O eremita Haakon pede a Cristo para ocupar seu lugar na cruz. Cristo aceita sob a condição de Haakon permanecer em silêncio. Quando Haakon defende um jovem de uma acusação falsa, quebra seu compromisso e Cristo o repreende, explicando que seu silêncio era necessário.
1. Uma antiga lenda norueguesa
narra este episódio sobre um
homem chamado Haakon, que
cuidava de uma ermida à qual
muita gente vinha orar com
devoção.
Nesta ermida havia uma cruz
muito antiga, e muitos vinham ali
para pedir a Cristo que fizesse
algum milagre.
2. Certo dia, o eremita Haakon quis também pedir-lhe um favor.
Impulsionava-o um sentimento generoso.
Ajoelhou-se diante da cruz e disse:
- Senhor, quero padecer por vós.
Deixai-me ocupar o vosso lugar.
3. Quero substituir-vos na Cruz.
E permaneceu com o olhar pendente
da cruz, como quem espera uma
resposta.
O Senhor abriu os lábios e falou.
As suas palavras caíam do alto,
sussurrantes e admoestadoras:
- Meu servo, cedo ao teu desejo, mas
com uma condição.
- Qual é, Senhor?, perguntou com
acento suplicante Haakon.
4. É uma condição difícil? Estou disposto a cumpri-la com a tua ajuda!
- Escuta-me: Aconteça o que acontecer, e vejas tu o que vires, deves
guardar sempre o silêncio.
Haakon respondeu:
- Prometo-o, Senhor!
E fizeram a troca sem que ninguém
o percebesse.
5. Ninguém reconheceu o
eremita pendente da cruz;
quanto ao Senhor,
ocupava o lugar de
Haakon.
Durante muito tempo,
este conseguiu cumprir o
seu compromisso e não
disse nada a ninguém.
Certo dia, porém, chegou
um rico.
Depois de orar, deixou ali
esquecida a sua bolsa.
Haakon viu-o e calou.
6. Também não disse nada
quando um pobre, que veio
duas horas mais tarde, se
apropriou da bolsa do rico.
E também não quando um
rapaz se prostrou diante dele
pouco depois para pedir-lhe a
sua graça antes de
empreender uma longa
viagem.
7. Nesse momento, porém, o rico tornou a entrar em busca da bolsa.
Como não encontrasse, pensou que o rapaz se teria apropriado
dela;
Voltou-se para ele e interpelou com raiva:
- Dá-me a bolsa que me roubaste!
O jovem, surpreso, replicou-lhe:
- Não roubei nenhuma bolsa!
- Não mintas; devolve-me já!
- Repito que não apanhei nenhuma bolsa!
O rico arremeteu furioso contra ele.
Soou então uma voz forte:
8. - Para!
O rico olhou para cima e viu que a imagem lhe falava. Haakon, que
não conseguiu permanecer em silêncio diante daquela injustiça,
gritou-lhe, defendeu o jovem e censurou o rico pela falsa acusação.
9. Este ficou aniquilado e saiu
da ermida. E o jovem saiu
também porque tinha pressa
para empreender a sua
viagem.
Quando a ermida ficou
vazia, Cristo dirigiu-se ao seu
servo e disse-lhe:
- Desce da Cruz. Não serves
para ocupar o meu lugar. Não
soubeste guardar silêncio.
- Mas, Senhor, como podia
eu permitir essa injustiça?
Trocaram de lugar. Cristo voltou a ocupar a cruz e o
eremita permaneceu diante dela.
10. O Senhor continuou a falar-lhe:
- Tu não sabias que era conveniente para o
rico perder a bolsa, pois trazia nela o preço da
virgindade de uma jovem.
O pobre, pelo contrário, tinha necessidade
desse dinheiro; quanto ao rapaz que ia receber
os golpes, a suas feridas o teriam Impedido de
fazer a viagem que, para ele, foi fatal: faz uns
minutos que o seu barco acaba de soçobrar e
que ele se afogou.
11. Tu também não sabias isto; mas Eu sim. E por isso me calo.
E o Senhor tornou a guardar silêncio.
Muitas vezes nos perguntamos por que Deus não nos responde. Por
que Deus se cala?
12. Muitos de nós gostaríamos que nos
respondesse o que desejamos
ouvir, mas Ele não o faz: responde-
nos com o silêncio. Deveríamos
aprender a escutar esse silêncio.
O Divino Silêncio é uma palavra
destinada a convencer-nos de que
Ele,sim, sabe o que faz.
Com o seu silêncio, diz-nos
carinhosamente:
"Confia em mim, sei o que é preciso
fazer!