PA2.


    Augusto Boal assina o seu nome também em mais outras duas peças de valor
primordial ao teatro Brasileiro e são elas, As aventuras de Tio Patinhas (1968, revista
em 1983) e Murro em Ponta de Faca (1978); peças que assimilam o fator politizado
em que nosso país se desencadeou, deixando de fazer política para ganhar força
partidarista, a esquerda sendo um discurso quase que cabalístico, de poder mítico,
mas com essência de direita. Âmagos usufruídos e perpetuados na peça Revolução
da América do Sul em que, um verdadeiro ensaio político-cênico desenvolve no texto,
uma analogia as políticas de esquerda, socialistas e até ditas comunistas, como a
Rússia (antiga união soviética), Cuba e países que foram se contaminando por estes
discursos ideológicos de manipulação da massa. Oras, pois o “comunismo” Russo
matou tanta gente quanto o nazismo, já diriam e parafraseiam inúmeros cientistas
políticos, ou Bush, em minha humilde opinião matou tanto quanto ambos, ou no caso,
mandou matar invadindo Iraque, Afeganistão, e o esquecido Kozovo, na península
Balcânica; e Boal já sabia de ocorrência a este respeito, bastaria resvalar os olhos
para histórias e encontrar outros lideres assassinos tantos quanto os mais atuais, eis
um Gengis Khan, e Boal sabia tanto sobre estes assuntos que seu texto ainda é
antecessor a ditadura brasileira, pelo menos quando se diz de datas, o texto fora
escrito antes de os militares tomarem o poder.
    Outro fato de relevância que merece ser dito, Boal foi indicado pelo prêmio Nobel
da paz em virtude do projeto Teatro do Oprimido, e muitos críticos como Richard
Schechner disse que ele é tão importante para o teatro quanto Brecht ou Stanislavski,
opiniões a parte, podemos dizer que seus textos são preenchidos por uma forte
influência do criador e desenvolvedor da quarta parede.
    Mas apresentar uma peça de teatro, não deve se remeter ao tempo, ao momento
em que fora escrita. Atuar em Macbeth, Hamlet como se vivêssemos naquela época,
no momento em que fora lançada, não faz o menor sentido. “O teatro é efêmero” como
salienta Woody Allen, acontece aqui e agora, ali na coxia já está morto, derretido, foi
embora, as atuações não mais existem, se dissiparam pelo ar sobrando lembranças
que tardiamente serão falecidas também.
    E o diretor Lineu com a sua turma, trabalharam e criaram num nível se não
profissional, próximo do que poderíamos denominar de como tal. Adaptaram o texto
consoante a criação de cada ator, congruente ao meio do eleitorado, partidarismo e
democracia de interessismo atual, com propagandas de televisão, com políticos que
se tornam mais celebridades, com contas em twitter, supostas representatividades de
movimentos e bandeiras subalternas, vide Dilma ou Obama, não passam de cartas
colocadas numa mesa demonstrando seus sorrisos enquanto interesses econômicos
estão escondidos numa calada da noite. Não tem como ver a peça e imaginar àquela
época em que fora escrita, está lá no palco o hoje, o agora em que o mensalão
sucumbi o ser mitológico–nórdico proveniente dum mundo esquizofrênico, o ser mais
conhecido como democracia.
    Não obstante, vemos concomitante, atores que souberam criar seus personas
num cenário vivo, com uma estratosfera que pulsa como se nos dissessem, vocês
todos não são tão diferentes do que José Silva, que morre sozinho na floresta com a
esposa lhe surrupiando dinheiro, envolvido por uma sociedade completamente
corrupta, que se Dante Alighieri escreveu o inferno, esqueceu um círculo chamado
democracia. Eis cá, um alçapão que serve de “urna eletrônica”, eis lá um movimento
revolucionário que se esconde nas vísceras da sociedade subalterna para devorá-la
mais a tarde como uma sobremesa. Uma sobremesa que a população não consegue
mais usufruir. Ou políticos que se assemelham aos Power Rangers, super-heróis que
surgem na mídia com o desígnio de levar o país adiante, mas não basta!, para isto
eles aumentam o salário mínimo, o chefe dispensa José da Silva pelo mesmo motivo e
o pobre homem, com um nome tão verossímil ao povo brasileiro se sente ainda por
cima culpado, como cada um de nós já disse num momento ou noutro, Sim, eu
também sou culpado por este país não ir à frente, aliás é democracia. É democracia
vendida numa esquina tal como limonada de quinta categoria, tal como o socialismo
fora vendido na época em que Boal escrevera a peça.
    E o que torna o teatro vivo, assim como os alunos aprenderam na escola, é a
comunhão, que não precisaria ser dita mais está borbulhando em êxtase, a construção
dos personagens, sobretudo a atuação do aluno como José da Silva faz o espectador
sentir-se atirado para frente do cenário atual de corrupção. A forma como usam o
palco, os atores fazendo mais de um personagem, a desordem, num bom sentido
imperando ao arredor do cenário quando cada cena se amálgama a próximo com a
ajuda dum anjo da guarda, que nem mais sequer existe para proteger nossos
interesses como nos nossos antigos sonhos de infância. Lá vem ele, o anjo, sempre
cômico, imperioso, pronto para unir uma cena à outra.
    Ademais, o que resta dizer, é que sentimos estar diante duma ótima turma que
soube trabalhar um texto junto com seu diretor numa perspectiva contemporânea, com
atores que foram a fundo cada conceito de Stanislavski.

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  • 2. se tornam mais celebridades, com contas em twitter, supostas representatividades de movimentos e bandeiras subalternas, vide Dilma ou Obama, não passam de cartas colocadas numa mesa demonstrando seus sorrisos enquanto interesses econômicos estão escondidos numa calada da noite. Não tem como ver a peça e imaginar àquela época em que fora escrita, está lá no palco o hoje, o agora em que o mensalão sucumbi o ser mitológico–nórdico proveniente dum mundo esquizofrênico, o ser mais conhecido como democracia. Não obstante, vemos concomitante, atores que souberam criar seus personas num cenário vivo, com uma estratosfera que pulsa como se nos dissessem, vocês todos não são tão diferentes do que José Silva, que morre sozinho na floresta com a esposa lhe surrupiando dinheiro, envolvido por uma sociedade completamente corrupta, que se Dante Alighieri escreveu o inferno, esqueceu um círculo chamado democracia. Eis cá, um alçapão que serve de “urna eletrônica”, eis lá um movimento revolucionário que se esconde nas vísceras da sociedade subalterna para devorá-la mais a tarde como uma sobremesa. Uma sobremesa que a população não consegue mais usufruir. Ou políticos que se assemelham aos Power Rangers, super-heróis que surgem na mídia com o desígnio de levar o país adiante, mas não basta!, para isto eles aumentam o salário mínimo, o chefe dispensa José da Silva pelo mesmo motivo e o pobre homem, com um nome tão verossímil ao povo brasileiro se sente ainda por cima culpado, como cada um de nós já disse num momento ou noutro, Sim, eu também sou culpado por este país não ir à frente, aliás é democracia. É democracia vendida numa esquina tal como limonada de quinta categoria, tal como o socialismo fora vendido na época em que Boal escrevera a peça. E o que torna o teatro vivo, assim como os alunos aprenderam na escola, é a comunhão, que não precisaria ser dita mais está borbulhando em êxtase, a construção dos personagens, sobretudo a atuação do aluno como José da Silva faz o espectador sentir-se atirado para frente do cenário atual de corrupção. A forma como usam o palco, os atores fazendo mais de um personagem, a desordem, num bom sentido imperando ao arredor do cenário quando cada cena se amálgama a próximo com a ajuda dum anjo da guarda, que nem mais sequer existe para proteger nossos interesses como nos nossos antigos sonhos de infância. Lá vem ele, o anjo, sempre cômico, imperioso, pronto para unir uma cena à outra. Ademais, o que resta dizer, é que sentimos estar diante duma ótima turma que soube trabalhar um texto junto com seu diretor numa perspectiva contemporânea, com atores que foram a fundo cada conceito de Stanislavski.