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INFORME MENSAL Zai
Gezunt
Ano 3 dezembro 2016 No
30
UM PESSACH DIFERENTE
Um grande número de judeus ocupava lugar de destaque a partir do século XIV, nos dois reinos da Espanha,
Castela e Aragão graças à sua cultura e aptidão comercial. Os reis da Espanha tinham em sua corte judeus
arrecadadores de impostos, ministros da fazenda, conselheiros, médicos e outros.
Esses judeus da corte, que se identificavam com as famílias dos nobres e dos cortesãos espanhóis, aspiravam
somente à riqueza e ao luxo e eram também imitados por homens e mulheres da classe abastada, o que
provocava inveja e ódio contra os judeus, embora a maioria da população judaica fosse de trabalhadores que
levavam uma vida modesta.
Somente em Castela havia oitenta comunidades israelitas, que viviam com completa autonomia, como
antigamente na Babilônia e nos Califados Árabes. A nobreza católica, formada em sua maioria de monges
dominicanos, ficava irritada com a participação de judeus no governo.
Instigados por um sacerdote fanático, Fernando Martinez, a população católica organizou, em 6 de junho de
1391, um violento pogrom em Sevilha, quando o bairro judeu foi incendiado e pilhado. Parte de seus quatro
mil habitantes foi assassinada e parte vendida, como escravos, aos árabes. Nessa ocasião algumas sinagogas
foram destruídas e outras, transformadas em igrejas.
Esse episódio, ocorrido no Reino de Sevilha serviu de incentivo para o mesmo flagelo, no Reino de Castela.
Na cidade de Valência, por exemplo, a comunidade de cinco mil pessoas foi quase totalmente aniquilada;
parte assassinada, parte forçada a converter-se ao catolicismo, e o restante obrigado a fugir.
Muitos fugitivos do massacre de 1391 foram acolhidos em Portugal, onde já havia uma colônia judaica e,
muitos daqueles que tinham sido convertidos, puderam voltar à sua religião original. Outros emigraram para
os países do Norte da África, onde fundaram novas comunidades.
Os que restaram na Espanha, chamados de cristãos novos ou marranos, eram severamente vigiados pelos
sacerdotes católicos. Frequentavam a igreja, porém em sua maioria realizava em segredo o culto judaico. Os
sacerdotes tinham conhecimento disso e instigavam o povo contra aqueles que se afastavam da nova fé, o
que provocou, por exemplo, em Córdoba, no ano de 1473, um novo massacre.
Para combater os marranos, foi instituída a Inquisição na Espanha, em 1480. Ela começou com uma violenta
campanha de repressão, que ainda continuaria depois da expulsão dos judeus do país, ocorrido em 1497.
Mais de duzentos mil judeus saíram da Espanha por não se terem convertido. Em Portugal a Inquisição foi
introduzida em 1540 e a perseguição aos judeus nesses dois países prosseguiu até o final do século XVIII.
A canção “Diga Marrano”, que se segue nos mostra o amor dos marranos pelo judaísmo, cuja fé mantinham
em segredo, porém sem medo, mesmo que isso lhes custasse a vida.
A autoria desta canção é do poeta e escritor Abraham Reisen:
Um marrano, para manter em segredo sua fé judaica, reúne sua família no abrigo subterrâneo de uma escola,
onde sua mulher prepara as malcozidas matzás e onde esconde, em uma fenda, a Hagadá para comemorar a
festa de Pessach”.
Reisen nasceu em 1876, num vilarejo pobre da província de Minsk. Ele tomou conhecimento dos trabalhos
de escritores clássicos do ídiche como Mendele Moshe Sforim, Scholem Aleichem e outros. Seu pai e seu
irmão foram poetas. Ele foi professor particular tendo tido nesta ocasião a oportunidade de conhecer pessoas
de todas as classes sociais e em especial dirigentes judaicos do mundo socialista e dos trabalhadores.
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Quando se mudou para Varsóvia formou um triunvirato com os discípulos de I.LPeretz; Scholem Ash e
Nomberg. Foi editor de jornais ídish em Varsóvia, Cracóvia e depois em New York. Foi um escritor prolífico
publicando um conto e dois poemas a cada semana. Suas histórias foram utilizadas como textos favoritos
para as crianças das escolas de ídish. Emigrou para a América em 1914, tendo se estabelecido em New York,
época em que mais de um milhão de pessoas deixaram a Rússia em razão dos pogroms.
Muitos de seus trabalhos foram traduzidos para o inglês e outras línguas e frequentemente reproduzidas em
antologias. Foi um grande poeta lírico e popular expressando nos seus contos e poemas a alma e o sofrimento
do povo judeu.
DIGA MARRANO
Diga marrano, você, meu irmão, Zog maran, du bruder mainer,
Onde comemora o seu seider? Vu is greit der seider dainer?
-Na gruta profunda de uma escola -In a tifer heil, in a cheider,
Lá eu preparei o meu seider. Dort hob ich gegreit main seider.
Diga-me marrano, onde e de quem, Zog maran, mir vu, bai vemen,
Você vai obter matzás brancas? Vestu vaisse matzes nemen?
-Na caverna, por graça de Deus, In der heil, oif gots barotn
Minha mulher estendeu a massa. Hot main vaib dem teig geknotn.
Diga-me, marrano, como você Zog maran,vi vest zich klign
Vai obter uma Hagadá? A hagode vu tzu krign?
Na caverna, em profundas fendas In der heil, in tife shpaltn
Há muito tempo eu a escondi. Hob ich zi shoin lang bahaltn.
Diga-me, marrano, como se comportará Zog maran, vi vest zich vern
Quando ouvirem sua voz? Ven men vet dain kol derhern?
Quando o inimigo me prender, Ven der soine vet mich fangen,
Cantando eu vou morrer.
POR CAUSA DE CARTEADO
Malka Apelboim
Sobre os motivos para divórcio, já se escreveram inúmeros livros. Em primeiro lugar,
compreende-se, vem a situação econômica. Se a pobreza entra pela porta o amor escapa pela janela.
Este ditado encontra-se em diversas línguas, em seguida vem a família, sogras que se intrometem
ou então cunhadas etc., entretanto, divorciar-se por causa de carteado, isso é um motivo
inteiramente novo. Pode-se chamá-lo de motivo moderno.
E assim como Aninha é realmente uma mulher moderna, uma real conhecedora de todos os
tipos de moda, ela, numa bela e clara manhã declarou a seu Sender que ela já havia penado
suficientemente com ele, e que queria se divorciar.
Não adiantaram quaisquer tipos de argumento, que ela tivesse paciência, que nunca é
demasiado tarde para ter esperança, que com o tempo, se Deus o quisesse, ele talvez pudesse
satisfazer seu desejo e providenciar uma bela sala de visitas, um “living room”, como ela o
denomina.
Não. Ela não pode esperar, diz ela. Ela simplesmente morre de vergonha quando suas
amigas chegam e veem sua pobre mobília. Ela também quer ter a possibilidade de convidar para sua
casa para um carteado. Que mulher moderna não joga baralho? Porque ela então tem que frequentar
a casa dos outros? Eles que venham uma vez para a minha, diz ela espumando, tanto prazer você me
dá, queixa-se ela – em lágrimas, lágrimas quentes começam a se formar nela, com seu rosto
contraído e triste.
Sender baixou a cabeça e pensou. Parece que a magia do falso brilho se sobrepõe a tudo, a
trabalho gratuito e dedicado, cabeças debruçadas sobre o estudo, sobre o espírito e o conhecimento.
Toda cultura desaparece. Todos os valores necessários tornam-se inúteis em relação ao
feitiço do dinheiro e baralho... Sender passou seus dedos sobre seu cabelo desgrenhado, e com um
sorriso amargo considerou sua esposa, sua Aninha, que costumava antigamente tão bem falar sobre
fidelidade, idílio e amor. Pão e água – costumava dizer, desde que se permaneça em companhia de
pessoas queridas. Seus olhos costumavam brilhar naquele momento, como num êxtase, e agora,
agora ela cresce como um herói, um herói vitorioso, que chega e lhe declara, a ele, Sender, uma
guerra, um ultimato. Um living-room ou o divórcio.
Ela Aninha, filha de Moishe Leib, que aos sábados nem sequer penteava seu cabelo, está
pronta para trocar seu amor, sua moral, por cumprimentos insossos, por ricas refeições em bons
restaurantes, por comodidades, que vão encontrar uma base para todas as suas fraquezas femininas.
Pensando assim sobre tudo isso, seu sangue começa a ferver, um furor selvagem se apodera dele,
seus olhos ficam furiosos e ele estremece.
Não, grita uma voz em seu coração. Não, ele não mais vai lhe suplicar, ele não mais vai lhe
pedir e não satisfazer seus sonhos dourados, não vale a pena! Ele vai combater a dor física e
espiritual de arrancar de si metade do corpo, bem como o orgulho bobo e falso; que digam que ela
abandonou – e que haja o que houver!
__________________
Sender passou a mão sobre seus cabelos revoltos, e do fundo de seu coração reconheceu
que a teoria é muito mais fácil que a prática. Ele travou uma luta com mau humor e solidão.
Ele lutou com o calor da saudade que sugou o tutano de seus ossos e o sangue de seu
coração arruinado. Como diz Zalman Shneur? “A memória e o costume são mais poderosos,
intensos, que todo o amor no Universo. Os maiores incêndios da paixão podem ser apagados, mas
toda a água do Universo é insuficiente para apagar o pequeno fogo do hábito”.
Uma raiva dominou com intensidade todo seu ser, quando ele rememorou em seu passado o
fogoso amor de sua Aninha por ele. Sim, o amor, que se mostrou completo falso-amor, como
romance de baixo nível, e isso quando? Quando eles já têm dois filhos. Onde está a vergonha? A
vergonha para as próprias crianças! Não, ele não consegue mais pensar, ele sente sua cabeça
estourar.
Um mar de ódio explode em seu sangue. Um ódio por sua mulher, por tudo e por todos.
O desapontamento impiedosamente fazia-o sofrer, carregava-o com um tremendo peso,
transformava-o num invalido físico e mental.
Apesar dele ser ainda jovem, ele não anseia por outra mulher, Ao contrário, ele se arrepende
hoje de quando ele vibrava por amor, lutou com seus pais por causa de sua Aninha, por causa de
amor, que ele mantinha como um culto. Ele imaginava que a felicidade de dois seres que se amam
se realiza num tal êxtase religioso, que não pode ser traduzido em palavras pelo maior escritor ou
poeta. É algo celestial, santificado, e no final, a realidade, a prática o desapontou, um
desapontamento amargo.
__________________
Uma batida na porta como que o acordou de seus pensamentos, ele deu uma olhada no
relógio, verificou que já era tarde, levantou-se rapidamente do sofá no qual estava deitado, e com
voz nervosa falou: Entre! Na porta estava parada Mary. Sua aparência adoentada perturbou-o ainda
mais. Sentiu uma dor tão profunda, como se o coração estivesse arrebentando, e juntamente com a
dor sentiu também um sentimento de vingança, um sentimento de vingança para com a mãe dela,
que destruiu não só sua juventude, mas também a vida de seus filhos.
A troco de que? Por vasilhames inúteis, por vasilhames brilhantes de cristal, por luminárias
sobre os criados-mudos, que permanecem, infelizmente, esquecidos, pois sua dona de casa nem
cogita em ler um livro e aproveitar sua luz. Sobre valiosos vasos e tapetes persas, sobre objetos
brilhantes ficam ofuscados os raios celestes da idílica felicidade familiar. Para o diabo com uma
vida tão dura, pensa ele.
Sim, o pensamento trabalha continuamente, para sempre sente Sender, que o que agora
aconteceu, foi apenas o resultado psicológico, pois não se tratava apenas em querer possuir um rica
e organizada sala de visitas onde pudessem ser recebidos seus amigos e amigas para jogar um
carteado, mas ocorreu a explosão de uma sucessão constante de erros acumulados, pois ele não lhe
tinha comprado um casaco de pele, joias, pedras preciosas, belas coisas, ele não a manda para os
banhos termais, que ele não a leva ao teatro etc. Sua insatisfação permanente, seu incessante
resmungar ácido, veio à tona e extrapolou dos limites.
Sim, o mais talentoso escritor, às vezes mesmo com esforço sobre-humano, não conseguirá
alcançar o que a própria vida proporciona, pensou Sender em relação aos seus inesquecíveis dias de
felicidade desfrutados com Aninha, quando noivos.
Ah a juventude. A juventude que passa com o decorrer do tempo. Seus sonhos não o deixam
sossegar. Assim como de propósito eles se manifestam de tempos em tempos em suas lembranças.
Os tempos passados escapam da memória e ressuscitam novamente... Ele se ergueu nas asas
de sua fantasia e se transportou para seu antigo lar.
Ele adentrou a casa dos pais de Aninha. Ah como ele amava aquela pequena casa, a
ruazinha, mesmo as pedras da ruela ele amava! E assim como sempre, ele também agora encontrou
o pai dela defronte a uma gemará aberta, sim ele permanecia sentado frente à gemará aberta e
estudava com uma entonação melódica.
A voz penetrava profundamente na alma e se espalhava pela rua.
Noite adentro ele estudava. Estudava continuamente, O principal – ele costuma responder e
entoar o versículo. Claro e detalhado, para alcançar o mesmo nível da Torá, sua santidade, pureza e
fascínio.
Ah! De onde o judeu conseguia tanto deslumbramento pela Torá?
Em cada folha se esparramava beleza bíblica, bondade e humanidade – costumava ele dizer.
Ele também costumava dizer que feliz seria o rapaz que conseguisse sua Aninha, sua filha única,
para esposa. Ele muito prezava sua filha, que diligentemente estudava o Pentateuco e o Tanach. Ele
realmente a endeusou. E agora, pensa Sender, o velho Moishe Leib jaz sob a terra com roupas
esfarrapadas e chora, lamenta o aniquilamento judaico e também o destino de sua filha, que tão
baixo se afundou, devido a jogo de baralhos.
__________________
Alfredo já estava na casa dos trinta quando conheceu Mary. Após uma juventude
complicada, essa morena graciosa agradou-o fortemente. Mary era bonita, ela não se destacava, mas
seus brilhantes olhos negros e em seus movimentos havia muita graça e frescor, que realmente
enfeitiçavam. Quando ele começou a lhe falar, ela franziu a testa e lhe pediu encarecidamente que
não a incomodasse com tais chavões, zombando de suas ingênuas declarações de amor, que ele
chama de felicidade...
Sim, muitos homens. por falta de psicologia, perderam os mais belos, mais caros e melhores
anos de sua vida, disse Mary, referindo-se naquele momento a seu próprio pai, a quem ela ama sem
limites, mas sem querer trair seu pensamento interior, ela explodiu numa gargalhada. Os homens
são todos iguais, disse ela rindo, por qualquer mulher eles estão dispostos a se ajoelhar. Eles são
cheios de entusiasmo e de declarações de amor, ela não se cansou de atingi-lo com sua zombaria.
Mas Alfredo não desistiu, dia sim dia não sempre a seguindo, fortemente disposto a alcançar sua
felicidade...
E quando ele percebeu que Mary e ele já estavam comprometidos, ele pediu a seus pais que
não o pressionassem mais com casamenteiras e arranjos de casamentos, pois ele já tinha uma
garota.
Sua voz usualmente tímida tornou-se confiante, e com orgulho contou acerca de seu
romance com Mary. Ai de mim, que desgraça, exclamou a mãe de Alfredo, agarrando a cabeça com
ambas as mãos, ele quer se casar com a filha de Ana, disse ela para seu marido, que estava sentado,
lendo um jornal.
O que, você quer o que aconteça com você o que aconteceu com Sender Shpilberg?
Perguntou ela, angustiada, a seu filho. Como se diz: “Tal mãe, tal filha”.
Não mãe, nem sempre os ditados populares condizem com a realidade, retrucou Alfredo.
Todos os sinais são bobagem, apenas o sinal de pobreza permanece. Mary é de uma beleza
estonteante, e também esperta e honesta, honesta até demais, e ela vai ser para mim uma boa,
amorosa e fiel companheira!
Entretanto, enquanto falava com tanta certeza, com tanta convicção, sobre seu amor tórrido por
Mary, ele também sentia grande aborrecimento e um conflito interno, porque justamente, como por
Mary, ele também sentia muito amor pelos pais, que eram contrários ao casamento. Mas como que por
desaforo, quanto mais eles eram contra, mais nele crescia o amor pela jovem graciosa Mary, que se
posicionava discretamente diante dessa situação.
E assim como “a modéstia é a coroa de toda virtude”, assim também Mary era a coroa da
vida de Alfredo... Ela fez arder tal chama em seu coração que ele sentia que ele era dela, cem por
cento dela, com a totalidade de sua alma limpa e palpitante... Ele estava atado a ela por milhares de
fios, sua figura o perseguia dia e noite. Ele de fato esvaía por saudade dela, e por semanas a fio seu
coração era despedaçado por muitas dúvidas, ele até imaginava se não estava pecando por amar
demais.
Havia momentos em que ele se sentia abatido, que estava pálido, e que em seus lábios
tremulavam perguntas: realmente seu intenso amor por Mary seria pecado? É, na verdade pecado
amar uma moça, cujos pais, infelizmente, se divorciaram? Não, não, exclamava uma amorosa voz
interior. Não, não é pecado. Não é pecado algum! Amor é felicidade. É uma felicidade amar e ser
amado.
__________________
Um tremor trespassa seu corpo. seus olhos brilham ao entardecer, quando ele pensa sobre a
luta, sobre a dura luta que ele deve enfrentar...
Quando ele já tinha superado todas as dificuldades, quando tudo já lhe parecia
celestialmente belo, quando o mundo todo já lhe parecia sorrir, quando sua Mary, sua amada Mary
estava a seu lado direito trajando seu alvo vestido de noiva, e com sua esguia figura parecendo a
estátua de um anjo, quando seus olhos luziam como estrelas nascentes, quando seu olhar o aquecia,
realmente queimando, naquele momento em que ele, pela primeira vez em sua vida sentia tal
proximidade com uma mulher realmente amada, transcorreu então uma cena desesperadora, de
despedaçar o coração.
Isso ocorreu no momento em que o rabino-mor, antes de pronunciar as bênçãos
matrimoniais exortou à noiva para que se lembrasse da santidade dessa noite. Que ela se mantivesse
judia, recatada, observasse de modo sagrado a pureza na vida familiar, e que ela se comportasse
como sua mãe.
Estas últimas palavras, como uma delgada lâmina incandescente, rasgaram a pústula que sua
mãe havia criado em seu cérebro.
Sucedeu uma extrema confusão nas lembranças de Alfredo. Diversos círculos multicoloridos
começaram a dançar diante de seus olhos, que subitamente se arregalaram de modo estranho.
Por um momento seu olhar opaco se perdeu. Vagou sobre tudo e todos e logo como que se
fixou. Um trejeito amargo entortou sua boca, de onde inicialmente se ouviu um sofrido ranger de
dentes, que logo se transformou numa gargalhada insana.
De nada adiantaram o apelo do rabino para que proferisse os votos matrimoniais, nem
mesmo as amorosas palavras de Mary. Despe essa mortalha branca, gritou Alfredo para Mary, com
espuma nos lábios: Tira! E gargalhando loucamente de maneira selvagem, ele agitou seus punhos
cerrados e fugiu de sob o dossel nupcial.
Tradução do Ídish: Por Moysés Worcman , membro do Grupo de Tradutores do Centro de Estudos Judaicos da USP e revisado
pelo Grupo: Cheindlea Rachovsky, Cilka Thalenberg, ,Didio Kozlowski, Dina Kinochita, Edith Gross Hojda, Esther Terdiman,,
Fany Kessel, Israel Granatovicz, Helena Bursztyn, Mendel Lustig, Moysés Worcman, Pesie Nussenbaum, Raquel Szafir ,Samuel
Belk, Sandra Meneguetti, , Sarita Rawet, Szmulik Kilsztajn, sob a direção da professora, Dra Genha Migdal
HUMOR JUDAICO
NA ILHA DESERTA
Um velho casal de judeus viajava num avião que foi obrigado a fazer um pouso forçado numa ilha
perdida no oceano Pacífico. A aterrisagem foi perfeita, não houve feridos, mas o comandante
bastante perturbado, comunicou a todos que a ilha não constava dos mapas e que dificilmente eles
seriam resgatados. Teriam, pois, de acostumar-se com a ideia de viver ali até o fim de seus dias.
Em meio a comoção geral, Isaac pergunta a Sara: Você pagou a contribuição à Sinagoga?
-Não Isaac, mas isso não é hora.
-Não me interrompa por favor, e ao Clube Israelita?
-Esqueci de depositar o cheque.
-E à Biblioteca ídish?
-Meu Deus, esqueci também.
-Isaac começa a rir e dançar sozinho para o espanto de Sara, que o repreende:
-Pare de se comportar assim Isaac! Ficou louco? Estão todos olhando. Isso não é hora para
palhaçadas! Afinal qual é o motivo para tanta alegria?
-Ora Sara, você não disse que esqueceu de pagar aquelas contas?
-Disse
-Fique então tranquila, seremos resgatados. Eles vão nos encontrar!
Aos nossos leitores:
Com este número especial de 6 páginas encerramos nossas atividades deste ano. O próximo número
será enviado no mês de fevereiro próximo.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-
Zai Gezunt: Edição do Grupo Amigos do Ídish.
Editor: Eng. Samuel Belk EMail: belk@uol.com.br
Colaborador: Eng. Moysés Worcman EMail: worcmosh@gmail.com

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Uma história de marranos e Pessach diferente

  • 1. 1 INFORME MENSAL Zai Gezunt Ano 3 dezembro 2016 No 30 UM PESSACH DIFERENTE Um grande número de judeus ocupava lugar de destaque a partir do século XIV, nos dois reinos da Espanha, Castela e Aragão graças à sua cultura e aptidão comercial. Os reis da Espanha tinham em sua corte judeus arrecadadores de impostos, ministros da fazenda, conselheiros, médicos e outros. Esses judeus da corte, que se identificavam com as famílias dos nobres e dos cortesãos espanhóis, aspiravam somente à riqueza e ao luxo e eram também imitados por homens e mulheres da classe abastada, o que provocava inveja e ódio contra os judeus, embora a maioria da população judaica fosse de trabalhadores que levavam uma vida modesta. Somente em Castela havia oitenta comunidades israelitas, que viviam com completa autonomia, como antigamente na Babilônia e nos Califados Árabes. A nobreza católica, formada em sua maioria de monges dominicanos, ficava irritada com a participação de judeus no governo. Instigados por um sacerdote fanático, Fernando Martinez, a população católica organizou, em 6 de junho de 1391, um violento pogrom em Sevilha, quando o bairro judeu foi incendiado e pilhado. Parte de seus quatro mil habitantes foi assassinada e parte vendida, como escravos, aos árabes. Nessa ocasião algumas sinagogas foram destruídas e outras, transformadas em igrejas. Esse episódio, ocorrido no Reino de Sevilha serviu de incentivo para o mesmo flagelo, no Reino de Castela. Na cidade de Valência, por exemplo, a comunidade de cinco mil pessoas foi quase totalmente aniquilada; parte assassinada, parte forçada a converter-se ao catolicismo, e o restante obrigado a fugir. Muitos fugitivos do massacre de 1391 foram acolhidos em Portugal, onde já havia uma colônia judaica e, muitos daqueles que tinham sido convertidos, puderam voltar à sua religião original. Outros emigraram para os países do Norte da África, onde fundaram novas comunidades. Os que restaram na Espanha, chamados de cristãos novos ou marranos, eram severamente vigiados pelos sacerdotes católicos. Frequentavam a igreja, porém em sua maioria realizava em segredo o culto judaico. Os sacerdotes tinham conhecimento disso e instigavam o povo contra aqueles que se afastavam da nova fé, o que provocou, por exemplo, em Córdoba, no ano de 1473, um novo massacre. Para combater os marranos, foi instituída a Inquisição na Espanha, em 1480. Ela começou com uma violenta campanha de repressão, que ainda continuaria depois da expulsão dos judeus do país, ocorrido em 1497. Mais de duzentos mil judeus saíram da Espanha por não se terem convertido. Em Portugal a Inquisição foi introduzida em 1540 e a perseguição aos judeus nesses dois países prosseguiu até o final do século XVIII. A canção “Diga Marrano”, que se segue nos mostra o amor dos marranos pelo judaísmo, cuja fé mantinham em segredo, porém sem medo, mesmo que isso lhes custasse a vida. A autoria desta canção é do poeta e escritor Abraham Reisen: Um marrano, para manter em segredo sua fé judaica, reúne sua família no abrigo subterrâneo de uma escola, onde sua mulher prepara as malcozidas matzás e onde esconde, em uma fenda, a Hagadá para comemorar a festa de Pessach”. Reisen nasceu em 1876, num vilarejo pobre da província de Minsk. Ele tomou conhecimento dos trabalhos de escritores clássicos do ídiche como Mendele Moshe Sforim, Scholem Aleichem e outros. Seu pai e seu irmão foram poetas. Ele foi professor particular tendo tido nesta ocasião a oportunidade de conhecer pessoas de todas as classes sociais e em especial dirigentes judaicos do mundo socialista e dos trabalhadores. 1
  • 2. Quando se mudou para Varsóvia formou um triunvirato com os discípulos de I.LPeretz; Scholem Ash e Nomberg. Foi editor de jornais ídish em Varsóvia, Cracóvia e depois em New York. Foi um escritor prolífico publicando um conto e dois poemas a cada semana. Suas histórias foram utilizadas como textos favoritos para as crianças das escolas de ídish. Emigrou para a América em 1914, tendo se estabelecido em New York, época em que mais de um milhão de pessoas deixaram a Rússia em razão dos pogroms. Muitos de seus trabalhos foram traduzidos para o inglês e outras línguas e frequentemente reproduzidas em antologias. Foi um grande poeta lírico e popular expressando nos seus contos e poemas a alma e o sofrimento do povo judeu. DIGA MARRANO Diga marrano, você, meu irmão, Zog maran, du bruder mainer, Onde comemora o seu seider? Vu is greit der seider dainer? -Na gruta profunda de uma escola -In a tifer heil, in a cheider, Lá eu preparei o meu seider. Dort hob ich gegreit main seider. Diga-me marrano, onde e de quem, Zog maran, mir vu, bai vemen, Você vai obter matzás brancas? Vestu vaisse matzes nemen? -Na caverna, por graça de Deus, In der heil, oif gots barotn Minha mulher estendeu a massa. Hot main vaib dem teig geknotn. Diga-me, marrano, como você Zog maran,vi vest zich klign Vai obter uma Hagadá? A hagode vu tzu krign? Na caverna, em profundas fendas In der heil, in tife shpaltn Há muito tempo eu a escondi. Hob ich zi shoin lang bahaltn. Diga-me, marrano, como se comportará Zog maran, vi vest zich vern Quando ouvirem sua voz? Ven men vet dain kol derhern? Quando o inimigo me prender, Ven der soine vet mich fangen, Cantando eu vou morrer. POR CAUSA DE CARTEADO Malka Apelboim Sobre os motivos para divórcio, já se escreveram inúmeros livros. Em primeiro lugar, compreende-se, vem a situação econômica. Se a pobreza entra pela porta o amor escapa pela janela. Este ditado encontra-se em diversas línguas, em seguida vem a família, sogras que se intrometem ou então cunhadas etc., entretanto, divorciar-se por causa de carteado, isso é um motivo inteiramente novo. Pode-se chamá-lo de motivo moderno. E assim como Aninha é realmente uma mulher moderna, uma real conhecedora de todos os tipos de moda, ela, numa bela e clara manhã declarou a seu Sender que ela já havia penado suficientemente com ele, e que queria se divorciar. Não adiantaram quaisquer tipos de argumento, que ela tivesse paciência, que nunca é demasiado tarde para ter esperança, que com o tempo, se Deus o quisesse, ele talvez pudesse satisfazer seu desejo e providenciar uma bela sala de visitas, um “living room”, como ela o denomina.
  • 3. Não. Ela não pode esperar, diz ela. Ela simplesmente morre de vergonha quando suas amigas chegam e veem sua pobre mobília. Ela também quer ter a possibilidade de convidar para sua casa para um carteado. Que mulher moderna não joga baralho? Porque ela então tem que frequentar a casa dos outros? Eles que venham uma vez para a minha, diz ela espumando, tanto prazer você me dá, queixa-se ela – em lágrimas, lágrimas quentes começam a se formar nela, com seu rosto contraído e triste. Sender baixou a cabeça e pensou. Parece que a magia do falso brilho se sobrepõe a tudo, a trabalho gratuito e dedicado, cabeças debruçadas sobre o estudo, sobre o espírito e o conhecimento. Toda cultura desaparece. Todos os valores necessários tornam-se inúteis em relação ao feitiço do dinheiro e baralho... Sender passou seus dedos sobre seu cabelo desgrenhado, e com um sorriso amargo considerou sua esposa, sua Aninha, que costumava antigamente tão bem falar sobre fidelidade, idílio e amor. Pão e água – costumava dizer, desde que se permaneça em companhia de pessoas queridas. Seus olhos costumavam brilhar naquele momento, como num êxtase, e agora, agora ela cresce como um herói, um herói vitorioso, que chega e lhe declara, a ele, Sender, uma guerra, um ultimato. Um living-room ou o divórcio. Ela Aninha, filha de Moishe Leib, que aos sábados nem sequer penteava seu cabelo, está pronta para trocar seu amor, sua moral, por cumprimentos insossos, por ricas refeições em bons restaurantes, por comodidades, que vão encontrar uma base para todas as suas fraquezas femininas. Pensando assim sobre tudo isso, seu sangue começa a ferver, um furor selvagem se apodera dele, seus olhos ficam furiosos e ele estremece. Não, grita uma voz em seu coração. Não, ele não mais vai lhe suplicar, ele não mais vai lhe pedir e não satisfazer seus sonhos dourados, não vale a pena! Ele vai combater a dor física e espiritual de arrancar de si metade do corpo, bem como o orgulho bobo e falso; que digam que ela abandonou – e que haja o que houver! __________________ Sender passou a mão sobre seus cabelos revoltos, e do fundo de seu coração reconheceu que a teoria é muito mais fácil que a prática. Ele travou uma luta com mau humor e solidão. Ele lutou com o calor da saudade que sugou o tutano de seus ossos e o sangue de seu coração arruinado. Como diz Zalman Shneur? “A memória e o costume são mais poderosos, intensos, que todo o amor no Universo. Os maiores incêndios da paixão podem ser apagados, mas toda a água do Universo é insuficiente para apagar o pequeno fogo do hábito”. Uma raiva dominou com intensidade todo seu ser, quando ele rememorou em seu passado o fogoso amor de sua Aninha por ele. Sim, o amor, que se mostrou completo falso-amor, como romance de baixo nível, e isso quando? Quando eles já têm dois filhos. Onde está a vergonha? A vergonha para as próprias crianças! Não, ele não consegue mais pensar, ele sente sua cabeça estourar. Um mar de ódio explode em seu sangue. Um ódio por sua mulher, por tudo e por todos. O desapontamento impiedosamente fazia-o sofrer, carregava-o com um tremendo peso, transformava-o num invalido físico e mental. Apesar dele ser ainda jovem, ele não anseia por outra mulher, Ao contrário, ele se arrepende hoje de quando ele vibrava por amor, lutou com seus pais por causa de sua Aninha, por causa de amor, que ele mantinha como um culto. Ele imaginava que a felicidade de dois seres que se amam se realiza num tal êxtase religioso, que não pode ser traduzido em palavras pelo maior escritor ou poeta. É algo celestial, santificado, e no final, a realidade, a prática o desapontou, um desapontamento amargo.
  • 4. __________________ Uma batida na porta como que o acordou de seus pensamentos, ele deu uma olhada no relógio, verificou que já era tarde, levantou-se rapidamente do sofá no qual estava deitado, e com voz nervosa falou: Entre! Na porta estava parada Mary. Sua aparência adoentada perturbou-o ainda mais. Sentiu uma dor tão profunda, como se o coração estivesse arrebentando, e juntamente com a dor sentiu também um sentimento de vingança, um sentimento de vingança para com a mãe dela, que destruiu não só sua juventude, mas também a vida de seus filhos. A troco de que? Por vasilhames inúteis, por vasilhames brilhantes de cristal, por luminárias sobre os criados-mudos, que permanecem, infelizmente, esquecidos, pois sua dona de casa nem cogita em ler um livro e aproveitar sua luz. Sobre valiosos vasos e tapetes persas, sobre objetos brilhantes ficam ofuscados os raios celestes da idílica felicidade familiar. Para o diabo com uma vida tão dura, pensa ele. Sim, o pensamento trabalha continuamente, para sempre sente Sender, que o que agora aconteceu, foi apenas o resultado psicológico, pois não se tratava apenas em querer possuir um rica e organizada sala de visitas onde pudessem ser recebidos seus amigos e amigas para jogar um carteado, mas ocorreu a explosão de uma sucessão constante de erros acumulados, pois ele não lhe tinha comprado um casaco de pele, joias, pedras preciosas, belas coisas, ele não a manda para os banhos termais, que ele não a leva ao teatro etc. Sua insatisfação permanente, seu incessante resmungar ácido, veio à tona e extrapolou dos limites. Sim, o mais talentoso escritor, às vezes mesmo com esforço sobre-humano, não conseguirá alcançar o que a própria vida proporciona, pensou Sender em relação aos seus inesquecíveis dias de felicidade desfrutados com Aninha, quando noivos. Ah a juventude. A juventude que passa com o decorrer do tempo. Seus sonhos não o deixam sossegar. Assim como de propósito eles se manifestam de tempos em tempos em suas lembranças. Os tempos passados escapam da memória e ressuscitam novamente... Ele se ergueu nas asas de sua fantasia e se transportou para seu antigo lar. Ele adentrou a casa dos pais de Aninha. Ah como ele amava aquela pequena casa, a ruazinha, mesmo as pedras da ruela ele amava! E assim como sempre, ele também agora encontrou o pai dela defronte a uma gemará aberta, sim ele permanecia sentado frente à gemará aberta e estudava com uma entonação melódica. A voz penetrava profundamente na alma e se espalhava pela rua. Noite adentro ele estudava. Estudava continuamente, O principal – ele costuma responder e entoar o versículo. Claro e detalhado, para alcançar o mesmo nível da Torá, sua santidade, pureza e fascínio. Ah! De onde o judeu conseguia tanto deslumbramento pela Torá? Em cada folha se esparramava beleza bíblica, bondade e humanidade – costumava ele dizer. Ele também costumava dizer que feliz seria o rapaz que conseguisse sua Aninha, sua filha única, para esposa. Ele muito prezava sua filha, que diligentemente estudava o Pentateuco e o Tanach. Ele realmente a endeusou. E agora, pensa Sender, o velho Moishe Leib jaz sob a terra com roupas esfarrapadas e chora, lamenta o aniquilamento judaico e também o destino de sua filha, que tão baixo se afundou, devido a jogo de baralhos. __________________ Alfredo já estava na casa dos trinta quando conheceu Mary. Após uma juventude complicada, essa morena graciosa agradou-o fortemente. Mary era bonita, ela não se destacava, mas
  • 5. seus brilhantes olhos negros e em seus movimentos havia muita graça e frescor, que realmente enfeitiçavam. Quando ele começou a lhe falar, ela franziu a testa e lhe pediu encarecidamente que não a incomodasse com tais chavões, zombando de suas ingênuas declarações de amor, que ele chama de felicidade... Sim, muitos homens. por falta de psicologia, perderam os mais belos, mais caros e melhores anos de sua vida, disse Mary, referindo-se naquele momento a seu próprio pai, a quem ela ama sem limites, mas sem querer trair seu pensamento interior, ela explodiu numa gargalhada. Os homens são todos iguais, disse ela rindo, por qualquer mulher eles estão dispostos a se ajoelhar. Eles são cheios de entusiasmo e de declarações de amor, ela não se cansou de atingi-lo com sua zombaria. Mas Alfredo não desistiu, dia sim dia não sempre a seguindo, fortemente disposto a alcançar sua felicidade... E quando ele percebeu que Mary e ele já estavam comprometidos, ele pediu a seus pais que não o pressionassem mais com casamenteiras e arranjos de casamentos, pois ele já tinha uma garota. Sua voz usualmente tímida tornou-se confiante, e com orgulho contou acerca de seu romance com Mary. Ai de mim, que desgraça, exclamou a mãe de Alfredo, agarrando a cabeça com ambas as mãos, ele quer se casar com a filha de Ana, disse ela para seu marido, que estava sentado, lendo um jornal. O que, você quer o que aconteça com você o que aconteceu com Sender Shpilberg? Perguntou ela, angustiada, a seu filho. Como se diz: “Tal mãe, tal filha”. Não mãe, nem sempre os ditados populares condizem com a realidade, retrucou Alfredo. Todos os sinais são bobagem, apenas o sinal de pobreza permanece. Mary é de uma beleza estonteante, e também esperta e honesta, honesta até demais, e ela vai ser para mim uma boa, amorosa e fiel companheira! Entretanto, enquanto falava com tanta certeza, com tanta convicção, sobre seu amor tórrido por Mary, ele também sentia grande aborrecimento e um conflito interno, porque justamente, como por Mary, ele também sentia muito amor pelos pais, que eram contrários ao casamento. Mas como que por desaforo, quanto mais eles eram contra, mais nele crescia o amor pela jovem graciosa Mary, que se posicionava discretamente diante dessa situação. E assim como “a modéstia é a coroa de toda virtude”, assim também Mary era a coroa da vida de Alfredo... Ela fez arder tal chama em seu coração que ele sentia que ele era dela, cem por cento dela, com a totalidade de sua alma limpa e palpitante... Ele estava atado a ela por milhares de fios, sua figura o perseguia dia e noite. Ele de fato esvaía por saudade dela, e por semanas a fio seu coração era despedaçado por muitas dúvidas, ele até imaginava se não estava pecando por amar demais. Havia momentos em que ele se sentia abatido, que estava pálido, e que em seus lábios tremulavam perguntas: realmente seu intenso amor por Mary seria pecado? É, na verdade pecado amar uma moça, cujos pais, infelizmente, se divorciaram? Não, não, exclamava uma amorosa voz interior. Não, não é pecado. Não é pecado algum! Amor é felicidade. É uma felicidade amar e ser amado. __________________ Um tremor trespassa seu corpo. seus olhos brilham ao entardecer, quando ele pensa sobre a luta, sobre a dura luta que ele deve enfrentar... Quando ele já tinha superado todas as dificuldades, quando tudo já lhe parecia celestialmente belo, quando o mundo todo já lhe parecia sorrir, quando sua Mary, sua amada Mary estava a seu lado direito trajando seu alvo vestido de noiva, e com sua esguia figura parecendo a
  • 6. estátua de um anjo, quando seus olhos luziam como estrelas nascentes, quando seu olhar o aquecia, realmente queimando, naquele momento em que ele, pela primeira vez em sua vida sentia tal proximidade com uma mulher realmente amada, transcorreu então uma cena desesperadora, de despedaçar o coração. Isso ocorreu no momento em que o rabino-mor, antes de pronunciar as bênçãos matrimoniais exortou à noiva para que se lembrasse da santidade dessa noite. Que ela se mantivesse judia, recatada, observasse de modo sagrado a pureza na vida familiar, e que ela se comportasse como sua mãe. Estas últimas palavras, como uma delgada lâmina incandescente, rasgaram a pústula que sua mãe havia criado em seu cérebro. Sucedeu uma extrema confusão nas lembranças de Alfredo. Diversos círculos multicoloridos começaram a dançar diante de seus olhos, que subitamente se arregalaram de modo estranho. Por um momento seu olhar opaco se perdeu. Vagou sobre tudo e todos e logo como que se fixou. Um trejeito amargo entortou sua boca, de onde inicialmente se ouviu um sofrido ranger de dentes, que logo se transformou numa gargalhada insana. De nada adiantaram o apelo do rabino para que proferisse os votos matrimoniais, nem mesmo as amorosas palavras de Mary. Despe essa mortalha branca, gritou Alfredo para Mary, com espuma nos lábios: Tira! E gargalhando loucamente de maneira selvagem, ele agitou seus punhos cerrados e fugiu de sob o dossel nupcial. Tradução do Ídish: Por Moysés Worcman , membro do Grupo de Tradutores do Centro de Estudos Judaicos da USP e revisado pelo Grupo: Cheindlea Rachovsky, Cilka Thalenberg, ,Didio Kozlowski, Dina Kinochita, Edith Gross Hojda, Esther Terdiman,, Fany Kessel, Israel Granatovicz, Helena Bursztyn, Mendel Lustig, Moysés Worcman, Pesie Nussenbaum, Raquel Szafir ,Samuel Belk, Sandra Meneguetti, , Sarita Rawet, Szmulik Kilsztajn, sob a direção da professora, Dra Genha Migdal HUMOR JUDAICO NA ILHA DESERTA Um velho casal de judeus viajava num avião que foi obrigado a fazer um pouso forçado numa ilha perdida no oceano Pacífico. A aterrisagem foi perfeita, não houve feridos, mas o comandante bastante perturbado, comunicou a todos que a ilha não constava dos mapas e que dificilmente eles seriam resgatados. Teriam, pois, de acostumar-se com a ideia de viver ali até o fim de seus dias. Em meio a comoção geral, Isaac pergunta a Sara: Você pagou a contribuição à Sinagoga? -Não Isaac, mas isso não é hora. -Não me interrompa por favor, e ao Clube Israelita? -Esqueci de depositar o cheque. -E à Biblioteca ídish? -Meu Deus, esqueci também. -Isaac começa a rir e dançar sozinho para o espanto de Sara, que o repreende: -Pare de se comportar assim Isaac! Ficou louco? Estão todos olhando. Isso não é hora para palhaçadas! Afinal qual é o motivo para tanta alegria? -Ora Sara, você não disse que esqueceu de pagar aquelas contas? -Disse -Fique então tranquila, seremos resgatados. Eles vão nos encontrar! Aos nossos leitores: Com este número especial de 6 páginas encerramos nossas atividades deste ano. O próximo número será enviado no mês de fevereiro próximo.
  • 7. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- - Zai Gezunt: Edição do Grupo Amigos do Ídish. Editor: Eng. Samuel Belk EMail: belk@uol.com.br Colaborador: Eng. Moysés Worcman EMail: worcmosh@gmail.com